Revista GPS Brasília 30

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ANO 10 « Nº 30 « 2021

A JUSTIÇA É FEMININA O RETRATO DO JUDICIÁRIO NO DF E A PERFORMANCE DAS MULHERES NESTE PODER. A TRAVESSIA DA MINISTRA MARIA CRISTINA PEDUZZI, DA DESEMBARGADORA MARIA DO CARMO CARDOSO E DA ADVOGADA FERNANDA HERNANDEZ RUMO À EXCELÊNCIA DE SEUS CARGOS NAS DECISÕES QUE ENVOLVEM A VIDA CIVIL DOS CIDADÃOS


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Diretora de Conteúdo Paula Santana Editora-chefe Marcella Oliveira Editora de Criação Chica Magalhães Fotografia Celso Junior Produção Executiva Karine Moreira Lima Pesquisa de Imagens Enaile Nunes Reportagem Daniel Cardozo, Eric Zambon, Giovanna Pereira, Morillo Carvalho, Paula Beatriz, Pedro Ângelo Cantanhêde, Roberta Pinheiro e Theodora Zaccara Colaboradores Bruna Araújo, Bruno Cavalcanti, Edinho Magalhães, JP Rodrigues, Isadora Campos, Luara Baggi, Maria Thereza Laudares, Mário Rosa, Maurício Lima, Patrícia Justino e Raimundo Sampaio Revisão Jorge Avelino de Souza Diretor Executivo Rafael Badra Gerente Comercial Will Madson Contato Publicitário José Roberto Silva Tiragem 30 mil exemplares Circulação e Distribuição EDPRESS Transporte e Logística

GPS|BRASÍLIA EDITORA LTDA. www.gpslifetime.com.br SÓCIOS-DIRETORES RAFAEL BADRA PAULA SANTANA SHIN CA 04 Bloco A lojas 147/148 Shopping Iguatemi Brasília – Lago Norte CEP: 71.503-504 – Brasília-DF Tel.: (61) 3364-4512 | (61) 3963-9003



EQUIPE

Chica Magalhães

Marcella Oliveira

Karine Moreira Lima

Celso Junior

Enaile Nunes

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Pedro Ângelo Cantanhêde

Paula Beatriz

COLABORADORES

Bruno Cavalcanti

Daniel Cardozo

Eric Zambon

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Luara Baggi

Morillo Carvalho

Roberta Pinheiro

Theodora Zaccara

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ANO 10 – Nº 30 – JUN/JUL/AGO

A capa foi realizada no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Foto Celso Junior. Banqueta Ametista por Ilmar Dressel para a Breton

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AS QUATRO FACES DO PODER

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MISSÃO: A JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS

O Palácio da Justiça e suas belezas

Uma entrevista com o ministro Anderson Torres

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O PLEITO ESTÁ SÓ COMEÇANDO

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FUTURO DO PRESENTE

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UM CÔNSUL NA ADVOCACIA

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ÍCONES POR ISADORA CAMPOS

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ARTIGO POR NELSON WILIANS

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A LUZ QUE NOS PROTEGE

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QUINHÃO 16, TERRA HABITADA

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ARTIGO POR EDINHO MAGALHÃES

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A TERRA DO SOL NASCENTE

A trajetória de figuras femininas do Judiciário O voto impresso e os 25 anos da urna eletrônica

68

Embaixador e a relação amistosa com o Brasil

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ARTIGO POR MÁRIO ROSA

74

ATÉ QUANDO ESPERAR

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MILTINHO CANTA, COMPÕE, TOCA E... ASSOVIA

O ESG e a pandemia

Edison Garcia comenta os rumos da CEB A história do futuro bairro da capital

Política na pandemia: tempos estranhos

A Embaixada do Japão abre suas portas

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A verdade faz ou desfaz o que é a gente Turismo de Brasília ganha a Rota do Rock

A carreira do multi-instrumentista Milton Guedes

João Paulo Todde e a República Dominicana Os justos além da Ordem

ENTRE A SABEDORIA E A GENTILEZA

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NÃO EXISTE MADRUGADA SEM PAULINHO

O produtor celebra 25 anos de sucesso

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A VERVE DO EMPREENDER

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ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

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(R)EVOLUÇÃO EM FAMÍLIA

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APERFEIÇOAR O NATURAL

Ruskaya Zanini e os desafios na Fields 360 O trabalho da arquiteta Laísa Carpaneda O legado da imobiliária Aguiar de Vasconcelos Milena Carvalho defende beleza sem excesso


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A ANALOGIA DO BELO

Harmonização facial pelas mãos de Marcela Suman

100 ADEQUAR O ROSTO COM O TEMPO

A Implantec e o trabalho em odontologia e estética

102 ARTIGO POR MARCELO AUGUSTO MACHADO O universo da harmonização facial

104 LUMINU: O CUIDADO DOMICILIAR

A importância de se falar em procedimentos paliativos

108 UN VERO SPETTACOLO GRAFICO Editorial de moda masculino por Dolce&Gabbana

122 MERGULHAR NO TEMPO

A água é fonte de inspiração para a Panerai

I24 IRIS APFEL, CEM FILTRO

O centenário de um ícone do mundo da moda

126 TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES

Um olhar sobre a história da moda japonesa

129 DEPOIS DE UM LONGO INVERNO... A PRIMAVERA O desabrochar da collection da Louback Maison

130 ENTRE NÓS POR PATRÍCIA JUSTINO Decoração, moda e itens para desejar

132 UMA FORTALEZA FASCINANTE

Os setenta anos da Bienal de São Paulo

136 NUNCA MAIS FOI COMO ANTES

Destaque no centenário da Semana de Arte Moderna

138 O SÓLIDO MIMETISMO A ressignificação da arte

140 UM BAILE TRAÇADO

Os 30 anos de carreira da pintora Cris Conde

143 ENTRE A CULTURA, A NATUREZA E O ABISMO Exposições exaltam o verde, a arte e a arquitetura

144 ARTE POR MAURÍCIO LIMA

Tom escandinavo: as cores de Mai-Britt Wolthers

146 MERAVIGLIOSO

Juscelino Pereira e a chegada do Piselli em Brasília

148 A PURA LINHAGEM DA CULINÁRIA

Cristiano Koniya e a tradição do New Koto

151 ENTRE CAMPONESES E CHEFS

Guia Michelin, agricultores e alta gastronomia

152 PARADISE À BEIRA LAGO

Sabores brasileiros no menu do Cafe de La Musique

153 UM OÁSIS DE SORRISOS

Tauá, um resort para relaxar pertinho da capital

154 PARA CHARLOTTE, COM AFETO Lenços Dior com obras do artista italiano Pietro Ruffo

Gastrospot exalta a mulher e os costumes britânicos

156 EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA

Um guia incrível sobre o Japão e suas belezas

159 A HERANÇA DO NOVO

A beleza do Mandarin Oriental na praia de Jumeirah em Dubai

160 A ERA DO ALTO LUXO ATEMPORAL

O Rosewood Le Guanahani de St.Barth alia luxo e bem-estar

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EDITORIAL

SER JUSTO, UMA FORMA DE AFETO

A

Paula Santana

Rafael Badra

vida esteve reversa. Em descompasso. O tempo correu, o mundo parou. A mente ansiava, enquanto o corpo cessava. Nessa travessia, falou-se em empatia, definiu-se propósito. Competência tornou-se sinônimo de sobrevivência. Tormentas foram geradas diante de fragmentos que se transfiguraram em possibilidades. Problemas relacionais, questões existenciais. E assim a vida tem se tornado memorial... tudo tem sido tão breve. O novo também é passageiro. Ao longo dessa “peste”, parafraseando Albert Camus, holofotes tornaram-se velas. E o simples, a essência. E da essência, a verdade. E na verdade, o correto. E do correto, o justo. E no justo, fez-se a Justiça. E Justiça é substantivo, mas pode ser verbo... eu justiço, tu justiças. Fato é que a justiça é palavra feminina, apesar de originalmente ter sido feitio de homem. Desembarcamos em dois séculos atrás, quando, antes mesmo de ser criada a República,1822, erguia-se a primeira instituição do País, a Secretaria da Justiça, atualmente ministério. Celebremos, pois, este bicentenário. Cem anos se passaram e nasceu Iris Apfel, tecelã de alto garbo que cruzou o século com seu maximalismo na alma e no estilo. Ainda vivíssima, influencia gerações mundo afora. Nesta época, surgiam Anitas (Malfatti) e Tarsilas (do Amaral) rompendo com a influência europeia na arte brasileira. Era a Semana de Arte Moderna, também centenária, 1922. Avançamos um pouco mais e chegamos nos 80 anos de outra Justiça, a do Trabalho, fundada por Getúlio Vargas, 1941, promovendo uma enorme revolução social. Celebrada atualmente por uma mulher, Maria Cristina Peduzzi, a 16 « GPSLifetime

primeira presidente de tal corte. Uma década a mais e consagramos a cultura brasileira com a Bienal de São Paulo, 1951, onde curadoras e artistas somam maioria. Sim, enquanto o mundo gira, as mulheres claramente avançam. Haja vista as Olímpiadas do Japão, onde quebramos o recorde de medalhas conquistadas. Muito bom... tantas performances notórias que não extrapolam o Dia Internacional da Mulher, quando ganhamos flores e bombons. Por onde andam políticas públicas e incentivos diversos que assegurem igualdade formal e a participação feminina nos cargos de decisão? Chegamos na capa. Em mulheres que no exercício da Justiça influenciam a transformar cada obstáculo num convite sobre o que tem se revelado o pilar sustentador da nossa vida. Justo, justíssimo. São nossas estrelas, a ministra Maria Cristina Peduzzi, a desembargadora Maria do Carmo Cardoso e a advogada Fernanda Hernandez. Mulheres que nos alegram. Casadas, viúvas, divorciadas, elas têm representatividade feminina na hierarquia de suas classes. Entenderam que o caminho passa pelo coletivo, pelo correto, pela compaixão. E não se mutilaram da maternidade ou da família. Nos ensinam que cada escolha fala sobre o que transita dentro de nós. E com a humildade de sábias e virtuosas, encontram o desfecho da vida em Salmos 11: “Pois o Senhor é justo e ama a justiça, os retos verão a sua face.”



HISTÓRIA

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AS QUATRO FACES DO PODER

O SALÃO NEGRO IMPÕE, A ARQUITETURA INTRIGA, OS JARDINS ENCANTAM, A BIBLIOTECA ACOLHE A VASTA HISTÓRIA DO PAÍS. ESTE É O PALÁCIO DA JUSTIÇA, A OBRA-PRIMA DE ELEVADA ESTIMA DE OSCAR NIEMEYER POR DANIEL CARDOZO « FOTOS CELSO JUNIOR

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Vista do gabinete do ministro

Q

uatro faces distintas, cascatas de água e o concreto armado que consagrou a dupla Oscar Niemeyer e Joaquim Cardozo. Esses elementos fazem do Palácio da Justiça uma das obras mais interessantes de toda a Esplanada dos Ministérios. Com distinta imponência e luz natural abundante, a sede do Ministério da Justiça oferece aprazíveis descobertas a quem se interessa em desbravá-la. Em trânsito, turista ou brasiliense, o olhar naturalmente se desvia para a fachada que orna o Eixo Monumental. Lá, o concreto rígido de nove arcos assimétricos é interceptado por seis quedas d’água. A maior delas faz o papel de marquise acima da entrada principal. Um encontro com a fluidez da influente arquitetura moderna. Enormes vidraças e o espelho d’água são elementos que complementam a face Sul. “Foi a primeira fachada de fontes que imaginei e que surpreendeu e agradou a todos, como eu havia pressentido”, escreveu Oscar Niemeyer. Uma curiosidade é que Niemeyer, ao voltar do exílio nos anos 1980, exigiu que o projeto original fosse seguido. Isso significou fazer ajustes nos arcos bem como remover o mármore branco que revestia a parte externa. Com essa intervenção, o concreto ex20 « GPSLifetime

posto característico a várias obras monumentais de Brasília voltou à cena. A sede do Ministério da Justiça foi uma das tantas parcerias de sucesso entre o arquiteto Oscar Niemeyer e o engenheiro calculista Joaquim Cardozo. Ambos trabalharam juntos no Conjunto Arquitetônico da Pampulha, elaborado a pedido do presidente Juscelino Kubitschek e inaugurado nos anos 1940, talvez um ensaio à grandiosidade do que viria a ser Brasília. Cardozo era também um poeta e foi o responsável por dar a sustentação necessária ao ousado concreto armado que caracterizou as obras do parceiro ilustre na nova capital. Na face Oeste, lâminas de concreto formam os brise-soleils, impedindo o excesso de calor das tardes, sem sacrificar a luz natural. A luminosidade entra livremente alheia aos pilares recuados e espaçados, justamente para aproveitar o sol das manhãs, no lado Leste. Colunas com arcos – estes sim, simétricos – são o design escolhido para a fachada Norte, que fica de frente para o anexo II, como se fosse o fundo do Ministério da Justiça. Essa maravilha de construção foi feita com base em um quadrilátero perfeito de concreto, medindo 84x75 metros.


Fotos: Ascom/ Ministério da Justiça

A HISTÓRIA O Palácio da Justiça Raymundo Faoro ganhou nome próprio no ano de 2003, em homenagem ao jurista falecido no mesmo ano. Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e membro da Academia Brasileira de Letras, o homenageado escreveu o livro Donos do Poder, em que discorre sobre o surgimento do patrimonialismo brasileiro durante o período colonial. A inauguração ocorreu em julho de 1972 e significou a transferência definitiva do Ministério da Justiça para Brasília. Até então, os servidores se dividiam entre o Rio de Janeiro e Brasília. A data marcou os 150 anos de criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça. O decreto que oficializou o órgão, assinado por José Bonifácio de Andrada e Silva, está eternizado em uma placa de mármore na fachada Sul do palácio. Nomes célebres passaram pelo Ministério da Justiça. O romancista José de Alencar ocupou o cargo por dois anos (1868-1870) e, durante esse período, defendeu a ferro e fogo a continuidade da escravidão. O ilustre jurista e diplomata Ruy Barbosa esteve na mesma cadeira no governo do primeiro presidente do Brasil, o Marechal Deodoro da Fonseca. Tancredo Neves, que posteriormente morreria sem ser empossado presidente, nos anos 1980, ocupou o posto de ministro em duas ocasiões, em 1953 e 1961. No século 20, um dos ministros de grande destaque foi o advogado Márcio Thomaz Bastos, que atuou na estruturação da Polícia Federal no período entre 2003 e 2007. Na história recente, ministros da Justiça acabaram sendo escolhidos como integrantes do Supremo Tribunal Federal, a exemplo de Nelson Jobim e Alexandre de Moraes. Atualmente, delegado de carreira da Polícia Federal Anderson Torres ocupa o cargo. GPSLifetime « 21


servidores do órgão. O piso é revestido de pedras portuguesas e, assim como na fachada, a flora tropical não se adequou à secura brasiliense e foi substituída pelo bioma do Cerrado. No tradicional descanso após o almoço é mais frequentado, mas o fim da tarde oferta temperaturas mais agradáveis no espaço. O acesso ao gabinete do ministro é um privilégio de poucos. Está localizado no quarto andar e possui uma vista que impacta. Do escritório do número 1 da Justiça é possível ter uma visão total do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Itamaraty. Somada a essa localização única, está o mobiliário dos anos 1940, com um conjunto de mesas e cadeiras de nobre madeira, além dos sofás em couro preto e entalhes de madeira, recentemente restaurados. No mesmo pavimento fica a sala de retratos, onde são realizadas reuniões entre autoridades. Lá estão expostas fotos de todos os ex-ministros da Justiça.

AS RARIDADES

Painel de aço inoxidável vindo da Alemanha

O INTERIOR Quem se destina ao Palácio da Justiça é recebido em um cenário sóbrio e amplo – é o Salão Negro. A robustez do vazio ganha equilíbrio no encontro do piso em granito verde escuro com a parede de painéis metálicos formados por mais de duas mil lâminas de aço inoxidável, importadas da Alemanha, cuja autoria é atribuída – mas não confirmada – a Athos Bulcão. Neste local, há uma escada que conduz ao mezanino, onde há o auditório para 120 pessoas. Essa atmosfera ganha leveza com a luz natural que adentra o ambiente, cercado pelo espelho d’água originalmente projetado pelo paisagista Burle Marx para abrigar a flora amazônica. Abrigado no meio do prédio está o jardim também criado por Burle Marx. Com acesso pelo terceiro andar, é um lugar interno ideal para as pausas dos 22 « GPSLifetime

A biblioteca é localizada no térreo. São duas coleções distintas: o acervo corrente, com 50 mil livros, principalmente sobre temas jurídicos, e a Coleção Afonso Pena Júnior, com 20 mil títulos. A diferença entre os dois grupos de obras é que o primeiro pode ser emprestado aos leitores. O outro reúne obras raríssimas, como um exemplar que antecede o século 14, uma espécie de papiro confeccionado com capa de couro de carneiro. Alguns destes livros possuem a parte externa banhada a ouro, o que impede a entrada de micro-organismos. Essas preciosidades estão sendo restauradas em uma parceria com a Associação Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). A entrada da biblioteca é ornamentada por um busto de bronze de Dom Pedro I e a imagem do fotógrafo Sebastião Salgado, doada em 2018, durante a gestão do ministro Torquato Jardim. A mesa de madeira onde foi assinado o primeiro Código Penal do Brasil, em 1830, está conservada neste setor. Nessa época, a lei previa penas diferentes a cidadãos livres e escravos. É notória a importância do acervo da biblioteca para a história do País. O sexto presidente do Brasil, Afonso Pena, e o filho Afonso Pena Júnior foram ministros da Justiça em momentos distintos. E deixaram após sua morte a riquíssima coleção para o Ministério da Justiça, tornando-se assim uma das rotas mais interessantes de toda a Esplanada dos Ministérios.


Salão Negro

Jardim interno

A biblioteca é repleta de raridades

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EXECUTIVO

MISSÃO: A JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS A ROBUSTA EXPERIÊNCIA EM SEGURANÇA PÚBLICA COLOCA O MINISTRO ANDERSON TORRES NO ENFRENTAMENTO DA CORRUPÇÃO, DO CRIME ORGANIZADO E, ESPECIALMENTE, NA ERRADICAÇÃO DA IMPUNIDADE POR DANIEL CARDOZO « FOTOS CELSO JUNIOR

O

s debates em torno de temas polêmicos podem ser protagonizados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. O plano ambicioso é do homem à frente da pasta, o ministro Anderson Torres, delegado de carreira da Polícia Federal. Para ele, o Poder Executivo precisa ser protagonista nas discussões factuais e de interesse da sociedade, como feminicídio, sistema carcerário, porte e posse de armas, voto impresso, diminuição da maioridade penal. “Tudo o que a população pensa tem sido tratado em outros poderes e o governo praticamente não participa dos debates. Quando vamos opinar é na fase de sanção ou veto presidencial. Queremos atuar de forma mais propositiva, estar juntos na discussão”, afirma. Nascido e criado em Brasília, Torres tem 44 anos, é casado e pai de três filhas. A afinidade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixava claro que o ministro assumiria um papel de destaque no governo desde o início. No entanto, Anderson Torres fez uma escala no Distrito Federal para assumir a Secretaria de Segurança Pública antes de, finalmente, tomar posse no governo federal, em março deste ano. Essa relação estreita, inclusive, faz com que os projetos políticos de ambos se alinhem no ano que vem. Torres diz não ter medo de disputar eleições, mas admite que precisa de uma decisão do presidente para avaliar se será ou não candidato em 2022. A construção de um palanque no Distrito Federal é assunto para o futuro. No entanto, em relação

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ao governador Ibaneis Rocha, Anderson Torres fala com cautela, por conta do respeito mútuo que surgiu durante a gestão na Secretaria de Segurança. Antes de fazer parte do governo emedebista, o ministro era bolsonarista de carteirinha. “Conseguimos manter um equilíbrio muito grande. Fizemos um belo trabalho aqui no DF, com o apoio e a liberdade que ele nos deu para trabalhar. Então não quero briga”. Antecedido por Sergio Moro, ex-juiz da Lava Jato, e André Mendonça, ex-advogado-geral da República e candidato ao Supremo Tribunal Federal, Torres acredita que a diferença entre os perfis dos três é a vivência em segurança pública. Formado em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB), foi policial civil antes de assumir o cargo de delegado da Polícia Federal, em 2003. Essa visão voltada à segurança mostra resultados. Em junho, 535 toneladas de drogas foram apreendidas na Operação Narco Brasil, uma média de 745 kg confiscados por hora. O ministro pretende também traçar padrões em casos de feminicídio, que auxiliem na formulação de políticas públicas para combater esse problema. “É um crime de fácil elucidação e de difícil prevenção”, avalia, ressaltando que a segurança pública passa também por um robusto investimento nos estados. O Sistema Único de Segurança Pública (Susp) e o Fundo Penitenciário já enviaram mais de R$ 1,5 bilhão para as forças policiais estaduais.


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Questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição que implanta o voto impresso, o ministro da Justiça se diz favorável. Ele estranha a movimentação de partidos políticos para barrar o projeto e está à frente de um estudo da Polícia Federal sobre o tema. “Os peritos mostram que qualquer software pode ser burlado, alterado. Tem que haver outro tipo de auditoria externa para que os resultados sejam comprovados. Eu não tenho como discordar da frase do presidente. O voto é secreto, mas a apuração tem que ser o mais transparente possível. É isso que a gente não está entendendo. Estão criando uma celeuma do nada”, critica. Como foi a transição entre os cargos de secretário de Segurança do DF e ministro da Justiça?

Quando o presidente Bolsonaro ganhou a eleição, a gente tinha um relacionamento de trabalho. Eu atuava em um gabinete próximo ao dele. Quando ele venceu, começaram a surgir notícias de que eu seria o diretor-geral da Polícia Federal e assumiria outros cargos. Nisso, o governador Ibaneis Rocha viu essa repercussão – eu não o conhecia – e me convidou para o cargo. Sou nascido e criado aqui, fui policial 26 « GPSLifetime

"É PRECISO TER ESTRATÉGIA. E O GRANDE DIFERENCIAL É QUE EU CONHEÇO A REALIDADE"

civil. Esse convite muito me honrou. Nós conseguimos colocar nosso ritmo na Secretaria de Segurança. É o que estamos fazendo aqui no Ministério da Justiça. Os resultados foram brilhantes no DF. Diminuímos todos os índices de criminalidade, batemos recordes na taxa de homicídios dos últimos 41 anos, que é desde quando se mede esse tipo de crime. Diminuímos os crimes de violência doméstica, contra o patrimônio, roubo, assalto. Até quando vamos ser reféns do crime?

Crime zero não existe em lugar nenhum do mundo. Faz parte da história da humanidade. Desde que as relações humanas começaram, também vieram os crimes. Temos condições de melhorar e acabar com


a cultura do crime. É um trabalho de médio a longo prazo, de enfrentar problemas que há muito tempo não se enfrentam, como o sistema penitenciário. Temos 700 mil presos, e o que o Brasil faz com essas pessoas? Independentemente do que cada um pensa, é um problema, uma atividade do Estado e a gente precisa tratar isso de alguma forma. Não é só depositar essas pessoas lá dentro e achar que está resolvido. Temos um ou outro bom exemplo de gestão carcerária e a tão falada ressocialização. Não é o que atinge a grande massa carcerária. O sistema penitenciário está diretamente ligado à segurança pública, haja vista a quantidade de crimes que ocorrem dentro dos presídios ou coordenados de dentro das cadeias. É possível recuperar o papel central do Ministério da Justiça?

Na área de justiça, o ministério há algum tempo vem perdendo espaço. Temos que retomar grandes discussões jurídicas do País aqui dentro. Esses debates têm sido feitos em outros âmbitos e o Ministério da Justiça tem perdido o protagonismo nas últimas décadas. As discussões têm que ser travadas aqui. Tudo o que a população pensa tem sido tratado em outros poderes e o Executivo praticamente não opina. Quando vamos opinar é na fase de sanção ou veto presidencial. Queremos atuar de forma mais propositiva, estar juntos na discussão e, muitas vezes, que a iniciativa parta daqui. A população pede isso. A Justiça não pode ser desacreditada e o Ministério da Justiça tem papel fundamental nisso. Onde esse descrédito é mais acentuado?

Impunidade, demora, falta de credibilidade nas leis e na Justiça brasileira. Isso é muito ruim. A impunidade está diretamente ligada a esse assunto. Uma promotora do júri me disse que muitas vezes não tem como explicar um cara ser condenado por oito jurados e sair pela porta da frente, aguardar pela sentença em segunda instância. No caso Lázaro, que foi emblemático, durante a nossa gestão, um homem estava aterrorizando uma cidade, arrebentou uma família e quase acabou com outra. Instituições, organismos e membros de poder querendo arrumar um bom lugar para ele, preocupados com onde ele ia ficar. O povo não vai entender isso nunca. O País precisa mudar, enfrentar os problemas e parar com esse tipo de pensamento. A experiência em segurança pública faz diferença na sua visão?

O presidente teve coragem de trazer um técnico para o Ministério da Justiça. Sou delegado de car-

reira da Polícia Federal e sempre trabalhei no combate ao crime organizado. Tivemos uma experiência no parlamento, que nos deu uma vivência importante para estar aqui hoje. Não é só a ferro e fogo que as coisas são feitas. É um cargo extremamente político, que exige conhecimento, pois lida com as relações institucionais. Mas ajudará bastante na nossa gestão e, com certeza, a população. Seus antecessores tinham perfil diferente, com uma visão mais jurídica. Quais ideias diferentes que foram trazidas?

Não é muito uma questão de ideias. É uma forma de gestão. A gente pensa em enfrentar alguns problemas que não eram debatidos, como, por exemplo, a questão da violência doméstica, contra mulher, idoso e criança. Se você for a qualquer delegacia do Brasil, vai descobrir quantos casos chegam por dia. O Ministério da Justiça precisa ter uma estratégia nacional para combater esse problema, para prevenir. O grande diferencial é que eu conheço a realidade. Eu não estou ouvindo ninguém contar. Chego aqui diminuindo o distanciamento, com o clamor do povo dentro de mim. GPSLifetime « 27


"A JUSTIÇA TEM QUE SER PROTAGONISTA. TEMOS QUE RETOMAR DISCUSSÕES JURÍDICAS DO PAÍS AQUI DENTRO"

as pessoas entendendo que o crime não compensa. A gente não pode deixar de citar casos como o Mensalão, o Petrolão, Lava Jato e os escândalos em fundos de pensões. Tudo isso é corrupção da pior espécie. Foi criada uma doutrina de operações da Polícia Federal que acabou sendo seguida pelas polícias civis dos estados e pelo Ministério Público. Criamos a Controladoria-Geral da União e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Temos um trabalho sério de combate à corrupção, como poucos países têm.

Como têm sido formuladas as políticas públicas?

Seria uma questão de acabar com a sensação de impunidade?

Entregamos e estamos esperando ideias para colocar em prática em nível nacional. Em relação ao feminicídio, por exemplo, a principal conclusão que nós tiramos é que é um crime de fácil elucidação e de difícil prevenção. Na hora que a mulher morre, imediatamente sabemos quem matou, mas não conseguimos prevenir. A polícia muitas vezes só chega para buscar o corpo. Na Secretaria de Segurança do DF, começamos a estudar todos os processos de feminicídio desde que a lei entrou em vigor, em 2015. Hoje eu sei como acontece, que horas, qual o perfil de quem mata, de quem morre, qual é a arma, os motivos. Tudo. Em 100% dos casos alguém sabia que a vítima vinha sendo agredida. Em 70% das vezes, nem ela nem ninguém fez alguma denúncia. Se não houver denúncia, propaganda e prevenção, esse crime nunca vai acabar. E, claro, há também uma questão cultural, machista.

Acho importante. Voltamos ao âmbito da Justiça. Precisamos ver de que forma mudamos isso. Não dá mais para acontecer o que tem acontecido, com todo o respeito. Condenações sendo anuladas, provas, trabalhos de anos indo por água abaixo. É um incentivo ao crime. Rouba-se e depois não se tem condenação. Salas lotadas de dinheiro, imagens que rodam o mundo e o que acontece? Precisa ser discutido. Talvez essa seja uma das missões mais nobres do Ministério da Justiça.

O que fazer para atuar nessa frente?

Neste período de pandemia, tivemos desemprego, álcool, entre outros fatores. No ano de 2020, em plena pandemia, nós diminuímos em 48% o número de feminicídios no DF. A campanha e a prevenção funcionam. Em breve vamos soltar algo aqui no ministério sobre a violência doméstica, contra a criança e contra o idoso. O senhor acha que o brasileiro tem uma cultura que favorece a corrupção?

Não acho que seja um povo que tende a ser corrupto por essência. O trabalho de repressão à corrupção dos últimos vinte anos tem sido um exemplo para o mundo. As investigações que foram feitas pautam modelos mundiais. É educação, repressão pesada e

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Há tempo hábil para fazer esse tipo de mudança dentro desse governo?

Acho que sim. Temos mais seis anos de governo (risos). Vamos fazer. Falo com tranquilidade. É um compromisso meu. Se tivermos esse tempo aqui, vamos trazer discussões para cá que as pessoas vão falar “agora sim estão falando sobre o que tem que ser discutido”. Basta ir à Rodoviária para confirmar o que eu estou dizendo. Qual o seu posicionamento em relação à posse de armas?

Sou a favor do cidadão de bem poder ter o direito de ter uma arma de fogo. Desde antes de entrar na polícia, acho importante o cidadão se defender. Desde que cumpra todos os requisitos da lei. O crime de que a população mais tem medo é assalto. O que falta para que um roubo vire um latrocínio? Meio segundo, um piscar de olhos. É um crime gravíssimo. O senhor também pretende discutir sobre a audiência de custódia?

Nós precisamos parar com a política de desencarceramento no Brasil. Precisamos ter um encarceramento de qualidade, mas parar com a impunidade. Isso


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desmoraliza o sistema. Saidão, audiência de custódia, cumprimento de pena, trabalho, estudo. Enquanto não estruturarmos isso, vai ter essa baderna. Tem partido político que vive disso, de fomentar o “quanto pior, melhor”. Com a gente, não vai funcionar assim. A discussão sobre a redução da maioridade penal pode ser feita?

É óbvio que um jovem de 16 anos hoje é muito diferente de quando eu tinha a mesma idade. É claro que a diminuição da responsabilização penal está atrelada a todo esse sistema que precisa ser consertado. O crime investe pesado nisso, usa esses jovens para cometer crimes, para ter penas menores. Precisamos de políticas públicas de resgate. Mas, quanto à maioridade penal, precisamos pensar e adequar o nosso direito à sociedade. Como está enxergando o cenário político? Pretende se candidatar?

Existe a possibilidade. Participei ativamente das últimas três eleições. Quando estava no GDF, tínhamos uma realidade. Hoje, faço parte de outro cenário, outro governo, e eu preciso estar em sintonia com o presidente, com as decisões dele. Digo que meu futuro político e técnico não está nas minhas mãos. Não tenho medo, mas se tiver que ir, eu vou. O governador Ibaneis e o presidente Bolsonaro tiveram idas e vindas no relacionamento. O senhor tem feito uma ponte entre os dois?

Eu tenho um bom relacionamento com os dois. Se precisarem que a gente faça alguma articulação, não vejo dificuldade em fazer. Já fiz algumas vezes ao longo desse tempo, mas acho que o cenário político está bem indefinido. O presidente não escolheu nem o partido político. Essa questão partidária é muito forte na eleição. Às vezes, achamos que as coisas vão caminhar de uma forma, mas depende das alianças entre os partidos. É difícil dizer quem vai estar com quem.

sistema e o software são bons, mas, por melhores que sejam, precisa ter outro tipo de auditoria que não seja apenas via software. A PF escreveu isso, em 2016, 2017 e 2018. Os peritos mostram que qualquer software pode ser burlado, alterado. Tem que haver outro tipo de auditoria externa para que os resultados sejam comprovados. Eu não tenho como discordar da frase do presidente. O voto é secreto, mas a apuração tem que ser o mais transparente possível. É isso que a gente não está entendendo. Estão criando uma celeuma do nada. É o que nos preocupa. Existem inúmeras teorias e denúncias sobre a eleição de 2014, que foi muito estranha. Se alguma dessas suspeitas é comprovada, aí voltamos ao papel, do jeito antigo, em 2022.

Qual a sua opinião sobre a proposta do voto impresso?

É possível conciliar a sua fé católica com a sua profissão, como delegado de polícia?

Procurei me informar, a pedido do autor da PEC, se tínhamos aqui no Ministério da Justiça algum estudo. O Tribunal Superior Eleitoral faz análises todos os anos sobre as urnas eletrônicas. A Polícia Federal emitiu laudos assinados por peritos criminais federais – que são os melhores do mundo – dizendo que o

Com muita tranquilidade. Uma coisa equilibra a outra. Sem essa fé, eu não teria chegado onde estou, com toda a certeza. É o que me dá equilíbrio. É muito difícil ter equilíbrio em um mundo como esse, nas funções que eu tive, como delegado, no Congresso Nacional, na Secretaria de Segurança e aqui.

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CAPA

O PLEITO SÓ ESTÁ COMEÇANDO O PANORAMA DO DIREITO NO BRASIL, ELENCADO POR MAGISTRADAS E ADVOGADAS QUE SENSIBILIZAM E EQUILIBRAM A JUSTIÇA, GALGANDO COM VIRTUOSA ASCENDÊNCIA A PRESENÇA FEMININA NESTE PODER POR MORILLO CARVALHO, ERIC ZAMBON E DANIEL CARDOZO « FOTOS CELSO JUNIOR

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ara que se reflita sobre a linhagem do feminino é necessário haver mulheres disruptivas ao status quo nas quais outras tais possam se inspirar. O que a GPS|Lifetime propõe, nesta edição, é um mergulho sobre as reflexões de sete mandarins de distintos perfis, que têm o Direito como ponto em comum. Partindo das três personagens convidadas para a nossa capa, a presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Maria Cristina Peduzzi, a desembargadora federal e ex-corregedora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Maria do Carmo Cardoso, e a advogada Fernanda Hernandez, buscamos compreender o Judiciário como o feminino do Brasil. Em comum, todas iniciaram carreira na advocacia. Peduzzi a exerceu no âmbito privado. Cardoso foi militante por 25 anos. E Hernandez tornou-se notória na área de direito público com seu escritório. Tem algo mais que as unifica: são poliglotas, dedicadas à família e entusiastas da literatura. Quanto ao pensamento comum sobre advocacia e magistratura, entendem que tal compartilhamento obedece à lei dos vasos comunicantes e integra o perfil constitucional da autonomia e independência do Poder Judiciário. Conversar com Maria Cristina Peduzzi e captar suas referências, que vão da escritora inglesa Virgínia Woolf à professora da Universidade da Califórnia Ângela Davis, é, como ela própria defende, uma comunicação à sociedade: “meninas, podem sonhar em chegar aos postos mais altos que queiram”. Além de tornar-se a primeira presidente mulher do TST, Peduzzi lidera o braço do Judiciário com maior participação feminina. Há 50,5% de magistradas em atividade. Com a desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso – que atua no Distrito Federal e em 13 esta32 « GPSLifetime

dos da federação, com 39% da magistratura feminina –, é deleitar-se numa aula sobre a vasta experiência na corregedoria e perceber o quanto ela enriqueceu a Justiça Federal da Primeira Região. Nascida no interior do Paraná, a magistrada federal traçou um caminho de genialidade para chegar à corte regional que responde por mais de 80% do território nacional. A advogada Fernanda Hernandez, extremamente estudiosa, mostra como equilibrar a excelência necessária no esforço para vencer grandes causas nos tribunais superiores, enquanto administra um escritório virtuoso, que lhe rendeu dezenas de títulos por seu pioneirismo feminino. O prestígio alcançado a credencia para participar dos grandes debates jurídicos. Ao trio, elencamos outras quatro mulheres de extrema relevância: as desembargadoras Ana Maria Amarante e Sandra De Santis, 1ª e 2 ª vice-presidentes do TJDFT, respectivamente; a desembargadora federal e atual corregedora do TRF1, Ângela Catão; e a procuradora-geral do DF, Ludmila Galvão. Todas compõem o leque da complexidade humana. Revolucionam jurisprudências e rompem estruturas dominantes. O último Censo do Poder Judiciário, sobre o qual o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) se debruçou para produzir recorte de gênero em 2019, identificou que 35,9% da magistratura – sendo do sexo feminino 44% dos juízes substitutos – e 56,2% de servidores do Judiciário são formados por mulheres. Na outra ponta, as ministras de tribunais superiores são apenas 16% – mas é preciso recordar que, há apenas 31 anos, Cnéa Cimini Moreira de Oliveira entrava para a história por ser a primeira mulher no Brasil, e a segunda no mundo, a ocupar o cargo de ministra em tribunal superior. O pleito só está começando.


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Poltrona Galeto, por Estúdio Breton


MARIA CRISTINA PEDUZZI “PRECISAMOS EFETIVAR A CHAMADA IGUALDADE MATERIAL”

“O fato de ser a primeira mulher a presidir o TST e o CSJT (Conselho Superior da Justiça do Trabalho) tem um significado eloquente por responder a um antigo questionamento de Virgínia Woolf sobre o que é ser mulher. A oportunidade está posta”. A reflexão de Maria Cristina Peduzzi, 69 anos, pioneira no comando do tribunal máximo das decisões judiciais do campo trabalhista do País, resume um pouco da conversa que tivemos e que versava sobre contemporaneidades sem perder o lirismo. Woolf, citada, disse certa vez: “O que é uma mulher? Eu lhes asseguro, eu não sei. Não acredito que vocês saibam. Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas à habilidade humana”. Está em seu artigo do livro Women and Writing. “Valorizo os movimentos feministas porque foi graças a eles que as mulheres conseguiram a igualdade segundo a Lei. O que precisamos é efetivar a chamada igualdade material na vida, porque na Lei já está assegurada”, diz. Nascida em 1952, em Melo, cidadezinha uruguaia da fronteira com o Brasil, foi criada em Bagé (RS) e optou pela nacionalidade brasileira. Lá, começou a estudar Direito, mas concluiu na Universidade de Brasília (UnB), onde também se tornou mestre. Na capital do País, formou família – tem um filho e dois netos adolescentes – e construiu uma carreira que começou com mais de duas décadas de advocacia, com passagens pelas procuradorias da República e do Trabalho. É no Tribunal Superior do Trabalho que cumpre expediente há vinte anos, presidindo-o desde fevereiro de 2020. “O exercício da presidência do TST comunica à sociedade a implementação da igualdade de gênero no Poder Judiciário Trabalhista Brasileiro”, destaca. Cristina se lembra de Mário Quintana em artigo sobre os 80 anos do Judiciário Trabalhista – evocou o poeta gaúcho do interior com o verso “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente” –, dos realistas Eça de Queiroz e Machado de Assis, do jusfilósofo americano Ronald Dworkin e do cientista político da Universidade de Toronto Ran Hirschl. 34 « GPSLifetime

Poltrona Galeto, por Estúdio Breton

POR MORILLO CARVALHO

Mas são as mulheres que se destacam em suas indicações de leituras: “faço menção ao pequenino, porém poderoso livro Profissões para Mulheres, de Virginia Woolf. Recomendo o livro Faça Acontecer: mulheres, trabalho e a vontade de liderar, da chefe de operações do Facebook, Sheryl Sandberg. E o da professora emérita de filosofia da Universidade da Califórnia, Ângela Davis, Mulheres, Raça e Classe”. Cristina diz que não dissocia sua cosmovisão pessoal dos papéis de comando que exerce, o que é coroado com uma data redonda: os 80 anos da Justiça do Trabalho, completados este ano. É o braço do Judiciário criado com função civilizatória, já que o mundo do trabalho passou a ocupar posição central nas relações humanas no último século. Agora, o desafio será mediar o elemento tecnologia. A ministra contraiu o vírus e chegou a ficar internada por 21 dias. “Tenho convicção de que o Senhor direcionou o corpo médico adequado para cuidar da minha saúde”, diz, reforçando sua religiosidade. “Acredito na tríade, fé, ciência e paciência. Com a pandemia, compreendemos a importância da solidariedade, do respeito ao próximo e do compromisso com o coletivo”, diz, e emenda: “Para construir, é indispensável acreditar e perseverar”.


MARIA DO CARMO CARDOSO “UM SONHO? TORNAR-ME PRESIDENTE DO TRF1” POR DANIEL CARDOZO

A tranquilidade que transparece contrasta com o jugo da missão que a desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso carrega. Prestes a completar vinte anos de Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ela fala com apreço da carreira que construiu. De prosa simples e acolhedora, a menina que saiu de Londrina, interior paranaense, chegou a Brasília, construiu carreira, reputação e família. Foi advogada militante até tornar-se magistrada. Aos 66 anos, ela tem três filhos e em breve será avó pela sétima vez. Do gabinete, no quinto andar na sede do TRF1, a desembargadora diz: “Esse é o tribunal mais importante desse País, porque atende 14 unidades da federação. Na nossa jurisdição direta, temos 82% do território nacional. Somos o tribunal que mais arrecada no Brasil”, conta. Até o ano passado, enquanto corregedora, fez questão de visitar todas as seções judiciárias. “Viajei de avião, de carro, de barco, para conhecer o trabalho dos juízes na base”, conta. Filha de imigrantes europeus, teve uma infância sem luxo. Aprovada em sexto lugar no vestibular de Direito da Universidade Estadual de Londrina (UEL), decidiu estudar em Brasília em 1978. Depois de casada com o pai dos filhos, concluiu o curso no Rio de Janeiro, já que o marido havia sido transferido pela Marinha. Maria do Carmo chegou a tentar diplomacia. “Fiz o concurso para o Instituto Rio Branco. Passei em todas as etapas, mas quando cheguei na entrevista, tinha que ser filha de alguém”, lamenta. Grandes desafios formaram o perfil de Maria do Carmo, a exemplo da atuação como defensora de testemunhas da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) – um instrumento inédito à época – que iniciou o processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Melo. “Recebi uma ligação de Paulo César Farias em um sábado, pedindo que eu representasse uma telefonista na CPMI. O desfecho político desse escândalo entrou para a história”.

Anos mais tarde, veio a oportunidade de realizar uma meta antiga, a de tornar-se desembargadora federal. Maria do Carmo vestiu a toga no fim de 2001, já rejeitando o rótulo de sexo frágil. “Esse discurso, diminuindo e vitimizando a mulher me incomoda. Pela graça de Deus, eu nunca passei por situações em que me senti vilipendiada. Enfrentei barreiras e lutas, mas nada que eu, sozinha, não me fizesse presente”, reflete. Maria do Carmo foi uma das primeiras desembargadoras do TRF1. Segundo a magistrada, o trabalho de um juiz deve ser pautado rigorosamente pela lei. Apesar de haver grandes pressões populares e situações nas quais existe grande interesse midiático. “Nunca me deixei levar pelas críticas, pela opinião popular. Nós, juízes, temos que nos comprometer com a prova, com a legalidade, a constitucionalidade e o direito legítimo”, explica. Recentemente, a comissão que elabora o novo Código de Processo Penal contou com a sua colaboração. Como professora universitária, formou advogados que se tornaram conhecidos nos tribunais, além de juízes e delegados. “Um sonho? Tornar-me presidente do TRF1”. GPSLifetime « 35


FERNANDA HERNANDEZ “ADVOGAR É SIMPLES: SER HONESTO, ESTUDAR E TRABALHAR MUITO”

A posição que a advogada Fernanda Guimarães Hernandez ocupa é uma conquista almejada. Pioneira entre mulheres à frente de escritórios de advocacia em Brasília, ela lidera uma banca que conquistou fluxo entre os tribunais superiores e já comemorou vitórias expressivas em teses relacionadas à tributação. Perfeccionista, atua na defesa de clientes robustos, os quais trata de maneira fundamentada. A paixão pelo Direito só perde para outros dois amores: os filhos Ruy e Luiz Felipe. Foi no início da maternidade que Fernanda corajosamente decidiu deixar o escritório em que atuava para dedicar-se ao negócio próprio. Dentro de um apartamento na Asa Norte, dividia o dia entre as tarefas maternais e a carreira de jovem advogada. Foi árdua a trajetória, mas a levou para a atual sede do escritório na QL 6 do Lago Sul, uma acolhedora casa cercada de flores em um jardim bem ornado. Entre salas e corredores, paredes abrigam quadros que emolduram mais de trinta títulos e comendas – incluindo o de Cidadã Honorária de Brasília –, intercalados por obras de arte, um dos afetos de Fernanda. “Estou lendo o livro O Museu Desaparecido, sobre os quadros que os alemães levaram da França na Segunda Guerra Mundial”. Formou-se pela Universidade de São Paulo (USP), onde também tornou-se doutora em Direito Tributário e especializou-se em Teoria da Constituição. Há pouco, completou 31 anos à frente de seu escritório. Fernanda faz parte de comissões de juristas que discutem o sistema de tributação, especialmente agora que o governo apresentou uma proposta de Reforma Tributária, que a advogada critica por tratar superficialmente assuntos complexos. “A equipe econômica diz que tributar dividendos significa que o dinheiro vai ficar dentro das empresas e vai gerar reinvestimento. Não necessariamente”, pondera. Ápices da carreira jurídica somam-se em sentenças favoráveis no STF. “Recentemente ganhamos uma causa importante sobre ICMS, que vai impactar todos os estados”. Para sagrar-se vitoriosa há a preparação rigorosa agregada à experiência em despachar com magistrados, ressaltando a vivência com mentores fundamentais com

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Poltrona Galega por André Grippi para Breton

POR DANIEL CARDOZO

quem também assinou publicações. O ministro aposentado do STF Aldir Passarinho talvez tenha sido o principal deles. “Foi quem me ensinou a ler um processo com propriedade”. E também o jurista Ives Gandra Martins. “Um homem que entende de economia, história, teologia, música. Mesmo assim, sem vaidade alguma”, elogia. E ainda destaca Hamilton Dias de Souza, seu professor na USP e parceiro incansável. Dentre as causas que valoriza, estão iniciativas como a Comissão da Mulher Advogada, da OABDF. “É um trabalho para suprir as necessidades das advogadas menos favorecidas”. Para as novas gerações que iniciam o ofício, o conselho da autoridade: “a advocacia é um exercício de paciência. Não se apressem em construções de teses mal embasadas. Tampouco caiam na armadilha de transformar o escritório numa fábrica de recursos. A fórmula é simples: sejam corretos”, reflete, ressaltando: “tento contribuir para uma melhora do Judiciário, por meio de solução própria para cada demanda julgada”. Está dada a lição daquela que agora vai se debruçar na montanhosa Suíça, o próximo destino de descanso e aprofundamento cultural.


Foto: Daniel Coelho Moutinho - NBastian/Divulgação TJDFT

ANA MARIA AMARANTE “A MULHER ESTÁ CONFIANDO MAIS NO JUDICIÁRIO” POR MORILLO CARVALHO

Ana Maria Amarante já era mãe de três filhas quando foi cursar Direito. Casada desde os 16 e mãe aos 17, a mineira de Itajubá já tinha vivido em diferentes lugares do País quando decidiu entrar na faculdade. Filha e esposa de militares, já habituada a uma vida de mudanças, passou na Universidade de Brasília (UnB) e, prestes a se formar, aos 35 anos, estava grávida novamente. Se a rotina parecia apontar para a direção oposta a uma carreira estável e comumente enraizada como a de juíza, ela fez tudo ao contrário e deu tudo certo. Há 38 anos em solo candango. “Hoje eu considero Brasília a minha terra. Já tenho até o título de Cidadã Honorária”. Prova disso são as coleções de outorgas e comendas com as quais vem sendo agraciada entre todos os poderes vigentes no DF. “Eu sou de uma geração que teve que conciliar o papel de rainha do lar – com esfregão na mão, tacho de comida, colher de pau, marido que não frita nem ovo, militar e nordestino – com estudos. No mercado de trabalho, culturalmente, os homens precisam apenas ser bons, já a mulher tem que ser bem melhor”.

A desembargadora lutou por sua ascensão no Judiciário. E batalhou: entre 1983, quando se formou, e 1988, quando se tornou juíza, passou em diversos concursos. Primeiro ocupou cargo na Delegacia Regional do Trabalho e, depois, tornou-se promotora de Justiça. Foi aí que pôde fazer o concurso para a magistratura. Em 2004, era desembargadora. Ana Maria acredita que o tempo se encarregará da equidade de gênero no Judiciário. “Conquistamos o direito ao voto em 1932. Em 1967 a primeira juíza foi empossada no Distrito Federal. Hoje, de 48 desembargadores, nosso percentual feminino soma exatamente 25%: somos 12 mulheres”. Além das duas filhas já mencionadas, as outras duas são serventuárias da Justiça – o que levou o marido, militar, a cursar Direito também, “para não apanhar em casa”. Em meio a tantos ofícios, Ana ainda encontrou tempo para a carreira acadêmica, iniciada tão logo formada. Já lecionou em seis faculdades, o que ocorre ainda nos dias atuais. Atualmente, primeira vice-presidente do TJDFT, sua atuação destacada a fez ganhar nove dos onze votos do STF para, entre 2013 e 2015, compor o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Lá, coordenou o Movimento Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, para melhorar a aplicação da Lei Maria da Penha no Judiciário. “A mulher está confiando cada vez mais no Judiciário”, diz, arrematando: “agora calcula a cara dos réus, em sua maioria homens, quando se veem julgados por mulheres? Ficam, no mínimo, preocupados. E nós as incentivamos: busquem o Judiciário”. GPSLifetime « 37


Foto: Divulgação

SANDRA DI SANTIS “EU HEI DE ESTAR VIVA PARA VER MULHERES PREDOMINANDO NO JUDICIÁRIO” POR ERIC ZAMBON

Sandra De Santis não costuma levar arrependimentos do dia quando deita a cabeça no travesseiro. Foi assim no período em que se tornou a primeira mulher a presidir o Tribunal do Júri do DF, entre os anos 1990 e 2000, e ela garante que nada mudou desde a promoção à desembargadora do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), em 2004. “Minha consciência é limpa”, assegura. Sua trajetória começou com o desejo adolescente de ser diplomata. Foi moldada pela função de fiscal do trabalho para o Ministério Público que exerceu no Rio e se definiu quando ela se mudou para Brasília, na década de 1980. Coleciona histórias. Uma de suas preferidas, ela conta como conheceu Gonzaguinha quando recebia ligações preocupadas do grande músico. “Queria sempre saber sobre a documentação para shows”, recorda-se. 38 « GPSLifetime

Tal versatilidade rendeu a Sandra a notoriedade de ser uma juíza humana. “Já estive em caso de a mãe chorar uma poça de água no chão, implorando que eu soltasse seu filho preso por tráfico. É difícil”. Outro momento severo foi quando julgou a morte de uma criança de cinco anos pelas mãos do pai. “Ele tinha a guarda da criança e era um bom pai”. Em uma ocasião, porém, como a menina mastigava e não engolia a carne, por birra, ele a sacudiu com força, o que a levou à morte. Os casos que mais a sensibilizam são os de estupro de vulnerável e homicídio de crianças. Mas não se confunde com qualquer abatimento em relação à letra da lei. “Somos juízes, não justiceiros”, enfatiza. “Às vezes, o crime é tão chocante que eu examino a prova várias vezes à procura de um elemento, mas, se não encontro, sou obrigada a absolver. Nunca fui dormir pensando se havia errado. E a verdadeira justiça é Deus quem faz”, afirma. Sua conduta rigorosa e seu conhecimento técnico foram importantes nos momentos em que o bater do seu martelo na corte reverberou na mídia nacional. Em 1984, julgou os executores do jornalista Mário Eugênio. Em 1997, no julgamento dos rapazes acusados de atear fogo e matar o índio Galdino, ela decidiu que o crime não deveria ser classificado como homicídio, mas lesão corporal seguida de morte. A polêmica foi instalada. “Esse fato não me abalou, decidi com muita certeza”, diz. Sobre o período de presidência no Tribunal do Júri no DF, diz: “Em época de casos midiáticos, eu parava de ler jornal e ouvir noticiários”. Ao tornar-se desembargadora, trocou a adrenalina da vida de juíza pela responsabilidade do cargo mais elevado. Ela brinca que gostava mais de sua posição anterior. “Eu decidia sozinha. Agora muitas vezes o seu pensamento não prevalece. Faz parte”. Sandra nasceu no Rio de Janeiro. A vinda para Brasília no início da década de 1980 foi determinante para enveredar de vez pelo Direito e, em 1986, ser nomeada juíza no DF. A juíza de 74 anos revela que em sua casa, quando recebe os quatro filhos e na convivência com o marido, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, falar de trabalho gera confusão. “Conversa jurídica aqui em casa é zero. Ele tem uma visão garantista. No STF, não há contato com gente. São mundos distintos”, revela. Atualmente, Sandra ocupa a segunda vice-presidência do TJDFT ao lado de duas outras desembargadoras, algo inédito na história da Corte. “As mulheres são minuciosas e sensíveis”, acredita. E conclui: “Eu hei de estar viva para ver mulheres predominando no Judiciário. Nós temos feeling para a justiça”.


ÂNGELA CATÃO

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“O QUE FALTA NO JUDICIÁRIO É PSICANÁLISE”

Aos 73 anos, mais de 35 vividos como juíza federal em Minas Gerais e há 12 como desembargadora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região – sediado em Brasília e com circunscrição em 13 estados e no Distrito Federal –, Ângela Catão tem visão bastante particular sobre o seu papel no Judiciário. “Não posso falar que é um protagonismo meu, como mulher, na carreira. Eu queria ter uma profissão que eu gostasse, fosse vocacionada, e queria casar e ter filhos. E isso eu fiz. Claro que foi puxado, mas não achava que isso era exploração da mulher, era o que minha mãe fazia”, defende. Filha de servidores públicos da prefeitura de Belo Horizonte, é onde nasceu e vive, mesmo quando o trabalho é presencial, pois cumpre o expediente em Brasília e retorna à capital mineira aos finais de semana. Diz não ter criado vínculos com a cidade-sede do tribunal, por gostar da qualidade de vida que tem na terra natal. Também por isso, relutou em ser promovida a desembargadora, até “não ter mais jeito”. Viúva, mãe de um psiquiatra que vive nos Estados Unidos com os dois netos e de um estudante que reside na Coreia, define sua casa atualmente como um ninho vazio. “Agora tenho mais tempo para fazer outras coisas de que gosto. Tinha vontade de me aprofundar mais em assuntos religiosos, em judaísmo, então aproveitei o Covid-19 e li a Torá. Me apaixonei pela história dos judeus”, conta. Torá é o livro sagrado do judaísmo, formado pelos cinco primeiros livros da Bíblia cristã, e conta a origem do mundo e da civilização sob a ótica da religião. Neste ponto, Ângela revela um pouco de suas identificações com personagens históricos e de como essas referências a inspiram: “me encantei por Moisés. Outro dia fui dar um voto e disseram que eu estava discordando da jurisprudência, eu disse ‘gente, se Moisés discordava de Deus, segundo a Torá, e discutia com Ele, por que é que eu não posso divergir de vocês?’ É muito enriquecedor, é a história da humanidade”. Outro ponto da sua formação que se reflete em seus pensamentos é a psicanálise. Começou aos 19 anos e fez sessões por mais de três décadas. “Aliás, o que acho que falta no Judiciário é psicanálise. Se o pes-

Foto: Divulgação/ ASCOM/TRF1

POR MORILLO CARVALHO

soal entendesse um pouquinho de Freud, melhoraria muito. É como se houvesse uma miopia muito forte e surgisse um óculos”, diz. Leitora voraz, devorou Versos Satânicos por gostar de livros polêmicos; Equador, do português Miguel Sousa Tavares; e destaca especialmente Eça de Queirós e Albert Camus, com A Peste. “Fundamental na vida. Como que tudo muda em função da peste, como a que vivemos agora”, reflete. Para ela, a pandemia trouxe importantes lições para o Judiciário Federal. “Temos que aproveitar o que a tecnologia nos ensinou. Por exemplo, as correições: fiz agora tudo virtualmente, e achei que isso aproximou mais o juiz das equipes e da corregedora”, conta. Mas Ângela mal vê a hora do retorno das atividades presenciais, especialmente para passear com Beethoven, o cão labrador. Ângela considera que o período Collor foi o mais importante da carreira. “Dei muita liminar, liberando dinheiro, após o Plano Collor determinar o congelamento das poupanças. Você via os casos na televisão de gente se suicidando, matando umas às outras porque o dinheiro ficou preso, foi uma calamidade. Pessoas ficavam sem o patrimônio da vida e percebemos como o Judiciário, nessas fases, é importante, desde que tenha independência. Muitas liminares foram cassadas, mas quando as cassavam, a pessoa já havia recebido”, lembra. GPSLifetime « 39


LUDMILA GALVÃO “TENTO SEMPRE COLOCAR A FÉ ACIMA DE TUDO”

Quando não está atrás de uma pilha de documentos ou com os robustos livros de Direito, a procuradora-geral do Distrito Federal, Ludmila Galvão, exercita sua religiosidade. E é apreciadora de autores como o padre Reginaldo Manzotti, que, dentre outras liturgias, escreve sobre batalhas espirituais enfrentadas e sobre como isso afeta a relação com Deus. Após assumir o cargo que ocupa, em 1º de janeiro de 2019, por indicação do governador Ibaneis Rocha (MDB), Ludmila, 49 anos, viu o número de batalhas em sua vida aumentar tais quais as novas responsabilidades. A Procuradoria-Geral do DF (PGDF) é o braço jurídico da capital, tem status de secretaria de governo e cabe a ela atuar na prevenção de litígios entre população e governo, bem como na orientação jurídica de secretarias e órgãos similares vinculados ao GDF. Questões como processos de precatórios também passam pela PGDF, que busca soluções por meio de acordos. “Tento sempre colocar a fé acima de tudo”. Se a religiosidade é rocha pessoal, o caminho percorrido até a PGDF é o esteio profissional. Foi influenciada a seguir no Direito desde o berço: sua mãe, Terezinha Galvão, foi promotora de Justiça; o pai é o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ilmar Galvão; o irmão, Marcelo Galvão, ex-procurador-geral do DF; e uma de suas irmãs é juíza federal. É casada com o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, com quem tem dois filhos, de 19 e 15 anos. Bacharel em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), Ludmila é pós-graduada pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual e pela Escola Superior da Magistratura do DF, mestre e doutora em Direito Processual Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Mudança de paradigma, em 1996, ingressou na PGDF por meio de concurso. “Assumir a PGDF é o coroamento da minha carreira”, acredita. Com a coroa, veio também a representatividade. É a segunda procuradora-geral mulher desde 1961, quando o órgão foi criado no DF. A primeira foi jus-

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Foto: ASCOM/PGDF

POR ERIC ZAMBON

tamente sua antecessora, Paola Aires. Atualmente, dos 203 procuradores, 59 são do sexo feminino. “A mulher advogada, seja no âmbito privado ou público, deve lutar para o incremento de sua representatividade”, defende. A OAB/DF, por sua vez, concedeu à procuradora-geral, este ano, a medalha Myrthes Campos, premiação alusiva à primeira mulher a exercer advocacia no País”. Para além das linhas que definem o que a Procuradoria pode fazer, Ludmila tem uma ambição: deixar um legado em sua gestão. Em 2019, ela assinou a Portaria 483, objetivando a tornar o órgão referência, até 2025, em resolutividade judicial e redução da litigiosidade. O órgão aprovou o primeiro plano estratégico da sua história com quatro projetos: a implementação dos programas Contribuinte Legal e Inteligência Artificial em Execução Fiscal. Também o compromisso com a reestruturação da Câmara Permanente Distrital de Mediação em Saúde (Camedis) e do Precatório Rápido. “Eu espero que essas atribuições prosperem e deem frutos. É o que almejo como prosseguimento da minha carreira”, conclui.





ELEIÇÕES

Foto: JP Rodrigues

FUTURO DO PRESENTE

VOTO IMPRESSO: CONTRA OU A FAVOR. AO CELEBRAR 25 ANOS, AS URNAS ELETRÔNICAS PAUTAM O ATUAL DEBATE POLÍTICO. PROPOSTA DE CÉDULA FÍSICA PARA O PLEITO DE 2022 ENFRENTA RESISTÊNCIA POR DANIEL CARDOZO

O

dia era 9 de março de 2020. Em viagem aos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) surpreendeu muitos brasileiros ao dizer que havia sido eleito no primeiro turno em 2018, mas as fraudes teriam impedido a vitória antecipada. Até hoje, Bolsonaro não apresentou provas, apesar de prometê-las. Entretanto, essa fala inflamou discussões em torno da implantação do voto impresso, que, se aprovada, pode trazer mudanças para o pleito de 2022. Os questionamentos em relação ao futuro das urnas eletrônicas brasileiras chegam no mesmo momento em que a implantação da tecnologia completa 25 anos. O dispositivo informatizado foi usado pela

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primeira vez em 1996 (leia mais em História). A Proposta de Emenda à Constituição 135/2019, de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), está sendo discutida em uma comissão especial criada na Câmara dos Deputados. Em dois meses, a comissão promoveu audiências públicas e ouviu 27 especialistas. O Tribunal Superior Eleitoral não enviou representantes. Embora exista uma composição com maioria governista, ela foi modificada graças a um movimento protagonizado por dirigentes de 11 partidos, que se manifestaram conjuntamente a favor da continuidade do modelo atual. O relatório deve ser votado após o recesso parlamentar, que termina no início de agosto.


Foto: Antonio Augusto/ASCOM/TSE

AFINAL, O QUE DIZ A PROPOSTA? O texto diz que “no processo de votação e apuração das eleições, dos plebiscitos e dos referendos, é obrigatória a impressão do registro do voto conferível pelo eleitor”. Dessa forma, será possível verificar se as escolhas foram registradas corretamente. Após isso, uma cédula de voto será depositada em um recipiente indevassável, sem que haja contato manual. A proposta não prevê que o cidadão possa levar um comprovante dos votos ao deixar a seção eleitoral. De acordo com um estudo produzido pela consultoria legislativa da Câmara dos Deputados, 36 países utilizam urnas eletrônicas para captação e apuração dos votos. No caso de Japão, Holanda e Alemanha, houve abandono dos sistemas automatizados por falta de transparência e confiabilidade, ainda segundo a pesquisa.

SEGURANÇA Ainda que não tenha havido provas de fraude em larga escala, quando se trata de equipamentos eletrônicos, tudo estaria sujeito a falhas técnicas. Para Mário Gazziro, professor do MBA em segurança de dados da USP e da Universidade Federal do ABC

Paulista, falhas pontuais podem ser decisivas, principalmente nas votações para cargos como vereador em cidades pequenas. “Vamos supor que um candidato queira impedir a vitória de um adversário em uma cidade com três mil habitantes, com duas seções eleitorais. Uma delas fica em uma comunidade com ampla maioria daquele que se quer prejudicar e a outra em um local onde se tem mais votos para o candidato mal intencionado. É possível destruir essa urna com um ímã poderoso. Sem o voto impresso em papel, não há como checar os resultados”, explicou. O especialista reconhece o esforço da Justiça Eleitoral em promover testes, mas acredita que é preciso ir além. “O TSE faz um bom trabalho. Muito da negação em adotar o voto impresso são os custos e o receio de judicialização. Eles têm medo desse tipo de problema manchar a reputação da urna, mas nós, que somos técnicos, sabemos que existe essa possibilidade”. Gazziro relata que, no teste de 2017, hackers participantes foram capazes de mudar nomes de candidatos participantes. “O TSE não admitiu a gravidade da situação, porque não conseguiram desviar votos de um para outro candidato. É possível atacar o software sem que a Justiça Eleitoral perceba. Por outro lado, o transporte das mídias de votação é terceirizado, então é mais uma vulnerabilidade”, completou.

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Fotos: Lucas Almeida e Aldrwin Hamad / IFSC

O Comitê de Tecnologias Eleitorais da Sociedade Brasileira de Computação, em parceria com o departamento de design do Instituto Federal de Santa Catarina, prepara um modelo de urna eletrônica que já possua a disposição para a impressão da cédula de votação.

FAKE NEWS A professora Isabel Veloso, do curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), considera inviável o cumprimento das etapas de licitação, fabricação e adaptação das mais de 500 mil urnas eletrônicas. A advogada acredita que as notícias falsas atrapalham a discussão. “A estratégia de aprovação da proposta é essencialmente pautada em teorias conspiratórias de supostas fraudes eleitorais que circulam em redes sociais e veículos de desinformação. Não há um problema real a ser endereçado”, diz. A especialista elogia o modelo nacional, que proporciona agilidade na revelação de resultados. Para Veloso, ao longo dos 25 anos, as suspeitas foram eliminadas pela Justiça Eleitoral. “Até o presente momento, não houve qualquer impugnação de pleitos eleitorais”. Entre os exemplos mais famosos de contestação está o pedido de auditoria do PSDB após a derrota do candidato Aécio Neves nas eleições presidenciais de 2014. À época, o partido alegou descrença quanto à infalibilidade da urna eletrônica. “Mesmo sem o respaldo de indícios concretos, a auditoria do resultado do segundo turno foi autorizada e não houve constatação de qualquer irregularidade”, exemplificou.

OS TESTES Desde 2009 é realizado o Teste Público de Segurança (TPS), que tem o objetivo de identificar e corrigir eventuais vulnerabilidades relacionadas à violação da integridade ou do anonimato dos votos de 46 « GPSLifetime

A urna de lona foi a última utilizada antes da urna eletrônica

uma eleição. “A Justiça Eleitoral brasileira foi a primeira em todo o mundo a abrir os sistemas eleitorais para que investigadores tentassem ‘quebrar’ as barreiras de segurança”. Até hoje, foram feitas sete edições do TPS. Entre as precauções, o TSE lista eventos públicos, como a cerimônia de assinatura digital e lacração de sistemas, realizada seis meses antes das eleições com a participação de Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil e entidades da sociedade civil. A estimativa da Justiça Eleitoral é de que a implementação do voto impresso em 100% das urnas eletrônicas demandaria um gasto extra de R$ 2 bilhões, para a aquisição do módulo impressor, urnas plásticas descartáveis para armazenamento de votos impressos, bobinas de papel, lacres de segurança, transporte e armazenamento.

HISTÓRIA O projeto da urna eletrônica brasileira foi elaborado em 1995, por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), de São José dos Campos. A primeira vez que o sistema foi colocado em uso foi nas eleições de 1996, em municípios acima de 200 mil habitantes. Quatro anos mais tarde, o modelo foi adotado em todas as cidades brasileiras.


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CONTEÚDO ESPECIAL

Fotos: Divulgação

UM CÔNSUL NA ADVOCACIA

No lançamento da Câmara de Comércio, João Paulo Todde recebe o reconhecimento da embaixadora Patrícia Villegas de Jorge

FUNDADOR DA CÂMARA DE COMÉRCIO BINACIONAL NO BRASIL, O EMPRESÁRIO E ADVOGADO PH.D. JOÃO PAULO TODDE AMPLIA SUA ATUAÇÃO NO UNIVERSO DIPLOMÁTICO AO UNIR-SE COM A REPÚBLICA DOMINICANA NA TROCA DE EXPERIÊNCIAS NAS ÁREAS DE DEFESA, SEGURANÇA, MEIO AMBIENTE E TURISMO POR GIOVANNA PEREIRA

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relação bilateral entre o Brasil e a República Dominicana se consolida como importante via de geração de negócios e desenvolvimento socioeconômico. Com uma série de acordos firmados na certeza de trabalhar em beneficiar os setores produtivos das duas nações, a expectativa é a de ainda mais avanços daqui para frente. O advogado e empresário João Paulo Todde, presidente do Grupo TODDE e da banca jurídica TODDE Advogados, lidera importantes projetos e se posiciona como personagem essencial nesse relacionamento. Todde fundou a Câmara de Comércio Binacional no Brasil, a qual passou a presidir, coirmã da que existe na República Dominicana. Assim, a Câmara de Comércio Brasil e República Dominicana reúne inúme-

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ros empresários, todos ávidos por investir e aprender com a nação caribenha. Com o objetivo de construir pontes entre necessidades e soluções, bem como equalizar dificuldades e oportunidades, visando unir ainda mais as relações comerciais de investimento e inovação entre esses países, a organização apresenta alguns diferenciais claros que a posiciona no cenário diplomático e comercial de maneira interessante. “Para entender para que serve uma Câmara de Comércio é preciso, antes, entender as relações entre países e o primeiro ponto são as relações diplomáticas. A diplomacia é uma fórmula com diferentes formas de comunicação entre os Estados”, disse o advogado. Historicamente, no Brasil, as Câmaras nasceram com um perfil de institucionalização, uma forma de


Foto: JP Rodrigues

João Paulo Todde, presidente do Grupo TODDE

abrir espaço para que um embaixador de outro país pudesse dialogar e se comunicar com poderes de governança, uma forma de facilitar processos que sempre foram muito burocráticos. No relacionamento entre Brasil e República Dominicana, a missão está em fomentar e proporcionar negociações viáveis, exequíveis e rentáveis, para todas as partes. “Um dos nossos principais esforços está em garantir comércios longevos entre as nações”, explicou.

DIFERENCIAL Normalmente, as câmaras de comércio brasileiras possuem um perfil associativo, ou seja, os membros a integram de maneira igualitária, como agentes de interesse, mas, na visão do advogado e empresário, esse tipo de estrutura não avança. “As câmaras associativas são importantes, elas fortalecem projetos e negociações, entretanto, na maioria das vezes, não são capazes de sustentar e gerar novos negócios. Foi pensando nisso, também, que a Câmara de Comércio Brasil e República Dominicana decidiu seguir uma estrutura privada”, disse.

A cadeira de membros inovou e apresentou figuras importantes para o relacionamento bilateral, o que permitiu um amadurecimento acelerado e uma rápida confiança por parte dos investidores. “A cadeia privada nos permite atuar acima de partidos, ideologias e pensamentos que possam gerar desequilíbrio para o tratamento no mercado. A estrutura hoje é dividida em dois grandes níveis: o de diretoria, responsável pela gestão, e o de conselho superior, atento à fiscalização, institucionalização, relação governamental e política. Reunimos pessoas-chave em postos únicos”, explica Todde. O advogado destaca a escolha da presidência do conselho superior, a própria embaixadora da República Dominicana no Brasil, Patrícia Villegas de Jorge, e da vice-presidência, o embaixador do Brasil na República Dominicana, Clemente Baena Soares. “Esse tipo de envolvimento dos Estados nunca foi feito antes, justamente pela postura associativa que é repleta de inseguranças. Então, nessa, temos as duas nações, na figura de seus representantes diplomáticos, vinculadas à Câmara de Comércio”, analisa. Dois conselheiros políticos e um jurídico, uma pessoa de relação governamental e um indivíduo

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Foto: César Rebouças

A secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, João Paulo Todde e Patrícia Villegas de Jorge na entrega do Prêmio Novo Olhar do Turismo

responsável foto: JP Rodrigues completam a câmara. “Além disso, para complementar, entra em cena a figura do Consul, também como integrante que espelha segurança aos potenciais investidores. É uma estrutura única”, afirma Todde.

RELACIONAMENTO A República Dominicana está em crescente desenvolvimento na fixação de negócios e geração de comércio internacional. A nação caribenha se destaca enquanto país que investe em outras nações e recebe investimentos globais para crescer, característica que surge, também, pela proximidade geográfica com os Estados Unidos. O Brasil, maior país da América do Sul e Central, tem muito o que aprender. O empresário afirma que a Câmara de Comercio Bilateral está de olho nesses ensinamentos e traça estratégias para melhor atuar. “Visamos entender quais maravilhas de cada nação para aprender. E também quais as falhas de cada país, para que possamos preenchê-las com sucesso. Para isso, trabalhamos para apresentar soluções simples, sustentáveis e eficazes. A fim de gerar e munir entidades, entes e lideranças com informações técnicas e seguras para ajudar na tomada das decisões mais plausíveis de investimento”. 50 « GPSLifetime

INDICAÇÃO HONROSA João Paulo Todde, que é Doutor em Direito Tributário Comparado pela UMSA – Universidade del Museo Argentino, e detentor de diversos títulos honrosos, foi indicado oficialmente pela embaixada da República Dominicana no Brasil para assumir o cargo de Consul do país no Brasil. Com isso, novas responsabilidades, mas também oportunidades de avanço. “O convite veio pela embaixadora Villegas, por uma necessidade de equilibrar as demandas, uma vez que o País é muito grande e faltava um braço tanto comercial quanto de apoio na região Centro-Norte. E, para a Câmara de Comércio, fez total sentido ter essa figura do cônsul como mais uma autoridade representante do país, atuando na estrutura base das negociações”, falou. Em uma mistura de satisfação e de senso de responsabilidade, o empresário contou que antes de aceitar precisou fazer um estudo claro de qual seria seu papel e se faria sentido para todos. “Se vou me comprometer, preciso entender de fato para confirmar minha competência, tempo e responsabilidade para com as atividades consulares. Aceitei o desafio com a certeza de que poderei colaborar significativamente”, afirmou o cônsul.


MATRIZES DE INVESTIMENTO As negociações da Câmara de Comércio em questão abrangem os diversos setores, entre os principais o de defesa, com foco em segurança nacional, especialmente de fronteira; tratamento de resíduos sólidos, em um direcionamento focado em melhoras sociais e para o meio ambiente; energia, com a construção de portos e matrizes energéticas; turismo, fomentando ricas trocas culturais com programas de incentivo diversos; e, também, médico-hospitalar, uma reposta do duro aprendizado apresentado pela pandemia, dentre outros. “São diversos os projetos em andamento. No âmbito do Turismo, entendemos que o Brasil tem muito a aproveitar com essa relação. A República Dominicana é um dos principais destinos das Américas, na frente, inclusive, do Brasil. Nossa proposta é investir nessa troca”, disse. Nesse sentido, um reconhecimento brasileiro: a Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur-DF) reconheceu, na figura da Secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, as ações do Grupo Todde e da Câmara de Comércio Bilateral, entregando-lhe o Prêmio Brasília: O Novo Olhar do Turismo. “Foi um momento muito especial. Estivemos na embaixada, na casa do

Foto: Divulgação

João Paulo Todde, Patrícia Villegas de Jorge e o deputado Orlando Salvador Jorge, da República Dominicana

país que sedia a capital mais antiga do Novo Mundo, Santo Domingo, dentro do espaço geográfico do Distrito Federal que sedia a capital mais jovem do Novo Mundo. É uma referência interessantíssima, pois é o encontro de duas nações que são poderosíssimas e que possuem muito a serem somadas. Queremos enraizar a Câmara de Comércio em Brasília como ponto focal, buscando a geração de negócios e convênios. Sempre digo, mais Brasília é mais Brasil, então precisamos de mais Brasília”, declarou Todde.

1ª MISSÃO OFICIAL DA CÂMARA DE COMÉRCIO BRASIL & REPÚBLICA DOMINICANA Os membros da Câmara de Comércio se preparam para, em setembro deste ano, realizar a primeira missão oficial, pós-fundação, para avançar com os projetos e negociações, e reforçar a relação do poder público com o setor privado. Participarão do encontro: • • • • • • • •

Jorge Subero – Presidência de Cap Cana Roberto Álvarez – Ministro das Relações Exteriores David Collado Morales – Ministro do Turismo Víctor-Ito-Bisonó Haza – Ministro da Indústria Comércio e Microempresas Pedro Brache – Presidência do CONEP Orlando Jorge Mera – Ministro do Meio Ambiente Carolina Mejía – Prefeita do Distrito Nacional Raquel Peña – Vice-Presidenta da República GPSLifetime « 51


ÍCONES POR ISADORA CAMPOS

OS JUSTOS ALÉM DA ORDEM A discussão sobre o que é justiça antecede ordenamentos jurídicos. É inegável que o senso do que é justo e correto é particular a cada indivíduo e, por assim ser, carrega consigo as suas parcialidades. Em contraponto, a justiça é a perseverança pela igualdade de oportunidades e garantias, expressando uma consciência coletiva. Em doutrinas kantianas, ser justo é virtude, é singularidade atrelada à moral. Aos cristãos, aqueles que praticam a justiça são bem-aventurados. Ao platonismo, é um elo permanente com a felicidade e com o divino. É a máxima das virtudes, aos aristotélicos, adquirida através da reiterada pratica de boas ações, tornandose assim, um hábito. Praticar a justiça é, além de seguir o direito positivo, respeitar normas e ordenamentos jurídicos. É valorizar o próximo, ter coerência e propósito em suas ações, e oportunizar um enobrecedor legado à sociedade. Em uma pluridisciplinar visão, contemporânea e humanizada, das necessidades coletivas, que se multiplicam e se individualizam na mesma proporção em que a sociedade evolui, protagonistas aplicadores do Direito e empreendedores sociais pautam as suas condutas.

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JOSÉ EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN

“A minha geração tem o desafio de praticar a busca da solução negociada” Em uma complementariedade das dialéticas do direito natural e do positivo, o jurista José Eduardo Rangel de Alckmin buscou sempre garantir o equilíbrio da distribuição de oportunidades, sem permitir que o abuso da força ou do poder prevaleça. Ao advogado é a busca incessante desse equilíbrio que consiste na

Foto: Gabriel Correia

@isadoracampos


RENATO GUANABARA LEAL DE ARAÚJO

“Para sermos justos, temos que ter o senso coletivo de comunidade” Graduado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), tem como marco da justiça brasileira o aprimoramento da legislação pátria em defesa dos direitos das mulheres. “No âmbito eleitoral, por exemplo, posso citar a Lei que trouxe a obrigatoriedade de pelo menos 30% dos candidatos serem do sexo feminino nas eleições proporcionais. Posteriormente, o STF declarou a constitucionalidade da lei e, por último, o TSE decidiu que pelo menos 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha devem ser destinados para financiar as campanhas de candidatas no período eleitoral”.

essência da atividade do profissional do Direito. “Esse trabalho exige dedicação permanente, seja pelo aprimoramento dos conhecimentos, seja pelo esforço de compreensão da exata dimensão das controvérsias”. Além de ter trabalhado para manter as diretrizes de integralidade, ética, respeito e justiça, Alckmin também compartilha do seu conhecimento como mestre acadêmico de Direito Eleitoral no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) há 17 anos. “Penso que minha geração tem o desafio de mudar a cultura do litígio judicial e de praticar com muito afinco a busca da solução negociada”. Além de defensor de mediações ante à morosidade de conflitos litigiosos, o jurista também é reconhecido pelas atividades sociais que desenvolve junto a sua família. Ao lado da mulher, Geiza, ele é notório filantropo na capital, debruçando seus esforços em instituições sociais, como Casa do Candango e Instituto Proeza.

Acredita que a aplicação do direito material alinhado ao bom senso e à isenção é que o permite alcançar a justiça, sobretudo ao se colocar na posição do jurisdicionado. E isso se repete em sua vida particular, quando, em trabalhos sociais que desempenha na comunidade da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, coloca-se na posição do assistido e se dedica a oferecer oportunidades de aprendizado e profissionalização. “Para sermos mais justos, devemos ser mais solidários, mais altruístas, termos um senso coletivo de comunidade”, assegura ele, que busca em suas ações de justiça consolidar a formação de suas filhas, Gabriela e Isabel, para que contribuam com a coletividade, como o faz ao lado da mulher, Aline.

MILENA CÂMARA GODOY

“A justiça não é um objeto concreto, mas, sim, uma construção” Em áreas menos favorecidas é que também trabalha Milena Câmara Godoy, advogada e ativista social. Ao lado do Secretário de Tecnologia e Inovação do Distrito Federal, Gilvan Máximo, tem percorrido as regiões administrativas do Distrito Federal para consolidar o Wi-Fi social, acesso grátis à rede. “A justiça não é um objeto concreto, mas, sim, uma construção pela qual todos nós somos responsáveis. Devemos partir do preceito de que, para que se alcance um ponto em que a convivência social torne-se ‘justa’, é necessário que se estabeleça certa forma de compensação para aqueles indivíduos que começaram a vida social em desvantagem!”, atesta ela, que é defensora de ações como a instituição de um salário-mínimo, segurodesemprego, a lei Maria da Penha, as cotas raciais e as demais ações de seguridade social. “Todas essas ações visam trazer proteção aos indivíduos e eu acredito que lutar pelo fortalecimento destas causas é trabalhar para que a justiça social alcance todos”, disse. Ela atua em projetos como no Centro de Ensino e Reabilitação de Especiais – CER. GPSLifetime « 53


“Sempre que você for justo estará sendo bom”

A Juíza de Direito Cláudia Silva de Andrade tem em seu currículo ter trabalhado no gabinete do ministro João Otávio de Noronha enquanto ele esteve na presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas, apesar de ser ávida defensora das leis, é também articuladora de que a mudança por um mundo mais justo se inicia em nós mesmos. “Em pequenas atitudes e grandes intenções, podemos semear e fazer o bem no dia a dia”, diz. Às futuras gerações, quer ser vista como uma mulher que teve seu conhecimento acadêmico usado para compartilhar justiça entre os cidadãos. “O legado mais importante é de que algumas lutas devem ser deixadas para trás, outras não. E uma que deve ser sempre levada em frente é a luta pela justiça. Custe o que custar, ela sempre deve ser uma prioridade para todos”. Assim como Albert Einstein, ela defende que nem sempre ter boas ações significa ser justo, mas que o inverso é uma verdade. “Sempre que você for justo estará sendo bom. Respeito, lealdade e amor ao próximo são o primeiro grande passo para a efetivação da justiça no nosso dia a dia”. 54 « GPSLifetime

Fotos: Divulgação

CLÁUDIA SILVA DE ANDRADE

VANESSA CHRISTINA GARCIA LEMOS

“As mulheres em geral têm que se esforçar muito mais do que os homens” Outra fervorosa defensora do protagonismo feminino, a Juíza de Direito Vanessa Christina Garcia Lemos procura estender oportunidades a mulheres dedicadas que formam o seu gabinete, um dos com maior representatividade feminina. “Acredito que as mulheres em geral, e as de carreira jurídica ainda mais, têm que se esforçar muito mais do que os homens para serem respeitadas como profissionais. Somos muito mais exigidas. O patriarcado ainda é muito forte em nosso País”. Enquanto magistrada, acredita que possui a especial responsabilidade de tutelar os interesses dos cidadãos em situação de vulnerabilidade socioeconômica/ cultural e que têm na justiça sua única proteção para fazer valer seus direitos. “Justiça para mim é garantir que todas as pessoas, independentemente de cor, raça, opinião, religião, situação socioeconômica, sexualidade ou gênero, tenham seus diretos garantidos pela lei de forma isonômica”, acredita ela, que precisou ser diversas vezes escoltada para garantir a sua integralidade.


ARTIGO NELSON WILIANS

Empreendedor, advogado, fundador e presidente do Nelson Wilians Advogados

O ESG E A PANDEMIA

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m 2005, Nova Orleans foi quase que varrida do mapa pelo furacão Katrina. E a rede Walmart desempenhou um papel admirável nos esforços de socorro aos moradores daquela cidade americana. A empresa foi uma das protagonistas na obtenção de alimentos, água e outros recursos para áreas atingidas por violentas enchentes. Pode-se dizer que foi durante a passagem do Katrina que o Walmart praticamente despertou para o ESG. Nas palavras de Kathleen McLaughlin, que ingressou na empresa em 2013 como a primeira diretora de sustentabilidade, “isso realmente colocou o grupo em um caminho diferente, que continuou a evoluir”. Longe desse gigante do varejo ser um modelo perfeito, esse fato é extremamente relevante por se tratar de uma rede que tem “2,2 milhões de funcionários, 11.500 locais de varejo e receitas que excedem o produto interno bruto da maioria dos países”, de acordo com a Barron’s, uma publicação da Dow Jones, que apontou recentemente o esforço do Walmart para implantar iniciativas ambientais ambiciosas, introduzir programas para melhorar as condições de trabalho e apoiar a saúde pública. Como já escrevi à Folha de S.Paulo, o ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) deve estar no radar de todas as empresas, independentemente de tamanho e de segmento de mercado, principalmente nesses tempos em que a pandemia de coronavírus está esmigalhando nossa saúde e nossa economia. Não é apena um ou outro setor que precisa se preocupar em implantar ações e estratégias sustentáveis. Essa percepção vem crescendo aceleradamente tam-

bém entre as nações, desde a formulação da política de desenvolvimento sustentável pela ONU. Países que não se adequam a essa nova realidade estão encontrando enormes barreiras, vide o caso brasileiro e a pressão internacional para que o país proteja a região amazônica. Essa postura ativa tem efeito dominó em relação às questões sustentáveis e, consequentemente, nas relações comerciais de maneira geral. A lógica é simples, todos precisam ser parte da solução. A nova escala criou uma mudança positiva em cadeia: ou se está dentro ou se fica, forçosamente, de fora. Do meio do furacão da pandemia, fica difícil enxergar o que restará ao final. Arrisco-me a dizer, porém, que as questões de governança ambiental, social e corporativa serão impulsionadas ainda mais em todo o planeta. E não se trata apenas de uma questão de mercado, que exige das empresas uma postura ativa nessa direção. Cada vez mais, futuros governantes só serão admitidos se propuserem estratégias sustentáveis fundamentadas, isso será uma exigência da comunidade local e da global. A pandemia está ampliando nossa visão de questões que precisam ser levadas a sério daqui para a frente, mesmo que estejamos ainda no olho do furacão. A bonança só virá para aqueles que se converterem. Simples assim. Parafraseando o escritor francês Bussy-Rabutin, que assinalou que “a distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande”, que o vento desse furacão pandêmico inflame o fogo de um grande novo tempo.


COMPANHIA

A LUZ QUE NOS PROTEGE ILUMINAÇÃO PÚBLICA E ENERGIA LIMPA SÃO AS NOVAS DESIGNAÇÕES DA CEB. PRESIDENTE EDISON GARCIA ASSUME A MISSÃO DE EM DOZE MESES DAR NOVA APARÊNCIA PARA A CAPITAL POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS JP RODRIGUES

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rasília, a cidade que surgiu do sonho. Hoje se transforma em pintura a cada fim de tarde ao irradiar os mais belos tons do pôr do sol. Foi contemplando o horizonte que Juscelino Kubitschek fez de Brasília a cidade do futuro e da inovação. A capital da República precisa de luz própria. E a luz da alvorada fez-se em 1968, com o nascimento da Companhia Energética de Brasília (CEB). Foram mais de 50 anos 56 « GPSLifetime

de serviços prestados. Ora em boa fase, ora nem tanto. Mas iluminando eixos que formam o avião do Planalto Central. Com o tempo, o compromisso firmado com a população de “trazer melhorias ao brasiliense e transformar a cidade” passou a oscilar. A energia da companhia, sucateada pela idade, dava sinais de esgotamento. Foi assim que surgiu a longa discussão em torno da privatização da companhia após a atual gestão do


GDF identificar déficit de cerca de R$ 800 milhões nos cofres da empresa, acumulados especialmente por má gestão e falhas na fiscalização, explica Edison Garcia, presidente da companhia. Após um longo debate, em 2020 sai a decisão: dos quatro pilares da empresa – geração, transmissão, distribuição e comercialização –, a CEB Distribuição entraria oficialmente em leilão. Com importantes players atentos às negociações, no dia 21 de abril, data significativa para Brasília, aniversário de 60 anos da capital, a Neoenergia assume as ações da empresa de distribuição e diversas responsabilidades em uma compra de R$ 2,51 bilhões. Na CEB, Edison foi fundamental para o andamento da negociação. Advogado de formação, com pós-graduação em Direito Societário e em Mercado de Capitais, ocupa o cargo de presidente da CEB desde janeiro de 2019. Sua vasta experiência profissional em órgãos públicos o levou até o atual posto. Fez carreira jurídica como procurador e foi presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Todo o sistema de distribuição de redes, rebaixamento de energia, conexão com o consumidor final fica, a partir do processo de privatização da CEB-D, a cargo da Neoenergia. Assim, a obrigação dessa empresa é, grosso modo, manter os seus ativos em boa qualidade... os cabos, os postes, os transformadores e as subestações devem estar em funcionamento pleno. E também é função da Neoenergia o atendimento direto ao cliente quando há alguma intercorrência na rede, por exemplo, uma queda de energia, que precisa de rapidez na solução”, explica Garcia. Controlada pelo grupo espanhol Iberdrola, a Neoenergia está presente em 18 estados e no Distrito Federal. Com a compra da CEB-Distribuição pela empresa hispânica, esta passa a ser a única distribuidora energética de Brasília. O presidente explica que a privatização foi uma importante medida. “Uma forma de oferecer trabalho competente com tarifas adequadas. A empresa precisava de investimentos para poder, de fato, entregar resultados e avançar. Ao longo dos anos a companhia apresentava uma situação complicada de se contornar. Folha de pagamento inchada e caixa com dívidas acumulativas. Durante o processo muito se questionou, mas, no final das contas, o consumidor se preocupa com o serviço feito. Não importa a cor do gato, importa que ele pegue o rato”, acrescentou. E então, o que é a nova CEB? “Continuamos com a estrutura de célula-mãe, a CEB-Holding,

que atua com diversas outras operações: Lajeado, Gás, Participações, Geração. E o braço da Distribuição, que foi desmembrado em dois: um focado em iluminação pública, que é nossa nova frente, outro de responsabilidade no novo parceiro. Para dar fôlego à CEB Iluminação Pública repensamos nosso patrimônio. Reestruturamos nossos terrenos, que permanecem de posse da CEB-Holding, por exemplo, e desocupamos alguns espaços. Desativamos usinas e realocamos nossa estrutura funcional. Assim, gerimos os gastos e redirecionamos a verba para a empresa”, esclarece.

ADMINISTRAÇÃO No início da atual gestão, a empresa apresentava um déficit de caixa grande, então não havia condições nem de mitigar dívidas nem de se fazer investimentos. “Antes de avançar, era preciso arrumar a casa. Estávamos no limite, próximos de perder a concessão da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) por descumprimento de cláusulas de contrato, de metas econômicas, além dos indicadores de qualidade que estavam se deteriorando. E, para conseguir mudar esse cenário, sabíamos que seria preciso encontrar um parceiro que trouxesse investimento consistente e melhoria de gestão, a resposta não estava no setor público”, disse.

CEB ILUMINAÇÃO PÚBLICA A nova operação da CEB recebeu a concessão do Governo do Distrito Federal por um período de trinta anos, em junho de 2020. A partir daí, a holding da companhia passa a fazer a gestão dos recursos da Contribuição de Iluminação Pública (CIP), bem como todas as operações e serviços do segmento. O formato prevê investimentos anuais, gestão total da implantação de eficientes tecnologias e execução de obras. Segundo o presidente da companhia, o formato permite maior agilidade na modernização do Parque de Iluminação Pública da cidade. “Dessa forma conseguimos executar propostas que estavam paradas por falta de recursos, como a troca de lâmpadas comuns de toda a cidade por lâmpadas de LED. Agora, conseguimos mapear as áreas que mais precisam de suporte e atuar prontamente e aos poucos”, disse. GPSLifetime « 57


FONTE DE ENERGIA Hoje, quase toda a eletricidade consumida em Brasília não é gerada no DF. A matriz energética é amplamente representada pela energia de origem hidrelétrica, sendo que 80% é proveniente da usina de Corumbá IV que integra o parque gerador de Furnas Centrais Elétricas. E 20% de Itaipu, o que representa uma dependência do Sistema Interligado Nacional (SIN). “Em Brasília até temos uma usina no Lago Paranoá, mas o que é gerado não é suficiente. Nosso foco agora é a diversificação da matriz energética, com aumento da participação de energias renováveis. Com forte investimento em energia fotovoltaica, a solar”, diz.

ENERGIA FOTOVOLTAICA “Estamos com um projeto de captação de recursos em parceria com o New Developement Bank (NDB), o banco oficial do BRICS. São USD 60 milhões com destinação para iluminação pública e outros USD 55 milhões para investimento em usinas fotovoltaicas”, explica. Há o programa CEB Sustentabilidade, que terá parcerias público-privadas com Caesb, Metrô de Brasília, Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Parque da Cidade e tantos outros. “Será uma ação transformadora. Cada um desses pontos funcionando a partir de uma usina fotovoltaica. Além disso, há projetos de isenção de IPVA para carro elétrico, com incentivos em eletropostos pela cidade. Outro programa bem-sucedido e já em ação é o Luz que Protege, que nos rendeu um prêmio de reconhecimento do consumidor em 2019. Até o final deste ano, mais trocas para LED serão feitas”, falou.

RECUPERA Também em 2019, a CEB deu início ao Recupera. “Essa foi uma ação importantíssima para a população. Pegamos um estoque de inadimplência de R$ 400 milhões, cortamos juros, multas e garantimos o parcelamento de longo prazo. Foi um alívio financeiro, pois a pessoa volta a pagar a conta de luz, saindo de uma situação de irregularidade. Investimos também no social, com a conscientização da cidadania. Fomos às comunidades e reorganizamos as ligações elétricas clandestinas”, comentou.

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BRASÍLIA ILUMINADA O plano é iluminar a cidade por completo no período de um ano. Contempla espaços como paradas de ônibus, escolas, praças, parques, vias de acesso, estacionamentos, monumentos, quadras residenciais, estádios, prédios públicos. Em especial, o Parque da Cidade Sarah Kubistchek. E também as ciclovias, que ganharão planejamento de iluminação integrado, uma vez que foram construídas, majoritariamente paralelas às rodovias de forma ineficiente. “É um projeto muito bacana. Vamos dar uma cara nova para a cidade”, finaliza Garcia.

A CEB EM NÚMEROS Atuação em 2021 (previsão anual) • Regiões Administrativas contempladas: 24 • Total de luminárias LED instaladas: 13.703 • Valor investido: R$ 12,7 milhões Valores acumulados 2019-2021 • Total de luminárias LED instaladas: 46.230 • Valor investido: R$ 40,4 milhões


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MORADA

QUINHÃO 16, TERRA HABITADA O QUE SOBROU DA FAZENDA FORQUILHA SERÁ NOVO EMPREENDIMENTO DENTRO DO JARDIM BOTÂNICO. UM CONDOMÍNIO VERTICAL COM 1.583 MORADIAS COM POUCO MAIS DE CINCO MIL HABITANTES POR MORILLO CARVALHO

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uinhão” é dessas palavras em desuso no português brasileiro. Causam estranhamento quando aparecem em alguma circunstância. Há uns dois anos, o brasiliense ouve falar do tal “Quinhão 16”, onde será implementado um novo bairro na cidade. Mas, também nesse período, falou-se tanto sobre novos projetos — o da Urbitá, cidade high tech pras bandas de Sobradinho; o do novo bairro na região da antiga Rodoferroviária; o mais performático ainda que será contíguo ao Parque Tecnológico da Granja do Torto... Fica até difícil se lembrar desse tal bairro novo. Primeiro, esclareça-se: “quinhão” é palavra muito usada quando da divisão de bens de herança, é a parte correspondente a cada herdeiro. E aí está a origem deste nome de “Quinhão 16”, embora a tendência é que tudo seja chamado de Jardim Botânico apenas, já que fará parte do bairro que já existe. A lógica será a mesma do Centro de Atividades do Lago Norte, formada por prédios, mas parte de uma região de casas. Quando Brasília ainda não existia, boa parte das terras tinham dono e eram fazendas de gado criado solto. De onde hoje é São Sebastião até o Lago Sul, havia a Fazenda Taboquinha. Do Lago Sul até a Ermida, tudo foi desapropriado. Pedro 60 « GPSLifetime

Ferreira Alves, o dono das terras que sobraram, resolveu repartir o restante entre os 11 filhos em 20 quinhões. Idalina ficou com o 16. Esse pedaço de terra, Idalina e o marido rebatizaram de “Fazenda Forquilha”. Depois, repartiram-na e venderam as partes em chácaras, que se transformaram no Jardim Botânico. Porém, o miolo de todo o bairro mantém-se intocado. É o que, hoje, é chamado “Quinhão 16”. Agora, será um “sub-bairro” verticalizado em prédios de até seis andares, para famílias jovens da classe média-alta, em meio aos já consolidados condomínios horizontais. O metro quadrado deve ser equivalente ao de Águas Claras, que girava em torno dos R$ 6,5 mil antes da pandemia. É um valor bem mais alto que os cerca de R$ 2 mil do metro quadrado do Jardim Botânico.

E SE DEIXASSEM COMO ESTÁ? Na nota técnica do Estudo de Impacto Ambiental para a implementação do empreendimento, o engenheiro responsável, Érick Marcel e Silva Viana, destaca um cenário futuro de crescimento das


Foto: José Jandson de Queiroz

ocupações irregulares, dada a dificuldade de fiscalização e os entraves burocráticos. Para demonstrar, anexou imagens aéreas da região entre 2004 e 2019, em que mostram que o ritmo das ocupações irregulares reduziu, mas não parou. A área do Quinhão 16 é composta por 50 terrenos, cada um com dois a três hectares que, como estão inseridos na área urbana da cidade, poderiam ser parcelados, caso cada proprietário resolvesse fazer isso. Mas os impactos urbanos e ambientais seriam maiores do que o que houve até aqui. Por isso, eles se reuniram para organizar o empreendimento em conjunto. Para o projeto, foi preparado o estudo de impacto com soluções para o trânsito da região, a coleta de águas pluviais e o saneamento básico inteligente. A área tem mais de 104 hectares, sendo que 54 deles deverão ser transformados em uma reserva ecológica particular – esta foi uma condição sine qua non para a liberação ambiental.

O QUE FALTA Já foram percorridas todas as etapas para a implementação do local. Em 11 de novembro do ano passado, um decreto do GDF abriu o prazo de seis meses

para que os empreiteiros façam o registro da região. Também já foram conseguidas todas as licenças ambientais e autorizações das concessionárias que sentiriam impactos diretos, como a Caesb e o DER-DF. A última etapa do Quinhão 16 foi a aprovação do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan). A discussão para a implementação do bairro teve início há, pelo menos, cinco anos, quando estes atuais donos das terras do local se reuniram e iniciaram a tramitação junto ao governo. A área é classificada como “zona ecológica de dinamização produtiva com equidade” – ou seja, o local pode ser aproveitado para a atividade humana, desde que mantenha proporções iguais de uso com o Cerrado. Deve demorar um bocado para o empreendimento engrenar. O local será implementado em 15 fases, sendo dois anos para cada uma, o que totaliza 30 anos de implantação. Serão 23 condomínios com 1.583 moradias, o que dará ao Jardim Botânico um acréscimo de pouco mais de cinco mil habitantes. Mas a região também ganhará comércio e equipamentos como escolas e hospitais, já previstas no planejamento inicial, podendo gerar até quase 7 mil empregos. GPSLifetime « 61


ARTIGO EDINHO MAGALHÃES

Jornalista e advogado, atua como consultor parlamentar no Congresso Nacional – edinho.assessoria@gmail.com

POLÍTICA NA PANDEMIA: TEMPOS DIFÍCEIS E ESTRANHOS

E

stamos vivendo tempos estranhos no país e não me refiro apenas aos efeitos da Pandemia. Trata-se de outra agonia: enquanto criamos esperanças de controle na saúde com a vacina, o sistema político do país vai ficando cada vez mais sem controle. O que era ruim está piorando: soou como um escárnio no meio da imprensa e no seio da sociedade, por exemplo, a votação “express” no Congresso Nacional, início do mês, que triplicou o valor do Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhões para quase R$ 6 bilhões de reais. Oras, se aumentar o valor de recursos públicos para eleições, por si só, já soa absurdo, imaginem fazer isso em meio a uma pandemia que ainda mata brasileiro todo dia?! A situação dramática ganhou contornos de crueldade. E cá pra nós: não se tratam “apenas” de “diretrizes da base de cálculo para o real valor do ‘fundão’ que será votado apenas no fim do ano com o Orçamento da União”. O que ficou valendo, Excelências, foi a intenção! Os números mostram isso! E é preciso entender que, enquanto não existir prioridade máxima para o controle do número de mortos, os “números das eleições” é que não deveriam ter prioridade mínima alguma! E aqui um parêntese: por causa de milhões de reais, os parlamentares entenderam a necessidade de uma CPI para investigar os números das vacinas, mas o mesmo Parlamento não se importa em tratar de bilhões para os números das (suas) eleições! Assim, até parece que a diferença entre milhão e bilhão seja su-

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til, mas não é! Matematicamente, bastaria colocarmos mais um “zerinho” no final da conta. Porém, numa projeção temporal, temos a seguinte diferença: com 5 mil reais por dia, se não gastar nada, em menos de 7 meses você terá seu milhão. Mas para chegar ao bilhão, amigo(a) você vai precisar de incríveis 547 anos. Pois bem, entre milhões e bilhões, a situação se torna preocupante até mesmo para uma solução. Para isso sabemos que é preciso diálogo e acordo. Não basta querer vetar o fundão se o veto poderá ser derrubado. O problema é que tipo de acordo teremos entre um Congresso com apetite (cada vez mais) voraz sobre o dinheiro público para bancar (suas próprias) eleições e um presidente com quase cem pedidos de impeachment nas mãos deste mesmo Congresso. E ainda falando em números, outro tema que vai dominar a pauta dos próximos meses será a polêmica do “voto auditável”. Seus defensores apregoam que “não se trata apenas de um voto impresso”, e bradam: “qual o problema em se criar outra urna, acoplada à urna eletrônica, para o voto ser depositado automaticamente, criando um maior e melhor controle nos casos de auditoria?” A proposta caminha rápido, mas os números do tempo não ajudam. O prazo é curto para valer já nas próximas eleições. E aqui uma última observação. A frase estridente do Presidente: “É preciso ter eleições limpas ou não ter eleições”. A reação dos Congressistas foi rápida sobre “ter eleições, sim!” Mas estranho, foi o silêncio sobre “eleições limpas”, não? Tempos difíceis... E estranhos!


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ORIENTE

A TERRA DO SOL NASCENTE CULTURAS DISTINTAS E 17 MIL KM NÃO DISTANCIAM BRASIL E JAPÃO. PARCEIROS GLOBAIS ESTRATÉGICOS, OS PAÍSES COMPARTILHAM VALORES FUNDAMENTAIS EM ÁREAS COMO POLÍTICA, ECONOMIA, AGRONOMIA E CULTURA POR GIOVANNA PEREIRA «

FOTOS BRUNO CAVALCANTI

E

m um relacionamento centenário, Brasil e Japão se transformaram em nações irmãs. De um lado, a brasilidade e a agitação da alma que samba a cada instante em um novo compasso encontrou na cultura de um povo milenar – e ao mesmo tempo inovador – motivos de sobra para se encantar. Da mesma forma, com olhares atentos, os japoneses viram no Bra-

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sil um povo acolhedor e curioso, além de belezas que seduzem. Por aqui, as asas do quadradinho do Distrito Federal acolhem pela linha do horizonte o sol que se ergue primeiro na Terra do Sol Nascente. De preciosidades milenares do Oceano Pacífico, o Japão é um país insular, ou seja, composto por várias ilhas, cujas quatro maiores e mais conhecidas


são Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku, representando juntas 97% da área terrestre nacional. Curiosamente, Nippon é a terceira maior nação econômica do mundo. A capital, Tóquio, possui cerca de 30 milhões de habitantes. A título de comparação, aqui em Brasília somos apenas cerca de três milhões. Brasília e Tóquio ficam a uma distância de mais de 17 mil quilômetros. Mas é mais fácil encontrar um pouco dessa cultura milenar por aqui do que se imagina. O trajeto é pelo Setor de Embaixadas Sul. A bandeira branca com círculo vermelho no centro anuncia a chegada ao destino. A partir de agora, estamos em território japonês. A Embaixada do Japão se mostra acolhedora, apesar do rigoroso ritual de acesso. É uma das mais antigas de Brasília, foi uma das primeiras a conquistar seu espaço no Cerrado, em 1962, mas foi apenas em 1972 que a conhecemos como ela é hoje. “É um edifício muito rígido, com carinha de repartição pública. Precisa de alguns reparos”, dizem por lá. A rigidez e seriedade do povo japonês são observadas em uma primeira impressão. Se de cara o prédio da embaixada é imponente, conforme atravessamos a primeira parte do terreno nos transportamos.

Uma arquitetura mais leve se apresenta, linhas fluidas e orgânicas, que o tempo todo buscam criar harmonia estética e escultural com a natureza, nunca se sobrepondo, mas sim integrando o cenário, como um detalhe de uma pintura em nanquim. Enfim, chegamos à residência oficial do embaixador Akira Yamada e sua mulher, a embaixatriz Shoko Yamada. Somos recebidos de portas abertas e com cortesia impecável. Em cada detalhe encontramos a riqueza da cultura japonesa e as particularidades da simplicidade do vazio. O importante está na essência, nas portas em papel (o shoji), que criam a transição perfeita entre o interior e exterior; nas caligrafias penduradas, que nos contam histórias em poemas; no jardim interno e central que acolhe a luz; e na presença marcante da madeira, um elemento conhecido pela arquitetura por evocar serenidade e conforto. Ao sair, um encontro com a natureza do Cerrado reconfigurado aos moldes dos conhecidos jardins japoneses: um lago que, para a tradição nipônica, traz purificação; as carpas que simbolizam prosperidade e inspiram calma e meditação; a luminária em pedra com pedestal curvado (chamada rankei) indica o caminho da água. GPSLifetime « 65


PAÍSES AMIGOS Brasil e Japão são parceiros globais estratégicos. Compartilham valores fundamentais como a democracia e o respeito aos direitos humanos. Ambas as nações cooperam na arena internacional além da esfera bilateral, em várias áreas, como política, economia e cultura. Há anos o Japão trabalha, por meio de ações e projetos, para transformar o Cerrado, uma das áreas mais estéreis do Brasil, em um importante polo de produção agrícola. Além disso, os laços interpessoais entre brasileiros e japoneses são um dos grandes motores de

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sustentação da relação entre os países. O Japão é a terceira potência econômica mundial e tem um grande poder financeiro e tecnologia de ponta. Por outro lado, o Brasil é a nona economia mundial, possuindo riquíssimas reservas naturais e um grande mercado consumidor. Nossa visita ao Japão foi breve. Em um momento em que os horizontes do mundo voltam a se alargar, o ensinamento japonês que nos vem é o Kaizen, que evoca nossa constante melhora e um olhar positivo para o mundo: “Hoje melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje!”. Que assim seja.


BRASIL X JAPÃO O Brasil possui a maior comunidade Nikkei – denominação para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão ou para japoneses que vivem regularmente no exterior. E o País de fato esbanja um carinho enorme pela cultura nipônica. Seja pelos sabores, pela força da tradição, pela surpreendente capacidade de inovação e avanços tecnológicos, pela cultura de animes, literatura e/ ou tantas outras características, o brasileiro é apaixonado pelo Japão e por tudo que ele oferece. O intercâmbio entre as culturas é rico. Cada vez mais as trocas culturais são incentivadas para que fluxo de turistas entre os dois países possa ser constante e sempre crescente. Um dos objetivos apresentados na Política de Relações do Japão para o Brasil é o 40 milhões de visitantes estrangeiros nos próximos anos. Com a pandemia esse movimento desacelerou, claro; mesmo assim, a ampla divulgação dos atrativos de ambas as nações não sessou. Atualmente, o número de visitantes brasileiros ao Japão é de cerca de 40 mil ao ano e, do Japão ao Brasil, em torno de 70 a 80 mil ao ano.

EM BRASÍLIA Assim como no resto do País, a promoção da cultura japonesa é constante na capital federal. Diversos festivais, palestras e ações ocorrem durante o ano. Um dos mais queridos do brasiliense é o Festival do Japão, realizado há dez anos, por meio da Federação das Associações Nipo-Brasileiras do Centro-Oeste – FEAMBRA. Em 2020, uma das ações mais significativas de todas as edições, até agora, homenageou as vidas que se foram pela Covid-19, por meio das luzes das lanternas do tradicional Tooro Nagashi, que carregaram nomes dos falecidos e foram colocadas na água do Lago Paranoá, como forma de levar luz ao caminho de suas almas e propagar a paz.

QUEM É QUEM • • • •

Nikkei: imigrantes e descendentes Issei: imigrantes japoneses da primeira geração Nisei / Nissei: segunda geração (filhos de japoneses) Sansei: terceira geração (netos de japoneses)

JOGOS OLÍMPICOS As Olimpíadas vêm como um respiro. Depois de um longo adiamento, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio chegaram a Tóquio em apresentações espetaculares. Mesmo em um cenário de incertezas devido à pandemia, os preparativos e cuidados para o evento esportivo foram feitos com maestria. Um dos destaques foi mostrar que, além de belo, ser sustentável também é preciso. Conforme expresso no princípio de sustentabilidade de Tóquio: “Ser melhor, juntos, para o planeta e para as pessoas”, o comitê organizador desenvolveu ações baseando-se nas metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas e o “espírito verde” se estendeu a todos os aspectos dos Jogos e, particularmente, ao design de elementos olímpicos icônicos, como as instalações esportivas e a Vila dos Atletas, a tocha e as próprias medalhas. GPSLifetime « 67


REPRESENTANTE

O embaixador do Japão no Brasil com Miraitowa e Someity, mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tokyo 2020/21

ENTRE A SABEDORIA E A GENTILEZA COM CARREIRA DIPLOMÁTICA VIGOROSA, O EMBAIXADOR YAMADA AKIRA SE ALEGRA COM BRASÍLIA E AS BELEZAS DO CERRADO. SOBRE CONCEITOS NIPÔNICOS, ELE DIZ VIVER A TRADIÇÃO COTIDIANAMENTE, ENQUANTO PENSA DE MANEIRA INOVADORA

POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS BRUNO CAVALCANTI

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imersão na cultura nipônica vivida pela nossa equipe passa por um breve papo com o embaixador do Japão no Brasil, o gentil Yamada Akira. O encontro foi entre a embaixada e o portão da residência oficial, numa pequena varanda ao ar livre. Mais do que olhos puxados e características físicas de um povo oriental, Yamada mostra ser, é claro, o exemplo de um típico japonês – até mesmo pelo sotaque que acompanha o bom desempenho com a

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Língua Portuguesa. Um tradutor esteve conosco, caso algum termo ou ideia escapasse. No início da conversa, Yamada é sério e tranquilo. Com o passar do tempo, ele se mostra mais falante, em uma possível influência do calor do povo brasileiro – sem perder a formalidade. Yamada chegou ao Brasil em 2017 para assumir o posto e, deste então, encantou-se pelo nosso País. “O povo brasileiro é muito acolhedor e observador da cultura japonesa. E ainda há a beleza da natureza”, diz. Nascido em janeiro de 1958, o embaixador é formado em Direito pela Universidade de Tóquio e desenhou uma carreira diplomática forte. Em 1981, ingressou no Ministério dos Negócios Estrangeiros e, a partir daí, ocupou cargos de liderança em embaixadas pelo mundo: Espanha, Argentina, Estados Unidos, Iraque, México, até a chegada ao Brasil. Devido à pandemia, o tempo de atuação no País ainda é impreciso, mas aqui, ao lado da mulher, ele segue no compromisso de estreitar, ainda mais, as relações internacionais entre Japão e Brasil.


A conversa começa com uma pergunta sobre o relacionamento de Yamada san com Brasília, quando nos surpreende contando que esteve na capital pela primeira vez em 1976, pelo programa do Ministério das Relações Exteriores de Tóquio, quando ainda era estudante. “Vi uma cidade vazia, muito nova e que, na época, me parecia um cenário futurístico”, disse saudoso. Anos mais tarde e aqui estamos, em uma tarde fria e seca do inverno brasiliense. “Brasília é uma cidade muito peculiar, vim pra cá em 2017 como embaixador e me surpreendo constantemente com as belezas do Cerrado, estamos no jardim e aqui diariamente somos presenteados com a visita de araras, beija-flores e tantos outros animais, é lindo”, afirmou. A postura de um tradicional japonês fica evidenciada na hora das fotos. Mas Yamada garante um sorriso, especialmente ao falar sobre os olhares atentos do mundo ao Japão por conta das Olimpíadas, e até posa ao lado de Miraitowa e Someity, mascotes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos deste ano. “Apesar do cenário complicado, vai dar tudo certo. É um momento importante para provar que podemos passar pela pandemia e voltar a realizar eventos”, declarou.

NAÇÕES IRMÃS

PANDEMIA

Sobre o relacionamento entre os países, Yamada san comenta que apesar de forte, muito ainda pode ser feito para estreitar os laços e acordos entre Japão e Brasil. “O Japão e o Brasil mantêm um relacionamento de cooperação e amizade de longos anos e são parceiros importantes que compartilham valores e princípios fundamentais. Sob ‘A Parceria Estratégica e Global’, ambos os países trabalham ativamente para o desenvolvimento da relação de cooperação em áreas abrangentes, não somente entre si, mas também na arena internacional. Atualmente, o relacionamento entre Japão e Brasil é maravilhoso, mas tenho a convicção de que a melhor época ainda virá”, afirmou o embaixador.

A imprevisibilidade e a impermanência da vida são assuntos recorrentes nas filosofias japonesas. A compreensão de que não se tem controle sobre o que virá a seguir pautam as reflexões seculares que ainda são aplicadas no contexto atual. Wabi Sabi é um dos conceitos nipônicos mais conhecidos, talvez por ser bastante aplicado como uma noção estética. Mas, em um contexto pandêmico, o termo inspira que é possível encontrar beleza em tudo, mesmo nas coisas imperfeitas. “A pandemia nos mostrou o quão importante é estarmos presentes na vida uns dos outros e, de certa maneira, nos mostrou como se conectar, seja com pessoas próximas ou, então, com aqueles a milhares de quilômetros de distância. Isso permanecerá conosco”, disse Akira.

UMA ÁRVORE COM ASAS Certa vez, um texto do poeta gaúcho Luiz Coronel foi ilustrado com a representação de uma árvore com raízes profundas e asas. A imagem, que em um primeiro momento se mostra contraditória, pode, afinal, ser a representação mais sincera da cultura japonesa. “Costumo dizer que o Japão não é formado por dois elementos, ora tradicional, ora inovadora, não, os japoneses vivem a tradição cotidianamente e pensam de maneira inovadora. A cultura japonesa mostra uma coexistência fundamental da tradição com a inovação”, explica. O Japão é um país extremamente enraizado em sua cultura, mas que alça voos para o futuro constantemente.

ESPORTE Fã confesso de futebol, Yamada san expõe uma frustração com a capital brasileira: “sempre que me mudo para um novo país, escolho o time da cidade para torcer, mas infelizmente aqui não me decidi ainda”, disse ele de forma gentil e com um sorriso sincero no rosto. Mas não há apenas frustrações no futebol, o embaixador disse orgulhoso que se considera um amuleto da sorte para os brasileiros. “Estive na final da Copa do Mundo de 2002 e o Brasil venceu. Em 2012, no Mundial de Clubes no Japão, também fui ao estádio e o Corinthians foi o campeão. Minha sorte está com os brasileiros”, brincou. GPSLifetime « 69


ARTIGO POR MÁRIO ROSA

Jornalista e escritor

FEIA OU ATRAENTE, A VERDADE FAZ OU DESFAZ O QUE É A GENTE

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ruques do amor são tão... assim... tão corriqueiros. E o homem frágil adquiriu seu repertório. Não para enganar, mas para detectar as artimanhas e os ardis, os mais simplórios. Ele aprendeu a ver os truques repetidos que os amores trazem às vezes como gestos compulsivos, outras, como vícios repetidos. E aprendeu a olhar para as trucagens não para praticar, mas para se defender. Porque o amor em que ele acredita não é o de enganar. É o de se entregar e de se pertencer. Todo amor é ilusão, é invenção, é criação, é miragem, mas nenhum amor pode ser uma mentira. Nenhuma mentira pode contaminar o amor, não pode haver qualquer contágio entre o amor e a mentira, nem o primeiro. Porque o amor, pra ser amor, tem que ser antes de tudo e sempre verdadeiro. E como conciliar a nossa vastidão de imperfeições humanas? No amor, só com a verdade, por mais cruel, por mais profana. O amor é uma verdade que nasce entre dois seres e só sobrevive se continuar sendo verdade, por mais amarga, dura, verdadeira que seja a realidade. Quem tem de andar com vendas nos olhos é a Justiça. Mas o amor não é justo, nem é equilibrado, nem pretende ser imparcial, nem busca a isenção. O amor não é elevado. O amor é pra se viver de olhos abertos. É pra se arrepiar com os deslumbres mais 70 « GPSLifetime

exuberantes e pra chorar de dor com as decepções mais lancinantes. O amor é pra enxergar-se, o amor é pra ver tudo que existe no amante: suas virtudes mais celestiais, seus pecados mais repugnantes. Então, pode vir me amar com toda a sua colossal e assustadora verdade. Eu a prefiro toda assim a uma só gota sua de mentira. Mentir, a gente mente para o mundo. Mentir, a gente mente para os estranhos. Mentir, a gente mente para nós. Mas não. Mentir, nós não mentimos para os amantes. Porque o amor puro e do maior quilate é como o mais transparente diamante. E ele brilha e salta aos olhos porque é raro. E é raro por não ter manchas, por ser claro. No amor só existe uma única beleza: a de ser ingênuo e viver numa ilha de pureza. E essa pureza não precisa ser idealizada. Pode conter todas as poluições do mundo todo. Os amores são mundanos e, ao se encontrarem, trazem os legados de outros anos, de outros planos, de outros amos. Não existem princesas nem príncipes encantados, mas no amor há de existir o encanto. E a essência disso não é desejo, paixão ou vaidade. A faísca do encanto é olhar nos olhos e enxergar toda a verdade. Seja qual for, feia ou bonita, repugnante ou atraente. A verdade, meu amor, é o que faz ou desfaz o que é a gente e o que a gente sente.



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GERAÇÃO

Foto: JP Rodrigues

ATÉ QUANDO ESPERAR

PHILIPPE SEABRA DÁ NOTORIEDADE A UM DOS MAIORES LEGADOS DE BRASÍLIA: O ROCK. UMA ROTA ESPECIAL, PENSADA AOS MOLDES INGLESES, QUE TERÁ A PRINCIPIO 41 PONTOS HISTÓRICOS DESSA GERAÇÃO EFERVESCENTE POR MORILLO CARVALHO

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om 96,4 mil habitantes, a cidade de Santiago de Compostela, no extremo oeste espanhol, dificilmente seria notabilizada ou alçaria fama mundial se não tivesse um caminho místico que a ligasse a outras regiões de seu país. O Meio-Oeste americano provavelmente seria daqueles lugares que só conhece quem vive por lá, não fosse a mitológica Rota 66, a primeira grande autoestrada do mundo, que inspirou road movies e mais road movies. No Brasil, é encantador refazer o trajeto da Estrada Real. O que faz com que todos esses lugares sejam tão especiais? Um bocado de História, muitas histórias, um tanto de cultura, outro bocado de aventuras e 74 « GPSLifetime

Foto: JP Rodrigues


Fotos: Arquivo pessoal/Philippe Seabra

também as paisagens. Brasília, agora, acaba de ganhar uma Rota do Rock. E a ideia é registrar os referenciais que a cidade tem para que cada fã do estilo possa saber o que seus ídolos fizeram nos locais demarcados. Olhe bem ao redor, quando estiver andando por nossas ruas: placas já estão sendo colocadas, e podem te surpreender.

HERANÇA BRITÂNICA A mais antiga iniciativa de demarcar locais que estabeleçam uma conexão entre passado e presente vem de Londres. Desde 1867, a capital britânica tem o “The English Heritage blue plaque scheme”, o que pode ser traduzido para algo como “Herança Inglesa – esquema de placas azuis”. É muito comum, ao andar pelas ruas londrinas, observar a presença delas nas fachadas de prédios, especialmente os históricos. São onde viveram ou trabalharam personalidades notáveis. Todos os anos, a organização pública English Heritage, responsável desde 1986 pelo esquema das placas azuis, recebe pelo menos cem pedidos de reconhecimento de locais onde viveram notáveis. Em

geral, apenas um terço é aprovado, porque os critérios são tão rígidos quanto os que levam fatos históricos aos livros de História: a pessoa precisa ter nascido há pelo menos cem anos ou morrido há, ao menos, 20. É o tempo para que se consolide a herança cultural dela, que se depure sua importância histórica e se reconheça sua contribuição. Por isso é que ainda faltam pelo menos dez anos para que a icônica casa de Amy Winehouse, no bairro boêmio de Camdem Town, conte com uma placa azul. Mas Brasília é Brasília, e seu design único a faz única. Tanto que a Unesco a reconheceu como cidade criativa em design entre 2017 e 2020. Dentre os elementos que a representam, estão as placas de sinalização, concebidas pela equipe do arquiteto Danilo Barbosa – um exemplar da sinalização das quadras 7 Norte está no acervo permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa). E as placas da Rota do Rock seguem os modelos dos inventores do modo de se viver em Brasília: de estrutura metálica, confeccionadas em argamassa armada, marrons (que determinam os pontos turísticos), em fonte Helvética, foram pensadas por um cara ao qual a memória do rock brasiliense deve devotar-se, o vocalista da Plebe Rude, Philippe Seabra.

O CURADOR E IDEALIZADOR Sonho antigo de Seabra, a Rota do Rock, demarcando os lugares importantes dos sons que projetaram a cidade para o País, passou a ser viabilizada numa parceria com a Secretaria de Turismo do Distrito Federal e uma faculdade privada de Turismo. “É um

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Foto: JP Rodrigues

projeto que eu já tinha há muitos anos, e sempre fez tanto sentido... Você está viajando pela Europa, aí vê uma pequena placa. Se está em Londres, aí você vê ‘John Lennon cresceu nessa casa’! Por que não fazer a mesma coisa, claro, guardando as devidas proporções? Já que é tão emblemático, tão histórico, né? Quando eu comecei a mapear os locais, aí sim que eu vi que... nossa, é muito legal isso aqui”, conta Seabra. A princípio, a Rota teria 15 pontos. No fim das contas, tem 41. “São dos mais diversos... Do Teatro Galpão, que mais representa o movimento da década de 70 [o Teatro Galpão fica no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul], ao Teatro Garagem, que já pega aquela década de 90”, pontua o curador, lembrando que, embora este último espaço tenha sido fundado em 1979, no antigo estacionamento subterrâneo do Sesc 913 Sul, o clube em si deu palco a inúmeros shows de rock progressivo na década de 70. “Inclusive o primeiro show de rock que eu vi na minha vida foi lá”, lembra Seabra. Dentre os locais oitentistas a serem demarcados, estão o espaço onde funcionou a lanchonete Food's, nos fundos do antigo Cine Karim, na 110/111 Sul; o local que sediou o bar Cafofo (407 Norte); a Colina da UnB e o Brasília Rádio Center – onde Plebe Rude e Legião Urbana alugavam uma sala que servia de 76 « GPSLifetime

estúdio. “Imagine para o fã do rock de Brasília poder ficar em pé, no exato local onde o Aborto Elétrico fez o primeiro show? Tem alguns pontos importantes também nas RAs, como o Cave, no Guará, onde foi o primeiro show da Legião Urbana aqui em Brasília. E o mais importante pra mim é em Taguatinga, onde havia o Teatro Rolla Pedra”, conta. Philippe Seabra diz que coisa maior está por vir, mas desconversa quando questionado. Diz que a Rota é só o começo deste projeto. Bom, só podemos esperar algo realmente imenso, tendo em vista


que, só para o ano que vem, ele pretende lançar sua autobiografia O Cara da Plebe, o musical A Evolução (que já estava pronto e só não entrou em cartaz por causa da pandemia, mas foi montado pelo multiartista Jarbas Homem de Mello), um disco acústico da Plebe Rude (porém “mais punk”, ele ressalta) e um musical solo.

QR-CODE A secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, lembra: “em cada uma das placas, o Philippe vai contar a história do que aconteceu naquele local. Além disso, nós teremos um QR-Code, que vai poder ser acessado, para que a pessoa tenha uma experiência muito interessante de poder enxergar como era, naquele momento, da história. É um produto único e que só Brasília poderia ter”. Sim, serão placas que respeitarão o padrão de sinalização visual de Brasília, como preconizou Danilo Barbosa, e que honrarão a nossa história musical, como sonha Philippe Seabra. Mas terão esse quê a mais, essa possibilidade de conhecer mais do que dizem as informações da placa. “Acreditamos muito nesse resgate do que Brasília tem de melhor: essa geração que criou aqui músicas e que são talentos que o Brasil inteiro ama e reconhece”, diz a secretária. E só para você ter um gostinho do que dizem as placas, olha o texto da que está na Torre de TV desde o último dia 13 de julho, o Dia Mundial do Rock,

quando houve a entrega da primeira placa, com um pocket show: “Local de grandes concertos nacionais e internacionais, a Torre de TV foi onde o rock alternativo e underground de Brasília encontrou seu maior público. Foi aqui que bandas como Móveis Coloniais de Acajú e Scalene, vencedor do Grammy Latino, se consolidaram perante o público brasiliense, mantendo viva a tradição do rock da cidade. Mas nenhum DVD de porte pode ser filmado aqui devido à interferência do sinal da torre nas gravações”. Se, outrora, o Aborto e o Capital Inicial cantavam que “por toda a plataforma você não vê a Torre”, agora é hora de vê-la. Mas de um jeito bem diferente... GPSLifetime « 77


Fotos: Marco Vieira

MÚSICA

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B

rasília era um emaranhado de poeira, céu amplo, ruas vazias e descobertas ao dispor de qualquer jovem nascido na década de 60. E o pequeno Milton Guedes aproveitava tudo isso. Na 710 Sul, onde vivia, dividia a vida entre andar de skate e ir ao colégio. Uma vida sossegada, mas divertida. Que se transformaria repentinamente. E o transformaria no Milton Guedes, cantor e multi-instrumentista que acompanharia Lulu Santos, Sandy & Júnior e que, agora, após 78 « GPSLifetime

um hiato de 24 anos, acaba de lançar um disco solo. Nenhum jovem em 1998 passou alheio à música Sonho de uma Noite de Verão, hit do primeiro disco do músico. Se é o seu caso, nem preciso seguir adiante na letra: canção pop e de refrão fácil, com as batidas típicas do fim da década de 90 e usadas por artistas como Vinny e Maurício Manieri. Mas a carreira de cantor ficou interrompida por uma intervenção em sua gravadora à época.


De lá pra cá, porém, não parou. Ao contrário: foram sete canções em trilhas sonoras de novelas, mesmo sem lançar discos, e uma intensa atividade como instrumentista: esteve nos acústicos do Roupa Nova, fez turnês como instrumentista… Aliás, a história do candango – que não vive em Brasília desde 1986, mas sempre retorna porque é onde a família fixou raízes – merece ser contada do começo...

SKATE E CORAIS “A vida era ir a pé para a escola pública, assoviando – o que viria a se transformar num instrumento pra mim, depois – e participar dos campeonatos de skate da 115 e da 710 Sul”, conta Milton, que hoje é considerado um dos melhores assobiadores do País. Ele tinha 14 anos quando a semente da música começou a germinar. “Minha irmã, cantora dos corais do Sesi, me incentivava. E o meu irmão era baterista de bandas de rock dos anos 80”, lembra. Pouco mais tarde, Milton Guedes formou a banda Pôr do Sol. “Que eles (os roqueiros) odiavam porque era mais fofinha (risos). E Brasília era a cidade do rock, então quem fazia pop era execrado. Ao mesmo tempo, nos festivais de Brasília, o Renato era massacrado – e cantando o que faria dele o Renato Russo”, diverte-se.

SAX, CLARINETE E FLAUTA Milton trabalhava no Banco do Brasil, fazia cursinho, e toda vez que se aproximava de casa, o som do saxofone do maestro vizinho dominava a 710 Sul. Foi quando decidiu, num rompante, bater à porta dele. “E foi arrebatador. Ele viu esse arrebatamento nos meus olhos e falou que me daria aula de graça. Na primeira aula, saí tocando”, diz. Então começou a tocar no Gilberto Salomão, e uma ilustre presença transformaria a vida do jovem músico para sempre.

OSWALDO MONTENEGRO Barril 2000 era o nome do point. Numa sexta à noite, Oswaldo Montenegro acompanhou sua apresentação. Ficou impressionado com a versatilidade do jovem que já tocava sax, flauta e gaita. E o convidou para almoçar no dia seguinte em sua casa, pois o queria na próxima peça de teatro. “Ele já falava como se eu já estivesse na peça. Ele me disse: `tem ensaio segunda`, no Rio. O pai dele puxou o livretinho, com a passagem aérea para o dia seguinte, e disse pra eu não dizer Não”, recorda. Domingo estava no Rio de Janeiro, segunda começou os ensaios e nunca mais voltou a morar GPSLifetime « 79


em Brasília. Após a temporada da segunda peça de Oswaldo, Milton entrou em sua banda. Ao mesmo tempo, começou a tocar na noite do Rio. Foi quando conheceu um grupo de reggae...

LULU SANTOS

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO Quando Milton tentou um primeiro disco solo, em 1994, quem o produziu foi Lulu Santos. Mas esse disco acabou “não acontecendo”, como o próprio artista define. Só voltou a gravar depois de conhecer o produtor musical e compositor Guto Graça Mello. O hit que seria a única música de trabalho do segundo foi uma brincadeira inspirada no som do Skank. “O Guto falou que precisávamos de um popzão, e Garota Nacional estava estouradaça. Resolvi pegar esse beat, e fui viajando na ideia de o Samuel Rosa cantando ‘é o ouro, é o bicho, é uma onda de calor, é dez! Afrodite, deusa do amor’”, rememora. A música explodiu. Tudo se encaminhava para que o disco fosse sucesso absoluto. Mas a EMI Odeon internacional resolveu fazer uma intervenção na gravadora brasileira. E todos os projetos seriam congelados. “Foi a maior decepção da minha vida, porque a gente dependia muito das gravadoras nessa época. Elas ganhavam 70, 90 por cento do que vendíamos, mas elas faziam tudo”, conta.

SANDY & JUNIOR A frustração durou pouco: voltou para a banda do Lulu, compôs, fez música para o Rouge – é dele o primeiro single da girlband, Não dá pra resistir, antes mesmo do estouro de Ragatanga. Para Sandy & 80 « GPSLifetime

Foto: Marco Vieira

Gravava com este grupo no estúdio de uma gravadora grande, e quem estava no estúdio ao lado? Lulu. “Lulu ficou impressionado. Me chamou, elogiou e convidou para uma audição”. Passou, então, seu telefone. Lulu prometeu ligar, mas mais de um mês se passou e nada. Então tornou a tocar na Gig Saladas – uma casa no Leblon. O local era frequentado por nomes como Cássia Eller, Eduardo Rangel e Tom Capone. “Terminei um apresentação e veio um cabeludão: ‘pô, você é o Milton Guedes! Sou guitarrista do Lulu, ele perdeu o seu telefone, tá atrás de você!’”, conta. Um mês depois, estreava a turnê no Canecão. Era junho de 1988. Foi o início de uma parceria de mais de trinta anos. Júnior, fez A Gente Dá Certo. E deu certo quando a dupla resolveu chamá-lo para uma canja de Sonho de uma Noite de Verão num show. Em pouco tempo, estavam amigos, seguiu com a banda em turnê e montou outra, a SoulFunk, com Junior. Foi tão marcante esse período que, em 2019, quando os irmãos resolveram fazer a turnê Nossa História, nem pestanejou em aceitar o convite de estar junto.

DISCO NOVO Vinte e quatro anos se passaram e chegou a hora de botar fim ao jejum. Lançou o primeiro single, Se Você Aparecer, do álbum Baladas de Amores Abalados, refletindo sobre o tempo da pandemia e brincando com a música Balada do Amor Inabalável, do Skank. “A pandemia acabou com várias relações ou as deixou confusas”, brinca. Perguntado se seria uma experiência pessoal, ele abre o jogo: “todo mundo passou por uma crise nesse período e agora estamos bem, mais do que antes”. Adriana Maciel, a esposa, é editora de livros, cantora e flautista formada pela UnB. Estão juntos há 32 anos e têm dois filhos: a designer Raíssa e o músico Rudah. “Eu estou esperançoso e muito feliz por estar conseguindo, finalmente, relaxar com o trabalho que eu produzo e botá-lo para o mundo, porque não tem mais porque guardar”, planeja o músico de 58 anos. O Cerrado e seus habitantes o aguardam ansiosamente.


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NOITE

NÃO EXISTE MADRUGADA SEM PAULINHO PRODUTOR QUE REVOLUCIONOU A NOITE DE BRASÍLIA, PAULINHO MADRUGADA CELEBRA 25 ANOS DE FESTAS. A BOA NOVA É ARVOREDO, RESTAURANTE MUSICAL NO PARQUE DA CIDADE POR MORILLO CARVALHO « FOTOS LUARA BAGGI 82 « GPSLifetime


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e você vive em Brasília há mais de 20 anos, lembra-se da época em que dizíamos “não tem nada pra fazer na cidade no fim de semana”, ou “em janeiro, Brasília vira uma roça”. Faz tempo que a realidade é outra. Pois pode agradecer a uma pessoa: Paulinho Madrugada. Ele não foi o único responsável por transformar a noite da cidade, mas certamente foi um dos precursores. “Eu cursava Processamento de Dados no UniCeub e Ciência Política na UnB. Primeiro semestre ainda. Aí, viajo pra Piripiri, no Piauí, onde tinha muita coisa pra fazer: tertúlia, seresta, ir pra praça, ir pro clube, ir pro açude, forró, festinhas. Aqui, o único evento era, nessa época do ano, ir para o Gilberto Salomão, ver os carros passando. Em comparação a Brasília, Piripiri parecia Las Vegas. Volto e falo: tem alguma coisa errada. Vou fazer uma festa, trazer esse clima de férias e de alegria pra cá”, rememora. A ligação com o Piauí não é à toa. Foi em Teresina que Paulo Henrique do Rêgo Bandeira nasceu, em 22 de julho de 1974. Mas apenas nasceu – seis meses depois, estava em Brasília para ficar. O pai, bancário, e a mãe, do lar, escolheram o início da Asa Sul como morada: viveu a infância e a adolescência entre a 102 e a 202 Sul, o Colégio Dom Bosco e o Colégio Militar. Para além dessas raízes, as que Paulinho Madrugada criou em Brasília fazem com que um pedaço importante da história cultural da cidade tenha as marcas dele. Como um bom brasiliense, a diversão na adolescência, nos anos 80, eram as festinhas de apartamento, ouvindo Será, da Legião Urbana. Citando Renato Russo antes de formar a banda, vale se lembrar de Anúncio de Refrigerante, na qual o poeta se apresentava como “o trovador solitário” pela cidade: “sentado embaixo do bloco sem ter o que fazer... Passar as tardes no Conjunto Nacional, com muita coisa na cabeça, mas, no bolso, nada. E chega o fim de semana e todos se agitam, sempre à procura de uma festa e ninguém nunca agita nada”. Brasília era assim até a ida de Paulinho ao Piauí. Ele estava com 19 anos. “Em princípio, a festa seria de forró, sucesso na época, mas vi que ninguém gostava em Brasília. Virou uma festa meio doida, com o nome Quero Mais que o Mar Pegue Fogo Pr’eu Comer Peixe Frito. Tinha tudo pra dar errado, mas por incrível que pareça a festa deu muito certo”, lembra. Foi também quando decidiu se autointitular como Paulinho Madrugada. “Criei um nome e uma pro-

Foto: Acervo pessoal Paulinho Madrugada

Melhores do Mundo

dutora. Achava esse nome muito engraçado”, conta. Festas pequenas que foram crescendo à medida em que foi se tornando o “cara” das formaturas da UnB. Das formaturas, passando pela festa A Volta dos Anos 80, o incentivo à cultura local e as reinvenções com a pandemia, a verdade é que Paulinho é figura icônica na capital. Não existe madrugada sem Paulinho.

MASKAVO E OS MELHORES DO MUNDO “O primeiro evento do qual eu fui o dono, o produtor, foi o lançamento do primeiro CD do Maskavo. Foi um divisor de águas da minha carreira e da deles também. Foi no Salão Social da Asbac, junto com Os Wallaces – banda que Victor Leal e Adriano Siri tinham antes de surgir Os Melhores do Mundo. Lotou”, conta. Logo depois das festas de formatura e deste show grande, Paulinho criou sua festa mais famosa, que já teve 60 edições em 25 anos.

A VOLTA AOS ANOS 80 “Os ‘anos 80’ começam em 82, com Você Não Soube me Amar, da Blitz; tem o auge em 86 com o segundo disco da Legião (Dois); tem O Concreto já Rachou, da Plebe Rude e o Cabeça Dinossauro, dos Titãs. Quando chega em 88, decai muito rápido, já não tem tanto disco bom e começa a vir o pagode, o sertanejo e o axé. Quem foi criado ouvindo Plebe Rude, daqui a pouco só tinha Katinguelê pra ver na televisão. Então, em 95, as pessoas já estavam com muita saudade dos anos 80”, lembra. “É quando você tem a maior banda do Brasil, que é a Legião, e os maiores artistas do mundo, como Michael Jackson, Madonna, New Order, Smiths...”, reforça. GPSLifetime « 83


MELHORES DO MUNDO O objetivo de Paulinho sempre foi o de tornar a cidade em que vive o lugar mais legal do mundo. Foi quando acompanhava o Jogo de Cena, evento organizado pelo diretor teatral James Fenstersaifer, que viu começar Os Melhores do Mundo. “Eu quero participar disso”, decidiu, aos 21 anos. “Fui o primeiro patrocinador, apresentador da peça de estreia, Sexo. E de lá eles seguiram firmes com o grupo”, conta, orgulhoso.

AFONSO BRAZZA Nascido em São João do Piauí (PI), Brazza viveu a infância no Gama, foi para São Paulo e integrou a equipe técnica de José Mojica Martins, o Zé do Caixão. Conheceu uma das musas da pornochanchada, Claudete Joubert, com quem se casou e voltou para Brasília, para tornar-se o cineasta da capital. Em 1993, lançou Inferno no Gama. Encantado com os cartazes dos filmes, Madrugada pegou o telefone dele e foi ao Gama. Formaram uma parceria que resultou em três filmes.

TRIO SIRIDÓ, FORRÓ CHIQUE E SEU JOÃO Se em 1993, quando voltou do Piauí, achou que o brasiliense não curtiria o forró, no final dos anos 90 a coisa estava bem diferente. “Virou uma loucura o Forró Chique, às segundas-feiras. Comecei no Cacadu, onde hoje é o O’Rilley, depois no Café Cancun, Fashion, Frei Caneca. E o Trio Siridó ficou super conhecido”, diz. Outro evento que marcou época foi a Festa do Seu João, que chegou a reunir 30 mil pessoas. “Teve dimensão de festival, era como o nosso Rock in Rio”. 84 « GPSLifetime

Este, e vários outros, foi realizado em parceria com a Verri Verri Produções – formada pelos irmãos Paulo e Rodrigo Verri, também sócios quando abriram a Boate Macadâmia, que funcionou entre 2004 e 2006.

DANCETERIA E LEGIÃO SINFÔNICO Nos últimos três anos, Madrugada lançou uma nova festa, no Iate Clube: a Danceteria. Com a pandemia, porém, tanto a festa que o consagrou quanto esta nova tiveram interrupções. A Volta teve uma edição no Drive Show, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson, em formato adaptado. Mas um evento pandêmico de sucesso, preparado por ele, e que deverá voltar ao calendário da cidade, é o Legião Sinfônica: realizado em novembro do ano passado, chegou à lotação máxima permitida para o momento, de 40% da capacidade do teatro do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, reunindo a Orquestra Filarmônica de Brasília e a banda Quatro Estações, tocando o repertório da Legião.

POR FALAR EM LEGIÃO... Os percalços também existiram. Um dos maiores foi quando, na terceira ou quarta festa A Volta aos Anos 80, na piscina de ondas do Parque da Cidade, a chuva inviabilizou o evento. Paulinho gravou, de dentro da piscina, com água perto dos joelhos, um vídeo anunciando o cancelamento. Quem tocaria, como convidado surpresa, era Dado Villa-Lobos, o guitarrista da Legião Urbana. “Eu estava preparado pra ser a melhor festa da minha vida. A situação estava crítica, eu estava muito triste, mas resolvi gravar o vídeo. A reação das pessoas me surpreendeu, ninguém reclamou”, lembra. Duas semanas depois, teve festa. Espera só essa pandemia passar pra ver se elas não voltam com tudo...

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COMUNICAÇÃO

A VERVE DO EMPREENDER ANTES MESMO DOS TRINTA ANOS, ELA ASSUME OS NEGÓCIOS DA FAMÍLIA, MODERNIZA E PROSPERA. RUSKAYA ZANINI ESTÁ PRONTA PARA INVESTIR EM NOVAS FRENTES E MOSTRAR AOS JOVENS COMO PREPARAR UM FUTURO DE QUALIDADE POR PAULA BEATRIZ « FOTOS JP RODRIGUES

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iferentemente de muitas meninas da sua idade, quando criança, a diversão da brasiliense Ruskaya Zanini era montar e desmontar televisões e jogar futebol. “Eu era muito agitada e curiosa”, lembra. A inquietação também se refletiu na adolescência, quando adiantou o fim do Ensino Médio para entrar para o mundo universitário. O curso escolhido foi o de Administração, já vislumbrando um futuro no meio executivo, inspirada nos passos do pai, um homem de muita garra. Hoje, aos 28 anos, Ruskaya atua como CEO da agência Fields 360. Mas deixa claro que não foi uma trajetória fácil. “Não é porque o meu pai é o fundador da empresa que estou aqui. Estou há mais de dez anos na Fields e lutei por cada crescimento que tive”, garante. O pai, Sidney Campos, foi lavador de prato, depois fotógrafo, até que, em 2000, montou a agência de publicidade. “Meu pai sempre foi ousado e empreendedor. Tornou-se fotógrafo e diante da necessidade dos seus clientes em encontrar um produto melhor, ele abriu a nossa empresa”, relata. A trajetória da família teve um imenso desafio em 2004, quando, aos 12 anos, Ruskaya foi diagnosticada com um câncer que poderia ser fatal. Um tratamento intenso e rigoroso uniu a família e fortaleceu a jovem menina. “Ouvi de um médico que para eu viver dependia mais de mim do que do tratamento: ‘você é protagonista da sua vida. Se vai viver ou morrer, só depende da sua escolha’. Aquilo reacendeu meu coração. Apesar das dificuldades e de perder boa parte da minha infância com as quimioterapias, consegui superar a doença. Aprendi muito sobre como ser resiliente e hoje vivo sem meu pulmão e sem quatro costelas”, emociona-se. Vencida a doença, Ruskaya diz que nunca mais foi a mesma. Talvez, daí, sua determinação em fazer a di86 « GPSLifetime

ferença. E ela tinha uma meta: entrar na Fields por merecimento. Cursava o terceiro semestre quando pediu ao pai uma oportunidade. E lá foi ela ocupar o cargo de... estagiária. “Eu fazia de tudo um pouco, ajudava na parte administrativa com sua mãe Adriana Zanini, que ingressou em 2010 para fazer uma consultoria ao Sidney, mas se tornou sócia e ajudou a crescer a empresa. “Foram anos bem intensos, eu estudava de manhã, trabalhava à tarde e tentava adiantar algumas matérias à noite para acelerar a conclusão curso”, revela. O próximo passo foi seguir para a área de produção de campanhas publicitárias, o coração da empresa. Lá, entendeu mais sobre o funcionamento da agência e o produto oferecido. Foi nessa etapa que percebeu que o pai conduzia a empresa de forma empírica, mais no feeling do que com embasamento técnico. Então, começou a dar dicas ao pai com base nos aprendizados


da faculdade. “Baseada na bibliografia estudada, explicava o porquê dos acertos e apontava situações que poderiam dar errado. Comecei a rever processos e preparar o meu pai e a equipe para o mercado”, explica. Da produção publicitária para o setor de mídias. Em 2014, Ruskaya comandou um grande desafio da agência, de coordenar a campanha publicitária do Ministério de Esportes para a divulgação da Copa do Mundo no Brasil. Em 2016, também trabalhou com a campanha das Olimpíadas no Rio de Janeiro. O trabalho foi feito no âmbito nacional e isso acabou trazendo mais visibilidade para a empresa. Sidney ficou admirado com o desempenho da filha, tanto na área de relacionamento com o cliente quanto na liderança da equipe, e decidiu colocá-la em atendimento e operações, uma vez que ela era a única integrante que já tinha passado por todos os setores da empresa. A partir de então, Ruskaya começou a supervisionar os trabalhos e acompanhar o pai nos atendimentos junto aos clientes.

AS BARREIRAS

O esforço e o trabalho não foram suficientes para escapar de preconceitos dentro do mundo empresarial. Ruskaya lamenta que tenha sofrido preconceito por ser filha do dono, mulher e também jovem. Segundo ela, os pais nunca facilitaram as conquistas, mas as pessoas não sabiam disso e sempre dificultavam os processos. “Os meus colegas não me ensinavam as atividades nem compartilhavam os problemas”, conta. “Já escutei frases como: ‘uai, a estagiária que veio apresentar a campanha?’”, lamenta. Ruskaya algumas vezes teve falas interrompidas sem nenhum pedido de licença ou sua opinião profissional foi invalidada. Isso a afetou e, por vezes, sentia-se inferior. “A forma que encontrei de superar isso foi trazer meus conhecimentos e mostrar como eu podia contribuir com ideias e soluções. Assim, comecei a ser um pouco respeitada. Não fui grossa ou arrogante, usei o respeito e a humildade mas também firmeza para todas as situações”, afirma.

A AGÊNCIA

Ruskaya especializou-se em planejamento estratégico, digital, empresarial e em licitações, o que foi crucial para sua carreira em Brasília. Durante os 11 anos de trabalho, ela pode participar de campanhas com clientes como ministérios do Esporte, da Saúde, da Cidadania, a Procuradoria-Geral da República e até a R2 com Você.

Além disso, a agência trabalhou com o Conselho Nacional do Ministério Público, TSE, Eletronorte, JCDecaux e fez consultorias para outras empresas. Desde 2018, quando assumiu como CEO da Fields, supervisiona todos os setores e trabalha diretamente com o cliente. Seus pais continuam na empresa como sócios-fundadores. Atualmente, são cerca de 50 colaboradores e a agência funciona no Edifício Capital Financial Center, no Setor de Indústrias Gráficas. São 8 clientes em vigor, nem todos brasilienses, sendo que o principal deles é o Ministério da Saúde. A equipe está empenhada nas campanhas publicitárias que ajudam no combate ao coronavírus. Além de presidente da Fields, Ruskaya decidiu investir em outros negócios. O seu lado empreendedora nunca ficou só na publicidade, então, em 2020, ela teve a oportunidade de organizar uma live para o grupo de pagode Elas Que Toquem e tornou-se empresária da banda. O lado financeiro também ganhou destaque quando ela se tornou sócia da Blue Diamond, uma startup de investimentos. E não para por ai, Ruskaya tem o lado social muito engajado, hoje é voluntaria na ABRACE como diretora de comunicação, instituição que cuida de crianças com câncer e ajuda no projeto The Street Store Brasília, que cuidam de pessoas em condições vulneráveis . “Eu não sabia qual profissão queria seguir, mas sempre quis fazer algo que fosse relevante e dentro dos meus valores, e o empreendedorismo foi despertando. Esse meu lado inquieta já dizia tudo isso. Além da agência e do pagode, a Blue Diamond veio como uma forma de ensinar os jovens de 15 anos a começar a guardar dinheiro para terem um futuro de qualidade”, explica. @fields360 www.fields360.agency

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ARQUITETURA

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO ABORDAGEM QUASE HOLÍSTICA DE UM LAR. A ARQUITETA LAÍSA CARPANEDA INVESTE NO VIGENTE VIVER, AGREGANDO AO DESIGN TUDO O QUE PODE SER SENSORIAL, FUNCIONAL E ESTÉTICO

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pergunta é velha e não tem resposta: o que veio primeiro, ovo ou galinha? – biólogos, por favor, sentem-se, essa conversa é para o pessoal da filosofia. Há quem argumente que a casca, a incubadora, a casa precede a vida. Há quem diga que o bicho, a carne, seja o autor da obra. Quem dirá quem é molde e quem molda? Esqueça ovo, galinha, clara e gema: pense em criador e criatura. Quem habita dentro de quem? Quem inventa? Quem obedece? Numa rápida conversa com a arquiteta Laísa Carpaneda, proprietária do escritório Hauz, a naturalidade com que esses polos se fundem é tanta que, ao observar designer, planta e projeto não se sabe quem inspira o que. Nome conhecido entre a cena brasiliense, filha do cirurgião plástico Carlos Carpaneda e da escritora Isabella Carpaneda, Laísa é simples de tudo: de jeito, de riso, de estética. Distante dos pomposos designs megalômanos, a arquiteta se inspira na simplicidade da capital para traçar uma arte funcional, leve e transparente. “Esse, aliás, é um dos nossos pilares”. Fundada no início de 2021, a Hauz é um escritório de arquitetura que nasce num mundo já pandêmico, já transformado. Laísa, que aos 31 anos capitaneia a empreitada, utilizou-se da bagagem dos recém-feitos dez anos de ofício – formou-se em Arquitetura em 2011, pelo UniCeub – para montar uma power house que tivesse a cara do novo mundo. Após sete anos em parceria com Flávia Nasr, por meio da Carpaneda&Nasr, era momento de projetar para outro tempo. “Houve época em que já chegamos a capitanear até 30 projetos simultâneos. Hoje, preferimos nos

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Foto: Luara Bagg

POR THEODORA ZACCARA

dedicar a poucas entregas e aplicar a nossa mão em todas as etapas da criação – do primeiro esboço ao final”, explica sobre o trabalho ao lado das arquitetas Marianna Cunha e Giulia Luz Bohrer. “Nosso maior pilar é a transparência”, reitera. “Acreditamos muito no diálogo com nossos clientes e na importância da satisfação final. Deixamos de lado as terminologias e nomenclaturas e nos apoiamos mais em trocas de imagens e referências visuais”, revela. Com orçamento bem definido e um olhar afiado, dá-se início à extensa viagem de criação e concepção. Após encontros com fornecedores, muita tentativa e erro e longos banhos de inspiração, é que se pode ver a montagem de um “cantinho”. “Durante a pandemia, as pessoas se voltaram mais para o lar, dando mais valor a esse espaço. A gente não parava em casa antes, né? A vida era muito corrida. O isolamento fez com que a vontade de ‘decorar o ninho’ falasse mais alto”, elabora Carpaneda – e os dados a apoiam. De acordo com a organização Ebit/Nielsen, apenas no primeiro semestre de 2020, o setor de cama, mesa e banho cresceu 23,5%. Já a OLX Brasil destaca um espantoso crescimento de 494% da busca por almofadas, 201% para vasos, 187% para quadros e


Foto: Haruo Mikam

Galeria Celso Junior, na Asa Sul

Foto: Celso Junior

Varanda de uma casa no Lago Sul

94,4% para móveis. Além do quê, o home office veio para ficar. “Antes, tínhamos áreas ‘improvisadas’ que quebravam o galho na hora de trabalhar de casa. Agora, as pessoas querem realmente possuir um canto completamente dedicado à prática. É um shift no paradigma que irá durar pós-pandemia”. E o que mais há de virar tendência no universo da arquitetura? “Sapateiras!”, surpreende. “Além de terem se tornado um grande aliado na luta contra os germes, elas estão chegando em designs lindos e ajudam a manter a ordem dentro de casa”, elabora. “As cozinhas open concept já são muito queridas, e o espaço antes dedicado a funcionários pode ser reaproveitado na cozinha ou área de lazer”. As plantas são mais que bem-vindas e apresentam um ar de aventura e frescor ao lar. “E isso se tornou tão importante no último ano”, recorda. De fato, o mundo muda, as pessoas trocam seus hábitos e o que antes era norma se torna démodé. O que fica, entretanto, é sensorial: o cheiro, o calor e o carinho do “canto” que escolhemos e chamamos de casca – opa, de casa. @hauz.arquitetura www.hauzarquitetura.com.br

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MERCADO

(R)EVOLUÇÃO EM FAMÍLIA OS NOVOS TEMPOS PEDEM QUE A TRADIÇÃO SEJA O PILAR DE PERFORMANCES ATUAIS. ASSIM TEM SIDO COM OS AGUIAR DE VASCONCELOS. PIONEIRO, O PAI PASSA PARA O FILHO MAIS JOVEM O PATRIMÔNIO IMOBILIÁRIO E O LEGADO DE EMPREENDEDOR CONSTRUÍDOS NO INÍCIO DA CAPITAL POR PAULA BEATRIZ

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mitologia grega pode definir bem os setores produtivos em Brasília que viram na Fénix, o pássaro, os seus empreendimentos renascerem das cinzas e tornarem-se ainda melhores. Foi o que aconteceu com o mercado imobiliário diante das dificuldades impostas pela pandemia do coronavírus. A resiliência os fez florescer novamente. Segundo um levantamento realizado pelo Sindicato da Indústria de Construção Civil do Distrito Federal, o Índice de Velocidade de Vendas atingiu a marca de 10,9% em março. Essa é a melhor porcentagem para o trimestre desde a criação da pesquisa, em 2015. “Para todos nós, a pandemia foi um baque, só que em junho de 2020 tivemos uma recuperação que não esperávamos”, explica Leonardo Aguiar de Vasconcelos, presidente da Aguiar de Vasconcelos. Para o empresário, além da baixa dos juros e dos bancos mais dispostos a emprestar dinheiro e facilitar os financiamentos, o fato de a população ficar mais tempo em casa mudou o olhar em relação às residências. “Antes, na maioria das vezes, o lar era visto apenas como um lugar para dormir. Com a pan-

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demia, as pessoas viram a necessidade de melhorar o ambiente que seria o trabalho, a diversão e o repouso por um tempo indeterminado”, analisa. Prósperos neste segmento há quatro décadas, os executivos da imobiliária celebram ao verem a alta performance do setor. Até 30 de junho deste ano, a Aguiar de Vasconcelos alcançou 150% do valor faturado em todo ano passado. “Na maioria dos casos, a procura foi por espaços/ambientes maiores. E quem já morava em imóveis de três quartos, por exemplo, buscou por casas”, explica Leonardo. “Lotes e casas supervalorizaram pela alta procura e pouca oferta”, completa. A digitalização imposta pela pandemia também foi importante para o bom desempenho da imobiliária. Uma modernização que começou quando Leonardo assumiu a presidência da empresa que leva o nome da família. “Somos uma empresa tradicional, conhecida pela segurança, transparência e honestidade. No entanto, com a nossa evolução, decidimos modernizar a nossa imagem, um exemplo é a mudança da logomarca. Inclusive, tiramos a palavra ‘imóveis’ do nosso nome. Fazemos parte da história de Brasília e já viramos tradição no ramo em que atuamos”, explica. Aos 38 anos, Leonardo tem um perfil comercial como o pai, Geraldo Aguiar de Vasconcelos, fundador da empresa. Caçula de cinco irmãos, foi o escolhido para assumir o negócio da família. Ele também é o gestor comercial. Três dos irmãos trabalham na imobiliária: Cláudia, 58 anos, atua no administrativo e financeiro, Marisa, 63, resolve questões jurídicas e de aluguel, e Edvaldo, 65, cuida da implantação de novos projetos. Natural do Ceará, o patriarca Geraldo é pioneiro de Brasília, onde chegou em 1959 já com espírito empreendedor. Hoje com 87 anos, construiu uma trajetória que passou por comércio de gráficas, jornais e até concessionárias. Foi na venda da Aguiar Veículos que descobriu a paixão por imóveis. Leonardo conta que o pai recebeu o pagamento da concessionária em


Foto: Raimundo Sampaio

Os irmãos Cláudia, Leonardo, Edvaldo e Marisa Aguiar de Vasconcelos

imóveis e isso foi o start para a criação da imobiliária, inaugurada em março de 1982. Geraldo sempre inseriu os filhos nas empresas da família. Todos eles passavam um tempinho do dia junto ao pai, acompanhando o trabalho e o esforço. Além disso, o patriarca prezou pela educação e formação da nova geração da família. “Até hoje meu pai nos incentiva a trabalhar com zelo e excelência. Ele construiu o nome da nossa família e temos que cuidar deste legado”, analisa.

A EXPERTISE Com expertise no relacionamento com o cliente, a Aguiar de Vasconcelos prioriza um mantra que diz: “somos gente que ajuda gente”. “O que importa não é a venda em si, mas o bom trabalho”, assegura o CEO. “Há uma história por trás da venda ou compra de um imóvel. Às vezes, a pessoa está deixando um lugar onde passou a infância, construiu uma família, viu

os filhos crescerem. Isso traz insegurança e a gente é responsável por resgatar esse conforto”, acredita. O exemplo desse cuidado com o cliente vem do próprio fundador, Geraldo, que diariamente pega sua agenda e se dedica a ligar para os clientes no dia dos seus aniversários. “Isso é o relacionamento com o cliente, e prezamos muito em dar continuidade a esse legado “, analisa Leonardo. Hoje, a empresa tem uma equipe comercial especializada que atua diariamente na comercialização de casas e apartamentos de alto padrão localizados no Plano Piloto, em especial no Lago Sul. Por meio de uma assinatura com uma universidade corporativa, a imobiliária oferece aos colaboradores cursos online sobre vendas, psicologia e outros assuntos que os auxiliem. “A ideia é trabalhar para entender os fatores que levaram aquelas pessoas a vender ou comprar um novo lar. É mais uma ferramenta que os auxilia no dia a dia”, explica. @aguiardevasconcelos www.aguiardevasconcelos.com.br

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Fotos: JP Rodrigues

Percio Mello Jr

EM AÇÃO Após mais de 25 anos atuando no setor hoteleiro, Percio Mello Jr volta à Aguiar de Vasconcelos. Em 1985, Percio foi corretor na imobiliária por dois anos. Depois, atuou com vendas no ramo da moda, copiadoras, material de construção, enciclopédias e chegou na hotelaria, em que fez sucesso como negociador. Com especialização em negócios e precificação pela HSM Management, destacou-se pela fluência em inglês, francês e espanhol. Durante a vida na hotelaria, Percio atendeu diversas personalidades, de chefes de estado a ídolos de futebol, como Pelé, ou astros do porte de Beyoncé. Mas a pandemia atrapalhou a continuidade da atuação na rede hoteleira. Foi então que uma amiga pediu indicação de uma imobiliária de confiança. “Procurei o Leonardo e perguntei se havia alguma casa disponível. Acabei fechando a venda e ele me chamou para integrar a equipe”, conta sobre o retorno que ocorreu há pouco mais de um ano. Percio, então, foi estudar o mercado, conhecimento proporcionado pela universidade corporativa. E pode entender a mudança comportamental das pessoas. “Trocar de lar pode afetar o emocional, então eu ouço com atenção cada história para que o processo seja menos doloroso”, afirma. A detalhada pesquisa sobre imóveis é uma das dicas de Percio. “Só é preciso cuidado para 92 « GPSLifetime

não demorar, porque, muitas vezes, a casa que o cliente sempre sonhou pode não estar mais disponível. O mercado tem girado muito rápido”, esclarece. Felipe Dias Oliveira, de 33 anos, também é corretor na Aguiar de Vasconcelos. Aos 18 anos, o brasiliense passou um período em São Paulo, especializou-se no ramo de alimentos e bebidas e se tornou sommelier em hotéis de luxo, restaurantes com estrela Michelin e até importadora de bebidas. Voltou a Brasília em 2015 para ajudar no negócio da família. “Tínhamos um empório de alimentos, mas acabou não dando certo e há cinco anos fechamos “, lamenta. Em 2018, ao ver um anúncio para corretor na Aguiar de Vasconcelos, ele se candidatou. “Pode parecer estranho, mas a hotelaria me ajudou muito nas vendas e negociações. Primeiro, porque a gente vendia um lar temporário e, segundo, porque lidava com o mesmo público “, analisa. Segundo Felipe, antes da pandemia, o mercado imobiliário não caminhava muito bem. Agora, apesar das dificuldades de visitação, o investimento nas redes sociais foi o que deixou os clientes mais seguros com o atendimento. “Antes, as pessoas visitavam as casas com frequência, agora elas veem pelas fotos e tours virtuais”, analisa. Mas como nada substitui a visita in loco, com o mundo voltando a girar, as visitas retornarão. “Não há pandemia que atrapalhe bons vendedores a fecharem um negócio”.

Felipe Dias Oliveira


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CIRURGIA PLÁSTICA NÃO É REPRODUZIR EM SI A IMAGEM PROJETADA DE CELEBRIDADES OU INFLUENCERS. O BELO PODE ESTAR NO IMPERFEITO. E O IMPERFEITO PERMITE SINGELAS ALTERAÇÕES. A CIRURGIÃ PLÁSTICA MILENA CARVALHO ENFATIZA: POR QUE PARECER SÓ MAIS UM? POR THEODORA ZACCARA

“S

e a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume”, escreveu o dramaturgo William Shakespeare sem saber – ou já o sabendo – como seria por tantas vezes citado e parafraseado. A rosa de Romeu e Julieta tornou-se o signo da autenticidade, da verdade, da beleza orgânica e inalterada que pode até trocar de nome, mas que não altera suas pétalas. “Prefiro ser uma rosa velha que uma rosa de plástico”, disse a estilista Diane Von Furstenberg, séculos depois, quando em visita ao Brasil para palestrar. Pois é, William, pois é, Diane… está cada vez mais difícil esbarrar com rosas reais. Cirurgiã plástica proprietária da Clínica Lapidat, no Lago Sul, Milena Carvalho já se acostumou a ouvir pelos mesmos pedidos. “Em um mundo de Instagram, onde o belo e o ideal são exaltados por meio de referências irreais, com imagens editadas usando filtros e photoshop, não é incomum receber solicitações impossíveis de se reproduzir cirurgicamente em um corpo humano”, confessa a médica apaixonada por beleza e especialista em feminilidade. Com isso, batem à porta futuras pacientes que carregam como referência os rostos e traços de outras: celebridades, influencers, caras fabricadas, esperando por um Ctrl V. E quem enxerga o movimento e se assusta com o risco de “parecer só mais um” pode até se esquivar de realizar as mudanças que tanto sonhou. Mas precisaria o mundo ser tão “oito ou oitenta”? Polarizado? Preto no branco? A profissional garante que existe, sim, uma maneira de encontrar resultados que respeitam a fisionomia por meio da cirurgia plástica, criando uma versão melhor de si sem copiar o que é do outro. 96 « GPSLifetime

Foto: Allan Rrod

APERFEIÇOAR O NATURAL

“Sempre falo que o belo é o que traz a naturalidade das transições. Não se pode exagerar e é imprescindível ter o feeling técnico-cirúrgico ideal para cada identidade, para que a paciente atinja a perfeição que é peculiar a ela, sem adulterar a sua essência base”, entrega. “Acredito que não podemos generalizar todas as faces de todas as pessoas. Não é todo nariz super afilado e arrebitado que combinará com todos os tipos de feições faciais”, exemplifica. Por meio de um processo de criação que mais se assemelha à arte que à ciência, Milena constrói junto à paciente um resultado que, além de harmônico, é totalmente exclusivo. “Procuro sempre dosar o desejo da paciente com melhor indicação técnico-científica para que não haja frustrações após a realização de procedimentos”, garante. “Explico os prós e contras com a intervenção cirúrgica desejada e o que implicará no futuro, muitas vezes não muito distante, como um provável arrependimento e irreversibilidade do quadro após realizado”. Decisões precipitadas podem levar a momentos de choro e aflição – aquele desespero do tipo “faria de tudo para voltar atrás”. Não é mesmo, doutora? Daí a importância da escolha de um profissional capacitado e realista. “Já recebi paciente me falando que tinha uma expectativa super alta, e na sequência afirmei que, com corpo de modelo, ela não ficaria por meio de uma cirurgia plástica. Cruel? Sim. Mas é a realidade que urge ser explicada”. Pois, quando comparada à frustração em não obter a imagem irreal idealizada, a sinceridade é a mais leve das pétalas. @lapidat @dramilenacarvalho



CONTEÚDO ESPECIAL

A ANALOGIA DO BELO A RELAÇÃO PELAS TELAS DIGITAIS E O AUMENTO DA BUSCA POR HARMONIZAR A FACE. ESSA É A EXPERTISE DA MÉDICA MARCELA SUMAN POR PAULA BEATRIZ

98 « GPSLifetime

Foto: Bruna Araújo

Foto: Bruno Cavalcanti

“C

uidar das pessoas”. Foi com esse propósito que Marcela Suman ingressou no curso de Medicina. De família pacata, nasceu em Pirajuí e cresceu em Avaré, ambos municípios do interior de São Paulo. De lá, estudou na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). Entre tantas possibilidades como médica, encantou-se pela otorrinolaringologia, em especial pelas cirurgias da face. Ainda na residência, conheceu o atual marido, Marcelo Botelho Ulhoa, responsável pela sua chegada a Brasília, onde desembarcou em 2016, após a oficialização do casamento. De lá para cá, duas filhas nascidas, realizou um sonho: a abertura de uma clínica própria, em junho deste ano. “Quando retomei os atendimentos após o nascimento da minha segunda filha, fiquei surpresa com a grande procura. Foi o start para o projeto”, lembra a médica, de 39 anos. Marcela atua com ênfase em rinologia e rinoplastia. Tem título de especialista em cirurgia craniomaxilofacial e pós-graduação em cirurgia plástica de face. A médica enxergou na pandemia um dos motivos para a agenda lotada. “As pessoas passaram a se ver mais nas telas e, consequentemente, encontrar detalhes e imperfeições que querem ajustar”, justifica. A Clínica Marcela Suman, localizada no Edifício Cléo Octávio, no início da Asa Norte, oferece atendimento para quem precisa de intervenções cirúrgicas e pequenos ajustes, e também tem equipamentos com as mais novas tecnologias do mercado. Dentre eles, o Onda Coolwaves®, o segundo modelo disponível no Distrito Federal, lançado na Itália em 2018. O equipamento reduz as células de gordura localizada enquanto trata a flacidez. O sistema de micro-ondas ultrapassa a pele sem afetá-la e chega direto às células de gordura, de maneira indolor. Simultaneamente, as micro-ondas induzem a contração da musculatura, estimulando a produção de colágeno. Ele pode ser utilizado em todas as regiões em que há flacidez, celulite ou gordura localizada, com necessidade de três a seis sessões. “É como se ele derretesse a gordura e mandasse a gordura líquida para a drenagem linfática”, explica Marcela.

A clínica tem ainda o Ultraformer III, para tratamento de flacidez, contorno facial e ancoragem muscular, uma tecnologia que combina o ultrassom micro e macrofocado; e o laser CO2 fracionado, para quem busca rejuvenescimento da pele, tratamento de cicatrizes em geral e de estrias. Idealizada também para ser um espaço de bem-estar completo, a clínica oferece ainda massagens terapêutica e desportiva. “Eu fiz esse local como se fosse a continuação da minha casa para que o paciente se sinta em casa”, detalha. E imaginar que tudo começou aos sete anos, quando uma visita à dentista a marcou profundamente. Marcela ficou tão encantada com a profissional que lhe atendeu que, de certa forma, a fez eleger profissão semelhante para atuar. “Eu vi aquele cuidado dela comigo, e quis fazer igual”. @clinicamarcelasuman (61) 3543-5302


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ADEQUAR O ROSTO COM O TEMPO BELEZA, AUTOESTIMA E SAÚDE CAMINHAM JUNTAS NO PROTOCOLO DE EQUILIBRAR A APARÊNCIA UTILIZANDO RECURSOS ESTÉTICOS DA ODONTOLOGIA. A BUSCA PELO NATURAL É A EXPERTISE DA DUPLA DE DENTISTAS À FRENTE DA IMPLANTEC POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS JP RODRIGUES

Q

uando o tema é estética facial, os detalhes fazem a diferença. A alta procura por tratamentos e procedimentos na área nos últimos anos impulsionou negócios em todo o mundo. O Brasil ocupa o topo da lista mundial de países que mais realizam tratamentos estéticos e investem em tecnologias e aparelhos de ponta. Seja para se sentir bem ou por um direcionamento clínico, a verdade é que o brasileiro se preocupa em demasia com a aparência. Com conhecimento nesse mercado e mais de dez anos de expertise, a Implantec Odontologia e Harmonização Facial é referência em tratamentos estéticos na capital. Com o trio de sócios Gianfranco 100 « GPSLifetime

Navarrette, Karina Braga e Rodrigo Braga à frente do negócio, a clínica premium investiu não apenas na estrutura física, para oferecer conforto e atendimento personalizado, mas também em máquinas e equipamentos de última geração. A matriz em Taguatinga passou a ter grande procura e, observando a demanda de clientes do Plano Piloto, em 2020, o trio decidiu expandir e abrir uma segunda unidade, desta vez no Gilberto Salomão, no Lago Sul. “Pacientes se deslocavam até lá para serem atendidos por nós. Então, na pandemia, em um momento em que as pessoas buscavam mais facilidade, optamos por estar mais perto”, relata o sócio Gianfranco. A filha mais


nova é menor, mas foi pensada cuidadosamente para oferecer exclusividade em um ambiente confortável e, devido ao momento, prezando pela segurança, tanto da equipe de profissionais quanto dos pacientes. Enquanto Gianfranco cuida da parte administrativa das duas clínicas, os irmãos Karina e Rodrigo são responsáveis pelo atendimento aos pacientes. Formados em Ribeirão Preto (SP) há mais de vinte anos, por coincidência seguiram caminhos parecidos, inclusive a mudança para Brasília, ocorrida em 2004. Acima de tudo, prezam pela relação de confiança. “Com experiência no mercado, credibilidade e clientes que nos indicam por saber da nossa qualidade técnica, conseguimos expandir tanto de espaço físico quanto de opções de tratamentos”, explicou Karina. A Implantec cresceu atendendo todos os tipos de público como uma clínica multifuncional e, hoje, é referência em diversos serviços, como os implantes dentários e cirurgias, ortodontia e tratamentos de harmonização facial, que englobam botox; bioestimulador de colágeno; preenchimento mandibular; lipo de papada; fios de sustentação; e preenchimento labial. “Esses tipos de tratamentos e serviços precisam, impreterivelmente, de profissionais capacitados e especializados. Investimos, também, em uma máquina alemã, em uma impressora 3D e em um scanner, o que facilitou muito a odontologia e nos deu realmente um salto, diferenciando ainda mais o nosso serviço”, analisa Rodrigo. “Eu sempre digo que na odontologia não pode ter erro e imperfeição. Ou está certo ou está errado”, comenta Rodrigo, responsável pela área de odontologia estética da clínica. “Eu tomo muito cuidado, por exemplo, ao projetar um sorriso para um paciente. Afinal, envolve, claro, a saúde daquela pessoa, tempo, investimento e, muitas vezes, um sonho. O paciente quer chegar no final não só com os dentes arrumados, ele também preza pela estética. Existe uma relação direta com a autoestima daquela pessoa”, observa. Karina atua na área de harmonização facial, com certificação do Conselho Federal de Odontologia (CFO) como uma das primeiros especialistas em Harmonização facial de Brasília. Tendência, a técnica tem ganhado cada vez mais adeptos. Em uma relação de dúvidas e incertezas, os pacientes, em grande maioria, buscam por intervenções que resultem em um aspecto mais natural. “Antigamente não se usava esse nome de harmonização facial, mas por muito tempo vimos procedimentos realizados de forma exagerada, sem um estudo aprofundado sobre as proporções do paciente e o que aquela pessoa realmente necessitava”, avalia a odontóloga.

A especialista reforça que os protocolos em cada paciente devem ser únicos e enfatiza a importância de um atendimento exclusivo e personalizado, como o realizado por ela e sua equipe. “Não existe receita pronta”, afirma. “Atuo observando as proporções, não apenas do rosto, mas também do corpo. Faço uma análise completa do tipo físico do paciente, conversamos e, no final, tem que fazer sentido para ele”, completa. Assim, estética, autoestima e saúde caminham juntas. www.implantecodontologia.com.br @clinicaimplantec @implanteclagosul @rodrigobragadoutor @karinabragadoutora * Rt Rodrigo Braga Araújo Crodf-6691 CLM 3009 * Rt Karina Braga Araújo Crodf-7414 CLM 1704

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ARTIGO MARCELO AUGUSTO MACHADO Empresário

HARMONIZAÇÃO FACIAL PROCEDIMENTO CONQUISTA ANÔNIMOS E FAMOSOS E COLOCA O BRASIL EM DESTAQUE MUNDIAL NO QUESITO VAIDADE

N

unca estivemos tão próximos da fórmula da juventude. O envelhecimento, processo natural do corpo humano, a cada dia que passa, deixa de ser um inimigo da vaidade para se tornar adiável, pelo menos na aparência. Manter-se em sua melhor versão é o desejo de famosos e anônimos mundo afora. Entre as celebridades, nomes como Angelina Jolie e Tom Cruise, e de estrelas nacionais, como DJ Alok, Marina Ruy Barbosa, Anitta, Cléo Pires, entre outras, resolveram submeter-se a procedimentos de harmonização da face, procedimento cada vez mais solicitado no país. Nunca foi tão fácil manter-se jovem e feliz com o corpo e, especialmente, com o rosto. A tecnologia, aliada a uma maior expectativa de vida, ajuda a manter a jovialidade por mais tempo. “A juventude não é uma época da vida, é um estado de espírito”, já dizia o poeta alemão Samuel Ullman. Com base nesse pensamento, a juventude está presente em qualquer época da vida, sendo assim, porque não dar a sua aparência aquilo que sua alma já sente? Tudo é possível com as novas tecnologias! Os números que representam o mercado da beleza se perpetuam em um alto patamar de crescimento. De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o segmento é o que mais prevê lucratividade e crescimento. O mercado da estética faturou R$ 47,5 bilhões em 2017. A ferramenta de buscas do Google registrou em 2019 um aumento de 540% (quase 6 vezes mais) nas 102 « GPSLifetime

pesquisas sobre harmonização facial. O mercado de estética brasileiro cresceu 567% nos últimos cinco anos. Neste período, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCO), a busca de homens pela estética perfeita quadruplicou no Brasil, passando de 72 mil para 276 mil ao ano, uma média de 31,5 procedimentos por hora. Um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que seis em cada dez brasileiros (62,7%) consideram-se pessoas vaidosas e preocupadas com sua aparência e 65,7% concordam com a ideia de que cuidar de beleza não é luxo, mas uma necessidade. Diante desta robustez, o mercado caminhou firme e forte na contramão da última crise econômica instalada no país recentemente. No ramo estão os salões de beleza, clínicas de estética e consultórios odontológicos. Nós, do Face Lab Institute, primeira Boutique School de treinamentos médicos e odontológicos do país, com sede em Brasília, promovemos o Curso BLACK DIAMOND Programa de Elite, que traz benefícios incontestáveis neste segmento. O curso, dividido em três momentos, com padrão internacional e foco na capacitação com excelência no aprendizado e na segurança dos alunos e pacientes, é um investimento sem precedentes para qualificação técnica na área em questão. (61) 99393-5537 www.institutofacelab.com laboratoriodaface@gmail.com



CONTEÚDO ESPECIAL

LUMINU: O CUIDADO DOMICILIAR

POR PAULA BEATRIZ

O

exercício da Medicina começou domiciliar, depois passou a hospitais e clínicas e, em um movimento quase de retorno às origens, voltou à casa das pessoas, em um serviço assistencial conhecido como home care, numa busca pela humanização do cuidado. Portanto, falar de cuidados paliativos é, ainda hoje, desmistificar a questão de que quem necessita desse tipo de assistência está morrendo ou condenado. A oncologista clínica, com pós-graduação em Oncogeriatria, Janyara Teixeira, sócia da empresa Luminu Home Care, ao lado da geriatra Silvana Coelho e do enfermeiro João Flávio, também com pós-graduação em cuidados paliativos, defende o cuidado domiciliar multidisciplinar. Além dos cuidados médicos, aliar outras terapias ajuda no bem-estar do paciente. A Luminu, por exemplo, oferece serviços como reiki, aromaterapia, massoterapia, podoatria, musicoterapia, pet terapia, arte terapia, estética paliativa, capelania e doula do fim de vida. Para a médica, os cuidados paliativos são essenciais não apenas nos casos da doença avançada, mas desde o diagnóstico, por exemplo, com um apoio emocional, psicossocial e nutricional. O trabalho à frente da área administrativa da empresa permite que Janyara Teixeira acompanhe de perto o caso de cada paciente e toda a assistência dada a ele. “Monitoramos os pacientes e discutimos caso a caso de maneira multidisciplinar, avaliando as necessidades e seguindo o plano terapêutico instituído desde a admissão deste paciente, fazendo sempre os ajustes necessá104 « GPSLifetime

Foto: JP Rodrigues

O ZELO DIANTE DAS ENFERMIDADES SE INSERIU NA DINÂMICA DO HOME CARE. NUM CONTEXTO ATUAL, TÉCNICAS MULTIDISCIPLINARES, BEM COMO APOIO EMOCIONAL, INTEGRAM A DINÂMICA DO TRATAMENTO rios”, explica a médica, contextualizando o fluxo do paciente que é admitido na empresa. Em pacientes oncológicos, Janyara reforça a importância de atuar em conjunto com a equipe de paliativistas, seja para explicar sobre os possíveis efeitos adversos que o tratamento pode gerar e avaliar a relação dos sintomas do paciente com os medicamentos ou para orientar sobre outras medidas necessárias. “Em nenhum momento o paciente é transferido para os cuidados paliativos e encerra o papel do oncologista. Inclusive, na Luminu, esperamos sempre tomar decisões em conjunto com o médico assistente do paciente”, reforça a médica. Com vinte anos de formada em oncologia e apaixonada pelo que faz, Janyara se emociona ao lembrar de um paciente que ela acompanhou até o fim da vida, diagnosticado com um tumor gástrico avançado. Assistido pela equipe da Luminu, dias antes de ele falecer, ela foi visitá-lo em casa. “Lá estavam, junto à família, a enfermeira, a doula do fim de vida e o técnico de enfermagem. Observar o trabalho em conjunto e o suporte aos familiares me encheu de orgulho da equipe da qual estou fazendo parte. Em minha trajetória profissional, nunca tinha feito, nem visto algo tão diferente e essencial”, conta. “A morte é um processo natural, mas doloroso. O apoio de especialistas é imprescindível para que paciente e família lidem com o fim da vida. E, mais do que isso, acredito que faz toda a diferença o fato de ele estar na sua casa, ao lado de sua família e com suas referências até os últimos instantes”, conclui. @luminuhomecare www.luminuhomecare.com.br


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PEDRO PIQUET A VELOCIDADE DO SUCESSO Para Pedro, Brasília é mais que a cidade natal: é ponto de partida e é destino final. “Eu sempre soube que fincaria minhas raízes aqui”. Após longos anos transitando pela ponte aérea Mônaco-DF, o já piloto, hoje empresário de 23 anos, trocou a vida nas pistas por essa tranquilidade tão metropolitana que tem a capital federal. Herdeiro de um nome que impõe excelência, Pedro agora atua no setor empresarial, liderando a empresa montada pelo pai e tricampeão Nelson Piquet, a Autotrac. “Ainda há muito o que construir aqui, Brasília é terra de oportunidades”. Excelência, também, vem acompanhada de outra virtude muito valorizada dentro de casa: a filantropia. Filho de Vivianne Piquet, presidente da GPS|Foundation, o business man sempre acreditou que os fortes de voz carregam a obrigação de falar pelos mais frágeis. “Minha plataforma não é tão grande, tenho menos de 60 mil seguidores, mas estou sempre bolando algum projeto que possa resultar em assistência para as comunidades vulneráveis do DF. Imagina o que influenciadores com milhões de followers podem criar! É realmente a nossa missão”, finaliza.

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UN VERO SPETTACOLO GRAFICO AS NOTÓRIAS CERÂMICAS DO HOTEL PARCO DEI PRINCIPI, NO SUL DA ITÁLIA, ILUSTRAM A COLEÇÃO UOMINI DA DOLCE&GABANNA E ATERRISSAM NA MONUMENTAL BRASÍLIA INCORPORADAS EM ILUSTRES PERSONAS POR THEODORA ZACCARA « FOTOS CELSO JUNIOR

P

ropósito: palavra chique, proparoxítona, indispensável. Regra de etiqueta do novo milênio – espécie calça jeans e camiseta branca, feitio sinceridade e boas maneiras. Propósito é um desses sentidos que não fazem mais sentido não ter – e quem tem propósito faz o mundo girar. Desde 1985, a Dolce & Gabbana faz tudo "de propósito". Irreverente enquanto é clássica, visionária enquanto é tradicional. Mistura passado, presente e futuro a modo de respeitar o que precedeu e repaginar o que não serve mais. É devocional, é sacro, é santo. A casa italiana elegeu seis maiorais da scena brasiliana para carregar a insígnia da marca. Roupa, céu, história e arte se costuram em cada ponto-cruz: a couture trançada entre imagem, mensagem, gente e fé. Em luz, a sua influência na capital federal é reverenciada no shooting que agrega Brasília e a linha Parco dei Principi, inspirada nas cerâmicas no hotel de nome homônimo localizado em Sorrento, no Sul da Itália. Una vera sfilata tutta sui toni del bianco blu. Aqui e lá.

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PAULINHO LEAL O JOGO DA VIDA Empresário, bem relacionado e rostinho notório da juventude brasiliense, o "papai de primeira viagem" Paulinho Leal, 31 anos, aprendeu, no "furacão" da pandemia, o significado da paternidade. “Sem dúvidas foi um presente de Deus: o maior que poderia receber, no momento certo”, confessa, sobre o nascimento do primogênito Vittorio, em agosto de 2020, fruto do casamento com a fashionista Gabriella Constantino. Nome por trás da rede de hamburguerias Bullguer, Leal enxergou no lockdown a possibilidade de reformulação. “Num primeiro momento ficamos muito apreensivos! Estávamos abrindo nossa segunda loja. Tivemos que nos adaptar e focar na operação delivery, mas ao mesmo tempo foi uma oportunidade para nos reinventarmos, dar atenção aos detalhes, melhorar nosso serviço e sair deste momento mais fortes do que nunca!”, vibra. Para o futuro, deseja consolidar a empresa pelos quatro cantos da capital federal, aliando o crescimento empresarial ao trabalho social. “Quero tirar crianças da rua e levar para o esporte, quero estar mais presente no Instituto Ajax, que faz um trabalho maravilhoso com a inclusão através do esporte e da educação”, explica Leal, que foi jogador de futebol na adolescência.


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GEORGES PANTAZIS PARA FAZER BEM FEITO Kefi, do grego, é dessas palavras que existem ao estilo da nossa querida "saudade": sentimento difícil de traduzir. Significa alegria, entusiasmo, alto astral. Significa paixão pela vida e abundância de emoção. Empresário no ramo da construção civil, Georges, 33 anos, pertence à nova geração de quase brasilienses que erguem uma capital do futuro. Tem a Grécia como berço, Curitiba como cidade-natal e Brasília como lar: é aqui que constrói sua história ao lado da mulher, Lucyanna Baracat, e das filhas do casal, Sophia e Maya. “Tenho mais tempo de vida aqui que em qualquer outro lugar!”, aborda. “Foi aqui que aprendi a fazer amigos, a trabalhar, é onde quero entregar coisas que sejam relevantes, tocando as gerações que estão por vir”, manifesta. Além de atuar na área da construção civil, o grego é um dos sócios da rede de academias BlueFit, opera a loja de veículos Batcar – e apesar do prato cheio, não coloca freios na veia empreendedora. “Tenho mais alguns projetos em fase de criação! Acredito em entregar soluções viáveis, em formular um produto que eu mesmo consumiria. Afinal, Brasília é uma cidade que nos desafia a ‘fazer bem feito’”.

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FRANCISCO BORSOI O INSTASTAR Um príncipe da Disney, sim, o inconfundível Borsoi, 22 anos, é cara vista das redes sociais. No TikTok, um milhão de seguidores acompanham o fenômeno que estourou durante a pandemia – mas que já profissionaliza o ofício digital como quem tem anos de estrada. “Comecei como uma brincadeira, criei a conta por conta dos meus irmãos! Foi tudo muito orgânico, natural e gratificante”, relembra. Natural do Planalto Central, mudou-se para Madrid com a intenção de cursar Comunicação. Curiosamente, o sucesso no rico mundo da world wide web foi a oportunidade perfeita para colocar em prática os ensinamentos de sala de aula. “É engraçado. Quando vejo, estou me utilizando das ferramentas que aprendi na universidade, e sem notar!”, retruca. De volta ao Brasil, o instastar entrega que, desta vez, planeja ficar. “Brasília para mim é família, é amizade, é poder estar aberto a esse charme de cidade pequena que a nossa capital tem. Ela me inspira muito”.

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JOÃO PAULO ARAÚJO EM CONSTANTE EVOLUÇÃO Comer bem, brindar o vinho, desfrutar a vida. Em tempos de limites, restrições e um forçado "chega para lá", o ofício de João Paulo Araújo – que é bon-vivant por profissão – sofreu um abalo forte. “Nada substitui o encontro, a presença”. Empreendedor na área de gastronomia e enologia, são mais de 200 mil garrafas em distribuição para todo o País. O empresário de 35 anos nasceu em Goiânia, cresceu em São Paulo, mas se inspira em Brasília. “É uma cidade evoluída, o brasiliense é feito de muitos lugares e sabe interpretar a qualidade”, comenta. O próximo passo já está programado: sete novas unidades da empresa espalhadas pelo DF. Comandando o Bartolomeu há seis anos, João Paulo enxerga a cena gastronômica da cidade numa constante evolução. “A pandemia foi um grande divisor de águas, e veio para mostrar quem era forte mesmo no ramo. Os que ingressaram no setor por motivos secundários, sentiram o baque. Quem deu o sangue pelo negócio, prevaleceu”.

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ROGÉRIO CARDOSO NA CIDADE MARAVILHOSA Do Congresso Nacional à Esplanada recheada de ministérios, Brasília é uma terra de poder – mas se engana quem pensa que é soberba, esnobe, austera. Assim como o gaúcho Rogério Cardoso, 44 anos, que há 17 anos desembarcou no Planalto Central, a cidade tem sorriso largo e está sempre disponível para os amigos. “As pessoas são receptivas, a cidade é calorosa”, diz. Neto de militares, aprendeu com os avós quase pioneiros a cultivar esse amor pela Terra dos Ipês. “Essa capital é inspiração para todo mundo, todos chegam aqui com o propósito!”, brada o servidor público, que atua como na Secretaria do Rio de Janeiro. “A cidade é maravilhosa!", e, olha... de Cidade Maravilhosa, Rogério entende bem. Se Brasília é ponto de desembarque, para Rogério, o embarque também é imediato... aos finais de semana, quando a programação é cercar-se de amigos e voar, voar, subir, subir... para onde haja sol, é pra lá que ele vai. Mas retorna, segundafeira tem reunião no gabinete.


PASSARELA

EXULTANTE Giambattista Valli

Badgley Mischka

O mundo ressurge. Como será a moda! Daywear. O entusiasmo renovado pela boa vestimenta. O modo consciente. O que é certo, o que não faz mais sentido. A sensação de estar fora do tempo pode ter passado. Mas o futuro ainda é oculto. Paris já é de novo uma festa! A sensação inebria, mas nada está ainda sob controle. A moda pede um gosto pelo perigo para sentir-se jovem, fresca, bela. Há de chegar a hora de viver o momento. E se sair para vivenciar o desconhecido, há de ser com uma roupa avassaladora. (PS)

Balmain

Ports 1961

Nehera

Paco Rabbane

Chanel

Chloé

Louis Vuitton

Maison Alaïa

Elie Saab

Baja East

116 «


PatBo

Oscar de la Renta

Galvan

Hervé Léger

Proenza Schouler

A DECLARAÇÃO DO ACESSÍVEL

Cynthia Rowley

Prabal Gurung

Uma abordagem deliberada. A vanguarda se coloca no conforto. O fácil não precisa ser bobo. É forte. Para se posicionar no agora, esperando o melhor. Celebrar o breve. Um dinamismo elegante. Formas versáteis, cortadas com pureza em proporções que intrigam, mas encantam. Cenário para entender a individualidade, unindo-se ao que ficou de bom. (PS)

Reem Acra

MM6 Maison Margiela Tibi

Marc Jacobs Norma Kamali

Jason Wu

LoveShackFancy

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St. John

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ALTA-COSTURA

O FASCÍNIO DA IMPREVISIBILIDADE A couture sempre performa sob a ótica emocional. Visões conceituais. Telas para a elegância. Drama decorativo. Euforia consciente. Já dá para ser feliz! É possível partilhar, estar junto, ser leve de novo! Vem aí o romantismo gentil, um sentimento avassalador. O otimismo voltou. Como se cada bordado saísse para dançar. E encontrasse madrepérolas, plumas, mosaicos nos bailes. É preciso ser livre. Dentro e fora do vestido. O vestir que depõe e liberta. A extravagância pode se tornar viral. (PS)

Azzaro

Armani Privé

Azzaro

Fotos: Divulgação

Dior

Iris Van Herpen

Giambattista Valli


Schiaparelli Fendi

Chanel

Fendi

Ronald Van Der Kemp

Fotos: Divulgação

Balenciaga

Ronald Van Der Kemp

Iris Van Herpen

Giambattista Valli

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Fotos: Divulgação

TENDÊNCIA

Nina Ricci

Alberta Ferretti Blumarine

Philosophy

O

NORMATIVO Max Mara

Dsquared2

Etro

Missoni Anna Sui

Emilio Pucci

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O estilo de vida italiano em voga. O feminino como é de costume, Moschino com generosidade, sensualidade e força. A excelência. Coleções impregnadas de contexto, conceito e cultura. Um gesto moderno de simplicidade. O respeito ao corpo, no qual a roupa deve ser habitada com leveza. Roupa e corpo como parte de um só todo. Um fascínio fluido. Quase um toque de gentileza. (PS) MSGM


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O movimento é sexy&cool. A temporada que se orna para o verão prepara a mistura do ouro amarelo com o prata platina. Os brincos podem ser descoordenados. As pulseiras empilhadas, os colares sobrepostos. Parece minimal, só que não. A pérola romantiza, as gemas enobrecem. Festivo, porém delicado (PS)

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PULSO

MERGULHAR NO TEMPO NASCIDA NA TRADIÇÃO E DESTINADA À INOVAÇÃO, A ITALIANA PANERAI CONVOCA O DIRETOR CRIATIVO ALVARO MAGGINI PARA ASCENDER AINDA MAIS NO HIGH END DA ALTA RELOJOARIA POR THEODORA ZACCARA

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Fotos: Divulgação

“A

água é o meu playground”. De seu apartamento em Milão, a 147,7 km do oceano mais próximo, Alvaro Maggini estava submerso. Via Zoom, o diretor criativo da Panerai me atendeu às 11h30 de uma quarta-feira. Por aqui, fazia frio. Por lá, só se via azul. No plano de fundo da transmissão, nada de escritório ou sala de estar: o criativo estava sobreposto a uma imagem marinha. Corais coloridos e cardumes de peixes preenchiam a tela de meu laptop. A pontualidade, cabe ressaltar, também não passou sem ser notada. Tão suíça quanto a tecnologia do novíssimo Panerai Submersible Bronzo, desenhado para suportar as tensões de mergulhos subaquáticos, compreende-se de cara que marca e mestre se misturam. E, mesmo com tantos sincronismos entre tempo e mar, ainda cabia responder: por que a curiosa imagem espelhada no background? “A Panerai é água”, explicou. E assim foi dado o tom da conversa de meia hora dividida entre Itália e Brasil. Como uma onda, foi leve, rápida e profunda. “O que faz, na sua opinião, um relógio ser desejável?”, perguntei. “Design”, respondeu. “A magnitude. A sensação de bater o olho e sentir impacto, mas também o que existe por dentro”. Fundada em 1860, a Panerai foi por décadas um segredo muito bem guardado pela marinha italiana, que desenvolveu um relógio único, forjado para suportar os abalos, mas incapaz de perder a forma. O Mare Nostrum deu início a uma linhagem de ferra-

menta de alta precisão, de máquinas potentes, de “carros” amarrados ao punho. “Não é um objeto que você pode deixar guardado, sem dar atenção. É como um veículo, dentro dele há um motor”, comparou. “É necessário levar ao mecânico, cuidar, tratar a peça como ela merece”. Em 1997, a empresa foi comprada pelo grupo Richemont e tornou-se uma marca global: nascida da tradição, destinada à inovação e casada com o mar. Mas chega de falar de passado. Em modo lançamento, cinco modelos da etiqueta são o presente e o futuro conservados num único objeto. Com marcações de tempo hiperprecisas, destacam o retorno da Panerai ao segmento dos cronógrafos. Da linha Luminor Chrono, especializada em alta precisão para atletas e recordistas, chegam às prateleiras o Luminor Chrono Goldtech Blu Notte, cujo ouro altamente concentrado em cobre e platina inibe a oxidação, o Luminor Chrono Monopulsante, do qual foram


produzidas apenas 200 unidades e o Luminor Chrono Luna Rossa, uma edição limitada em homenagem à competição marítima Luna Rossa Prada Pirelli. “É uma companhia ousada, que quebra padrões de design e de pensamento”, Alvaro explica. “Não produzimos, por exemplo, projetando modelos de gênero, produzimos para pessoas com estilo que sabem do que gostam”. Lançado há pouco, o modelo Piccolo Due Madreperla é exemplo perfeito desse mindset. “Por décadas, os detalhes em madrepérola eram típicos de relógios masculinos. Hoje, são mais ligados ao feminino, mas não se limitam só às mulheres”, esclarece, lançando mais um olhar sobre seu jeito tão desafetado, de quem fala enquanto nada no oceano da possibilidade. “Acho uma chatice essa história de ‘moda com gênero’! Perde-se muito da graça”. Graça, ademais, é uma palavra que estranhamente se encaixa na descrição de Maggini. Sério enquanto é leve, não escapa de boas piadas e de deixar evidente sua maior saudade do mundo pré-pandemia: o toque. “Foi a parte mais desafiadora para mim, sem dúvidas”, relembra. “Quando começou o primeiro lockdown na Itália, em março de 2020, me senti num pesadelo! Os italianos são muito como os brasileiros nessa questão, gostam de se reunir, de estar próximos”, associa. “Minha criatividade está ligada às pessoas com quem trabalho, com quem convivo. Não poder ler sua linguagem corporal, não poder ter esse contato… isso me fez uma grande falta no dia a dia”. As águas, que antes eram calmas, tornaram-se globalmente turbulentas. Com as mãos sobre o timão do navio Panerai há menos de dois anos – foi apontado como diretor criativo da etiqueta em fevereiro de 2019 –, Alvaro se utilizou dos quase 20

anos de experiência no mercado relojoeiro para capitanear a embarcação a salvo para a costa. Uma de suas manobras foi acreditar no tête-à-tête virtual. “Foram organizadas duas ligações em vídeo, assim como essa nossa, com quase 500 funcionários da Panerai e também membros da imprensa”, entrega. “Além disso, nos tornamos ainda mais presentes pelas plataformas sociais, mostrando aos nossos clientes que ainda somos uma família”. O e-commerce da grife, merece-se dizer, também ganhou um glow-up. “Relógios são como joias, as pessoas costumam querer tocar, ver, viver a compra. Mas estamos passando por um período de alta aderência ao digital, têm-se menos medo de comprar à distância, principalmente aqueles que já conhecem e consomem a marca”. Para o diretor, contudo, nada há de substituir o presencial. “São formatos de consumo diferentes, há espaço para os dois e nós, como empresa, queremos garantir que a experiência seja incrível em qualquer uma das nossas vias de comércio”. No Brasil, a Panerai é presente em numerosas butiques e pontos de venda espalhados pelo País, que foi o primeiro da América Latina a ser contemplado com uma loja on-line exclusiva. A novidade foi bem aproveitada pelos consumidores brasileiros, superando todas as expectativas de venda para o mercado nacional. Agora, é nadar com a maré e navegar rumo ao futuro. “O ser humano é mais resiliente do que se pensa, aguentamos fardos que achamos serem insuportáveis. Passamos por guerras, crises, mas estamos firmes, fortes e inteiros!”. É! Assim como um bom relógio… @panerai www.panerai.com

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ÍCONE

IRIS APFEL, CEM FILTRO TRANSGRESSORA NATA, A NORTEAMERICANA QUE ABRIU CAMINHOS PARA O DESIGN NA EMERGENTE NOVA YORK DOS ANOS 40 CELEBRA CEM ANOS COM MENTE IRREVERENTEMENTE ATIVA E SEMPRE PRONTA PARA O ANTISTATUS

Fotos:: Divulgação

POR THEODORA ZACCARA

E

la é virginiana – e nota-se pelo cabelo curto, em perfeita ordem. Óculos redondos, garrafais, de armação preta, lente imaculada. Boca sempre vermelha, fios brancos tipo neve. Jeito de falar soltando frases de efeito, citações não planejadas que confirmam o que o mundo da moda há muito já sabe: a titã de estilo nova-iorquina é uma força vital. Em 29 de agosto de 2021, a instituição estética e cultural que é Iris Apfel completa cem anos. E, com ela, toda a imagem de uma Nova York pré-millennial, pré-guerra, pré-revolução digital se enxerga sobre as lentes (redondíssimas) de uma mulher que sempre foi à frente do tempo. Nascida em 1921, Iris Barrel veio do Queens, bairro não tão nobre da emergente Big Apple. Durante os

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Anos Loucos, a “suja” e divertida Nova York se revelava cada vez mais brilhante, rica: mais Great Gatsby, menos Titanic. Se Paris ainda era a dama da corte, NY era a debutante que desabrochava por atenção. Warren Gamaliel Harding era o presidente da crescente força norte-americana. Em poucos anos, as farras e luxos “fitzgeraldianos” abririam espaço para a Grande Depressão, resultado de uma das mais intensas crises econômicas do mundo capitalista – mas, enquanto isso, havia muito para sonhar. É nesse cenário que nasce e cresce quem viria a ser um dos mais adorados emblemas da moda mundial. Durante a juventude, cursou História da Arte na Universidade de Nova York, frequentando subsequentemente a Escola de Arte da Universidade do Wisconsin-Madison e tirando como missão a incum-


Foto:: Divulgação/Architectural Digest

bência de conhecer o mundo. Filha de pais judeus, nem é preciso ressaltar o quão turbulentos foram seus vinte e poucos anos, vivendo sob a ameaça de uma batalha da razão contra a intolerância. “Eu sempre fui muito influenciada pela minha mãe, que cultuava no altar dos acessórios”, é uma das lembranças que compartilha no documentário Iris, uma Vida de Estilo, de 2014. Em 1948, o marido Carl Apfel aparece como parceiro no amor e nos negócios. Juntos, montaram a Old World Weavers, empresa do setor têxtil especializada em importar tecidos da Europa para a crescente clientela norte-americana. O empreendimento foi aposentado em 1992 e, com pesar, Carl faleceu às vésperas de seu septuagésimo primeiro aniversário, em agosto de 2015. “E eu cheguei à conclusão de que ele era bacana, e ele era carinhoso, e ele cozinhava comida chinesa, então eu não poderia conseguir nada melhor”, brincou certa vez, quando questionada sobre sua relação. Aos cem anos de legado, é dona de um dos mais recheados arquivos de moda do globo – pelo guarda-roupa da designer se encontra de um tudo: camisas pintadas pelas mãos do próprio Gianni Versace, braceletes megalômanos garimpados entre Ásia, África e as ruas do Harlem. Uma riquíssima coleção de peças em âmbar, uma túnica em tons terrosos do povo Miao, minoria étnica chinesa, e história o suficiente para preencher o closet de vários cômodos em seu apartamento na Park Avenue. O que você não vai encontrar por lá? Tédio. “A cor pode levantar os mortos”, disse em entrevista ao Home Shopping Network. Lançada em setembro de 2005, a exposição Rara Avis, uma parceria com o Costume Institute do Metropolitan Museum of Art, foi divulgada totalmente via

“boca a boca”. Pela primeira vez na história da instituição, uma personalidade contemporânea foi não apenas homenageada pelo museu, mas responsável por orquestrar toda a sinfonia dos 80 looks apresentados. Durante os quatro meses de duração da mostra, era possível esbarrar com Isis pelos corredores, e ouvir da boca da curadora cada centímetro da história dos objetos em exposição. “Foi uma avalanche”, relembra, e não erra: mais de 150 mil visitantes bateram ponto na expo. Mas história digna de museu não é um capítulo na biografia de Apfel, é o livro inteiro. Na política, abriu as portas da Casa Branca, decorando espaços nas administrações de Truman, Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan e Clinton – isso nos tempos da Old World Weavers. No jornalismo, trabalhou como copiadora do Women’s Wear Daily, hoje um dos maiores portais de moda dos Estados Unidos – só que por lá não foi apreciada. Desligou-se do primeiro emprego ainda sem alcançar o sonho de trabalhar com moda em esfera editorial, caindo, em sequência, nas mãos do ilustrador Robert Goodman. “Ele era um artista maravilhoso no âmbito da moda masculina. Eu andava por todos os lados da cidade e conhecia todos os tipos gente”, recordou em entrevista ao bailarino Steven Caras, em 2016. Quando empurrou os portões do setor de design de interiores, Iris já era um rosto familiar. O trabalho ao lado da socialite Eleanor Johnson foi o primeiro de Apfel no ramo, e se deu durante o extremamente escasso período da Segunda Guerra Mundial. Sem recursos ou muitas possibilidades, coube à imaginação de um time de profissionais lapidar a nova face do design americano. Iris, nessa dinâmica, foi convidada para auxiliar a roteirização de um filme sobre o projeto, e declara que por lá muito aprendeu. “Sou como uma esponja, eu absorvo, e fiquei muito interessada pelo que essas pessoas estavam fazendo”. A partir de então, seu pé no mundo da arquitetura e design já estava firme e seguro. Com criatividade e irreverência, seu modo de decorar acompanha a façanha que é se vestir. “Eu não tenho regras! Se as tivesse, as quebraria toda hora. Seria uma perda de tempo”, segue o filme. Em clima confidente, confessa que desfruta muito mais do processo do que do resultado final. Degusta a arte de montar uma produção. Aprecia o tempo dedicado, vive as horas e vive a evolução. “Odeio quando as coisas parecem combinadas”. Mas vamos combinar? Se possível fosse, a moda, a arquitetura, a mídia e todos os outros braços da arte encomendariam mais cem anos de Iris. GPSLifetime « 125


TETÊ COM ESTILO POR MARIA THEREZA LAUDARES mtlaudares@gmail.com – @mtlaudares

ENTRE O TRADICIONAL E O STREETSTYLE COMO A MODA JAPONESA INFLUENCIA A SOCIEDADE

P

ensar na Ásia é pensar no continente da atualidade. Na moda, o Japão se destaca como aquele que lança as tendências, inspira o continente. Ao direcionarmos nossa atenção para o país do sol nascente, surgem as perguntas: o que define a moda japonesa? Como somos influenciados pela moda que vem do Japão? Em um percurso, hoje considerado comum, a indústria da moda permeia o lifestyle da sociedade com propostas que vão da decoração ao vestuário, considerando a gastronomia e até mesmo a indústria automobilística. Muito ligado às tradições, o Japão se questiona sempre e, cada vez mais, sobre novas interpretações e formas de personalização promovidos pelo setor.

TRADIÇÃO A indústria têxtil japonesa reconhecida mundialmente pela criação de estampas e motivos, bem como pelo desenvolvimento de técnicas de tear e tingimento, transmite a história material e cultural de sua sociedade. Nenhuma outra peça é mais representativa da cultura do vestuário nipônico que o kimono com sua silhueta única. Originalmente permitido apenas à alta elite social, a peça foi se popularizando ao longo dos séculos. Hoje, existem mais de dez modelos diferentes de kimono que podem distinguir ocasiões familiares, formais ou sociais, bem como demonstrar 126 « GPSLifetime

Desfile Yohji Yamamoto

o estado civil. Vestir um kimono de maneira correta para ocasiões formais exige ajuda, uma atividade oferecida por profissionais capacitados. O exercício de repensar o kimono é recorrente na moda ocidental e resume em si a influência da arte e design japoneses no espaço contemporâneo. A rela-


Yohji Yamamoto Rei Kawakubo

Eiichiro Sakata

ção entre a cultura oriental, representada pelo kimono, e a sociedade ocidental provoca certa mudança de atitude no tocante ao vestuário, uma vez que, a peça busca esconder o corpo ao invés de revelá-lo.

AZUL JAPÃO Nascido na tradição têxtil japonesa, o Aizome, conhecido como o índigo japonês, é também importante para a identidade cultural do país. O tecido em tom azul obtido a partir do processo de tingimento de plantas naturais tem suas origens no século seis. As propriedades antibacterianas e inseto-repelente do Aizome fez com que ele se tornasse o escolhido entre os Samurais. Produzido manualmente até os dias atuais, o tecido possui vários tons de azul, indo do branco índigo Aijiro ao tom mais profundo de azul conhecido como Noukon. A logomarca dos Jogos Olímpicos de 2020 feita em tom de azul índigo é um reconhecimento à cultura têxtil nacional.

JAPONISMO O impacto causado pelo Japão na moda ocidental contemporânea é reconhecido não apenas por sua influência, mas, em especial, pela mudança de paradigmas. Paris foi a porta de entrada para novos designers que fizeram com que os anos 80 se tor-

nassem um período questionador da silhueta na moda. Foi nesse momento que emergiram estilistas, hoje renomados, como Yohji Yamamoto, Issey Miyake, Rei Kawakubo, Kenzo Takada e Hanae Mori. Ao repensar a silhueta Kawakubo, experimentou padrões de corte jamais ousados. Yamamoto, por sua vez, questionou o gênero nas roupas e usou como ponto de partida o molde retangular do tradicional quimono. O movimento como forma de expressão de identidade fez com que os criadores japoneses alargassem as proporções para que suas modelagens privilegiassem o conforto. As calças, camisas, saias, vestidos e casacos adquiriram comprimento alongado e medidas como ombros e cintura foram deslocados. O volume ocupado pelo corpo em relação à vestimenta foi questionado em seu deslocamento no espaço. Junto à transformação da silhueta surge a proposta de vestir-se de preto como símbolo contrastante de permanência e transgressão. GPSLifetime « 127


Streetstyle japonês anos 80

A LINGUAGEM DO NOVO MERCADO JAPONÊS Portadores de conceitos de vanguarda como criatividade e estilo de vida, os japoneses prezam por serem capazes de elaborar uma linguagem própria. A moda japonesa no século 21 faz uso da tradição da alfaiataria, expressão máxima da personalização, para construir uma imagem sólida e valorizada por sua capacidade de criação. No Japão a moda é a ferramenta que ajuda a formar a expressão da individualidade. Transformar-se é o grande desafio do Japão que na intersecção de novas tendências e antigos valores encara problemas de múltiplas facetas, como o envelhecimento da população e a queda do crescimento demográfico. A ideia de luxo ligada à moda italiana e francesa por vezes são comunicadores do estilo clássico e tradicional que dialoga com as gerações conservadoras. Propensas ao risco, as gerações mais jovens – Millenials, Gen-Z e Alpha – representam as novas exigências do mercado. Inseridas em um contexto global as novas gerações japonesas tratam a moda como fonte de inspiração para a expressão de um estilo próprio e autêntico. Um grande exemplo do contraste entre gerações é a queda das vendas em lojas de departamentos que, como canais de venda, não “conversam” mais com a clientela em busca de artigos de moda. A mudança de gosto dos japoneses é visível na hora da compra, 128 « GPSLifetime

pois cada vez mais preferem fazer suas compras caminhando pelas ruas e descobrindo pequenas lojas. Em Tóquio, lugares como as ruas de Futago-tamagawa ou Nakameguro ganham mais atenção do que as lojas de departamentos em Ginza ou Shinjuku. A capital é o cenário da cultura do street-style que teve suas primeiras manifestações na década de 80 do século passado. Uma das figuras mais importantes do streetwear japonês é o designer Hiroshi Fujiwara. Considerado o padrinho do streetwear, Fujiwara é referência de cultura e lifestyle contemporâneos com celebradas parcerias que vão desde o popular café Starbucks à luxuosa joalheria italiana Bvlgari. Recentemente uma colaboração com a Maserati previu uma série de 175 carros personalizados pelo designer. Marcas pouco difundidas, mas nem por isso menos conhecidas entre os jovens consumidores, como A Bathing Ape, Vanquish e Fragment Design, entre outras, ganham espaço com seu design original e preços moderados. Em poucas palavras: a novidade, a cultura de moda das ruas é descobrir algo novo. Como vestir é mais importante do que “o quê” se veste e, graças a essa abordagem, os japoneses comunicam suas escolhas por meio de diversos estilos e interpretações. Coordenar peças do vestuário e também suas texturas é o foco na construção do estilo. Adeptos dos novos valores do slow fashion, os japoneses se identificam com o consumo consciente, no qual comprar menos é comprar bem. Consumir moda torna-se quase um ato ecológico que valoriza a origem do material, reconhece o trabalho manual e respeita sua preservação. A resistência à mudança não faz parte do discurso jovem, pelo contrário, os japoneses costumam absorver toda a informação de moda que recebem e, então, formular sua própria visão. O Japão torna-se referência no atual momento de retomada mundial quando a moda em busca de um novo posicionamento internacional e dá as boas-vindas a todas as transformações que validam o recomeço.


ESTAÇÃO

DEPOIS DE UM LONGO INVERNO... A PRIMAVERA UNIFICAR TENDÊNCIAS SEM SABOTAR O ESTILO PRÓPRIO, INSERINDO CORES QUE VIBRAM, É O NOVO MOOD DE QUEM ESTÁ PRONTO PARA DEIXAR O COMFY EM CASA E VESTIR-SE PARA VIVER POR THEODORA ZACCARA

Foto: JP Rodrigues

O

mundo desabrochou – ou melhor, está desabrochando. Após os quase dois anos de uma pandemia que ressignificou tudo e todos, dias melhores se aproximam no horizonte. O inverno foi rigoroso, mas a primavera não tarda a chegar. “Já estamos mais esperançosos”, confessa a estilista e empresária Louback Jacoby Fernandes, que, ao desenvolver a linha spring da grife autoral Louback Maison, inspirou-se nessa energia renovada. “Estou criando com mais alegria”, revela. Durante o período em isolamento, a moda se tornou aquilo que o mundo não mais era: confortável. Se ficar em casa era a ordem, então que fosse atendida com muito estilo e comodismo. “Mas agora podemos começar a pensar no retorno de uma produção maior! Hoje, já não penso mais tanto no look do home office, por exemplo. Penso em roupas para o mundo e para a vida, para se mostrar dos pés à cabeça”, destaca. Entretanto, o tempo em reclusão não é de se jogar fora. Ao longo dos meses em distanciamento, a designer conta que imergiu num novo entendimento sobre a arte de vestir, de criar e de comunicar. “A internet comprovou que vivemos em uma aldeia global e que, mesmo que sejamos obrigados a parar fisicamente, nossas mentes precisam sempre continuar a operar”. Essa operação deu à luz uma coleção pensada para despertar o sentimento da renovação. A primavera, em toda sua metafórica beleza, clama pelo que é novo, espanta o medo e aquece o

peito. “Transparências, decotes ombro a ombro, volumes, babados em vestidos, camisas, saias… são esses alguns dos principais elementos”, lista. “Quem não gosta de babado, inclusive, vai acabar usando de tanto ver!”, brinca. “No mais, tecidos leves, e blocos de cores super fortes, que eu amo! Muito verde, azul, pink, lavanda e o marrom, que é tendência firme das últimas temporadas”, entrega, garantindo ainda a presença de variadas estampas florais e daquela clássica alfaiataria Louback Maison. A chegada da nova coleção será brindada entre clientes e fidèles da grife. “Quero aproveitar um pouco dessa liberdade que recuperamos e promover esse reencontro”. Afinal, das quatro estações, a primavera é a que clama por ser curtida em conjunto. @loubackmaison @backstagefeminine @louback_stylist

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ENTRE NÓS POR PATRICIA JUSTINO

pattyjustino@hotmail.com – @patjustinovaz

ARTE EM PAPEL O nome pressupõe estarmos falando de uma loja tipo papelaria apenas, mas, quando mergulhamos no universo dessa empresa “cool” e diferenciada, a PAPELARIA, descobrimos que ela é muito mais. Escritório de design com sede em São Paulo, de onde fazem atendimento para todo o Brasil, o seu núcleo envolve produção própria (quase sempre utilizando o papel como base), desenho de marcas e direção criativa. Todo o portfólio tem linguagem contemporânea, é exclusivo e se sobressai nesse universo inventivo: embalagens diferenciadas, objetos funcionais, e até roupas e obras de arte, tudo derivado do papel. Um trabalho minucioso e encantador. E por falar em arte, a PAPELARIA desenvolveu esculturas que viraram objetos de desejo nessa temporada, é uma série com oito modelos de totens confeccionados de papel e acrílico. A tiragem é especial, disponibilizam apenas três peças de cada modelo. Quando encomendados, os totens já saem embalados de forma artística para presente e junto com o envio, ao preço de R$ 2.500. Não está dando para quem quer! Corre lá para apreciar e deleite-se. @papelariainstagram Fotos: Divulgação

ITENS DE COLECIONADOR Para comemorar um século de existência de um dos perfumes mais famosos dos últimos tempos, o Nº5 da Chanel, a maison francesa lançou uma coleção limitada de cosméticos digna de encher os olhos dos amantes do design e do mercado de luxo mundial, a Factory 5 Collection. Formada por 17 produtos exclusivos, que tiveram como fonte de inspiração objetos do dia a dia e foram radicalmente repaginados justamente para lembrar que usar o Nº5 transforma uma experiência comum em algo extraordinariamente glamouroso. Além do icônico perfume, a coleção inclui cremes para o corpo, gel de banho, sabonetes, óleo corporal e até uma caixinha surpresa que compõe um kit fofo de tratamento para as mãos. Dá até pena abrir as embalagens de tão lindas que são. Vale a pena conferir e, inclusive, assistir o filme de lançamento que transporta o expectador a uma fábrica de sonhos onde se acompanham os produtos em esteiras sendo levados a cada fase da produção, campanha digna de premiação. www.chanel.com

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SLEEPWEAR É inegável que uma das coisas mais libertadoras da quarentena foi podermos vestir — e permanecer — ao longo dos dias nos nossos pijamas favoritos ou com as peças de roupas mais confortáveis do nosso guarda-roupa. Tanto que chegou uma hora em que nem a gente mesmo aguentava mais usar aquelas peças coloridas e com cara de todo dia. Exatamente no boom dessa tendência em 2020, com o intuito de criar peças de dormir que saíssem desse molde caricato e entrassem numa vertente “leve e chique”, podendo ser usadas em casa e dali mesmo para outras ocasiões, a designer brasileira radicada em Miami, Cinthia Boni Cordioli, estreou nos Estados Unidos a sua marca de sleepwear, Campo Collection. O projeto, engatilhado antes mesmo desse desejo coletivo começar, não poderia ter tido um resultado diferente: a marca, diga-se de passagem, uma das mais elegantes dos últimos tempos, já é sucesso mundo afora, tendo sido citada nas mais importantes revistas de moda e do mercado de luxo internacional. Sustentável, priorizando o uso de materiais nobres como o algodão orgânico e modelagem diferenciada, a Campo desenvolveu peças para vestir toda a família. Prepare-se porque é impossível adquirir uma só! No Brasil, à venda na Mares – CJ Fashion ou no www.campocollection.com

PRÓXIMO DESTINO

Cada dia mais a liberdade de ir e vir começa a fazer parte novamente da vida das pessoas, especialmente depois do aumento de vacinações contra a Covid-19. Se você já vive essa realidade e busca o seu lugar ao sol para desfrutar de férias perfeitas em família ou anseia por momentos especiais de lazer entre amigos, a chamada Costa dos Corais, em Alagoas, abriga a propriedade perfeita para quem ama estar em meio à natureza sem abrir mão de serviços exclusivos e conforto. Localizada na praia dos Morros do Camaragibe, a Vila Entre Chaves é um condomínio privativo de sete casas numa região deserta e paradisíaca. Com estruturas independentes que comportam de três a dez suítes, cada casa possui piscina individual, mobiliário e décor inspirados na cultura local e, dependendo do pacote, oferecem serviços de renomados chefs, que criam experiências gastronômicas baseadas na culinária regional. Quem passa por lá sai encantado, não só pela beleza do local como também pelo privilégio de estar longe de aglomerações e ainda pela simpatia e os cuidados de uma equipe bem treinada e acolhedora. Vale a pena conferir! www.vilaentrechaves.com.br

O DESIGNER ARTESÃO Esculpir, lixar, refinar detalhes... essa é uma das rotinas do designer de produtos e artesão Elizandro Rabelo, que ganhou notoriedade quando deu vida à série: Design Gráfico Re-Configurado em Objeto, uma mistura dos seus trabalhos ilustrativos (típicos da época em que era designer gráfico) com a criação de objetos na marcenaria criativa, vertente em que se desenvolveu de forma peculiar. Considerado um dos artistas que trabalham com madeira mais democráticos na atualidade, Elizandro desenvolve peças-desejo que variam de R$ 80 a R$ 10 mil, mas todas transitando em projetos bacanas da cena contemporânea paulista. O mais legal é que referências da cultura brasileira estão sempre presente em seus trabalhos, porém com o seu toque moderno e minimalista. Vendas pelo site www.odesignerartesao.com.br

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Foto: Andrés Otero

ENCONTRO

UMA FORTALEZA FASCINANTE A BIENAL DE SÃO PAULO CELEBRA SETE DÉCADAS COM VÁRIOS DESAFIOS VENCIDOS, MANTENDO O COMPROMISSO DE INTRODUZIR NOVOS PENSAMENTOS AO FIRMAR O FREQUENTE DIÁLOGO COM A ARTE MUNDIAL POR ROBERTA PINHEIRO

Pôster da primeira edição da Bienal (1951). Arte: Antônio Maluf

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Pôster da segunda edição da Bienal (1953/1954). Arte: Antônio Bandeira

Cecilia Scharlach, Oscar Niemeyer, Haron Cohen, Roberto Muylaert, Luiz Loureiro, Felippe Crescenti, Glauco Pinto de Moraes, Afonso Champi Jr., João Marino e Eduardo Barrieu visitam a 18ª Bienal de São Paulo, em 1985 / Autor não identificado


Fotos: Divulgação/Fundação Pierre Verger

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elos traços do arquiteto modernista Oscar Niemeyer, a Bienal de São Paulo fincou raízes no Parque Ibirapuera, na capital paulista, e projetou o nome do Brasil no meio artístico internacional. De 1951 – quando inaugurou a primeira edição ainda de maneira improvisada –­ até os dias de hoje, muitas são as histórias contadas por meio da arte, das experimentações e dos bastidores. Em 2021, ano em que o sistema de artes visuais também sofre os impactos da pandemia, a segunda mais antiga bienal do mundo, atrás apenas da Bienal de Veneza, completa setenta anos e abraça São Paulo em sua 34ª edição. Maduro e consistente, o evento, que ganha seu ápice em setembro, com a abertura da grande exposição coletiva no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, dialoga com uma rede de instituições parceiras por toda a capital paulista. “Em um país tão polarizado, estamos dando um exemplo de que é possível todo mundo dar as mãos e participar de um projeto sem abrir mão de sua individualidade. Seria lindo se o nosso exemplo pudesse inspirar o País”, afirma José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo. “É uma instituição que vai estar sempre se questionando, inovando, pensando em como fazer melhor, acompanhando os tempos, introduzindo novos pensamentos e novas formas de olhar a arte, porque essa é a nossa missão”, completa. Ao todo, foram produzidas 33 Bienais, com a participação de aproximadamente 140 países, 11.500 artistas ou coletivos, mais de 70 mil obras e 8,5 milhões de visitantes. Por ela, passaram nomes nacionais e internacionais, como Pablo Picasso, Andy Warhol, Jackson Pollock, Diego Rivera, Di Cavalcanti, Alfredo Volpi. “A Bienal deu uma grande contribuição a essa projeção do Brasil no mundo e continua atraindo a atenção mundial”, avalia Pereira. “Para mim, a Bienal sempre foi uma grande oportunidade de conhecer e ver trabalhos de artistas, me proporcionou descobertas, a possibilidade de conhecer coisas novas ou ver algo que já conhecia, mas apresentado de uma forma especial. É sempre fascinante”, declara o presidente da Fundação. Chegar aos setenta anos representa, para José Olympio, a consolidação de uma missão. “Qualquer coisa que resista a setenta anos, com o vigor, a importância e a consistência... é um projeto de sucesso. Ao longo da sua história, a Bienal já encontrou desafios até como instituição e conseguiu superar. Está aí viva, atuante e com lideranças que se sucedem e constroem sobre o que as anteriores deixaram”, afirma.

Sem título (série Candomblé do Pai Cosme), Pierre Verger (1950)

Sem título (série Candomblé do Pai Cosme), Pierre Verger (1950)

VOLTA AO TÚNEL DO TEMPO Para comemorar a longevidade do evento, a Fundação Bienal de São Paulo foi buscar nas memórias e vivências o conteúdo de diversas ações em variadas plataformas. O primeiro lançamento foi o podcast Bienal, 70 anos. Desde a primeira edição, quando até artistas ajudaram a pendurar as obras nas paredes, a Bienal deu sinais de que vinha para inserir o Brasil e a América do Sul no circuito artístico internacional. Sem falar do empenho dos envolvidos. A iniciativa do empresário Ciccillo Matarazzo, à época presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, reuniu 729 artistas de 25 países em sua estreia. Enquanto a edição de 51 chamou a atenção do público para o projeto, a segunda, realizada em 1953, ficou conhecida como Bienal de Guernica, por trazer o famoso quadro de Pablo Picasso, à época sob tutela do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa).

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Foto: Amilcar Packer

Ũn te kuxak kuk top hemãhã [Ela tira gordura], Sueli Maxakali / Cortesia da artista

Registro de público na 28 Bienal de São Paulo, 23/11/2008

Para ser exibida no Brasil, na data que celebrava também o aniversário de 400 anos da cidade de São Paulo, a obra enfrentou um longo trajeto: dois meses de viagem de navio e até mesmo um caminhão atolado na lama do ainda em construção Parque Ibirapuera. Contudo, foi apenas em 1957, na 4ª Bienal, que o evento foi organizado no espaço que virou sua sede permanente, o Pavilhão das Indústrias do Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer – e hoje conhecido como Pavilhão Ciccillo Matarazzo. No decorrer das décadas, a Bienal de São Paulo caminhou ao lado dos contextos nacionais e interna134 « GPSLifetime

cionais, sendo palco do que acontecia fora do pavilhão: enfrentou uma dura ditadura militar, chegando a sofrer boicotes e manifestações por parte de artistas; deu destaque para o surrealismo e a pop arte internacionais, ao trabalho dos concretistas e neoconcretistas brasileiros; abriu espaço para o surgimento da videoarte e da performance; sem falar em curadorias de destaque, como a de Paulo Herkenhoff e a de Sheila Leirner, primeira mulher a ocupar o cargo em 1985. Assim como esses fatos marcaram a trajetória do projeto, a pandemia do novo coronavírus, que causou o adiamento da exposição coletiva em um ano, também será lembrada. Para Pereira, foi possível “transformar esse limão em limonada”. “Por meio das mídias sociais, promovemos debates, visita a ateliês, lives, conversa com educadores. Coisas que nunca tínhamos feito antes com essa intensidade e profundidade. Transformamos uma crise em oportunidade”, detalha. As redes sociais permitiram celebrar os setenta anos de maneira diversa e satisfatória. Enquanto o podcast e a Linha do tempo da Bienal de São Paulo, reeditada e disponibilizada pela Livraria da Travessa, debruçam-se sobre os fatos históricos, as comemorações envolvem ainda o curta-metragem Arquivo Histórico Wanda Svevo: o passado em perpétua construção, disponível no YouTube da Fundação e na página da Bienal, e a campanha Bienal: há 70 anos, você não sai você, que destaca como o evento provocou experiências, sensações e descobertas no público. Entre os depoimentos, nomes como os artistas plásticos Siron Franco e Beatriz Milhazes, e os atores Lima Duarte e Mariana Ximenes.


La Cena [The supper], Belkis Ayón (1988)

OPINIÃO

FAZ ESCURO MAS EU CANTO Enquanto celebra seus 70 anos, a Bienal de São Paulo chega à 34ª edição. Com curadoria-geral de Jacopo Crivelli Visconti, Faz escuro mas eu canto, como foi intitulada, reúne 91 artistas, coletivos ou duos de 39 países. Entre os artistas desta edição, há representantes de todos os continentes (exceto a Antártica). A distribuição entre mulheres e homens é equilibrada, e cerca de 4% dos artistas identificam-se como não binários. Esta será, ainda, a Bienal com a maior representatividade de artistas indígenas. Apesar do trabalho curatorial e das programações que estão ocorrendo desde fevereiro de 2020 e culminam na mostra coletiva do Pavilhão e nas exposições individuais em instituições parceiras, Visconti avalia que um impacto do tempo presente será sentido para além do trabalho dos curadores. “O fato de visitar uma Bienal, de sair de casa e ir ver uma exposição, depois de tudo o que aconteceu, e sentir que eventos desse tipo podem voltar a acontecer, essa sensação não é algo que como curadores podemos controlar, mas vai impactar muito. Mesmo com um ano de atraso, a emoção transcende”.

A professora e curadora independente Marília Panitz fala do simbolismo dos setenta anos da Bienal. “A longevidade da Bienal comprova a solidez da instituição, da fundação e o fato de que o Brasil, efetivamente a arte visual brasileira, tem estofo para sustentar essa iniciativa”, acredita. Panitz é mestre em Arte Contemporânea pela Universidade de Brasília (UnB), já dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília, atuou como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições e dirige programas de cursos livres em arte.

O que significa uma bienal? A Bienal, bem como esses grandes eventos de arte, nesses moldes, tem como função reunir, em determinado local, o que tem se produzido de mais emblemático da produção contemporânea, das poéticas, assim como contextualizar essa produção a partir de fatos históricos. É um espaço que traz uma visão contextualizada e autônoma do que vem se produzindo em arte. A partir disso, criam-se muitas coisas.

Qual a missão de uma bienal hoje? É uma exposição para ver e se informar, mas, principalmente, para ser provocado a pensar sobre a arte.

O que representa a Bienal para a arte brasileira? Para a produção artística brasileira, é um ato da maior importância. Ela impacta todo o sistema de arte no Brasil. Para a formação de um público que não é aquele que valoriza somente o que vem de fora, porque os brasileiros estão lá junto com artistas do mundo todo. Isso define uma visão do mundo. GPSLifetime « 135


Fotos: Estevan dos Anjos

MANIFESTO

Sem título (figura feminina)

NUNCA MAIS FOI COMO ANTES ACERVO AUTORAL DOS MODERNISTAS GOMIDE-GRAZ ABRE A TEMPORADA DE CELEBRAÇÃO DO CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA, OS DIAS DISRUPTIVOS QUE REDEFINIRAM A ARTE NO BRASIL POR PAULA SANTANA

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iante da atmosfera turbulenta pós-apocalíptica à guerra mundial havia a urgência em quebrar o status quo e reconfigurar as estruturas sociais e políticas do século que já começava frágil. Esse rompimento viria robusto, mas pela arte. E de modo definitivo. Os autores... um grupo de intelectuais e artistas, declarando o fim do conservadorismo cultural. A ideia era iniciar um novo ponto de vista estético. Influenciados pelas vanguardas europeias, músicos, 136 « GPSLifetime

artistas, escritores se uniram numa unidade celular que proclamava o fim de parnasianos e românticos em detrimento de cubistas e surrealistas. Um fenômeno urbano orquestrado por São Paulo, com células cariocas, pernambucanas e mineiras. Em meio a todo esse frisson havia dois jovens irmãos brasileiros, Antonio e Regina Gomide, pioneiros no art déco. Na Suíça, estudantes, em 1913, conheceram John Graz na Academia de Belas Artes


Foto: Bruno Macedo

Foto: Romulo Fialdini

Vaso, Antonio Gomide

Foto: Romulo Fialdini

O encontro, Antonio Gomide

Composição com figuras

de Genebra. Graz e Regina casaram-se em 1920, no Brasil. Na mesma década, ele se aproximou dos pioneiros do modernismo e participou da Semana. Enquanto isso, Antonio vivia em Toulouse e convivia com o artista francês Marcel Lenoir, com quem aprendeu técnicas de afresco. Na França, teve contato com modernistas brasileiros e artistas europeus ligados aos movimentos de vanguarda, a exemplo de Victor Brecheret, de quem foi vizinho em Montparnasse,

bairro boêmio da capital, e Vicente do Rego Monteiro – ambos integrantes do movimento modernista. No Brasil, reunidos e atuantes, Antonio, John e Regina tornaram-se sócios fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), uma associação que estreitava relações entre artistas e promovia exposições, concertos, conferências, reuniões literárias. Foi refúgio de Anita Malfatti, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, os mecenas Paulo Prado, Olívia Guedes Penteado, os escritores Sérgio Milliet e Menotti Del Picchia, entre outros. Graz se consagrou em São Paulo como arquiteto de interiores nas décadas de 1920 e 1930. “A marca registrada dos projetos de John Graz é a harmonia entre todos os elementos que integram o espaço planejado. Ele visava ao ‘design total’”, diz a curadora Maria Alice Milliet. E Regina dedicou sua obra à tapeçaria e confeccionava painéis, colchas, almofadas, tecidos e abajures em estilo cubista e art déco. Às vésperas de iniciar as comemorações do centenário do movimento, o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a exposição Desafios da Modernidade – Família Gomide-Graz nas décadas de 1920 e 1930. “Pode-se dizer que suas criações são solidárias, na medida em que pinturas, desenhos, tecidos, mobiliário e luminárias foram projetados para compor determinados ambientes, para funcionar em conjunto. É arte integrada ao espaço habitado e como tal será mostrada”, explica. GPSLifetime « 137


REVOLUÇÃO

O SÓLIDO MIMETISMO SITUAÇÕES E SINTOMAS VIVENCIADOS EM TEMPOS RECENTES POSSIBILITAM AGORA UMA ARTE RESSIGNIFICADA E ABERTA À MULTIPLICIDADE DE LEITURAS. UM ESPÍRITO LIBERTO, UM NOVO DESPERTAR POR PAULA SANTANA

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Nós não somos assim tão fortes

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abriella Garcia, carioca, é uma artista autodidata, cuja prática transita entre escultura, pintura e instalação. Suas obras transitam entre o jogo de duplas opostas: o sólido e o etéreo, o volume e o plano bidimensional, o condensado e o volátil, o passado e o presente. O seu processo artístico trazia o uso da colagem como força motriz e hoje carrega suas influências, assim como das artes cênicas. Para Gabriella, tudo se conecta e cada trabalho existe a partir do outro. A artista materializa a pintura e pinta a matéria por meio de suportes diversos, como minerais, reproduções de imagens clássicas em gesso, telas, sedas e mármores. “Estudos de equilíbrio. Garcia objetiva demonstrar como a utilização negacionista de modelos taxonômicos, como arquétipos, catálogos, listas e índices, simultaneamente a propriedades líquidas, como astronomia, astrologia, sonhos e memória, podem se realizar de modo rítmico e, ainda assim, irônico”, reflete a escritora e curadora independente Ode. Na Galeria Lume, São Paulo (@galerialume)


Fotos: Divulgação

Vistas da exposição Ontologias

informações e imagens. “Ele é professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e é flagrante o seu interesse em elaborar uma pesquisa poética que investiga a formação de certo olhar em relação às imagens que já estão no mundo”, pontua o curador Ulisses Carrilho. Na Galeria Kogan Amaro, São Paulo (@ galeriakoganamaro)

A CIÊNCIA DO SER Metaphor (2018)

BEAUTIFUL IMAGE Bruno Miguel explora materiais inusitados para investigar as possibilidades de pintura na atualidade. O artista traz imagens de naturezas distintas e de outros circuitos, como do universo doméstico e da sociedade de consumo, e as relaciona com a pop art. “Me interessa essa globalização do acesso aos produtos e, ao mesmo tempo, eu me identifico com essa estética neo-pop periférica”, pontua. Para finalizar suas obras, o artista cria diferentes camadas de resina simulando uma superfície de plástico ou espuma rugosa. A técnica causa a impressão de as pinturas estarem dentro de uma embalagem, como se fossem objetos de uma sociedade de consumo. Entusiasta da pintura como pensamento e campo estendido, Bruno Miguel traz a questão do processo lento e temporal da pintura inserida em um mundo de velocidade de

Parte da metafísica que trata natureza, realidade e existência dos seres, a ontologia é o estudo do “ser enquanto ser”, algo que o alemão Martin Heidegger denominava como “aquilo que torna possível as múltiplas existências”. A partir destas reflexões, os artistas Cabral, Kandro e Marcos Amaro trazem ao público esculturas, pinturas e desenhos que compõem a exposição Ontologias. A filosofia torna-se instrumento de investigação ao lerem-se os escritos de pensadores icônicos como Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre e Heidegger, na tentativa de compreender mais o mundo e a si mesmo. Eles se voltam para dentro e retratam na matéria suas emoções. Mostram ao espectador suas maneiras de agir e os motivos que sustentam seus trabalhos. Deste processo, nasceram esculturas feitas em argila e fundidas em bronze. São, algumas delas, figuras disformes, que aludem a corpos em movimento. O conjunto dialoga com desenhos-pinturas em carvão e acrílica, trabalhos criados ora sobre madeira, ora sobre lona. A busca é por um ser quase descomunal e substitui as respostas pelas indagações. No FAMA Museu, em Itu. (@famamuseu) GPSLifetime « 139


FORMAS

UM BAILE TRAÇADO INTENSA NO PENSAMENTO, LIVRE NA ALMA E AVESSA A FRONTEIRAS, CRIS CONDE CELEBRA TRÊS DÉCADAS EM QUE ESCULPIR MULHERES QUE VENCEM O TEMPO TORNOU-SE O CLÁSSICO DE SUA ARTE RISCADA POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS LUARA BAGGI

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endereço é a Rua Lisboa, na Cerqueira César, na capital paulista. No muro de concreto no lado esquerdo, os traços de uma mulher em preto, como um carvão. “Mas é tinta”, explica Cris Conde. A pintora acrescenta: “vamos trocar o piso para eu fazer um desenho também no chão”. O caminho leva até a porta da sua galeria que, por mais que 140 « GPSLifetime

seja o local de produção e exposição de seu trabalho, é onde a artista, pode-se dizer, vive. Com uma música brasileira ao fundo, que, segundo ela, varia de acordo com o espírito do dia, imergimos no ambiente artístico, o qual é ocupado por Cris há três anos. Nas paredes, quadros. Nas prateleiras, os trabalhos em porcelana. Da pia


Uma prece

Fotos: Divulgação/Cris Conde

do banheiro à parede da copa. Tudo tem os traços marcantes que caracterizam sua arte. E não é só o resultado do seu trabalho que está na Galeris – nome escolhido para batizar o espaço. Em uma mesa, uma tela inacabada, cercada por tintas, pincéis e panos, mostra que ela esteve ali. E sempre está. “Eu gosto do movimento, de gente, 90% das minhas amizades são provenientes do meu trabalho”, revela. E é ali, em meio ao vai e vem, que Cris cria. “Mas é claro que preciso do silêncio. Pintar é muito íntimo e eu tenho meu lado tímido. Então, às vezes, eu chego mais cedo ou fico até mais tarde”, conta. O trabalho autoral desenvolvido pela artista há mais de 30 anos tem uma identidade única: seu traçado curvilíneo. Mulheres, em sua maioria. “Tenho três filhas, duas netas, inúmeras amigas. Vivo cercada por elas. Os homens vão e vem no meu trabalho, mas a mulherada predomina”, brinca. “Gosto de retratar quem eu conheço por dentro. Quem eu só conheço por fora, não consigo. Eu saberia copiar, mas não pintar”, completa. A inspiração vem de todo lugar, sua vida, suas relações, os lugares que vai. Autodidata, nunca fez um curso de desenho e construiu uma identidade artística a partir da sua vivência, do que foi vendo pelo mundo. Mas não por acaso. No Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criada, circulava pela galeria de arte da avó, que era marchand. Os primeiros contatos com um universo que, mais tarde, despretensiosamente, seria seu ofício. Aos 17 anos, as férias em Brasília – onde tinha família – foram determinantes: Cris engravidou de gêmeas. “Na época, o pai das filhas tinha uma banda de rock. Em uma festa de ensaio da banda, tive que abrir meu quarto para uma pessoa usar o banheiro. Lá estavam os quadros que eu tinha pintado. Ele adorou e me convidou para uma exposição”, lembra. Dias depois, quadros expostos na Faculdade de Arte Dulcina de Moraes. Vendeu todos. “Vou viver disso”, ela pensou. “Ninguém acreditou, queriam que eu fizesse concurso público”, diz. Aqueles primeiros leves traçados ainda de uma menina ingênua deram muita força à Cris. Logo veio a terceira filha. “Eu não tinha opção senão pintar. Era o que eu sabia fazer”, diz. Veio então a entrega. “Ser artista é vender quadro para comprar tinta. A arte é: ou você se joga, ou não vai conseguir”, define. Artista independente, à época, pintar era um ofício para viver. “Nunca foi para ficar famosa”, garante. De quadro em quadro, Cris foi conquistando seu espaço na ebulição cultural da Brasília do fim dos anos 90. Um primeiro ateliê na 110 Norte, depois uma temporada em Tiradentes (MG), outra em Viena, na Áus-

Girassóis

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Foto: Divulgação/Cris Conde

tria. “Foi lá que eu comecei a precificar e valorizar meu trabalho”, conta, sobre o período de cinco anos em que viveu fora por conta de um relacionamento. Enquanto os quadros conquistavam os austríacos, os azulejos que havia começado a pintar pouco antes de se mudar começaram a ser usados por arquitetos em seus projetos. De volta, em 2001, Cris abriu em Brasília a saudosa Azulejaria. Era uma fábrica de azulejos que também funcionava como um ponto de encontro da classe artística brasiliense. O sucesso foi até 2008, quando Cris decidiu realizar outro sonho: morar em São Paulo. “Achei que ia arrasar e me lasquei”, brinca. Sentiu na pele o que era a Selva de Pedra. “É uma cidade louca que te testa. Meu dinheiro acabou em três meses e eu não conseguia vender nada”. Mas os dias de glória vieram. Primeiro uma loja nos Jardins, depois um ateliê em uma casa de 600 m2 no Pacaembu, quando conquistou de vez o público paulistano. Em um novo momento da vida, era hora de mudar novamente. Diminuir o tamanho, valorizar outras coisas. Chegou ao local que hoje ocupa. “Já estava vendendo muito pela internet, começando com o Instagram. Queria algo mais boutique”. Assim como a galeria, o apartamento em que vive também diminuiu de tamanho. “Me descobri minimalista”. O jeito calmo de falar reflete seu momento atual. “Estou mais sossegada. Não tenho tantas questões como antigamente. Nem aquela correria. Acho que finalmente aprendi a trabalhar com os paulistanos”, conta. A maturidade não se reflete apenas na sua postura, mas também no seu traçado. Sua arte evoluiu e cresceu junto. As mulheres novinhas e magras foram encorpando, ganhando linhas de expressão abaixo dos olhos, os peitos não são mais tão em cima. “Com o tempo de pintura, vi que a mulher do quadro não precisava, necessariamente, ser perfeita. Fui deixando que elas ganhassem vida. E também observei uma mudança nas cores, antes eram cores primárias, hoje, tons mais escuros”, diz. Prestes a completar 50 anos, Cris acha cedo ainda para fazer um balanço de sua trajetória de três décadas. “Ainda tenho chão para percorrer”, brinca. Brasiliense de coração, usa a cidade como referência pictórica. “Eu não pinto a Torre Eiffel, eu pinto a igrejinha da 308 Sul”, diz, sobre o novo trabalho, a série de pratos Céu em Monumento, que traz a Igrejinha, a Catedral, a Igreja de Trancoso, o Pão de Açúcar e o Museu de Niterói. “Todos lugares que têm a ver comigo”. Vimos Cris em ação com uma caneta de tecido em mãos e uma camisa branca em cima da mesa. Foi questão de segundos até que os traços por ela desenhados formassem a mulher que tanto vemos em seu traba-

Dulce

lho. Não precisaria de assinatura. É um clássico Cris Conde. Se por um lado vemos que a técnica para fazer aquele traçado está dominada por ela, provocamos: e depois? Ela aponta para uma das paredes da galeria, que expõe um quadro grande. “Fecho os olhos e, com o carvão, faço os traçados. Quando eu abro, vejo no que deu, se tem alguma expressão para, então, finalizá-lo. Às vezes dá certo, muitas outras, não”, diz, aos risos. Explorar esse trabalho abstrato é um dos desafios atuais da artista. “Acho que ainda tenho que envelhecer uns dez anos para conseguir viver só fazendo isso. Seria o ápice da liberdade, da espontaneidade”, analisa. A conversa com Cris é leve e divertida. Ela conta, sem pudor, sobre amores, fracassos, medos, desafios, conquistas e alegrias. De calça jeans, tênis branco, blusa clara e um colar de Nossa Senhora das Graças, chama atenção mesmo o avental sujo de tinta. “Deixo as cores para o meu trabalho”, diz. Parar em frente a um quadro de Cris Conde é sentir que ela esteve ali. Tem história nas entrelinhas. Tem sentimento entre as cores. Tem verdade em cada traço desenhado. Verdade essa que também se sente em suas palavras. No seu jeito. No seu olhar. Cris é livre como seus traços. Intensa como suas cores. Viva como sua arte. “Pintar é expressar sentimentos. Tirei de mim e botei aqui”, conclui. @galeriscrisconde


EXPERIMENTOS

ENTRE A CULTURA, A NATUREZA E O ABISMO

Foto: Karina Bacci

Campo Fraturado SOS (2021), Ana Maria Tavares

Exposição Zona da Mata

A SOMA DE ESFORÇOS PROMOVE O REPOSICIONAMENTO DE PENSAMENTO E PERMITE A REFLEXÃO SOBRE COMO ARQUITETURA E ARTE PODEM CONFLUIR COM O FUTURO EM QUESTÕES AMBIENTAIS, TRANSFORMANDO PAISAGENS POR PAULA SANTANA

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iante do Brasil em febril convulsão, violentamente retrógrado, Zona da Mata é hoje todo o País. Alinhados ao desafio mundial, precisamos mais do que nunca nos reposicionarmos frente ao nosso pacto de país e sociedade, a começar por reconhecer saberes ancestrais que não soubemos acalentar, sem aprisioná-los em um passado histórico, mas como parte fundamental de nosso desejável presente”, afirma o trio Ana Magalhães, Marta Bogéa e Cauê Alves no texto curatorial da mostra. O projeto coletivo entre MAC e MAM investe na metáfora simbólica que lança luz aos problemas latentes no Brasil quando se refere à natureza e suas ambientações, numa ligação histórica entre essas duas instituições que integram o eixo cultural do Ibirapuera, São Paulo. Contraponto ou desdobramento da exposição Zona

da Mata, a instalação Campo Fraturado, SOS, obra de Ana Maria Tavares, vem com ineditismo numa composição de imagens manipuladas digitalmente. A proposta é de uma paisagem mineral metalizada, modulada por detalhamentos enquadrados e por uma espécie de caligrafia tátil escrita em Braile da sigla SOS. Para o curador-chefe do MAM, Cauê Alves, os elementos que apontam para a ideia de futuro são tratados pela artista como algo já sedimentado, como resto petrificado do passado. “Em vez de promessa de felicidade, de crença num mundo melhor, a obra parece falar da falência e da impossibilidade de salvação”, pontua. Trata-se de um design imaginário orientado para o futuro, segundo a ótica dos curadores. “De certa forma, Campo Fraturado, SOS é um chamado e um alerta, quase uma visão em abismo das sobras das marcas da humanidade na terra”, completa a artista. GPSLifetime « 143


ARTE POR MAURÍCIO LIMA

Consultor em investimento em arte mauricio@galeriaclima.com.br

TOM ESCANDINAVO

AS CORES DE MAI-BRITT WOLTHERS

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ascida em uma cidade pequena do interior da Dinamarca chamada Ringsted, em uma região que ainda se recuperava da destruição causada pela II Guerra Mundial, Mai-Britt Wolthers cresceu em uma casa que não tinha arte e, por isso, foi na escola que teve acesso a essa, por meio de diversos pôsteres com reproduções de importantes obras de participantes de um movimento artístico de vanguarda europeia chamado COBRA. Durante esse período, fez alguns cursos gratuitos em sua cidade. Com 19 anos, já morando em Copenhagen, começa a fazer alguns trabalhos em guache. Depois de se mudar para o Brasil em 1986, aos 24 anos, a artista se encanta com as cores da natureza aqui encontrada e se aprofunda ainda mais no mundo 144 « GPSLifetime

das artes plásticas. Wolthers é uma artista multimídia que, além de seus trabalhos com pinturas, também trabalha com esculturas, gravuras, vídeos e instalações. Já fez diversas exposições individuais no Brasil e na Dinamarca, entre elas, Hileia, no Centro Cultural dos Correios do RJ (2010), e Equações, no Centro Cultural São Paulo (2014). Sobre essa exposição, Mario Gioia, que escreveu um texto crítico para a ocasião, considera ter sido a mostra que por sua dimensão e qualidade deu maior visibilidade à obra da artista. Das suas exposições coletivas destacam-se X Bienal Nacional de Santos (2006), I Bienal de Gravura Internacional de Santos (2011), XI Bienal do Recôncavo (2012), I’m Rosa na Gallery Lamb-arts, London (2016), e a participação do Charlottenborg


Fotos: Divulgação

Spring-exhibition, Copenhague, Dinamarca (2017). Em 2018, com curadoria do Marcus Lontra, a artista escolhe a Galeria Braz Cubas, em Santos, para uma grande individual que celebrava os 25 anos de carreira. Como grande parte de sua produção foi feita na cidade ou em seus arredores, Wolthers achou que esse seria o melhor local para exibir a retrospectiva. O curador José Bento Ferreira nos lembra que o olhar estrangeiro não é estranho à arte brasileira. O holandês Frans Hals foi um dos primeiros a registrar nossas paisagens no século 17. No século 20, fizeram parte do modernismo brasileiro o lituano Lasar Segall e o italiano Alfredo Volpi. Em sua primeira visita, Segall descreve o país em que tudo parecia “irradiar reverberações de luz”. Mai-britt Wolthers, também influenciada por esse esplendor de cores e luz, segue o caminho desses grandes mestres e muda seu estilo e palheta de cores diante da realidade brasileira. Ferreira ainda aponta que sua pintura alia uma herança expressionista, que lembra o vigor desesperado de Edvard Munch e as cores selvagens de Franz Marc, ao que o sociólogo brasileiro Sérgio Buarque de Holanda chamou de “visão do Paraíso”, o mito da “terra sem males”.

Moradora da cidade de Santos, ao pé da Serra do Mar, um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica, a pintora dinamarquesa viu os elementos fundamentais de sua poética nas formas intrincadas desse tipo de floresta tropical, na sua densidade profunda e em seus animais admiráveis. Em entrevista à revista GPS|Lifetime, a artista disse: “Trabalho com pintura há quase 30 anos e, embora o tema natureza continue sendo importante e constante no meu trabalho, com o tempo a composição na obra foi ficando mais importante do que o tema em si. O que me interessa é o estabelecimento de novas relações entre cor, forma e linha. Busco em geral um equilíbrio na composição, mas às vezes também um desequilíbrio ou uma ousadia. Isto também vale para meu trabalho em gravura, escultura, instalação e vídeo.” Durante a pandemia, a artista se concentrou em seu ateliê criando obras com cores fortes e que fazem uma conexão imediata do ambiente interno, onde a obra normalmente é exposta, com o externo, onde se encontra a natureza com suas lindas cores. Foram esses trabalhos que chamaram a atenção do curador da Galeria Clima de Brasília, que passou a ser a sua representante na cidade. GPSLifetime « 145


GASTRONOMIA

MERAVIGLIOSO UM SONHADOR DESTEMIDO QUE CHEGOU À ALTA GASTRONOMIA APRENDENDO O OFÍCIO, ENQUANTO CONTAVA HISTÓRIAS PARA A CLIENTELA. JUSCELINO PEREIRA TRAZ O PISELLI PARA A CAPITAL FEDERAL, ACOMPANHADO DE AROMAS, SABORES E CARISMA POR MARCELLA OLIVEIRA « FOTOS LUARA BAGGI

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endereço era uma padaria na Zona Oeste de São Paulo. Um lugar simples. Ali, um menino de 17 anos vindo do interior do estado se aventurava no primeiro emprego. A cada cliente atendido e a cada lanche preparado, lembrava o que tinha aprendido em casa: era importante agradar. “Foi o início da minha carreira de atendimento personalizado”, brinca 146 « GPSLifetime

Juscelino Pereira. Mais de trinta anos depois daquela primeira experiência profissional, o empresário segue com a filosofia herdada da família. “Sempre tive em mente que precisava surpreender”, diz. Basta um pouco de conversa no salão da unidade brasiliense do seu restaurante, o Piselli, para ver esse dom em ação. Se foi o tête-à-tête que conquistou


a clientela por onde passou, não é diferente em seu próprio negócio. “Eu vim de uma família simples e eu não perdi a simplicidade”, afirma. Era assim desde o princípio: fidelizou clientes decorando nomes, seus pratos preferidos e suas histórias. Aliás, sua marca registrada, pode-se dizer, é contar histórias. A principal delas é relatada na primeira página do cardápio: um jovem morador de um sítio em Joanópolis, no interior de São Paulo, queria viver de plantar ervilhas e se decepcionou na primeira safra. “Deixei passar o tempo de colheita. Quando fui entregar a mercadoria que eu havia pré-vendido, o comprador me disse que não servia. Perdi tudo, foi muito triste. Fiquei decepcionado e desisti delas. Já tinha um convite de um amigo do meu pai para trabalhar em São Paulo. Peguei minhas coisas e fui”, lembra. E como certa vez uma pessoa brincou com Juscelino: “Deus escreve certo por ervilhas tortas”. Começou atendendo no balcão, fazia sanduíches, servia almoços. Limpou mesas, equilibrou bandejas. “As pessoas ficavam maravilhadas com meu atendimento e iam me dizendo que era para eu tentar algo nos Jardins”, conta. De restaurante em restaurante e de cliente em cliente, saiu da Zona Oeste e chegou aos estabelecimentos do conceituado bairro paulistano. Foi garçom, maître, sommelier, gerente. Trilhou seu caminho aproveitando as oportunidades. “O ofício não é só servir, é dar carinho. A clientela foi me empurrando e me ajudando a crescer”, conta. A chegada ao conceituado Fasano foi em 1992, para ocupar uma vaga como ajudante de sommelier. Foi lá que sua vida se cruzou com a Itália. Até então, ele não sabia de uma ligação que hoje parece quase umbilical. Dois anos depois, com a abertura do Gero, foi transferido para o novo restaurante do Grupo Fasano. Mergulhou ainda mais na cultura italiana. Passou a viajar para o país para conhecer vinícolas e fazer cursos. E também explorar os sabores. Enquanto executava com maestria sua função, carregava consigo um bloquinho de anotações em que registrava tudo que aprendia, vivia ou encontrava. Tornou-se referência para clientes e amigos, que pediam a ele roteiro de restaurantes italianos. As folhas desse caderninho foram pouco a pouco se transformando em um esboço do seu próprio restaurante. “Estava bem profissionalmente, mas me lembrei de um ensinamento do meu avô de que um homem tinha que ter seu próprio negócio aos 35 anos. Então, em uma aula de italiano, aprendi a palavra piselli, que significa ervilha. Lembrei da plantação que não deu certo e que me levou para São Paulo. Meu coração disparou. Estava escolhido o nome do meu restaurante”, lembra.

“Inaugurei o Piselli exatamente no dia 31 de julho de 2004, no meu aniversário de 35 anos”, conta, sobre a coincidência. Nascia, então, a casa nos Jardins. Onze anos depois, um cliente assíduo fez um convite ousado. O empresário Carlos Jereissati ofereceu um nobre espaço no Iguatemi da Faria Lima para o Piselli, batizado de Piselli Sud, que privilegia a gastronomia do sul da Itália. Em 2021, abriu uma terceira unidade na Rua Boa Vista, antes da chegada a Brasília, em junho. “Feliz em estar na terra de Juscelino Kubistchek, afinal, meu nome foi escolhido porque meu avô era um grande admirador do ex-presidente”, revela. A casa na capital segue o design das demais: clean, com fachada aberta e bar para uma proposta de alta gastronomia com ambiente descontraído. Parte do menu homenageia a região da Toscana. E o toque brasiliense? A sala exclusiva, batizada de JK. “Grandes decisões já aconteceram no Piselli de São Paulo e eu espero que o mesmo aconteça em Brasília”, diz. A ervilha, vilã naquela época da história, hoje é símbolo de sorte. Está no paletó dos uniformes, na louça verde, no boursin do couvert, no risoto. “E você já percebeu que não dá para falar Piselli bravo?”, brinca. A ervilha tornou-se uma espécie de amuleto. E a Itália, sua devoção. Fluente no idioma, sua palavra preferida é o seu bordão em português: meraviglioso (maravilhoso). Um cara de boas histórias, Juscelino cita seu filme preferido. “La Cena (O Jantar)”, enfatiza. O longa-metragem italiano, de 1998, que retrata o mundo que acontece em cada mesa de um restaurante, nos bastidores, nas relações entre garçons e cozinheiros, das pessoas que atuam no salão. “É um filme que mexeu comigo por mostrar a nossa realidade. Diariamente, vivemos histórias que se eternizam no meu livro de memórias: a minha cabeça”, diz. Entre mesas, sabores e bons papos, Juscelino mostra que, assim como um bom italiano, não há nada mais prazeroso do que criar histórias em volta de uma mesa e de um bom prato. @pisellibrasilia

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RETRANCA TRADIÇÃO

A PURA LINHAGEM DA CULINÁRIA REPRESENTANTE DA GASTRONOMIA JAPONESA EM BRASÍLIA, CRISTIANO KOMIYA RECEBEU DO PAI ISSEI A MISSÃO DE MANTER A ANCESTRALIDADE, ONDE OS INGREDIENTES SIGAM A CONEXÃO COM TERRA, AR E MAR POR GIOVANNA PEREIRA « FOTOS JP RODRIGUES

“A

comida japonesa é muito mais do que se vê por aí. É sobre criar conexões. É uma relação de respeito e energia com a Terra”. É assim que o chef Cristiano Komiya define a culinária nipônica. No comando de um dos mais tradicionais restaurantes do tipo em Brasília, o New Koto, carrega em sua trajetória muita história

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e respeito aos antepassados. Especialmente pelo seu grande mentor, o pai, o issei Ryozo Komiya, fundador do restaurante, falecido há sete anos. Issei é aquele que nasce no Japão. E é lá que começa a história. “Minha família é do ramo de restaurantes. Ainda jovem, meu pai trabalhou por anos em um banco de Tóquio para juntar dinheiro e pagar uma


escola de culinária. Quando conseguiu, se destacou. Ganhou uma bolsa na França, trabalhou no Ritz de Paris e viajou pelo mundo”, lembra-se, orgulhoso, do pai. De volta ao país natal, Ryozo recebeu, em 1976, um convite especial para ser membro oficial da equipe diplomática do Japão. Assim, conheceu o mundo até que, finalmente, chegou a Brasília. Em 1978, na comemoração dos 70 anos da imigração japonesa no Brasil, em uma visita imperial, o príncipe herdeiro Akihito e a princesa Michiko vieram à capital e Ryozo teve a honra de lhes servir. Mas o que o fez ficar no quadradinho? Ryozo se apaixonou por uma brasileira e, em 1979, nascia o primeiro filho, Cristiano. “Quando meu pai chegou aqui, as pessoas não apreciavam a comida japonesa, era muito diferente. No entanto, ele insistia e dizia: será a comida do futuro”, contou Cristiano. Aos 42 anos e hoje um itamae san – chef da cozinha japonesa –, a jornada de Cris, como é conhecido, começou em um momento difícil. Ele tinha apenas 12 anos quando um problema de saúde afastou Ryozo dos negócios. “Da noite pro dia, fiquei responsável pelo restaurante, peguei as chaves e a maleta do meu pai e comecei. Eu era

muito novo, fiz tudo errado e foi aí que percebi que eu, afinal, não sabia nada sobre os negócios e quis aprender”. Recuperado, o mestre, então, dedicou-se a ensinar seu filho. Primeiro, o Koto, na 201 Sul; anos mais tarde o Kosui, na antiga academia de Tênis; em seguida o Takê, no que antes era o Hotel Torre; e, finalmente, em 2009, o New Koto, esses foram os palcos para as aulas de Cristiano. No sistema de ensino japonês, na culinária é preciso ser rigoroso. Ele vivenciou uma espécie de rito de passagem no negócio familiar. “Eu passei por todas as áreas: pela limpeza, descasquei camarão, depois treinei cortes para pegar a habilidade com a faca”, exemplifica. Parte da característica de seu povo é a tradição. “Sinto que estou trabalhando e dando continuidade a uma história. Não são todos que se engajam nos negócios da família. No meu caso, por ter uma linhagem na família do Japão e meu pai sempre muito apaixonado pela gastronomia japonesa, eu sinto que consigo manter vivos os meus antepassados. Ainda hoje consigo ouvir a voz dele me falando e me ensinando como fazer e como melhorar, e isso é muito especial”, conta.

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Até a morte do pai, em 2014, atuava como um dos cozinheiros do restaurante. Só então passou a ocupar o posto de principal sushiman da casa. “É muito importante manter a culinária japonesa viva, ela é muito especial. Inclusive, é patrimônio imaterial da humanidade pela UNESCO, tanto pela beleza, quanto pelo sabor, mas principalmente pela saúde. É uma culinária bem complexa e bem completa, ao mesmo tempo que é simples por seus ingredientes”, explica.

CONEXÕES “A comida japonesa é uma forma de energia que vem da terra, é uma conexão com o mar, com o ar. A forma como a culinária japonesa trabalha é a fim de evoluir sem manipular o ingrediente, sem muitos temperos”, esclarece. Quanto mais fresco, melhor, assim, “nada precisa ser feito com um bom ingrediente, apenas a limpeza e, então, comemos cru”. Conhecidos por servirem no restaurante o que há de mais tradicional e exemplar da culinária nipônica, Komiya comenta que o preparo é muito equilibrado e saudável. Sempre bem pensando, cada ingrediente exerce uma função de harmonia e nutrição. “É importante entender que todos os ingredientes, a preparação e forma como são montados os pratos têm um porquê. Uma base fundamental e evoluções de acordo com o que está disponível na natureza, sempre pensando em manter o alimento o mais saboroso e saudável possível”. No Brasil, fizemos algumas adaptações ao introduzir os sabores orientais, se isso pode ou não, o chef se mostra cauteloso ao comentar. “Cada um sabe o verdadeiro gosto da comida de seu país, imagine uma feijoada de frango, seria realmente uma feijoada? É o mesmo pensamento com a comida japonesa, ao colocar queijo e frutas se retira o equilíbrio nutricional e os fundamentos do sushi, por exemplo. Pode não ser ruim, mas não podemos chamar de comida japonesa o que se vê por aí”, opina.

SAKEYO Em 2019, Brasília ganhou seu primeiro izakaya – tradicional bar japonês. Ao lado do New Koto, o Sakeyo é um ambiente menor, que se desprende dos sushis e sashimis para focar em pratos mais comuns

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da culinária japonesa, como o lámen, o shumai (massa cozida no vapor e recheada por lombo de porco), cogumelos, karaage (frango frito) ou um omelete japonês. O bar é um espaço repleto de ornamentos familiares, como o uniforme que o mestre Ryozo usava nos treinos de baseball quando ainda morava na Terra do Sol Nascente, e, claro, sabores típicos e bebidas deliciosas. Um toque especial que Cristiano buscou para homenagear o mestre. “Trabalho pensando na tradição milenar da culinária japonesa, mas sempre inovando e reinventando para dar continuidade aos ensinamentos. Sem abrir mão da tradição, da saúde e da conexão”, finalizou o chef. De fato, Cris, seu pai tinha razão, é a comida do futuro. @newkotooficial @izakayasakeyo


INGREDIENTES

DO CAMPO À MESA. GUIA MICHELIN EMBARCA EM UMA NOVA ROTA: MAPEAR EM SÃO PAULO RESTAURANTES QUE PREZAM PELO PROCESSO DE PLANTIO E COLHEITA DE INGREDIENTES NATURAIS POR PAULA SANTANA

Fotos: Divulgação

ENTRE CAMPONESES E CHEFS RYO “Tudo o que sirvo é resultado de bons cultivos”, explica Edson Yamashita. E celebra o prato maionese de peixe, ovas de bacalhau, lâminas de atum e toque de caviar

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ual a rota de um alimento até tornar-se parte de um saboroso prato com cabedal para receber uma, duas estrelas do conceituado Guia Michelin? Cada etapa desta cadeia, que se inicia com o plantio ambientalmente responsável, envolve a mão humana do agricultor e seu compasso orquestrado com a natureza. Não somente plantar, mas colher é uma mistura de aprendizado e instinto de camponeses. E também um exercício habitual para cozinheiros. Só assim alcança-se a plenitude do sabor, dizem os grandes chefs. E a gastronomia contemporânea pede isso. A chamada nouvelle cuisine em 1970 revolucionou a gastronomia francesa, e as demais, consequentemente. Substituiu iguarias pesadas por ingredientes frescos, colhidos na época certa, servidos crus ou com pouquíssima intervenção do fogo. O resultado é presente até hoje: pratos com sabor mais próximo do natural possível. E foi assim que o Guia Michelin, sempre muito próximo de notórios cozinheiros mundo afora, criou uma espécie de selo chamado Do Campo à Mesa, em que chefs viajam por diversas vias para experimentar criações de seus colegas dentro desta verve, que explora as maravilhas da natureza. “Acreditamos ser o ingrediente a grande estrela da cozinha, é o nosso guia“, diz a chef Bella Masano, do Amadeus. Como um bom roteirista, o Guia tem se dedicado a fazer esse mapeamento em São Paulo, especialmente. Até o momento estão contemplados A Casa do Porco, Banzeiro, Maní, TonTon, Mimo e Petí.

DALVA E DITO “Pimenta baniwa, o cogumelo yanomami, os arrozes do Vale do Paraíba são ingredientes sempre presentes no cardápio”, revela Alex Atala. “Os biomas brasileiros são um universo infindável de pesquisa, não só para um cozinheiro, não só para um restaurante, mas para toda uma geração”, emenda, lembrando que neste inverno debruçou-se sobre o pinhão e a erva-mate, presentes no Sul do País.

OTEQUE “O campo define o que levo à mesa”, diz Alberto Landgraf e indica o prato brioche com sardinha e cebolas assadas com ouriço e creme de mexilhão

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Fotos: Sarah Stedile

ROLÊ

PARADISE À BEIRA-LAGO O AROMA À MESA, O BIOMA DO BAR, A VIBE NA PISTA. ESTE É O CAFE DE LA MUSIQUE, QUE REÚNE CHEF, MIXOLOGISTA E DJ À ALTURA DE UM REAL BRAZILIAN SUMMER TIME POR THEODORA ZACCARA

B

rasil. Brasil é rei, Brasil é rico. É mico-leão-dourado, é amarelo com verde, um azulzão que não tem fim. Mar, rio, lago… seja de sal ou de doce, Brasil é praia de pé descalço. Brasil é verão, e com verão tropical não se brinca – se joga. Após um inverno sisudo que surpreendeu os irmãos europeus, a capital do Gigante Verde não vê a hora de sacudir os cachecóis rumo a dias mais solares. Spritz à beira-lago, longos passeios de lancha, tardes quentes na piscina… o menu veranil do Planalto Central já está lançado. Nesta temporada, ademais, um novo item ingressa no cardápio: seja bem-vindo, Brazilian Paradise, a nova aposta do Cafe De La Musique Brasília. Inaugurada no início de julho, a cabana very cool que se instala na orla do Lago Paranoá é um banho de Brasil aos sentidos. Comecemos pela visão: idealizado pelo arquiteto Marcelo Moita, o novo espaço dá continuidade à estética amazônica, natural, orgânica no gastro spot. Já é possível visualizar um oceano de verdes, laranjas, folhas de todos os tipos e numerosas homenagens à herança indígena do Brasil. “O Brazilian Paradise valoriza o nosso paraíso, nossa diversidade, levando-nos por uma experiência em meio à natureza e histórias só contadas em livros”, narra o sócio Gustavinho Gomes. “Ver um cocar centenário à sua frente, feito por indígenas locais, e ouvir essa narrativa linda, contada em todos os detalhes às pessoas aqui presentes, é algo incrível”. A ideia é simples e muito convidativa: jogar o calor brasileiro na pista de dança, na mesa, no bar. 152 « GPSLifetime

E por falar em prato, os chefs Lui Veronese e Akaki Mak desenvolveram uma carta de sabores que promete erguer sobrancelhas. “Sushis com temperos brasileiros”, estala Akaki. “A vibe do menu é essa mistura entre o Brasil e a cultura oriental. Usando elans de cítricos e outros condimentos muito utilizados na gastronomia nacional, encontramos esse equilíbrio”. Barriga de salmão trufado e foie grass incluem a língua europeia na conversa – e com uma rica garfada na boca, todos os sotaques se entendem. Para fechar o buquê de aromas, o mixologista Guto Lopes entra em cena com uma seleção de drinks que acompanha o mood caliente. Com cem por cento de autonomia em cima da coquetelaria do Brazilian Paradise, o profissional “foi brincar”. “Uma das minhas especialidades é o bioma brasileiro, é trabalhar com botânicos, ervas e insumos da nossa fauna”. Como resultado, o bottoms up será bradado com o estalar de clássicos reimaginados e autorais bastante ousados. “Temos paladares bem florais, vermute de caju, drinks com rum, leite de amêndoas, espuma cítrica com flor de sal e outros elementos”, lista. Com a taça na mão, a mesa recheada, música alta e temperaturas lá em cima, os ingredientes que compõem summer nights dignas de “tell me more” já estão a postos. É música para os ouvidos, não? De sexta-feira a domingo, das 15h às 23h, no sensorial Cafe De La Musique Brasília. @cafedelamusiquebrasilia www.brazilianparadise.com.br


DIVERSÃO

UM OÁSIS DE SORRISOS ALEXÂNIA ENTRA NA ROTA TURÍSTICA COM A CHEGADA DO TAUÁ RESORT, REDE HOTELEIRA ESPECIALIZADA EM FAMÍLIAS, CUJA DINÂMICA É DIVERTIR CRIANÇAS E RELAXAR OS PAIS FOTOS GABRIEL BOIERAS

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trajeto percorrido entre Brasília e Alexânia é de cerca de 50 km. As paisagens do Cerrado envolvem o passageiro e uma estrutura exuberante chama atenção. É o Tauá Resort Alexânia, com 62 mil m² de área construída em um terreno de 3 milhões m² de área total. A primeira impressão a é de estar em um oásis em meio à savana brasileira. Apesar de grandioso e imponente, basta iniciar o contato para sentir a hospitalidade e o acolhimento. “Somos os ‘emocionadores’”, brincam os colaboradores, referindo-se à forma como são chamados por lá. Tudo herança do patriarca e fundador do Grupo Tauá, João Pinto Ribeiro, que, ainda hoje, aos 75 anos, mantém a função de liderar a “imersão na cultura do sorriso”. Impossível não ser contagiado pela simpatia e atenção dispensadas, marcas registradas do Grupo Tauá, que há 35 anos atua no segmento de hotelaria. A primeira unidade foi construída nos arredores de Belo Horizonte, em Caeté. A segunda foi inaugurada em 2008, em Atibaia (SP), com o diferencial de ter o primeiro parque aquático indoor da América Latina. O Tauá Resort Alexânia é a unidade mais recente e operou em regime soft opening desde outubro pas-

sado, retornando agora com todo o potencial de ocupação. Em julho de 2021, inaugurou a última parte do complexo – mais um bloco de apartamentos e três novos espaços gastronômicos. “Acreditamos que o Tauá será uma grande referência para as famílias no Centro-Oeste. Temos um público fiel”, afirma Daniel Ribeiro, presidente do Grupo. O investimento na nova unidade foi de mais de R$ 200 milhões. Além das três unidades próprias, a rede também administra o Grande Hotel Termas Araxá, em Minas Gerais, e o Alegro, em Jarinu (SP). A construção do resort em Alexânia ainda movimenta a economia local. Dos 300 colaboradores, 90% da mão de obra vem do próprio município. O local atrai tanto moradores de Brasília quanto de Goiânia – a 80km. Com instalações portentosas, áreas espaçosas e quartos com vista para a piscina, o resort tem como público famílias que queiram alguns dias de descanso. O Tauá Resort Alexânia conta com 424 apartamentos – opera com limitação reduzida e segue todas as regras sanitárias – e, pós-pandemia, tem uma capacidade para até 1,5 mil hóspedes. São mais de 13 mil m² de áreas de lazer com piscinas térmicas, 15 espaços de jacuzzi, parque aquático infantil, boliche e muito mais. A hospedagem é no modelo pensão completa, com café da manhã, almoço e jantar. O spa e a área fitness são grandes diferenciais, especialmente para as atividades físicas, com vista privilegiada para o Cerrado. Para os pequenos, a Jota City, uma cidade de quase 1 mil m², com oficinas sobre sustentabilidade e tecnologia, une diversão e aprendizado. Além disso, o time de recreadores, os Taualegres, promove inúmeras atividades ao longo de todo o dia, com crianças a partir de três anos de idade. “Cada detalhe é pensado para cumprir nossa missão de estimular sorrisos e a felicidade de cada hóspede”, conclui Ribeiro. @tauaresorts

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SPOT

PARA CHARLOTTE, COM AFETO EXALTAR A CULTURA INGLESA, CELEBRAR A MULHER E ATRAIR GERAÇÕES FUTURAS CRIANDO EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS É A VERVE DE RICKY ARAUJO EM SEU NOTÁVEL EMPREENDIMENTO TOTAL PINK POR PEDRO ÂNGELO CANTANHÊDE

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rosa evoca significados. Ternura e feminilidade o definem. Aos românticos, a aura do amor. Os cinematográficos o usufruem a favor de fantasias e sonhos. Explorado na decoração, o resultado chama-se afeto, aconchego. E ao mixar significados com sentidos e emoções tem-se a receita perfeita: doçura. Assim é a Charlotte’s Cakes and Gifts, a nova cafeteria gastrobar de Brasília, na 412/413 Norte. Com DNA inglês, bem como o seu proprietário, o empresário Ricky Araujo, sócio-fundador do The 154 « GPSLifetime

Queen’s Place, já habitué do brasiliense. A inspiração em terras inglesas se mantém, refletida especialmente no nome Charlotte, filha do príncipe William e da duquesa Kate. A homenagem exalta o futuro da monarquia britânica. Mas, diante de uma casa com tantos simbolismos, um também se glorifica: a força feminina. Charlotte’s celebra as mulheres. “Durante a pandemia, uma das figuras que mais presente na minha vida foi a minha mãe. Uma mulher forte, lutadora e corajosa. Foi aí que comecei a


zação de Silestone e Dekton, materiais nobres do Grupo Cosentino, que revestem balcões e mesas, assim como a marmoraria confeccionada pela Claramar. Cantinhos atrairão os flashes, como o balanço temático, da Tidelli Outdoor Living. E até mesmo no banheiro há enquadramento pronto para selfies. “A Charlotte foi pensada para isso, ser totalmente instagramável”, entrega Ricky. Sazonalmente, a ambientação da loja mudará. Halloween, Natal, Carnaval, Páscoa… Em datas especiais, a cafeteria gastrobar trará diferentes possibilidades de conteúdos sem perder o espirito da realeza e sua feminina alma pink. “O feed não ficará repetitivo”, brinca.

Fotos: Divulgação

GASTRONOMIA REAL

pensar na ideia de criar algo com esse perfil feminino. Onde elas se encontrem para relaxar, confraternizar ou fazer negócios. Mas eu quero fazer isso para a mulher do futuro. E quem é a mulher do futuro? Seguindo a minha paixão por Londres e pela Família Real, dediquei-me à geração seguinte: a princesa Charlotte”, explica Ricky. Segundo o empresário, a proposta não contabiliza idade ou gênero necessariamente, e sim sensações de prazer, descanso, alegria ou aconchego. O zelo ao cliente se estende. A observar a arquitetura, assinada por Eliene Lucindo, do escritório Lab Interiores, pelos marcantes atrativos da decoração na paleta da cor, como a tradicional cabine telefônica inglesa, desta vez em pink, e até os booths customizados para o público jovem. Na área externa, flores e pássaros suspensos pensados pelo flower designer Vinicios Albuquerque se alargam sobre mesas que acomodam até vinte pessoas para festas e ocasiões especiais. Segundo Ricky, houve o cuidado no detalhamento do projeto, a exemplo da utili-

O cardápio é resultado de uma série de referências que Ricky adquiriu como amante da gastronomia. Residente em Nova York, Londres e Dubai, visitou diversos lugares ao redor do mundo, que mudaram o seu modo de enxergar a relação do cliente com o espaço e a comida. “Quando vim para o Brasil, quis trazer essa vivência e criar uma experiência impactante não só na primeira visita”. Tais referências fazem o cardápio do Charlotte’s agradar distintos paladares. Há o balde de mexilhões ao molho de manteiga, limão e vinho branco, uma iguaria norueguesa, um dos lugares favoritos de Ricky. Ou o queijo brie com fava de mel aquecido na hora. Alguns pratos terão suas finalizações feitas diretamente na mesa, para que os últimos retoques sejam acompanhados e possam encantar os clientes. Na confeitaria, opções de bolo sob demanda, com pedidos para pronta-entrega no balcão, por telefone ou pelo site. “Sempre senti falta desse serviço em Brasília, de poder levar o bolo da sua escolha, com opção de customização. Queira você um bolo verde, amarelo, azul, com determinada decoração... seu pedido será atendido na hora”. O local funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 20h, sábado e domingo das 9h às 22h. A cozinha, a confeitaria e o bar são assinados por Ricky, que passou o último ano estudando as novidades do cenário internacional de gastronomia. A carta de drinks é fruto de um trabalho colaborativo com o britânico Ian Scarborough, amigo próximo do empresário, e promete render várias fotos e vídeos. Além disso, são oferecidos diversos vinhos, com destaque para o espumante da casa, cujo nome tem a cara do local: o Charlotte’s Pink Summer. Seja no brunch, em um chá da tarde, ou nos sunsets com DJ aos finais de semana. @charlottescakesgifts www.charlottescakesgifts.com

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EXPLORA POR MARCELLA OLIVEIRA @marcella_oliveira

MILÊNIOS ENTRE MURALHAS E SANTUÁRIOS

O Japão esteve no radar do mundo nos últimos meses por conta da realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Mas, se em tempos normais a expectativa era ter um país repleto de turistas, tudo foi por água abaixo com a pandemia de Covid-19 e o adiamento para 2021. De acordo com a empresa de pesquisa Nomura Research Institute (NRI), a perda estimada para a economia japonesa com a ausência de público é de USD 1,3 bilhão. No entanto, a curiosidade sobre a cultura nipônica e toda a sua tradição segue espalhada pelo mundo. Enquanto não podemos estar lá, que tal conhecer alguns lugares imperdíveis? Os encantos japoneses nos conquistam antes mesmo de estarmos lá in loco. Por ora, nos resta sonhar com a Terra do Sol Nascente.

Fotos: Divulgação

Templo Kinkaku-ji

Fushimi Inari

KYOTO: O CLÁSSICO A antiga capital dá a ver a essência da cultura, com as clássicas construções da arquitetura japonesa e os mais de 1,8 mil templos, numa sensação de estar circulando por um cenário com todo aquele clima oriental de calma, natureza e tradição. Kyoto tem charme e mistério e, dizem, é o melhor local para ver as gueixas no Japão. Em um turismo não urbano e com menos multidão (são 1,4 milhão de habitantes), os parques, construções e templos impressionam, mas, ao mesmo tempo, são relativamente familiares, até mesmo os trajes, incluindo os wagasas, o tradicional guarda-chuva feito com materiais renováveis, como papel japonês, barbante e bambu. 156 « GPSLifetime

Difícil escolher quais templos visitar, mas alguns deles se destacam. Um dos mais famosos é o Santuário Fushimi Inari Taisha, que é conhecido pelo seu túnel de dez mil portais, chamados Torii, que te guiam pelo Monte Inariyama num passeio pela natureza. Há ainda o imponente Kinkaku-ji, todo coberto de folha de ouro puro e com uma fênix dourada no telhado. Se a visita a Kyoto for na época das cerejeiras, prepare-se para uma paisagem deslumbrante no templo suspenso Kiyomizudera, considerado patrimônio mundial da UNESCO. Em um roteiro off tour, dois templos estão fora do circuito tradicional. Um deles é o Sanjūsangen-dō e suas mil estátuas de tamanho real do Exército de Mil Kannons dispostas ao redor da divindade principal do templo, a Kannon de Mil Braços, criada pelo escultor Kamakura Tankei e considerada um Tesouro Nacional do Japão. Outro mais desconhecido é o Otagi Nenbutsu-ji, que, em redor, tem 1,2 mil esculturas que retratam os Rakan – discípulos de Buda –, feitas por fiéis, com diferentes tamanhos, expressões e estilos. É, no mínimo, curioso.


Foto: Alex Rainer/Unsplash

Foto: Timo Volz/Unsplash

Cruzamento de Shibuya Templo Senso-ji

TÓQUIO: A MODERNIDADE Pode-se dizer que a capital do Japão é uma mistura de grandes metrópoles, como São Paulo e Nova York, mas ao mesmo tempo tem contraste das construções modernas com a tradição dos milenares templos budistas, numa dicotomia curiosa e intrigante. É uma cidade vibrante, que chama a atenção pela quantidade de megastores de marcas de luxo. Mas não há nada mais japonês do que visitar um konbini, uma loja de conveniência que funciona 24h e onde se encontra praticamente tudo, de tudo mesmo – comidas, cosméticos, artigos de beleza, medicamentos básicos, roupas. E nem se preocupe em procurar, porque elas são onipresentes, não apenas em Tóquio. Pelas ruas, japoneses impressionam também pelo estilo e suas várias tribos. Desde uma moda formal como conhecemos no ocidente, passando pelo casual day e até os que chamam atenção pelos looks de animes e high fashion. Mas se quiser ver – ainda mais – gente na rua, o destino é o cruzamento mais famoso do mundo, no bairro de Shibuya. O local parece saído de um anime, porque desafia a lógica real pela quantidade de pessoas que passam ali ao mesmo tempo, além de hipnotizar com os prédios altos e painéis de LED. Um programa bem turístico é sentar em um café da esquina de frente para a janela com vista para a rua e

observar, incrédulo, o movimento ininterrupto de um dos maiores centros comerciais e financeiros do mundo. A parte moderna de Tóquio também é marcada pela visita à Tokyo Skytree, uma torre de radiodifusão de 634 metros de altura – a segunda maior do mundo e, para comparação, é quase o dobro da Torre Eiffel, em Paris. Com opções de cafés e restaurantes, vale a visita a uma das duas plataformas de observação – a 350 e 450 metros de altura –, das quais se tem uma vista que dá a noção do tamanho da região metropolitana de Tóquio. Deixando um pouco de lado as ruas e o vai e vem de uma cidade superpopulosa – com seus 13,96 milhões de habitantes –, Tóquio também te convida a momentos zen em seus templos e parques. Estimase que o local tenha cerca de 2,8 mil templos. O mais famoso e turístico é o Sensō-ji, ou Templo de Asakusa, o mais antigo da cidade, datado em 645 d.C, e que recebe mais de 30 milhões de visitantes por ano. O mergulho na história e um imperdível passeio é a visita ao Palácio Imperial, a residência oficial do imperador do Japão, uma tradicional construção em uma grande área verde. Ele fica no local do antigo Castelo Edo, residência dos xoguns Tokugawa do período Edo (1603-1867). A construção que existe hoje foi feita durante a transferência da capital de Kyoto para Tóquio, em 1868. Apesar de fechada à visitação pública, há tours guiados nos jardins e, de qualquer forma, vale passar por ali. GPSLifetime « 157


Fotos: Divulgação

Memorial de Hiroshima

HIROSHIMA: A HISTÓRIA A cidade, quase que pacata, atrai turistas pela sua importância histórica. Vítima de um ataque nuclear em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, que a destruiu, matou mais de 160 mil pessoas e deixou povos devastados, Hiroshima mostra que se reergueu, mas que nunca vai esquecer o que aconteceu ali. Uma das regiões destruídas hoje abriga o Parque Memorial da Paz de Hiroshima, que tenta promover a paz por meio da dolorosa lembrança da atrocidade da guerra. Pessoas ficam sentadas ali nos bancos, observando, refletindo. Anualmente, o parque recebe uma cerimônia no mesmo dia do bombardeamento. Não querem deixar que o mundo esqueça o que aconteceu ali, mesmo que 76 anos depois. Isso fica, claro, também com as ruínas do Domo Genbaku, que foi mantida como ficou após a explosão para que todos lembrassem o local do epicentro da bomba – declarado Patrimônio Mundial da UNESCO em 1996. É impactante. Atrai olhares e hipnotiza.

SAKURAS: A BELEZA Hanami. Significa contemplar a beleza das flores. Sentar embaixo das árvores, fazer piquenique, reunir gerações, fotografar. Parece familiar? O que os ipês são para os

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Santuário de Itsukushima

Ali perto, o museu. É um passeio doído e incomoda, mas necessário, com a história devastadora contada por meio de relatos, histórias e objetos pessoais. Mas visitar Hiroshima também é vivenciar a cultura e a gastronomia, e vale a pena provar um dos pratos típicos do local, o Okonomiyaki, uma mistura na chapa, semelhante à panqueca, que leva repolho ralado e tem várias camadas. Vale também conhecer o emblemático Castelo de Hiroshima – que abriga um museu de cultura samurai, com direito até a experimentar trajes tradicionais – e o Santuário de Itsukushima, formado por edifícios que se erguem das águas de uma pequena baía e, na maré alta, parecem flutuar. A cidade que, literalmente, renasceu das cinzas continua fazendo história.

brasilienses, podemos dizer que as cerejeiras são para os japoneses. Símbolos do país, as incontáveis sakuras (como são chamadas lá) surgem no período da primavera no Hemisfério Norte, uma das épocas mais aguardadas do ano. Existe até o calendário das sakuras. Elas começam a desabrochar no sul do Japão e vão subindo pelo país. A delicadeza de suas folhas e flores fazem parte da cultura japonesa – até estampam as moedas de cem ienes. Florescem de uma vez e, com suas copas deslumbrantes, formam paisagens encantadoras e atraem moradores e turistas. É um momento efêmero, como uma miragem. Ou um quadro pintado à mão. São breves, como a vida. E, juntas, parecem até título de poema: a beleza das flores das cerejeiras.


OCEANO

A HERANÇA DO NOVO ENTRE MAR E METRÓPOLE ESTÁ INSTALADO UM DOS MAIS APRECIADOS RESORTS DOS EMIRADOS ÁRABES. A UNIÃO DOS COSTUMES TRADICIONAIS COM A CONTEMPORANEIDADE POR PAULA SANTANA

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Fotos: Divulgação

s águas cristalinas do Golfo Pérsico que desenham a Praia de Jumeirah integram a lista de experiências sofisticadas no Oriente. Precisamente em Dubai. Nas porções densas de areia que formam enseadas encontra-se um resort que se divide entre a praia mais famosa e o cintilante horizonte da metrópole dos Emirados Árabes. Essa é a mais recente investida do Mandarin Oriental, que adquiriu as instalações há dois anos, tempo em que as transformou no padrão do grupo, tornando-se agora o novo spot do local. A escolha começa com a opção da vista, natureza ou urbanidade. Ambas causam deslumbre. Logo no saguão, os hóspedes são recebidos por quatorze árvores de metal de bronze, com sete, oito e nove metros de altura, criando um dossel de cristal e luz. Concebido pelo designer multidisciplinar dos Emirados Aljoud Lootah, o resort é uma mistura artística da herança local dos Emirados com toques modernos. O principal padrão geométrico é inspirado no khous, tradicional tecelagem de folhas de palmeira, enquanto o contorno curvo faz referência ao mar, elemento tão essencial para a existência da histórica cidade costeira de Dubai. Além dos seis restaurantes, que inclui uma churrascaria japonesa com o estilo tradicional de culinária Warayaki, há o enorme atrativo sensorial que atrai lovers de relaxamento do mundo todo. É o spa com o tratamento Nomadic Sensory. Uma imersão única com todos os recursos habituais, mas acrescentando um ritual rítmico que captura o espírito da vida dos beduínos dos Emirados, usando a batida de um Doumbek, o tambor de taça árabe. E ainda a procurada The Elixir Clinic com infinidade de infusões para equalizar a energia, reidratar o corpo, e fortalecer o sistema imunológico. Um detox das arábias. @mo_jumeira

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A ERA DO ALTO LUXO ATEMPORAL O DISCRETO REQUINTE FRANCÊS ENVOLTO PELA CULTURA LOCAL ALINHADO COM A FILOSOFIA DO ESTAR EM CASA COMPÕEM A REABERTURA DO ROSEWOOD LE GUANAHANI ST. BARTH POR PAULA SANTANA

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oram quatro anos de expectativa desde que a natureza em forma de furacão causou danos imensuráveis na linda ilha do Caribe, St. Barthélemy, comprometendo, dentre tantos outros, a portentosa estrutura do resort Le Guanahani. Como o vento, 35 anos de história se dissolveram em questão de horas.

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Todavia, renascerá em 18 de outrubro o Rosewood Le Guanahani St. Barth, a propriedade mais icônica da ilha caribenha. Aliás, são de jornadas pessoais e de descobertas autênticas que o resort se consolidou ao longo dos anos. E após este episódio reforçou a filosofia A Sense of Place sob a liderança do diretor-geral Martein van Wagenberg. Uma imersão nas vibrações da ilha faz do spa assinado pela Clarins um dos pontos altos da estadia. Um luxo simples inspirado na herança francesa. Relevante também são os encontros gastronômicos que receberam nomes como Emmanuel Renaut (três estrelas Michelin), Stephanie Le Quellec (uma estrela) e Fabien Lefebrve (uma estrela). Nas acomodações, a casa The Beach House merece destaque.


Fotos: Divulgação

Nem todos sabem, mas o resort trabalha com a bióloga reconhecida Deborah Brosnan, que vem desenvolvendo um plano de longo alcance para proteger a terra e o mar ao redor. Arte, design e culinária compõem, portanto, a dinâmica do espaço, envolto pela arquitetura impressionante de David M. Schwarz Architects e design de interiores exclusivo de Luis Pons Design Lab. Tudo deve ser inspirado na tranquilidade, na elegância e nos atrativos de uma casa particular. Com espaços silenciosos e equilibrados, harmonizando-se com locais dinâmicos e cheios de energia. Para isso, colaboradores do hotel se esmeram em ofertar a sensação de pertencimento. Sempre amigavelmente genuínos. Bastante diferente das formalidades rígidas de hotéis cinco estrelas. Vale saber também que o nome do resort homenageia a cultura local. Guanahani significa “bem-vindo” na língua nativa Arawak. @rosewoodleguanahani www.rosewoodhotels.com

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IMAGENS MERAMENTE ILUSTRATIVAS. O EMPREENDIMENTO SERÁ ENTREGUE EM FASE ÚNICA CONFORME MEMORIAL DESCRITIVO DE INCORPORAÇÃO. QUANTO À AQUISIÇÃO DA UNIDADE, A RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM À IMOBILIÁRIA E/OU CORRETOR ASSOCIADO SERÁ DE RESPONSABILIDADE DO ADQUIRENTE. REGISTRO DE INCORPORAÇÃO SOB MATRÍCULA R.8/131464.


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