Palavara de quem sente18

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DEPOIMENTO DO PACIENTE

Mariana Capiberibe Maia


A

primeira vez que tive depressão, eu estava com 19 anos. Morava com minha família, cursava faculdade, trabalhava, namorava e criava cães. Algumas pessoas diziam que não havia motivos para eu me sentir deprimida.Eu, porém, me sentia muito mal e tinha consciência de que não estava inventando nada. Só podia estar doente mesmo. E que doença terrível. Doença da alma que acaba afetando também o corpo, já que não há ânimo para nada. E eu não tinha vontade de fazer nada. A sensação de tristeza não tinha hora pra começar, não vinha em episódios, simplesmente porque ela não parava. Eu, que sempre gostei de dormir, passei a ter insônia: dormia apenas 3 ou 4 horas por dia. Acordava muito cedo e ficava rolando na cama, sem coragem de me levantar. Enquantoisso vinham na minha mente os fatos ruins do dia anterior e até os de anos atrás. Não conseguia parar de pensar um segundo. Não queria trabalhar, mas ia por obrigação. Nessa primeira crise acabei deixando o emprego, achando que esse era o problema. Não era, claro. Assistia às aulas na faculdade apenas de “corpo presente”. Não queria namorar, sair com amigos, nem mesmo falar ao telefone. De repente tudo havia ficado sem graça, triste. Havia perdido meus objetivos, minha vontade de viver. Meus pais eram as pessoas que melhor me entendiam e me apoiavam. Resolvi então atender minha mãe e fui conversar com uma psicóloga.5 anos antes já havia iniciado uma terapia, com Cristina Jatobá, por timidez. Naquela época eu achavaque “psicólogo era coisa pra doido” e havia abandonado o tratamento depois de 1 ano. Comecei também a ir ao cardiologista, Dr. Wilson Oliveira, que iniciou meu tratamento com medicação. Depois de 2 meses me sentia normal e acabei deixando a

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psicoterapia novamente. Passei 3 anos ótima. Aos 22 me senti mais uma vez deprimida e voltei a fazer terapia. Todas as sensações ruins estavam de volta e duraram, novamente, cerca de 2 meses. Fiquei bem e voltei a ter depressão 6 meses depois. Só que aí eu já me conhecia elhor; assim, aprendi a lidar comigo mesma e os sintomas tornaram-se mais fracos. Hoje estou com 29 anos, concluí o curso superior de Letras e estou concluindo agora Jornalismo. Tenho amigos, que me adoram e que eu adoro. Continuo criando meus cães.Preciso muito deles e eles de mim. Os sintomas do “mal do século” já me encontraram mais umas duas vezes, mas eu encontrei a saída. Sempre encontro. Ainda faço terapia (e gosto) e tomo medicação (o que em nada me constrange). Não tenho nada contra os remédios; as vezes que tentei retirá-los, eu voltei a sentir os sintomas. Portanto, se for preciso, tomarei por toda a vida. Só quero estar bem comigo mesma e vivendo intensamente a vida. Meus pais continuam sendo as pessoas que melhor me entendem, mas o mundo está mais aberto e mais informado sobre essa doença da alma. E DEUS está sempre ao meu lado. É importante ter em mente que ELE não nos abandona, nunca. E a depressão não é mais forte que o ser humano. Ela pode e deve ser vencida. E, se não puder ser “curada”, poderá ser “controlada” e permitir aos seus “portadores” uma vida inteiramente normal e com qualidade. Atualmente estou sendo acompanhada pela Psiquiatra Jane Lemos, por quem temos uma grande

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estima e confiança. Espero, através desse depoimento, ter contribuído de alguma forma para que outras pessoas busquem também o tratamento correto, tenham sucesso, nunca desistam e descubram que “viver” é o melhor da vida.

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