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14. Um alarme e um dia que duram 25 horas

Um alarme e um dia que duram 25 horas

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Maria Franciele

A caneta começa a falhar, as folhas do caderno que comprei antes disso tudo começar estão todas preenchidas e o que me resta é abrir um arquivo no notebook.

Coloco vários alarmes para não perder nada, checo várias e várias vezes o aplicativo sala de aula, envio atividades e sem perceber, dois minutos depois, cá estou eu trabalhando no próximo texto, no próximo roteiro e pensando na edição daquele trabalho final de audiovisual. Quando as coisas começaram a ficar tão no automático?

Todo dia seguindo a mesma rotina. Todo dia acordando no horário da aula. Todo dia fazendo anotações da aula. Todo dia a mesma preocupação de sempre: quando isso tudo vai acabar? Viver no automático me fez perceber que perdi três períodos do curso porque não consegui absorver tudo nesse método do ensino remoto. Agora tenho a falsa sensação de que é minha obrigação não parar de produzir, não parar de procurar projetos para colocar no currículo, afinal: eu só estudo.

Mas será que isso seria um só? Isolada no quarto, de olho nos trabalhos da manhã até a madrugada, me deslocando da escrivaninha para a mesa da cozinha porque não consigo me concentrar num ambiente só por muito tempo, passar horas e horas pensando o que mais pode ser feito, porque a sensação de estar em casa trancada causa o pensamento de não estar fazendo nada de útil para o seu futuro.

Sufocante. Essa seria a melhor palavra para descrever a situação, mas não se distancia tanto do ano de 2019, onde comecei o ensino superior. Desde cedo, três ou quatro anos de idade, para ser exata, somos colocados para estudar, estudar e estudar, depois disso torcer para passar na faculdade (porque senão vão pensar que eu não tenho planos para o futuro) e depois passar horas e horas lutando para conseguir um emprego na área que faz o diploma ter algum sentido, por mais básico que seja o cargo.

Apesar de toda essa loucura, acho que aos pouquinhos a gente precisa desacelerar e parar para apreciar a vista do caminho que estamos fazendo. Por mais demorado que seja tentar sair dessa bolha.