2 minute read

NUNCA MAIS FOI COMO ANTES

Sem título (figura feminina)

Advertisement

Fotos: Estevan dos Anjos

ACERVO AUTORAL DOS MODERNISTAS GOMIDE-GRAZ ABRE A TEMPORADA DE CELEBRAÇÃO DO CENTENÁRIO DA SEMANA DE ARTE MODERNA, OS DIAS DISRUPTIVOS QUE REDEFINIRAM A ARTE NO BRASIL POR PAULA SANTANA

Diante da atmosfera turbulenta pós-apocalíptica à guerra mundial havia a urgência em quebrar o status quo e reconfigurar as estruturas sociais e políticas do século que já começava frágil. Esse rompimento viria robusto, mas pela arte. E de modo definitivo. Os autores... um grupo de intelectuais e artistas, declarando o fim do conservadorismo cultural.

A ideia era iniciar um novo ponto de vista estético. Influenciados pelas vanguardas europeias, músicos, artistas, escritores se uniram numa unidade celular que proclamava o fim de parnasianos e românticos em detrimento de cubistas e surrealistas. Um fenômeno urbano orquestrado por São Paulo, com células cariocas, pernambucanas e mineiras.

Em meio a todo esse frisson havia dois jovens irmãos brasileiros, Antonio e Regina Gomide, pioneiros no art déco. Na Suíça, estudantes, em 1913, conheceram John Graz na Academia de Belas Artes

Foto: Romulo Fialdini Foto: Bruno Macedo

Vaso, Antonio Gomide

O encontro, Antonio Gomide

Foto: Romulo Fialdini

Composição com figuras

de Genebra. Graz e Regina casaram-se em 1920, no Brasil. Na mesma década, ele se aproximou dos pioneiros do modernismo e participou da Semana.

Enquanto isso, Antonio vivia em Toulouse e convivia com o artista francês Marcel Lenoir, com quem aprendeu técnicas de afresco. Na França, teve contato com modernistas brasileiros e artistas europeus ligados aos movimentos de vanguarda, a exemplo de Victor Brecheret, de quem foi vizinho em Montparnasse, bairro boêmio da capital, e Vicente do Rego Monteiro – ambos integrantes do movimento modernista.

No Brasil, reunidos e atuantes, Antonio, John e Regina tornaram-se sócios fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), uma associação que estreitava relações entre artistas e promovia exposições, concertos, conferências, reuniões literárias. Foi refúgio de Anita Malfatti, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, os mecenas Paulo Prado, Olívia Guedes Penteado, os escritores Sérgio Milliet e Menotti Del Picchia, entre outros.

Graz se consagrou em São Paulo como arquiteto de interiores nas décadas de 1920 e 1930. “A marca registrada dos projetos de John Graz é a harmonia entre todos os elementos que integram o espaço planejado. Ele visava ao ‘design total’”, diz a curadora Maria Alice Milliet. E Regina dedicou sua obra à tapeçaria e confeccionava painéis, colchas, almofadas, tecidos e abajures em estilo cubista e art déco.

Às vésperas de iniciar as comemorações do centenário do movimento, o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a exposição Desafios da Modernidade – Família Gomide-Graz nas décadas de 1920 e 1930. “Pode-se dizer que suas criações são solidárias, na medida em que pinturas, desenhos, tecidos, mobiliário e luminárias foram projetados para compor determinados ambientes, para funcionar em conjunto. É arte integrada ao espaço habitado e como tal será mostrada”, explica.