2 minute read

APERFEIÇOAR O NATURAL

CIRURGIA PLÁSTICA NÃO É REPRODUZIR EM SI A IMAGEM PROJETADA DE CELEBRIDADES OU INFLUENCERS. O BELO PODE ESTAR NO IMPERFEITO. E O IMPERFEITO PERMITE SINGELAS ALTERAÇÕES. A CIRURGIÃ PLÁSTICA MILENA CARVALHO ENFATIZA: POR QUE PARECER SÓ MAIS

UM? POR THEODORA ZACCARA

Advertisement

“Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume”, escreveu o dramaturgo William Shakespeare sem saber – ou já o sabendo – como seria por tantas vezes citado e parafraseado. A rosa de Romeu e Julieta tornou-se o signo da autenticidade, da verdade, da beleza orgânica e inalterada que pode até trocar de nome, mas que não altera suas pétalas. “Prefiro ser uma rosa velha que uma rosa de plástico”, disse a estilista Diane Von Furstenberg, séculos depois, quando em visita ao Brasil para palestrar. Pois é, William, pois é, Diane… está cada vez mais difícil esbarrar com rosas reais.

Cirurgiã plástica proprietária da Clínica Lapidat, no Lago Sul, Milena Carvalho já se acostumou a ouvir pelos mesmos pedidos. “Em um mundo de Instagram, onde o belo e o ideal são exaltados por meio de referências irreais, com imagens editadas usando filtros e photoshop, não é incomum receber solicitações impossíveis de se reproduzir cirurgicamente em um corpo humano”, confessa a médica apaixonada por beleza e especialista em feminilidade.

Com isso, batem à porta futuras pacientes que carregam como referência os rostos e traços de outras: celebridades, influencers, caras fabricadas, esperando por um Ctrl V. E quem enxerga o movimento e se assusta com o risco de “parecer só mais um” pode até se esquivar de realizar as mudanças que tanto sonhou. Mas precisaria o mundo ser tão “oito ou oitenta”? Polarizado? Preto no branco? A profissional garante que existe, sim, uma maneira de encontrar resultados que respeitam a fisionomia por meio da cirurgia plástica, criando uma versão melhor de si sem copiar o que é do outro.

“Sempre falo que o belo é o que traz a naturalidade das transições. Não se pode exagerar e é imprescindível ter o feeling técnico-cirúrgico ideal para cada identidade, para que a paciente atinja a perfeição que é peculiar a ela, sem adulterar a sua essência base”, entrega. “Acredito que não podemos generalizar todas as faces de todas as pessoas. Não é todo nariz super afilado e arrebitado que combinará com todos os tipos de feições faciais”, exemplifica. Por meio de um processo de criação que mais se assemelha à arte que à ciência, Milena constrói junto à paciente um resultado que, além de harmônico, é totalmente exclusivo. “Procuro sempre dosar o desejo da paciente com melhor indicação técnico-científica para que não haja frustrações após a realização de procedimentos”, garante. “Explico os prós e contras com a intervenção cirúrgica desejada e o que implicará no futuro, muitas vezes não muito distante, como um provável arrependimento e irreversibilidade do quadro após realizado”. Decisões precipitadas podem levar a momentos de choro e aflição – aquele desespero do tipo “faria de tudo para voltar atrás”. Não é mesmo, doutora? Daí a importância da escolha de um profissional capacitado e realista. “Já recebi paciente me falando que tinha uma expectativa super alta, e na sequência afirmei que, com corpo de modelo, ela não ficaria por meio de uma cirurgia plástica. Cruel? Sim. Mas é a realidade que urge ser explicada”. Pois, quando comparada à frustração em não obter a imagem irreal idealizada, a sinceridade é a mais leve das pétalas.

Foto: Allan Rrod

@lapidat @dramilenacarvalho