Pontivírgula nº19

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Direcção: Patrícia Fernandes e Joana Cavaleiro Edição nº19 - Fevereiro de 2015 - Publicação Mensal

ESPECIAL ÓSCARES

“A cerimónia de entrega dos prémios da Academia norte-americana é muito mais que cinema. O mediatismo e a opulência do espectáculo atraem públicos variados, que tanto podem estar interessados em saber se o seu director de fotografia predilecto sairá galardoado ou em apreciar decotes fartos e torsos esculpidos. ” » página 24 O novo segmento do Pontivírgula, ‘O que visitar em...’, estreia-se com um especial sobre a cidade de Roma. » página 20

ENTREVISTA À PROFESSORA ALEXANDRA LOPES

Pessoa tem uma outra mensagem

lifestyle: O melhor do mundo

“Entrevista à Professora Alexandra Lopes, responsável pela coordenação pedagógica do mestrado de Estudos de Cultura. O que é? Porque funciona? Quem está por detrás?”

“Lisboa é a cidade das ruas palmilhadas por indivíduos, com a esperança de encontrar algum tesouro escondido, algures. ”

“No entanto, há uma época do ano em que nos sentimos orgulhosos da nossa cidade. Uma época de rever amigos perdidos no tempo. Uma época de divertimento. A época do melhor do mundo. O nosso carnaval. ”

» páginas 5 a 8

» página 21

» página 23


EDITORIAL

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“Um aspecto essencial da criatividade é não ter medo de fracassar.” Edwin Land

É possível ser-se criativo no Jornalismo? Com alguma investigação e ponderação, confirmei que era possível. O fundamental do jornalismo é dar notícias, mas, principalmente, dar notícias que interessem às pessoas, mesmo que elas não saibam, e dar a conhecer novos temas, ideias... E nada melhor do que um texto jornalístico para reflectir esse lado mais criativo. Eu sou a favor de um jornalismo romantizado, muito baseado nos p r i m ó rd i o s literários, que são a base do jornalismo como o conhecemos.

Na verdade, seria ingénua se acreditasse que, realmente, tenho a capacidade de mudar a mentalidade de alguém, mas ao motivar outro a não ter medo de pensar e ao aceitar a sua opinião sinto que já fiz parte do meu papel enquanto futura jornalista, editora deste jornal e cidadã. Reforçando a citação de Edwin Land, a criatividade implica uma mudança de paradigma e isso obriga a que não tenhamos medo do fracasso e é, precisamente, nisso que acredito, enquanto jornalista... No poder que um jornalista tem em se tornar uma peça fundamental que pode motivar uma mudança de pensamento.

E, sendo um mês muito agitado, o Pontivírgula contará com um Especial Óscares que vai reflectir sobre os vencedores e vencidos desta última edição, uma coluna apaixonada dedicada ao Carnaval ou uma ode ao estilista Alexander McQueen... Mas também serão abordados temas como os acontecimentos E, como re f e r i n u m na Ucrânia, a mudança política na editorial anterior, é uma Grécia ou as polémicas instaurapreocupação minha – enquanto das no mundo tecnológico. futura jornalista, editora deste jornal e cidadã – alimentar as No mundo das artes, opiniões dos meus colegas falar-se-à de Life is Strange, e escritores do Pontivírgula. um videojogo irreverente Quantas vezes já não discor- que vai merecer a nossa dei de uma opinião ou da per- atenção, dos mitos da música e, na spectiva apresentada sobre um literatura, uma ponderação sobre o determinado tema... Inúmeras! fenómeno que tem agitado o No entanto, foram, precisa- mundo. mente, esses que me ensinaram a importância de manter uma mente Por fim, deixo um emocionado aberta. agradecimento à Daniela Trony pelo apoio que deu ao jornal E, por isso, exijo das pessoas nesta edição, nomeadamente pelo que coordeno que nunca deixem incrível design da capa. de alimentar esse lado opinativo, e que não tenham medo de arriscar Aconselho vivamente uma um tema considerado polémico leitura atentada desta edição... ou mais difícil de abordar, pois só Boas Leituras, deste modo se consegue mudar Patrícia Fernandes mentalidades. Há uma forte resistência à aceitação da opinião do outro, de pensamentos contrários aos nossos e muito vem desta falta de alimentação do debate e da discussão acesa das várias problemáticas que vão surgindo na sociedade.

Ficha Técnica Directora: Patrícia Fernandes

Vice-Directora: Joana Cavaleiro

Redacção

Alexandra Antunes Alexandra Nogueira Catarina Félix Dina Teixeira Francisco Bruto da Costa Guilherme Tavares Inês Amado Inês Cruz Inês Linhares Dias Joana Contreiras Joana Fernandes Joana Santos Karla Pequenino Madalena Gil Manuel Cavazza Maria Manuel de Sousa Mariana Fidalgo Sara Plácido Susana Santos

Colunistas

Catarina Veloso, Moda Daniela Ribeiro de Brito, Desporto Diogo Barreto, Música Inês Sousa Almeida, Séries Joana Cavaleiro, Literatura João Marques da Silva, Cinema Mariana Leão Costa, Lifestyle Michelle Tomás, Actualidade Mitchel Martins Molinos, Gaming/ Internet Pedro Pereira, Literatura Contacto: jornal.pontivirgula@gmail. com REDES SOCIAIS

Site: www.jornalpontivirgula.wix.com/ jornalpontivirgula Facebook: www.facebook.com/ pontivirgula.geral

Jornal redigido com o antigo acordo ortográfico, salvo quando indicado.


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Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa: Alargar Horizontes Teve lugar a 30 de Janeiro a sessão académica comemorativa do Dia Nacional da Universidade Católica Portuguesa (UCP), sob o lema “Alargar Horizontes”. A cerimónia iniciou-se com o tradicional cortejo académico, após o qual discursou a Reitora da UCP, Professora Doutora Maria da Glória Dias Garcia. Foi igualmente celebrado o Doutoramento Honoris Causa do Cardeal Gianfranco Ravasi, cujo padrinho é o Professor Doutor José Tolentino Mendonça, Vice-Reitor da UCP. Seguiu-se a entrega das cartas doutorais e a imposição de insígnias aos doutores que obtiveram o grau em 2014. Homenagearam-se também, através da atribuição de medalhas de prata, os funcionários que completaram 25 anos de serviço na UCP em 2014. As

intervenções

musicais

escutadas

durante

a

cerimónia foram da responsabilidade do coro da sede da UCP, sob a direcção do Maestro Sérgio Peixoto.

Antes do cortejo académico, que encerrou a sessão solene, foram proferidas algumas palavras pelo Magno Chanceler.

© Universidade Católica Portuguesa

Sara Plácido

O início do fim: Cerimónia de Bênção e Entrega de Diplomas Ouviram-se também os discursos de João Carmona, que concluiu a licenciatura em Comunicação Social e Cultural em 2014, e Maria Leonor Silva, que se tornou mestre em Ciências da Comunicação no mesmo ano. Antes da entrega dos diplomas, um sacerdote procedeu à bênção dos mesmos.

© Universidade Católica Portuguesa

No passado dia 20 de Fevereiro, teve lugar, no Auditório Cardeal Medeiros da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa, a cerimónia de bênção e entrega de diplomas aos licenciados, mestres e pós-graduados pela Faculdade de Ciências Humanas (FCH), relativos ao ano lectivo 2013/2014. A comemoração reuniu a comunidade académica e alguns familiares e amigos dos alunos presentes. A assembleia teve início com uma intervenção do Director da FCH, Professor Doutor José Miguel Sardica. De seguida, o Professor Doutor Nelson Costa Ribeiro brindou a audiência com a oração de sapiência intitulada “O Discurso sobre os Novos Media: utopia e disrupção”.

Complementarmente, durante o evento, procedeu-se à entrega dos seguintes prémios relativos ao ano lectivo 2013/2014: o Prémio de Excelência FCH, atribuído aos alunos com média superior a 17 valores; menções honrosas para os licenciados e mestres com as médias mais elevadas e, por fim, o Prémio Rádio Renascença, concedido ao licenciado em Comunicação Social e Cultural na vertente de Comunicação Social/Jornalismo com a média mais alta. Foi também outorgado ao respectivo vencedor o prémio do concurso de ensaio “O que é Guerra?”, inserido na área científica de Filosofia. Da mesma forma, foram conferidas menções honrosas a dois outros ensaios subordinados à mesma temática. Os momentos musicais da cerimónia estiveram a cargo do grupo Sine Nomine. A sessão encerrou com as palavras da Reitora da UCP, Professora Doutora Maria da Glória Dias Garcia. Sara Plácido


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Todos à Expocarreiras A oitava edição da Expocarreiras, realizada no passado dia 11 de fevereiro no Auditório Cardeal Medeiros da Universidade Católica Portuguesa, teve como tema “Conhecimento, Criatividade e Inovação”. No evento anual, promovido pela Faculdade de Ciências Humanas, estiveram presentes mais de duas dezenas de empresas, entre as quais a Jerónimo Martins, “O Observador”, a Nestlé, a Mega Hits, e a Eurest. Na parte da manhã, houve uma sessão de abertura com a Reitora da Universidade Católica Portuguesa, Maria da Glória Garcia, e o Diretor da Faculdade de Ciências Humanas, José Miguel Sardica. Seguiu-se a conferência inaugural “Do conhecimento à Inovação e Criatividade”, com o Dr. Pedro Saraiva e ainda um painel interativo denominado “A inovação faz-se”, que foi moderado pelo Professor José Manuel Seruya e que contou com a participação dos representantes das organizações O Observador, Jerónimo Martins, Tese e o Mude.

O OpenDay, uma iniciativa anexada à Expocarreiras e destinada a alunos de secundário, decorreu da parte de tarde. Dirigido pela equipa da AEFCH, o OpenDay focou-se na divulgação da oferta formativa da FCH, em esclarecimentos de dúvidas, bem como na transmissão de outras informações relevantes para os interessados, tal como o programa Erasmus e outros de voluntariado. Após a recepção aos alunos do secundário com o Fórum de acolhimento - “Uma Carreira de Sucesso Começa na Universidade”, alguns elementos da AEFCH convidaram os alunos do secundário para uma visita guiada pelo campus da faculdade. Passaram, assim, algumas horas de convivência entre alunos em iminente entrada no ensino superior e alunos mais velhos com relatos universitários para contar. A AE tem aproveitado estes momentos para divulgar a importância de uma entidade académica íntegra, momentos estes que são, das palavras da Presidente da AE, Sara Plácido, “preciosos”. O êxito deste evento reside no facto de se promover a aproximação dos alunos ao mercado de trabalho, facilitando a interação com as empresas, o conhecimento de estágios de verão, nacionais ou internacionais, e curriculares ou profissionais. Perante um mercado de trabalho cada vez mais desafiante e competitivo, esta aproximação às empresas traz uma grande motivação quanto ao futuro profissional dos alunos. A interdisciplinaridade é notória neste evento, na medida em que é dirigido às várias áreas da faculdade, englobando, por isso, organizações direcionadas para todos os cursos.

© Mariana Fidalgo

Outra importante iniciativa foi o workshop “Como sobreviver ao recrutamento?”, em que foram dadas a conhecer dicas importantes para o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes, inclusive as soft-skills que mais pesam atualmente no mercado de trabalho.

Esta iniciativa foi marcada pelo sucesso ao contar com a participação de cerca de 25 empresas, 550 alunos das licenciaturas e ainda 100 alunos do secundário, que aproveitaram o OpenDay para conhecer a oferta formativa da Universidade Católica.

Na parte da tarde, o workshop «“Luzes, Câmaras, Acção!”- Profissões à frente e atrás das câmaras» foi dirigido pelo Link2u, Centro de Formação Profissional RTP, permitindo aos alunos um contacto direto com as várias profissões ligadas ao meio televisivo. Também a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Humanas esteve, mais uma vez, presente nesta iniciativa dirigida aos estudantes, apostando num contacto permanente com os alunos da faculdade com a divulgação dos projectos já executados e dos planos que se seguem.

© Mariana Fidalgo

Inês Amado e Dina Teixeira


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Mestrado em Estudos de Cultura da FCH no TOP 3 no ranking da Eduniversal Entrevista à Professora Alexandra Lopes, responsável pela Coordenação Pedagógica do mestrado.

O que é? Porque funciona? Quem está por detrás? O Mestrado em Estudos de Cultura da FCH é o 3º melhor do mundo, segundo o ranking da Eduniversal. Para descobrir mais sobre o programa e os motivos do sucesso falámos com a responsável pela coordenação pedagógica: a professora Alexandra Lopes. A FCH entra com o pé direito em 2015! O Mestrado em Estudos da Cultura ocupa o 3º lugar do pódio do ranking mundial da Eduniversal que avalia anualmente os melhores 4000 mestrados em 30 áreas do saber. A posição alcançada é motivo de orgulho e prova de que a nossa faculdade é “a marca que marca” mesmo a nível internacional. Os critérios da Eduniversal são o nível de empregabilidade e a satisfação dos alunos, mas qual é o segredo da FCH para alcançar esses valores? Porque é que os estudos culturais continuam a ser uma área a investir nos nossos dias? O Pontivírgula falou com a responsável pedagógica do mestrado, a professora Alexandra Lopes. Seguem as respostas e mais sobre um dos nomes por detrás da gestão do mesmo. Pontivírgula: Primeiro que tudo: o que é um Mestrado em Estudos de Cultura na FCH? Alexandra Lopes: É um mestrado para todos os interessados numa discussão mais aprofundada dos fenómenos culturais. Atualmente oferecemos três especialidades: uma em Gestão das Artes e da Cultura, que foi a destacada pela Eduniversal, outra em Culturas Literárias e outra em Performance e Criatividade. Uma das grandes valias do nosso mestrado é integrar o The Lisbon Consortium, que é uma enorme rede de parceiros que inclui as principais instituições da cidade de Lisboa. Por exemplo, a Câmara Municipal, mas também a Gulbenkian, a Culturgest, a Cinemateca e o Teatro Nacional. Nós não existimos isoladamente na universidade, o que permite uma interação muito estimulante e criativa entre os nossos estudantes e as instituições. A Summer School é outra vantagem. Trata-se de uma semana intensiva, no verão, em que oferecemos lições de grandes nomes dos estudos de cultura e também apresentações de projetos de doutorandos que vêm um pouco de todo o mundo mostrar os seus trabalhos. O interesse é grande porque os alunos podem discutir os seus p ro j e t o s , em fases mais ou menos avançadas, com outros colegas da área e com grandes referências dos estudos culturais como é o caso do professor Tony Bennett.

“É um mestrado para todos os interessados numa discussão mais aprofundada dos fenómenos culturais.”

Pontivírgula: A quem se destina o Mestrado em Estudos de Cultura? Alexandra Lopes: O mestrado dirige-se primariamente a licenciados das áreas de Humanidades e de Ciências Sociais, mas não só. Cada vez nos chegam mais alunos com origens e formações diferentes. Temos atraído pessoas de backgrounds em Artes, Direito e até Farmácia. Do âmbito das Artes, por exemplo, os alunos dominam perfeitamente tudo o que é a prática artística, mas querem um enquadramento teórico e conceptual que a permita entender melhor. No caso de backgrounds mais “exóticos”, como Medicina, são pessoas que sempre se interessaram paralelamente pelo fenómeno cultural e que querem mudar de carreira ou alicerçar o fenómeno cultural naquilo que fazem. Temos uma aluna de Direito que escolheu o nosso mestrado porque sempre quis entender o Direito como um fenómeno cultural e, simultaneamente, de forma mais ágil e mais aprofundada. Pontivírgula: O mestrado foi restruturado o ano passado. Qual a importância de modificar e atualizar o programa? Alexandra Lopes: Gostamos de manter o mestrado a par do que vai sendo publicado e pensado pelo mundo fora. Queremos que continue a ser interpelante e atual para os alunos, não no sentido de estarmos a correr atrás das modas, mas no sentido de percebermos quais os instrumentos mais adequados para pensar o fenómeno cultural na contemporaneidade. Por outro lado, queríamos um maior investimento na Gestão das Artes e da Cultura, que é uma variante que surgiu quase de raiz com a restruturação.

© Daniela Agostinho (Project Officer do Consórcio de Lisboa e do projecto europeu Culture@Work)


FCH Pontivírgula: Qual o motivo de se investir em Estudos de Cultura nos nossos dias? Alexandra Lopes: Por muitas razões! As mais óbvias vêm da importância que o entendimento de cultura e dos fenómenos culturais têm no nosso estar no mundo, mas existe outra razão muito pragmática, que muitos ignoram, que é aquilo a que chamamos Indústrias da Cultura. As indústrias culturais e criativas constituem crescentemente uma área de destaque nos países de grande sucesso económico. A professora Isabel Gil (responsável pela coordenação científica do mestrado) gosta muito de citar o caso de as indústrias culturais e criativas na Alemanha terem uma receita maior do que a da indústria automóvel. Ou seja, do ponto de vista estratégico esta é uma área para apostar que pode constituir uma alternativa a todo o miserabilismo que vemos nas coisas que são estritamente económicas. Pontivírgula: Em Portugal também existe mercado para as Indústrias Culturais? Alexandra Lopes: Há mercado para profissionais em estudos culturais um pouco por todo o mundo. As indústrias criativas são neste momento uma área que encontra grande apetência e curiosidade, por exemplo, no mercado asiático. Também existe emprego em Portugal, visto que as nossas cidades estão a apostar muito na criatividade como um meio para as enriquecer, não só no sentido metafórico, como no literal. Isto não significa que as pessoas saiam do mestrado e arranjem emprego no minuto seguinte, mas existe mercado e, como em qualquer área, a iniciativa e a criatividade são muito importantes. Pontivírgula: Para os interessados em Indústrias Culturais, porque é que se deve apostar na nossa faculdade? Quais os motivos do sucesso do Mestrado em Estudos de Cultura da FCH? Alexandra Lopes: Há um grande dinamismo no nosso mestrado. Como disse, integramos o programa The Lisbon Consortium, cujas instituições apresentam regularmente projectos em que os alunos interessados podem participar. A aposta que é feita pelos alunos pode ser aprofundada, ou seja, o aluno pode decidir que é com aquele projecto que quer terminar o mestrado, ou pode ser paralela a uma dissertação que esteja a realizar. Estas parcerias que a FCH oferece são uma das razões do sucesso, mas outra são os alunos e os professores. Na minha opinião, temos um corpo docente de elevada qualidade que inclui não só o corpo da FCH, mas também o grupo de convidados internacionais que vêm dar seminários que funcionam intensivamente durante uma semana. Vamos ter em março o Dr. Carles Guerra, curador e crítico de arte catalão que é professor na Universidade Pompeu Fabra, a lecionar Gestão de Projetos Culturais.

06 Também temos imensa sorte com os alunos, porque temos captado os melhores dos melhores e neste ranking é muito importante o contributo que os alunos dão para a apreciação do mestrado. Temos tido um conjunto de estudantes de origens muito diversas, que é muito ativo, participativo e criativo.

“Há uma idade em que se ensina o que se sabe, mas em seguida vem outra idade em que se ensina o que não se sabe.” Pontivírgula: Como docente de cadeiras de licenciatura na FCH, deve ver os alunos finalistas confusos quanto ao que fazer depois de acabarem o curso. Recomenda um mestrado logo após a licenciatura? Alexandra Lopes: Penso que depois do Processo de Bolonha, os alunos precisam muito de fazer um mestrado independentemente da área escolhida. Os cursos na licenciatura são curtos e condensados e os alunos beneficiam de um tempo de maior reflexão, quase digestão, de tudo o que foram aprendendo. Para mim é importante fazer o mestrado depois da licenciatura porque ainda não se perdeu o ritmo de estudar. Muitos alunos que entram logo no mercado de trabalho e regressam, mais tarde, para fazer qualquer tipo de formação sentem dificuldade em voltar aos estudos porque já se habituaram a ser independentes, já têm outro ritmo e, por vezes, já têm família constituída. Por outro lado, há cada vez mais mestrados de pendor profissionalizante que ajudam o aluno a encontrar a área em que possivelmente vai querer trabalhar. Pontivírgula: O seu próprio percurso foi linear? Sempre soube que também ia acabar por dar aulas? Alexandra Lopes: Nunca sonhei ser professora, mas também não fui daquelas pessoas que sabiam desde muito cedo o que queriam ser. Fui para Letras porque gostava de ler e gostava de pensar num conjunto de questões relacionadas com a área e, no meu caso, lecionar surgiu como uma consequência feliz porque descobri que gosto muito de dar aulas! Gosto muito de ouvir aquilo que os alunos têm para dizer e de pensar que ensinei alguma coisa. Há uma frase do Roland Barthes que é muito engraçada e em que acredito: “Há uma idade em que se ensina o que se sabe, mas em seguida vem outra idade em que se ensina o que não se sabe”. Acho que é uma ideia muito estimulante, porque é importante mostrar aos alunos que todo o processo de saber põe em descoberto coisas que afinal não sabemos e eu gosto imenso de aprender com os alunos.


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07 Pontivírgula: Pode partilhar a história por detrás da “consequência feliz”? Alexandra Lopes: Resultou do meu processo de mobilidade enquanto estudante. Nunca fiz Erasmus porque o programa foi criado no meu último ano de faculdade, mas no ano a seguir a ter terminado a licenciatura fui dois semestres para a Alemanha ao abrigo de um programa do atual Instituto Camões. Adorei! Mais tarde voltei para fazer o Mestrado em Estudos Alemães e depois voltei, outra vez, para fazer a dissertação do mestrado. Dessa última vez estive numa universidade muito pequenina em Trier, a cidade mais antiga da Alemanha, onde estava a ser criado um centro de documentação de Portugal. Tive a oportunidade de lá trabalhar e convidaram-me para dar aulas de Português que foi uma experiência fascinante. Aprendi imenso acerca de como a língua portuguesa funciona, pois até aí muito do que sabia tinha aprendido intuitivamente. Ao regressar, fui convidada para dar aulas de Alemão aqui na UCP e permaneci. Como disse, uma consequência feliz. Pontivírgula: O que é para si a componente mais gratificante em ser professora, nomeadamente da cadeira de Tradição dos Grandes Livros? Alexandra Lopes: Penso que existem três grandes grupos de alunos em TGL. Um dos grupos engloba os alunos que sempre leram, que gostam de ler e que gostam da cadeira porque os livros do programa, ou outros quaisquer, os interpelam independentemente do professor. Depois existe o grupo dos alunos que nunca leram, nunca vão ler, acham aquilo tudo uma grande massada e que fazem a cadeira porque são obrigados. Finalmente há o grupo do meio do qual não tenho uma percentagem certa, mas sei que existe todos os anos. São aqueles que não leem muito, achavam que não gostavam de ler e depois se sentem interpelados pelas obras e passam a querer ler mais. Criar esse impulso para a leitura é bom e é muito gratificante como professora. Pontivírgula: Outro campo em que já trabalhou foi em Tradução. Tem projetos na área para o futuro? Alexandra Lopes: Já não traduzo literatura há algum tempo e confesso que tenho muitas saudades. Sendo que é um processo, que quando estou a passar por ele, é relativamente doloroso. Acho sempre que não vai correr bem e há uma expressão do Vasco Graça Moura que é muito boa e que resume o ato de traduzir como “uma luta corpo a corpo”. É nós reconhecermos os méritos e as qualidades do texto original e tentarmos produzir um texto homólogo na nossa língua. Já traduzi autores muito diferentes e, por vezes, sinto que é muito difícil encontrar um tom justo para aquilo que estamos a fazer.

Professora Alexandra Lopes, em Erasmus na Alemanha

Pontivírgula: Qual foi a sua experiência mais gratificante como tradutora? Alexandra Lopes: A experiência mais libertadora que já tive foi traduzir um livro trivial que não tinha qualidade literária particular, do género do Chick Lit, porque o texto tinha acima de tudo que comunicar com o leitor. Não havia aquela ponderação de “Meu Deus, isto aqui está tão bem formulado… Que grau de sofisticação há aqui no uso da linguagem”, o que a tornou uma experiência muito interessante.

“Há uma expressão do Vasco Graça Moura que é muito boa e que resume o ato de traduzir como ‘uma luta corpo a corpo’.” Pontivírgula: Como se sente quando percebe que os alunos leem as suas traduções? É uma responsabilidade acrescida? Alexandra Lopes: Por acaso só aconteceu uma vez e, para ser honesta, eu queria muito que os alunos não lessem a minha tradução. Primeiro porque não gosto de autopromoção e depois porque neste caso em particular a cadeira tinha muitos alunos Erasmus, o que tornava mais fácil que se trabalhasse o livro em Inglês. Contudo, há alunos com mais dificuldades na língua inglesa e não tenho a hierarquização na minha cabeça de que o original é sempre o melhor, até porque em TGL se leem sobretudo traduções. Sem dúvida que existe uma responsabilidade acrescida quando os meus alunos leem o que eu traduzo porque ao realizar uma tradução estamos a expor-nos e existem sempre comentários em que se debate se a tradução está em conformidade com o texto original. Contudo, foi muito engraçado ouvir os “Ahh!” dos alunos e ver as suas caras quando reparavam que a tradução era minha.


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Perfil

Pontivírgula: O que é para si Cultura? Alexandra Lopes: É impossível de definir completamente! Eu gosto da conceção mais ampla que segue um pouco o que o Eliot e o Raymond Williams dizem, que é a ideia de que cultura é tudo aquilo que uma comunidade faz, produz e pensa. No fundo, todos os modos de vida dessa mesma comunidade. Contudo, para mim, esta conceção contemporânea de cultura traz grandes problemas se quisermos ser muito inclusivos. Ao querermos respeitar os modos de vida das diferentes culturas, embatemos sempre em questões que são fundamentais na contemporaneidade e que têm de ver, entre outras coisas, com os direitos humanos. Nas várias cadeiras que dou acerca do que é cultura e do que é a inclusão em cultura, acho que é fundamental ver onde a nossa vontade de incluir e de entender o outro na sua especificidade choca com princípios que são fundamentais para nós. Por exemplo, a liberdade de expressão ou os direitos das mulheres. É um problema que me preocupa e que está sempre subjacente àquilo que eu penso, que é que a cultura deve ensinar práticas de inclusão, mas há barreiras. Há momentos em que nós próprios nos temos de interrogar acerca de quais são os limites e saber o que é para nós inaceitável. Pontivírgula: Existe mais algum projecto que queira destacar ao nível do trabalho que realiza na área científica de Estudos de Cultura? Alexandra Lopes: Não queria deixar de destacar o Católica Languages and Translation que é um projeto muito interessante que a área científica de Estudos de Cultura está agora a organizar. É uma estrutura que vai oferecer cursos de curta e média duração de línguas. Isto é muito importante, por exemplo, para a preparação para o Erasmus no caso daqueles alunos que querem muito ir para um país em que se fala uma língua que não é a que estudam na Católica. Existirão pequenos cursos e haverá talvez um pequeno workshop chamado Ready to Go que será uma espécie de “survival kit” para sobreviver num país cuja língua não é a língua que o aluno fala. Existirão também cursos mais longos, porque cada vez mais as universidades estrangeiras estão a pedir um conhecimento mínimo de línguas. A nossa abertura em julho terá ainda um Curso de Língua e Cultura Portuguesa. Pontivírgula: Existe mais algum projecto que queira destacar ao nível do trabalho que realiza na área científica de Estudos de Cultura? Alexandra Lopes: Independentemente da área, o mais importante é a marca pessoal que uma pessoa imprime no que aprendeu. É isso que faz a verdadeira diferença no mercado de trabalho! Os alunos não se devem limitar a reproduzir lugares comuns que depois todos os colegas daquele ano vão reproduzir. Deve existir uma apropriação daquilo que se foi aprendendo de modo a que numa entrevista de emprego se consiga mostrar iniciativa, provar que se pensou acerca das coisas e que não se é meramente mais um.

Karla Pequenino

Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico

Uma palavra que a descreva? Empenhada. É hábito dizer aos meus alunos que se não tiver mais virtude nenhuma, tenho a virtude do empenho. Acho que sou empenhada naquilo que faço e isto pode ter consequências positivas e negativas. Para os alunos, por exemplo, pode ter muitas consequências negativas… Mas penso que é isto: não sei não ser toda naquilo que faço. Citação preferida? “Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor.” Do Samuel Beckett. A ideia que mais me interessa é a de fracassar melhor. De querermos, nós, o ser humano, alcançar a utopia… Aquilo que nos cabe é sempre fracassar melhor. Quanto à arte, gosto muito da ideia da Susan Sontag de que “a arte verdadeira tem a capacidade de nos deixar nervosos”, porque é uma definição maravilhosa do que é literatura e do que é arte. No fundo, é tudo aquilo que não nos deixa iguais ao que éramos antes. Livros de Eleição? Wuthering Heights (Monte dos Vendavais), da Emily Brontë; The Catcher in the Rye (À Espera no Centeio), do J.D Salinger; The End of the Affair (Pelo Amor de Meu Amor), do Graham Greene. O autor a que regressa sempre? Samuel Beckett. Autor contemporâneo preferido? Ian McEwan. Autor português preferido? Vergílio Ferreira. Cidade favorita? Lisboa é a cidade da minha infância e a cidade da minha vida. A segunda cidade que considero mais bonita é Florença. A viagem que ainda quer fazer? Já visitei Dublin e admito que é uma cidade muito simpática, mas sonho regressar à Irlanda para uma longa viagem pelos campos irlandeses. Filme favorito? De momento não consigo destacar nenhum, mas recomendo aos meus alunos o Esplendor na Relva, do Elia Kazan. Confesso que tenho saudades dos ciclos de cinema na RTP, pois penso que permitiam um maior conhecimento cinematográfico.


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SERVIÇO SOCIAL

PSICOLOGIA Começar

bem o segundo semestre ...

As férias acabaram e um novo semestre já começou! Estamos todos um semestre mais perto de terminar a licenciatura, para não falar que depois deste semestre há as férias de verão. E o que devemos fazer para este semestre correr melhor do que o anterior? A organização e a gestão do tempo são dois dos aspectos mais importantes a ter em conta. Se soubermos fazer uma boa gestão do tempo, se estabelecermos prioridades e se delinearmos objetivos, será muito mais fácil para nós organizamos a nossa vida de forma a que consigamos fazer tudo, isto é, cumprir com os nossos deveres e satisfazer os nossos caprichos. Em primeiro lugar, devemos organizar a nossa rotina de forma a que consigamos estudar pelo menos uma hora por dia pois, dessa forma, na altura das frequências teremos a matéria em dia e não precisamos de estar sempre agarrados aos livros. Além disso, devemos estabelecer prioridades e começar por aquilo que é mais urgente ou que dá mais trabalho. Se assim o fizermos, conseguiremos acabar as coisas com tempo, de forma a que as consigamos rever, obtendo, assim, um bom resultado. Todos os objetivos estabelecidos devem ser realistas e alcançáveis, no período de tempo delimitado. Não vale a pena termos vários objetivos que não conseguiremos alcançar até um certo período de tempo. Isso só irá fazer com que deixemos de ter vontade de realizar as coisas. Tudo o que fazes ao longo do semestre irá influenciar a forma como as frequências te irão correr, porque não se ganha um jogo a partir da última jogada, começa-se a ganhar desde o início do jogo. E não te esqueças: quanto melhor te correr o semestre, mais cedo irão começar as férias de verão. Não custa nada começar logo do início a garantir um grande final, basta manteres presentes na tua vida palavras e expressões-chave como “organização”, “gestão do tempo” e “objetivos realistas”. Agora, boa sorte e bom segundo semestre!

Maria Manuel de Sousa

“Na

prática a teoria é outra !”– e estagiário .

S er

estudante

5 dias por semana. 11 horas de aulas. 20 horas semanais de estágio.Todas as manhãs organizo mentalmente as tarefas do meu dia. A minha cabeça fervilha e mistura estágio, aulas, aniversários e compromissos, distraindo-se habitualmente com as horas. No início da minha licenciatura em Serviço Social, tudo o que mais queria era começar o estágio: estar no terreno, ter uma agenda preenchida e salvar o mundo.Bom, tudo isso se concretizou. (Embora confesse que a parte de salvar o mundo esteja um pouco difícil…) Ser estudante e estagiário ao mesmo tempo é um dos maiores desafios que com que me deparei até hoje.Todos nós já tivemos aqueles dias cansativos, em que estamos numa aula com a cabeça no dia de ontem e distraídos passamos os apontamentos, sobre a promessa que em casa iremos revê-los com mais atenção. Pois bem, fazer isso enquanto se está a realizar simultaneamente um estágio nunca é possível! Uma colega e amiga uma vez disse-me: “Na prática é tudo a mil à hora”. Planeamos atividades e corremos a resolver conflitos, sentamo-nos ao computador para trabalhar e rapidamente toca o telefone… Às duas da tarde um atendimento, às quatro uma visita domiciliária, não esquecendo que amanhã temos uma ficha para entregar na faculdade! “A mil à hora”, dizia ela, com razão.Todos os dias há surpresas e aprendemos coisas novas, crescemos como futuros profissionais e como pessoas, aperfeiçoamos competências técnicas individuais e coletivas, partilhamos ideias e expetativas com quem tem tanto para nos ensinar e aprendemos como a prática é a melhor aliada para testar as teorias que nos enchem as sebentas e os livros. No curso de Serviço Social, o estágio curricular é mais do que uma experiência académica, é também a primeira oportunidade de preparação para a nossa futura vida profissional. É onde nos confrontamos pela primeira vez com as situações que lemos em livros, ou com histórias dignas de filme. É onde aprendemos a digerir os nossos sentimentos e emoções e a agir profissionalmente e eticamente. É o melhor espaço para errar e aprender. E assim, os meus dias terminam de acordo com a forma como começam, a refletir mentalmente sobre tudo, sobre o que aprendi, o que ganhei, onde errei, o que podia ter feito melhor…Todos os dias as reflexões são diferentes. Dos dias mais complicados aos mais pacíficos, através daquilo que faço acabo por aprender sempre alguma coisa útil, embora às vezes só o perceba depois… E este exercício é também um segredo sobre a prática que, como dizia Fuller, “aumenta sempre o conhecimento”.

Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico

Inês Cruz

Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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Alunos e Professoras lançam e-book sobre o 25 de Abril

O passado dia 10 de Fevereiro ficou marcado pelo lançamento do e-book intitulado “Esta é a madrugada qaue nós esperávamos”, uma compilação dos trabalhos de investigação realizados por alunos de História Contemporânea, no 2º semestre de 2014. “A revolução do 25 de Abril” foi o tema abordado, homenageando os 40 anos de liberdade celebrados em 2014. Os alunos selecionados tiveram a oportunidade de ingressar num congresso, realizado na Faculdade de Ciências Humanas, sobre a temática em questão. Os trabalhos foram apresentados na parte da manhã, enquanto a parte da tarde ficou reservada para a mesa redonda com os convidados, que deram o seu testemunho e se disponibilizaram para responder às questões da plateia. Desta forma, os alunos não foram meramente observadores, membros da plateia, mas tiveram um papel ativo e foram os próprios autores do conteúdo informativo dos congressos.

© Patricia Fernandes

A sessão foi presidida pelo Diretor da Faculdade de Ciências Humanas, o Professor Doutor José Miguel Sardica, e contou com a presença dos vários docentes envolvidos no projeto, entre os quais a Professora Doutora Ana Paula Rias, a Professora Doutora Inês Espada Vieira, o Professor Doutor Antonio Chenoll e a Professora Doutora Catarina Burnay. Foram igualmente ouvidos os testemunhos de vários discentes e foi destacado o Professor Doutor Rogério Santos, pelo seu papel no desenvolvimento do e-book. De acordo com a Professora Ana Paula Rias, este projeto é o resultado do esforço e espírito de iniciativa por parte dos alunos e de vários professores da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, promovendo um valor de reciprocidade entre todos os que estiveram envolvidos e acompanharam este trabalho com a partilha de conhecimentos sobre o tema. Foi a professora, regente da disciplina de História Contemporânea, quem desenvolveu a ideia do projeto ao lançar um desafio aos seus alunos: a realização de um trabalho de investigação que abordasse o tema do 25 de Abril de um ângulo diferente, fosse através da perspetiva da música, do papel da mulher na sociedade, do da propaganda, entre muitos outros. Tal desafio foi aceite de braços abertos pelos alunos que, segundo a professora, demonstraram desde cedo um grande interesse e muito entusiasmo com a oportunidade.

Ana Paula Rias afirma que esta é a primeira iniciativa desta natureza que se realiza na Faculdade de Ciências Humanas e que, apesar de ter sido quem iniciou o projeto, acredita que os méritos devem ser dados aos seus alunos, pois foram estes que pediram para que esta experiência se pudesse realizar e foram eles que se esforçaram para alcançar o resultado final.“Foi tudo graças aos alunos”, concluiu a docente. O e-book surge como resultado final desta aventura, compondo, numa versão online, uma compilação de todos os trabalhos de investigação realizados no 2º semestre de 2014. Além disso, este é o primeiro trabalho publicado de muitos dos alunos. A professora não consegue conter o seu orgulho, considera que o projeto final “superou as expectativas”, e deixou a promessa de que esta experiência é algo a repetir.

© Daniela Trony (Cartaz Promocional e capa do e-book)

Mariana Fidalgo

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FCH

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CORRESPONDÊNCIA ERASMUS Um olhar sobre Milão

O processo de Erasmus começa muito antes do dia em que se aterra numa nova cidade. Começa seis meses antes, sempre com mil papéis para assinar, com a procura de casa, com a pesquisa sobre a cidade, com os medos, com a ansiedade… Será que vai correr bem? Será que não vai? Será que vou fazer amigos? Será que vou passar seis meses a comer massa com atum? Quanta roupa vou estragar da primeira vez que tiver que a lavar? E tudo isto dura até ao último dia, mil dúvidas permanentes…; vou desistir, não, vou tentar; mil perguntas sem resposta, mil inquietações. E no dia 14 de Setembro de 2014 aterrei, pela primeira vez, em Milão. Eu e mais dois amigos, todos acabados de chegar e cheios de expectativas. Primeira conclusão, ainda nem as malas tinham saído: “estes italianos não sabem fazer filas”. E, realmente, não sabem. O conceito de fila não existe, é possível que se peça uma indicação e se vá parar ao lado oposto da cidade, fazer a manutenção das escadas rolantes do metro em plena hora de ponta é normalíssimo para eles, nunca se deve tomar um horário como garantido porque é muito possível que se chegue lá e já esteja fechado, e não é de todo surpreendente que se veja cães junto a nós nos cafés, restaurantes, transportes públicos e, até, nas lojas. Primeira semana em Milão e pronto, porta-moedas roubado numa discoteca e lá se vão todos os documentos. Primeira semana de aulas e pronto, mil salas para descobrir numa universidade que é a maior das privadas na Europa, onde poucos falam Inglês e onde as salas mudam a toda a hora sem que os alunos sejam avisados disso, naturalmente. Partes boas? Nada de faltas e trabalhos de grupo durante o semestre. Agora, acho que todo o processo de adaptação cultural - que nem devia ser assim tão difícil - dura todo um semestre, pois quando nos começamos a sentir um bocadinho italianos é finalmente hora de voltar a casa. E também se percebe que, por piores que sejam as coisas que nos podem acontecer, nunca nada será tão mau que não seja superado pelas coisas boas, pelas pessoas que conhecemos, pelos sítios que visitamos, pelas pizzas que comemos…

© Catarina Vinagre

© Catarina Vinagre

Milão passou a ser a nossa cidade durante os meses de Erasmus, tornou-se um bocadinho de nós para todos os que lá vivemos, mesmo tendo em conta que não é fácil gostar, que não é a típica cidade italiana onde se fica impressionado e fascinado com tudo o que se vê. Será, possivelmente, a mais cosmopolita das cidades italianas, isso sim, pois não interessa se chove, se faz frio, se neva, porque os Milaneses estão na rua, nas lojas e nos cafés, na sua pausa para cigarro ou no tão típico aperitivo ao fim do dia. Há um conjunto de hábitos e rotinas que se vão ganhando quando se vive numa cidade nova, sem pais, sem horários, sem grandes planos, mas há também uma grande sensação de liberdade, porque ali o que interessa é mesmo aproveitar a oportunidade, sair de casa nem que seja para ir ao Duomo tomar um cappuccino, e ficar lá sentado nas escadinhas a observar as pessoas a passar, ou ver uma das mil exposições que estão sempre a acontecer no Palazzo Reale, ou apanhar um comboio de três horas para Veneza, ou para o Laggo di Como ou Laggo di Garda. Ou, até, decidir enfiar cinco amigos num Peugeot e fazer 1.200 quilómetros em três dias, sem nunca saber onde se vai dormir, e visitar Verona, CinqueTerre e tantos outros lugares maravilhosos, numa verdadeira maratona de cidades. É ir a Navigli comer um crepe cheio de Nutella ou acabar no McDonalds da rua depois do jantar só porque não há limite de cappuccinos por dia. É, também, viver num quarto andar sem elevador, dançar kizomba pela casa, dividir uma cama de casal com uma amiga e ficar atá às tantas à conversa sobre coisas que não fazem o mínimo sentido, comer Nestum ao almoço e ao jantar se for preciso, comer quilos de chocolate de manteiga de amendoim, ter medo dos vizinhos chineses, guardar leite no armário e ter sempre os catálogos do Lidl com as melhores promoções. Mas Erasmus é também esperar pela visita, pelos amigos que chegam, prontos a ir descobrir a “nossa” cidade connosco, é ter o cachecol do Benfica e as fotografias da família na porta do armário, trocar tantos e-mails com a Clementina por semana que até beijinhos já se manda, e é também ter muitas saudades de casa, mesmo quando eu sentia que Milão era, por alguns meses, a minha casa. Catarina Vinagre Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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EX-ALUNOS: EXPERIÊNCIAS Filipe Resende

Aluno de Mestrado do 2º Ano e Investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da FCH

Era julho de 2013 e as férias tinham ficado para trás. Duas semanas antes fazia as minhas últimas frequências, recebia as restantes notas e de repente licenciava-me. Começava uma nova etapa da minha vida. Surgiam perguntas como “e agora o que é que vou fazer?”, “devo prosseguir para mestrado?”, “por onde começo?”, “qual o emprego certo?”. Independentemente de qualquer pergunta e resposta, é fundamental perceber do que se gosta. Tendo em conta um mercado profissional cada vez mais competitivo é preciso ter-se a certeza das escolhas que se fazem, não esquecendo as nossas principais habilidades e o nosso talento. Desta forma, para um enriquecimento mais completo das áreas onde se está inserido, e daquilo que se ambiciona trabalhar, é essencial a formação avançada, onde se incluem mestrados e pós-graduações. Numa sociedade em que a esperança média de vida cresce constantemente, é fulcral ser-se especialista e o mais formado em áreas específicas. Maioria dos licenciados que saem das universidades, optando por deixar o mestrado ou formações avançadas para depois, acabam por não frequentar nenhuma pós-graduação posteriormente, por sentirem dificuldades em reiniciar os estudos. Enquanto se é jovem, é importante fazer o máximo de cursos, especialmente em áreas que se desconhece. As diferentes variantes nos diversos mestrados permitem esse leque de oferta aos estudantes.

Mas afinal, como se chega ao mercado de emprego nas áreas em que se ambiciona trabalhar? Considero que esta conquista poderá ser conseguida através de duas maneiras diferentes. Uma primeira, através da criação de contactos no mundo empresarial, que para muitos jovens se inicia com estágios.

No entanto, estes cursos após a licenciatura só ganham grande sentido quando se está a trabalhar. Mesmo que não se consiga arranjar emprego com contrato, é determinante fazer os conhecidos estágios curriculares, principalmente durante as férias de verão, de forma a não interferir com o regresso dos recrutamentos. Enquanto se faz um mestrado ou uma pós-graduação é interessante relacionar o mundo profissional com a teoria, pois é mais fácil ser reflexivo em relação às diferentes matérias e perspetivas estudadas.

A entrevista de trabalho é uma parte basilar no processo de seleção de um emprego. As entrevistas por onde passei, não testavam o conhecimento que tinha sobre as próprias instituições – porque isso era já um dado adquirido -, mas sim a mais-valia que poderia trazer à instituição, através das diferenças de outros candidatos, exigindo um conhecimento dos meus pontos fortes e fracos.

“Numa sociedade em que a esperança média de vida cresce constantemente, é fulcral ser-se especialista e o mais formado em áreas específicas.”

Outra forma é através da inovação, tendo em conta a forma como se apresenta o CV. Torna-se central a conceção do mesmo, diferenciando-se de outros candidatos, e convencendo as empresas a chamar-nos para uma entrevista.

Apesar de tudo, a ambição e a atitude de cada um é o elemento chave em todo este processo, pois se não existe uma postura de querer fazer e procurar, é impossível atingirmos os nossos objetivos profissionais e pessoais, porque a sorte não se tem, procura-se.


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Ucrânia: o conflito que (não) acabou dia 15 de Fevereiro Os líderes da Rússia, Ucrânia, Alemanha e França acordaram, no passado dia 12 de fevereiro, numa reunião realizada na Bielorrússia, um cessar-fogo para o conflito na Ucrânia, o qual deveria ter colocado um fim à presença das forças militares pró-russas naquele país a partir de 15 de Fevereiro. De acordo com o plano acordado pelas partes, o cessar-fogo deveria iniciar-se às 00:01, hora local, (22h01 em território nacional) do dia 15 de fevereiro. A artilharia pesada seria retirada a partir do dia seguinte e estará completa, previsivelmente, em duas semanas. Todos os prisioneiros políticos deverão ser libertos e a amnistia será concedida para os envolvidos nas lutas. As tropas estrangeiras e a suas armas serão retiradas do território ucraniano e todos os grupos ilegais serão desarmados. Espera-se que a Ucrânia retome a sua vida normal nas áreas controladas pelos rebeldes, através da remoção das restrições constitucionais para permitir a descentralização destas regiões até o fim de 2015. Nesta altura, está agendado que a Ucrânia controle as suas fronteiras com a Rússia. Mesmo assim, existem vários problemas que ainda estão por resolver em Debaltseve, uma cidade que está cercada por rebeldes e onde o conflito ainda continua. Mais conversações estão a decorrer no sentido de solucionar os problemas nas regiões de Donetsk e Luhansk, ambas controladas por separatistas. O presidente francês, François Hollande, afirmou que irá, juntamente com a chanceler alemã Angela Merkel, pedir aos parceiros da União Europeia suporte para o acordo com a Rússia e a Ucrânia. Merkel acredita que ainda há esperança para se solucionar o conflito. Esta semana é, no entanto, decisiva. Apesar dos esforços realizados até agora e dos resultados alcançados, continuam a existir muitas dúvidas quanto ao sucesso do acordo. Manuel Cavazza e Mariana Fidalgo

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“Charlie Hebdo” regressa a 25 de Fevereiro Laurent L é g e r, membro integrante do jornal satírico francês “Charlie Hebdo”, confirma o seu regresso com uma nova edição a ser publicada no dia 25 de fevereiro. O anúncio foi feito por Léger, através da sua conta na rede social Twitter, 48 horas depois de ter sido confirmado pelo atual diretor, Gérard Biard, que o jornal francês iria fazer uma pausa nas suas publicações semanais. “Tristeza, fadiga e uma exposição mediática intensa” foram descritas como as principais causas deste intervalo por parte da equipa jornalística ao “Le Parisien”. O último número do “Charlie Hebdo” foi apresentado a 14 de janeiro, após o atendado terrorista que se realizou na manhã de 7 de janeiro e culminou nos ataques mortais de doze pessoas, oito das quais pertenciam à equipa estrutural do jornal satírico, e deixando cinco gravemente feridas. A publicação de janeiro apareceu como resposta direta aos responsáveis pelo violento ataque, retratando o profeta muçulmano Maomé com um cartaz nas mãos onde se lê: “Je suis Charlie.”, em referência aos famosos cartazes de apoio ao jornal e à liberdade de expressão. Esta edição, intitulada “Tout est pardonné”

(“Tudo está perdoado”) alcançou recordes de vendas, tendo sido distribuídos cerca de sete milhões de exemplares a nível mundial, contrastando com as habituais 60 mil cópias distribuídas por semana. Após o massacre, o jornal pôde contar com o apoio do governo francês e do Fundo de Imprensa e Inovação Digital, angariando mais de um milhão de euros em apoios financeiros. No entanto, esta não é a primeira vez que “Charlie Hebdo” foi alvo de um ataque por parte de extremistas muçulmanos. A primeira ação terrorista foi realizada em 2011, após a publicação de mais uma caricatura da figura religiosa de Maomé, resultando no lançamento de uma bomba incendiária num dos escritórios do edifício, não deixando vítimas. “Charlie Hebdo” mantém o seu caráter controverso, o qual tem vindo a ser alvo de críticas desde a sua fundação em 1970. Mais recentemente, foi destacado pelo seu valor e trabalho na 42ª edição do Festival de Angoulême, em França, © Charlie Hebdo tendo-lhe sido atribuído o Grande Prémio Especial em memória das vítimas, entre elas os cartoonistas Cabu, Wolinski, Charb, Tignous e Honoré. Mariana Fidalgo Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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“Je suis Raif”? Je ne sais pas... A primeira semana de 2015 não começou, de maneira nenhuma, da melhor forma. Num espaço de uma semana foram postos em causa os limites inimagináveis da liberdade de expressão que, levados ao extremo, precipitaram um atentado terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, a 7 de janeiro de 2015, em Paris, resultando na morte de doze pessoas e cinco feridos graves. Este massacre desmistificou a ideia de que a França, - ou melhor a Europa - que emanciparam os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade, não estão imunes às represálias de fanáticos. O fanatismo inicia-se quando se “ouve o que não se quer ouvir”, algo que, de uma forma autoritária, impõe o limite à liberdade de expressão. Consequentemente, este massacre permitiu que o significado de liberdade de expressão se tornasse numa preocupação fulcral para a opinião pública. Devido a isto, outras situações passaram a ser relevantes. É o caso de Raif Badawi, escritor saudita de 31 anos, que foi condenado em maio de 2014 a uma multa de 226 mil euros e a 1000 chicotadas, pelo uso de liberdade de expressão e pensamento, em artigos no seu blogue Free Saudi Liberals Forum. O blogger realçava a importância da diminuição da influência da religião islâmica da corrente wahabita, na sociedade e na política do seu pais. O wahabismo é um movimento religioso islâmico, dominante na Arábia Saudita, de cariz ultraconservador, austero e fundamentalista. Dado isto Raif, para além de ter sido acusado de subversão, foi também acusado de renúncia à fé, o que, geralmente, pode levar à pena de morte.Segundo a sentença, Badawi deveria ser flagelado durante 20 semanas, sofrendo 50 chicotadas todas as sextas-feiras. As primeiras chicotadas foram infligidas no dia 9 de janeiro de 2015 em frente à mesquita de Al-Jafali, em Jidá, a segunda maior cidade da Arábia Saudita. No dia 16 de janeiro, durante o qual iria acontecer a segunda flagelação, a execução da pena foi adiada por razões médicas, segundo informação da Amnistia Internacional. A mulher do ativista, Ensaf Haidar, que se exilou no Canadá com os filhos depois da sentença, afirmou à Amnistia Internacional que temia que o marido não suportasse uma segunda flagelação, devido ao desmesurado sofrimento físico que o afligiu após as primeiras chicotadas. A situação deste blogger está a mobilizar a atenção do mundo. O caso já foi condenado pela Amnistia Internacional e tornou-se viral nas redes sociais.

© Amnistia Internacional

Com isto surgiu um movimento solidário pela liberdade de expressão, intitulado “Je suis Raif”, numa clara alusão ao slogan “Je suis Charlie”. A frase tem sido exposta de diversas formas por pessoas que se manifestaram pela libertação do ativista saudita. De forma a impedir o cumprimento desta pena, a organização de defesa dos direitos humanos lançou uma petição que já conquistou, só em Portugal, mais de 15 mil assinaturas. Também, os Estados Unidos já intervieram no caso, solicitando a anulação da condenação do blogger e a União Europeia já afirmou em público que é hora de pôr fim toda a condenação que envolva castigos físicos. Entretanto, as pressões da comunidade internacional parecem ter tido efeito. A Amnistia Internacional confirmou que, nas últimas sextas-feiras de janeiro, Raif Badawi não foi flagelado, sendo que a justificação das autoridade para o sucedido foi por motivos médicos. Todavia, de acordo com a Aministia, as autênticas razões deste adiamento permanecem por esclarecer. O novo rei da Arábia Saudita, Salman, que tomou posse no final de janeiro, sucedendo ao falecido rei Abdullah, anunciou a libertação de uma mulher que, juntamente com Badawi, fundou o polémico fórum de discussão online. Souad al-Shammari estava presa há 90 dias num estabelecimento para mulheres, localizado em Jidá, na Arábia Saudita. Além disso, no dia 29 de janeiro, o novo rei emitiu, num comunicado, a amnistia a alguns prisioneiros acusados de ofensas ao Islão, abrangendo vários reclusos, porém não há informações de que Badawi tenha sido perdoado.


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“Pressões essas que surgiram devido às semelhanças, no sentido da liberdade de expressão, que este caso tinha com o massacre ao Charlie Hebdo.”

Num país como a Arábia Saudita, a situação de Raif Badawi podia ainda ter sido bem pior. Só no ano de 2014, 87 pessoas foram executadas somente neste país. O blogger escapou a este número esmagador, graças às pressões feitas pelo mundo fora e pela opinião pública. Pressões essas que surgiram devido às semelhanças, no sentido da liberdade de expressão, que este caso tinha com o massacre ao Charlie Hebdo.

Esta (in)feliz coincidência permitiu que casos idênticos ao do escritor, conhecidos pelo mundo mas tratados pelos meios de comunicação como se tivessem menos relevância, fossem destacados. O que se questiona é: de que forma foi necessário haver um massacre num país como a França, visto como civilizado e coerente, para que se passasse a dar importância a casos que ocorrem frequentemente na Arábia Saudita, país conhecido por ser intransigente, mas que são, constantemente, “postos debaixo do tapete”? Nesta linha de pensamento, é então preciso ser, primeiramente, “Je suis Charlie” e só depois “Je suis Raif”? Susana Santos

Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico

Papa ordena novos cardeais de língua portuguesa O Papa Francisco anunciou, a 14 de fevereiro, a presença de 20 novos cardeais na Igreja Católica, dos quais três são de países lusófonos – o patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, o bispo de Santiago, Cabo Verde, Arlindo Gomes Furtado, e o bispo de Xai-Xai, Moçambique, Júlio Duarte Langa. Esta decisão do Papa procura mostrar uma Igreja Católica Este recente acontecimento universal, aberta a todas as foi aclamado pelo vice-primeiro ministro Paulo Portas, que nacionalidades. acredita que Portugal terá um maior A propósito dos mais recentes reconhecimento nas suas tradições acontecimentos, o Sumo Pontífice e enquanto país. declarou que “O cardinalato é, cerApós a conclusão da cerimónia, tamente, uma honra, mas não é honorífico. Como tal, não é um tipo Paulo Portas manifestou o desejo de acessório, uma condecoração, de uma visita do Papa a Portugal como um título honorário. Pelo em 2017, aquando do centenário contrário, é um pivô, um ponto de das aparições de Fátima. apoio e movimento essencial para a Segundo Paulo Portas, “esses vida da comunidade”. A humildade e o sentido de justiça são duas 100 anos são muito importantes características necessárias para a para muitos Portugueses com fé realização das funções, segundo e nós gostaríamos todos de ter o Santo Padre em Portugal por o Vaticano. ocasião desse centenário, em O c a rd e a l p o r t u g u ê s , 2017”. Manuel Clemente, acredita na O pedido ficou feito e o Papa importância da valorização da língua lusófona, afirmando que os expressou a sua vontade de Portugueses detêm um forte papel concretizar a visita num futuro na vida da Igreja e que, com a prevista próximo, não deixando, no centralização dos setores da famí- entanto, promessas. lia e do laicado católico, poderá Mariana Fidalgo dar-se um maior protagonismo a Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico católicos que não são membros religiosos, incluindo as mulheres.

© Arlindo Homem / Patriarcado de Lisboa

“Após a conclusão da cerimónia, Paulo Portas manifestou o desejo de uma visita do Papa a Portugal em 2017.”


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Prova de Avaliação dos Professores com 34,4% de insucesso A Prova de Avaliação de Conhecimentos, realizada a 19 de dezembro de 2014, revela problemas dos docentes na ortografia e no raciocínio lógico. Dos 2490 professores inscritos, 854 chumbaram e não podem lecionar. O Ministro da Educação vê a triagem como essencial para a qualidade do ensino público. A primeira parte da PAAC (Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades) realizada a 19 de dezembro de 2014 apresenta uma taxa de insucesso 34,4%. O exame, destinado ao recrutamento de pessoal docente dos ensinos pré-escolar, básico e secundário, revela falhas dos professores no raciocínio lógico e na ortografia. A redação de um texto de opinião, com cerca de 300 palavras, mostra dificuldades na distinção do “a” com ou sem “h” e 20% das respostas excederam os 5 erros de ortografia.

“Dos 2490 professores inscritos, 854 chumbaram e não podem lecionar.” Os resultados não surpreendem o presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE). O dirigente, Hélder de Sousa, afirma ao Diário de Notícias que é hábito ver documentos redigidos por docentes com graves falhas ortográficas e científicas.

Mudanças na RTP

O responsável do IAVE culpa o sistema educativo português que está concebido para “premiar a mediania” e declara, numa entrevista ao Observador, que erros na leitura e interpretação lógica não podem ser ignorados pois são “aspetos essenciais para a docência”.

“O Ministro da Educação vê a triagem como essencial para a qualidade do ensino público.” O ministro da Educação, Nuno Crato, acredita que o PACC tem o benefício dos alunos em mente e que os resultados acentuam a importância de realizar uma triagem aos professores que se candidatam a ocupar as cobiçadas vagas nas escolas públicas. Contudo, a Federação Nacional dos Professores (FENPROF) nota num comunicado ao Conselho Consultivo do IAVE, que o exame não avalia o necessário: “a competência dos professores para essa função”. O clima de contestação relativamente à PACC leva à previsão de novas greves para fevereiro aquando a data de realização da componente específica da prova que incide nas áreas em que os docentes querem lecionar. Os 854 professores que chumbaram à primeira fase não a poderão realizar e estão impedidos de se candidatar a dar aulas no próximo ano letivo.

Karla Pequenino Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico

A RTP, uma empresa estatal, sofreu recentemente uma alteração na sua administração. Gonçalo Reis é indicado como o novo presidente e Nuno Artur Silva vai assumir o pelouro dos conteúdos. A “nova RTP” baseia-se em três pilares: “orientação clara no sentido de prestação do serviço público, aposta na modernidade e novas plataformas multimédia, e lógica de eficiência empresarial e equilíbrio económico”, enumerados pelo novo presidente da estação pública. Financeiramente, a RTP reduziu os seus custos em 94 milhões de euros. Numa “Carta Aberta ao Cidadão”, a equipa de Alberto da Ponte afirma que esta redução se deveu, nomeadamente, a uma redução de 75 A administração de Gonçalo Reis afirma que devem ser milhões de euros dos fundos públicos. reunidas todas as condições que permitam uma maior redução de custos estruturais, tanto de pessoal, ou seja, o Contando com a colaboração de todos os despedimento de alguns trabalhadores, como de serviços t r a b a l h a d o re s , « P ro c e d e m o s a um r i g o ro s o externos. Gonçalo Reis afirma também que devem ser processo de redução de custos, num total de 94 procuradas soluções no sentido de tentar resolver as milhões de euros, apenas possível porquanto todos os questões de insuficiência dos capitais da empresa. trabalhadores têm sido recetivos e têm ajudado em todo o processo». A carta refere também que muitas das ditas “vedetas No entanto, e face a tantas dificuldades da RTP” aceitaram reduzir as suas remunerações em forma de ultrapassadas, a RTP afirma estar mais forte do solidariedade e que o serviço público de rádio e televisão não recebe que nunca, pois encontrou caminhos que a levam à indemnização compensatória por parte do Estado, sustentabilidade. contando apenas com fundos provenientes da Joana Santos CAV – Contribuição Áudio Visual – e das receitas Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico publicitárias.


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Proposta de taxa sobre dispositivos digitais irá ser aprovada pelo Parlamento Embora tenha, no início, dividido o Executivo PSD/CDS, a proposta de lei que propõe a instauração de taxas para smartphones e tablets vai avançar. O diploma entrou na Assembleia em setembro do ano passado, procedendo-se à criação de um grupo de trabalho que chegou às conclusões. Em concreto, esta lei da cópia privada prevê uma taxa de compensação que poderá ir dos 0,004 até aos 20 euros. Esta taxa será aplicada a equipamentos e dispositivos digitais, como leitores de mp3,pen-drives, discos rígidos, smartphones, tablets, CDs, entre outros. Simplificando e exemplificando, um disco rígido de 500 gigabytes (GB) vai passar a ter uma taxa de compensação a rondar os oito euros (o que traduz um valor de 0,016 euros por cada GB de capacidade, com o limite máximo de 15 euros). Já a um smartphone com 64 GB de capacidade de armazenamento, vai ser aplicada uma taxa de 7,68 euros (0,12 euros por cada GB). Mesmo assim, a maior taxa diz respeito a equipamentos multifunções ou fotocopiadoras a laser que consigam reproduzir mais de 40 páginas por minuto – mais de 20 euros.

“Esta taxa será aplicada a equipamentos e dispositivos digitais, como leitores de mp3, pen-drives, discos rígidos, smartphones, tablets, CD, entre outros.”

Inês Teotónio Pereira, deputada do CDS, em declarações ao Observador, explicou que a proposta final é melhor do que a inicial, devido ao facto de ter melhorado “na questão da transparência, na questão da publicação dos estudos e dos critérios de distribuição dos autores dos valores cobrados”. Apesar do valor de 15 milhões de euros para compensar artistas e a fundamentação para aplicar as taxas propostas não terem convencido o CDS, o partido centrista deu luz verde para que o documento seja votado no Parlamento. Ainda assim, PSD e CDS conseguiram negociar os critérios que irão ser ponderados para a repartição das compensações pelos artistas – estando ou não inscritos nas associações de defesa dos direitos de autor – e uma revisão da tabela destas compensações em cada dois anos.

© Pixabay

Como se pode ler no artigo d’O Observador, a redistribuição dos montantes garantidos por estas taxas deve ponderar: - Os autores que mais venderam. Ou seja, o valor a atribuir a um músico que vende 100 ou 200 mil discos deverá ser superior ao atribuído a um artista que vende apenas 10 mil discos; - Os estudos sobre a natureza das obras reproduzidas (música, filmes, etc.) deverá pesar na distribuição dos valores; - A devida diferença entre os autores que utilizam medidas tecnológicas que impedem a cópia (DRM), muito habitual nos DVDs, por exemplo, e os autores que não recorrem a essas tecnologias; - E o acesso dos Portugueses a obras cujas cópias privadas já estão autorizadas (é o caso do que se compra pelo iTunes, em que a licença de utilização inclui a cópia para outros aparelhos da Apple). O Partido Socialista absteve-se da votação, em setembro, alegando uma limitação da taxa de compensação equitativa em 5% do preço final em dispositivos como memórias USB e cartões de memória, antes da respetiva “ação” da taxa. Ainda assim, não obteve concordância no grupo de trabalho que estudava a proposta. Contudo, ainda existe algo que divide os parceiros de coligação. Enquanto o Governo espera um encaixe financeiro na ordem dos 15 a 20 milhões de euros, o Ministério da Economia fala em 30 milhões e, acrescentando a esta lista, a secretaria de Estado da Cultura limita até aos 11 milhões de euros. Guilherme Tavares


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UBER em Portugal - Controvérsia Legal A aplicação de transporte alternativa ao táxi foi implementada em Portugal através de um buraco legal. O Instituto da Mobilidade e dos Transportes está encarregue das “(…) atribuições em matéria de regulação, de promoção e defesa da concorrência no âmbito dos transportes terrestres, fluviais e marítimos”, mas como o presidente da Federação Portuguesa do Táxi, Carlos Ramos, chegou a explicar a alegada contra ordenação “Não é admissível que eles [os condutores Uber] não paguem imposto ao Estado, quando as empresas de táxi pagam IRS, pagamento especial por conta, pagamento por conta, IVA e as contribuições dos empregados à Segurança Social”. O IMT acabou por prestar declarações, relativamente aos rumores então partilhados, indicando que se tais acusações fossem de facto verdadeiras, a Uber estaria a violar a lei, ao utilizar viaturas e condutores não certificados pelo IMT.

© Uber Portugal / Facebook

A Uber é uma aplicação para smartphones que se foca no negócio do transporte privado, podendo ir buscar o cliente a um local desejado, sem que este tenha de se deslocar ao veículo em si, ao invés dos táxis.

Entretanto ainda não foi levada a cabo nenhuma acção contra o uso da aplicação, e o número de utilizadores têm aumentado. Muitos dos que experimentaram um dos serviços Uber, UberX ou UberBlack, têm partilhado uma preferência por esta nova opção que se adapta à localização geográfica do cliente, e funciona a partir de transferências bancárias, de modo a que uma pessoa não tenha de se preocupar com a quantia de dinheiro que tiver consigo.

O uso desta aplicação tem criado muitos problemas com taxistas no estrangeiro, como por exemplo em Filadélfia, nos Estados Unidos da América, como também na França e em Espanha, onde a aplicação foi proibida. Segundo Rui Bento, responsável pela Uber em território nacional, “A Uber estabeleceu parcerias com empresas locais e motoristas independentes licenciados” com o objectivo de não criar uma rivalidade com os táxis. Porém, tal acabou por não acontecer quando Florêncio de Almeida, presidente da ANTRAL (Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros), apontou uma falha legal no uso da Uber, “(…) recebi um ofício do IMT a dizer que a Uber não tem autorização para operar em Portugal, porque não tem alvará ou licença. As empresas de transporte são obrigadas a ter alvará de acesso à actividade e eles não têm”.

© Uber Portugal / Facebook (O lançamento da Uber Lisboa contou com a modelo Ana Sofia Martins e as actrizes Inês Castel-Branco e Jessica Athayde)

Com esta notícia, Portugal torna-se outro país onde a aplicação é alvo de um conjunto de queixas, como tem acontecido pelo mundo inteiro, sendo a mais marcante o caso de violação entre um condutor e uma cliente na Índia. Madalena Gil


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Dia mundial da rádio: O dia onde se (ou)viu rádio O grupo Renascença abriu as portas aos seus ouvintes para dar a conhecer tudo o que acontece por detrás do microfone. O Dia Mundial da Rádio comemorou-se no dia 13 de fevereiro. A data coincide com a primeira vez que a United Nations Radio emitiu, em 1946, um programa em simultâneo para um grupo de seis países. Assim sendo, a data foi declarada em 2011 pela UNESCO e o primeiro Dia Mundial da Rádio foi celebrado em 2012.

No primeiro andar, onde em cada corredor havia uma simpática mesa cheia de apetecíveis “comes e bebes”: neste andar encontrava-se a redação da Rádio Renascença que, com simpatia e risos à mistura, recebiam as pessoas e mostravam o tipo de trabalho que faziam.

E s t e d i a re a l ç a a i m p o r t â n c i a e o impacto que a rádio teve e tem, como meio de comunicação social, capaz de atingir audiências enormes e que, com o desenvolver dos meios de comunicação mais recentes, vai-se adaptando às novas tecnologias e a novos equipamentos. A rádio é um meio extremamente útil na sociedade, na medida em que serve de instrumento de apoio ao debate e comunicação, permite a promoção cultural e é de extrema importância na comunicar de emergências sociais. Para além disso, a rádio acompanhou os principais acontecimentos históricos mundiais da história contemporânea e, graças a isso, hoje continua a ser um meio de comunicação crucial e, principalmente, intimista.

Já no segundo andar, para quem foi à tarde, teve a oportunidade de ouvir Paulo Fragoso, das tardes da RFM e pôde também estar dentro do estúdio a conviver e a ver a exatidão que o locutor demonstrava ao acabar uma frase e, imediatamente, iniciar a música. Como gostos há muitos, os interessados por músicas que marcaram gerações e cantores menos vivaços tinha a oportunidade de ir ao terceiro andar e visitar a rádio Renascença.

Contudo, quem não teve hipótese de ir visitar a Renascença ao open day, no site deles foi transmitido em direto toda a animação que se viveu ao longo do dia. No mesmo piso, encontrava-se ainda a rádio Sim FM muito ouvida pelos amantes de fado O Grupo Renascença foi o único grupo de e da icónica música portuguesa. comunicação que teve a iniciativa, idêntica ao do ano passado, de fazer um open day. Por último, depois de subir um lance de O objetivo desta iniciativa foi de elevar a tão aclamada escadas infinito, o cansaço era abafado pela expressão “magia-da-rádio”. Esta magia parte do animação e boa disposição da rádio MEGA Hits. aprofundamento de um dos cinco sentidos: a audição. Aqui, o público mais jovem, teve a oportunidade É a partir daqui que a rádio cria a sua magia através de assistir às emissões “ao vivo e a cores” e de da sugestão da voz, do poder de cativar sem imagem conviver, sem quaisquer constrangimentos, com cada e, acima de tudo, do encanto de ouvir sem ver. locutor. Além da possibilidade de (ou)vir à rádio, os visitantes, para além da grande alegria com que foram Contudo, o mundo evoluiu e graças a isso, recebidos por todas as estações, também tinham a surgiram as novas redes sociais que permitiram que oportunidade de assistir a um conjunto de programa a rádio se tornasse ainda mais íntima, permitindo cheios de showcases ao vivo, imensos convidados, “dar a conhecer a personalidade da “voz” por trás passatempos e prémios. do microfone, a vida quase numa conversa de café, aumentar a ideia que o locutor é um amigo” referiu Este dia do open day do grupo Renascença, que Ana Pinheiro, locutora da Mega Hits e antiga aluna da começou Às 8h00 e terminou à 00h00, teve todos Universidade Católica Portuguesa. o tipo de visitas, de todas as idades e para todos os gostos. Esta iniciativa permitiu, por um lado, aos Foi esta linha de pensamento que o Grupo ouvintes conhecerem melhor a rádio partilhando as Renascença utilizou como pretexto para no Dia suas ideias, dúvidas e conselhos com os locutores. Mundial da Rádio abrir as suas portas aos ouvintes, Por outro lado, o open day serviu de oportunidade para que estes pudessem ver a verdade que para quem gosta de rádio e vê nela um caminho pelo ouvem, recebendo-os de uma forma que em nada qual pode passar o seu futuro. difere da forma que seriam recebidos em casa de amigos. Para além de se conhecer as caras daquela Todo este “à vontade” e descontração foi “voz misteriosa” que ouvimos todos os dias, uma forma de incentivar a ouvir mais rádio, também era possível conhecer os “cantos à casa”. principalmente os jovens, que cada vez ouvem menos Os visitantes tiveram a possibilidade de passar por rádio. Foi então assim que o Grupo Renascença todos os andares que existem no estúdio da Rádio permitiu que o Dia Mundial da Rádio não fosse só da Renascença. rádio mas fosse, também, do Ouvinte. Susana Santos

Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


ACTUALIDADE

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Quais as mudanças da noite Lisboeta?

O QUE VISITAR EM...

Em Dezembro de 2013, a Divisão do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa decretou a imposição de horários mais reduzidos a alguns estabelecimentos nocturnos e a limitação do ruído na rua. Esta imposição surgiu como resultado de várias queixas de moradores relativamente ao ruído que se fazia sentir, à insegurança e à falta de limpeza.

esquina há uma praça ou um palazzo monumental. É também uma cidade cheia de vida e cultura e, por isso, vale a pena simplesmente andar nas ruas e parar em qualquer restaurante para aproveitar o melhor que a gastronomia italiana tem para oferecer. Ainda assim, eis aqui algumas sugestões a não perder.

A 23 de Janeiro do presente ano, a medida foi colocada em prática. Os bares do Cais do Sodré, Bica e Santos passam a fechar às 2h nos dias úteis e às 3h aos fins-de-semana, duas horas mais cedo do que outrora. São vários os donos de bares que receiam as consequências desta imposição, uma vez que ao fecharem mais cedo preveem que os lucros decresçam entre 50% a 60%. A Câmara Municipal de Lisboa sugeriu aos donos de bares que passassem a abrir as portas mais cedo para reduzir os prejuízos e ofereceu ajuda aos mesmos com o intuito de estes não serem prejudicados pela aplicação destas novas medidas. No entanto, não são apenas os bares que serão afectados por esta medida. Na reportagem Cais da Noite, tornou-se perceptível que para muitos moradores um dos maiores problemas eram as lojas de conveniência. Se, por um lado, os bares da Rua Cor-de-Rosa, devido aos preços que praticam, apelam a um determinado tipo de cliente, as lojas de conveniência vendem bebidas a menos de metade do preço, fazendo com que essa selecção da clientela desapareça. Com a entrada em vigor desta nova medida, as lojas de conveniência, os restaurantes e os cafés passam a fechar às 22h. Os espaços com espaços de dança têm autorização para manter as portas abertas até às 4h. A autarquia promete que a Polícia Municipal irá fiscalizar o cumprimento desta medida. No caso dos bares que não cumpram a medida, a pena é que passem a fechar aos dias de semana às 23h. Três donos de bares e lojas de conveniência avançaram já com providências cautelares contra a Câmara Municipal de Lisboa, esperando conseguir reverter a decisão. Em declarações à TSF, Duarte Cordeiro, vereador da Câmara Municipal de Lisboa responsável pelos espaços públicos, afirma que o principal objectivo desta medida é melhorar a qualidade de vida dos moradores que habitam junto aos bares, evitando os aglomerados de pessoas nas ruas. Afirmou ainda que se prevê que esta medida seja alargada a outros espaços da capital, sem adiantar quais. Joana Contreiras

ROMA é um autêntico museu a céu aberto. Em cada

1. Cidade do Vaticano – É a Sede da Igreja Católica. Todos conhecemos a riqueza artística que alberga tanto nos seus interiores como no exterior. É imperativo ver a praza de São Pedro, a Pietà de Miguel Ângelo e a Capela Sistina. E não percam a oportunidade para se maravilharem com a vista da cúpula e procurar a personagem com um olho tapado no altar da Capela Sistina. Reza a lenda que Miguel Ângelo odiava que espreitassem as suas obras antes de estarem acabadas e como castigo retratou assim o Papa Pio IV. A entrada na Basílica de São Pedro é gratuita e a Capela Sistina e o Museu do Vaticano estão abertas gratuitamente ao público no último domingo de cada mês; 2. Castelo Sant’angelo – bem perto do Vaticano, é possível visitar o Castelo de Sant’angelo, também conhecido como Mausoléu de Adriano. O castelo, que serviu como residência oficial do papa Adriano durante a época medieval, é actualmente um museu. Para além de uma incrível colecção de arte e incríveis salas da antiga residência papal, tem uma das mais impressionantes vistas sobre a cidade; 3. Fontana di Trevi – A imponente fonte barroca é um marco da cidade e um ponto de paragem obrigatória. Reza a lenda que quando se atira uma moeda para a fonte e se pede um desejo, o desejo realiza-se. Durante o primeiro semestre de 2015 a Fontana di Trevi vai ser alvo de remodelações, pelo que é impossível visitá-la neste período. Mas Roma tem mais encanto no Verão de qualquer forma, certo?; 4. Coliseu Romano – O coliseu é um dos mais mais emblemáticos exemplos da arquitectura do império romano. É um anfiteatro que serviu de palco para diversos espéctaculos na Roma Antiga. Hoje em dia o edifício encontra-se em ruínas, mas está a ser alvo de remodelações. É possível visitar o Coliseu e o Fórum Romano gratuitamente no primeiro Sábado de cada mês; 5. Villa Borghese – A Villa Borghese é um pallazzo que foi convertido num museu – Galleria Borghese - e está rodeado por um magnífico jardim (o segundo maior de Roma); 6. Via dei Coronari – Um caminho alternativo para quem vem da outra margem do rio (do Vaticano ou do Castelo de Sant’angelo, por exemplo) e quer ir até ao centro de Roma. É uma rua típica cheia de restaurantes, bares e lojas vintage e de design que vai dar à imperdível Piazza Navona. Inês Linhares Dias


ACTUALIDADE

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Pessoa tem uma outra mensagem O Geocaching, o turismo e a literatura

“O mistério de uma rua cruzada constantemente por gente”. Lisboa é a cidade das ruas palmilhadas por indivíduos, com a esperança de encontrar algum tesouro escondido, algures. Olhamos em redor e lá está: um turista – não se sabe bem de que nacionalidade –, com uma máquina fotográfica ao pescoço e um mapa na mão, tenta descobrir onde fica o Chiado.

Em Portugal existem, actualmente, cerca de 5000 “caches”, sendo que largas centenas delas estão na cidade de Lisboa. No entanto, nem todas apresentam interesse turístico, visto que podem ser colocadas por qualquer pessoa, em qualquer ponto da cidade. No caso concreto da estátua de Fernando Pessoa, no café “A Brasileira”, o objectivo é dar a conhecer a sua poesia através da pista facultada (o poema “Autopsicografia”), além de proporcionar um bom desafio, dada a dificuldade em encontrar o pequeno recipiente escondido na estátua. Apesar desta “cache” nem sempre estar activa, muitos são aqueles que a tentam encontrar. “Ah, perante esta única realidade, que é o mistério, Perante esta única realidade terrível – a de haver uma realidade”.

“Oh mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!”.

É todo este enigma, associado ao escritor e à sua complexidade, que leva inúmeros indivíduos a seguirem as ruas da Baixa Pombalina até chegarem ao Chiado, tanto portugueses como estrangeiros. A descoberta de uma cidade passa, cada vez mais, pelo contacto directo com a sua história e com as personagens que por ela passaram, para haver uma maior aproximação com a realidade dos que ali viveram.

Os Armazéns já quase não se vêem. Surge uma esplanada apinhada de gente. Lá no meio destaca-se Pessoa entre as pessoas.

“Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente”.

“A mão posta sobre a mesa, A mão abstracta, esquecida, Imagens da minha vida…”.

O Geocaching é, assim, uma alternativa aos passeios turísticos sem rumo ou às voltas pelas ruas de mapa na mão. É uma forma organizada de percorrer um caminho escolhido previamente, sempre com a ideia de descobrir algo mais do que aquilo que está disponível para todos, já que algumas “caches” são verdadeiras surpresas.

© Alexandra Antunes

Incrivelmente, já poucos reparam nele ou, pelo menos, em todos os pormenores. Sim, é apenas uma estátua. Mas não é apenas um poeta, apenas um escritor. É alguém que teve – e continua a ter – uma Mensagem em seu poder. Aliás, este Pessoa tem, agora, uma outra mensagem a transmitir. “Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora”. Neste caso, Fernando Pessoa entrou na era das tecnologias: aderiu ao Geocaching, uma forma de explorar locais que tem vindo a ser cada vez mais utilizada, por todo o mundo, ao longo dos últimos anos. Esta “caça ao tesouro” consiste na procura de locais onde se encontram, através de coordenadas inseridas num dispositivo GPS, recipientes (“caches”) com uma folha de registo ou, em alguns casos, objectos que são trocados entre as pessoas. Para encontrar os locais – que podem ir desde monumentos a espaços naturais –, os participantes desta aventura podem ter de seguir alguma pista adicional, para facilitar a chegada.

Com o passar dos tempos, é cada vez mais exequível esta relação entre várias componentes diversas, como é o caso do turismo associado às tecnologias e à literatura. Deste modo, torna-se possível agradar a um maior número de pessoas, tendo em conta a versatilidade da actividade. Tal como Pessoa escreveu, com toda a razão, nenhum de nós consegue prever o futuro, que tanto nos pode surpreender. “Não sei o que o amanhã trará”. Alexandra Antunes

Nota: Referências à obra de Pessoa, pela ordem do texto: Tabacaria, Álvaro de Campos; Lisbon Revisited, Álvaro de Campos; A mão posta sobre a mesa, Fernando Pessoa; Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora, Alberto Caeiro; Ah, perante esta única realidade, que é o mistério, Álvaro de Campos; Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir, Álvaro de Campos; Frase escrita por Fernando Pessoa, em inglês, no dia anterior à sua morte.


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Actualidade Gregos e Troikanos - Odisseia parte II Se Homero fosse vivo, hoje tinha pano para mangas. Na verdade, não temos nenhuma Helena de Tróia que tenha sido raptada. Muito menos que tenha sido abençoada pela beleza eterna conferida pela generosa Afrodite. Temos Angela

Merkel,

também

serve… mais ou menos. Esta história é diferente. Também não temos, propriamente,

nenhum

vigorosa

e

Certo

inteligentemente

contra

os

Troianos juntamente com Aquiles, entre outros guerreiros. Porém, temos Alexis Tsipras (líder do partido Syriza) e Yanis Varoufakis (ministro da economia grego), que lutam contra os troikanos. É uma batalha como outra qualquer.

dava

A nova ideologia grega recusa a austeridade exigida pela Troika. A austeridade que destrói o

soterrada de dívidas.” luta

Merkel

tropeçou. Foi uma risada.

Europa com problemas e

que

enquanto

saltinhos alegremente, a Grécia desviou-se e ela

“Tudo isto se passa numa

Ulisses

dia,

país. É quase como se estes combatentes gregos tivessem estado escondidos dentro do tal cavalo de madeira homérico e saíssem,

agora, não para acordar a cidade, mas para acordar uma Europa dorida pelos tais saltinhos incessantes. É tudo muito bonito, porém é importante recordar que Ulisses era acompanhado por Aquiles. E Aquiles… tinha um calcanhar.

Empolgante. Esta Odisseia envolve uma dívida, uma ambiciosa chanceler alemã, um destemido Alexis que luta pela reconstrução da Grécia e um Yanis que ajuda Alexis. Tudo isto se passa numa Europa com problemas e soterrada em dívidas. No topo, Angela Merkel dá saltinhos e os restantes países, inclusivamente Portugal, vão sendo pisados por aqueles pezinhos de Cinderela. Michelle Tomás Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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OPINIÃO

A Rapariga do Blazer Rosa Lifestyle

O melhor do mundo Onde vivo não existe grande coisa, não é uma cidade especialmente atractiva. Ao nível do turismo, o que a salva é o Mosteiro. O grande Mosteiro de Alcobaça. No entanto, há uma época do ano em que nos sentimos orgulhosos da nossa cidade. Uma época de rever amigos perdidos no tempo. Uma época de divertimento. A época do melhor do mundo. O nosso carnaval. Salvando-se uma cidade ou outra, Torres Vedras, Ovar, o carnaval é igual aos outros dias, apenas com a vantagem de nos mascararmos. Em Alcobaça não. Em Alcobaça é diferente, tudo diferente. A energia, o modo de viver as coisas… Não desfazendo as outras cidades, o melhor carnaval do mundo é aquele. Posso tentar explicar-vos toda a nossa loucura, mas tenho a certeza de que não iriam perceber. É algo tão grande que tem de ser experienciado, vivido. Para terem noção da nossa grandiosidade, este ano conheci um grupo de Espanhóis. Exactamente, SÓ Espanhóis. Tudo começa, na verdade, umas semanas antes. Há “aquecimentos” onde só se ouve música de carnaval. Posso dizer que é uma festa dos 8 aos 80. Literalmente. Há semanas e semanas de preparação de fatos. Fatos a sério, que ir de médica ou polícia sexy é vulgar demais. Eu, pessoalmente, já fui um pouco de tudo, desde personagens de filmes a super-heróis, passando pelo mítico palhaço. Este último é tradição. Sexta-feira é a noite do palhaço. Não há volta a dar. É maravilhoso ver pessoas, aquelas pessoas que conhecemos desde que nascemos, irem mascaradas do mesmo que nós. Quase somos uma grande família. Nos restantes dias deixamo-nos surpreender com os fatos. Transformers (procurem no YouTube, a sério, vale a pena), montanha russa, Batman com direito a bat-mobile…. A criatividade e a originalidade não têm limites.

Depois existe ainda a tradição das músicas. Ah, as músicas! Confesso que tenho saudades! Todos os anos vários grupos, de várias idades, compõem músicas. Uns em português, uns em brasileiro, mas tudo com um único propósito: cantar a nossa cidade. O grupo dos “mais velhos” já conta com 20 anos em cima, os “músicos” já têm quase idade para serem meus pais. O grupo dos “mais novos” leva três ou quatro anos.

“Em Alcobaça é diferente, tudo diferente. A energia, o modo de viver as coisas... Não desfazendo as outras cidades, o melhor carnaval do mundo é aquele.” Ainda no campo das tradições, temos a maior de todas, a mítica discoteca Sunset. Há 20 anos os meus pais iam, agora sou eu que vou, e até os meus primos mais novos já por lá passaram. É uma “discoteca” que está fechada durante o ano todo e apenas abre para o melhor do mundo. Abre só por ser tradição. Abre porque todos os anos os foliões querem dançar até às tantas da manhã.

“No entanto, há uma época do ano em que nos sentimos orgulhosos da nossa cidade. Uma época de rever amigos perdidos no tempo. Uma época de divertimento. A época do melhor do mundo.” Vou confessar, ando meses e meses à espera. Todos os anos decoro músicas e descubro outras tantas. É o melhor carnaval do mundo! Só tenho pena é que seja só para o ano. Mariana Leão Costa araparigadoblazerrosa.wordpress.com


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Especial Óscares A cerimónia de entrega dos prémios da Academia norte-americana é muito mais que cinema. O mediatismo e a opulência do espectáculo atraem públicos variados, que tanto podem estar interessados em saber se o seu director de fotografia predilecto sairá galardoado ou em apreciar decotes fartos e torsos esculpidos. É uma noite de cinema mas também de moda, comédia, música, performance e popularidade. Este conjunto de factores faz da entrega dos Óscares a cerimónia cinematográfica com maior eco no globo.

Nas senhoras, a já cinco vezes nomeada Julianne Moore, que em Still Alice representa uma mulher a quem o Alzheimer vai degenerando, garantiu o Óscar. No entanto, também Marion Cotillard (Deux jours, une nuit) ou Rosamund Pike (Gone Girl) seriam vencedoras justas.

J.K. Simmons suplantou a forte concorrência e confirmou o seu favoritismo como melhor actor secundário em Whiplash. O filme de Damien Chazelle que, por falta de financiamento, esteve para ser uma curta-metragem, conseguiu ainda os prémios de melhor montagem e Nunca sabemos bem o que esperar de uma cerimónia melhor mistura de som. que tende a reinventar-se todos os anos. Não só nas questões performativas e formais, mas também A decepção, ou, pelo menos, o perdedor da noite, foi nos trâmites referentes às vinte e quatro categorias Boyhood. Estava nomeado para seis estatuetas e apenas e respectivos nomeados. Nesta edição, o anfitrião ganhou a de melhor actriz secundária com a merecida e escolhido foi Neil Patrick Harris, protagonista da popular incontestável prestação de Patricia Arquette. série televisiva How I Met Your Mother. Comecemos por aí. A experiência e consagração de Patrick Harris como anfitrião de cerimónias preconizava uma condução cativante, criativa e sem percalços. Todavia, apesar do início musical auspicioso onde Neil contracenou com Anna Kendrick e Jack Black, o anfitrião apresentou-se nervoso, inseguro, não transmitindo a sua personalidade nem agarrando a atenção o suficiente. Algumas piadas de contexto oscariano sólido foram bem conseguidas, outras demasiado forçadas, deselegantes e de gosto duvidoso. Neste aspecto, a responsabilidade também recai sobre os argumentistas da cerimónia. Um ou outro momento de intertextualidade com os nomeados a melhor filme foram hidratando uma planta que ia murchando à medida que sentíamos o enfado de alguns anunciantes de prémios.

Ida, filme polaco a preto e branco que trata o tema da busca de Deus, foi distinguido como o melhor filme estrangeiro. Na animação, a Disney suplantou a concorrência ao arrecadar os dois prémios, melhor filme de animação com Big Hero 6 e melhor curta-metragem animada com Feast. Outros derrotados, mas de quem não se esperava grandes distinções, foram American Sniper, que venceu na melhor montagem de som, e The Imitation Game, a quem foi atribuido o prémio de melhor argumento adaptado. Interstellar, sem surpresas, venceu nos melhores efeitos visuais. Glory foi a canção original vencedora, composta e interpretada pelos norte-americanos John Legend e Common. Fazendo parte do filme Selma, a performance desta música levou às lágrimas certas personalidades, como Oprah Winfrey, David Oyelowo (ambos parte do elenco do também nomeado para melhor filme) e Chris Pine. Foi o momento mais emotivo e celebrado da noite.

Em traços gerais, Birdman foi o grande vencedor da noite ao arrecadar quatro Óscares em categorias principais - melhor filme, melhor realizador (Alejandro González Iñárritu), melhor argumento original e melhor fotografia. Pelo segundo ano consecutivo, premiou-se a realização de um mexicano (no ano passado, o melhor Também Lady Gaga surpreendeu a sua audiência, com realizador tinha sido Alfonso Cuáron por Gravity) e uma actuação mais limpa, relativamente ao que estamos destacou-se (à semelhança de 2012 com The Artist e de habituados da parte dela. Num tributo ao filme The Sound 2013 com Argo) um filme com um argumento centrado na of Music, a cantora pop levou a própria Julie Andrews a própria indústria cinematográfica. elogiá-la, comovida, após subir ao palco. The Grand Budapest Hotel, proveniente do peculiar universo de Wes Anderson e com produção 100% europeia, igualou o número de estatuetas de Birdman, só que todas em categorias técnicas - design de produção, maquilhagem e cabelo, guarda-roupa e banda sonora original.

Foi com uma cerimónia pouco brilhante, marcada pelo politicamente correcto e pelos recorrentes discursos de defesa das minorias raciais e sexuais, que foram anunciados os vencedores desta 87ª edição dos Óscares. Para cerimónias muito menos megalómanas, não esquecer que este ano a cerimónia de entrega dos prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, vai No que toca às nomeações de melhor actor e melhor ter transmissão em directo na RTP2 a 2 de Abril. actriz, não houve qualquer surpresa. Apesar do comeback qualitativo de Michael Keaton (Birdman), a Academia confirmou a supremacia de Eddie Redmayne e galardoou Inês Sousa Almeida e João com um Óscar a sua interpretação de Stephen Hawking Marques da Silva em The Theory of Everything.


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Tiqui-taca do Desporto Desporto

Regressa EL NIÑO Fernando Torres

© Denis Doyle

Muito se especulava sobre o regresso de Torres à casa que o viu crescer, o Atlético de Madrid. Vai correr bem... Não vai correr bem... Mas, depois das exibições frente ao Real Madrid, as dúvidas começaram a desaparecer. Saiu do Vicente Calderón há sete anos para uma aventura por terras de “Vossa Majestade”, com 91 golos na bagagem. No Liverpool apimentou a sua veia goleadora e em cinco anos faturou 81 golos pelos reds. Depois tomou a pior decisão da sua carreira: assinar pelo Chelsea. Perdeu todo o prestígio que tinha, ficou desmotivado e, em vez de elogiado, passou a ser gozado. Esta temporada Mourinho descartou-o dos seus planos e o espanhol passou meia época no AC Milan, mas a chama não acendeu... Voltou então neste mercado de Inverno para o seu grande amor e encontrou confiança e atitude em Simeone, ex-colega de equipa e atual treinador do Atlético. Depois de uma receção calorosa por parte dos adeptos, resolveu retribuir o carinho e em dois jogos – ambos frente ao Real Madrid na Copa do Rei – marcou dois golos. E que GOLAÇOS!

Qualquer amante de futebol fica contente por ver um excelente jogador como Torres a regressar à sua melhor forma e demonstrar por que razão foi eleito em 2008 o 3º Melhor Jogador do Mundo. Na temporada passada, Simeone venceu a Liga Espanhola e chegou à final da Liga dos Campeões com uma equipa toda idealizada por si. Este ano, já começou a reestruturação e Torres pode mesmo vir a ser a peça-chave que faltava neste puzzle vermelho e branco. Destaques: - Telma Monteiro reconhecida mundialmente como a melhor judoca; - Luís Figo candidata-se à presidência da FIFA; - Costa do Marfim conquista Taça das Nações Unidas.

Daniela Ribeiro de Brito danielar-footballmagazine.blogspot.pt Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


CULTURA

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O Cabide Moda

Alexander McQueen Quando me perguntam qual é o meu designer preferido começo a sentir o coração a palpitar, o sangue a pulsar nas veias e respiração a acelarar: não consigo eleger o meu preferido! Mas o Alexander McQueen está decerto no top. Não me vou pôr com grandes biografias (mas aconselho vivamente a procurar!), mas este criador revolucionou o paronâma da moda no início deste século, ficando conhecido como o enfant terrible britânico. Os seus desfiles primavam pela narrativa teatral constituída pelas suas criações e pelos adereços colocados estrategicamente na passerelle. Alexander McQueen afirmava inspirar-se em filmes de Hitchcock, na mitologia e na destruição do meio ambiente para criar as peças consideradas provocadoras e controversas.

Embora sejam alegações e não haja uma certeza absoluta que este seria o plano do designer, podemos especular sobre a questão teórica. E definitivamente, esta é uma ideia assustadora, a roçar o macabro. Confesso que passei dias a pensar neste assunto. Questionei pessoas de modo a tentar perceber o que é que elas sentiam quando eu contava esta notícia. A resposta foi quase sempre a mesma: choque, horror, desconforto.

© AMQ - Colecção Outono/Inverno 2007

Apesar da sua genialidade, Alexander era conhecido por ser uma pessoa atormentada. Desde os seus problemas de imagem corporal que o levaram a vários procedimentos cirúrgicos, às drogas e à depressão clínica, o que culminou no suicídio em Fevereiro de 2010. Para além desta coluna servir para prestar uma pequena homenagem a este génio, também é uma forma de reflectir na última notícia que saiu sobre o mesmo. De acordo com Andrew Wilson, © AMQ - Colecção Primavera/Verão 2010 escritor da nova biografia de Alexander McQueen - Blood Beneath The Skin o artista planeava suicidar-se no final de um dos seus desfiles, em plena passerelle (pesquisem nos sites do Daily Mirror e The Mirror para mais pormenores).

Até hoje não encontrei nenhuma explicação para o facto do artista conceber uma ideia tão retorcida como esta. Mas convido-vos a reflectirem comigo: será que a saúde mental deste sujeito já estava num estado tão deteriorado que não conseguia raciocionar correctamente? Será possível que os bastidores da indústria da moda sejam tão podres que levam ao desespero e à agonia extremos que a única solução seja o suicídio? Ou será que Alexander McQueen estava 100% lúcido e pretendia marcar o mundo com um statement poderoso e inesquecível de modo a chamar a atenção para a sua arte, elevando-a a um patamar tão superior que os outros criadores nunca a conseguiriam igualar ou até mesmo superar? Nunca saberemos a resposta mas é um assunto sério que nos deixa a pensar...

Catarina Veloso

o-cabide-moda.blogspot.pt


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Fora de Série Séries

O nascimento de Saul Goodman

© AMCTV

Breaking Bad entrou para a história da televisão, tendo-se tornado num dos mais emblemáticos dramas já vistos. Por esse motivo, o seu spin-off é incontornável. De facto, Better Call Saul foi uma das séries mais antecipadas deste ano, devido à enorme legião de fãs que Walter White nos deixou. No entanto, não pode ser dado como adquirido que a lealdade destes espectadores seja automaticamente transferida. Vince Gilligan e Peter Gould, os seus criadores, vão ter que merecer. As expectativas são enormes e a tarefa não é fácil. Até agora, estão no caminho certo. Para além do argumento cuidado, a fotografia é fantástica e revela-se muito semelhante à que vimos em Breaking Bad. É conseguida uma qualidade inabalável no que toca aos enquadramentos, cenários, ângulos e planos.

Sim, já conseguimos compreender que ele fará de tudo pela sua sobrevivência, pondo de lado as questões éticas e o sentido de certo ou errado. Mas ainda não tem o estatuto, o poder e domínio da charlatanice que lhe conhecemos tão bem. Saul é um homem que, no geral, detém o controlo da situação. Jimmy ainda está a aprender com os seus erros e a conquistar as pessoas certas. Naturalmente, podemos esperar que a exploração desta metamorfose demore algum tempo, pelo que já foi encomendada uma segunda temporada, a ser transmitida em 2016.

Para quem viu as cinco temporadas que antecedem esta narrativa, Saul Goodman dispensa apresentações. No entanto, não se deixem enganar, uma vez que ainda não é o advogado que conhecemos que figura nos primeiros episódios. Na verdade, é Jimmy McGill. Não se trata de um detalhe insignificante, pois a própria personagem é substancialmente diferente, pelo que vamos percebendo a evolução que se dá desde Jimmy até Saul.

Claro que é preciso ter a noção de que são duas séries distintas, com ritmos desiguais. No entanto, somos presenteados com a aparição de algumas personagens já conhecidas, como Tuco e Mike, também ainda muito diferentes e por explorar.

Apesar de não aparecerem as personagens principais de Breaking Bad, Walter White e Jesse Pinkman, o universo de Better Call Saul é muito semelhante, pelo que nos é difícil evitar um sentimento nostálgico.

Com a dose certa de humor negro, esta série não desilude. Inês Sousa Almeida


CULTURA

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Astigmatismo Proficiente Cinema

Aqui há tempos A amputação do decágono cinematográfico compreende também episódios dos pais e irmã (Patricia Arquette, Ethan Hawke e Lorelei Linklater), divorciados e de personalidades distintas, de Mason. O fio condutor que omite a realização de Linklater são os 12 anos de transformações nos indivíduos, na cultura pop, na América, na tecnologia e no Tempo. A mudança não é supérflua. Existe uma alquimia do tempo em Boyhood. Neste caso, o ouro é banal na mesma medida que é precioso. A simplicidade atrai. Não há artifícios opulentos, visto que, a forma como percepcionamos o tempo não pode ser extraordinária. Percebemos, então, É inelutável, cada um de nós possui tempos. Pluralizo, que a beleza está associada à acção do tempo. apoiando-me no conceito de tempo defendido pelos Identificamos melhor a beleza na perda. Por exemplo, gregos da antiguidade clássica. Eles dividem o tempo nas preparações para a mudança de casa, Mason em duas dimensões principais: Chronos para o tempo apaga as marcas de crescimento escritas na ombreira cronológico absolutamente sequencial e quantitativo, da porta com uma indiferença e maturidade tremendas. e Kairós para o momento do tempo da oportunidade Embeleza-se no mesmo momento que se rouba (o) qualitativa, o tempo em potência. Enquanto que o tempo, e o tempo é um assaltado submisso. A questão Chronos é o tempo linear, Kairós é o tempo existencial que fica é se podemos manipular o tempo ou se somos da experiência oportuna. Ou seja, cada indivíduo tem manipulados por ele. um tempo para possuir tempos. Todo o filme se decide naquilo que desaparece: o cabelo comprido “Existe uma alquimia do tempo de Mason, o próprio pai de Mason A disputa espacial entre Chronos Lorelei que desaparece mais do e Kairós adquire contornos visuais em Boyhood. Neste caso, o ouro eque aparece, o fogo das velas de em Boyhood, de 2014. Filmado em aniversário, a namorada de liceu 39 dias entre 2002 e 2013, a obra é banal na mesma medida em falhada e as protecções do bowling. de Richard Linklater personifica O tempo repimpa-se do inexistente um conceito auspicioso de mistura que é precioso.” e do desaparecido. entre real e ficção. O protagonista, Ellar Coltrane, começou a gravar com 6 anos (nem tinha idade para assinar um contracto de trabalho A música que inicia o filme é Yellow dos Coldplay, legal) e terminou com 18. Na narrativa fílmica ele é a música que fecha o filme é Deep Blue dos Arcade Mason - a mesma idade, o mesmo crescimento e, Fire. Se é verdade que existe uma evolução qualitativa possivelmente, as mesmas perturbações. O Chronos também o é que amarelo e azul são ambas cores do actor é o mesmo da personagem – 12 anos. Já o primárias. A primariedade permanece, o que sobressai Kairós, apresenta-se compilado nas quase 3 horas de é a profundidade (deep). E aqui, encapsulado, confirmafilme e consubstancia-se nas experiências oportunas se a assimetria do tempo. O passado é diferente do que sobreviveram à formidável edição e montagem. futuro, mas só em questões sensoriais. O presente é Percebido o conceito, entende-se o titulo deste artigo uma perpétua transição que carece de percepções em Boyhood há efectivamente tempos. abracadabrantes. Afinal o tempo tem futuro. Boyhood resgata o cinema narrativo dos anos 20 ao introduzir-lhe um código genético de cinema independente.

João Marques da Silva


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Inteligência Artificial Gaming/Internet

Life is Strange Para esta edição de Fevereiro vou fazer uma coisa que não será a norma dentro desta coluna, vou falar de um videojogo específico e não de uma “temática”, ainda que esta seja abordada de uma forma ou outra. O jogo em questão é “Life is Strange”, desenvolvido pelo estúdio Dontnod e publicado por Square Enix. Este jogo é definido como uma “aventura gráfica” que bem nos lembra a mecânica point-and-click, ainda que adaptada e usada de maneiras diferentes. A parte mais atractiva do jogo é o facto de este ser um drama, nada de novo aqui, temos exemplos como os videojogos de Walking Dead e Game of Thrones, produzidos pela Telltale, que apresentam esta mesma característica, mas o que surpreende é que este drama não é fantástico, cheio de dragões e criaturas mitológicas ou um drama sombrio cheio de perda e sacrifício. Este drama, no seu núcleo, é um drama adolescente, constituído por o que parecem ser simples situações quotidianas da vida de um late-teen: lidar com a ansiedade social, a exclusividade dos grupos e aprovação dos iguais.

“Acredito que a grande maioria de

nós em algum momento da nossa vida pensou nisso, ‘se eu

conseguisse voltar atrás’.” O catch, se podemos chamar-lhe assim, é que a nossa protagonista, Maxine Caulfield, tem a estranha habilidade de voltar atrás no tempo alguns segundos da sua vida. Acho que a expressão “voltar atrás” não se justifica, mas sim rebobinar, uma espécie de segunda oportunidade; e é desta forma que esta mecânica não se torna maçadora, previsível ou simplesmente um artifício, pois ao passar tempo com esta personagem, no seu ambiente colegial, conhecendo os seus problemas, a ideia de mudar as nossas acções com o simples “rebobinar” torna-se apelativa.

Acredito que a grande maioria de nós em algum momento da nossa vida pensou nisso, “se eu conseguisse voltar atrás”, por termos dito uma coisa que não devíamos, feito o que não era suposto ou, por oposto, a escolha da inacção. De qualquer forma, é uma ideia que consegue ressonar no jogador, ainda que à primeira vista pareça ser ridícula ou fantasiosa, e é assim que a nossa protagonista, ao falar com alguém, por exemplo, pode tentar e retentar a conversa até atingir o resultado desejado. O jogo também ressalta por este ser episódico, isto é, apresentado como sendo uma série de televisão. Actualmente, só está disponível o primeiro episódio, o que cria a sensação de suspense e ansiedade no jogador, que fica à espera do resultado das suas acções. Decidi falar deste jogo em específico porque, ainda que simples, expressa muito bem a capacidade deste médium de criar situações de verdadeira empatia e a sua força de expressão que chega a ser tão eficaz como o cinema ou a televisão, a criação de set pieces. Deixei muito de fora de propósito, pois explicar demais seria destruir a experiência. Fica simplesmente recomendado para quem quiser ter uma aventura um pouco diferente. Mitchel Martins Molinos


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Harmonias e Contrapontos Música

O que são Mitos? O que são Lendas? O que são mitos? O que são lendas? Porque é que este texto começa com três perguntas seguidas e as duas primeiras são as que são? Continuem a ler que as respostas vêm aí. Um mito, por definição, é algo ou alguém cuja existência não é real. Uma lenda, por seu turno, corresponde a factos ou coisas que são inverosímeis, mas não impossíveis. O texto que se segue irá reflectir sobre os mitos e lendas que se observam na música, e o seu papel no imaginário dos ouvintes.

“O texto que se segue irá reflectir sobre os mitos e lendas que se observam na música, e o seu papel no imaginário dos ouvintes.” Muitos são os que conhecem o mito de Robert Johnson, o homem que vendeu a sua alma ao Diabo, para se tornar o melhor guitarrista de Blues de sempre; ou então a lenda de que Jim Morrison, o vocalista dos Doors, ainda está vivo (um pequeno à parte, todos os mitos e lendas que se desenvolveram à volta do Rei Lagarto davam para encher um livro). Outras lendas e mitos envolvem ainda a relação com o oculto de Jimmy Page, Ozzy Osbourne ter comido a cabeça de um morcego vivo, ou o mito criado por Jack White sobre Meg (a sua mulher), ser a sua irmã mais velha. Embora algumas destas histórias sejam macabras e completamente falsas, contribuíram imenso para a cultura musical e para os jogos de trívia que toda a gente tanto gosta. Quase ninguém acredita que Robert Johnson tenha vendido a sua alma ao Diabo, mas isso não importa, porque se não fosse esse mito, o músico americano não seria tão referenciado ainda hoje, passados 90 anos.

“Mitos, lendas, música. Uma Trindade que anda de mãos dadas, ao sabor das vontades de quem as divulga. ” O mesmo aconteceria a Charlie Parker. Se não houvesse aquela história de Jo Jones lhe ter atirado um címbalo aos pés (não à cabeça como é afirmado no filme Whiplash), fazendo com que o Bird fosse para casa praticar e, depois de anos de prática, voltar ao mesmo sítio e deslumbrar a audiência com o seu estilo novo e fresco, não seria possível levar milhões a sonharem que poderiam um dia vir a ser os melhores de sempre no seu instrumento, se praticassem o suficiente. Esta história correu mundo e deu a Parker uma ainda maior distinção, como o rapaz que não conseguia tocar com uma banda de profissionais, para passar a ser um dos melhores de todos os tempos! E o que dizer do mito de Patti Smith ter sonhado com um Jim Morrison alado, com as asas presas a uma pedra de mármore, lutando para se libertar, o que levou Patti a compor “Break it Up”?! Afinal, são tantas as músicas que são compostas com mitos e lendas no pensamento e na sua origem, que seria impossível listá-las neste curto espaço a todas. Mitos, lendas, música. Uma Trindade que anda de mãos dadas, ao sabor das vontades de quem as divulga e faz de tudo para nelas acreditar. E é por estas razões, que a música é muito mais que sons e notas. São também as histórias, as fantasias e criações, que fazem com que a música seja tão fascinante. Tenho dito! Diogo Barreto


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Criticamente Correto Literatura

Cinquentas Sombras de Grey, o Livro Mais do que de livros polémicos (cujas leitura e discussão têm o seu interesse evidente), gosto particularmente de livros que vêm instaurar polémicas novas. Polémicas que ainda não tinham sido “polemizadas”, ou que apenas foram percebidas como tal no momento em que os livros já eram verdadeiros sucessos de vendas. Polémicas em bruto. Em estágio de gestação, à espera de serem reveladas no momento em que a barriga não mais consegue esconder o que carrega. Mesmo que, como acontece © Ibsan73 (Jamie Dornan em 2014) geralmente com a novidade – que causa medo, porque pertence ao domínio do desconhecido –, o mundo não esteja preparado para uma gravidez tão inesperada.

Apesar de repetitivo nas descrições sexuais e de escrita pobre – talvez por isso, o ritmo de leitura vá perdendo o ímpeto inicial: o primeiro livro lê-se em dois dias, o segundo em duas semanas e o terceiro em dois meses –, Cinquenta Sombras de Grey é uma trilogia viciante. E é-o, creio, porque Christian Grey reúne grande parte das virtudes que a generalidade das mulheres considera atraentes num homem: sucesso por mérito pessoal (tem a sua empresa), sensibilidade (toca piano), inteligência (cultura literária, pelo menos), mistério e charme irresistíveis, alguma loucura (no sexo e na vida) and the looks, que ficarão para sempre associados no imaginário feminino (tão bem!) à figura de Jamie Dornan. Tamanha perfeição poderá facilmente aborrecer as mulheres que gostem de ler nas entrelinhas e descobrir a beleza escondida nas pequenas imperfeições humanas, que prefiram o implícito, menos óbvio. No entanto, Mr. Grey sabe defender-se bem: é o arquétipo do homem fugidio, eterno dominador, aparentemente inconquistável, com um passado assustador que mais não faz do que solidarizar-nos para com a sua condição e até, por momentos, desculpar-lhe a absurda necessidade de controlo e o ciúme louco. Enfim, o paradigma do desafio perigoso. E oh, se não gostam as mulheres de homens que dão uma boa luta… Afinal, julgo que estamos todas com Anastasia Steele. Queremos que ela “roube” o coração a este homem difícil, que lhe prove a sua vulnerabilidade, que descubra com ele as premissas do Por esta altura, os estimados leitores do Pontivírgula já amor amadurecido. perceberam certamente o tema deste artigo. Um tema que há muito deixou de ser só mais um livro. O tema. Para mais, Muito se tem escrito sobre o insulto subentendido às um artigo escrito por uma mulher – felizmente, ainda estou mulheres: a ingenuidade e submissão de Miss Steele, que para conhecer um homem que tenha lido o livro, o que prova resultam na objetificação da mulher, são o argumento invocado. que ele cumpriu o seu objetivo, enquanto literatura erótica, Porém – o entendimento da prática sadomasoquista reside explícita, para mulheres. Cinquenta Sombras de Grey, o neste aspeto –, é a própria que se deixa objetificar enquanto fenómeno mundial. Ou, em português do Brasil (a língua em sujeito, determinando com Grey os limites rígidos e flexíveis que ganhou forma a minha leitura), Cinquenta Tons de Cinza. que considera intransponíveis. É ele quem lembra, aliás, Na verdade, prefiro esta tradução, pois dá conta de uma pista que o fim último da teatralidade é o prazer. Dele e dela, num de interpretação que se perde na versão portuguesa: quando “negócio” consensual. A compreensão do relacionamento é introduzido a Anastasia Steele, o protagonista vive num com esta dimensão formal é, de resto, para mim, o único mundo em que só existem variações de cinzento, para mais motivo de maior estranheza, mas há que reconhecer a tarde descobrir uma paleta que, ainda que pouco colorida (em honestidade de Christian, francamente rara nos dias de hoje: conformidade com a sua vida sofrida), já conhece o preto e deixar claro a Anastasia que «Eu não faço amor. Eu f***, com o branco. A jovem, por sua vez, embarca numa viagem sem força» é uma preocupação que exibe desde o momento retorno de sentido inverso, num navio com um impressionante em que decide envolver-se com a estudante. Por outro quarto de jogos – onde Mr. Grey poderia, efetivamente, jogar lado, como pode a submissão sexual de Anastasia anular PlayStation, não se tivesse a sua infância perdido em tenra ou sobrepor-se à submissão emocional de Christian (que, idade –, que lhe mostrará que a subjetividade não é linear e, à medida que a história se desenrola, fica completamente como tal, assume contornos que podem fazer questionar uma à mercê das demonstrações de afeto da jovem)? Estará o visão romântica do mundo, percecionado, sem discussão, em sexo assim tão sobrevalorizado e o amor tão subvalorizado termos de bom e mau, certo e errado, preto e branco. na sociedade contemporânea? A narrativa é conhecida de todos – o multimilionário amante de cordas e chicotes e a inocente estudante de Literatura exploram juntos o universo do sadomasoquismo, deixando-nos, quais voyeuristas cada vez menos secretos, assistir na primeira fila a uma vivência da sexualidade que poderia, com as aproximações ou distâncias entendidas (não será assinar um contrato sexual demasiado?!), ser a de cada um de nós.

Joana Cavaleiro Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico


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PRODUÇÃO ESCRITA Literatura

Viagem Nocturna O rosário baloiça do espelho retrovisor, agitando erraticamente com cada solavanco da estrada de terra batida, cada buraco na estrada faz agitar o tabliê onde uma figura de uma santa se encontra junto de uma boneca havaiana. Os meus olhos semicerrados espreitam do lençol que cobre a minha cara e embora o vidro embaciado indique que está frio, encontro-me num estado de dormência que apenas me permite observar quase de forma inebriada o cenário diante de mim. Olho-o no seu lugar. A mão nervosa treme, levada continuamente à boca onde mordisca as unhas e peles desgastadas, negras de terra ou de alguma outra sujidade. Parece-me preocupado, o seu corpo agitado e a respiração acelerada. O seu olhar não se cruza com o meu, ele foca-se apenas na escuridão diante de si, nas copas das árvores que os faróis vão iluminando, na estrada aparentemente interminável. Eu foco-me na luz dos painéis do carro. Engraçado como nestas situações nunca reagimos como esperamos. Deixo-me levar pelos meus olhos, a única coisa ainda desperta. Sinto um líquido escorrer algures na minha pele e com mais um solavanco o meu corpo dormente embate com força numa das chapas do carro. O barulho é suficiente para o alertar, e por instantes vejo-o a hesitar em pôr-me na periferia do seu olhar mas instintivamente volta a prender a sua atenção na escuridão da estrada. Não me interesso também em chamar por ele, não sei se conseguiria. Ao vê-lo mexer no rádio, tentando aumentar o volume de uma música qualquer, apenas sinto cansaço, parte de mim desejando que a escuridão da noite me envolva. Sinto o líquido escorrer pelo meu braço abaixo, não me causa impressão ou curiosidade, apenas acontece e eu deixo fluir. Naquela posição, entre o dormir e o acordar aceito tudo, até a dor no meu pescoço aceitei, as feridas e marcas no meu colar que existem apenas, sem qualquer dor por detrás. O carro pára e ele sai. Num jeito arrastado dá a volta ao carro e abre as portas duplas atrás de mim. Considero mover-me, mas sei que não consigo pois o corpo já não é meu, já o abandonei. Sou apenas um resquício, esvaziado do meu contentor quase até à última gota. Sinto o bafo a álcool barato, as suas mãos repletas de calos a agarrarem-me como uma saca de batatas e pondo-me no seu ombro, recusa-se a olhar para mim, o seu segredinho sujo. Caminha comigo para uma clareira e atira-me ao chão, a cabeça bate e a pele esfola-se contra as rochas. Por cima de mim as copas das árvores abanam, contudo eu já não ouço o vento, já não sinto o frio, tudo parece agora um sonho efémero. Na distância ele trabalha, abrindo um buraco o mais depressa que consegue, a pá a cravar-se na terra húmida vez atrás de vez. Não sinto medo, não sinto esperança, sinto apenas a finalidade da minha situação. Sabe ele que ainda o vejo? Que ainda sinto? Que ainda aqui estou embora o meu coração não bata? Mesmo que tivesse alguma resposta a verdade é que já não me interessa, este já não é o meu lugar. Ele abandona-me no buraco e cobre a minha cara de terra selando-me no meu túmulo. Embrenho-me na escuridão, adopto-a, vivo-a. As últimas gotas do meu ser abandonam-me. Viajo no véu da noite algures para longe, naquela noite fria, na noite em que morri. Sinto-me bem. Pedro Pereira


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Desenho por André Maia

“Não tenho tempo para mais nada, ser feliz consome-me muito.” Clarice Lispector

Playlist de...

Joana Cavaleiro, As Favoritas 1) Disclosure - Voices (feat. Sasha Keable) 2) Boys Noize - Starter 3) Azealia Banks - 212 (feat. Lazy Jay) 4) MSTRKRFT - Heartbreaker (feat. John Legend) 5) Eve - Let me blow ya mind (feat. Gwen Stefani) 6) Justin Timberlake - Tunnel vision 7) The xx - Intro 8) Flume - Holdin on 9) The Avener & Phoebe Killdeer - Fade out lines 10) C2C - Happy ft. D.Martin 11) Röyksopp & Robyn - Do it again (Moullinex remix) 12) Earth, Wind & Fire - September 13) Rudimental - Spoons (feat. MNEK & Syron) 14) Kaytranada - Leave me alone (feat. Shay Lia) 15) Nu:Tone - Tides (feat. Lea Lea)

16) Dj Unite - Do me (feat. Da Chick) 17) Hot Natured - Alternate state (feat. Róisín Murphy) 18) Les Sins - Why (feat. Nate Salman) 19) Portishead - Glory box 20) Muse - Plug in baby 21) Disclosure - White noise (feat. AlunaGeorge) 22) Rudimental - Hell could freeze (feat. Angel Haze) 23) Jungle - The heat 24) Alina Baraz & Galimatias - Fantasy 25) Doja Cat - So high 26) The Magician - Sunlight (feat. Years & Years) 27) The Cinematic Orchestra - To build a home 28) Karen Harding - Say something 29) U2 - Ordinary love 30) Yeah Yeah Yeahs - Heads Will Roll (A-Trak remix)


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Foto-reportagem - ROMA

Por Marta Gonçalves

VATICANO

CASTELLO DE SANT’ANGELO

VISTA DO CASTELLO DE SANT’ANGELO PARA O VATICANO

COLISEU


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Agenda Cultural Concertos: 28 de Fevereiro, sábado - Sensible Soccers no Centro Cultural de Belém; 7 de Março, sábado - Richard Dorfmeister no Musicbox; 11 de Março, quarta-feira - Panda Bear na Teatro Municipal Maria de Matos; 14 de Março, sábado - Noiserv no Centro Cultural de Belém; 26 de Março, quinta-feira - Linda Martini no Musicbox.

Eventos: A partir de 16 de Abril - Espetáculo 50 Sombras - Comédia Musical, no Teatro Tivoli BBVA; 6 a 8 de Março - Feira Mercado Gourmet e Vinhos, no Campo Pequeno; Até 8 de Março - Espetáculo Mário Daniel - Fora do Baralho, no Teatro da Trindade; Até 28 de Março - Espetáculo 40 e Então?, no Casino Lisboa; Até 12 de Abril - Exposição Franco Maria Ricci, no Museu Nacional de Arte Antiga.

Livros: “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco; “A Um Deus Desconhecido”, de John Steinbeck; “Fúria”, de Salman Rushdie; “A Trilogia de Nova Iorque”, de Paul Auster; “Nove Contos”, de J. D. Salinger.

Filmes: “Inherent Vice”, de Paul Thomas Anderson; “Wild Tales”, de Damián Szifrón; “Leviathan”, de Andrei Zvyagintsev; “Cavalo Dinheiro”, de Pedro Costa; “Yvone Kane”, de Margarida Cardoso.

Séries: Better Call Saul; The Book of Negroes (mini-série); Catastrophe; Vikings; The Slap.

Jogos: Darkest Dungeon (PC - Early Acess); Monster Hunter 4 Ultimate (Nintendo 3DS); Hand of Fate (PC, PS4, XboxOne); Grim Fandango (PS4 e PSVita); Life is Strange (PC, PS3, PS4, Xbox360, XboxOne).



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