Jornal Ampare out2017

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AMPARE Ano XVI | nº 51 | outubro – novembro – dezembro de 2017

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Pag. 9 Desaparecidos Marcos A.M. Bittencourt

Pag. 11 O tempo passou e me formei em solidão José Antônio Oliveira de Resende

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UMA PAUSA PARA A REFLEXÃO...

Existe um ditado que diz: “Quem planta tâmaras não colhe tâmaras”, isso porque as tamareiras levam de 80 a 90 anos para darem os primeiros frutos. Certa vez um jovem encontrou um senhor de idade plantando tâmaras e logo perguntou: porque o senhor planta tâmaras se o senhor não vai colher? O senhor respondeu: se todos pensassem como você, ninguém comeria tâmaras. Cultive, construa e plante ações que não sejam apenas para você, mas que sirvam para todos. Nossas ações hoje refletem o futuro... se não é tempo de colher, é tempo de semear. Nascemos sem trazer nada, morremos sem levar nada... E, no meio do intervalo entre a vida e a morte, brigamos por aquilo que não trouxemos e não levaremos... Pense nisso: Viva mais, ame mais, perdoe sempre e seja mais Feliz.” (...)

Editorial “Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre, Um protetor para os desprotegidos, Um guia para os que perderam o rumo, Um navio para os que têm oceanos a cruzar, Uma ponte para os que têm rios a atravessar, Um santuário para os que estão em perigo, Uma lâmpada para os que não têm luz, Um refúgio para os que não têm abrigo E um servidor para todos os necessitados.’’ Dalai Lama

EXPEDIENTE

Esta reflexão sintetiza o “Espírito Humanitário” da AMPARE e de todos os Profissionais da área de Saúde, aqui representados pelos Médicos & Psicólogos, que lidam diretamente com a dor humana, e dedicam seus esforços para minimizar o sofrimento provocado pelas enfermidades, restaurar a saúde, restabelecer a esperança, oferecer qualidade de vida a todos que necessitam de seus cuidados. Nessa edição referente ao segundo semestre, quando se comemora o dia do Psicólogo (27/08) e o dia do Médico (18/10), fica aqui registrada a nossa homenagem a todos os Profissionais que compõem o “SPPA” - Serviço de Psicologia & Psiquiatria da AMPARE.

AMPARE – Associação dos Amigos dos Pacientes de Pânico em Recife Fundada em 23 de abril de 2001. CNPJ: 10.429.193 /001-54. Rua Oswaldo Cruz, 393, Boa Vista, Recife/PE – CEP: 50555-220. Fones: (81) 3222.6252 | 8517.1057 www.ampare-pe.com.br / ampare_pe@hotmail.com DIRETORIA Presidente: Wagner Saldanha Maia Vice-presidente: Jacilene Cansanção Bittencourt Dir. Administrativo: Ana Paula Hawatt Dir. Cultural: Socorro Capiberibe Dir. Financeira: Francisca Modesto Dir. Técnico: Jane Lemos CONSELHO FISCAL Titulares: Amanda Britto Lyra, Maria Helena Baltar e Marcos Antonio Bittencourt Suplentes: Edson Rodrigues, Jaidete Almeida e Maria do Carmo Nigro Jornalista responsável: Maria Cândida Capiberibe Maia Cavalcanti | DRT/PE 3036 Revisão e assessoria de comunicação: Mariana Capiberibe Maia Fotografias: Maria Capiberibe Jung, Mariana Capiberibe Maia e Wagner Maia Impressão: Gráfica ArtFast Tiragem: 5.000 exemplares

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MENSAGEM AMPARE

CANTINHO DO POETA

CATADOR DE LINDEZAS “Eu venho de lá, onde o bem é maior. De onde a maldade seca, não brota. De onde é sol, mesmo em dia de chuva e a chuva chega como benção. Lá sempre tem uma asa, um abrigo para proteger do vento e das tempestades. Eu venho de um lugar que tem cheiro de mato, água de rio logo ali e passarinho em todas as estações. Eu venho de um lugar em que se divide o pão, se divide a dor e se multiplica o amor.

De repente: cinquenta!!!

Eu venho de um lugar onde quem parte fica para sempre, porque só deixou boas lembranças. Eu venho de um lugar onde criança é anjo, jovem é esperança e os mais velhos são confiança e sabedoria. Eu venho de um lugar onde irmão é laço de amor e amigo é sempre abraço. Onde o lar acolhe para sempre, como o coração de mãe.

Um pouco de mim... Ana Paula Hawatt*

Eu venho de um lugar que é luz mesmo em noite escura. Que é paz, fé e carinho.

Desejo que aos 50 anos eu continue fazendo planos Que eu procure sanar todos os danos Que o tempo apenas seja um balizador das diversas experiências Gosto da indiferença do tempo que me faz igual a todos Da piedosa manhã que me concede novas oportunidades Cultivo a loucura que habita em mim, que me leva para torrenciais paixões, e que me traz de volta para a serenidade de minha solidão Anseio pelo barulho da vida, pelos gritos de todas as formas, sonho com o silêncio dentro de mim Prefiro as incertezas que me motivam as mudanças, do que a certeza dos falsos limites que encadeiam meu eu Não quero temer a mim mesma, enfrentarei todos os meus medos, mesmo que com a falsa coragem que a vida me impele Compreendi que a vida não tem garantias E que viverei comigo mesma até o fim dos meus dias.

Eu venho de lá e não estou sozinho, “SOU CATADOR DE LINDEZAS”, sobrevivo de encantamento, me alimento do que é bom, do bem. Procuro bonitezas e bem-querer, sobrevivo do que tem clareza e só busco o que aprendi a gostar. Não esqueço de onde venho e vou sempre querer voltar. Meu lugar se sustenta do bem que encontro pelo caminho, junto a maços de alfazema e alecrim. Assim, sou como passarinho carregando a bagagem de bondade, catando gravetos de cheiro, para esquentar e sustentar o ninho... Talvez a vida tenha feito você acreditar que este lugar não existe. Te digo: tem sim, é fácil encontrar. Silencie, respire, desarme-se, perceba, é pertinho. Este lugar que pulsa amor é dentro da gente, é essência, está em cada um de nós. Basta a gente buscar.” Sejamos CATADORES DE LINDEZAS!!! (...) ______ AMPARE & VOCÊ: CRESCENDO JUNTOS... AMPARE & VOCÊ: AMIGOS, SEMPRE... AMPARE & VOCÊ: AMPARANDO MAIS... AMPARE & VOCÊ: POR UMA SAÚDE MELHOR!!!

*Psicóloga / Diretora Administrativa da AMPARE.

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AMPARE

Quem somos e o que fazemos...

BEM VINDO A AMPARE – Associação dos Amigos Pacientes de Pânico em Recife – Desde 2001 cuidando da Saúde Mental!

Imagem da Internet

“Faze com alma o que na vida te for dado fazer, mas não te esqueças de integrar-te nos grandes planos de Deus”. “Não, não pares. É graça Divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa, manter o ritmo... Mas a graça das graças é não desistir. Prosseguir firme... podendo ou não podendo... Caindo embora aos pedaços... Chegar até o fim.” (D. Hélder Câmara)

Fundada em 23 de Abril de 2001, por um grupo de portadores do transtorno do pânico e idealizada pelo médico pernambucano Wilson Alves de Oliveira Jr., a Ampare existe para “amparar” pessoas como você, que estão precisando de ajuda. E, apesar de criada inicialmente para os pacientes com pânico, hoje a Ampare acolhe também os pacientes com Depressão, TOC, Transtorno Bipolar, Hiperatividade, Déficit de Atenção e outros transtornos de ansiedade e do humor. Trabalhamos por uma Medicina mais humana e eficaz, que se traduza em tratamento digno e adequado, e uma melhor qualidade de vida para quem sofre de transtornos psicossomáticos. Temos um site informativo sobre o nosso trabalho, com artigos de médicos e psicólogos abordando sobre o Pânico, outros transtornos de ansiedade, depressão e seus tratamentos; além de entrevistas e depoimentos de pacientes, dicas de livros, agenda de palestras, cursos para estudantes e profissionais da área...Visite, fique por dentro e indique aos amigos: www.ampare-pe.com.br Temos também um JORNAL de periodicidade trimestral com uma tiragem de 5.000 exemplares, que circula com êxito pelos meios médicos e demais meios sociais, levando a todos uma visão ampla de nossas atividades. Contamos com excelentes Profissionais: Médicos e/ou Psicólogos - que abraçando a causa humanista da AMPARE, prestam atendimento aos sócios dessa Associação, em seus próprios consultórios e com hora marcada, seguindo a nossa proposta eficiente e digna, que respeita os diferentes níveis sócio-econômicos dos pacientes. A AMPARE também dispõe de um “SPPA” (Serviço de Psicologia e Psiquiatria AMPARE) na própria Sede, todos os dias, das 7:30 às 19:30h, com valores compatíveis ao nível sócio-econômico de cada um. O valor da consulta com os Psiquiatras para este ano de 2017 é de R$100,00. (Nos consultórios da AMPARE). Quanto às sessões de psicoterapia com os Psicólogos, por serem semanais, tem o valor flexível, ajustado diretamente entre o profissional e o paciente, mediante avaliação sobre reais condições financeiras do paciente, sem ultrapassar entretanto o valor de R$100,00 -(Nos consultórios da AMPARE). Com uma taxa simbólica de apenas R$20,00 por mês, você se torna associado da AMPARE e pode usufruir dos serviços prestados por esta associação. Associe-se já! Promovemos palestras em empresas, faculdades, colégios, igrejas etc., para divulgar os transtornos emocionais e o nosso trabalho. Para solicitar uma palestra fale conosco. Nossos contatos: (81)3222-6252 (Fixo) / 98517.1057 (oi) / 99504.0782 (Tim) / 989910240 (Claro) / 98873.7400 (Socorro Capiberibe / Diretoria), Nosso E-mail: ampare_pe@hotmail.com Nosso endereço: Rua Oswaldo Cruz, 393, sala 01, Boa Vista, CEP 50050-220, Recife - PE (Térreo e 1º Andar do Prédio Anexo da Associação Médica de PE). Nosso horário de atendimento: de 2ª à 6ª feira, das 7:30h às 19:30h e aos Sábados das 8:00 as 13:00h.

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ARTIGO

Suicídio: prevenção Setembro Amarelo Jane Lemos*

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio constitui importante problema de saúde pública, vitimando cerca de 1 milhão de pessoas, anualmente, no mundo. As estimativas mostram que para cada suicídio, existe pelo menos dez tentativas suficientemente sérias para acompanhamento médico e terapêutico. O ato suicida é consequência de um processo complexo requerendo uma abordagem sistêmica, razão pela qual estudos de Durkheim consideraram o suicídio como um processo de construção coletiva,portanto, pode-se considerar que o tema requer uma visão e atuação interdisciplinar. Revisão da literatura por Beston, aponta para intrínseca relação entre ideação, tentativa e concretização do ato suicida. Enquanto Forsell e alunos apontam a relação entre ideação e depressão com dependências diversas, institucionalização e uso de drogas psicotrópicas. No entanto, esta questão ainda é pouco investigada e relatada. A literatura aponta relação entre transtornos mentais e suicídio entre pessoas idosas - com mais de 65 anos - nas diversas sociedades se revestindo de grande importância,

atingindo 24,3/100.000 e as tentativas de suicídio, 61,4/100.000. Pode-se considerar o suicídio como um evento complexo com múltiplas causas, embora alguns pesquisadores apontem transtornos afetivos, principalmente depressão. No entanto, o que se constata, é uma dificuldade das pessoas lidarem com alguém que fez uma tentativa de suicídio. Por outro lado, há uma também uma resistência em lidar com pessoas que falam em suicídio, pois entendem que não pretendem consumar, é apenas uma forma de chamar atenção. Na realidade, isto deve ser visto como um pedido de ajuda, segundo Mônica Kather, voluntária da ONG Centro de Valorização da Vida. Macedo, psicanalista especializado em suicídio e professor da PUC/RS, destaca a importância da ONG Centro de Valorização da Vida (CVV), criada em 1962, pelo seu trabalho na prevenção do suicídio. Os fatores de risco do suicídio são citados por Prieto & Tavares como ligados à saúde mental: desordens do humor – depressão, transtorno psicótico como esquizofrenia, abuso de drogas e/ou álcool, história familiar de suicídio, perda de relacionamentos afetivos, acesso a medidas letais

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como arma de fogo, confinamento, prisões, etc. O fenômeno do suicídioexige um olhar específico para intervenção em crise, contextualizada por múltiplos fatores, devendo citar a importância de se contar com o suporte de uma rede de atenção.Tendo em vista a complexidade e relevância do tema, a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE definiu oSETEMBRO AMARELO –como MUNDIAL DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO. Em Pernambuco, as entidades médicas sempre atentas à problemática da população e dos médicos, tem demonstrado preocupação com o suicídio, inclusive na categoria médica. Diante deste lamentável fato, as entidades medicas de Pernambuco tem estado atentas publicando sobre o tema e realizando eventos alusivos especialmente no SETEMBRO AMARELO. Desta forma, a AMPARE – se alia ao movimento do setembro AMARELO com o objetivo de contribuir com a redução do suicídio, sério problema mundial de acordo com a Organização Mundial de Saúde. *Psiquiatra – Diretora Técnica da AMPARE – Secretária Geral da AMPE e Conselheira do CREMEPE.


DEIXANDO UM POUQUINHO DE MIM OU UMA HISTÓRIA QUE A VIDA ESCREVEU...

A sombra amiga... Socorro Capiberibe

Todas as tardes Socorrinho saía com sua mãe. Estava se recuperando de um problema de saúde que a deixara muito debilitada. Precisava se readaptar à vida normal, das pessoas normais, fora dos limites do seu portão. Durante anos esteve prisioneira de sua própria casa - sua “gaiola dourada” - como costumava chamar, vítima de todos os medos que a mente humana pode fabricar. O mundo lá fora, além dos muros que a protegiam, a assustava. Criara um mundo todo seu, onde se escondia de tudo e de todos que pudessem, de alguma forma, provocar-lhe algum desconforto ou embaraço; qualquer coisa que representasse perigo ou desencadeasse medo. Seus amigos - os únicos que podiam ter acesso a esse mundo tão limitado - restringia-se a sua família. Suas atividades: cuidar de plantas, peixes, passarinhos, fazer tricô, ler, ouvir música, assistir novelas. A vida lá de fora chegava até ela através da tela de tv. Era dotada de uma sensibilidade extraordinária; amava as artes, estuda-

va a vida dos mestres da pintura e dos compositores clássicos famosos; conhecia toda a obra de Chopin e apreciava a beleza singular da pintura de Renoir. Tinha uma paixão especial pelos livros e pela música. Gostava de escrever e tocar violão. Tinha um bom arquivo de poemas e canções de sua autoria; entretanto guardava tudo só para si... Era um patrimônio restrito ao seu mundo particular; abrigado dentro dos limites de sua casa. Sempre fora assim? Não. Por que ficou assim? Também não sabia. Foi uma criança normal igual a todas as crianças da sua idade, com medos e sonhos próprios da infância. Teve uma adolescência saudável, sem desajuste ou rebeldia e foi uma jovem feliz. Frequentou colégios, cursou universidade. Teve muitos amigos, fez muitos passeios, foi a muitas festas. Brincou, dançou, namorou; fez tudo que teve direito e que a vida lhe proporcionou, dentro de uma juventude normal e saudável. Casou, teve filhos, constituiu uma família. Teve toda uma estrutura favorável e bem consolidada, que podia proporcionar uma vida harmoniosa e tranquila. Onde estava o erro? O que foi que mudou? Por que a reviravolta em sua vida?... Não tinha resposta. Nada explicava o medo que de repente se instalara em sua vida... Como entender que o mesmo mundo - outrora tão fascinante e sedutor - fosse de um momento para outro o grande monstro, o terrível fantasma, que tanto a assustava e a mantinha cativa do seu próprio lar? Como explicar tudo isso, se ela própria não entendia?... A cabeça humana ainda é a “caixa preta” do avião. Talvez nos compên-

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dios da psicologia e da medicina psiquiátrica, estivesse a resposta. Existem coisas que simplesmente acontecem na vida da gente, para as quais não se tem uma explicação. Coisas, que a gente não quer e não pede que aconteçam, mas quando surgem tem que se buscar a solução. Os únicos passeios de Socorrinho eram sempre feitos de carro... Era como se o automóvel fosse uma extensão de sua casa. Dentro dele e em companhia da família, sentia-se segura; desde que não precisasse saltar em nenhum lugar. Nele, podia ir tomar uma água de coco na praia olhando o mar; parar na sorveteria e tomar um sorvete ou ir a uma lanchonete e comer um sanduíche sem descer do carro. Era de fato uma vida muito limitada; um mundo muito restrito e particular, o de Socorrinho. Um dia, Socorrinho resolveu se deixar ajudar. Permitiu-se ser acompanhada por uma psicóloga. Queria sair da clausura; fazer parte outra vez do mundo dos “normais” e viver novamente a vida com toda intensidade, gozando de toda liberdade que alguém pode ter. Tinha dado o primeiro passo. Os outros passos se dariam naturalmente, lentamente, gradativamente... Afinal, Deus não criou o mundo num dia só... E todo recomeço é difícil; não se faz da noite para o dia. Tudo tem um momento certo para acontecer. E a recuperação de Socorrinho também aconteceria; era só esperar. Matriculou-se numa aula de hidroginástica junto com as filhas. Tinha medo de ficar só na piscina sem alguém da família e com pessoas estranhas. “E, se passasse mal? Se cansasse muito? E se desmaiasse?...” - as filhas lhe davam segurança... Cuidavam dela... Ficavam atentas a qualquer expressão de cansaço ou de medo no


rosto de sua mãe. Isso a tranqüilizava, mas também a entristecia. Era incrível pensar que ali naquela mesma piscina há anos atrás, era ela, Socorrinho, quem entrava com suas filhas ainda criancinhas, carregando-as no colo, para aprenderem a nadar. Agora era o contrário, as filhas já moças, tomavam conta da mãe. A vida tem desses contrastes e ainda bem que podia contar com a ajuda das suas filhas. Os benefícios da água para o corpo são realmente maravilhosos e Socorrinho passou a curtir ao máximo as suas aulas. Começou a sentir-se melhor com ela mesma. Tinha mais disposição durante o dia. Dormia bem à noite e relacionava-se melhor com as pessoas. Fez amizades com todo o grupo, chegava a trocar receitas com as colegas... Começou a curtir o seu bronzeado como nunca e mal conseguia esperar pela hora das aulas, tanto que gostava daquela atividade. Aceitou um desafio com o professor: iniciou uma dieta e se propôs a trabalhar o corpo dentro da água, executando com a maior dedicação todos os exercícios. Começou a perder peso. O professor dava o maior estímulo. Ficava atento a qualquer erro e corrigia no ato. Em pouco tempo, Socorrinho dispensou os cuidados das filhas... Elas não tinham mais que continuar frequentando as aulas se não quisessem e realmente elas não quiseram. Preferiram se matricular numa outra modalidade de ginástica, própria para a idade delas e com uma turma também mais jovem. Socorrinho não se intimidou. Passou a fazer as aulas sozinha. Começava a resgatar sua auto-confiança. Era o tratamento surtindo efeito... O médico e a psicóloga, juntos. Um trabalho paralelo... Remédio e exercícios lado a lado, dia a dia, sem descanso. Comprou um teclado e começou também a ter aulas particulares. A música é um estado de espírito, algo Divino e maravilhoso, capaz de harmonizar corpo e alma numa perfeita comunhão... E ninguém poderia amar mais a música do que Socorrinho. Quando sentava diante do teclado, seus dedos dedilhavam suavemente as melodias enquanto sua mente era toda descontração e paz.

As vezes, começava um exercício prescrito pela professora, mas bastava um acorde em falso ou uma nota descuidada, que a fizesse lembrar de tal melodia... E lá se ia Socorrinho tentar tirar a tal música... Concentrava-se nas notas, apurava os ouvidos e esquecia da aula... Alguns minutos depois era capaz de tocar a melodia inteira apenas dedilhando - e corria para copiá-la num papel. Precisava mostrá-la à professora na aula seguinte. A música também passou a ter uma presença maior no seu tratamento. Outros exercícios foram sendo acrescentados à vida de Socorrinho. Era preciso sair à rua sozinha. Tinha que se libertar da sua gaiola dourada... Tinha que desmanchar os nós que a prendiam em tantos medos. Começou caminhando até a esquina mais próxima, sempre em companhia de alguém. Era difícil; sentia -se insegura; mas insistiu. Dia após dia, o mesmo exercício, até ficar uma coisa normal. Depois, o percurso do passeio foi aumentando até a outra esquina, depois já dobrava a rua e algum tempo depois já caminhava todo o quarteirão. O segundo passo mudou um pouco: agora, em vez da companhia de uma pessoa, fazia o mesmo passeio seguida pelo seu cachorrinho de estimação. Era incrível como um simples animalzinho conseguia lhe passar segurança e diminuía a sua solidão. Finalmente conseguiu sair sozinha e percebeu que não era tão ruim assim. Começava a se sentir “normal”... Já experimentava uma agradável sensação de liberdade... E para tornar o seu exercício ainda mais proveitoso, passou a atribuir-lhe alguma finalidade: comprar o pão na padaria da esquina; algumas frutas no mercadinho do bairro; fazer as unhas no salão mais próximo ou uma compra qualquer no comércio local. Estava redescobrindo a vida. Era maravilhoso viver. Às vezes, em seu passeio pelo bairro, Socorrinho parava diante de um sobrado antigo e punha-se a admirar a bonita arquitetura da antiga construção, em contraste com a beleza moderna dos novos prédios, que emolduravam as ruas arbo-

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rizadas. Outras vezes surpreendia-se admirando quadros simples do cotidiano: a senhora grisalha, que vinha com a sacola carregada de verduras do supermercado; o senhor de pijama, lendo o jornal na cadeira de balanço do terraço; o menino entregando jornais; a moça vendendo bilhetes de loteria; o homem com o cachorro passeando na calçada; a babá com a criança tomando banho de sol no portão, pessoas entrando e saindo da igreja, caminhonetes carregadas de deliciosas e coloridas frutas... Gente, carros, animais, colégios, lojas, bancas de revistas, jogo do bicho... Um movimento intenso; estava sentindo falta de tudo aquilo. Cada dia era único. Havia sempre algo novo, aos olhos de Socorrinho, em seu passeio. Ela levantava os olhos para o céu muito azul e agradecia a Deus pela vida. Estava viva outra vez. Sentia-se feliz novamente. De toda sua caminhada, em busca do tempo perdido, na luta pela recuperação... Dentre as lembranças que guardava dos seus exercícios, uma lhe era especial e destacava-se das demais... “Certa vez, no início do tratamento, saíra com sua mãe, como fazia todas as tardes, para um passeio de carro pela praia. Desceram do automóvel e sentaram no banco do calçadão para tomar uma água de coco. Depois Socorrinho convidou a mãe para fazerem sua caminhada habitual, pela pista de “Cooper” da avenida; exercício que faziam juntas com frequência. Sua mãe era sua fortaleza; a sua simples companhia dava a Socorrinho a segurança de que ela necessitava. Naquele dia porém, Dona Ruth se recusou; não iria caminhar com a filha. Já estava na hora de Socorrinho caminhar sozinha... - refletiu - e disse que esperaria sentada no banco. Socorrinho voltou a se sentar. Não iria sem a sua mãe. Sentiu-se insegura, frágil, pequena. E veio o medo; e veio o sentimento de impotência. E todos os pensamentos mais tolos tomaram conta da cabeça da jovem mulher, que mais parecia naquele instante uma menina assustada...


“E se eu passar mal? E se eu ficar cansada? E se eu desmaiar? E se isso? E se aquilo?... Eram sempre os mesmos pensamentos. E Socorrinho não se sentia em condições de caminhar sozinha. Dona Ruth percebeu a aflição de Socorrinho. Conhecia todos os medos de sua filha e como se pudesse ler o seu pensamento, concluiu: - Você não vai passar mal, minha filha. Nada vai lhe acontecer. Não existe motivo para se sentir insegura. Eu vou estar aqui lhe esperando e se você ficar cansada, eu vou de carro lhe apanhar na outra barraca de coco... por que o medo? Olhe quanta gente caminhando... Você não vai estar sozinha. Você não precisa de bengala, Socorrinho. Já é tempo de caminhar com seus próprios pés. Socorrinho ouviu em silêncio. Ficou triste, mas concordou. Sua mãe estava certa. Não era eterna; não poderia estar sempre ao seu lado. Estava na hora de tentar caminhar sozinha. Levantou-se e com passos incertos começou seu exercício. Não olhou para trás uma única vez. Sabia que sua mãe estaria sentada no banco, olhando de longe... Isso já lhe confortava. Nunca o percurso entre uma barraca de coco e outra lhe pareceu tão comprido... E enquanto caminhava, veio-lhe na mente, a lembrança de uma frase que lera num “outdoor”, numa propaganda de sapatos: “Liberdade é você ir aonde quiser com seus próprios pés...” De repente percebeu, o quanto era limitada a sua liberdade, naquele momento. Seus pés só conseguiam lhe levar, a distâncias muito pequenas ainda. Seu coração batia forte dentro do peito, de tanta ansiedade. Tentou se distrair para atenuar o medo. Começou a olhar os prédios altos e majestosos da avenida; depois o mar, quebrando em espumas na areia alva; mais adiante um animado jogo de vôlei e ali perto, no banco do calçadão, uma concorrida partida de dominó. Por vezes, diminuía o passo, fitava o céu, respirava fundo e pensava assustada e feliz: “estou conseguindo”. Em determinados pontos do passeio, notou algumas pessoas sorrindo para

ela... Socorrinho era uma pessoa simpática e retribuiu o sorriso, mas achou estranho porque, na realidade, não conhecia qualquer uma delas. Finalmente chegou à outra barraca; ponto final da sua caminhada. Parou; fechou os olhos e suspirou feliz...- “consegui”... - pensou satisfeita. Ia se virando para trás... Queria medir com o olhar a distância percorrida e acenar para sua mãe... Mas esbarrou em alguém. Assustou-se. Ficou muda de espanto. Dona Ruth sorriu. Estava exatamente atrás dela; colada nela. Seguiu os passos da filha o tempo todo; brincando de sombra. Socorrinho também sorriu, desarmada. Compreendeu naquele instante, o porquê do sorriso das pessoas. Durante todo trajeto, pensou que estava caminhando sozinha e via naquele momento, que sua mãe estivera com ela todo tempo, protegendo-a, guardando-a, impedindo que qualquer mal lhe acontecesse. Foi um gesto lindo de sua mãe. Ficou comovida. Enquanto vivesse, lembraria com o maior carinho dessa “sombra amiga” - desse momento ímpar; dessa prova genuína de amor. Socorrinho se recuperou completamente do mal que a afligia: “A síndrome do pânico”. Hoje é uma pessoa normal, saudável, alegre e descontraída. Trabalha, passeia, viaja, diverte-se, dirige seu automóvel, participa intensamente de todo e qualquer evento social - festivo ou solidário; na alegria ou na dor - profissional, esportivo e religioso, que a vida lhe apresente e que durante dezoito anos de sua vida esteve impossibilitada de realizar. Contou com a ajuda valiosa de dois profissionais da área de saúde: seu médico, que lhe administrava a medicação para anular os sintomas desagradáveis de uma crise de Pânico, e sua psicóloga, que a acompanhava passo a passo, semana após semana, orientando-lhe nos exercícios diários de readaptação à vida. Contou ainda com o apoio indispensável de bons amigos e sobretudo, de toda sua família. Sente-se até mais feliz do que antes e bem mais amadurecida, porque afinal o sofrimento

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amadurece as pessoas e de cada experiência sempre se tira alguma lição. Segundo o seu médico, a doença é uma surra de humanidade... E se isso faz algum sentido, certamente Socorrinho está agora mais humana e mais solidária para enfrentar a vida e disposta a estender a mão para amparar alguém. Agradece a Deus o presente maior: “ o milagre da vida” e atribui a Dona Ruth - (sua SOMBRA AMIGA), uma grande parcela de colaboração no seu restabelecimento.” Obs.: O conto A SOMBRA AMIGA – extraído da vida real - é parte integrante do livro de minha autoria: O FANTASMA DO PÂNICO OU O FUNDO DO POÇO: COMO ESQUECER? (Relato pessoal sobre a minha experiência com o Transtorno do Pânico).

Agradeço a Deus pela minha mãe Maria Ruth Marinho Capiberibe – a minha sombra amiga. À minha Psicóloga Cristina Jatobá. E ao meu médico Wilson De Oliveira Jr.

Socorro Capiberibe www.socorrocapiberibe.com.br


ARTIGO

Desaparecidos Marcos A.M. Bittencourt - Psicólogo Clínico

Eis aqui um tema que muito pouco é falado, uma “palavra silenciosa” que traz muito sofrimento a quem espera seu(ua) querido(a) a qualquer momento bater à porta de casa dizendo que está vivo. Apesar do apoio da novela Explode Coração (Glória Perez, 1995/1996), essa é uma dor que passa praticamente invisível aos olhos da sociedade. O aparecimento de fotos de crianças desaparecidas nos capítulos da novela ajudou a encontrar 60 crianças até o fim da novela. De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco (http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/pernambuco-registra-media-de-tres-desaparecimentos-de-criancas-e-adolescentes-a-cada-dia-diz-policia.ghtml) o estadoregistra média de três desaparecimentos de crianças e adolescentes a cada dia, tendo em 2016 o registro do desaparecimento de 1.104 menores, cujo índice de encontro é de 85% a 90%. Mas fica aí uma dor para 10% a 15% de famílias que não têm o mesmo alívio, o do reencontro. Quando podemos considerar que alguém está desaparecido? Convém informar que não existe o critério de se considerar desaparecida a pessoa que não é encontrada em 48 horas. Isso geralmente é uma orientação da Polícia Civil que muitas vezes se nega a fazer o BO por achar prematuro demais. A lei federal 11.259 de 30 de dezembro de 2015 determina que as delegacias iniciem as buscas por crianças e adolescentes assim que boletim de ocorrência seja registrado, independente do tempo em que a criança esteja desaparecida.De acordo com o autor da tese “Desaparecidos civis: conflitos familiares, institucionais e segurança pública”,o sociólogo e pesquisador Dijaci David Oliveira,“o desaparecido civil se caracteriza como uma pessoa que deixou sua família e seu laço afetivo e nunca mais foi vista, sem manifestar anteriormente o desejo de partir”. Mas, por que as pessoas desaparecem? Um dos motivos é a violência doméstica (que responde por boa parte dos casos), mas também pode ser resultado da criminalidade urbana, de problemas de saúde, de acidentes variados, negligência (crianças ou outros dependentes que se perdem dos pais ou responsáveis), por causa do consumo de drogas, entre outros, explica Oliveira. Outras possíveis causas pelas quais as pessoas desaparecem são: depressão, drogas, Alzheimer e problemas mentais. Com a demora de informações sobre o desaparecido e o avançar do tempo que não traz de volta o ente querido, as possibilidades de transtornos na família são evidentes. O isolamento das pessoas com o aparecimento da depressão pode ocorrer. Cada qual com o seu silêncio e sua dor.

Ou também, em função de um jogo de culpa, pode ocorrer uma desestruturação na família com separação e divórcio. Alguns podem até tentar compensar esse sofrimento com o uso de álcool e drogas. A produtividade no trabalho é afetada de forma prolongada, diferentemente de um luto por morte em que essa produtividade é afetada temporariamente. Isso porque se trata de um luto que não consegue ser iniciado nem acabado. Eis aqui parte da dinâmica psíquica do parente do desaparecido. Não se tem um corpo vivo ou morto. Chora-se pelo incerto e pelo duvidoso, chora-se por aquilo que se espera mas que não vem. Há um sentimento de culpa aí. Hugo desapareceu aos 10 anos de idade. Francisca, a mãe, ao registrar o B.O., ouviu na delegacia: “Meus filhos não brincam na rua como os seus”. Francisca vestiu-se de mendiga e passou noites inteiras na Cracolândia, procurando seu filho Hugo. Mas também tem um sujeito dividido entre o medo da morte desse parente desaparecido e a esperança de que esteja vivo. A pessoa se agarra a qualquer coisa que simbolize ou que lembre o desaparecido, um objeto, um retrato, uma peça de roupa, uma informação passada por alguém (por mínima que seja) como se isso pudesse fazer resistir em suas mãos o seu desaparecido. Diria que a incerteza é combustível para a Esperança, na medida em que se crê contra a incerteza. “Tenho certeza que a Fabiana está viva. A esperança de encontrá-la é o combustível que move a minha vida” (Ivanise Esperidião, mão de Fabiana, 2012). Como a família pode lidar com uma situação dessas? Não é fácil. Qualquer coisa que se diga aqui esbarra num sofrer que não se conforma a qualquer argumentação de consolo. Mas, é preciso lidar minimamente com essa situação e tudo começa com a tarefa de romper com o isolamento, pois o isolamento é lugar de culpa e o lugar de culpa é também um lugar de autopunição, um sofrimento a mais. Se está difícil, convém buscar apoio profissional seja através da Psicoterapia individual, seja através da Psicoterapia de família. Buscar laços com outros que tenham dor semelhante, através de grupos operativos e associações organizadas para essa finalidade. Esse é o momento de estar com pessoas, cercado de amor e amizade. Por fim, a pessoa se encontra numa tarefa de ressignificação da existência, através da busca de motivos pelos quais possa continuar existindo, lutando. Mais informações no site Desaparecidos do Brasil( http://www.desaparecidosdobrasil.org/ ) e na página do Comitê Internacional da Cruz Vermelha-CICV ( https://www.icrc.org).

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Música

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A CABANA Um homem vive atormentado após perder a sua filha mais nova, cujo corpo nunca foi encontrado, mas sinais de que ela teria sido violentada e assassinada são encontrados em uma cabana nas montanhas. Anos depois da tragédia, ele recebe um chamado misterioso para retornar a esse local, onde ele vai receber uma lição de vida.

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O FANTASMA DO PÂNICO OU O FUNDO DO POÇO Autor: Socorro Capiberibe Idioma: Português Editora: Socorro Capiberibe Assunto: Psicologia Edição: 4ª Ano: 2003

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SALA DE LEITURA // HORA DO CONTO

O tempo passou e me formei em solidão José Antônio Oliveira de Resende*

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho, porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um. – Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre. E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia. – Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável! A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia: – Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa. Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa. Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.

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Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade... Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite. O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, internet, e-mail, Whatsapp ... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa: – Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais. Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores. Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...

Que saudade do compadre e da comadre!... *Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João-Del-Rei. Fonte: Facebook


PERFIL DA PSICÓLOGA

Flávia Tavares da Rocha Psicóloga Clínica, graduada pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO) Pós – graduada em Terapia Cognitivo Comportamental pela Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS)

O que a levou a escolher a profissão?

assumir um compromisso com o paciente.

O ser humano sempre me despertou muita curiosidade, minha primeira formação foi em Ciências Biológicas, até o momento em que por motivo de adoecimento na família, passei a estudar muito a mente humana e percebi que meu interesse maior era pelos pensamentos, emoções e comportamentos humanos.

Que sugestões você daria para uma formação acadêmica mais qualificada no país?

Como psicóloga clínica, como você vê o uso da medicação no tratamento do Transtorno de Pânico e outros transtornos de ansiedade? A medicação para o tratamento de transtornos mentais deve ser vista como qualquer medicação. Há momentos, em que o organismo reage sozinho, mas há outros em que precisa de apoio, seja psicoterápico, medicamentoso ou de uma mudança de hábitos. Na prática clínica, o que considera mais importante para a eficácia do tratamento? Empatia e acolhimento. Uma escuta ativa, limpa e interessada. É importante

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O ensino está cada vez mais precário, tudo é muito rápido e superficial, faltam aulas práticas e uma formação mais profunda. É necessária uma completa restruturação no país, isso demanda tempo e interesse, mas até que isso aconteça, cabe aos profissionais e estudantes se comprometerem e se capacitarem cada vez mais.

mudança de hábitos, buscando melhor qualidade de vida e psicoeducação, acredito sim na possibilidade de cura. Uma pessoa que admira: Minha mãe, por sua gentileza, mesmo sendo uma mulher tão forte. Um hobby: Sair com meus filhos Um sonho: Mais respeito por parte da humanidade pelo seu semelhante Um filme: Um Sonho de Liberdade, de Stephen King Uma música: Máscara, de Pitty e Do it, de Lenine Uma frase: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” – C. Jung

Em sua opinião o Transtorno de Pânico tem cura ou controle? O primeiro passo é a aceitação, é isso que vai levar o paciente a procurar ajuda profissional e a compreender melhor o funcionamento da doença, aprendendo a reconhecer seus gatilhos e a lidar com os sintomas. O foco do tratamento deve ser no controle, mas com psicoterapia, medicação, quando necessária,

Uma mensagem: “Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.” (Fernando Pessoa)

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