Do lado de dentro: Retratos do ensino remoto e do ambiente de aprendizagem durante a pandemia

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Retratos do ensino remoto e do ambiente de aprendizagem durante a pandemia.


LADO DE DO LA NTRO DENT O DE DO LA NTRO DENTR


Retratos do ensino remoto e do ambiente de aprendizagem durante a pandemia.


Direção editorial Vitor Braga e Mirela Sales Projeto gráfico Jonatas Martins Valentin Editoração eletrônica Francielle Oliveira, Ana Marília Paiva, Isabela, Tatiane Macena, Maria Letícia Oliveira

Imagens da capa Jonatas Martins Valentin Assistente editorial Francielle Oliveira, Ana Marília Paiva, Isabela Victória, Tatiane Macena, Maria Letícia Oliveira Revisão Letícia Oliveira Organização Mirela Sales Essa obra é um produto experimental desenvolvido por discentes do curso de jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, sob supervisão do professor doutor Vitor Braga.


SUMÁRIO 01. Concentra, o futuro não demora. ................... 01 02. Remotamente eu estava .................................... 05 03. Tempo, tempo, tempo, tempo, paciência .... 08 04. Método de apresentação durante o ensino remoto ................................................................ 12 05. Pedimos e o ensino remoto veio, já pode voltar! .................................................................... 15 06. Certa manhã acordei de sonhos intranquilos ......................................................................... 18 07. Aprendizagem, ensino remoto, ambientação ........................................................................ 21 08. Ensino Remoto ............................................................ 24 09. O computador, meu amigo ................................... 26 10. Para Ressignificar vidas ......................................... 29 11. Distrações de uma rotina remota ....................... 32 12. O único caminho .......................................................... 35 13. Quadro de Cortiça ...................................................... 38 14. Um alarme e um dia que duram 25 horas .... 41 15. Adaptações de uma estudante em mudança .......................................................................... 44 16. Todo dia nesse mesmo lugar .................................. 47 17. Um lugar para estudar .............................................. 50 18. O surgimento das incertezas .................................. 53 19. Meu local de estudos ................................................... 56


SUMÁRIO 20. Aprendizagem, ensino remoto, ambientação ......................................................................... 58 21. Quando o querer é poder – uma crônica sobre ensino remoto e isolamento social ............................. 61 22. Onde posso estudar em paz ................................... 64 23. Uma rotina desgastante .......................................... 67


RESUMO Anseios, angústias, medo do futuro… são esses sentimentos essencialmente humanos que, para muitos, se intensificaram durante a pandemia do novo coronavírus. Produzido por estudantes do curso de jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, “Do Lado de Dentro” traz relatos que convidam o leitor a visitar o interior de cada um desses estudantes, o lado de dentro que há em cada um.

A ideia surgiu a partir de um projeto para a disciplina de Tópicos Especiais em Planejamento Visual e reúne crônicas singulares e sensíveis sobre as experiências desses estudantes, advindos de cidades nordestinas, que precisaram se adaptar a uma nova rotina com o ensino remoto adotado em 2020 por conta da pandemia. Complementando os textos, os(as) autores(as) compartilharam também imagens de seus ambientes de aprendizagem. Dessa forma, podemos perceber os contrastes que há entre cada um e suas particularidades.


Concentra, o futuro não demora. Francielle Nonato 01


Quatro paredes, uma cadeira, uma mesa e materiais escolares. Um padrão para mim desde os primeiros anos no ambiente escolar —embora eu nem soubesse pronunciar nessa época. Também eu nem devesse imaginar o que poderia ser uma pandemia em pleno século XXI. Ao final de quatro anos intensos de estudos e vivências acadêmicas, o curso de Jornalismo começava a ser posto à prova pelas práticas. Para quem sempre apresentou sinais de TDAH —o que nunca reparei de fato—, estar adiantada na grade parecia ser positivo. Na última semana para concluir as disciplinas obrigatórias, em março de 2020 —a apenas alguns dias para celebrar meu novo ciclo terrestre—, aparece um negócio esquisito querendo se exibir mais que eu nas vésperas do meu aniversário, aliás, descobri que o período antes dessa data marcante se chama inferno astral, e não foi que aconteceu mesmo? Corre. Precisamos adaptar: pesquisas práticas de tornaram teóricas e entregas de trabalhos presenciais migraram para o online.

Agora o enclausuramento entre quatro paredes não era mais no ambiente universitário e finalmente estávamos no lar doce lar —na verdade não teve gosto adocicado diante de tantas perdas humanas.

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Medo, confusão, caos e ócio — para alguns. Eu só conseguia pensar: como vou realizar meu TCC? Já não bastava ser o dito cujo, ainda teria que lidar com a problemática histórica por causa de um vírus fi da gôta, como dizem os sergipanos. Nessa de ter dificuldade com a finalização de ciclos lá estava eu, depois de meses sem aulas, adicionando na minha grade curricular disciplinas práticas sobre coisas que faziam sentido. Documentário, jornalismo sonoro e planejamento visual. Era mais prático ligar meu fone, “entrar” na aula e ir varrer a casa. Enquanto isso estava em meio às adversidades para conseguir concentração no que realmente importava. Já viu passarinho viver sem ninho? Eu estava sem o meu. Sem biblioteca universitária, sem escrivaninha, sem quarto. E por viver na casa de quem abraça novas visitas constantemente, nada mais respeitoso que ceder meu ninho aos que me ofereçam lar até os 17. Então tentava me encontrar em tudo quanto era canto: sala, área externa e cozinha. Só faltou banheiro, mas nem tentei —o professor de documentário até sugeriu em uma de suas aulas (risos). Reviver com os avós e viver que nem cigana na própria casa. Sempre fomos quase. O primo da minha avó casou com uma, mas isso não vem ao caso.

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Depois da série do Drauzio Varella no Fantástico, à medida que lia sobre sintomas d TDAH, descobri que a dificuldade de concentração era uma característica. Percebi ali que eu precisava de um lugar para chamar de meu. Era mais um indício de um diagnóstico que preciso de R$500,00 para ter comprovação. Com idas e vindas dos picos de contágio da covid-19 a universidade particular já começara a reabrir timidamente. Não pensei duas vezes, comecei a pedalar até a Unit para fingir costume de uma vida estudantil perto de casa. Segundo andar, terceira fileira, primeira carteira do lado onde incide o sol. Sentei cerca de umas oito vezes, mas já me perdi nas selfies que tentei fazer para registrar o processo. Retiro a garrafa d’água do bolso esquerdo da mochila colorida e o álcool em gel, coloco o óculos, pego o notebook, o mouse e conecto o carregador na tomada. Daqui em diante só vejo três paredes. Atrás de mim é vão. É o espaço a ser preenchido pela areia que cai da ampulheta.

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Remotamente eu estava Franciene Maria

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Vi-me bastante preocupada diante de um sentimento de medo que me tomara ao notar que enfrentaria um momento inédito e desafiador, que foi o período de aprendizado no ensino remoto. Remotamente estava eu, a apreensão tomou conta de mim enquanto eu pensava no quão desafiador seria lidar com algo novo na minha vida. Procurei firmeza onde havia moleza, busquei forças onde tinha apenas fraqueza, e assim fui vivendo. Vivi um dia por vez, ora acordava sem forças me sentindo como uma folha seca jogada ao vento, ora me sentia uma âncora cada vez mais firme nos meus projetos.

Enquanto folha seca, via-me levada pelas inseguranças e incertezas em lidar com a obtenção do aprendizado de forma totalmente distinta e desafiadora no ensino remoto.

Porém, como âncora, sentia-me cada vez mais firme e decidida no tocante ao processo pelo qual me permitir passar. Com o decorrer do tempo, eu estava diferente, moldada e transformada.

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Diferente porque já não entendia como consegui me manter mais confiante a cada amanhecer, mesmo com o coração apertado, as mãos frias e a respiração ofegante por ter que lidar com tantos dilemas. Moldada devido à percepção que tive do quanto evoluir nesse tempo similar a uma massinha quando é amassada, separada, juntada, e ainda assim, se mantém intacta, apesar das mudanças.

Por fim, vi-me transformada, sim, me transformei em um ser resiliente, o qual teve que se sustentar mesmo em momentos nos quais acreditara não haver forças no meu corpo e alma para continuar a caminhada rumo ao conhecimento. Como resultado dessa maratona percorrida, me transformei numa nova mulher, aquela que acredita na sua força, garra e superação. Houve uma metamorfose dentro do meu ser similar à que ocorre com as borboletas. Criei asas e voei, na direção dos meus sonhos.

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Tempo, tempo, tempo, tempo, paciência Anna Marília Paiva

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Março. 2020. Pandemia. Coronavírus. Jornais. Casa. Economia. EAD. Auxílio. Gripezinha. Hospital. Oxigênio. Mortes. Vacina. Variantes. Tempo, Tempo, Tempo, Tempo. Paciência. A pandemia de Covid 19, trouxe uma mudança brusca na vida de todas as pessoas ao redor do mundo. Em meio a correria, veio o medo na calmaria. Casais se separaram nas reuniões de família. Estudantes que queriam férias, sentiram falta da escola. Empresas que nunca fecham, foram encerradas, novas empresas foram abertas. O Mundo parou, enlutou, mudou e segue se modificando numa evolução sem fim. A Covid 19 trouxe inúmeras coisas ruins, mas ao mesmo tempo não existe nada ruim, que não traga coisas boas. Fomos desafiados a encarar mudanças, a se antecipar aos riscos e incertezas, a compreendermos a nossa finitude, alguns ao adquirirem essa compreensão do finito fizeram a escolha desobedecerem as medidas de distanciamento e proteção, com a ideia de aproveitarem o seu tempo de vida, outros obedecendo a essas regras pré estabelecidas foram movidos pela esperança de uma maior tempo a ser desfrutado. Nunca entendemos como antes, a importância do tempo em nossas vidas. Já diz Caetano Veloso na sua canção e poesia intitulada Oração ao Tempo

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"Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos... Tempo tempo tempo tempo, entro num acordo contigo... Tempo tempo tempo tempo..." Estudar em plena pandemia veio requerer ainda mais a gestão do tempo, por parte de docentes e alunos. O ensino EAD colocou em nossas mãos a capacidade de gerir o nosso tempo de aprendizado como nunca antes. De madrugada, de manhã cedo, no intervalo do almoço ou no final da tarde. Em qualquer lugar, dia e horário pudemos ter acesso ao conhecimento. Porém, desacostumados com a ausência do comando docente, sobretudo presencialmente em sala de aula, será que aprendemos o suficiente ou o mínimo necessário para nossa formação? Será que com o poder do tempo do conhecimento e aprendizagem em nossas mãos, conseguimos aproveitar da melhor maneira? A tecnologia da informação no ensino EAD favoreceu o tempo e a qualidade de aprendizagem?

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O acesso inexistente ou limitado a internet afetou o tempo de ensino aprendizagem dos alunos? O amplo acesso as redes sociais ocasionou distrações e dificultou o ensino e aprendizagem EAD? Enfim, só o tempo poderá responder e trazer respostas a todas essas perguntas. Enquanto isso como diz o compositor Lenine:

"A vida é tão rara / o mundo vai girando cada vez mais veloz / a gente espera do mundo e o mundo espera de nós / um pouco mais de paciência"

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Método de apresentação durante o ensino remoto Jaqueline Francielle

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Semana passada, na quarta-feira, estava em minha casa, quando eu recebi uma notificação em meu celular, era o professor Brandão, no aplicativo em que se comunica com toda a turma, confirmando a apresentação do trabalho final de sua disciplina. Seria no dia seguinte, 13h, horário em que as minhas quatro irmãs e meus pais estão em casa, sempre com muita conversa, bagunça e barulho, fora o da minha vizinhança, que vive com o som ligado escutando alguma seleção de música bregas, e para completar era necessário estar com a câmera e o microfone da videoaula ligados, junção perfeita para um desastre em forma de apresentação. Próximo ao horário da disciplina, busquei um cantinho em que pudesse me sentar para a aula, e que fosse um pouco mais tranquilo, o que era difícil, já que minha casa não é tão grande, e precisava estar próxima do Wi-Fi, sem correr riscos da internet cair. Separei meu notebook, fones de ouvido, caderno e canetas, coloquei tudo na mesa que fica na garagem da minha casa, o vizinho estava com o som ligado ao som de Tierry, a trilha sonora da apresentação já estava garantida.

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Agora era a hora de falar com minha família, que parece que não entenderam ainda como funciona o ensino remoto, pedi para que fizessem o máximo possível de silêncio, o que para eles duravam no máximo 5 minutos e já começava os barulhos de panela, televisão, chuveiro, brincadeiras e por aí vai. E nesse embalo chegou a hora da minha apresentação, usando meus fones e tentando focar em meu trabalho, comecei já pedindo desculpas pelo barulho e fui, em cerca de 6 minutos trabalho devidamente apresentado, com participação de Tierry, sons de motos e barulho de crianças ao fundo.

Só mais um dia normal no ensino remoto.

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Pedimos e o ensino remoto veio, já pode voltar!

Janisse Bispo

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É, do nada o ensino remoto tomou conta da vida acadêmica de milhares estudantes pelo Brasil afora. Tudo isso, devido a um vírus vindo lá das bandas da China, com transmissão mais rápida do que uma prova de Atletismo com Bolt. Para alguns as aulas em casa foram perfeitas, o busão se transformou num sofá em plena sala de casa, e o que dizer de poder assistir as aulas de pijama? Ao ligar a câmera primeiramente o professor dá de cara com apenas janelas com cada respectivas fotos e nome dos alunos. Porém, sempre tem um para salvar a turma e não deixar o professor no vácuo, Já não basta tanto desaforo no presencial, e receba no online. Todo mundo teve que passar por uma adaptação, seja ela dentro ou fora da sala de aula, isso fez com que o modelo remoto começasse a ficar chato e desgastante. Os alunos preferem passar 3 horas assistindo filmes do que uma aula por 3 horas. Presencialmente a gente dá uma enrolada saindo da sala para ir ao banheiro, mandar um áudio no whatsapp, brincar com um gatinho nos corredores da UFS e só depois voltar pra aula.

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Presencialmente a gente dá uma enrolada saindo da sala para ir ao banheiro, mandar um áudio no whatsapp, brincar com um gatinho nos corredores da UFS e só depois voltar pra aula.

No ensino remoto amigos, você consegue ver a aula onde e quando quiser, porém depois você que lute para entregar a atividade a tempo. E assim se passaram quase dois anos até a volta às aulas ao vivo e a cores. Todo esse remoto, existe uma problemática a ser resolvida.O retorno é preciso, é óbvio. Para poder avaliar as condições de professores, alunos, mas será que estamos todos ligados?

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Certa manhã acordei de sonhos intranquilos

Isabela Victória

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Em meu delírio kafkiano, não acordei transformada numa barata, tampouco em um bicho; acordei metamorfoseada em uma estudante do ensino remoto. Ao ver pela primeira vez o rosto do meu antigo professor em tempo real, mesmo que através da tela de um computador, pensei estar despertando do meu sonho inquietante, mas, na realidade, ele estava recomeçando de uma nova forma.

O dito popular que afirma que o ano só começa depois do carnaval não faz muito sentido para os estudantes da UFS; nosso ano só termina depois do carnaval.

O feriado passou, a folia acabou e o nosso ano letivo se arrastou. Quando finalmente as tão sonhadas férias chegaram, a agonia tomou conta: o que era para ser um mês de descanso sem aulas, transformou-se em meses (que mais pareceram séculos) de ócio e busca incessante por novos hobbies e atividades para preencher os dias. O meu mapa astral diz que ter sol em escorpião e ascendente em capricórnio é o que me faz gostar de ter ordem e disciplina. Receber a notícia que eu voltaria a ter aula, depois de tanto tempo, me levou a acreditar na astrologia. Nada me dava mais paz e ânimo do que a ideia de ter novamente uma rotina consolidada de estudos, ainda por cima recheada de novidades. Ledo engano.

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Ao me ver metamorfoseada em uma estudante de ensino remoto, fui acometida pela mesma dúvida que pairou sobre Gregor Samsa: “Que me aconteceu ? — pensou. Não era nenhum sonho. O quarto, um vulgar quarto humano, apenas bastante acanhado, ali estava, como de costume, entre as quatro paredes que lhe eram familiares." Em pouco tempo a minha nova rotina se tornou exaustiva e insustentável. Prazos apertados, incontáveis atividades e inúmeras leituras. Passar horas diante de um computador se tornou um fardo. O meu quarto, que costumava ser o lugar mais confortável e acolhedor para mim, tornou-se o lugar em que eu menos queria estar. Comecei a reparar nos detalhes em volta. Vi a minha plaquinha que contém uma espécie de oração ao profissional de jornalismo e pude relembrar que há pessoas que me dão todo o suporte que necessito nessa minha caminhada. Notei os meus livros escritos por Gabriel García Márquez e Zuenir Ventura, jornalistas que tanto me inspiram e tanto admiro.

Contemplei o disco de Secos & Molhados, minha banda favorita, e relembrei que, assim como eles dizem em uma de suas canções, “o que me importa é não estar vencido.”

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Aprendizagem, ensino remoto, ambientação

Caroline de Almeida Rosa

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Quando se trata de um curso EAD entende-se que no mínimo a pessoa se planejou para aquilo, em relação a tempo, espaço e ferramentas disponíveis para que essa experiência seja mais cômoda possível. Dessa forma a possibilidade de dar certo é muito maior e menos ardilosa. Mas a realidade é que não escolhi um curso EAD, não disponibilizo de tempo, espaço e mente tolerante a estudar em casa sem que nenhuma outra coisa me tire o foco. Tem sido um período difícil, onde questiono-me todos os dias qual o sentido de fazer o que faço, pois, durante o período desse furacão de mentes que conhecemos por pandemia, muitas coisas perderam seu sentido real.

Experimente repetir várias vezes uma palavra comum do nosso cotidiano e perceba que após algumas repetições ela perde o sentido, você não consegue mais imaginar/lembrar o que ela representa e porque.

Para mim, o ensino remoto funciona desta forma, me programei para X mas ultimamente o que faço é Y, W e Z. Mas acredito que tudo que passamos nessa história de vida é por algum propósito. O ensino remoto me trouxe a oportunidade de realizar o estágio obrigatório e de quebra um não-obrigatório, coisa que nem imaginava quando poderia fazer pois todas as horas do meu dia estão preenchidas e esgotadas.

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Mas tem sido exaustante, pois, aprender a caminhar com outras pernas e a reescrever com outras mãos é um trabalho cansativo para o ser humano que precisa se preocupar com o braço que vai dar suporte às mãos e com o quadril que irá fixar as pernas. Atualmente só penso em concluir tudo que está em aberto e até lá buscar as motivações e objetivos que antes estavam presentes.

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Ensino remoto Eduarda Juliana

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A pandemia trouxe muitos desafios pessoais, e o ensino remoto foi um deles. Antes, acordava, ia aula e tinha uma rotina que foi quebrada totalmente.

Tive que reaprender muito para acompanhar um ritmo novo, e na maioria das vezes não foi fácil conseguir. Primeiro, tive que desenvolver novos hábitos e conciliar com a nova rotina. Transformar meu quarto em sala de aula era algo que jamais esperava. Muitas vezes estar todos os dias no mesmo ambiente faz com a concentração ficasse cada vez mais difícil. O auxílio da internet que muitas vezes ajudava nos estudos, antes da pandemia, agora, com o ensino remoto pareceu ser um viés que dificultava o ensino algumas vezes, como no meio das aulas ao cair a internet, ou travar bem diversos momentos. Apesar de todos os desafios, o ensino remoto trouxe um senso maior de paciência comigo mesma e com os outros ao redor. É um novo normal que ainda estamos tentando nos adaptar e faz nos desafiarmos mais. A ambientação mudou, a forma de interação mudou e isso fez com que eu tivesse que mudar também a forma de aprender.

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O computador, meu amigo Gabriel Alcântara

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Este é o lugar onde passei a maior parte dos meus dias e meses. Achávamos que seriam apenas semanas, no máximo três. Lá se vão dois anos. Digo que até virei planta enraizada.

O mundo ficou quadrado, distante... diferente. Todos eram acostumados a estarem quase sempre olhando para uma tela, mas não como agora, tudo praticamente se resume a ela. É realmente intrigante como está tela se tornou meu mundo, sim, pelo menos o meu mundo. No ápice da pandemia, consequentemente da quarentena, era fechando uma janela e abrindo outra. Durante o dia era telas de estudos, textos, documentários e chamadas acadêmicas. A noite era o momento da tela de entretenimento, abria uma janela com um filme ou série. Nos finais de semana eram as janelas dos jogos que se abriam, e aí eram transcorridas horas imperceptíveis de jogatina. O sono chegava, finalmente a tela tinha o seu descanso. Coitada, logo mais, dentro de poucas horas, seria novamente requisitada.

Essa tela me acompanhava por toda casa durante a quarentena. Era no meu colo no sofá, em cima da cama, na cozinha ouvindo a aula enquanto cozinhava.

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Não, nunca foi para o banheiro, o receio de um desastre aquático sempre foi muito maior. Mas ela estava ali, sempre ao meu lado me auxiliando e, sinceramente, na maioria das vezes me fazendo companhia, pois atire a primeira pedra quem não se sentiu extremamente sozinho e foi procurar companhia na tela. Eu geralmente tinha três comigo, a menor na mão, a média no colo e a maior na minha frente, daí você imagine qual é qual. Ah, não posso esquecer das raivas, estresses e perrengues que essa tela me vez e ainda me faz passar. Incrível como ela sempre resolvia dar problema no momento mais crucial de necessidade. Momentos de desespero foram vários quando o programa fechava e temia que todo o trabalho da faculdade fosse perdido. Felizmente em todas as vezes conseguir recuperar. Para ligar a tela eu contava uns 5 minutos, nisso a impaciência chegava e logo o estresse. Parece que essas coisas são programas pelo o além, sem explicação. Hoje continuo com essa tela e por muito tempo permanecerei, os cantos onde ela estará vai mudando, mas sempre será ela. No fim eu agradeço pelos momentos que esteve comigo. Até estranho falar isso, parece que estou personificando uma máquina, particularmente não sou fã de prosopopeia. Mas no final, como me expressar da melhor forma se não desta? No fim, é quem esteve comigo neste momento.

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Para Ressignificar vidas Gabriel Silva Santana

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A pandemia chegou e afetou a vida de todos. Sem escolher gênero, idade, raça, ou cor. Ressignificou a vida dos estudantes e trabalhadores, independente do cargo ocupado. De início, o que era pra ser um mês afastado das aulas presenciais na Universidade, virou meses. Ficamos um bom tempo parados, esperando que o vírus fosse contido e a nossa rotina fosse retomada. Infelizmente isso não aconteceu, os casos de infectados e mortos não paravam de aumentar.

E de um jeito ou de outro, tudo tinha que funcionar, pois nada poderia parar totalmente, mesmo com o risco de contrair o vírus. E a universidade era uma delas. A princípio, muitos gostaram da ideia de poder estudar e assistir às aulas on-line ou gravadas no conforto das suas casas. Mas, nem todos tinham esse privilégio de assistir no conforto da sua casa, pois às vezes lhes faltava o essencial para estudar. E não estou falando de livro, caderno, caneta ou algo do tipo, e sim da internet. Acredito que não só eu (Gabriel S.) mas muitos alunos da UFS, enfrentaram problemas com a conexão ao longo desse período de aulas remotas. Mesmo com todo o apoio da instituição em distribuir chips com internet, bolsa para comprar equipamentos para auxiliar no estudo, como tablets e notebooks, ainda sim existe a deficiência do ensino na parte prática. O curso de jornalismo e tantos outros cursos da UFS, necessita da parte prática.

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Apenas a teoria não é suficiente. Esses períodos foram de aula remota, foi de muita superação, pois usamos aquilo o que tínhamos de melhor para poder suprir com os desafios que nos eram repassados. Um exemplo disso é a falta de prática em softwares de edição de áudio, imagem e vídeo. Nem todo computador aguenta o GB de um programa mediano, e isso acaba impactando na execução do trabalho e na aprendizagem. O modo como estava sendo aplicado o ensino teórico estava bom, visto as condições que tínhamos até aquele momento. O que ficou devendo mesmo foi a parte prática. A pandemia mostrou que estudar de forma remota nem sempre será vantajoso, principalmente quando o ambiente de estudo não te favorece. Em cidades do interior, sempre vai ter muita poluição sonora para atrapalhar a concentração na aula ou na leitura. Sem falar das atividades que exigem gravação em áudio ou em vídeo. Durante o dia é quase impossível gravar pois volta e meia passa um carro de som, vizinhos com som alto, pessoas na sua própria casa conversando, enfim, é bastante complicado.

Mas nada que o esforço e a dedicação não possa superar

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Distrações de uma rotina remota James Santos

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28 de novembro de 2019, 6:00 - Acordei de repente com o barulho do alarme e imediatamente pulei da cama e fui me preparar para sair de casa e chegar na universidade a tempo. Preciso sair daqui à uma hora, então faço tudo com agilidade, pego minha bicicleta e vou embora.

28 de novembro de 2021, 6:00 - ... 28 de novembro de 2021, 7:00 - O alarme tocou. Pego o celular e desligo. O dia está chuvoso, será que ainda tenho mais algum tempo na cama ? A primeira aula do dia começa daqui a uma hora, acho que quinze minutos não faz mal. 28 de novembro de 2019, 7:10 - Para não chegar tão atrasado, pedalo com toda a força quando chego na ciclovia. Hoje o trânsito estava péssimo. Às pressas guardo a bike no bicicletário e corro em direção ao departamento. Com suor escorrendo na testa, abro a porta da sala e o professor diz: - bomdiaturma! 28 de novembro de 2021, 8:10 - Na mesma mesa onde acabei de tomar o café da manhã, abro o notebook para assistir a aula. Hoje dei sorte, o professor da minha irmã cancelou a aula e vou conseguir usar o pc, um pouco melhor que o celular. Depois de uma espera de 15 min no aguardo dos estudantes entrarem na sala virtual, a aula começa.

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28 de novembro de 2019, 8:30 - O professor explica o assunto e presto atenção. 28 de novembro de 2021, 8:40 - Nos meus fones de ouvido o professor explica o assunto. Mas, estou prestando atenção na aula, no jornal que está sendo exibido na tv, no meu vizinho que pediu um favor, nos correios que enviaram um pacote, no meu whatsapp, e na demanda que tem que ficar pronta para o estágio.

28 de novembro de 2019, 10:30 - O primeiro horário acabou e ainda tenho um tempinho para respirar antes que a próxima aula comece. 28 de novembro de 2021, 10:30 - A aula síncrona finalmente acabou. Minha cabeça dói por causa do contato constante com as telas, mas ainda tenho que ficar encarando o celular para diminuir a carga de atividade que ficou acumulada.

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O único caminho João Vitor Figueiredo

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Quando as aulas paralisaram por conta do início da pandemia, a expectativa que eu e tantas outras pessoas tinham é que seria algo passageiro e que retornaríamos em breve. Ficou só na esperança. Entre março e agosto de 2020, com as atividades da Universidade paralisadas, só restou o ócio e a dúvida. Como vamos dar continuidade às atividades durante o período de pandemia? A solução era mesmo o ensino remoto. Confesso que no início eu não gostei muito da ideia. Primeiro, ter que assistir aula por computador, com receio da internet oscilar ou cair, não me agradava. E tem mais. Voltei para casa dos meus pais durante a pandemia sem a mesa para colocar o computador. Resultado: vamos improvisar. Até que deu certo. Outras coisas que me desanimavam era não poder ter contato direto com colegas e professores ou não poder fazer da melhor forma atividades essencialmente práticas. Sem contar as dificuldades que poderiam surgir ( e surgiram ) durante o processo. Será que alunos e professores conseguiriam se adaptar bem a essa dinâmica? As aulas seriam produtivas?

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Apenas alguns questionamentos.

Desde então foram três períodos. Não dá nem para usar a palavra semestre porque tudo isso ocorreu em apenas um ano e dois meses. E durante este tempo, passamos a fazer as obrigações dentro de uma rotina sem novidades, desgastante e pouco motivadora. Acorda, liga o computador ou celular, assiste às aulas (ou assiste depois a aula gravada), dá uma pausa e depois volta a olhar para as telas por conta da pilha de trabalhos e atividades que precisavam ser feitas.

Um ciclo que parecia não ter fim, pois todo dia a mesma coisa. Foi necessário ter muita disciplina e paciência para encarar, afinal, dentro das possibilidades, era o único caminho a seguir, mesmo com as pedras. No final, o tempo não desperdiçado vai valer a pena.

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Quadro de Cortiça Jonas Peixe

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Na maioria das vezes, eu encontrava segurança em ter uma rotina bem estruturada e rígida, mas com o passar do tempo e com a impossibilidade de uma vida normal na pandemia, tudo isso foi se tornando entediante. Eu poderia citar todos os métodos que criei e como eles funcionavam, tudo na intenção de não surtar totalmente com a realidade. Viajo facilmente do “Amanhã tenho que acordar às 04:30, para conseguir ler, tomar um chá, escutar uma música e ser muito produtivo” ao “Nossa, eu não ouvi meu despertador tocar às 08:00”.

Definitivamente, passar mais de oito horas olhando para a tela do meu computador não é uma das minhas tarefas favoritas. Mas as obrigações estão ali para serem cumpridas. O que muda tudo (ou não) é a forma como encaramos tudo isso. Vamos agora para um dia em que acordei às 07 horas da manhã. Tenho uma hora para revisar minhas tarefas, tomar café, escovar os dentes e organizar minimamente o espaço em que fico. Ser criativo para escrever e trabalhar enquanto olho para a parede branca à minha frente não é nada fácil. Por isso, percebi que tinha a necessidade de estampar algo à minha frente. Comprei dois quadros de cortiça, um para mim e outro para meu namorado, que à propósito divide comigo o escritório, que nas horas vagas também é o quarto do nosso cachorro.

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Nesse quadro, decidimos adicionar recortes de coisas que realmente gostaríamos de visualizar, para o presente e futuro. Imprimi uma foto de natal da série ‘Modern Family’ (minha série favorita) para lembrar o quanto ainda quero viver um natal tradicional norte-americano, um crachá da Rede Globo com minha foto e nome nele, uma foto do escritório do BuzzFeed, algumas frases de motivação em inglês e um calendário que nunca uso. Inclusive, ele está em branco e é de dois meses atrás. Depois de um tempo, parei de observar o que tinha colocado no quadro, assim como tudo que se torna obsoleto em rotinas. Mas gosto de quando me pego de surpresa lendo “Allow Yourself to grow (Se permita crescer)” ou “Everything is a Learnable Skill (Tudo é uma habilidade que pode ser aprendida)”.

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Um alarme e um dia que duram 25 horas

Maria Franciele 41


A caneta começa a falhar, as folhas do caderno que comprei antes disso tudo começar estão todas preenchidas e o que me resta é abrir um arquivo no notebook. Coloco vários alarmes para não perder nada, checo várias e várias vezes o aplicativo sala de aula, envio atividades e sem perceber, dois minutos depois, cá estou eu trabalhando no próximo texto, no próximo roteiro e pensando na edição daquele trabalho final de audiovisual. Quando as coisas começaram a ficar tão no automático? Todo dia seguindo a mesma rotina. Todo dia acordando no horário da aula. Todo dia fazendo anotações da aula. Todo dia a mesma preocupação de sempre: quando isso tudo vai acabar? Viver no automático me fez perceber que perdi três períodos do curso porque não consegui absorver tudo nesse método do ensino remoto. Agora tenho a falsa sensação de que é minha obrigação não parar de produzir, não parar de procurar projetos para colocar no currículo, afinal: eu só estudo. Mas será que isso seria um só? Isolada no quarto, de olho nos trabalhos da manhã até a madrugada, me deslocando da escrivaninha para a mesa da cozinha porque não consigo me concentrar num ambiente só por muito tempo, passar horas e horas pensando o que mais pode ser feito, porque a sensação de estar em casa trancada causa o pensamento de não estar fazendo nada de útil para o seu futuro.

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Sufocante. Essa seria a melhor palavra para descrever a situação, mas não se distancia tanto do ano de 2019, onde comecei o ensino superior. Desde cedo, três ou quatro anos de idade, para ser exata, somos colocados para estudar, estudar e estudar, depois disso torcer para passar na faculdade (porque senão vão pensar que eu não tenho planos para o futuro) e depois passar horas e horas lutando para conseguir um emprego na área que faz o diploma ter algum sentido, por mais básico que seja o cargo.

Apesar de toda essa loucura, acho que aos pouquinhos a gente precisa desacelerar e parar para apreciar a vista do caminho que estamos fazendo. Por mais demorado que seja tentar sair dessa bolha.

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Adaptações de uma estudante em mudança

Maria Leticia 44


Era um dia de aula normal, seguia minha rotina de estudos. Até que vi em uma rede social um assunto novo que poderia render uma boa pauta para uma disciplina, contudo quando cheguei na faculdade e todos falam daquele mesmo assunto, era um vírus novo, que teve seus primeiros indícios na China.

Imaginei que aquilo nunca iria chegar até o meu país, mas chegou. A pandemia causada pelo novo coronavírus ou covid-19 denominado SARS-CoV-2, o vírus chegou como uma avalanche e afetou a todos de forma, tenha simultâneas, colégios foram fechados, empresas, órgãos públicos e entre outros, mas qual alternativa iria ser selecionada para diversos alunos de colégio ou faculdade, surge então uma modalidade de ensino até então pouco conhecida, o ensino remoto. Este novo modelo se deu principalmente devido a pandemia da covid-19, pois até então era algo pouco divulgado, foi neste momento que a ficha caiu, eu não iria mais para a universidade e todo cuidado era pouco naquele momento. As rotinas de estudo de todos foram mudadas, minha casa sempre foi desorganizada e sempre tinha visita, parentes e muito barulho, afinal é uma casa de vó. Tive que arrumar um cantinho mais sossegado para poder assistir às aulas de forma remota, esse cantinho logo se tornaria meu universo particular.

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Com o passar dos meses nossa família foi se adequando a tudo aquilo que estava acontecendo, afinal era novo para todos, com isso houve a necessidade de trazer uma mesa que antigamente era usada como mesa de jantar para o nosso quarto, pois divida ela com meu irmão então era necessário ser grande para os dois estudarem, o processo de adaptação foi longo, sei que seria difícil para nossa família, mas nada que o tempo não resolva e que bom que ele resolveu. Meu irmão voltou ao ensino presencial, entretanto continuo com o formato a distância, entre altos e baixo sigo nesse novo formato de ensino, nessa nova ambientação e encarando os novos desafios

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Todo dia nesse mesmo lugar Marina Meneses

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Acordo, sento na minha escrivaninha, agora mais conhecida como sala de aula, ligo o computador e a aula começa. É difícil acompanhar o professor, pois, sempre imagino a sala de aula da UFS, com suas peculiaridades e estudantes ao meu redor, também reflito que há professores que nunca viram o meu rosto, nem sequer a minha voz, só um nome na tela do computador.

Todo dia é a mesma coisa, no mesmo lugar, de manhã meu quarto é a UFS, à tarde meu local de estudo, e a noite “volto” para casa sem mesmo ter saído do lugar. Sempre soube que a faculdade iria ser um desafio, mas sempre encarei esse estímulo com pessoas incríveis do meu lado, que estavam na mesma sintonia que eu, lembro dos meus amigos na UFS, comprando salgadinho de um real enquanto esperávamos cópias de apostilas. Hoje, isso parece ser um passado muito distante, e sem pretensão de acontecer novamente, nem mesmo a ideia de voltar para a universidade. A verdade é que aprender está sendo algo exaustivo, sem sentido, o que leva a insegurança e a

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desmotivação. Além do mais, faz você questionar a sua vida acadêmica toda, e se vale a pena viver o transtorno do ensino superior, àquele com que deveria servir de aprendizado e de experiências inesquecíveis.

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Um lugar para estudar Mirela Souza 50


Com a pandemia e o cenário quase apocalíptico que está instalado, parecia-me não fazer sentido algum estudar nesse momento que poderia ser último, aliás. Mas mesmo assim, estava lá há 2 anos terminando trabalhos acadêmicos. O que parecia ser algo provisório, é uma realidade até hoje - estudar em casa. Ironicamente, sempre ouvi de professores "não quer estudar, fica em casa". Realmente, tudo se modificou num intervalo muito curto e, claro, todo mundo sentiu isso. Saí do Rosa Elze e voltei a morar com meus pais na roça. Aí minha primeira barreira: estudar num local onde a internet era escassa. Então, depois de 2 meses de frustração percebi que não poderia ficar ali. Peguei um avião. Pisei em Minas Gerais. Lá morei por alguns meses. Quanto a minha rotina de estudo, quase nunca era atrapalhada e foi lá que tomei gosto pelo ensino remoto. Excluindo as aulas práticas, todo resto é bem mais confortável estudar em casa, quando se tem uma. Porém, tudo tão instável quanto qualquer coisa nesse momento, voltei para Sergipe de novo. Tive que me adaptar a um novo local de estudo. Fiquei cerca de 4 meses na casa da minha tia. Então, mais um novo ambiente de estudo para se adaptar. Dessa vez, numa casa com 6 pessoas e um cachorro. Embora estivesse perto de pessoas da família, sentia-me angustiada. Parecia não fazer parte deles e , de fato, não fazia. Todo dia a ansiedade me fazia questionar os motivos de querer continuar estudando nesses moldes. Longe de casa há tempos, não sabia mais o que era um afeto.

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Mas a saga por um local não terminou, atualmente moro com meu tio. É na mesa da cozinha que acompanho as aulas. E tudo apesar de mudar, não mudou. Sinto o mesmo desespero velado. Se eu pudesse estar em casa, eu com certeza iria adorar o ensino remoto. Não preciso pentear o cabelo, usar roupas desconfortáveis e nem preciso me deslocar para outro local.

Como poderia não gostar? Minha maior dificuldade não é estudar em casa, mas ter uma casa para estudar.

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O surgimento das incertezas Nivea Stela Silva Xavier 53


Um misto de incertezas começou a surgir em março de 2020, algo que não se esperava por muitos brasileiros viver essa realidade ao qual uma parte do mundo já estava vivenciando. A pandemia de coronavírus (COVID-19) mudou a rotina de toda a população, o ir e vir nos lugares públicos se tornou algo distante de realizar, utilizar máscaras e fazer o distanciamento social manteve necessário, com a finalidade de diminuir a contaminação do vírus. Assim, algo que era normal e rotineiro virou raro, como por exemplo, ir à universidade, milhares de estudantes e professores saíram da sala de aula física e foram para a sala de aula virtual. Coma ajuda da tecnologia, as aulas passaram a ser virtuais, as universidades buscaram rapidamente se adequar à nova realidade, muitas disponibilizando auxílios com a destinação de adequar os alunos que não possuem uma certa estabilidade financeira, que tem dificuldades com aparelhos tecnológico para assistir as aulas e uma internet para a conexão. De certa forma, foi desafiador todo esse processo, uma luta diária com as incertezas do que seria ao passar do tempo, o desgaste psicológico, o foco nos estudos e entre outros diversos impasses. No primeiro mês, mesmo sendo algo muito distinto da nossa realidade, acreditava-se que seria algo bastante passageiro, mas foi passando o tempo, dias, meses até chegar em ano e muita coisa não saia do lugar. A cada perfil de um aluno no visor das aulas, existe histórias que de certa forma foi afetada por esse transtorno, pessoas que perderam parentes e amigos, ficaram internadas, contraíram o vírus, ansiedade, depressão, fobias, surtos e entre outros diversos problemas.

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Particularmente, foi algo desafiador contra eu mesma, estar lidando com uma luta diária contra as incertezas, como iria ser nos próximos dias, sempre com uma esperança de tudo voltar ao normal. Em relação as aulas remotas, estar diariamente em frente a um celular ou computador era algo extremamente difícil, sem o contato físico no ambiente, algo que nunca tinha vivenciado antes, sempre estive presente nas aulas presenciais, já era parte da minha rotina por anos e anos. Logo, o começo foi de certa estranheza, mas ao passar do tempo fui acostumando e passei a entender que devo encaixar naquilo que é necessário, e por fim, como muitos dizem, estamos vivendo um novo “normal”.

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Meu local de estudos Pamela Stefani

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Notebook velho, meu guerreirinho, mesa desgastada e levemente manchada, cadernos, livros, canetas, água e café. Meu cantinho de estudos é simples e tem sido usado dessa forma há anos desde que entrei para a faculdade. Lembro-me que na época do vestibular as paredes eram cheias de post-its com anotações para não esquecer a matéria para o vestibular. Sonhava em ser uma boa profissional e ter a liberdade financeira que tanto almejo na vida. Esse cantinho de estudos me traz a segurança de que, aqui, tudo pode se tornar realidade, ao sentar para estudar. Planners, organizadores, palavras e mais palavras fazem parte desse canto do meu quarto.

Um dia ele se transformará num escritório, sonho eu.

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Aprendizagem, ensino remoto, ambientação Sabrina Hillary 58


As semanas com as aulas remotas parecem passar mais rápido do que com as aulas presenciais, além de surgir uma demanda maior em relação aos trabalhos da faculdade, mais obrigações em casa e na família também. As aulas dessa forma exige de um extremo esforço, já começa com a dificuldade de levantar da cama, quando na verdade tudo o que eu queria era assistir as aulas deitada, mas sabendo que se isso acontecer acabo dormindo durante a explicação do professor na chamada, outra grande dificuldade é em relação a família em casa, resolvem conversar, fazer alvoroço e toda concentração da aula é perdida.

O ensino remoto vem junto também dos barulhos dos vizinhos e outras diversas distrações. O dever de concentrar toda essa atenção na aula, de fato não é uma tarefa nada fácil, mas sabendo de toda a importância para não perder o ano, a matéria ou deixar passar aquele trabalho avaliativo, que mantenho o foco. E não basta concentrar só na vida acadêmica, às vezes surge a curiosidade de tentar decifrar a rotina do professor também, que deve ser, levantar da cama, ligar seu computador e começar a falar para nossa turma, observando cada pessoa reagindo de maneiras diferentes com ele.

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Qual será a sensação em vê seus alunos dessa forma? Um que está com a cabeça baixa usando o celular, outro que está com câmera e microfone desligados, o que aparece para citar qualquer coisa só para deixar claro ao professor que participou, a que está olhando para ele, mas não interage em nada, tem também a que está com pijama e comendo enquanto vê ele explicar e o restante da turma que está fora da câmera. Ainda assim, o professor faz o possível para manter a aula dinâmica e prender todas as atenções ali.

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Quando o querer é poder – uma crônica sobre ensino remoto e isolamento sociaL Taís Félix 61


Nunca pensei que o ditado popular de que “a boca tem poder” se tornaria tão verídico como foi em 2020 e segue sendo em 2021. Em anos anteriores, lembro-me de várias vezes ao dia soltar que o meu sonho era estudar à distância e trabalhar em home office. Que tolice a minha. A pandemia chegou, o isolamento social começou e os meus dias em casa nunca mais foram os mesmos. A paz que o meu quarto transmitia começou a me atormentar. A série que eu amava se tornou insuportável. O curso de jornalismo, que era tão prático e eu reclamava tanto, ficou monótono e eu não aguentava mais acordar e ter que abrir o Google Meet e fingir assistir à aula. Meu trabalho, local que eu lidava com mais de cem idosos, e havia dias em que eu jurava que iria enlouquecer, acabou se restringindo às reuniões intermináveis pelo computador e a minha chefe me ligava a qualquer hora do dia, de domingo a domingo. Como podem ver, o tão sonhado home office, de home não tinha nada, só office, mesmo. Com o passar dos meses eu até consegui me acostumar melhor com a dinâmica do virtual, mas me custou muito. Principalmente pelo fato de eu já não ser uma pessoa tecnológica, sempre fui um pouco aversa às redes sociais e seus derivados.

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No entanto, ao me ver obrigada a aderir a nova realidade, como boa canceriana que sou, me organizei e planejei melhor as minhas horas diárias. Estabeleci limites no meu emprego e decidi diminuir as disciplinas na UFS, porque o ensino remoto é extremamente complicado.

Os assuntos que eram tão interessantes se tornaram entediantes e estar parada numa tela de notebook não ajuda em nada na aprendizagem. Digo isso com propriedade. Tirando toda a negatividade citada, o que teve de positivo em estar em isolamento social foi poder me dedicar mais à minha escrita e ler durante o tempo que eu gastava com deslocamento, mas eu juro que até do ônibus eu sentia falta. De fato, não me adequei ao ensino remoto e tão pouco ao home office. A saudade da sala de aula, do barulho das conversas e dos debates entre alunos e professores é grande. Amo a minha casa, mas só como local de chegada, como de vivência, jamais.

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Onde posso estudar em paz Tatiane Macena

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No ano de 2019, a sociedade mundial foi surpreendida com um vírus letal e desconhecido. O novo coronavírus ou Covid19, veio para mudar a vida de toda a população mundial, inclusive a minha. As modificações feitas por causa do covid-19 não foram nada boas, pois o planeta estava mais uma vez, diante de uma pandemia. O primeiro alerta foi dado pelo governo chines em 31 de dezembro de 2019, e a partir dali o vírus foi se espalhando rapidamente, e por isso a Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o surto em 20 de janeiro como emergência mundial, que se configura em uma pandemia, enfrentada até hoje. Junto com a pandemia, vieram os cuidados sanitários, que incluem proibições, as quais desencadeiam inseguranças. As medidas para enfrentamento do covid-19 englobam, higienização das mãos, uso de máscaras e distanciamento social, para que não haja aglomeração. Consequentemente, locais de trabalho, lazer e estudo foram fechados temporariamente, com isso, a minha antiga dor de cabeça, o ensino remoto começou. Sem dúvidas, o ensino à distância no período pandêmico, ajudou quando possibilitou que o processo educacional fosse, ainda que com limitações, continuado. No entanto, também trouxe à tona realidade distinta dos alunos. Enquanto alguns desfrutam do conforto de suas casas e têm à disposição os melhores equipamentos e internet ilimitada, outros gozam de problemas familiares, desencadeados pelo isolamento social e barulho de sobra, como era o meu caso.

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Quando se deu o início do ensino remoto pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), eu vivia com minha mãe, minha irmã, meu irmão e uma enxurrada de sobrinhos, por isso não conseguia estudar direito, afinal quando não havia choro de criança tinha brigas. Além disso, a minha mãe não entendia o porquê de eu precisar “perder tanto tempo na tela de um computador”, e segundo ela, “fazer subir o valor a conta de luz”. Ademais, tinha que aturar o meu irmão fazendo questão por eu estar usufruindo do computador dele, que depois de um tempo ele não me deixou mais usar. Graças a Deus, com um tempo, consegui um auxílio da UFS, para comprar o equipamento e usar enquanto for vinculada (ainda que não seja meu, me sinto aliviada e feliz por não ter que dividir com ninguém), e depois de um tempo, sai daquela casa, pois não estava dando pra manter a sanidade mental, estudar e morar ali ao mesmo tempo. Então juntamente com meu namorado, aluguei uma casa simples, porém tranquila, onde posso estudar em paz.

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Uma rotina desgastante Yure Sales Pio

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Uma rotina desgastante e um sono desregulado. A rotina de um universitário em um ano atípico e com mais baixos do que altos. Acordar, olhar para o computador, não como um momento de lazer, mas de obrigação já pensando na primeira matéria do dia, todos os dias pensando apenas no final dele. Com as aulas não exigindo mais obrigação em questão de presença e podendo ser assistidas a qualquer momento, isso acaba sendo postergado aos poucos, chegando cada vez mais ao limite de tarefas e da exaustão mental. É uma provação a cada dia, enquanto no estudo presencial tinha as conexões humanas, o conhecido Moura, ponto de encontro com os amigos, o Resun, toda essa leveza foi perdida com a chegada do Ensino Remoto. Cada vez menos atenção e aprendizagem defasada, o retrato do ensino remoto que tenta mitigar os efeitos da pandemia, porém, não consegue passar uma experiência completa do “cara a cara” que se tem na universidade.

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LADO DE DO LA NTRO DENT O DE DO LA NTRO DENTR



Articles inside

23. Uma rotina desgastante

1min
pages 74-77

19. Meu local de estudos

1min
pages 63-64

18. O surgimento das incertezas

2min
pages 60-62

22. Onde posso estudar em paz

2min
pages 71-73

ensino remoto e isolamento social

2min
pages 68-70

ambientação

1min
pages 65-67

17. Um lugar para estudar

1min
pages 57-59

16. Todo dia nesse mesmo lugar

1min
pages 54-56

em mudança

1min
pages 51-53

14. Um alarme e um dia que duram 25 horas

1min
pages 48-50

11. Distrações de uma rotina remota

1min
pages 39-41

10. Para Ressignificar vidas

2min
pages 36-38

13. Quadro de Cortiça

1min
pages 45-47

12. O único caminho

1min
pages 42-44

09. O computador, meu amigo

2min
pages 33-35

08. Ensino Remoto

1min
pages 31-32

Aprendizagem, ensino remoto

1min
page 27

Certa manhã acordei de sonhos

1min
page 13

Aprendizagem, ensino remoto

1min
page 14

03. Tempo, tempo, tempo, tempo, paciência

2min
pages 15-18

intranquilos

1min
pages 25-26

01. Concentra, o futuro não demora

2min
pages 8-10

Método de apresentação durante

1min
page 11

o ensino remoto

1min
pages 19-21
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