A CASA FOTO ARTE
A CASA EM REVISTA - Edição Especial Ricardo de Hollanda - 50 anos de Fotografia
Capa Ricardo de Hollanda
Editorial
A CASA em revista é uma publicação virtual de artes visuais com ênfase na fotografia contemporânea. Nasce dentro
do isolamento social necessário para evitar o coronavírus.
Inicialmente voltada para artistas que participam de projetos, encontros ou cursos A CASA, busca dar visibilidade em
tempos de pandemia para a emergente produção destes artistas e seus portfólios, ajudando a colocar novos nomes e trabalhos em circulação dentro do sistema de arte.
Nessa edição especial vamos fazer um pouco diferente,
afinal esse ano louco coincide com os 50 anos de fotografia
de Ricardo de Hollanda, e não podiamos deixar em branco.
A Casa é um lugar de afeto, encontros e trocas, nada melhor que aproveitar nossa revista para agradecer a esse humanista que dedicou sua vida a fotografia e ao ensino.
Ricardo foi, é inspiração para muitos e nessas nossas
páginas vocês verão alguns relatos de pessoas que ele
modificou através desse seu jeito carinhoso, preocupado
e atento. A Casa em revista agradece Ricardo de Hollanda por nos permitir fazer essa singela mas sincera homenagem a esse artista e educador admirável. Obrigado Mestre.
A CASA em revista Edição Especial Ricardo de Hollanda 50 anos de Fotografia
Pedro Karp Vasquez CONTRIBUIÇÃO PARA O RETRATO DO MESTRE RICARDO DE HOLLANDA
Na condição de neto, filho e irmão de professores eu não poderia deixar de valorizar devidamente essa profissão que se enquadra entre as mais nobres e necessárias de todas, tendo como equivalente apenas a medicina. Isso porque os médicos nos abrem as portas da existência e asseguram nossa saúde e bem-estar no decorrer do percurso, ao passo que os professores nos indicam os diferentes caminhos possíveis e nos dotam do instrumental necessário para superarmos os desafios da jornada. Sem médicos - e seus equivalentes alternativos, como curandeiros e xamãs - , não haveria vida, mas sem professores a vida não teria sentido, assemelhando-se à inútil viagem do nada a lugar nenhum, sem bússola e sem propósito. Ricardo de Hollanda iniciou sua formação em fotografia na década de 1960 no circuito dos fotoclubes fluminenses, em especial a ABAF (Associação Brasileira de Arte Fotográfica) e a ACF (Associação Carioca de Fotografia), no Rio de Janeiro, e a SFF (Sociedade Fluminense de Fotografia), em Niterói, beneficiando-se assim dos valiosos ensinamentos de Chakib Jabor, Francisco Aszmann e Chico Nascimento.
Logo depois, em meados da mesma década, lançou-se na senda profissional produzindo audiovisuais em parceria com Christiano Teixeira, fotógrafo e artista plástico, filho do pintor, crítico de arte e professor Oswaldo Teixeira, um dos mais importantes diretores do Museu Nacional de Belas Artes. Graças a outro mestre que também se dividia entre a pintura e a fotografia, Julião Kaulino, Ricardo de Hollanda iniciou-se na docência, lecionando no curso de Fotografia do Senac - o primeiro no país a oferecer formação profissionalizante - entre os anos de 1970 e 1975, passando depois a ensinar na Aliança Francesa. A experiência com a Aliança Francesa, que se desdobrou entre as unidades do Méier, da Tijuca e de Botafogo, prolongou-se por treze anos consecutivos, merecendo inclusive reconhecimento do carismático ministro da Cultura da França Jack Lang pela excelência do curso. Foi no período da Aliança Francesa que nossos caminhos se cruzaram, pois Ricardo de Hollanda participou da II Semana Nacional da Fotografia da Funarte, em Brasília, em 1983, como palestrante no painel sobre o Ensino da Fotografia no Brasil, e depois no Seminário de Ensino Superior de Fotografia realizado em Campinas, em 1984, em parceira da Funarte e a Unicamp.
A pujante vida profissional de Ricardo de Hollanda não se limitou ao ensino da fotografia, muito embora essa preocupação básica estivesse sempre presente, consubstanciando-se aqui e ali em eventos significativos na época em que ele trabalhou no Jornal do Brasil, e depois no Instituto Cultural Villa Maurina, criado sob a égide do JB; na Fundação Nacional Pró-Memória; na Biblioteca Nacional. Sendo exemplos marcantes o Fórum Brasileiro em Fotografia Documental, realizado no Centro Cultural Centro do Brasil, em 1994; assim como sua participação com conferencista no Colóquio Latino-americano de Fotografia realizado na capital mexicana em 1998.
Vale lembrar, no entanto, que desde 1987 ele já era professor do Departamento de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UERJ, na qual permaneceu até sua aposentadoria, ocorrida vinte e seis anos depois, em 2014. Isso, depois de ter estudado no Centro de Pesquisas em Imagem Documental em Girona (Espanha), assim como participado do curso de pós-graduação Fotojornalismo na Escola de Doutorado da Universidade Autônoma de Barcelona.
Em sua passagem pela UERJ, Ricardo de Hollanda desempenhou papel de fundamental importância no Laboratório de Pesquisas em Imagem Documental e Jornalística e no Programa de Referência Visual do Rio de Janeiro, tendo promovido a vinda de Sebastião Salgado à universidade para apresentação do projeto Êxodos, no ano 2000. Assim, podemos afirmar, sem dúvida alguma, fazendo coro com seus alunos, que Ricardo de Hollanda é um daqueles raros indivíduos que podem evocar suas próprias vidas com a satisfação e a serenidade oriundas da certeza de que realmente fizeram a diferença, plantando as sementes de frutos que beneficiarão as gerações futuras como já beneficiaram as do seu tempo. Pois tal é satisfação maior do professor: plantar aquilo que não irá colher, para perpetuar o milagre inconsútil da existência. Pedro Karp Vasquez é fotógrafo, pesquisador, historiador, conferencista e autor de 25 livros sobre o tema Fotografia. Coordenou o Núcleo de Fotografia da Funarte e criou o Instituto Nacional da Fotografia.
Algumas Imagens do Mestre Ricardo
Considero esta edição de A Casa em Revista como um gesto de amizade coletiva feito por amigos, sob a batuta de Greice Rosa e Marco Antonio Portela que cuidaram, carinhosamente, da concepção e do planejamento visual dessa edição comemorativa. Muito grato a vocês. As imagens aqui selecionadas representam o momento em que eu iniciava no ensino de Fotografia. Elas são evocativas e demonstravam, à época a minha intenção em registrar o homem comum, o anônimo através da imagem documental. Sem artifícios. Aos poucos, percebi que havia um vínculo, uma sintonia entre a fotografia e a cidade, o que me estimulou a desenvolver a idéia e o conceito em Fotografia Documental Urbana junto aos alunos, a partir de 1980. A memória urbana, tão necessária para todos nós, resulta nesse processo de produção e registro visuais sem fim, Ricardo de Hollanda
DEPOIMENTOS DEPOIMENTOS
Nas páginas a seguir veremos Ricardo de
Nas páginas a seguir teremos alguns depoimentos de pessoas que tiveram a oportunidade tempo Ricardo H o l l a n d asingular a t r a de v econviver s d o s por o l algum hos d e a lcom gun s d o de s Hollanda. Importante para termos noção da importância desse homem dedicado a
i n ú m eer oaos ensino. a m i g Venham o s e pconhecer r o f i s s ium o npouco a i s qmais u e desse t i v e rfotógrafo am fotografia e mestre.
a honra e felicidade de conviverem com esse homem dedicado a fotografia e ao ensino.
André Arruda No Ateliê de Rembrandt Ricardo de Hollanda é um sujeito atemporal. Não é difícil imaginá-lo no ateliê de Rembrandt (aquele...) conversando com o pintor sobre o tom de pele empregado no cadáver de Aris Kindt, o ladrão cercado pelos sete médicos e o doutor Nicolaes Tulp. Ou examinando as chapas de vidro de Augusto Malta, o fotógrafo que inaugurou a documentação urbanística moderna no Rio de Janeiro, em seu estúdio, na rua do Lavradio, na Lapa. Alguns anos à frente, no mítico café da rue du Faubourg-Saint-Honoré, é factível conceber o monsieur ‘’de Hollandá’’ sendo convidado por David Seymour, Robert Capa e Cartier-Bresson para uma novíssima empreitada, que seria chamada de agência Magnum. Não imagino, porém, ‘’de Hollandá’’ empunhando um fuzil ou desembarcando na Normandia, mas certamente teria assento das deliberações contra o fascismo. Atender telefonemas de Churchill às 3 da manhã seria um dos ossos do ofício. Resta a dúvida: o que seria mais fácil, aturar as baforadas de Churchill ou os humores de Capa e Cartier-Bresson? Tarefas à altura, por certo.
E, além do professor, existe um Ricardo de Hollanda um tanto oculto da massa: o bom de conversa, de ironia cortante e dos fatos enciclopédicos. Qualquer papo de quinze minutos corre o risco de passar de duas horas. Raro. André Arruda é jornalista e fotógrafo, integrou a equipe de fotografia do Jornal do Brasil. Atualmente produz fotografias em Publicidade, é autor do livro “Cem Coisas que Cem Pessoas Não Vivem Sem”.
André Lázaro A Educação pela Fotografia A fotografia não é apenas uma arte solitária. Em poucos, raros e preciosos casos, transcende o seu fazer para se tornar um polo de articulação e mobilização. Entre esses casos está Ricardo de Hollanda, professor e fotógrafo. Convivemos na Faculdade de Comunicação Social da UERJ (FCS / UERJ) desde o final dos anos 80. Alí Ricardo de Hollanda exerceu seu talento, formou gerações, abriu possibilidades, mobilizou estudantes e a Universidade para tornar a fotografia uma linguagem cotidiana. Com seus alunos desenvolveu projeto fotodocumental com a comunidade de Mangueira, através de oficinas de criação criou o acervo de imagens sobre atividades das oficinas e dos alunos e dos eventos no Centro Cultural, além de desenvolver o Laboratório de Pesquisas em Imagem Documental e o Programa de Referência Visual do Rio de Janeiro.
Em 1990 por ocasião da inauguração da Casa França Brasil, seus alunos apresentaram uma mostra paralela às exposições de Henry Cartier-Bresson e Sebastião Salgado. Para enriquecer ainda mais a Universidade a que se dedicou, em 2000, por sua iniciativa a UERJ recebeu o grande fotógrafo Sebastião Salgado no Teatro Odylo Costa Filho para uma conferência seguida de projeção de imagens comentada, além da exibição do making off de seu trabalho documental –
Êxodus.
A trajetória de Ricardo de Hollanda como estudioso e pesquisador em imagem documental, reforça a sua efetiva contribuição para a UERJ. André Lázaro, Professor Associado na Faculdade de Comunicação UERJ com Mestrado em Literatura (UFRJ) e Doutorado em Comunicação (UFRJ).
Ary Moraes Foi na Faculdade de Comunicação Social da UERJ que conheci pessoalmente Ricardo de Hollanda, cujo nome me era familiar dos créditos de suas obras que, vez ou outra, encontrava nas páginas de jornal. Eu vinha da Escola de Belas Artes, onde me graduara em Desenho Industrial, e chegava para estudar Jornalismo. Ali aprendi que é possível separar os jornalistas em dois grupos: os Artesãos do dia a dia, que executam com maestria seu ofício nas páginas, sites e estações; e os Pensadores do jornalismo, que, além do exercício do ofício, dedicam-se também a refletir sobre o que fazem em sua totalidade. São estes que ajudam aos demais a se situar em seu tempo e espaço. Ricardo de Hollanda faz parte desse grupo.
E além do domínio técnico do trabalho fotográfico, Ricardo é capaz de construir análises precisas das obras, fazendo remissões a outros campos da produção artística, política e filosófica. Dono de uma sensibilidade ímpar, foi fundamental para minha formação em jornalismo visual. Em suas aulas e, sobretudo nas conversas pelos corredores da UERJ, escutava-o discorrer sobre linguagem visual, edição, semiótica, arte, enfim, sobre tudo aquilo que me ajudou a fazer a ponte necessária entre o Design e o Jornalismo. Nesse Jubileu, em que Ricardo de Hollanda recebe a justa homenagem pelo conjunto de sua obra, não poderia deixar de manifestar minha gratidão por tudo o que dividiu com seus alunos. Viva o Ricardo! Ary Moraes Jornalista, designer, com Mestrado e Doutorado em Design pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Coordenou o Depto. de Arte de O Globo e é professor associado na EBA/UFRJ.
Beth Santos Março de 1981. Último dia de inscrição para o curso de Fotografia da Aliança Francesa e me convalescia de uma pneumonia. Decidi sair, mesmo que à revelia de minha mãe, em busca de uma vaga no curso. Quando cheguei, soube que as inscrições estavam encerradas. Aguardei para falar com o professor e disse que desejava muito estudar Fotografia. Ele, sempre sereno, me disse: “vou abrir uma exceção. Você pode se inscrever.” Trinta e nove anos depois, tenho a honra de prestar essa pequena homenagem ao meu primeiro mestre Ricardo de Hollanda. Além de profundo conhecedor da Fotografia é uma pessoa digna e corretíssima. Vida longa ao Mestre, como o chamo até hoje. Parabéns pela sua excelência profissional e humana. Beth Santos Jornalista e fotógrafa, tem atuado nos principais veículos da imprensa carioca como free.lancer ou integrante de equipes de fotógrafos em O Dia, Extra, O Globo, entre outra publicações.
Dante Gastaldoni *Uma imersão nas imagens de Sebastião Salgado* Em meados da década de 1970, tive a grata oportunidade de fazer um curso básico de Fotografia no Senac RJ com o professor Ricardo de Hollanda e, de lá para cá, a vida nos colocou lado a lado em inúmeras ocasiões, algumas delas memoráveis. Vem daí a dificuldade em resumir um período de tempo tão vasto e tão pleno de realizações, como esse meio século de vida profissional vivenciado pelo meu nobre amigo. Vou me ater ao campo da imagem, porque foi a chamada “escrita da luz” que balizou quase todas as nossas andanças, a começar pela participação no pioneiro I Encontro Sobre Ensino Universitário de Fotografia, realizado em 1984 na Unicamp. Dessas muitas memórias, uma em especial me marcou profundamente: foi um convite que nós dois recebemos, em 1993, para participarmos de um workshop com Sebastião Salgado, oferecido pelo jornal O Estado de São Paulo. Lembro que o fotógrafo brasileiro já brilhava no cenário internacional desde 1986, por conta dos lançamentos de Sahel e Outras Américas, mas ainda não tinha nenhum de seus livros publicados no Brasil, o que, aliás, só foi acontecer em 1997, quando a Companhia das Letras publicou Terra.
Pois bem, em 1993 Salgado estava envolvido com o lançamento simultâneo de Trabalhadores em diversos países, mas o livro não despertou o interesse de nenhuma editora brasileira na ocasião. Foi aí que entrou em cena o jornalismo cultural praticado pelo Estadão, através de um workshop com Sebastião Salgado promovido pelo jornal e oferecido a um grupo de 30 convidados de todos os estados brasileiros, cujo propósito principal era fazer, através de uma projeção comentada das fotos do livro, o lançamento informal de Trabalhadores em nosso país.
À época, Ricardo era professor no Curso de Comunicação Social da UERJ, enquanto eu lecionava na UFF e na UFRJ, e lá fomos nós para São Paulo, a convite do Estadão, representando o Rio de Janeiro. No auditório do jornal, Salgado explicou o conceito do livro, a rigor uma arqueologia da era industrial que enaltecia os trabalhadores braçais, e convidou os presentes para assistirem a uma projeção que antecederia o debate.
Quando as luzes se apagaram, as imagens em preto e branco do garimpo em Serra Pelada, quase atemporais, começaram a se revezar numa tela de cinema e um silêncio sepulcral se instalou no auditório. E assim desfilaram, durante pouco mais de uma hora, as 26 histórias de Trabalhadores, ao som das Bachianas Brasileiras, composição de Heitor Villa-Lobos. Ao final da projeção, as luzes se acenderam e um prolongado aplauso, com toda a plateia de pé, sugeria que tínhamos acabado de emergir de uma experiência visual épica. Dante Gastaldoni Jornalista, fotógrafo, com mestrado, foi professor na
Faculdade
de Comunicação Social da UFRJ e na Faculdade de Comunicação Social da UFF. Coordena, ao lado do fotógrafo José Roberto Ripper, o consagrado projeto de agência escola para fotógrafos populares, na favela da Maré.
Evandro Teixeira A convivência amiga Eu já estava no velho JB quando o Ricardo de Hollanda chegou na década de 70, para a gerência de Relações Públicas. Universitários”, promovidos pelo JB, na UFRJ, PUC, UFF, UERJ entre outras universidades. Era o momento em que percebia o seu conhecimento na área. O seu conhecimento e interesse pela Fotografia foram pontos em comum para o convívio fácil e diário, na editoria de Fotografia, com todos nós colegas fotógrafos. Logo depois, recebi de Paulo Henrique Amorim, editor, o desafio para abrir um espaço sobre fotografia nas páginas dominicais do célebre Caderno B. Estendi o convite ao Hollanda. Era a pessoa certa para essa tarefa porque conhecia e dominava o assunto. E deu certo.
Além companheirismo agradável no Jornal do Brasil, eu e Ricardo de Hollanda participamos dos “Encontros Universitários”, promovidos pelo JB, na UFRJ, PUC, UFF, UERJ entre outras universidades. Era o momento em que percebia o seu conhecimento na área. Assim é o mestre e amigo Hollanda. Uma homenagem mais do que justa. Um abraço do Evandro. Evandro Teixeira, fotógrafo, autor de vários livros, integrou por décadas a famosa equipe fotográfica do Jornal do Brasil. Premiado internacionalmente e com exposições internacionais, é considerado o fotógrafo referência para o fotojornalismo no Brasil.
Joaquim Marçal Conheço o Ricardo de Hollanda desde bem antes dele saber da minha existência. Em meados dos anos 1970 quando comecei a levar mais a sério a fotografia, o seu nome já era referência para quem buscava uma formação nesse campo. Ele iniciou a sua trajetória de educador em fotografia no Senac. Em seguida, manteve curso na Aliança Francesa do Méier, da Tijuca e do Botafogo – onde consolidou as suas atividades didáticas naquela instituição. Depois, Ricardo ingressou no magistério do ensino superior, obteve os títulos de mestre e doutor e tornou-se professor de fotojornalismo da Faculdade de Comunicação da UERJ. Uma trajetória completa, pois. Na década de 1980, ele e Evandro Teixeira escreveram sobre fotografia, lado a lado, nas páginas do lendário Caderno B do Jornal do Brasil. Guardo os recortes daquelas colunas em meu arquivo pessoal; naqueles tempos, havia menos disponibilidade de informação sobre o tema.
Ricardo também fotografava, expunha em galerias e se submetia ao crivo da crítica de arte de então. A minha relação profissional com o Ricardo aconteceu ainda em outros contextos. Fomos colegas na Biblioteca Nacional. Tive a honra de colaborar em eventos idealizados/curados por ele. Participamos de bancas, no mundo acadêmico. E sou testemunha de que ele, assim como todo mestre que tem a plena consciência de sua missão, nunca poupou elogios e palavras de incentivo aos colegas. E que através de uma trajetória de importantes realizações e de muita dedicação, chega agora aos cinquenta anos de ensino e mais do que merece a presente homenagem: viva o mestre Ricardo de Hollanda e viva a fotografia! Joaquim Marçal Ferreira de Andrade Designer, curador, pesquisador em Fotografia e coordenador do projeto Brasiliana Fotográfica da FBN
Lafayete Máximo Ao Mestre com Carinho
Conheci o Ricardo de Hollanda em uma aula de Fotografia em que o professor e paraninfo da minha turma, Professor Dante Gastaldoni, o levou à Universidade Gama Filho para uma palestra. Ali, comecei a enxergar Fotografia. Antes, só olhava. Alguns anos depois, nossos caminhos se cruzaram no Curso Bloch de Fotografia. Uma referência no ensino da profissão e o Ricardo foi quem selecionou o material que nhamos produzido para a prova práca: fazer uma cobertura fotográfica cujo tema era “Um Domingo no Parque do Flamengo” com um rolo de filme Kodak Ektachrome de 36 poses. E o Ricardo com a sua sensibilidade no olhar nos deu uma verdadeira aula de Edição e Fotojornalismo.
No ano de 1998, a Universidade Estácio de Sá, onde eu já lecionava, havia criado o Instuto Politécnico e eu, então, fui convidado a implantar e coordenar o Curso Superior de Fotografia. É claro que eu nha que convidar o Ricardo para integrar o corpo docente. A presença do Ricardo foi fundamental para que o curso vesse a qualidade de um curso superior e, principalmente, na avaliação do MEC, quando ramos conceito A em todos os itens. Mestre de vários profissionais, o Ricardo é aquela pessoa que você tem que ter no Whatsapp, Facebook, etc. porque vai ter uma hora que você vai precisar rar uma dúvida e ele estará, com toda a sua generosidade, sabedoria, elegância e polidez, pronto para lhe atender. O Ricardo é de Hollanda no nome. Na alma, ele é Ricardo do Brasil! Lafayette Máximo é jornalista, ex. integrante da editoria de fotografia da Revista Manchete. Professor e criador e coordenador do curso de Fotografia Profissional na Universidade Estácio de Sá desde 1997.
Marco Antônio Cavalcanti Conheci Ricardo de Hollanda quando entrei no Jornal do Brasil, no início da década de 1980. Fui estagiário da Fotografia, no tempo em que Alberto Ferreira era o editor-chefe. Ficávamos no sexto andar do edifício na Avenida Brasil, e as visitas do Hollanda, que trabalhava no mesmo prédio, na Editora JB, eram frequentes. Desde esse tempo, já era um profundo conhecedor desta arte. Seu olhar sempre nos trazia algum conhecimento, além de novidades de toda ordem do universo da Fotografia. Até hoje é assim. Esta revista digital, representa uma justa homenagem a este grande entusiasta da fotografia no Brasil. Marco Antônio Cavalcanti é Jornalista, fotógrafo integrante da celebrada equipe de fotógrafos do Jornal do Brasil. De sua autoria, possui uma rara e preciosa galeria de retratos de artistas brasileiros.
Marcos Vianna Uma homenagem justa Uma honra ser convidado a dar o testemunho sobre essa queridíssima pessoa que é o Ricardo de Hollanda, de quem tenho o prazer de ter sido seu pupilo e amigo desde então, há mais de 30 anos, justo no momento em que comemora 50 anos de trajetória dedicada ao estudo, à pesquisa e à transmissão da Fotografia às gerações carentes de informação e conhecimento na área. Ricardo de Hollanda apareceu cedo em minha vida profissional, quando frequentei o Curso Bloch de Fotografia nos anos 80. Depois, trabalhamos no Jornal do Brasil e no Ateliê da Imagem e, em todos esses anos, sempre foi um exemplo de vida para mim. Seu percurso na UERJ, até o momento em que se aposentou, caracterizou-se pela inovação e pelo estímulo nos contatos regulares, entre seus alunos e os fotógrafos, sempre atento em abrir novos horizontes a todos. Parabéns, Ricardo. Que venham mais anos de amizade e aprendizado! Marcos Viana é jornalista, fotógrafo e professor. Foi da equipe de fotógrafos do Jornal do Brasil e atua em fotografia publicitária.
Ricardo Azoury O meu primeiro Mestre Em 1973, com 20 anos e ainda sem saber o que fazer da vida, entrei no curso de iniciação à fotografia do SENAC. Na década de 70 a fotografia ainda não tinha adquirido o prestígio artístico que tem hoje, mas, felizmente, tive a sorte de ter Ricardo de Hollanda como professor. Digo “felizmente“ porque, 47 anos depois — sendo 43 deles como profissional —, não consigo imaginar minha vida sem fotografar. O ensino da fotografia exige um grande volume de informações técnicas que, apesar de simples, são importantíssimas para operar uma câmera. Mas, muito mais que me ensinar velocidades e diafragmas, Ricardo me mostrou a importância da linguagem fotográfica e os fundamentos éticos do ser fotógrafo. Ricardo Azoury, fotógrafo free-lancer, com trabalhos publicados em jornais e revistas internacionais, iniciou na equipe da revista Manchete. Foi membro fundador da celebrada agência F4 e da Agência Tyba, ao lado de Claus Meyer e Rogério Reis.
Ricardo Beliel Conheci o meu querido xará, Ricardo de Hollanda, bem no inicio dos anos 70. Nessa época, eu me dedicava ao Desenho e ao estudo de Gravura, no MAM, quando me interessei pela Fotografia. Me matriculei no SENAC para entender e dominar a técnica e a estética dessa nova expressão artística que se insinuava em minha vida. Por sorte, encontrei em Julião Kaulino e Ricardo de Hollanda, dois professores fundamentais para atestar o meu desejo pela Fotografia. Eles foram a combinação perfeita de conhecimento técnico e histórico, apuro estético e domínio pedagógico para os alunos. E, eu, entre eles. Ricardo, em especial, tornou-se um amigo por toda a vida. No Jornal do Brasil, na UERJ, nos encontros amigáveis, em palestras, exposições, tantos amigos em comum, tantas conversas para guardar na memória... O meu xará é um mestre em todos os sentidos. A Fotografia e eu agradecemos a sua companhia. Ricardo Beliel é Professor e fotógrafo free.lancer. Integrou a equipe do Jornal do Brasil, Isto É, e Veja entre outros veículos de imprensa.
Rogério Reis Meu interesse pela fotografia surge através do programa Universidade – Empresa em 1977. Ao entrar pela primeira vez no solene prédio do Jornal do Brasil da Av. Brasil 500 tive a sensação de estar próximo aos meus desejos. Seus nove andares eram amplamente decorados com fotos do baita time de fotógrafos da casa. Nesse ambiente, Ricardo de Hollanda trabalhava no educativo do jornal e suas visitas à fotografia eram constantes. Assim, fomos nos tornando amigos, ele um grande incentivador da fotografia como professor, fotógrafo, curador e gestor cultural e eu ainda deslumbrado com a minha nova profissão. Antes do JB eu só tinha notícias do Ricardo através da “Rádio Fofoca”, assim nos referíamos à comunicação boca a boca na época. Ele era parceiro do fotógrafo Christiano Teixeira no amplo ateliê de Copacabana do pintor Oswaldo Teixeira, seu pai. Aliança Francesa, Universidade Gama Filho, Jornal do Brasil, Villa Maurina, Biblioteca Nacional, Universidade do Estado do Rio ( UERJ,) Ateliê da Imagem, Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Agência F4, Tyba , A Casa Foto Arte, são os nossos pontos de encontros até aqui. Às vezes me pergunto quantos alunos e fotógrafos como eu foram habilitados e qualificados visualmente pelo Ricardo. Rogério Reis, fotógrafo, curador, foi editor e coordenador da equipe de fotógrafos do Jornal do Brasil. Participou de inúmeras exposições no Brasil e no mundo, possui trabalhos em acervos de museus brasileiros e estrangeiros.
Simone Rodrigues A Imagem da Nobreza Educadores e artistas sabem que a arte não é algo que se ensina, mas sim experiência compartilhada de percepções e afetos. O ensino no campo das artes pressupõe muito mais do que o domínio do conhecimento supostamente transmitido. Com a fotografia não haveria de ser diferente, sendo matéria em íntima conexão com a vida, o ensino de fotografia requer um tipo de saber-viver que vai muito além – e sem medo da contradição, também se situa aquém – de um saber-fazer específico. Conheci o mestre Ricardo de Hollanda no momento inicial da construção do Ateliê da Imagem, um projeto de escola de fotografia que ajudei a fundar. Nós fomos apresentados no ano de 1999 por outro grande nome da fotografia brasileira, Pedro Karp Vasquez, que naquele momento nos dava consultoria para a elaboração desse projeto pedagógico. O século XXI já se anunciava e nós sonhávamos com a criação de um polo de produção-pensamento-difusão da fotografia carioca, que naquela época ainda era muito carente de centros de formação extra técnicos. Ricardo de Hollanda já era um fotógrafo-educador com vasta experiência, reconhecido por sua atuação na área de Comunicação e fotojornalismo na UERJ, entre outras instituições. Nós o convidamos para integrar a equipe de professores e foi com entusiasmo que ele atendeu ao chamado. Ricardo ficou responsável pelos cursos de Laboratório Fotográfico Preto e Branco e, nessa empreitada, contou com a assistência da fotógrafa Márcia Monjardim Penna.
A parceria se mostrou promissora e a dupla se revezava com desenvoltura entre as aulas teóricas e práticas, tendo formado várias turmas enquanto víamos crescer exponencialmente o número de alunos interessados em viver aquela “experiência reveladora” – sem dúvida, um dos aprendizados mais mágicos da fotografia. Em meio às reviravoltas operadas pelas transformações tecnológicas que nos impõem novos parâmetros de atividade e desafios profissionais, é muito reconfortante sentir a força da presença de tudo aquilo que permanece como afirmação dos valores do caráter individual e da ética das relações humanas. Diante das incertezas e instabilidades tão inquietantes dos tempos atuais, é um grande alento recordar o educador exemplar que é Ricardo de Hollanda, com seu saber-viver que ele compartilha muito naturalmente, com simplicidade e elegância. Sua delicadeza com todos que o cercam e demandam sua atenção, sua generosidade exercida com prazer e alegria e sua rara polidez no trato social lhe renderam, entre nós, o título de gentleman. Gratidão, Professor, pelo ensinamento vivo, talento e virtude das almas nobres. O ampliador que você me deu, eu o guardo como a um troféu. Simone Rodrigues é artista visual, professora e curadora independente. Mestre em História Social da Cultura (PUC-Rio), trabalha há mais de 20 anos com organização de mostras audiovisuais, exposições e oficinas de arte e fotografia. Foi cofundadora do Foto in Cena e do Ateliê da Imagem. Atualmente é professora na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e n’A Casa Foto Arte. Também é diretora da NAU Editora, onde realiza publicações de arte e ciências humanas.
Vantoen Pereira JR Falar de Ricardo de Hollanda é tecer memórias de atos, de atitudes em prol da conquista, de respeito e do direito à liberdade da nossa expressão do ato fotográfico. Em especial aos fotógrafos profissionais brasileiros. Mestre, e orientador. Em minha trajetória profissional participei de seminários, encontros e de suas apresentações audiovisuais, sobre a arte e técnica da fotografia. Ricardo de Hollanda é um verdadeiro “Griot” - que tem por vocação preservar e transmitir conhecimentos – compartilhando seus estudos profundos sobre o processo criativo, conjugado com o aperfeiçoamento técnico, principalmente da fotografia P/B e seus processos. Ao mestre, amigo, com carinho, segue esta memória tecida de “Vi Vendo” aos seus ensinamentos pelos “Brasis Afora”. Vantoen Jr. é jornalista e fotógrafo, professor no SENAI, especialista em fotografia still com trabalhos consagrados na área de cinema.
Depoimentos
André Arruda André Lázaro Ary Moraes Beth Santos Dante Gastaldoni Evandro Teixeira Joaquim Marçal Lafayete Máximo Marco Antônio Cavalcanti Marcos Vianna Ricardo Azoury Ricardo Beliel Rogério Reis Simone Rodrigues
Artista Homenageado
Texto Especial
Vantoen Pereira JR Pedro Karp Vasquez
Ricardo de Hollanda
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