Edição 311 - Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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COIMBRA DOS AMORES, MUNDIAL DOS TERRORES

- PÁG. 2-5ENSINO

Eleições para o CG: 4 projetos candidatos confluem na procura de mais representatividade e Ação Social

- PÁG. 9-10CIÊNCIA

COP27: maior conferência mundial decide financiar transição verde em países mais afetados

- PÁG. 15CIDADE

Apesar da falta de condições na frota dos SMTUC, 2023 vai ser ano de aumento no preço das viagens

- PÁG. 6-8CULTURA

Yamandu Costa: "Música está acima de política, de religião, dessa merda toda. Música é beleza".

- PÁG. 11-14DESPORTO

Filipe Rosa à frente do CD/AAC. Falta de requalificações em instalações desportivas

- PÁG. 16-17REPORTAGEM

Comércio biológico cresce em Coimbra. Três comerciantes apostam em valores mais sustentáveis.

13 DE DEZEMBRO DE 2022 ANO XXXII Nº311 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA JOANA CARVALHO
EXECUTIVOS
EDITORES
LUÍSA
MACEDO MENDONÇA E FÁBIO TORRES
Por Simão Moura

Conselho Geral disputado por quatro listas estudantis

Candidatos abordam temas como Ação Social, representatividade estudantil e internacionalização. Endogamia universitária, filas nas cantinas e pegada ecológica também são referidos como problemas.

As eleições para o Conselho Geral da Universidade de Coimbra (CGUC) realizam-se no próximo dia 13 de dezembro, com postos de votação em todas as faculdades. A votos encontram-se as listas A, C, F e R, encabeçadas, de forma respetiva, por Hugo Faustino, Catarina Melo, José Gama e Carlos Magalhães. O CGUC é o órgão máximo de governo da UC, que define o desenvolvimento estratégico, a orientação e a supervisão da Academia. É composto por 35 membros, cinco dos quais estudantes, que dividem o espaço com representantes dos professores, investigadores, trabalhadores não docentes e personalidades externas à UC. Entre as suas competências destaca-se a eleição do reitor, a apreciação do mandato eleitoral e a aprovação de alterações nos estatutos da universidade.

Lista A - “Avança pelos teus direitos”

Hugo Faustino, representante da Lista A“Avança pelos teus direitos”, aponta a falta de conexão e comunicação entre o CGUC e os alunos, bem como a necessidade de um “contacto com os estudantes que não surge apenas nas eleições”. A lista pauta-se por três pilares: democracia, firmeza e transparência.

O candidato afirma que o CGUC “não tem

dado respostas aos problemas dos estudantes”, e que é necessário que os mesmos possam ver as atas realizadas, de modo a aumentar o seu envolvimento. Além disso, sugere uma revisão do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES). O estudante de Arqueologia na Faculdade de Letras da UC classifica o documento como “injusto” e acrescenta que o mesmo “não corresponde aos interesses dos estudantes”. Hugo Faustino defende que, nos dias de hoje, “o RJIES procura uma elitização do ensino superior, que devia ser universal e gratuito para todos”.

No que diz respeito à Ação Social, o cabeça de lista reforça que “os serviços não devem servir para gerar lucro, mas para ajudar os estudantes”e diz que o museu “é o único que não pede dinheiro, talvez por interesses económicos e pelos turistas contribuirem”. Acredita ainda que o movimento tem “um papel fulcral para garantir que os jovens possam estudar na UC e contribuir para Portugal”.

Como propostas, Hugo Faustino quer trazer de volta o apoio às repúblicas por parte dos Serviços de Ação Social da UC, e a abertura de unidades alimentares fechadas. O estudante mostrou-se ainda contra o pagamento através da ‘app’ SASUC go! em diferentes espaços geridos pela UC.

O representante pretende uma maior aproximação ao Senado da UC e ouvir ainda mais propostas, assim como promover uma paridade entre professores e estudantes na Academia. Declara ainda que “nenhum ponto se sobrepõe a outro, pois a UC tem muitos problemas”. Porém, considera fundamental combater o abandono escolar. Hugo Faustino refere, por fim, que este “é um projeto alternativo pela questão do contacto com o eleitorado, que é fundamental”.

Lista C – “Capacitar a UC, Construir o amanhã”

Dirigida por Catarina Melo, a Lista C“Capacitar a UC, Construir o amanhã” lança-se na corrida pelo CGUC. Para além da representatividade e da internacionalização da Academia, a candidata apoia-se numa diversificação dos métodos de ensino e no investimento no apoio psicológico aos estudantes.

A cabeça de lista comenta que os cinco estudantes efetivados no CGUC não são suficientes, e que levam a uma presença “muito reduzida” nos processos de decisão. Neste sentido, procura “reduzir a quota relativa aos membros externos, muitos dos quais em nada têm a ver com a universidade".

13 de dezembro de 2022 02 ENSINO SUPERIOR
Por Hugo Marques Por Simão Moura

Catarina Melo volta a sua atenção além-fronteiras, e frisa que a UC, uma instituição que se afirma como “aberta ao mundo”, é a universidade portuguesa com o valor da propina internacional mais alto. “Isso coloca, de facto, um entrave à vida dos estudantes internacionais e à geração da pluralidade que caracteriza a UC”, continua a candidata, que relembra a necessidade de tocar neste ponto ”. Para solucionar o problema, sugere a criação de novos mecanismos de apoio e receção ao estudante internacional, para melhorar a qualidade da sua estadia, acompanhados da descida da propina.

A concorrente não deixa de notar a posição da UC nos ‘rankings’ internacionais, onde verifica uma descida ao longo dos últimos anos. Catarina Melo considera que “há um ponto muito importante e que tem vindo a ser tocado que é a questão da endogamia universitária”. Face a esta situação, declara que é preciso “trazer para junto do corpo docente elementos que gerem novos métodos de ensino”, de forma a contribuir para a “pluralidade e diferenciação”.

A saúde mental dos estudantes também não passa ao lado. Para a candidata, são “pouquíssimos” os profissionais que a UC emprega para prestar o apoio psicológico “crucial” para o desenvolvimento das capacidades de cada aluno. “É preciso investir em mais recursos humanos, no que consta a profissionais de saúde, e colocá-los nas várias unidades orgânicas, para que possa ser prestado esse apoio a toda a comunidade estudantil”, pontua Catarina Melo.

Lista F - “Um Futuro para a UC”

A lista F - “Um Futuro para a UC", encabeçada por José Gama, aponta a informação como chave principal para a melhoria do CGUC. O candidato afirma que a representatividade dos alunos é reduzida e que é necessário “diminuir o número e a percentagem de pessoas do órgão que não são estudantes”.

O projeto baseia-se numa proximidade aos alunos, com o objetivo de se criar um órgão consultivo para “recolher os problemas vindos de baixo e passar a informação para cima”. Para

tal, foram escolhidas pessoas de todas as faculdades “interessadas, com uma visão e com propostas diferentes para o projeto”.

O estudante prioriza o ensino e pretende a criação de um fundo de apoio à investigação “para auxiliar os gastos e as despesas que se têm nas dissertações ou relatórios de estágio”.

José Gama quer ainda apostar no meio digital e na melhoria das plataformas Inforestudante e UC Student.

No âmbito da Ação Social, o representante afirma continuar a luta pela solução dos problemas em residências e repúblicas, mas também privilegia o tema das cantinas. Como solução, aponta que se pode “alterar os horários, como experiência, de saída para o almoço das faculdades de modo a haver um vazamento de filas”.

A saúde é também prioridade para José Gama, que sugere “o reforço do número de psicólogos na universidade e a sua descentralização”, com a possibilidade de alunos em mestrado exercerem o estágio da Ordem de Psicólogos na instituição. A lista propõe ainda a aproximação às secções culturais e desportivas da Académica, pois estas fazem parte dos interesses dos estudantes.

José Gama afirma que todos estes pilares conjugados são os problemas mais presentes do CGUC, nos quais todos os estudantes que “almejam representar têm que se focar”. Termina ao dizer que "se tentou fazer um projeto que conseguisse responder no imediato a problemas da comunidade estudantil” e que tem de haver uma “ponte entre os estudantes e os seus problemas, para serem resolvidos”.

Lista R - “Representar os Estudantes”

Carlos Magalhães assume a liderança da Lista R - “Representar os Estudantes” com um projeto voltado, sobretudo, para a propina internacional e a extensão dos ciclos de estudo dos mestrados. Apesar do foco nestes assuntos, o estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC não descura a importância da Ação Social, do ambiente, da diminuição da propina nacional e do desporto e cultura académica.

Sob a bandeira da representatividade, o can-

didato destaca que a sua lista é a única que integra um estudante internacional, o que, a seu ver, a torna uma representação mais fiel da realidade da UC. Quando questionado sobre a quota de presença estudantil no seio do CGUC, Carlos Magalhães relembra a sugestão feita pela Assembleia da República de revisão do RJIES. Nesse sentido, o cabeça de lista adianta que “é uma boa altura para discutir se a constituição do CGUC tem representação estudantil suficiente”, e que é uma oportunidade para “equacionar as melhores soluções” para que tal aconteça.

No que diz respeito à propina, o candidato quer orientar os trabalhos do órgão, no sentido de evitar que “dispare de um ano para o outro”. No caso da Faculdade de Economia da UC, por exemplo, “a propina (do segundo ciclo) passou de 700 para 1500 euros e no técnico para os 1250 euros”, exemplifica. Assim, Carlos Magalhães define como objetivo manter o valor da propina atual “pelo menos até ao fim do período de transição de 2024/2025”.

Quanto aos mestrados integrados, o cabeça de lista reforça a necessidade da atuação num tema que, a seu ver, “foi um bocado injusto, não deu valor aos estudantes e não teve a sua opinião”. O candidato prevê ainda um apoio aos discentes da UC que vivem nas residências universitárias, com a criação e renovação de edifícios., São exemplo a construção de uma nova infraestrutura no final de 2023 perto das Escadas Monumentais, e a renovação de outras como a Residência da Alegria e a Residência dos Combatentes.Desta forma, o candidato afirma querer, com o seu projeto,melhorar a situação do alojamento na cidade.

O representante fala ainda numa revisão do estatuto de estudante atleta e numa promoção do desporto universitário, bem como uma maior comunicação com os órgãos culturais da Associação Académica de Coimbra, de forma a promover a estabilidade. O cabeça de lista levanta também a questão do desperdício nas cantinas da universidade. A seu ver, é preciso garantir uma oferta alimentar “adequada” para combater este problema e, assim, diminuir a pegada ecológica da Academia.

03 13 de dezembro de 2022 ENSINO SUPERIOR
Por Hugo Marques Por Simão Moura

Grupo Ecológico sob nova direção

Após a demissão da dirigente da Comissão Administrativa, Emília Oliveira, o Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra (GE/AAC) voltou a eleger uma lista para a sua presidência. A candidata da Lista A – “Avançar pelo GE”, Jéssica Sá, recorda o tempo em que o grupo esteve “parado” e atribui a responsabilidade ao Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/AAC) que, a seu ver, “ignorou a situação”. Adianta ainda que os “integrantes da Comissão Administrativa já tinham deixado claro ao CF/AAC que não conseguiam sustentar mais a presidência do GE/AAC”.

Dada esta instabilidade, a extinção da secção chegou a ser debatida ao longo do último ano letivo. Perante esta sugestão, a ex-presidente da Comissão Administrativa do órgão declara que este “é fundamental”. Continua ao dizer

que, sem o mesmo, “haveria uma dificuldade imensa em colmatar uma das maiores crises que se vive na atualidade”. Jéssica Sá partilha desta opinião ao mencionar a importância histórica do GE/AAC, e diz que, sem ele, “a Académica seria mais pobre”.

A atual presidente revela que a sua equipa já tem um plano de atividades delineado. Para este mês de dezembro, a dirigente prevê a realização de atividades como, por exemplo, um atelier de efeitos de Natal. Em janeiro, vai ser realizada uma exposição de obras cinematográficas sobre as temáticas abordadas pelo GE/AAC. Já em fevereiro, anuncia o regresso de recolhas de sebentas e outros materiais nas faculdades da Universidade de Coimbra (UC). Acrescenta ainda o regresso da afixação de “cartazes polémicos” pela Academia, algo que atraiu a sua atenção para a atividade da secção.

Por sua vez, Emília Oliveira insiste que um dos entraves ao GE/AAC é a imagem que as pessoas exteriores à estrutura do Grupo têm dos seus integrantes e das suas ações. “Havia a ideia de que o GE/AAC era muito fechado e que se alguém não fosse, por exemplo, vegan, era maltratado” exemplifica a antiga dirigente, que mantém a propagação de uma “imagem clara” do Grupo como essencial ao seu funcionamento.

Tanto Jéssica Sá como a vice-presidente, Maria Mailho, assumem a divulgação das atividades desenvolvidas como um dos entraves à exposição do GE/AAC. As dirigentes consideram que a solução passa não só pela utilização das redes sociais, mas também pela colocação de cartazes nas várias faculdades. A presidente nomeia ainda a utilização dos órgãos da casa como forma de aumentar o alcance da secção.

Estatutos: onde estão e para onde vão

Daniel Tadeu admite possibilidade de prolongamento de trabalhos por mais um ano.

Presidente enaltece trabalho dos membros da ARE.

AAssembleia de Revisão de Estatutos (ARE) da Associação Académica de Coimbra (AAC) está a decorrer desde junho e tem dinamizado fóruns, a par de discussões públicas, para preparar as diretrizes que vão gerir a Académica nos próximos anos. Com a duração mínima de um ano, a ARE pretende apresentar resultados em junho de 2023. No entanto, o presidente do órgão, Daniel Tadeu, admite a possibilidade de adiar esta apresentação por mais um ano.

De acordo com o dirigente, está a decorrer a apreciação das propostas apresentadas, tanto no Fórum da ARE, ocorrido no passado dia 22 de outubro, como ao longo do período de auscultação pública. De seguida, vai ser feita uma análise às entrevistas, às propostas apresentadas e aos documentos mencionados para que se possa, por fim, “debater os estatutos”. O responsável refere ainda que todos os elementos presentes no órgão merecem destaque pelo "bom trabalho feito até agora",

pois têm "dado o seu melhor”, algo que Daniel Tadeu espera que continue com o decorrer dos trabalhos da Assembleia.

O também antigo presidente da Mesa da Assembleia Magna da AAC adiciona que, após o plenário de segunda-feira, dia 12 de dezembro, começa a época de “férias de Natal, para ir visitar as famílias”, pelo que vai ser durante o mês de janeiro que “todas as comissões especializadas vão apresentar o seu relatório final”. Daniel Tadeu salienta a vontade de “ouvir a comunidade académica”, pois há sempre algo a mencionar “que pode ser proposto na Aassembleia e debatido na mesma”. Nesse sentido, vai ser realizado um novo fórum no dia 18 de fevereiro, aberto a todos os estudantes.

O presidente salienta o sucesso do primeiro fórum ARE, de onde “saíram boas propostas, com bastante potencial”, e termina com a ideia de existir já “bastante matéria reunida” a ser analisada, ao detalhe, pelos integrantes das comissões especializadas. Frisa ainda que o

intuito do órgão é de “procurar esse ‘feedback’”, de forma a que não haja um entrave para quem não consegue estar presente nos plenários, pois “pode ingressar online consoante a aprovação dos membros do plenário”.

A ARE entrou em funções em junho do passado ano letivo e é composta por 35 membros, selecionados a partir das quatro listas que concorreram ao órgão. Para quem tem interesse em acompanhar todo o processo, existe um ‘website’, com atualizações constantes, que pode ser consultado a qualquer altura. Nesse ‘site’ são publicadas tanto as deliberações como as atas de cada plenário. Aqui, a comunidade académica pode encontrar informações relativas aos “membros que saíram e aos que ainda estão no ativo”, ou até “por quais membros é composta cada comissão”. O responsável ressalta que este ‘site’ “tem tudo”, e apela a que os interessados o consultem.

13 de dezembro de 2022 04
Atividades para próximos meses já estão programadas. Dirigentes apontam divulgação como um dos maiores entraves à atividade da secção.
ENSINO SUPERIOR

Prolongamento dos exames da FDUC afetam entrada no segundo ciclo

Assunto discutido com direção da faculdade e Conselho Pedagógico. Rafael Assunção destaca autonomia dos docentes ao definir metodologia do ensino e modelo de avaliação.

AFaculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC) contou, dia 20 de outubro, com uma manifestação realizada na porta férrea. Os estudantes de direito juntaram-se com o objetivo de mostrarem o seu descontentamento perante a impossibilidade de ingressarem no mestrado, em consequência do atraso na lacragem das notas de exames da época especial.

O presidente do Núcleo de Estudantes de Direito da Associação Académica de Coimbra (NED/AAC), Rafael Assunção, explicou que este atraso foi da responsabilidade dos Serviços de Gestão Académica da UC e não da própria faculdade, já que esta “cumpriu com tudo aquilo com que se comprometeu”. Neste sentido, a questão foi levada à reitoria da UC e ao provedor do estudante, com vista aos alunos candidatos a mestrado “conseguirem ver a sua situação regularizada”. Ainda assim, depois da ação reivindicativa, nem todos os estudantes afetados ingressaram nos respetivos mestrados.

Rafael Assunção explica que, no decorrer do processo de candidatura, é necessário estipular uma data para conclusão da licenciatura. Os estudantes que se tinham comprometido com a universidade que “se licenciavam em setembro e, a dia 18 de outubro, ainda não tinham as notas lacradas, acabaram por ficar

de fora”, adianta. O presidente do núcleo menciona que este cenário se deve “às longas épocas de exames” existentes na FDUC.

O prolongamento destas épocas faz com que, no segundo semestre, os exames comecem em junho e terminem em setembro, ou até mesmo outubro, como aconteceu este ano com a época especial. O representante do NED remata que "os alunos mais prejudicados acabam por ser os do último ano de licenciatura, pois mesmo que queiram ingressar noutras faculdades ou universidades do país veem-se condicionados porque ainda não terminaram a licenciatura”.

Francisco Dinis, membro do Conselho Pedagógico, reforçou que estes prolongamentos no calendário universitário causam situações “incompatíveis”. A título de exemplo, referiu que “a época de recurso, que deveria ter o seu término em julho”, nunca acaba nesse mês “por causa das remarcações e das avaliações orais”.

Beatriz Olaio, uma das estudantes que se encontrava impedida de ingressar no 2º ciclo de estudos na Faculdade de Direito, menciona que “passado uns dias desde a manifestação de 20 de outubro, saiu o despacho”. De acordo com a discente, o provedor do estudante exprimiu que a situação ficaria resolvida no dia da manifestação, mas “só pas -

sadas umas semanas é que os estudantes se conseguiram inscrever”.

Joana Catarina Araújo, também estudante de direito, considera que, de forma indireta, foi afetada por esta calendarização, uma vez que o atraso no lançamento de notas fez com que não se pudesse inscrever na época extraordinária, que se realiza nos fins de outubro. A aluna reconhece que esta situação levou a que alguns dos seus colegas “optassem por não ir ao exame de época especial e fazer o mestrado só por disciplinas em avulso”, para eliminar a possibilidade de ficarem parados um ano.

Segundo Francisco Dinis, o Conselho Pedagógico esteve em reuniões com a direção da FDUC e com o NED/AAC no sentido de “conseguir estancar as épocas nos momentos para as quais estão destinadas”. Além disso, frisa que, apesar do órgão pedagógico ser de caráter consultivo, o objetivo é fazer com que os estudantes “tenham cada vez mais acesso a épocas de avaliação repartida ou contínua, para que haja uma verdadeira época de exames normal”.

O NED/AAC, avança Rafael Assunção, já discutiu e reuniu várias vezes com a direção da FDUC com o objetivo de apresentar várias propostas, congruentes com as do Conselho Pedagógico. Estas orientações passam por, de novo, “aumentar os momentos de avaliação repartida ao longo do semestre, alterar os métodos de avaliação em algumas unidades curriculares, ao introduzir, por exemplo, apresentações de trabalhos e uma vertente mais prática ao curso” para que os alunos não tenham tantas avaliações.

Rafael Assunção salienta que “a direção da faculdade recebe de forma bastante positiva as sugestões e recomendações”. No entanto, aponta que há também uma dependência da UC e dos próprios docentes que “têm uma grande autonomia na sua escolha para os momentos de avaliação curricular e para a própria metodologia de ensino nas suas cadeiras”. Lamenta ainda que, apesar de alguns pretenderem evoluir, há outros que preferem “métodos mais arcaicos, com exames e aulas muito teóricas”.

05 13 de dezembro de 2022 ENSINO SUPERIOR
Por Marijú Tavares

Uma vida entre sete cordas

Yamandu Costa trouxe violão de sete cordas ao Teatro Académico de Gil Vicente. “É um privilégio poder viver disso e para isso”, refere artista.

É conhecido por tocar o violão de sete cordas. Como surgiu o seu contacto com o instrumento?

Conheci o violão de sete cordas através do Rafael Rabelo, um músico brasileiro que mudou a história recente do violão no Brasil. É uma referência fundamental para mim. Aí a minha geração seguiu esse barco e eu, falsa modéstia, sou um divulgador desse instrumento e uma das suas principais referências – não só no Brasil, mas em toda a América Latina. É um instrumento que comecei a tocar muito jovem e que vem se desenvolvendo muito bem em diferentes caminhos: há uma linha solista, que eu toco, e uma linha de acompanhamento, que é mais tradicional. Para um solista, um flautista, um bandolinista, o sete cordas é como se fosse um tipo de baixo que fica fazendo

bordados e caminhos de frases interessantes e criativos. Acho que também tem herança da viola do fado, essa coisa de ter a corda de aço que até hoje o fado tem, para fazer o ‘blend’ com a guitarra portuguesa. Esse mundo das cordas é uma magia, um encanto, a vida inteira dando volta nessa roda gigante que não tem fim.

Consegue imaginar a sua carreira sem o violão de sete cordas?

Muito difícil. Foi uma escolha feita de paixão, mesmo. Como quando a gente só faz cagada quando tá apaixonado... mas não foi uma cagada não, porque eu adoro esse instrumento. Agora, é um instrumento que limita, apesar de diferente e único, porque não é comercial.

Como representante da geração atual de

violonistas de sete cordas, o que espera da próxima geração?

A gente vai aprendendo a não ter muita expectativa, né? Mas notamos que é muito promissora essa nova geração de jovens que tocam de forma maravilhosa. O instrumento não tem fim, eu acredito que vá ter uma história muito bonita. O importante é esses músicos entenderem que a sua música tem que dizer algo, na sua própria maneira.

De onde surgiu a paixão e a vontade pelo choro brasileiro?

A gente se encontra pelo choro. A linguagem universal do músico brasileiro é o choro, porque existe no Amazonas e no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Mato Grosso, simples assim. É uma música que representa

13 de dezembro de 2022 06 CULTURA
Por Gustavo Eler

o povo brasileiro, a mistura que nós temos: o caboclo, o negro, o europeu e o índio. O choro saiu da senzala, quando colocavam os negros para estudar piano clássico, música europeia, eles, com aquele ‘swing’, mudaram toda a linguagem. O choro é a fotografia da gente como cultura, né? Essa mistura da nossa raça é a cara do choro.

Como foi o seu contacto com o fado português?

Eu sempre fui apaixonado pelo fado. A gente sente que nesses países mais quentes a música popular ainda existe. Tenho amigos que são fadistas, então às vezes saio à noite em Lisboa, me sento ao lado dos caras e o negócio começa a acontecer às três horas da manhã, é uma cultura boémia. Quando você vê o fado, é como o tango, é um personagem da noite, ele está dentro da música, inserido na cultura. Eu amo isso. Moro em Portugal muito por isso também. Em Alfama, por exemplo, eu consigo ouvir uma coisa que não seja McDonald 's ou Dolce & Gabbana. Quando o cara começa a cantar fado e, naquele momento da profundidade da cultura, o público começa a falar baixinho: “vai fadista, vai fadista”. Tomar um bom vinho e ouvir um fado é um privilégio.

Acredita que o fado português tem influência no choro brasileiro?

Tem gente que fala que o fado veio da música brasileira, nós somos pátrias irmãs. Brasil e Portugal se alimentam há muito tempo, de muitas formas, mais do que a gente se dá conta. Lá no fundo, existe esse fio condutor que chegou no Brasil e chegou na América Latina, né? Quando a gente pensa na América Latina, a gente enxerga um continente que deu uma segunda chance ao mundo de fazer a música acontecer. As culturas, não só musical, mas de gente humana... Puta que pariu! Você vê a música, o ‘blues’, o ‘jazz’, o samba, o choro, o tango, a música caribenha... Existe todo um fio ibérico, principalmente na América do Sul. A gente chama a isso tudo um caldeirão, com um pouco de África junto. Pouco não, muito, graças a Deus, ou ao que quer que seja. Essa mistura é a nossa única saída. Cada músico vai ali e coloca um tijolinho e a coisa vai se construindo, vai começando a se criar um vocabulário sobre tudo isso.

Como foi a sua experiência a tocar guitarra portuguesa?

É uma brincadeira. Um instrumento que tem uma afinação completamente esquizofrénica, nem me atrevo. Tem toda uma ciência. Você estica uma corda num pau e quer de alguma maneira passar um tempo com aquilo, chegar num lugar bonito.

Tem um tipo de guitarra portuguesa favorita?

Não, até porque eu não tenho conhecimento profundo. Eu sei que a daqui de Coimbra é afinada um tom abaixo, é mais grave. Mas acho todas elas lindas. Eu sei que aqui tem meio que

uma richazinha entre a Canção de Coimbra e o fado de Lisboa, tudo bobagem isso aí. Os estilos são diferentes, mas são lindos. Então é uma cultura fantástica, maravilhosa, adoro.

Chegou a participar nos Centros de Tradição Gaúcha típicos do Rio Grande do Sul, onde nasceu?

Totalmente! O meu pai tocava nesses ambientes também, onde eu me criei desde muito pequenininho. É um clube gaúcho que tem pelo mundo inteiro. A comunidade gaúcha é muito aguerrida, tem muito orgulho da sua tradição. Aquelas prendas, aqueles vestidos enormes… Aquilo para namorar é que é uma merda, atrapalha muito! (risos)

Com as suas viagens pelo mundo, é notável a influência do choro noutros estilos?

Nos últimos anos isso mudou muito. O choro tem muito mais protagonismo e gosto de fazer parte dessa história. Eu e uma cambada de gente! Não só jovens, mas gente da velha guarda, também. O choro é uma linguagem que cada vez mais ocupa espaço e merece todas as portas que estão se abrindo. É uma música de extrema qualidade, de difícil execução e que demanda muito carinho.

O Yamandu possui um estilo próprio de tocar o violão e também já viajou o mundo inteiro. Acha que as outras culturas influenciaram a maneira como toca?

Demais. Eu sou um músico em total crescimento, sabe? Não tem fim, mas isso demanda uma concentração no momento, que é sempre meio tensa. Você conseguir fazer a conexão de certas coisas é um ofício muito interessante. Porque sempre depende do teu bem estar e condição, não só física, mas mental. Estar pleno para fazer com que a música seja a protagonista em tudo isso.

Qual a sua opinião sobre a industrialização da música?

Essa coisa da indústria tem que existir. Mas a gente sente a influência das grandes corporações na manipulação da música digital e isso é uma sacanagem com os envolvidos que não aparecem nos créditos, sabe? Então eles inventaram uma pseudoliberdade que torna a mão de obra escrava, imposta por uma estratégia de marketing das grandes corporações. E o que acontece? O mundo fica cada vez mais desigual. A gente vem de um país que, se eu não fosse um músico, o que eu poderia ser? Não tive acesso à escola direito. Eu ia ter que trabalhar na roça, ia ser um caminhoneiro ou qualquer coisa. Tive a sorte de ter um talento, de ter uma família musical que me deu uma formação e consegui fazer minha vida dessa forma. Agora, como é a verdade de quem está na periferia? É um negócio acachapante. Isso se reflete no ‘funk’ das favelas do Brasil, que é só falta de estudo. Não é música, é um grito de protesto. É a realidade do nosso país e isso eu estou vendo agora morando em Portugal com os meus filhos, o que é um privilégio.

Considera que a música popular brasileira, como o samba, é ofuscada pela industrialização da música?

Isso faz parte do entretenimento. A música tem muitas facetas que vão mudando. Não tem que levar muito a sério isso. Música é música, é um troço que está acima de política, de religião, dessa merda toda. Música é beleza.

O que acha do futuro da música brasileira? Ah! O Brasil é um poço sem fim de talento. E a gente vê que é um país que prova que de um pântano nasce uma rosa. Tem muita gente sempre fazendo coisas. Não são muito fáceis de encontrar, mas que têm qualidade, têm.

Para os seus próximos projetos, o que acha que falta para se sentir realizado?

Primeiro tenho que ficar vivo (risos) e preciso de saúde! Já não é fácil. Sempre tive uma carreira muito real, nunca fiz parte do ‘show business’. Minha música não toca na rádio. Não tenho muita pretensão, sou um cara proativo num par de coisas, então minha carreira acontece do que eu invento. Eu saio para pescar com dez caniços, como se diz no Brasil, que significa estar pronto para qualquer coisa. Por exemplo, vou gravar um disco agora com o Armandinho Macedo. Eu lanço… sei lá, quatro álbuns por ano, uma quantidade absurda de ‘singles’, participações. Não paro de trabalhar! Eu tenho mais de 50 discos gravados, mais discos do que anos! Não que sejam bons, mas tem bastante! Eu adoro estar em movimento, e a graça é essa. A carreira começa como um sonho, depois você se apaixona por ela, você fica louco e tal e depois vira uma necessidade, nem de sucesso, nem de público. É um negócio próprio de realizar coisas, de se acreditar, de se empurrar para a frente. Quero cuidar da saúde para poder tocar para as pessoas. As etapas da vida vão mudando. Quando você é jovem, você toma todas e tal, depois começa a acalmar um pouco. A grande paixão está aqui, na hora de fazer a música, de fazer acontecer o troço, então é um privilégio poder viver disso e para isso.

Por fim, como conheceu Armandinho Macedo, colaboração do seu próximo disco?

O Armandinho é uma espécie de padrinho da minha carreira. Eu conheci-o como a principal referência do bandolim. Quando comecei a ouvir música instrumental, ouvia muito um disco dele com o Rafael Rabelo. Eu me criei ouvindo Armandinho. Aos 17 tive a oportunidade de o conhecer através de um amigo comum em São Paulo, que me colocou no mesmo hotel que o Armandinho, no quarto ao lado do dele. Nessa altura eu já sabia acompanhar o repertório dele. Aí foi uma coisa explosiva, quando a gente se encontrou e saiu tocando, como até hoje acontece. Finalmente, por ironia do destino, vamos gravar um disco aqui em Portugal, né? Coisa mais louca isso.Vamos registrar o álbum para ter motivo para tomar vinho no Natal.

07 13 de dezembro de 2022 CULTURA

A guitarra de Coimbra também chora lágrimas azuis

Festival Coimbra em Blues regressa ao palco do TAGV com “alinhamento de luxo”, relata produtor. Cruzamento de guitarras de B.B. King e de Carlos Paredes explora “melancolia disfarçada de romantismo”.

E se Carlos Paredes e B.B. King fizessem uma ‘jam session’?” Assente nesta pergunta, nasceu a ideia de organizar um concerto com base no “cruzamento da obra desses dois génios da guitarra”, explica Adalberto Ribeiro, produtor da empresa Trovas Soltas. Como forma de levar o ‘blues’ a toda a gente, realizou-se, nos dias 9 e 10 de dezembro, mais uma edição do Coimbra em Blues, no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV).

Esta novidade foi interpretada, na sextafeira, por Budda Guedes, ‘Peixe’, dos Ornatos Violeta, e Guilherme Catela. A aliança destes artistas pretendeu “explorar o papel da guitarra elétrica na obra de Carlos Paredes e da guitarra de Coimbra na obra de B.B. King”, esclarece o produtor. “Para os restantes concertos, contouse com um alinhamento de luxo, com Archie Lee Hooker, Peter Storm e The Animals”, explica Adalberto Ribeiro.

Budda Guedes, guitarrista profissional de ‘blues’ há mais de duas décadas, indica, em

referência à frase de Willie Dixon, que “’blues’ is the root, the rest is the fruit”. O músico revela uma “gigante admiração por Carlos Paredes”, que considera ser “o Beethoven ou o Mozart” português contemporâneo. Para o autor musical, “cruzar o fado de Coimbra com o ‘blues’ sempre foi um sonho”, por querer explorar “algo inovador, mas com a alma e essência da cultura portuguesa”.

O guitarrista, que já tocou diversas vezes em palco com Shirley King, sobrinha de B.B. King, explica que os dois géneros transportam “a mesma melancolia disfarçada de romantismo”. Budda Guedes realça que “a música nunca é triste, mas sim um lamento disfarçado de exorcização verbal”. O elo entre os dois géneros acaba por ser “o choro da guitarra de Coimbra e da guitarra de ‘blues’”, conclui o artista.

Discípulo da guitarra de Coimbra desde 2015, Guilherme Catela atenta que “não se deve conotar um instrumento a um estilo musical”. A guitarra de Coimbra, apesar de ser um instru-

mento “nascido para tocar o folclore e a canção da cidade”, tem, segundo o músico, “um potencial incrível, que transcende muito para além do fado”.

Guilherme Catela acredita que “o ‘blues’ pode ser feito com qualquer instrumento, e a guitarra de Coimbra não é exceção”. Os dois géneros musicais têm “as mesmas origens melódicas e emocionais e é por isso que os dois géneros encaixam um no outro”, clarifica. O músico acredita que, “por vezes, quando se explora um pouco além do que é considerado o padrão, surgem coisas de uma magnitude surreal”.

Dado o elenco do evento de “elevadíssima qualidade” e artistas “com a cabeça aberta a este novo desafio”, Adalberto Ribeiro realça “a capacidade de cumprir com as altas expectativas”. Budda Guedes afirma que a música ‘blues’ alcança e une pessoas, em torno e devido a ela”. Já para Guilherme Catela, “há ainda muito terreno por explorar”.

Estereótipos barrados à entrada do Festival Género ao Centro

Segunda edição proporciona reflexão do público jovem sobre questões sociais.

Organizadora ambiciona “momento em que se vai alcançar igualdade de género”.

OFestival Género ao Centro, destinado a jovens dos 3 aos 18 anos, realizou este ano a sua segunda edição. Proporcionou a consciencialização para temas como género e igualdade de género em Coimbra, Condeixaa-Nova e Góis. Com a participação de 3 mil pessoas, entre os dias 24 e 26 de novembro, a Catrapum Catrapeia, associação organizadora, reuniu miúdos e graúdos para discutir assuntos sobre o “Poder da Palavra”.

Liliana Carona, jornalista e convidada do festival, salienta a relevância da iniciativa para as gerações atuais e vindouras. Neste sentido, destaca o término do uso do “binómio feminino/masculino”. Refere ainda que é necessária “coragem para levar estas temáticas às escolas”, pois requerem sensibilidade e podem causar sofrimento a quem as vivencia.

Os debates contribuíram para “desmistificar” preconceitos, sobretudo no que toca ao

ideal feminino. Da mesma forma, realizouse uma encenação de um conto de fadas que apresenta uma princesa que foge desse estereótipo. Já Liliana Carona realça a necessidade de “existir representatividade e substituição da abordagem clichê em relação à mulher na comunicação social”.

A organizadora menciona que “as reações dos participantes nesta iniciativa são distintas entre si”. Assinala que as crianças foram um “espírito aberto”, os jovens focaram-se na identidade e os adultos permaneceram céticos. Em relação às instituições, acredita que “há vontade, mas receio em debater”. As entrevistadas identificam maior proatividade e sensibilidade na juventude atual, que tem uma “inclinação para o ativismo e o envolvimento com instituições”, reforça Vânia Couto.

Conscientes de que ainda é necessário implementar medidas no sentido de uma maior

tolerância, ambas concluem que se verificou uma melhoria. Apesar disso, Liliana Carona sublinha que “ainda há um longo caminho a percorrer, para transformar o estigma perpetuado nas gerações anteriores”.

Quanto a uma próxima edição, pretende-se levar os espetáculos, debates e ‘workshops’ com convidados a todos os municípios da região centro. Visa-se continuar a recorrer à cultura como intervenção cívica e propósito de formação, ao manter o apoio de instituições como o Centro Regional de Informação das Nações Unidas.

Assim, Liliana Carona defende “a continuação deste tipo de iniciativas na comunidade escolar e para outras faixas etárias''. Já Vânia Couto ambiciona o “momento em que não vai ser preciso continuar com o festival e se vai alcançar a igualdade de género”.

13 de dezembro de 2022 08
CULTURA

COP27: mais decisões do que ações

Segundo dados da ONU, emissões de carbono aumentam entre um a dois por cento a cada ano. Para Helena Freitas, agravamento das alterações climáticas “justifica um maior compromisso”.

A27ª edição da ‘Conference of the Parties’ (COP27) decorreu de 6 a 18 de novembro em Sharm El Sheikh, no Egito. Este define-se como um evento mundial entre vários países dos diferentes continentes, onde se discutem os temas da atualidade. A conferência realiza-se todos os anos desde 1995, quando houve a primeira edição em Berlim, na Alemanha. É um acontecimento mundial promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) onde estão presentes países de todo o globo.

Segundo Ivan Barbeira, membro do Coletivo Climáximo, “as COP são um momento único, onde os governos, a sociedade e os média

se juntam e olham para o ambiente”. O ativista, também estudante de Antropologia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), refere que a conferência deste ano foi assinalada pela decisão de dar dinheiro a um país que precise de fundos para recuperar de um desastre natural.

No entanto, como referido por Helena Freitas, docente no Departamento de Ciências da Vida (DCV) e investigadora da UC, “este financiamento ainda não está bem definido”. Esta opinião é partilhada por José Xavier, professor de biologia na Universidade de Coimbra, já que “não se definiram mecanismos para distribuição e captação dos fundos”.

Além disso, a COP27 também ficou marcada pelo aumento da presença de lóbis de petróleo em 25 por cento, como afirma Ivan Barbeira. O ativista acredita que “se fossem uma delegação, teriam cerca de 600 elementos, que seria um número maior do que uma delegação de dez países vulneráveis juntos”. Já Helena Freitas reforça que os lobistas “impedem um caminho de transformação devido aos seus interesses financeiros”.

Para a investigadora do DCV, “a urgência destes problemas justifica um maior compromisso”, e realça que os planos nacionais deviam ter mais ênfase nestas temáticas, visto que “é uma forma de ter os países mais vinculados com as metas de descarbonização”. Cerca de 80 por cento das emissões resultam de cinco países. Para Helena Freitas, “é desejável que estes países tenham uma atitude mais proativa e mais determinada em relação às políticas ambientais”.

A docente acrescenta que “a sociedade já se apercebeu que a luta contra as alterações climáticas é importante para o futuro”. Reforça que “o problema é não haver instrumentos de monitorização, nem financeiros, que ajudem a fazer de forma coletiva a transição”.

Helena Freitas é também coordenadora do Centro de Ecologia Funcional (CEF). Nessa qualidade, afirma que “países

como a China e os Estados Unidos da América deviam estar mais comprometidos com as metas, pois continuam com uma série de práticas bastante penalizadoras, sobretudo no financiamento de combustíveis fósseis”. A investigadora relembra também a necessidade de “acelerar a descarbonização das economias do mundo”, aspeto que afirma ser “muito relevante para a luta contra as alterações climáticas”.

José Xavier declara que “cada país tem a sua agenda e tem questões prioritárias, mas as alterações climáticas são algo que devia estar em todas”. A coordenadora do CEF, relata que, apesar da agenda estar já construída, não se “debruça muito sobre as alterações climáticas, algo que deveria mudar”. De acordo com o último relatório da ONU, as emissões de carbono por ano deviam estar a reduzir entre cinco a sete por cento, no entanto estas estão a aumentar entre um a dois por cento.

O professor julga ainda haver tempo para reverter as consequências, mas “quanto mais se demora, maiores se tornam os efeitos”, tanto a nível económico, como a nível de desastres naturais. O investigador indica ainda os relatórios do ‘Intergovernmental Panel On Climate Change’ (IPCC) como um bom meio para ajudar os governos a tomarem decisões. “As deliberações da COP27 também afetam Coimbra”, salienta José Xavier. São casos as cheias do Mondego e a existência de tempestades tropicais a passar pelo país, que antes não existiam.

A UC foi considerada a mais sustentável no país. Da mesma forma, Ivan Bandeiras, enfatiza a importância dos estudantes de Coimbra seguirem com atenção o que é falado nas COP. Após a COP27, as temáticas ambientais continuam a ser debatidas na ‘Biodiversity Conference’, também promovida pela ONU, a acontecer em Montreal. Segundo Helena Freitas, “não se resolve a crise climática sem se solucionar a crise da biodiversidade, pois estão ambas interligadas”. José Xavier acrescenta ainda que “a biodiversidade é um bom indicador da qualidade do ambiente, pelo que é preciso protegê-la”.

09 13 de dezembro de 2022 CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Por Pedro Mendes
- POR LUÍS GONÇALVES -

Exposição internacional alerta para a importância da água

Nova mostra definitiva no Exploratório. Diretor do espaço salienta que “nunca houve na cidade uma exposição com esta dimensão e qualidade”.

Água: uma exposição sem filtro” está, desde dia 27 de novembro, em exibição no Exploratório - Centro Ciência Viva de Coimbra. Foi produzida pelo Pavilhão do Conhecimento e vai estarem exposição durante um ano. Paulo Trincão, diretor do espaço, refere que o tema da água, bem como o alerta para a sua importância, surge motivado pelo contexto atual.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de dois mil milhões de pessoas carecem de acesso a água potável. Esta problemática está inserida no ponto seis dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, que pretendealcançar o acesso universal e equitativo a água potável, segura para todos, até 2030.

Esta exposição, transversal a todas as idades, alerta para a importância da água e para a sua escassez através de 30 módulos interati-

vos. Paulo Trincão afirma que a água é “um dos temas centrais para todo o mundo”. O diretor elabora que a mostra é “atrativa para as crianças” e, ao mesmo tempo, permite que os adultos “tenham a capacidade de refletir” .

Paulo Trincão explica que a mostra está organizada em dois grupos: “o futuro com água e o futuro sem água”. Assim, segundo o diretor, o visitante pode compreender que a água não é igual em toda a parte do mundo e perceber que “para algumas pessoas são precisas, no mínimo, duas horas para ir buscar um garrafão de água”. Coimbra continua a afirmar-se como área metropolitana da cultura, uma vez que “nunca houve na cidade uma exposição com esta dimensão e qualidade”, salienta o diretor. No entanto, Paulo Trincão reforça que é preciso fomentar a cultura científica, já que “ainda há muito pouca consciência ambiental sobre a importância da água”.

Em conjunto com as Águas de Coimbra, foi assinado um protocolo com a finalidade de fazer chegar esta exposição à maioria da população. O diretor refere que um dos objetivos da exibição é o de“as pessoas perceberem, de um ponto de vista científico, o que se passa, de forma a tomarem a sua posição”.

Paulo Trincão lamenta que os universitários não frequentem o Exploratório, pois gostaria que esta exposição tivesse os estudantes como seus embaixadores. “A água é um problema para o presente e para o futuro, e a comunidade estudantil tem um papel importante nesta consciencialização”, refere o diretor.

“Água: uma exposição sem filtro” pode ser visitada todos os dias das 10h às 18h no Exploratório - Centro Ciência Viva de Coimbra. A mostra vai seguir depois para outras cidades europeias.

Crise energética justifica um Natal menos iluminado

Município de Coimbra procura reduzir consumo e custos energéticos. Plano apresentado prevê poupança acima de 781 mil euros em 2023.

Face à crise energética que afeta a Europa Europa desde 2021, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC), aprovou, no passado mês de outubro, o Plano de Poupança de Energia (PPE). Esta medida, já em vigor, contempla a redução da iluminação decorativa e das luzes de Natal em 41 por cento.

O PPE, que se divide em duas fases, antecipa na primeira uma poupança de 68 mil euros anuais e uma redução de 66,5 por cento dos consumos atuais. Isto vai ser cumprido através de medidas como “o corte da iluminação ornamental da ponte Rainha Santa, das rotundas e ainda de estátuas e monumentos aos fins de semana”, informou a vereadora Ana Bastos.

Na segunda fase, o plano prevê uma poupança de cerca de 90 mil euros e um corte de 87 por cento dos consumos energéticos, alcançado ao desativar a iluminação decorativa das igrejas, capelas, edifícios e estátuas. Segundo Ana

Bastos, “a autarquia está também a analisar a forma mais rápida e eficiente de conseguir maiores poupanças energéticas e redução de custos em relação à iluminação pública”.

Em consequência da Resolução de Conselhos de Ministros nº 82, as luzes de Natal vão sofrer cortes em comparação com 2021. O tempo de iluminação diário vai vigorar das 18 às 23 horas, em zonas comerciais. Com estes horários, o tempo global será de 189 horas, valor inferior ao máximo de 192 horas indicado pelo governo e também inferior ao do ano passado, de 320 horas, o que significa uma redução de 41 por cento.

Quanto a 2023, e na sequência da fragilidade energética na Europa motivada pelo conflito bélico na Ucrânia, a CMC apresentou no dia 7 de dezembro o Plano de Eficiência Energética (PEE). Esta diretriz vai permitir, em estimativa, uma poupança anual acima de 781 mil euros

e a redução de 631 toneladas de CO2. O plano é composto por doze medidas que, separadas, correspondem a um total de 35 ações. As soluções foram divididas em oito categorias: iluminação, climatização, fontes de energia renovável, infraestruturas desportivas, recursos humanos e outros âmbitos.

No que diz respeito à iluminação, de acordo com as medidas apresentadas pela vereadora Ana Bastos, o PEE pretende reduzir o consumo energético da iluminação pública através de medidas como a substituição das luminárias por outras com tecnologia LED. Este também contempla as fontes de energia renovável, mediante uma produção local de eletricidade. Segundo o município de Coimbra, vão-se desenvolver estudos sobre “comunidades de energia renovável” em bairros sociais e em edifícios municipais, bem como a dinamização do projeto “Coimbra Cidade Sustentável”.

10 13 de dezembro de 2022
CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Filipe Rosa é nova figura à frente do

Conselho Desportivo da AAC

Antigo vogal assume responsabilidade do órgão intermédio em lista de continuidade. Interação com CMC e sinergia entre diversas secções de desporto é uma das principais bandeiras do novo conselho. Por Mateus Araújo e Patrick Pais

A nova lista é constituída, na sua maioria, por pessoas da lista anterior. O seu mandato é de continuidade?

Eu fazia parte da lista anterior. Devido à relação criada nestes anos com outras seções, e acima de tudo pela honestidade, dignidade e lealdade para com o símbolo da Associação Académica de Coimbra (AAC), estas pessoas mereceram a minha confiança para fazer parte desta nova lista. Só assim é que fazia sentido ter pessoas que conhecem a história da Briosa, pela experiência adquirida ao longo destes anos, o que permite tomar decisões mais céleres e imediatas em prol das secções desportivas da AAC.

Tem alguma informação sobre os motivos que levaram à demissão do antigo secretário-geral?

A apresentação da demissão foi por motivos pessoais e profissionais, o que é justo e legítimo, e foi aceito por nós e pelo Conselho Fiscal.

Quais são as bandeiras defendidas por esta nova direção?

Dar continuidade ao trabalho com um espírito de grupo entre todas as secções e criar condições para que possa haver o acesso a uma marca desportiva prestigiada que esteja ao nível da instituição. Temos ainda que fazer um trabalho maior com a Câmara Municipal de Coimbra (CMC), as juntas de freguesia, o mundo empresarial e a Universidade de Coimbra (UC). Não podemos desassociar o desporto federado do universitário, porque se a Académica for uma referência, acaba por motivar novos alunos a nível nacional e internacional que queiram vir para a UC. Depois, criar uma sinergia entre os órgãos intermédios da AAC, do desporto com o centro cultural e os núcleos de estudantes, ao construir uma maior coesão com os alunos universitários. Temos de ouvir tanto os da

casa, porque não nos podemos esquecer do passado, como os jovens, para perceber qual vai ser o caminho que o desporto da Briosa vai ter que realizar e aproveitar essas ideias. A boa gestão dos espaços desportivos, como o Campo Santa Cruz, é fundamental para as diversas secções, além de tentar, através da CMC, arranjar mais espaços. Pretendemos ainda reativar os prémios Salgado Zenha, pois é uma maneira de homenagearmos as pessoas que foram fundamentais na história da AAC.

Mencionou que tinha um objetivo de criar sinergias com todas as secções. De que forma isso seria feito?

Fui presidente da Secção de Judo da AAC e posso dizer que o nosso treinador é convidado para participar em formações de outras modalidades, pelo judo ser um desporto que requer muita estabilidade e estrutura. Os atletas poderiam praticar atividades em modalidades desportivas diferentes, o que seria muito importante na sua preparação em termos de coordenação motora e cognitiva. Isto permite inclusive fazer transferência para outras modalidades, até mesmo em termos competitivos. Pode-se fazer um trabalho em que um atleta de alta competição, que esteja numa fase de fadiga, experimente outra coisa. Há aqui também um trabalho sobre criar condições em termos mé -

dicos, como na parte da nutrição. É importante que as próprias secções possam conversar e perceber que há aqui mais aspetos que as unem do que aquelas que as diferenciam.

Quais são as propostas de financiamento que tem em mente para o mandato?

O conselho desportivo tem como obrigação tentar arranjar apoios financeiros para as secções. Não podemos descurar que as próprias secções fazem esse trabalho, e muito bem feito. No entanto, continuaremos empenhados e pretendemos abordar entidades públicas e privadas, para que possam conseguir poupar dinheiro. Podemos tentar perceber, com a AAC, quais são as candidaturas que existem junto do Instituto Português do Desporto e Juventude. Temos alguma limitação em relação a esta situação, mas o dinheiro que tivermos, vamos procurar gerir e rentabilizar bem, em prol das secções. O dinheiro não é do conselho desportivo, é para o desporto da AAC.

Como pretendem promover o desporto universitário para os alunos nacionais e internacionais?

É muito importante haver na própria base de dados da UC uma ferramenta que diga qual foi a modalidade desportiva que praticou, e se é federado ou não. Vai ser uma fonte de informação muito importante para a própria AAC e para as secções desportivas. Isso pode vir a refle tir-se nos campeonatos nacionais universitários, uma vez que é possível contactá-los e convidá-los a fazer uma preparação competitiva nacional e internacional. Em termos nacionais, os resultados obtidos pela universidade são uma referência perante outras instituições, o que é um fator atrativo para novos atletas integrarem o corpo de atletas da Briosa.

11 13 de dezembro de 2022 DESPORTO
Por Larissa Britto

Mundial no Qatar em Coimbra: Um espetáculo ou um negócio acima dos Direitos Humanos?

Várias mortes e violações de Direitos Humanos mancham maior prova da história do futebol. Evento gera opiniões negativas dentro e fora de campo.

A22ª cerimónia do Campeonato Mundial de Futebol da Federação Internacional de Futebol (FIFA) iniciou-se no passado dia 20 de novembro, em Doha, Qatar. O Mundial é um evento que procura a promoção do diálogo entre os países ocidentais e orientais através da criação de um comité de representantes dos países participantes. O país anfitrião da competição tem sido associado a polémicas e constatações sobre o desrespeito pelos Direitos Humanos. Face a este cenário, o relvado qatari tem sido palco de várias intervenções, mesmo contra a vontade da organização e do próprio país. Com tudo isto, O Jornal A CABRA decidiu sair à rua e ouvir a opinião dos conimbricenses sobre o mundial no Qatar. No total, foram sondadas 129 opiniões em relação ao tema. Durante os últimos 12 anos, o Qatar promoveu mudanças estruturais e preparou-se para receber o campeonato mundial. Os principais investimentos foram a construção de autoestradas, oito estádios, dos quais sete são novos, e hotéis para receber os milhares de adeptos que a competição visa atrair.

Violações de Direitos Humanos

Desde o momento de escolha do Qatar para palco do mundial, a FIFA enfrentou uma série de críticas, devido à violação dos Direitos Humanos que já se verificava no país. No entanto, este facto não levou a organização a alterar a sua escolha, o que provocou protestos de vários países e a ausência intencional dos principais dirigentes da União Europeia no evento.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que manifestou a sua vontade de acompanhar os jogos, afirmou que o Qatar “não respeita os direitos humanos” e destacou ainda as condições em que “toda a construção dos estádios” foi feita. No entanto, após estas constatações, o representante máximo do Estado português fez um apelo para que se “esqueça isso”.

Matilde Marques, estudante de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC) e tesoureira da Secção de Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra (SDDH/AAC), lamenta a indiferença com que o assunto tem sido abordado. "As pessoas que têm mais poder para mudar alguma coisa não estão a falar, e assim estão a compactuar com o que está a acontecer", considera a estudante. A jovem salienta que não se identifica com as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, porque acredita que o povo português

não se representa “assim”. A opinião de Matilde Marques vai ao encontro de 61,2 por cento dos inquiridos, que concordam que os comentários não são dignos de um Presidente da República.

Apesar do objetivo da FIFA ser a promoção de um diálogo entre os países participantes, a tesoureira da SDDH/AAC confessa que não tem muitas esperanças numa grande mudança face ao nível de intolerância verificado no país anfitrião do Mundial. Quanto à posição de personalidades, como jogadores de futebol, Matilde Marques afirma estar “muito feliz que eles sintam que é uma coisa que devem fazer”, mesmo que a defesa dos direitos humanos “possa não ser o seu principal interesse”. Nove em cada dez inquiridos partilham da opinião da estudante.

Flávia Lopes, estudante de Direito na FDUC e membro da SDDH/AAC, também acredita que o facto de o Qatar ser palco de uma competição com esta visibilidade descredibiliza os episódios de violação de Direitos Humanos que lá ocorrem. “Este Mundial vai ser visto como uma reflexão e até acabar espera-se que alguma coisa

seja feita ”, sublinha a estudante em relação a toda esta polémica.

A seccionista questiona também “o que levou a que o Mundial se realizasse no Qatar, sobretudo ao se saber que não é um país democrático”. Realça ainda que este país “tem uma monarquia bastante complicada, e até há pouco tempo trabalhavam sobre o sistema de ´kafala´, no qual os trabalhadores estavam sob o controlo de um patrono”. Adiciona que neste tipo de registo não há qualquer proteção, e o que se verificava era uma completa exploração laboral.

Segundo várias organizações de defesa dos Direitos Humanos, como a Amnistia Internacional (AI), o desrespeito inten sificou-se nos últimos anos. As condições dos trabalhadores migrantes, a negação dos direitos das mulheres, a prisão de várias pessoas da comunidade Lésbica, Gay, Bissexual, Transgénero, ´Queer´, Intersexual, Assexual, + (LGBTQIA+), bem como de jornalistas internacionais por criticarem o governo, são algumas das temáticas abordadas. Em simultâneo, foi criado um movimento que apela a que a FIFA se comprometa com um fundo de apoio às vítimas de cerca de 433 milhões de euros, apurado com base em estimativas dos acidentes que ocorreram.

De acordo com a Organização NãoGovernamental (ONG) Human Rights Watch (HRW), mais de 6500 trabalhadores perderam

12 13 de dezembro de 2022
CENTRAL

espetáculo desportivo Humanos?

a vida na construção dos estádios. Entre as razões apontadas estão o calor extremo, trabalho forçado, falta de folgas, salários reduzidos e passaportes confiscados.

O desprezo pela comunidade LGBTQIA+ também foi sentido através de maus-tratos, como espancamentos e assédio sexual. A HRW entrevistou seis pessoas que integram a comunidade e foram alvo destes abusos. A ONG relatou que “agentes de segurança também infligiram abusos verbais e negaram aos detidos o acesso a aconselhamento jurídico, família e cuidados médicos”. Além disso, os entrevistados confessaram que a polícia os forçou a assinar promessas, com a obrigação de que iriam “cessar a atividade imoral".

A negação dos direitos às mulheres, que se encontram sob a tutela masculina durante toda a sua vida, que controlam decisões como casar, viajar para fora do país e desempenhar funções governamentais são regras que, segundo a HRW, são discriminatórias e impostas pelo regime. Um dos casos mais recentes que tomou grande atenção mediática foi o de Paola Schietekat, uma mexicana de 27 anos que, após ter sido vítima de abuso sexual, foi acusada de sexo extraconjugal e condenada a sete anos de prisão e cem chibatadas. A única alternativa apresentada para que não tivesse de cumprir pena seria a de casar com o seu agressor. Na sua página de Facebook partilhou que, “apesar de ter diplomas académicos, preparação profissional, independência financeira e de trabalhar para o Governo do Qatar”, é “vulnerável a violações dos Direitos Humanos por instituições arcaicas e abusivas”.

A violação destes Direitos Humanos levou a várias manifestações por parte dos países e até personalidades famosas. Durante o jogo Inglaterra-Irão foi possível assistir à intervenção do capitão da equipa inglesa, Harry Kane, que entrou em campo com uma braçadeira com as cores da bandeira LGBTQIA+. Já no decorrer do jogo entre Portugal e Uruguai, um homem entrou em campo com uma bandeira arco-íris. O interveniente também vestia uma camisola com duas mensagens: na frente, “Salvem a Ucrânia", e atrás, “Respeito pelas mulheres iranianas”. A exibição durou cerca de 30 segundos, até ter sido travada pelos seguranças.

Houve ainda um outro caso, no passado dia 20 de setembro, em que um adepto confrontou em público o embaixador do Qatar na Alemanha durante uma conferência sobre Direitos Humanos no desporto, organizada pela Federação Alemã de Futebol. O interviente em questão declarou o seguinte: "Têm de abolir a pena de morte e todas as penalizações a questões do foro sexual ou de identidade de género. A regra de que o futebol é para todos é muito importante. Não se pode permitir que a quebrem, por muito ricos que sejam”.

A perseguição a jornalistas também é uma das grandes problemáticas neste país. A Amnistia Internacional documentou diversos casos de profissionais detidos. O Qatar considera crime qualquer tipo de críticas feitas ao regime, desde

insultos à bandeira, à difamação da religião e instigação ao derrube da monarquia. A pena vai até três anos de prisão ou multas de cerca de 140 mil euros. A gravação de reportagens em determinados locais é também condenável, pelo que os jornalistas detidos foram forçados a fazer “confissões”.

A opinião de Coimbra

As sondagens realizadas em Coimbra demonstram que a maioria mostra-se descontente com a situação. De acordo com os inquéritos feitos, 63,6 por cento acreditam que o Mundial não devia estar a ser realizado no Qatar, 80,6 acham que a violação dos Direitos Humanos justificaria a remoção ao atual anfitrião Mais de metade concordam que o regime qatari pratica atos condenáveis, tanto no contexto do Campeonato Mundial de Futebol como fora deste. No entanto, duas em cada três pessoas dos inquiridos consideram que todo este cenário não influencia a sua vontade de assistir aos jogos. Apesar do contacto entre os países e culturas presentes neste campeonato, 72,9 por cento dos entrevistados discordam que o Qatar se torne um país melhor e mais livre depois do evento.

Além dos inquéritos aos apoiantes, trabalhadores de diversos estabelecimentos em Coimbra foram questionados não só sobre as suas perspetivas, mas também sobre os efeitos que o Mundial tem feito sentir nos seus locais de trabalho. Foi relatado que, na maioria, houve uma diferença nos lucros e que a faturação melhorou com os jogos. Um trabalhador do estabelecimento Repúblika À La Carte com a transmissão dos jogos, notou o seguinte: “Conseguimos fazer números astronómicos e depois fazer a continuação com os jantares da noite, por isso acaba por apresentar uma boa dinâmica e bons resultados”.

Depois da seleção portuguesa, os jogos das seleções brasileira, espanhola, francesa e inglesa foram as que tiveram maior adesão de espectadores, uma vez que representam a maior camada da população não portuguesa residente em Portugal. Quando questionados se sentiam que os seus estabelecimentos estavam prontos para a receção do Mundial, a maioria mostrouse preparada. “Estes jogos têm segurança, têm uma equipa de limpeza que permanece durante os jogos e têm o ´staff´ dos cinco bares disponíveis, que trabalham durante o dia e noite”, afirmou um dos funcionários da discoteca Lit.

A FIFA e o Qatar admitem apenas três mortes nas obras e 36 devido a causas naturais quando, na realidade, se verificou uma perda de cerca de um quarto dos 30 mil operários. Para evitar o escalar dos protestos, a organização do evento endereçou uma carta a todas as seleções a solicitar que “não deixem que o futebol seja arrastado para batalhas políticas e ideológicas”. Ressaltou também que respeitam “todas as opiniões e crenças, sem pretender dar lições de moral ao resto do mundo”. É de notar que o Qatar espera que um Mundial realizado num país árabe acabe com os diversos estereótipos sobre as populações qatari, árabes e muçulmanas.

13 13 de dezembro de 2022 CENTRAL
Por Pedro Mendes

Talento desportivo é afetado por condições infraestruturais

Vários espaços desportivos utilizados pelas secções da Académica não são renovados desde 2019. Diogo Tomázio afirma que DG/AAC tem “plena consciência das condições”.

OEstádio Universitário de Coimbra (EUC) alberga os estudantes da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEFUC), além das demais secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC). Intervencionados para os Jogos Europeus Universitários de 2018, o Pavilhão Jorge Anjinho e o EUC não sofreram, após 2019, qualquer tipo de reabilitação.

Em 2017 foi realizado um investimento por parte da UC para a reforma do EUC. A intervenção contou com obras nos pisos dos três pavilhões, a substituição das luminárias do Pavilhão 1 e a reorganização de alguns espaços, em particular no Pavilhão 2. Um dos focos foi a criação de um campo sintético que, até à altura, era de terra batida, além da pavimentação dos espaços circulantes dentro do estádio.

O vice-reitor para a Qualidade, Desporto e Serviços da Ação Social da UC, António Figueiredo, comunica que o EUC necessita de intervenções na quadra de rugby, no que diz respeito à relva natural. Além disso, o campo de futebol precisa de intervenção ao nível de pista e tribuna. No futuro prevê-se a substituição das luminárias convencionais dos pavilhões 2 e 3 por tecnologia LED, mais económica e sustentáveis como um sistema de entradas no EUC de viaturas através de controlo por cancelas.

A AAC e a UC possuem um vínculo através de um contrato de arrendamento do estádio universitário para o uso das secções desportivas, no qual a responsabilidade de manutenção do espaço recai à gestora, neste caso, a universidade. Contudo, António Figueiredo reforça a ideia de que as secções desportivas utilizem o espaço de forma permanente e, assim, que as manutenções possam ser realizadas pelas próprias.

De acordo com o vice-reitor, no passado, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) contribuiu com o parque de estacionamento exterior ao EUC. No entanto, todo o investimento realizado no interior foi financiado pela Universidade de Coimbra. António Figueiredo afirma que existe interesse por parte da CMC e da UC de conseguirem “encontrar algum tipo de entendimento que tenha duplo benefício, para a cidade e a universidade”.

O pavilhão Jorge Anjinho é da responsabilidade da Académica - Organismo Autónomo de Futebol, contudo a gestão do espaço está nas mãos do Conselho Desportivo da AAC (CD/ AAC), assim como o Campo Santa Cruz. Diogo Tomázio, vice-presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), refere que a estrutura tem o mesmo relvado sintético desde 2008, pelo que “é um dos sintéticos mais antigos da zona centro”.

O Campo Santa Cruz foi uma das estruturas

que não recebeu nenhum tipo de reforma com os Jogos Europeus Universitários de 2018, nem foi concedido nenhum financiamento por parte da CMC ou da Universidade de Coimbra. Diogo Tomázio acrescenta que o Campo ”precisa de uma mudança a nível financeiro e estrutural”. O vice-presidente sublinha que a DG/AAC tem “plena consciência das condições” em que estão o EUC e o Pavilhão Jorge Anjinho, contudo, a dificuldade de atuação no Estádio Universitário é maior, pois não está sob a alçada da Académica. Diogo Tomázio frisa que um dos objetivos do próximo mandato é trabalhar no pavilhão, sobretudo “nas salas existentes que ainda não estão sobre a posse da AAC”.

A última intervenção realizada no Pavilhão Jorge Anjinho aconteceu no mandato de 20192020, pelo antigo presidente da DG/AAC, Daniel Azenha. A reabilitação foi consequência dos estragos que ocorreram com o furacão Leslie, em setembro de 2018. O objetivo da requalificação foi reparar o telhado e, depois, o pavimento do edifício para as secções desportivas voltaram a utilizar o espaço.

O secretário geral do CD/AAC, Filipe Rosa, afirma que após essas intervenções, houve uma terceira, que consistiu na alteração da iluminação do pavilhão. Após 2019, o mesmo só foi sujeito a outras pequenas intervenções. Contudo, reforça que há trabalho a ser realizado, sobretudo no exterior, como, por exemplo, a requalificação da fachada do edifício. Filipe Rosa aponta para a falta de capacidade financeira para melhorar as condições dos dois espaços desportivos, e acrescenta que “tem a ver com regulamentos das próprias entidades desportivas e cada modalidade”.

14 13 de dezembro de 2022
DESPORTO
Por Narci Rodrigues
Por Larissa Britto

Tarifas dos SMTUC aumentam em tempos precários

Chuva no interior dos autocarros e atrasos nos horários são principais críticas. Aumento dos preços é de 6,1 por cento.

Na reunião camarária do município de Coimbra do dia 14 de novembro foi aprovado pelo executivo um aumento para 2023 da tarifa dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC). Esta subida vai ser de dez cêntimos para os bilhetes comprados a bordo e de cerca de três cêntimos para os títulos pré-comprados. O valor dos passes mensais vai manter-se.

Segundo uma intervenção da vereadora Ana Bastos na página oficial da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), um dos motivos do aumento é incentivar “a compra dos passes em detrimento dos títulos individuais”. Reforça que a medida também se deve ao atual valor dos bilhetes pré-comprados, que é “muito baixo em comparação ao custo do passe”.

O aumento surge numa época de críticas da população conimbricense às condições atuais dos autocarros da cidade. A maioria dos utentes

queixa-se dos atrasos nos horários dos SMTUC e do estado atual no interior dos veículos. Mariana Mateus, estudante de Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Coimbra, refere que os autocarros “nunca vêm quando é indicado nos televisores ou na aplicação”. O incumprimento dos horários já fez com que chegasse atrasada ao comboio ou à escola, reforça.

Maria Clara, de 74 anos, e Beatriz Gomes, aluna de Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, mencionam também passar por situações semelhantes. A estudante afirma que os autocarros “falham em muitos horários”. Por sua vez, Paula Cruz, de 42 anos, critica as condições atuais no interior dos SMTUC. Como relatou, “quando chove, tem que se levar os chapéus de chuva abertos”. Ainda na mesma linha, refere que esta situação já acontece “há muitos anos”. Neste

sentido, a cidadã considera que o aumento dos preços “não se justifica, porque os autocarros não têm condições quase nenhumas”.

Apesar do estado e do aumento das tarifas, uma grande parte dos utentes dos SMTUC abordados consideram que esta medida não vai fazer com que deixem de utilizar os autocarros da cidade. Álvaro Monteiro, de 20 anos, e Maria Clara explicam que a subida não os influencia porque compram o passe mensal. Mariana Mateus justifica que pretende continuar a usufruir dos transportes urbanos da cidade por ser “a forma mais barata” de viajar dentro de Coimbra. Ainda assim, alguns clientes, com o acréscimo do preço, revelam que podem procurar alternativas aos SMTUC. Raissa Rodrigues, de 28 anos, afirma que tenciona “começar a andar mais a pé”, uma vez que é uma opção mais “económica e viável”.

Um pacote de arroz ou um pacote de pensos higiénicos?

Privação de produtos de higiene íntima pode levar a problemas de saúde. Inquérito feito por estudantes mostra que 98,5 por cento das pessoas são a favor da gratuitidade destes produtos.

Os custos e disponibilidade de produtos de higiene menstrual, como pensos e tampões, são uma dificuldade enfrentada pela população com baixos rendimentos. Esta questão, assim como a essencialidade destes produtos, são objeto de debate por parte da sociedade.

Ao longo da última década têm-se verificado esforços por parte de associações e coletivos para trazer visibilidade à questão e alcançar recursos. Em novembro, o Núcleo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra da Associação Académica de Coimbra (NEFLUC/ AAC) e o Coletivo Feminista Independente organizaram a semana STOP, com atividades no âmbito da sensibilização da violência contra a mulher. Uma das várias atividades que decorreram nesta semana foi a recolha de produtos menstruais.

A coordenadora do Coletivo Feminista Independente, Inês Simões, salienta a importância das doações por ajudarem comunidades que não conseguem adquirir estes bens. Acrescenta que se verifica, de igual modo, uma maior consciencialização sobre a pobreza menstrual e a desmistificação do período como tabu a partir destas campanhas. Apesar destes esforços, a coordenadora confessa que as doações não são tão frequentes como desejava. Refere ainda que os produtos de higiene íntima não são vistos como bens necessários e a pobreza menstrual “não é tomada como um problema de primeira instância”.

No contexto académico da UC, 200 pessoas foram inquiridas por Joana Monteiro e Vitória Melo da Silva, duas estudantes da FLUC, sobre a possibilidade dos produtos menstruais se tornarem gratuitos. Nesta sondagem,

98,5 por cento dos inquiridos responderam a favor destes bens serem gratuitos e 1,5 por cento votaram contra, de forma anónima. Várias pessoas apresentaram os seus argumentos, ao ser o mais predominante, o facto de os produtos de higiene menstrual serem essenciais à saúde. Inês Simões adianta que a pobreza menstrual tem repercussões a nível da saúde mental e física. A coordenadora do Coletivo Feminista Independente refere a escolha frequente que as pessoas em situação de pobreza têm de fazer: comida ou bens higiénicos. A privação destes artigos pode levar a problemas de saúde, como infeções urinárias. A par disto, estes produtos são muitas vezes usados mais do que o recomendado, com o intuito de poupar, o que pode contribuir, também, para causar problemas de saúde.

15 13 de dezembro de 2022 CIDADE

O comércio biológico por um futuro mais sustentável

Vendedores apontam preços acessíveis e preocupação com sustentabilidade como principais objetivos do negócio. Divulgação dos benefícios dos produtos biológicos é vista como necessária para valorização deste tipo de mercado.

Ocomércio biológico, aliado à preocupação pela sustentabilidade, está em crescimento na cidade dos estudantes. Próximos a esta realidade, três vendedores empenham-se para manter e promover os negócios que acreditam estar a ajudar o planeta. Não muito longe do centro comercial Coimbra Shopping, Ana Patrícia Pinto trabalha para gerir o pequeno negócio que a “faz levantar da cama todos os dias”. Além de nutricionista, é gerente da mercearia sustentável Nutrição a Granel, aberta em 2021. A ideia para a criação da loja surgiu durante a sua gravidez, no início de 2020, e foi levada avante quando se apercebeu do estado do planeta em que ia criar a sua filha. Nas palavras da gerente, o negócio visa reduzir o desperdício com a venda a granel, centrada na comercialização de produtos sem embalagem, o que os torna “mais ecológicos”. A grande meta é “promover um estilo de vida o mais sustentável possível”, refere. Para Ana Patrícia Pinto, a escolha de quem ali “enche o cesto” deve-se ao facto de encontrarem na Nutrição a Granel um tipo de produto biológico “não oferecido noutros locais”.

Além da venda de artigos e alimentos, a mercearia também oferece serviços relacionados à saúde e ao bem-estar, pois, de acordo com Ana Patrícia Pinto, "todo o tratamento deve começar de dentro”. Assim, a gerente decidiu reformular o primeiro piso da loja e dedicar o espaço ao desenvolvimento de atividades que unem a saúde interior à exterior: “basta subir uns degraus”. São exemplo as sessões de terapia em grupo, ioga, meditação e ‘reiki’.

O foco da nutricionista, por acreditar que a oferta difere da restante, centra-se no atendimento personalizado e no serviço on-line de encomendas para “poder chegar mais longe”. A avaliação crítica dos seus consumidores passa por incluir estes aspetos que, aliados à qualidade dos seus produtos, conferem à Nutrição a Granel uma avaliação de quase cinco estrelas na plataforma Google.

Quando questionada sobre a importância deste tipo de comércio em Coimbra, a dona do estabelecimento explicou, com insatisfação, que a cidade não tem tantos espaços dedicados à venda a granel “como poderia ter”. Reforça também a necessidade de as pessoas “se abrirem mais para a oferta sustentável” e “terem consciência do impacto daquilo que consomem para o planeta”, de forma a apoiar a causa am-

biental. Para isso, a aposta tem de ser cada vez maior e mais diversificada, centrada no apoio aos “negócios mais pequenos”, acrescenta.

Por uma Escolha mais (Bio)lógica

À semelhança da gerente da Nutrição a Granel, “tornar o biológico acessível a todos” também é uma prioridade para Vítor Marques, administrador de distribuição da BioEscolha, supermercado 100 por cento biológico. Assim como aconteceu com Ana Patrícia Pinto, a preocupação pelos seus padrões alimentares levou o gerente a abrir portas em 2011, em Celas, quando era ainda engenheiro civil. “Comecei a trazer alimentos biológicos para o trabalho e os meus colegas demonstraram interesse nos produtos. Foi aí que senti a necessidade de criar uma loja”, confessa.

A “BioEscolha” é o único estabelecimento em Coimbra com o certificado europeu em Modo de

Produção Biológico. De acordo com a plataforma Google, o espaço conta com uma avaliação crítica de quase cinco estrelas, pelo que o atendimento “amigável”, a variedade e a qualidade dos seus produtos são aspetos que tornam a loja “recomendável”, na sua maioria, por turistas. No entanto, a sua localização é, para alguns, um aspeto desfavorável, ao contrário dos preços, traçados como “justos”.

A “pequena dimensão do mercado biológico em Portugal” é um dos fatores que explica o facto de a maioria dos clientes de Vítor Marques serem estrangeiros. Ainda assim, o gerente “não cruza os braços” e mantém a crença de que é possível desenvolver este tipo de comércio através da promoção de uma alimentação biológica e sustentável, livre de pesticidas ou aditivos. “Há cada vez mais afluência para a compra e venda deste tipo de produtos, o objetivo é levar o biológico onde ele não

16 13 de dezembro de 2022 REPORTAGEM
Por Raquel Lucas
Por Raquel Lucas

existe”, comenta.

O administrador não deixa de frisar a necessidade de maior interesse “por parte de quem governa” no combate à desinformação e aos custos elevados para produtos biológicos. Vítor Marques está ciente de que, de uma forma geral, quem consome este tipo de produtos “também se interessa pelo meio ambiente”, pelo que ao se apoiar uma causa, também se está a apoiar a outra.

Para o gerente, a aposta na acessibilidade de preços é o que vai levar o comércio biológico avante. Foi por esse motivo que criou, em 2015, uma zona de restauração vegana na loja, localizada em frente ao Instituto Superior Miguel Torga. O objetivo era captar a atenção de estudantes e manter os preços acessíveis, tal como no retalho. No entanto, surgiram algumas dificuldades de gestão e, com a chegada da pandemia da COVID-19, o negócio foi alvo de um brusco fechar de portas. Apesar dos obstáculos, Vítor Marques mantém-se satisfeito com o desempenho do negócio que gere. “No final do dia, o mais importante é fazer a nossa parte pelo planeta”, confessa.

Um (micro) passo para André Aleixo, um grande passo para o planeta Assim como a geração adulta, também os jovens se preocupam com a criação e oferta de produtos mais sustentáveis. Aliado a essa causa, e com apenas 24 anos, André Aleixo mantém o projeto que criou em junção com Gonçalo Martins, seu colega de curso. Enquanto estudantes da Licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, deram origem ao Verdes do Mondego, iniciativa centrada na produção de microvegetais com foco na sustentabilidade.

O jovem conta que o objetivo do projeto, que agora gere sozinho, é fornecer produtos biológicos de forma eficiente, sem deixar de lado os valores de qualidade e sustentabilidade “valiosos para o processo”. Mas porquê microvegetais em vez de produtos de tamanho regular? Segundo André Aleixo, “não há nada que o fascine” no processo normativo da agricultura. Além disso, “existe uma maior concentração de antioxidantes e vitaminas” nos vegetais de menor tamanho. Neste momento, produz ervilhas, brócolos, mostarda, rúcula e outros.

A maioria das vendas do Verdes do Mondego é dirigida a alguns restaurantes em Coimbra e o restante é comercializado de forma direta no Mercado Municipal D. Pedro V ou através das redes sociais. Para quem compra fora da restauração, o custo dos microvegetais é de 15 cêntimos por grama e varia de acordo com o peso e a embalagem do produto, que pode vir misturado com outras variedades ou vendido em vasos de um microvegetal específico. André Aleixo não possui um estabelecimento de venda próprio e produz os microvegetais num local adequado em sua casa. Apesar de contar com poucos consumidores e de não ter avaliações ‘online’, descreve os seus clientes como “pessoas interessadas, que valorizam o produto por ser algo diferente do mercado habitual”. Sente que “o sabor dos microvegetais é apreciado” e os seus consumidores “não se importam de pagar mais por isso”. De uma forma geral, e dado o custo deste tipo de mercado, “são pessoas com alguma estabilidade económica”, adiciona.

Para o estudante, “é de extrema importância” existirem alternativas para o comércio biológico em Coimbra e no resto do país. À semelhança de Ana Patrícia Pinto, o jovem também considera que “a oferta tem de ser maior e é necessário sensibilizar as pessoas para a compra nos

mercados e não nas grandes superfícies”. Deste modo, “o dinheiro vai para quem precisa”, em vez de beneficiar as empresas, “onde o produto que os clientes recebem é processado por uma cadeia que não tem em vista a melhor qualidade possível, mas sim o lucro”, refere.

Apesar de o seu método ser biológico na sua totalidade, o que o jovem produz não é certificado, ao contrário do negócio de Vítor Marques, devido ao “enorme ramo de burocracias que existe em Portugal”, expõe. De acordo com o estudante, o título só é atribuído a quem vende produtos sem qualquer tipo de transformação. Explica: “eu corto, peso e embalo os meus microvegetais. Para ter certificação biológica, não poderia vender o produto final cortado, pois é como se estivesse a transformá-lo”.

Comercializar os vegetais vivos também é uma opção, mas “nem sempre é viável ou prático para o negócio”, dado que vende, na sua maioria, para restaurantes. Para além disso, o seu objetivo é ter preços acessíveis e, na visão do estudante, "a certificação biológica faz com que os custos sejam mais elevados”. Neste sentido, e assim como o gerente da BioEscolha, o jovem também apela ao combate à desinformação, que acredita que vai fazer com que as pessoas valorizem o comércio biológico e “entendam que é uma boa aposta”.

Em comum, todos estes negócios partilham a preocupação pela sustentabilidade e a luta por um mercado acessível, na tentativa de ultrapassar os obstáculos de um sistema que, aliado à falta de conhecimento, é visto como um obstáculo à viabilidade do comércio biológico. Para isso, os comerciantes apoiam toda uma consciencialização do público sobre este tipo de produtos e os seus benefícios, tanto para as pessoas, como para a causa ambiental.

A diversidade de oferta, a qualidade e a eficiência do mercado biológico são apenas alguns dos valores prezados para o compromisso com um futuro mais sustentável e consciente. Com o devido auxílio e sensibilização, abrir portas ao comércio e “levar o biológico onde ele não existe” vai tornar-se mais do que uma possibilidade.

17 13 de dezembro de 2022 REPORTAGEM
Tabela: Comparação entre produtos biológicos e não biológicos em diferentes tipos de mercados (setembro de 2022) Por Raquel Lucas

CABRA DA PESTE

A SEBENTA DE NATAL

Pelo Natal de 1903 decorreu o caricato episódio da Sebenta de Natal Viviam-se tempos duros no nº 8 dos Palácios Confusos. Tinha-se dado o sazonal êxodo e Coimbra estava esvaziada dos seus Estudantes. Isto tornava difícil conduzir a "lebre e o prego" - os Veteranos que se apoderavam das remessas familiares de Caloiros para lhes matar a fome e dar sustento em troca de proteção. Desguarnecidos dos seus víveres, Alberto Costa (Pad'Zé) e Carlos Mendonça exasperavam.

Pad´Zé, inspirado pela fome e pelo espírito Natalício, decide atuar e engendrou um plano. A trama consistia em enviar uma carta às altas individualidades do país, a desejar as boas-festas e a referendar sobre se eles deviam continuar empenhados no caminho dos estudos da ciência, ou "recolherem-se para a obscuridade da província, sem préstimo para nós, nem para a Pátria amada!". Caso o compatriota assentisse

na continuidade dos seus estudos, o voto seria feito através do envio de uma coroa (moeda). No dia seguinte, voaram centenas de cartas para os mais altos dignatários e magistrados da nação! Os dois primeiros dias foram de atroz expectativa. O correio passava à porta e nada.

O País Medita.

Evidentemente. Não o perturbemos, deixemo-lo deliberar serenamente.

Mas eis que, ao terceiro dia, 'conforme as escrituras' chegam os primeiros votos favoráveis e o Pad'Zé ineditamente madruga da sua cama antes das 10 da manhã.

Mendonça, o país pronuncia-se?

Quantos?

Quatro!

Naquela manhã ouviram-se berros de euforia, pedaços de ópera entoados a plenos pulmões e uma trombeta triunfal a ressoar pelas ruas vazias. Era Natal nos Palácios Confusos. Todos os dias doravante chegariam cada vez

mais 'declarações de voto'. Senhores da confiança do país, num inaudito gesto contra os princípios da casa, passou a almoçar-se, e até ao fim das férias os dois comparsas passeavam alegremente de charuto na boca.

Na esperança que haja em cada casa uma Sebenta de Natal, o Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra vem desejar a todos os nossos Colegas e familiares os votos de um Feliz Natal!

Sem mais de momento, P´lo Magnum Consilium Veteranorum - Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra

18 13 de dezembro de 2022
ESPAÇO PATROCINADO PELO MCV CABRA DA PESTE
- PELO CONSELHO DE VETERANOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA - MAGNUM CONSILIUM VETERANORUM -

CARTAS À DIRETORA

Xora Diretora, Começo por lhe dizer que, caso não saiba, existem pessoas com mobilidade reduzida, que até se deslocam em cadeira de rodas, na Universidade de Coimbra, que, infelizmente, são consideradas a minoria neste mundo. E porque lhe digo isto? Digo-lhe isto porque, neste momento, o edifício principal da Associação Académica de Coimbra (AAC) não tem condições de acessibilidade para estas pessoas. Sim, pode dizer-me que existe acesso ao piso da sala de estudo (no entanto, tenho de ir pelos Jardins da AAC, caminho esse que também está degradado para estas pessoas). E eu pergunto-lhe: mas será que isso é suficiente? Mas também lhe respondo: Obviamente que não! Mas sabe porquê? Então, e se quisermos aceder à Secretaria, como fazemos? Acho sinceramente que a solução não seria pôr uma grua que nos transportasse escada acima, até porque isso seria impossível, mas colocar uma plataforma elevatória eletrónica nas escadas que desse acesso a todos os pisos talvez desse melhor resultado. Sim, isso

‘Xora Diretora, Escrevo-lhe esta carta com o coração apertado, infelizmente, não por paixão ou felicidade, mas, pelo contrário, com angústia, preocupação e muita incerteza pelo estado atual da Academia, do país e do mundo… Teria muito para dizer sobre estas três coisas, mas irei focar-me essencialmente na Academia, na sua história e na reativação do seu legado. Irei evitar posições e/ou partidarismos, defendendo veemente aquilo que são os valores em que acredito.

A história da Associação Académica de Coimbra é já secular, acompanhando sempre de perto o desenvolvimento do país, e muitas vezes, pautando o rumo que este tomou. Desde a sua fundação, a Associação Académica de Coimbra rapidamente se afirmou como uma instituição distinta, ímpar e exemplar, quer ao nível do associativismo, quer no panorama nacional. Fundada por republica-

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

existe! No nosso país vizinho, Espanha, isso é visível em todos os lugares públicos. Acho que podiam começar a retirar o que há de melhor nos outros países e não apenas criticar aquilo que fazem de mal.

E mais… as cantinas da Universidade de Coimbra não são inclusivas, e também lhe digo o porquê, caso ainda não tenha reparado: a cantina azul e a cantina das químicas, apesar de terem prato social, não têm condições de acesso para estas pessoas; a cantina amarela tem acesso, porém não tem prato social e a cantina rosa tem acesso por uma rampa muito íngreme que uma pessoa em cadeira de rodas não consegue subir sozinha. E agora perguntolhe: acha normal? E eu respondo-lhe: claro que não é normal.

Já agora… o Teatro Académico de Gil Vicente (supostamente académico) também não é propriamente o sítio mais acessível: sim, a sala de espetáculos tem acessos e também existe uma casa de banho (embora não 100 por cento

acessível, porque não tem entrada livre, uma vez que necessitamos de chave para a utilizar). No entanto, se nos quisermos deslocar à cafetaria, é-nos barrado o acesso pois têm apenas escadas, sem qualquer outro tipo de meio.

Como reflexão final, pergunto: e se fosse consigo? Pois, eu acho que o mundo só iria mudar as mentalidades se todos fossemos iguais e tivéssemos todos esta dificuldade.

Para finalizar lançoo repto para que todos trabalhemos em conjunto para um mundo melhor, em particular à Câmara Municipal de Coimbra, à Universidade de Coimbra e à Associação Académica de Coimbra.

Assinado, Uma pessoa que se desloca em cadeira de rodas, super revoltada com esta falta de civismo

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

nos, numa época em que vigorava um regime monárquico, foi sempre capaz de ter dentro de si diversas formas de pensar e agir. Apesar dessa diversidade, desde cedo perceberam que o mais importante seria o bem comum dos academistas, colocando de parte os seus interesses pessoais. A união dos estudantes de Coimbra definiu o rumo desta casa e defendeu sempre a democratização do país.

A Academia unida foi fundamental para determinar vários ciclos universitários e do país como, por exemplo, na crise académica de 1907, que antecipava uma necessidade de mudança, nas sucessivas greves dos estudantes, que entre 1928 e 1930 alertavam o país para um período negro da nossa história, e também na crise académica de 1969, que impulsionou a queda do regime ditatorial.

Fica assim claro que a união da Academia de Coimbra não é só fundamental para o bom

funcionamento da casa, mas também do país. Precisamos urgentemente de deixar posições ou partidarismos radicais e reativar a união dos estudantes em prol dos bens comuns, quer sejam a nível social, económico, educativo e/ ou ambiental.

Para a Associação Académica de Coimbra? Tudo!

Cordialmente, Rafael J. Xavier-Paulo

Post scriptum: Penso que não sejam necessárias muitas palavras para transmitir este tipo de sentimentos. Saudações académicas!

19 13 de dezembro de 2022 CARTAS À DIRETORA

Em Prol da Digitalização

Um dia decides que te queres inscrever numa secção cultural. Vês a lista de secções culturais e escolhes uma. Não há sítio que diga como te podes inscrever para te tornares associado seccionista, então envias uma mensagem para a secção. Respondem-te a propor encontrarem-se para falar e te inscreveres. Acontece que estás de férias e vives longe de Coimbra. Assim, perguntas se não seria possível teres uma conversa online e num momento mais oportuno, encontravam-se. “Mas assim despachavas a tua ficha de associado que tem de ser preenchida e entregue presencialmente na secretaria.”. Ficas na incerteza se te apetece assim tanto afinal. Tens de gastar dinheiro no bilhete para Coimbra, gastar tempo… Insistem contigo e então deslocas-te a Coimbra, tens uma conversa agradável e dão-te uma ficha de associado. Começas a escrever, enganas-te no teu próprio nome, riscas, fica uma confusão.

Acompanhas a pessoa até à secretaria e entregam a ficha. Vais para casa feliz. Passado um pouco, recebes uma chamada da secretaria: estão a pedir para que soletres o nome e a tua morada porque não percebem a tua letra.

Depois de repetires quase todo o abecedário, fazes finalmente parte de uma nova secção! Participas em atividades interessantes e conheces novas pessoas. Passados alguns meses, convidam-te a entrar na lista candidata à secção. Contudo, já estás em casa e recebes uma chamada: “Já não podes entrar na lista. A secretaria não tem a tua ficha!”. Não têm a tua ficha?! Mas tens toda a certeza de que a foste entregar! Voltas a Coimbra novamente, vais à secretaria e no meio de toda a papelada e uma funcionária irritada, porque tem muito trabalho por despachar, encontram-na. Que sorte! Todavia, descobres que há membros da tua lista que foram substituídos porque na altura da sua inscrição não conseguiam ir à secretaria e acabaram por se esquecer de entregar a sua ficha.

Este é o processo de inscrição de um associado seccionista. A AAC gaba-se por ser a casa da juventude, mas não existe um processo de inscrição em secções moderno e eficiente. É imperativo a AAC dar um passo nesse sentido. Mas este processo não potenciaria a inscrição de pessoas sem o seu consentimento? Estes riscos podem acontecer atualmente, pois a ficha de as-

sociado é validada por uma assinatura que não é confirmada, dado que o cartão de cidadão não é pedido. O formulário, passando a ser online, pediria as mesmas informações pessoais que só o próprio saberia, este assinalaria com uma cruz que tem conhecimento dos termos e condições de uso que sendo disponibilizados online seriam diretamente acessíveis. Confirmaria também a sua identidade recebendo, por exemplo, um código por SMS. Algo que acontece quando usamos apps de bancos ou subscrevemos petições válidas online.

A digitalização protegeria os direitos dos associados que não ficariam tão dependentes do erro humano; facilitaria a entrada de pessoas nas secções; tornaria o processo mais sustentável; permitiria cruzar os dados entre os serviços da AAC e retirar o trabalho extra que os funcionários têm a passar informação manuscrita para o computador e a corrigir erros. Existem mecanismos de prevenção que mitigariam estes problemas. A Académica só teria de se valer deles.

paragem de autocarro um jovem dorme um sono profundo sentado num dos bancos. As senhoras vindas da missa das oito velam para que não caia.

Numa

cabreando por aí...

20 13 de dezembro de 2022 SOLTAS
#hávidanestacidade

Catástrofes naturais: produto do Homem ou inevitabilidade?

Nos últimos anos, assistimos a cada vez mais notícias de catástrofes com consequências graves para as populações, o território, a economia e o ambiente. As alterações climáticas, se no passado eram marcadas pelo ceticismo, hoje são um dos inegáveis problemas com que a humanidade se confronta.

A atualidade nacional é neste momento marcada pelas cheias na Área Metropolitana de Lisboa. No entanto, no concelho de Coimbra é de destacar as cheias e inundações do túnel de Bencanta, de ruas e de estradas, motivadas pela falta do procedimento de limpeza de sarjetas e sumidouros ligados às redes públicas de drenagem de águas fluviais. Situação que suscita, também, interesse de referir são as quase anuais inundações do Parque Verde do Mondego.

É na região do Baixo Mondego onde se situam os maiores problemas relativos às cheias que têm impacto na vida das populações. Ao longo dos anos, na bacia hidrográfica do Mondego, tem sido recorrente uma incorreta gestão dos

recursos hídricos que não pode ser ilibada de responsabilidades, pelo álibi das “causas naturais imprevisíveis”. Para a resolução destes problemas é necessário uma gestão mais ativa por parte do Estado Central, que tem vindo a desresponsabilizar-se das suas tarefas e obrigações ao colocar o ónus sobre o poder local, que não tem os meios necessários para a resolução destas questões.

As obras de desassoreamento, como a Câmara Municipal de Coimbra dizia no comunicado da obra, tinham dois objetivos fundamentais: o desassoreamento do açude-ponte e a estabilização da margem direita, entre a ponte de Santa Clara e o açude-ponte. Porém, estas obras não foram as que eram necessárias, nem foram feitas de modo a melhorar o percurso do rio Mondego e a salvaguardar os interesses das populações do Baixo Mondego. Estas obras tiveram um forte impacto sobre a fauna fluvial com especial incidência sobre os peixes migratórios que continuam sem conseguir o açude-ponte para poderem completar o seu ciclo de repro -

OBITUÁRIO

É Geraaaaaal!

Cá estamos, meus caros.

Há dois campos no que toca ao Conselho Geral da UC: os que lhe chamam de tacho, e os que praticam 'paddle' com o tio Amílcar.

Sabiam que, afinal, o reitor não faz só o que lhe vem à cabeça? Aahhhhh, pois. Talvez aí com a ajuda do Indiana Fausto consigam escavar e encontrar a dignidade da UC.

Mas, então, querem representatividade? Além de uma estudante internacional, reza a lenda que um candidato até tem um amigo preto.

Mas vejam lá a categoria, a própria moderadora esqueceu-se que o estatuto do estudante integrado em atividades culturalis existe e vocês TODOS simplesmente alinharam.

Andamos aqui a brincar com a brincadeira. Ponham-se finos!

dução, empobrecendo a fauna local e retirando importantes sustentos económicos às populações desta região.

É preciso uma política ambiental que dê respostas integradas e estruturais que não passem por medidas e respostas de resolução superficial dos problemas. Olhando para o nosso País, o Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra afirma que Portugal precisa de uma viragem na política ambiental. Uma política ambiental que deve passar pela preservação da natureza e dos seus sistemas ecológicos, que respeite o princípio da precaução face a novas ameaças, contribuindo para prevenir e combater os efeitos das alterações climáticas, combatendo a mercantilização do ambiente e a sua instrumentalização política pelo grande capital.

A sociedade não é proprietária da Terra, é apenas sua detentora, devendo olhar para ela como um bem finito e imprescindível para o futuro, sendo urgente procurar o equilíbrio que proteja física e temporalmente o seu uso.

Aqui jaz Fernando Santos, o ídolo dos tAAChistas da casa. Fado, Fátima e Futebol. O nosso 'mister' trabalha um mês, se tanto, e há anos que pouco ou nada mostra.

Mas enfim, cada um carrega a sua Cruz. Para a malta de Coimbra é o arroz de pato.

Protegido pela Igreja (FPF), a fuga aos impostos chega a ser mais entusiasmante que qualquer filme do Velocidade Furiosa. Mas basta umas dez Avé Marias e uns quantos joelhos no chão. Mas ó Nandinho, conheces o ditado: ajoelhou...

´Quiçá davas grande vaqueiro, já que mandas 11 bois correr 90 minutos sem A nem B. Deixamos-te uma sugestão: antes de te demitires, compra uns lencinhos aí para o teu 'amigo'.

21 13 de dezembro de 2022 SOLTAS
- POR JESSICA SÁ - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -
que logo bebes.
Chora,

CINEMA

A Beleza da Fome

BONES AND

Amais recente dádiva de Luca Guadagnino, “Bones and All”, é um projeto íntimo, belo e surpreendente. A surpresa não está no facto de ser íntimo ou belo (muito bem nos tem habituado o realizador italiano) mas sim na permanência destes tons tendo em conta o tema base: o canibalismo. Os Estados Unidos da América na era Reagan são palco para uma verdadeira história de amor jovem, com muito som para além do mastigar de carne crua, muita cor para além de sangue vermelho, muita riqueza para além do choque.

O filme acompanha Maren (Taylor Russell), uma rapariga acabada de fazer 18 anos, na sua viagem por entre o centro oeste estadunidense, após ter sido abandonada pelo pai. Entre viagens de autocarros, encontra-se numa busca incessante, e de início solitária, de autocompreensão sobre o que implica ser canibal. A solidão física chega a um fim quando encontra em Lee (Timothée Chalamet) um primeiro amor e, mais importante, uma companhia. Lee é também um ‘eater’, termo utilizado para os canibais se identificarem, com um passado perturbado do qual tenta fugir.

Estes dois criam uma dinâmica de fazer lembrar “Bonnie and Clyde”, com Maren a balançar no dilema entre saciar a sua fome e controlá-la. Taylor Russell agiganta-se sem se extroverter. É arrepiante o quanto a atriz

consegue incorporar num só olhar, numa só hesitação na fala. Todos os debates morais tão presentes e que articulam tão bem com um sempre carismático mas frágil Timothée Chalamet, de cabelo avermelhado e cicatrizes no corpo, que cria com Taylor uma química impenetrável a dúvidas.

Céus roxos e prados amarelos, estradas extensas e feiras de diversões, livros antigos e cigarros, elementos que, acompanhados por uma cinematografia crua de Arseni Khachaturan, quase nos fazem esquecer por momentos de que estes dois jovens apaixonados no verão batalham uma fome por carne humana. A subtil rasteira que Guadagnino nos prega, fazendo-nos cair, sem darmos por isso, numa aceitação de algo tão perturbador como o canibalismo é um feito impressionante e desconcertante.

A obra tem falhas. A edição por vezes precipitada, um Timothée algo tranquilo e escondido (tendo em conta o que sabemos que pode dar), a pujança do ritmo a perder-se no terceiro terço da história. No entanto, é inegável a ambição e a coragem deste filme, baseado no livro homónimo de Camille DeAngelis, na tentativa, e até sucesso, de nos relacionarmos com as personagens na tela, nesta busca individual de encaixarmos algures e das dificuldades em cedermos às nossas fomes. Guadagnino é um diamante do cinema.

22 13 de dezembro de 2022
ARTES FEITAS
(2022)
ALL
por Luca Guadagnino, com Taylor Russell e Timothée Chamalet

MÚSICA

Um adeus que convida

Depois das belíssimas viagens que nos proporcionaram com “Fetus In Fetu”, “Odyssea” e “Ophelia”, e quatro anos depois do sombrio “umbra”, os indignu estão de volta e trazem, com eles, uma nova aventura pelos trilhos do post-rock português. O novo trabalho chama-se “adeus” e é o quinto álbum de estúdio do coletivo de Barcelos, que ressurge em 2022 com uma nova formação e com uma vontade fresca de explorar novas paisagens sonoras.

O disco vem, desta vez, juntar os talentos de Ivo Correia e Pedro Sousa às presenças já familiares de Afonso Dorido e Graça Carvalho. Editado em novembro, “adeus” leva selo da editora belga Dunk!Records e conta com as mãos de Ruca Lacerda (Mão Morta, Pluto) na mistura e de Birgir Jón Birgisson (Björk, Sigur Rós, Spiritualized) na masterização, que contribuem para o particular desenho desta viagem, repleta de planos pintados a claro-escuro e de imagens panorâmicas em que o sol e a luz espreitam pela neblina.

A jornada começa com “a noturna”, uma introdução imponente que nos atira de rom-

pante para o território árido de “devolução da essência do ser”, uma canção de proporções épicas que enfurece e que arrefece e que, pelo caminho, deixa uma vénia à particular maneira portuguesa de se tocar guitarra. O piano de “em qualquer entranha” simboliza o intervalo deste trajeto, que continua na estação seguinte, onde se lê: “urge decifrar o céu”. A chave para tão difícil tarefa de descodificação é apresentada através do diálogo entre os acordes distorcidos de guitarras elétricas, a gentileza de um violino, e a imponência da bateria, que pulsa o sangue desta faixa em contrastes precisos de euforia e delicadeza. A última paragem chama-se “sempre que a partida vier” e é a que melhor representa o sentimento do álbum. Aqui, a banda demonstra em pleno a virtude do espírito que, mesmo deambulando entre o trauma e as más memórias, deixa sempre prevalecer a esperança. Estas cinco canções, que se prolongam por pouco mais de 40 minutos sem uma única palavra enunciada, trazem em si embutido um convite especial para todos os ouvintes: “usar a música como um farol capaz de nos trazer de

LITERATURA

UMA CASA MORTA RECHEADA DE VIDAS

- POR TOMÁS BARROS -

O autor dispensa apresentações. O livro, esse, merece todo o reconhecimento. Recordações da Casa dos Mortos, ou Cadernos da Casa Morta nesta re-edição da Editorial Presença, que conta já com quase todos os livros e contos de Dostoievski, é um livro fenomenal que pode passar despercebido entre os mais aclamados do famosíssimo escritor russo. Neste livro, Dostoievski deixa patente a sua capacidade surreal de analisar aquela que é a natureza do ser humano. Através dos olhos, dos ouvidos e de todos os sentidos do personagem Aleksandr Petróvich, temos o testemunho de um prisioneiro de uma prisão no coração da Sibéria.

Reforço todos os sentidos, até porque todos eles são despertados aquando da leitura. A maneira soberba de Dostoievski nos transportar até às situações mais estranhas e, ao mesmo tempo, tão familiares, no que concernem as interações entre os mais variados seres enclausurados e obrigados a partilhar o mesmo espaço

frio e dilacerante.

Esta realidade era familiar ao autor. O próprio tinha sido preso e obrigado a cumprir pena numa prisão de características semelhantes.

A história engrandece com esse facto, porque ganha uma outra dimensão: apercebemo-nos que temos todo este conjunto de histórias, aventuras e desventuras na primeira pessoa, a do autor.

Terrivelmente caloroso e carinhosamente devastante. Ao ler sentimos o avançar progressivo do tempo, apesar deste saltar por entre anos, eventos e memórias soltas. A realidade cruel do inverno, a esperança da primavera, os trabalhos forçados e os efémeros momentos de verdadeira alegria.

Tudo é coberto, a sensação que prevalece é que toda uma vasta vivência foi eximiamente condensada e o livro vale por isso, pela sua capacidade de em cada frase residir um núcleo de informação e de sentimento sempre recheada de propósito. Cada frase é uma bala, que dis -

volta da escuridão que experienciámos coletivamente durante os últimos dois anos”. Entre o barulho caótico do quotidiano, em que a miséria e a tristeza que ganham força todos os dias, é assim que os indignu oferecem um “adeus”, mesmo que efémero, a todo este rebuliço.

Haverá convite mais bonito do que este?

suade e assusta, mas que também fere e mata. Em Cadernos da Casa Morta temos uma análise arrepiante do que é viver emprisionado, em conflito, mas, acima de tudo, do que é ser humano, errante, racional, temeroso, esperançoso, sem nunca descurar a crítica social presente de forma declarada e incisiva.

23 13 de dezembro de 2022
ARTES FEITAS

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Editorial

S.O.S Jornalista

Lembro-me da primeira vez que me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. A resposta era sempre diferente: médica, cantora, trapezista… demorou muito tempo até encontrar o meu lugar, o sítio em que me iria sentir completamente realizada, enquanto profissional. Desta forma, o mundo do jornalismo abriu-se para mim de porta em porta. Mal sabia eu, e muitos outros, o quão hostil este se tinha tornado. Desde precariedade a nível laboral, estágios abusivos, insegurança e falta de independência, muitas são as razões que afastam os formados, em jornalismo ou ciências da comunicação, deste meio. Numa sociedade cada vez mais mediatizada, em que a informação adquire um papel central na manutenção da democracia e do Estado de Direito, seria lógico haver cada vez mais uma valorização da profissão do jornalista.

Por reconhecer isto como verdade, enquanto pessoa que ainda não desistiu do sonho de exercer jornalismo, pesa-me o coração por ver que eu, e muitos outros, teremos de ponderar duas vezes (e mais umas quantas) entre ter sustento ou fazer algo que nos apaixona. É triste ver que o que nos espera, no início da nossa carreira, são estágios não remunerados ou mal pagos, trabalhos a recibos verdes ou contratos precários.

Para que a democracia vingue, é preciso que o jornalismo também se rejuvenesça. É necessário que os quadros se renovem e que haja mais imprensa independente e jovem. Os nossos jovens jornalistas merecem dar o seu contributo e ajudar a construir a sociedade, através do seu olhar, que está sempre atento a tudo o que por aí se passa. Uma nova visão sobre a profissão e a forma como ela é encarada pela sociedade é justa, necessária e urgente.

ERRATA

Na capa da edição 310 do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, na fotografia de João Caseiro deve ler-se “Por Hugo Marques”. Na fotografia de Gonçalo Lopes deve ler-se “Por Joana Carvalho”. Na fotografia de Wilson Domingues deve ler-se “Por Sofia Ramos.

Na página 3 da edição 310 do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, onde se lê “reacionária” deve ler-se “ativa”. Ainda na página 3, na fotografia de João Maduro deve ler-se “Por Inês Pinela” e na fotografia de Gonçalo Pardal deve ler-se “Por Simão Moura”.

Na página 12 da edição 310 do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, onde se lê “ultrapassa os 50 por cento”, deve ler-se “ultrapassa os 40 por cento”, e onde se lê “40,5 por cento da FMUC”, deve ler-se “40,5 por cento da FFUC”.

Na página 14 da edição 310 do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, nas fotografias onde se lê “Por Andreina Neves”, deve ler-se “Por Andreina de Freitas”. Na fotografia onde se lê “Cedida por Francisco Neves”, deve ler-se “Cedida por Francisco Mendes”.

Na página 21 da edição 310 do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, onde se lê “Obtiuário”, deve ler-se “Obituário”.

Na página 24 da edição 310 do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, deve acrescentar-se “Sofia Ramos” na colaboração de fotografia.

Aos visados, as nossas desculpas.

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

Depósito Legal nº478319/20

Registo ICS nº116759

Propriedade Associação Académica de Coimbra

Morada Secção de Jornalismo

Rua Padre António Vieira, 1 300-315 Coimbra

Diretora Joana Carvalho

Equipa Editorial Luísa Macedo Mendonça & Simão Moura (Ensino Superior), Raquel Lucas & Ana Filipa Paz (Cultura), Larissa Britto & Fábio Torres (Desporto), Eduardo Neves & Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Daniel Oliveira & Sofia Variz Pereira (Cidade), Gabriela Moore & Sofia Ramos (Fotografia)

Colaborou nesta edição Mateus Araújo, Lucília Anjos, Ana Cardoso, Frederico Cardoso, Matilde Dias, Gustavo Eler, Andreína de Freitas, Luís Gonçalves, Raquel Lucas, Hugo Marques, Sam Martins, Sofia Moreira, Simão Moura, Mariana Neves, Patrick Pais, Bruna Passas, Maria Inês Pinela, Alice Rodrigues, Luísa Rodrigues, Marujú Tavares, Bruna Santa, Carolina Silva, Ana Vidal

Conselho de Redação Luís Almeida, Tomás Barros, Inês Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva

Fotografia Larissa Britto, Gustavo Eler, Raquel Lucas, Hugo Marques, Simão Moura, Narci Rodrigues, Marijú Tavares

Paginação Joana Carvalho, Fábio Torres

Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A. Telf.239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

FICHA TÉCNICA
Tiragem 2000
FALTAM 12 DIAS PARA O NATAL FALTAM 19 DIAS PARA 2023 FALTAM 156 DIAS PARA A QUEIMA DAS FITAS (O VERDADEIRO NATAL)
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