Edição de Maio e Junho - Jornal Pontivírgula

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Direção: Catarina Veloso e Inês Linhares Dias Edição nº31: Maio e Junho de 2016

ATUALIDADE: O Dia Depois de Amanhã «A Europa não é mais a mesma, o Reino Unido dividiu-se e dividiu assim a União Europeia. (...) O que está realmente a acontecer à União Europeia? Será o egoísmo o soberano?» » páginas 7 e 8

ATUALIDADE: Enquanto dançam, o Terror Instala-se «Aquilo que o Senado defende como sendo algo necessário para proteger cada cidadão americano é o que mais os mata. God bless America.» » páginas 12 a 14

FCH Sustentável: O 1º Passo para a Mudança

PP de Rajoy Ganha as Eleições em Espanha

» páginas 4 e 5

» páginas 10 e 11

10 Razões para Acompanhar o Euro 2016 » páginas 15 e 16

ATUALIDADE | SOCIEDADE | LIFESTYLE | MODA | DESPORTO | MÚSICA | CINEMA | LITERATURA


EDITORIAL Ficha Técnica Diretora: Catarina Veloso Vice-Diretora: Inês Linhares Dias Revisores: Alexandra Antunes e Diogo Oliveira

Redação Ana Silvestre Andreia Monteiro Diogo Barreto Francisco Cambim Gabriela Moura Guilherme Tavares Inês Amado Joana Pires Roque Madalena Gil Mariana Pereira Martins Patrícia Fernandes Sandra Vasconcelos Tiago Sardo

Colunistas Alexandra Antunes, Literatura Catarina Veloso, Moda Diogo Oliveira, Desporto Duarte Veríssimo dos Reis, Direito Francisco Marcelino, Música Inês Linhares Dias, Política Joana Ferragolo, Lifestyle João Torres, Cinema Maria Borges, Psicologia Maria Manuel de Sousa, Psicologia Miguel Freitas, Música Mitchel Molinos, Vídeojogos Nuno Martins, Direito Omar Prata, Produção Escrita Pedro Pereira, Cinema Rita Santos, Psicologia Sónia Araújo, Saúde

Equipa Youtube: Duarte Sá Carvalho e Inês Camilo

Design: Catarina Veloso, Daniela Trony e Miguel Brito Cruz

Contacto: jornal.pontivirgula@gmail.com Jornal redigido com o Novo Acordo Ortográfico, salvo quando indicado.

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Maio e Junho foram meses de mudança. Vivemos tempos históricos, daqueles que vêm nos livros e aprendemos nas aulas. O velho continente mudou radicalmente numa reviravolta inesperada. A saída do Reino Unido da União Europeia veio alertar os cidadãos europeus para a existência de uma sociedade conservadora desgastada e fracturada que prospera na União Europeia. Martim Silva, do Expresso, afirmou que este é o momento histórico mais marcante desde a queda do Muro de Berlim em 1989. 33,5 milhões de pessoas foram às urnas votar no referendo prometido em campanha por David Cameron, em 2013. O resultado oficial foi de 51,9% a favor do “Leave”. Este processo irá figurar nos manuais de história como Brexit. A pergunta que se coloca é: “e agora?”. Tanto a Escócia como a Irlanda votaram maioritariamente pela manutenção do país da UE, pondo em risco o futuro do Reino “Unido”. 75% dos votantes dos 18 aos 25 queriam ficar mas viram o seu futuro condicionado por uma geração caduca. Uma petição para um novo referendo juntou milhões de assinaturas, mas o primeiro-ministro demérito, David Cameron afirmou que essa hipótese não estava “nem remotamente nos planos”. Do outro lado do oceano, os Estados Unidos da América enfrentam uma batalha contra o preconceito e o estigma social. 49 pessoas morreram num tiroteio numa discoteca gay em Orlando, Florida. O mundo ficou chocado com tamanha violência, o que gerou múltiplas reflexões sobre os direitos humanos. Esta situação veio desenterrar de novo a discussão sobre o porte de arma nos EUA. “É inconcebível que permitamos acesso fácil a armas de guerra nestes locais. Mesmo depois de vermos pais a chorar pelos filhos, o facto de, como país, não fazermos nada para prevenir o próximo desgosto não faz sentido” – palavra de um presidente americano que se começa a despedir da Casa Branca. De regresso à Europa, o Euro 2016 tem servido de cola social, aproximando os fervorosos apoiantes das equipas de futebol de cada nação – apesar de uns quantos adeptos menos respeitadores (100 já foram presos desde o dia 10 de junho). O Pontivírgula dá dez razões para acompanhar o campeonato. Por fim, a Faculdade de Ciências Humanas deu um passo em direcção a um futuro mais ecológico com a inauguração de um ecoponto. O director da FCH, Professor Dr. Nelson Ribeiro, contanos as motivações e os objectivos. Boas Leituras Catarina Veloso *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico



FCH

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The Lisbon Consortium A sexta edição da Lisbon Summer School do Lisbon Consortium decorre na semana de 27 de Junho a 2 de Julho, e conta com a presença de Anton Kaes, da Universidade de Berkeley, do realizador Peter Greenaway, entre outros nomes conhecidos. O evento anual do Mestrado em Estudos de Cultura eleito, pela segunda vez consecutiva, como o terceiro melhor do mundo pela Eduniversal, volta à cidade de Lisboa a cargo da nossa própria Faculdade de Ciências Humanas. O tema desta edição da Summer School for the Study of Culture é a Transvisualidade.

Michelsen definiu o visual como “matter” - algo corpóreo com um determinado fim que deve ser estudado e entendido pelo público. Juntando, sempre, a importância da percepção da comunidade e da contextualidade. É, aliás, com este último ponto que a professora Capeloa Gil estuda - a transvisualidade no Cinema Português durante os anos 40 do século XX. Citando filmes como A Menina da Rádio e A Canção de Lisboa foi evidenciada a propaganda sob a mão de António Ferro que tanto marcou a geração desses tempos. O sentimento de simbologia, tanto premeditada como espontânea, também foi mencionada relativamente ao campo do Cinema com a presença de Daniel Blaufuks, artista português, e Pepita Hesselberth, da Universidade de Leiden.

“O evento anual do Mestrado em Estudos de Cultura (...) volta à cidade de Lisboa a cargo da nossa própria Faculdade de Ciências Humanas.“

© Joana Borges

O primeiro dia começou com a palestra do famoso Nicholas Mirzoeff, professor na New York University, que analisou imagens, definidas pelo mesmo como “data”, sendo arquivos de estudo e não apenas representações de algo concreto. Para Mirzoeff, que mencionou exemplos actuais desde o fenómeno da imprensa Donald Trump, ao fenómeno musical e social em que se tornou a Beyoncé, passando ainda pela novidade política do Brexit, este tema da cultura visual consegue falar da imagem e do seu significado adjacente, subliminar ou não, numa sociedade em que a imagem é o conteúdo principal com que qualquer cidadão se depara no dia-a-dia. O professor Anders Michelsen, da Universidade de Copenhaga, e a professora Isabel Capeloa Gil, também Vice-Reitora da nossa Universidade e directora do Lisbon Consortium, focaram-se na transvisualidade de forma mais concreta.

Blaufuks reuniu exemplos de conjugação e remix de temas de autorias diferentes que se complementam, podendo até ser extensões de um texto original, sendo referidas as obras Austerlitz de W.G. Sebald e Vertigo (A mulher que viveu duas vezes, na sua versão portuguesa) de Alfred Hitchcock, entre outros. Enquanto Hesselberth envergou pela técnica do ecrã, atenção e captação de imagens que consegue manipular a percepção do espectador, criando uma necessidade de visualização cada vez maior. Ainda do mundo da Sétima Arte, a Summer School contou com a presença do realizador Peter Greenaway, que palestrou no Teatro Municipal de São Luiz, no sábado, último dia do evento. Despojando o cinema das suas maiores características Greenaway apresentou o que considera ser as quatro tiranias do cinema: a tirania do enquadramento, a tirania da câmara, a tirania dos actores e a tirania do texto. Retirando o visual e tudo o que o possa provocar, contrariamos o realizador e concluímos que o seu trabalho chega a ser o exemplo perfeito do que é a transvisualidade. Madalena Gil *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


FCH

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FCH Sustentável: o primeiro passo para a mudança No passado dia 18 de Maio, a Faculdade de Ciências Humanas (FCH) deu o primeiro passo na campanha de sensibilização para a reciclagem e tratamento de resíduos, sob o lema «Uma embalagem hoje, o planeta amanhã.». Este projecto foi apresentado na Sala de Exposições e contou com a presença do Director da FCH, o Professor Doutor Nelson Ribeiro, do Presidente da Cáritas, Dr. Eugénio Fonseca e da Coordenadora da Valorsul, Dra. Joana Xavier.

© Alexandra Antunes

Ao longo da sessão, destacou-se a importância de proteger o planeta. Nas palavras do Presidente da Cáritas, «aquilo que estamos a fazer é recuperar os malefícios que as gerações causaram, de gerar desperdícios e inutilidades que prejudicam o ambiente. Nós somos os principais responsáveis. O que fomos fazendo já está a ter consequências nas alterações climáticas.». A par da principal missão da Cáritas – erradicar a pobreza na sua dimensão absoluta –, esta instituição também tem como preocupação intervir em situações de emergência, neste caso ao nível ambiental. Assim, como referiu o Dr. Eugénio Fonseca, «o lixo transformar-se-á em flores de partilha.», o que ainda é reforçado pelo facto de, a cada saco cheio na FCH, serem doados 0,50€ para a Cáritas.

© Alexandra Antunes

A Valorsul, uma empresa responsável pelo tratamento e valorização de resíduos urbanos produzidos em 19 Municípios da Grande Lisboa e da Região Oeste, colabora também com a FCH, sendo a responsável pela colocação dos ecopontos na Faculdade. O ponto alto da intervenção da Dra. Joana Xavier foi a confrontação dos presentes com a questão «Sabiam que cada um de nós produz cerca de 500 kg de lixo por ano?». Entre os presentes, começaram a surgir perguntas sobre o que fazer para se mudar esta situação que começa a ser preocupante. Além disso, a Coordenadora da Valorsul frisou o facto de que «ao reciclar contribuímos para a economia nacional, poupamos espaço de aterro e geramos emprego em Portugal.».

“«aquilo que estamos a fazer é recuperar os malefícios que as gerações causaram, de gerar desperdícios e inutilidades que prejudicam o ambiente. Nós somos os principais responsáveis. (...)»” Este projecto terá continuidade em Setembro, não só com a colocação de novos suportes para reciclagem de embalagens, mas também com uma praxe solidária. Após a inauguração do primeiro ecoponto, junto ao bar da FCH, o Pontivírgula falou com o Professor Nelson Ribeiro sobre todo o projecto. JORNAL PONTIVÍRGULA: Como surgiu a ideia deste projecto? PROFESSOR NELSON RIBEIRO: Esta ideia surgiu, em primeiro lugar, em sequência da publicação, o ano passado, da carta encíclica Laudato Si do Papa Francisco. É um texto muito interpelador, porque fala sobre muitas coisas que nos levam a pensar sobre aquilo que nós andamos a fazer ao nosso planeta, àquilo a que o Papa chama a «casa comum». Por outro lado, tem também um outro capítulo sobre a educação para a cidadania ecológica, no qual o Papa chama a atenção para o facto de que muitas vezes existem muitos projectos, mas que se limitam a divulgar informação. Nós pensámos, agora que se está a assinalar um ano desde a publicação da encíclica, em lançar uma campanha que tivesse essa componente de informação, mas que simultaneamente tivesse uma componente prática, para que as pessoas possam colocar em prática, aqui na faculdade, o processo de reciclagem, neste caso de plásticos e metais.


FCH

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FCH Sustentável: o primeiro passo para a mudança Qual é a importância deste tipo de iniciativas num contexto académico? NR: A importância desta iniciativa é tentar contribuir para mudar hábitos e mentalidades, que é o grande objectivo. Vamos ver. Temos consciência de que, provavelmente, não vamos angariar aqui toneladas de plásticos e metais, mas se contribuirmos para mudar a mentalidade dos nossos alunos, professores e também funcionários, isso já será muito bom. Esse é, de facto, o grande objectivo. JP:

JP: E no que diz respeito à futura praxe ecológica, já

há alguma coisa definida? NR: Ainda não existe propriamente um modelo já definido e fechado, mas a ideia é que os alunos que venham em Setembro – que todos os anos têm normalmente uma actividade solidária, que acaba por ser uma forma de integração na faculdade – este ano tenham nessa actividade uma componente ecológica. É também um desafio que a faculdade está a trabalhar em conjunto com a Associação de Estudantes. «Uma embalagem hoje, o planeta amanhã.» Acha que as pessoas estão mais sensíveis aos problemas ambientais ou é uma coisa que ainda passa despercebida? NR: As pessoas dizem que estão mais sensíveis, mas não fazem nada. E isso, pelos dados que vimos esta manhã – em Portugal, só cerca de 8% do lixo que é recolhido é lixo separado –, mostra que, apesar de haver muita informação e de as pessoas dizerem que estão muito preocupadas com o futuro do planeta, depois na prática não fazem nada. A escolha deste local para este suporte não é por acaso, porque este é um sítio onde muitas vezes há imenso lixo no chão. Portanto, eu julgo que este vai ser um grande teste e uma forma de as pessoas que habitam este espaço provarem que têm alguma consciência ecológica. Mas isso daqui a uns dias já vamos poder verificar, ao passarmos por aqui e vermos o que está a acontecer com aquele saco. JP:

JP: Que mensagem deixa aos alunos?

© Francisco Cambim

Este foi o primeiro passo deste projecto. O que se segue? NR: Este recipiente, que foi agora aqui colocado, há-de ser o primeiro de outros, que hão-de chegar. A parceria, tal como ela está desenhada com a Valorsul, é algo flexível neste sentido: o número de suportes, que serão colocados por toda a faculdade, vai depender do sucesso ou adesão que este processo de reciclagem venha a ter. Ou seja, se realmente os alunos e professores aderirem e este saco começar a ficar cheio com muita rapidez, provavelmente vamos ter muitos outros colocados pela faculdade. E, portanto, é isso que eu espero que aconteça. JP:

NR: A minha grande mensagem é que os alunos se envolvam nesta iniciativa. Não estamos aqui com uma campanha que exija um trabalho imenso por parte de cada um de nós; é um pequeno gesto mas que pode ter importância. E é importante para nos habituarmos a ter este cuidado da separação e depois também pensar que, ainda para mais, temos aqui uma campanha com um fim solidário: todas as receitas que nós conseguirmos angariar vão reverter a favor da Cáritas. Teríamos o maior gosto em poder entregar à Cáritas um valor que tenha alguma expressão. O meu grande apelo é mesmo que os alunos participem e que vejam o quão simples é passar a deitar os copos de iogurte, as garrafas de água, os pacotes de leite neste saco, em vez de no lixo normal ou espalhado pelo chão, que ainda é mais vergonhoso, mas que, infelizmente, sabemos que acontece.

Alexandra Antunes & Francisco Cambim *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


ATUALIDADE

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O Dia Depois de Amanhã Foi no passado dia 23 de Junho que a União Europeia viu o sonho de uma Europa unida cair por terra. Há 26 anos comemorou-se a queda do muro de Berlim, hoje lamenta-se o erguer de um novo muro. O Reino Unido votou a favor da saída da União Europeia. Dos 72% de britânicos que votaram, 52% votaram a favor do Brexit e 48% votaram contra. Foram mais de 30 mil pessoas às urnas, número que não era ultrapassado desde as eleições gerais em 1992 no Reino Unido, com uma diferença de 1,2 milhões entre os que votaram a favor e os que votaram contra.

“Há 26 anos comemorou-se a queda do muro de Berlim, hoje lamenta-se o erguer de um novo muro. O Reino Unido votou a favor da saída da União Europeia. Dos 72% de britânicos que votaram, 52% votaram a favor do Brexit e 48% votaram contra.” A abstenção foi mais elevada nas regiões que votaram a favor de permanecer na União Europeia – Londres, Escócia e Irlanda do Norte – sendo que a percentagem de voto foi mais alta nas regiões que votaram no Brexit – Norte e Leste de Inglaterra. O maior responsável por esta votação é David Cameron, que em 2013 prometeu este referendo (com o objectivo de ser reeleito primeiro-ministro), convencido de que este resultado jamais aconteceria e se viu obrigado a demitir-se do cargo de primeiroministro. Justifica a sua decisão por não estar em concordância com o resultado obtido, afirmando que “Os britânicos votaram no Brexit e a sua vontade deve ser respeitada.”. David Cameron será substituído até Outubro. No dia 25 de Junho a petição para a realização de um segundo referendo já contava com mais de um milhão de assinaturas. A comissão de petições reuniuse no dia 28 para decidir se o debate sobre este assunto seria aprovado ou não, mas sem efeito. O porta-voz do agora Primeiro-Ministro demissionário disse que um segundo referendo está fora de questão. Também Angela Merkel não vê a possibilidade de reverter o Brexit por já estarem a ser discutidas as futuras relações com o Reino Unido. Enquanto na Escócia não se descarta a possibilidade de haver um segundo referendo, desta vez sobre a independência da Escócia, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, insiste em manter a Escócia na União Europeia.

© Telegraph

A União Europeia é uma parceria económica e política que envolve (agora) 27 países europeus. Teve o seu início após a Segunda Guerra Mundial com o objectivo de estabelecer a paz no continente Europeu, através da cooperação económica entre os Estados-Membros. Foi criado então um mercado único que permite a circulação de bens e de pessoas entre os Estados-Membros como se de um único país se tratasse. Tem a sua própria moeda, usada por 19 países, o seu próprio parlamento e o seu regulamento (que inclui áreas como o ambiente, o transporte, os direitos do consumidor, entre outras). Mas agora, o cenário mudou. As questões que se fazem são muitas, mas as mais frequentes resumem-se a: O que acontece com os cidadãos britânicos que trabalham na União Europeia? E os cidadãos europeus que vivem no Reino Unido? Será agora necessário um visto para viajar entre a União Europeia e o Reino Unido? As respostas a estas perguntas dependem do que será acordado entre o Reino Unido e União Europeia depois da sua saída. Se o Reino Unido se mantiver no mercado único, terá de manter a liberdade de circulação de pessoas, a qual permite os cidadãos britânicos trabalharem na União Europeia e vice-versa. Se o governo britânico optar por impor restrições aos trabalhadores, como o Partido de Independência do Reino Unido quer, podem vir a ser necessários vistos de trabalho.

“O porta-voz do agora primeiroministro demissionário disse que um segundo referendo está fora de questão.”


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O Dia Depois de Amanhã A União Europeia já pediu mais do que uma vez ao Reino Unido para sair o mais prontamente possível da União Europeia. Para que isso aconteça, o primeiroministro britânico deverá invocar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa, assinado a 13 de Dezembro de 2007 e em vigor desde o dia 1 de Dezembro de 2009. Neste artigo prevê-se a possibilidade de qualquer Estado sair de forma voluntária e unilateral da União Europeia. É um processo com um prazo de dois anos de negociações entre o estado-membro que deseja sair e a União Europeia. Durante este período de dois anos, as leis europeias mantêm-se, mas o Reino Unido deixará de ter voz activa nas negociações dos 27 estados membros e relativas à sua saída. Mas sem primeiro-ministro não há quem possa invocar o artigo 50.º e, sem um pedido oficial de saída, os 27 Estados-Membros não aceitam negociar com o Reino Unido. O Primeiro-Ministro demissionário ou o seu sucessor terão essa responsabilidade nas mãos. Com a demissão de David Cameron, um novo líder do Partido Conservador será escolhido para assumir funções até 9 de Setembro. São cinco os candidatos: Theresa May, ministra do Interior desde 2010; Michael Gove, ministro da Justiça, Stephen Crabb; ministro do Trabalho e das Pensões (e apoiado pelo ministro da Economia, Sajid Javid); Liam Fox, ex-ministro da Defesa (que já havia concorrido à liderança do Partido Conservador em 2005) e Andrea Leadsom, secretária de Estado da Energia.

“Neste artigo prevê-se a possibilidade de qualquer Estado sair de forma voluntária e unilateral da União Europeia. É um processo com um prazo de dois anos de negociações entre o estado-membro que deseja sair e a União Europeia.” A Europa não é mais a mesma, o Reino Unido dividiu-se e dividiu assim a União Europeia. Questiona-se se o inglês deverá continuar a ser a língua franca da União ou quem poderá vir a ser o próximo a abandonar o barco: será a Holanda, a Suécia, a Itália ou a França? Até o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, já sugeriu levar a cabo um referendo na Turquia sobre se o processo de adesão à União Europeia deve ou não continuar. De um lado, apontam-se os dedos aos mais velhos, aos mais pobres, aos tablóides e aos eleitores que não tinham conhecimento do que estavam a fazer e, ao verem o resultado, se arrependeram. Por outro lado, são os imigrantes os que mais têm sofrido com a repercussão do Brexit. O que está realmente a acontecer à União Europeia? Será o egoísmo o soberano?

© Instagram @sil_loh

Gabriela Moura *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Até já, Camilo de Oliveira

© Impala

Morreu Camilo de Oliveira. O actor e argumentista português Camilo de Oliveira faleceu dia 2 de Julho, em Lisboa. Camilo de Oliveira estava já internado no hospital, em luta permanente contra dois cancros que lhe tinham atingido a próstata e o intestino. Afastado dos palcos há 5 anos, o actor natural da Figueira da Foz estreou-se no mundo da representação com apenas 9 anos. Desde aí, nunca mais parou. Conhecido pelos seus papéis em várias séries portuguesas e pelo bom humor característico, deu também cartas na revista à portuguesa e dedicou largos anos da sua vida à comédia.

“Camilo era um excelente profissional, amado por todos”, afirmou Vítor de Sousa, actor e amigo de Camilo de Oliveira. Simone de Oliveira recorda o actor como uma pessoa de “temperamento nada fácil”, mas também amado por todos e uma “garantia de divertimento”. Foram cerca de 70 anos nos palcos e na televisão. Anos recheados de conquistas e de muitos risos. A representação, a cultura e o país ficam mais pobres. O actor será homenageado na Basílica da Estrela, em Lisboa.

“Foram cerca de 70 anos nos palcos e na televisão.” De todos os seus trabalhos em televisão destacase a participação em “Sabadabadu”, na RTP, “Camilo, o Presidente”, na SIC ou “Camilo & Filho Lda”, uma sitcom portuguesa. “Camilo em Sarilhos”, também na SIC, foi outra emblemática série em que o ator participou, de 2005 a 2006, tendo sido o protagonista em todas elas. Este género de sitcoms foram uma aposta constante do actor e argumentista português, com programas de matriz semelhante. No teatro, de 1951 a 2008, Camilo participou em mais de 50 peças, com destaque para as revistas à portuguesa, tendo abandonado os palcos devido à sua doença. Camilo participou ainda em algumas obras de cinema português.

© Move Notícias

Joana Pires Roque *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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PP de Mariano Rajoy ganha as eleições em Espanha O Partido Popular (PP), liderado pelo atual chefe do governo, Mariano Rajoy, é o vencedor das eleições em Espanha. Assim, podemos dizer que a noite eleitoral voltou a dar a vitória ao PP, seis meses depois das últimas eleições de Dezembro. Mariano Rajoy continua a ser escolhido para chefe do Governo pelos espanhóis e é a terceira vez consecutiva que Mariano Rajoy ganha as eleições. No entanto, tudo vai depender de quantos deputados consegue eleger e se isso lhe dá vantagem nas negociações parlamentares para conseguir formar governo. Neste momento, a esquerda é quem tem a palavra e terá um papel essencial na definição política em Espanha.

O Podemos (partido de esquerda), do jovem Pablo Iglesias, fundado em 1879 e que prometia superar o Partido Socialista Operário Espanhol, não chegou ao que ambicionava. A coligação Unidos Podemos perde 1,1 milhões de votos face a 20 de Dezembro, altura em que o Podemos foi a votos sem estar coligado. O grande derrotado da noite foi mesmo o Podemos. O candidato da frente da coligação Unidos Podemos não teve o apoio que esperava e, apesar da voraz ambição de ser o partido mais votado, conseguiu apenas cerca de metade dos votos da força política mais votada. Embora o esforço seja devidamente reconhecido, não conseguiu ser uma alternativa ao Partido Popular e, principalmente, ficou muito longe do PSOE. A aliança com a Esquerda Unida ofereceu a Iglesias apenas duas cadeiras a mais do que nas eleições de 20 de dezembro e, com elas, recebeu também uma “chapada de luva branca”. Pablo Iglesias, no seu primeiro comunicado, disse que agora “era o momento de refletir.” Estas foram as primeiras palavras de Iglesias, que, apesar de tudo, negou-se a pronunciar a palavra “fracasso” e insistiu que “a confluência se revelou como o caminho correto do ponto de vista da responsabilidade de Estado”. Considerou a sua função no parlamento, dizendo também acreditar que ainda “tem muito futuro neste país”. E falando de futuro, são vários os cenários possíveis num Congresso tão fragmentado como o de Dezembro. Agora é tempo de “ponderação”, já dizia Rajoy.

© Telegraph

Sintetizando os dados que ficam da noite eleitoral: - O PP e o Ciudadanos lideram com 169 deputados, num parlamento de 350 deputados. - Com todos os resultados apurados, o PP, de Mariano Rajoy, ganha com 137 deputados, mais 14 do que a 20 de Dezembro de 2015 (32,72%), ficando a 39 deputados dos 176 necessários para conseguir maioria absoluta; - O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) mantém-se como principal partido de esquerda, com 85 deputados (22,78%); - Segue-lhe o Podemos, que elege até agora 71 deputados (13,32%); - O Ciudadanos (um partido de centro-direita) segue-o, com 32 deputados (12,96%).

© JN


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PP de Mariano Rajoy ganha as eleições em Espanha Ao contrário do que fez após as eleições de 20 de Dezembro — quando se negou a formar Governo por não reunir apoios suficientes —, Rajoy mostra agora abertura para qualquer fórmula que lhe garanta o poder. “Não vamos abdicar da responsabilidade de governar e eu não vou renunciar a governar porque há oito milhões de espanhóis que nos apoiaram”, afirmou o chefe de Governo. Apesar de ter transformado uma derrota numa pequena vitória — por ter evitado a perda do estatuto de maior partido da esquerda espanhola —, o PSOE, partido de Pedro Sánchez, não está em paz. A presidente da Andaluzia, Susana Díaz, foi das primeiras a marcar a diferença em relação ao líder nacional do partido. “Deram-nos menos cinco lugares do que em Dezembro. Não há dúvida nenhuma, mandaram-nos para a oposição”, disse Díaz numa entrevista. Também o presidente da Extremadura, Guillermo Fernández-Vara, recordou que o PSOE obteve “um dos piores resultados da sua história”. Afirma também que “nada me apetece menos do que ajudar quem tanto dano causou a este país, mas acredito que pior seria não ter Governo”, remata o dirigente socialista. Apesar de ser um partido mais pequeno e de contar com menos vozes discordantes do que no PSOE, também no Ciudadanos há indícios de um debate interno sobre a estratégia a seguir. “O PP tirou mais de 50 deputados ao segundo partido, 66 ao terceiro e mais de cem a nós”, sublinhou o eurodeputado Javier Nart, em declarações ao El País. “O resultado é o que é, e a política faz-se com realidades, não com desejos”, acrescentou o também membro da direcção. Nesta altura, a política espanhola não pode ser considerada um exemplo de estabilidade. Regressemos às eleições de Dezembro. Sem maioria absoluta, o Partido Popular abriu um novo tempo no espaço, para negociar uma solução de governo. “Ganhámos e reclamamos o direito a governar”, afirmava Rajoy, sem qualquer medo ou ousadia. Mas todos sabíamos que uma nova ronda de reuniões, declarações e negociações se aproximava, com cedências e exigências entre Rajoy, Sanchez, Rivera e Iglesias, a fim de se tentar construir as bases de um acordo que permitisse que um dos quatro candidatos elegíveis fosse chefe do governo. Há seis meses, Pablo Iglesias defendia que a Catalunha era uma nação; Pedro Sanchéz afirmava que Espanha queria mudar e, por isso, ambicionava um governo de esquerda; Rivera, dizia que o seu partido era cheio de “gente normal, a fazer coisas extraordinárias”; Já Rajoy rematava que o seu maior desejo era um Governo estável, com certezas e confiança.

Se Espanha tivesse como presidente do Governo alguém de um partido que não ganhou as eleições, como tudo parecia indicar, seria o sexto país europeu nessa situação, juntando-se a Estónia, Bélgica, Luxemburgo, Dinamarca e Portugal. Mas a questão sempre foi e sempre será, especialmente neste caso específico Espanhol, se um país que nunca foi governado por uma coligação seria capaz de ser governado com quatro forças políticas com uma força equiparável. Houve, pelo menos, uma grande conclusão a tirar de Dezembro eleitoral em Espanha: os espanhóis viriam a ter o congresso mais dividido da sua democracia. Hoje, sabemos que Rajoy ganhou.

“«O resultado é o que é, e a política faz-se com realidades, não com desejos» (...)” Um dia depois das eleições de Junho, liam-se nos jornais vários títulos: ”PP reforça-se e o bloco das esquerdas perde terreno”, titulava o El País; ”Rajoy ganha força”, escrevia o La Vanguardia; ”Os espanhóis dão outra oportunidade a Rajoy”, dizia o El Mundo; ”Rajoy ganha, Sánchez decide”, o título do El Periódico de Catalunya; ”Espanha quer que Rajoy governe”, escolheu o ABC para título. Mas, contudo, nenhum disse o que o El Confidencial acabou por dizer:“A Europa celebra em Espanha a primeira derrota do populismo a seguir ao ‘Brexit’.” E, aqui, podemos questionar-nos se realmente houve um efeito “Brexit” nas eleições espanholas. De facto, o Brexit poderá explicar em parte esta retração de votos num partido de esquerda radical, misturado com o medo e o pé que teima em estar sempre atrás do outro. O Partido Popular, no poder, apressou-se a reforçar a sua mensagem de que “A Espanha necessita de estabilidade frente às incertezas que se abrem na Europa”, declarou Mariano Rajoy a partir da Moncloa. Dizem alguns que o Brexit, que aconteceu dois dias antes das eleições espanholas, anuncia um euroceticismo que abalou, com certeza, as votações. Após o inconclusivo resultado de 20 de Dezembro, de seis meses de infrutíferas negociações e do novo acto eleitoral, Espanha continua a não ser um território fértil em estabilidade política. As próximas semanas serão vitais na definição do futuro da política espanhola. Ana Silvestre *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Enquanto dançam, o terror instala-se “Vou morrer”. Foi esta a última mensagem enviada por Eddie Jamoldroy à mãe. Eddie viria a ser uma das 49 vítimas mortais na discoteca de Orlando. Aquele que foi considerado o maior ataque terrorista após o 11 de Setembro, nos Estados Unidos da América contaria ainda com mais 53 pessoas feridas. O autor do massacre, que ocorreu a 12 de Junho, na Pulse, uma discoteca gay, foi Omar Mateen. Era norteamericano, tinha 29 anos, era segurança privado, tinha treino de armas e foi morto pelas forças de segurança, após o ataque. De acordo com os meios de comunicação social dos Estados Unidos da América, este homem já tinha sido vigiado pelo FBI, devido a ligações com o Estado Islâmico, nos anos de 2013 e 2014, mas os processos acabaram por ser arquivados, por falta de provas.

O presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, reunido com as equipas de salvamento, visitou os familiares das vítimas e os sobreviventes, em Orlando, e apelou ao fim da discriminação da comunidade LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual e Transexual): “Estas famílias poderiam ser as nossas famílias. De facto, são a nossa família, pois são parte da família norte-americana. O nosso coração também está partido”, declarou Obama aos jornalistas. O presidente, juntamente com o vicepresidente, depositaram ramos com 49 rosas brancas, simbolizando cada uma das vítimas mortais deste atentado, no centro de artes performativas Doctor Philips, em Orlando, onde foi criado um memorial. Barack Obama ainda afirmou que a comunidade LGBT “viu-se agitada por um acto perverso e cheio de ódio”, mas que naquele momento “existe sobretudo amor” e sublinhou que o ataque “foi um acto de terror, mas também um acto de ódio” contra a comunidade LGBT.

“«Estas famílias poderiam ser as nossas famílias. De facto, são a nossa família, pois são parte da família norteamericana. O nosso coração também está partido» (...)“

© DN

Várias testemunhas garantiram ao jornal Orlando Sentinel que viram Omar Mateen algumas vezes na discoteca e até mesmo antes de este iniciar o ataque. Uma das testemunhas afirmou que, muitas vezes, o via sentado, sozinho, a beber e, outras, tão embriagado, que se tornava num homem violento. De acordo com as informações que têm vindo a ser reveladas e veiculadas pelo Observador, Noor Salman, mulher de Omar Mateen, sabia que o marido planeava o ataque à discoteca Pulse, tendo-o acompanhado na compra de munições, mas, adianta a NBC News, terá tentado dissuadi-lo de realizar o ataque. As autoridades podem, agora, apresentar queixa contra Noor por não ter avisado as forças de segurança, no entanto, fontes oficiais garantem que ela tem colaborado com a investigação.

Este ataque pode ser considerado o pior desde o 11 de Setembro, mas faz parte da realidade dos Estados Unidos da América. Todos os anos, o país é palco de tiroteios em massa: A 5 de Novembro de 2009, Nidal Hasan, um militar psiquiatra com origem palestiniana, iniciou um tiroteio numa base militar americana, no Texas. Matou 13 pessoas e 42 ficaram feridas. A 2 de Abril de 2012, One Goh, sul-coreano, matou 7 pessoas e feriu 3, na Universidade de Oikos. A 20 de Julho de 2012, James Holmes matou 2 pessoas e feriu 70, durante a emissão do filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, no Colorado. A 14 de Dezembro de 2012, Adam Lanza matou 20 crianças e 6 adultos, na escola Saandy Hook, em Connecticut. Ainda assassinou a própria mãe. A 16 de Setembro de 2013, Aaron Alexis matou 12 pessoas nas instalações da Marinha, em Washington. A 16 de Junho de 2015, Dylann Roof matou 9 pessoas negras, numa Igreja de Charleston, na Carolina do Norte. O ataque foi justificado pelas suas crenças da supremacia da raça branca.


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Enquanto dançam, o terror instala-se A 1 de Outubro de 2015, Chris Mercer matou 10 pessoas e feriu outras 7 num tiroteio na universidade de Umpqua, na zona rural de Oregon. A 2 de Dezembro de 2015, Syed Farook e Tashfeen Malik mataram 14 pessoas e feriram 21, num tiroteiro num centro para pessoas com deficiência, em San Bernardino. E, agora, a 12 de Julho de 2016, o ataque na discoteca Pulse em Orlando, acrescenta-se a estes números trágicos, acrescentando-lhes vítimas mortais e feridos. Estes são apenas alguns dos vários ataques que ocorreram nos Estados Unidos da América, nos últimos 7 anos.

“Mais de 2.000 pessoas que estão ou estiveram nas listas de vigilância do FBI compraram armas nos últimos anos. Agora, reabriuse a discussão sobre a lei das armas que vigora no país. “ Omar Mateen comprou, legalmente, as 2 armas que usou no massacre em Orlando, e não foi o único. Mais de 2.000 pessoas que estão ou estiveram nas listas de vigilância do FBI compraram armas nos últimos anos. Agora, reabriu-se a discussão sobre a lei das armas que vigora no país. A 17 de Junho, 5 dias após o ataque na discoteca Pulse, Chris Murphy, político filiado no partido democrata, defendeu um maior controlo do passado dos compradores de armas e o acesso dos vendedores a uma lista de suspeitos de terrorismo. O objectivo era convencer os republicanos a votarem numa nova lei das armas, que permita um controlo mais eficaz sobre se quem está a comprar uma arma de fogo pode ser um potencial risco para os cidadãos. Durante as 15 horas de reunião, Murphy foi apelando ao sentido humanitário dos republicanos, ao relembrar histórias de tiroteiros passados que talvez pudessem ter sido evitados se o controlo ou a lei fossem outros. O porta-voz de Obama referiu que, 24 horas após o atentado em Orlando, 42 incidentes com armas de fogo foram registados no país, apesar dos esforços dos democratas e dos inquéritos à população, que mostram que 92% dos americanos apoiam uma verificação de antecedentes antes de se comprar uma arma e que 86% apoiam a proibição da compra de armas por pessoas que constem na lista de suspeitos de terrorismo.

No dia 22 de Junho, dezenas de democratas ocuparam a Casa dos Representantes e sentaram-se no chão (um ato ilegal) como forma de protesto contra a inércia dos políticos norte-americanos. Apesar dos esforços e dos números, o Senado rejeitou as quatro propostas legislativas para uma alteração da lei, que permitisse um maior controlo sobre a posse de armas de fogo. E vai continuar a rejeitar, porque a maioria do Senado é republicana e grande parte dos candidatos são financiados pela NRA (National Rifle Association), que tem interesse em manter o status quo. Só na campanha de 2014, a NRA gastou 28 milhões de dólares em apoios a candidatos ao Senado. 90% dos candidatos apoiados pela associação ganham as eleições. Mesmo em comunidades devastadas por tiroteios em massa.

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“O porta-voz de Obama referiu que, 24 horas após o atentado em Orlando, 42 incidentes com armas de fogo foram registados no país (...). “


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Enquanto dançam, o terror instala-se

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No Arizona, por exemplo, Gabby Giffords, democrata e membro da Casa dos Representantes, foi alvejada na cabeça, ficando com sérios danos cerebrais. Teve, por isso, que se afastar da vida política. Para o seu lugar, foi eleita uma candidata republicana, Martha McSally, que foi apoiada pela NRA e opõe-se fortemente ao controlo de venda de armas. Este é só um dos muitos exemplos de políticos amarrados pelo lobby das armas, Barack Obama partilhou na sua conta do Twitter: “A violência com armas exige mais do que momentos de silêncio. Exige acção”, demonstrando o seu desagrado com a decisão do Senado para com um dos maiores problemas que os Estados Unidos da América enfrentam neste momento. Este é mais um caso a trazer de volta a questão da posse de armas nos Estados Unidos da América. Nos últimos 164 dias do ano houve 136 tiroteios em massa. De acordo com a CNN, os 3 locais com maior risco de tiroteio são as empresas (45,6%), de seguida as escolas (24,4%) e, por último, os espaços abertos (com 9,4% das probabilidades). Na maioria dos tiroteios em massa, os atiradores tinham em sua posse mais do que uma arma. Os cidadãos dos Estados Unidos da América têm cerca de 270 milhões de armas, o suficiente para que cada pessoa da Indonésia tivesse uma arma, e ainda sobrariam algumas.

De acordo com a Snopes, em 2015, foram mais as pessoas que morreram devido a uma criança com idade igual ou inferior a 3 anos ter tido acesso a uma arma de fogo do que devido a um ataque terrorista, nos Estados Unidos da América. No ano de passado, 13 crianças morreram por estarem a manusear uma arma, 18 feriram-se, 10 feriram outras pessoas e 2 mataram, resultando num total de 43 incidentes. Estes valores demonstram a extrema facilidade que qualquer pessoa tem em adquirir uma arma e o quão perigoso é. Como vítimas do terrorismo do Estado Islâmico, morreram 19 pessoas no mesmo ano. Estes são dados que têm que se ter em consideração, quando se avalia a questão do acesso a armas nos Estados Unidos.

“Aquilo que o Senado defende como sendo algo necessário para proteger cada cidadão americano é o que mais os mata.“ Enquanto estes estudos são feitos e mais mortes são causadas por armas de fogo, o Senado não aceita mudar a legislação de um país que já provou que a posse de armas é perigosa. Aquilo que o Senado defende como sendo algo necessário para proteger cada cidadão americano é o que mais os mata. God bless America. Sandra Vasconcelos *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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10 razões para acompanhar o Euro 2016

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Está a decorrer mais uma edição de um campeonato europeu de futebol. Neste ano, o Euro realiza-se em França e prima por ser diferente de todas as outras edições então realizadas. O Pontivírgula dá-te a conhecer dez razões por que não deves perder nada deste Europeu de futebol. - Portugal na rota do título Pela segunda vez na sua história, Portugal chegou às meias-finais de um Europeu. Dia 6, os portugueses defrontam o País de Gales e tentam chegar a uma final há muito prometida pelo selecionador Fernando Santos. O facto de jogarmos com os galeses, uma equipa que, apesar de forte, é estreante na competição e não é um “tubarão”, legitima, ainda mais, as esperanças de Ronaldo e companhia. - Maior europeu de sempre Nunca numa outra edição de um campeonato da europa houve tantas seleções a lutar pelo troféu. Tendo começado a ser disputado em 1960, apenas por quatro seleções, seria aumentado para oito, em 1980 e, mais tarde, para 16 nações, em 1996. Neste ano, sofreu novo alargamento, permitindo que mais pessoas consigam ver o seu país representado nesta competição.

- Estreias na competição Este ponto é influenciado pelo ponto anterior. O facto de haver mais vagas para seleções permite-nos observar talentos de outras nações e outros tipos de estilos de futebol, neste torneio. Seleções como a Albânia, Islândia, País de Gales e Irlanda do Norte, por exemplo, são estreias absolutas em campeonatos da europa e já deixaram ‘um ar da sua graça’ por terras gaulesas. A título de curiosidade, islandeses e galeses chegaram, pelo menos, até aos quartos-de-final, sendo as grandes surpresas deste torneio. - Grandes jogadores, grandes golos, grandes momentos Campeonato europeu é sinónimo de ver em ação alguns dos melhores jogadores do Mundo. Para além do ‘nosso’ Cristiano Ronaldo, temos também a honra de ver atuar grandes jogadores como Pogba, Gareth Bale, Wayne Rooney, Manuel Neuer, Luka Modric, Andres Iniesta, Arda Turan, Buffon, Eden Hazard, Zlatan Ibrahimovic entre tantos, tantos outros. Grandes jogadores significam golos fenomenais, defesas incríveis, passes magníficos e dribles fantásticos. São a garantia de vermos lances que ‘valem o preço do bilhete’ e de nos pregar à televisão. Até agora, destaque para os golos de Ronaldo, frente à Hungria, Shaqiri, frente à Polónia e de Payet, frente à Roménia.


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10 razões para acompanhar o Euro 2016 - Estrelas em ascensão E por falar em grandes jogadores, há que olhar para o futuro. Este europeu traz-nos talentos que, muito brevemente, estarão em destaque no futebol mundial. Começando pela nossa seleção, é impossível não destacar três craques para o futuro: Raphael Guerreiro, João Mário e Renato Sanches. O primeiro é uma das mais recentes contratações do colosso Borussia Dortmund; os outros dois são ‘meninos de ouro’ dos clubes rivais da segunda circular. Apenas João Mário irá continuar a espalhar talento pelos relvados portugueses, embora ainda não seja certa a sua continuidade no Sporting. Renato Sanches já assinou contrato com o campeão alemão, Bayern Munique. Depois de ser considerado o “homem do jogo” por duas ocasiões, Renato perfila-se como candidato a melhor jogador do Euro 2016. Para além destes, há também que destacar talentos como Martial, Griezmann, Rashford, Emre Mor, Zinchenko, Morata, Eric Dier, entre outros. - Última oportunidade de ver atuar alguns jogadores pelas suas seleções Se, por um lado, temos talentos emergentes da ‘NextGen’, por outro temos a “malta” ‘Old School’. Este europeu poderá ser a última oportunidade de vermos estrelas do futebol mundial atuar pelo seu país. É o caso de Ibrahimovic, que já anunciou o abandono da selecção sueca. Também Buffon, Pepe, Ricardo Carvalho, Schweinsteiger, Patrice Evra, Casillas e Iniesta deverão estar na sua última competição.

- Jogadores portugueses como “papa-recordes” Neste europeu têm sido batidos vários recordes e poderão vir a bater-se muitos mais. Cristiano Ronaldo não só se tornou o jogador com mais internacionalizações por Portugal, como se tornou o atleta com mais presenças em jogos de campeonatos da europa. Uma marca assinalável para o português que está apenas a dois golos de se tornar o maior goleador de sempre da história dos europeus. Para além disto, com os dois golos frente à Hungria, CR7 tornou-se o jogador a marcar em mais edições seguidas do europeu (quatro – 2004; 2008; 2012; 2016). - Grandes emoções Este Euro 2016 tem sido rico em jogos decididos já bem perto do final. Já tivemos desempates por grandes penalidades, vitórias asseguradas nos últimos minutos do prolongamento e jogos decididos bem perto do fim do tempo regulamentar (até aos quartos-de-final, cerca de 30% dos golos marcados, foram depois dos 76 minutos). Emoções à flor da pele estão definitivamente presentes no certame francês.

“Europeu de grandes emoções Este Euro 2016 tem sido rico em jogos decididos já bem perto do final. “ - Adeptos incansáveis Certas equipas surpreenderam não apenas pelo futebol praticado, mas pelo apoio que trouxeram consigo. Enormes falanges de adeptos, incansáveis no apoio à sua seleção, dão autênticos recitais dentro dos estádios cantando e batendo palmas ininterruptamente durante os 90 minutos. De realçar os adeptos da Irlanda do Norte e da Islândia, duas seleções estreantes em europeus, bem como os da República da Irlanda, que deram o exemplo aos adeptos das seleções mais experientes. Os irlandeses serão mesmo condecorados com a Medalha da Cidade de Paris, homenageando o seu comportamento excecional durante o campeonato da Europa.

© Uefa

- Jogos em direto e em canal aberto Neste ano temos muitos jogos a serem transmitidos o que não impede qualquer amante do desporto rei de poder observar muito e bom futebol de forma gratuita. Os horários também são acessíveis, já que o nosso fuso horário não é muito diferente do francês, pelo que não há qualquer desculpa para não ver futebol de alto nível. Tiago Sardo


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Protestos contra alterações das leis laborais em França Desde março que decorrem protestos, por vezes violentos, contra a reforma na lei laboral. Em consequência, os meios de transporte são perturbados, há lixo espalhado pelas ruas de país, escassez de combustível, e também vários feridos, incluindo protestantes e polícias.

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A reforma laboral, apresentada como uma forma de dinamizar o mercado de trabalho e reduzir o desemprego no país, foi recebida pelos protestantes como uma ameaça que poderá levar ao aumento da precariedade. A reforma na lei do trabalho traz novas alterações em alguns pontos-chave: o limite de 35 horas de trabalho semanal pode ser excedido por acordo empresarial, por decisão do empresário ou outros casos excepcionais. O número de demissões poderá aumentar, sendo que o tempo de indemnização aos trabalhadores será mais restrito. Se excedidas as 35 horas de trabalho semanal, as horas-extra serão pagas a partir do acordo sectorial e apenas caso a empresa e o comité sindical concordem. Por fim, os acordos entre empresários e o comité sindical estarão acima do sectorial, o que irá preservar o poder sindical. Estas alterações na lei laboral levam dezenas de milhares de estudantes e trabalhadores, apoiados por sindicatos, a oporem-se, considerando que esta reforma é uma “ofensiva” contra eles. Por outro lado, o primeiro-ministro socialista Manuel Valls considera que os jovens serão “os mais beneficiados” pela reforma laboral que o seu Governo redigiu.

Um dos principais protestos contra a lei laboral do país foi autorizado pelo governo francês e decorre em Paris. Inicialmente, a manifestação tinha sido proibida devido à violência contra a polícia e, caso essa proibição se mantivesse, seria a primeira depois de várias décadas, uma vez que a última aconteceu em 1962, na interdição de um desfile pela paz, na Argélia. A manifestação então autorizada tomará um “percurso proposto pelo ministro do Interior” francês, em apenas 1,6 quilómetros entre a praça da Bastilha e o cais do Sena, em Paris, referiu o dirigente da Confederação Geral do Trabalho (CGT). Nesta nova mobilização prevêem-se manifestações e greves, um pouco por toda a parte do país. No entanto, a ameaça de proibição era evocada há já vários dias pelo presidente François Hollande e pelo primeiro-ministro Manuel Valls, na sequência de vários incidentes violentos que ocorreram durante uma manifestação no dia 14 de junho.

“Estas alterações na lei laboral levam dezenas de milhares de estudantes e trabalhadores, apoiados por sindicatos, a oporem-se, considerando que esta reforma é uma “ofensiva” contra eles. “ Desde março, as manifestações contra as leis do trabalho em França têm provocado fortes tensões, tais como greves, estradas barricadas, portos bloqueados pelos protestantes, manifestações em várias cidades do país e dezenas de feridos (protestantes e polícias). Estas tensões têm desencadeado protestos sobre a violência policial e também debates sobre as agressões de manifestantes a polícias. As greves têm causado várias consequências no meio social, tais como o fecho da Torre Eiffel, interrupção da rede de transportes, perturbações nos transportes aéreos e ferroviários e também levaram a uma redução do combustível e à acumulação de lixo nas ruas de Paris. De momento, o projecto-lei foi aprovado na Assembleia Nacional, sem discussão, através de um voto de confiança do governo. Está prevista a realização de outros protestos na capital francesa, segundo convocatória dos sindicatos de trabalhadores e estudantes. Mariana Pereira Martins *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Caixa Geral de Depósitos: recapitalização que pode chegar a 5 mil milhões de euros O plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) pode atingir um total de 5 mil milhões de euros, afirmam as contas do Governo. Este valor pode aumentar ou diminuir em função da forma de contabilização e das exigências da Comissão Europeia. Este valor servirá para prevenir o “não recebimento de créditos concedidos” e para “aumentar a almofada financeira” da CGD de forma a que o banco tenha acesso aos mercados nas suas operações financeiras, o que corresponde às regras europeias. Vão também servir para pagar a reestruturação do banco e devolver ao Estado o empréstimo de 900 milhões de euros em CoCos.

© Sbsi

“A CGD já registou um prejuízo de 74,2 milhões de euros durante os primeiros três meses do ano. “

© Público

O plano do Governo contempla, deste modo, uma verba para mudanças no banco. 2500 trabalhadores da Caixa deverão abandonar o banco, quer por rescisão amigável, quer por reforma antecipada, e cerca de 300 balcões serão encerrados (maioritariamente no estrangeiro). Tanto o PCP como o BE assumem ser contra estas medidas. No entanto, estão em consonância com o Governo na necessidade de robustecer a CGD com o reforço de capital. Já o PSD e o CDS revelam que vão apresentar um projecto de resolução para que haja uma auditoria forense à gestão da CGD e do Banif. Citando o Jornal Expresso “a deputada do BE Mariana Mortágua considera que a proposta de uma auditoria forense ao Banif resulta mais de «uma birra política do PSD e não de uma necessidade sentida pela comissão de inquérito que ainda está a decorrer.»”. A CGD refere como factores da afectibilidade das contas o impacto nas operações financeiras “do clima de instabilidade nos mercados” e o “aumento da aversão ao risco”, como avança o Público.

Não tendo ainda conseguido reembolsar os 900 milhões de euros emprestados pelo Estado (CoCos), este banco público continua com um problema em mãos. No espaço de um ano, entre Março de 2015 e Março de 2016, a CGD reduziu o quadro pessoal em 529 funcionários e reduziu o número de agências em Portugal para 732 (menos 36 agências). A CGD já registou um prejuízo de 74,2 milhões de euros durante os primeiros três meses do ano. Desta forma, é o banco com piores resultados no primeiro trimestre quando comparado a bancos como o Montepio (-19,8milhões). Este prejuízo seria maior se não existisse o contributo dos negócios internacionais, que deram um lucro de 40 milhões. Destes negócios salientam-se Macau, Moçambique, França e Espanha. Em 2012 foi feita a última recapitalização do banco pelo Governo de Passos Coelho, com a injecção de 1,6 mil milhões de euros. A estratégia definida para a recapitalização da CGD deve ser apresentada pelo Governo no final do mês de Junho. Esta estratégia já terá sido mostrada ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista. Andreia Monteiro *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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E o Samba continua O Senado brasileiro reuniu-se ao longo de mais 20 horas, entre o dia 11 de Maio e a madrugada do dia 12, para votar a destituição de Dilma Rousseff. Dos 81 senadores, 55 votaram a favor. Como foi mais de metade, o processo seguiu para julgamento. Dilma está afastada do cargo de presidente por um período de seis meses. Enquanto isso, Michel Temer substitui Dilma como Presidente interino. Temer governará até o Congresso decidir se Rousseff é destituída ou não. Para quem ainda se questiona por que motivo Dilma está a ser julgada, ficam os motivos: alegam que cometeu um crime de responsabilidade fiscal, as chamadas “pedaladas fiscais”, e que esteja envolvida na operação Lava Jato. O discurso “contra a corrupção” foi o mais ouvido entre as acusações feitas a Dilma ao longo da votação.

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Agora que Temer é presidente, fala-se em golpe, por ser contraditório “um corrupto estar à frente de um processo contra a corrupção”. Saiu um governo de esquerda (Partido dos Trabalhadores), que deixou a situação do Brasil num estado crítico, para ser substituído por um governo de extrema – direita (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), que, em pouco tempo, veio a trazer retrocessos para o país. Este novo governo, de novo, tem pouco: 11 dos 23 ministros já fizeram parte de outros governos e 8 estão a ser investigados em casos de corrupção. Outra questão que se coloca é: onde está representatividade? Um governo composto por 23 ministros, no qual são todos brancos e homens (é o primeiro governo sem ministras, desde o mandato de Ernesto Geisel, de 1974 a 1979). Reduziu os 32 ministérios existentes para 23. O Ministério da Cultura foi um dos extintos, tornandose numa secretaria vinculada à pasta da Educação. Esta acção foi fortemente criticada pela classe artística e intelectual. Temer recuou e decidiu recriar a pasta. O novo logótipo do governo é baseado numa versão antiga da bandeira brasileira que foi usada durante o período de ditadura militar.

O advogado de Eduardo Cunha (antigo presidente da Câmara de Deputados, que foi afastado do cargo por ser acusado de ter contas offshore na Suíça e por estar a ser beneficiado com a operação Lava Jato) foi nomeado subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência. O ministro das Cidades, Bruno Araújo, revogou a construção de 11,250 unidades do Minha Casa, Minha Vida (programa do governo (PT) que tem transformado em realidade o sonho da casa própria para muitas famílias brasileiras) após Temer ter garantido que os programas sociais implementados pelo PT não sofreriam mudanças. Para substituir Cunha na Câmara dos Deputados, foi escolhido André Moura, que é alvo de três processos judiciais e que responde a outros três inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Entre eles, um por tentativa de homicídio e outro por envolvimento na operação Lava Jato. O ministro do Planeamento, Romero Jucá (PMDB-RR), abandonou o cargo após terem sido reveladas escutas entre ele e o ex-presidente da Transpetro (a maior processadora brasileira de gás natural), Sérgio Machado. Por fim, o Ministro da Educação, Mendonça Filho, recebeu a visita de Alexandre Frota, com o intuito de apresentar propostas para o desenvolvimento do país.

“Os nomes mudam, mas os interesses pouco variam. “ Além de toda a polémica em torno deste governo, nada melhor que conhecer um pouco quem o governa: o Presidente interino foi suspeito de dois casos de corrupção e é actualmente suspeito na operação Lava Jato. O primeiro caso foi em 2009, quando o seu nome apareceu mais de vinte vezes na operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, que tinha como alvo principal a empresa de construção Camargo Corrêa, investigada por crimes financeiros e supostas doações ilegais a partidos políticos. Ainda no mesmo ano, Temer foi indiciado suspeito de corrupção na operação Caixa de Pandora, um esquema de suborno a políticos do Distrito Federal (Brasília). Ele é também citado como beneficiário nos escândalos de corrupção investigados na Lava Jato. Não há maneira de entender quem poderá governar. Os nomes mudam, mas os interesses pouco variam. Há quem peça um impeachment contra Temer, há quem grite por novas eleições, e o Brasil continua neste impasse. Gabriela Moura *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Crise Venezuelana – uma crise que nem o “ouro negro” salva Tal como foi noticiado pelo Jornal Pontívirgula na edição passada, a Venezuela vive tempos de grande agitação social e económica. O sucessor de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, não tem mostrado condições de governar o país e esta falta de capacidades resultou numa crise política, económica e social. Estas últimas semanas têm sido turbulentas quanto ao panorama social e económico do país. Nas ruas venezuelanas tem-se assistido a uma onda de protestos que levou milhares de pessoas às ruas de Cumaná, Lagunilla e, claro, Caracas. Num protesto que decorreu na cidade de Lagunilla, um jovem de 17 anos foi alvejado pela polícia na cabeça durante uma manifestação, acabando por morrer num hospital da cidade. Também na cidade de Cumaná, um homem de 42 anos foi baleado quando circulava no seu veículo num dos lugares onde começou uma manifestação. Mais 3 pessoas perderam a vida em protestos contra o regime de Maduro.

Estas manifestações resultam da insatisfação do povo venezuelano que tem vivido tempos de escassez de alimentos. Só para dar um exemplo da situação que se vive no país, para além dos atos de vandalismo e roubo que têm acontecido em lojas e supermercados, as pessoas chegam a ficar à espera à porta do supermercado (por indicação do governo, as pessoas têm que fazer fila para receberem os alimentos que lhes serão dados pelas autoridades) cerca de 3 horas para receberem alimentos simples como massa ou arroz. Voltando à política propriamente dita, o líder venezuelano acusa a oposição de estar por detrás destes ataques, dizendo que é tudo uma manobra para ser afastado do poder, já que a oposição procura afastá-lo mediante um referendo. O que é certo, é que a crise venezuelana se agrava a cada dia que passa e o governo já decretou estado de emergência e, inclusive, já pediu ajuda financeira ao estrangeiro e a alguns investidores.

© Foreign Policye

Guilherme Tavares *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Grávidas, deficientes e idosos têm sempre prioridade nas filas Nova lei estipula prioridade total a grupos mais vulneráveis. Todos os estabelecimentos de atendimento ao cliente, públicos ou privados, estão ao abrigo desta nova lei. Os contornos da legislação não prevêem a obrigatoriedade de haver uma placa a sinalizar a prioridade e colocam grávidas, deficientes, idosos e pessoas com crianças ao colo com total prioridade em filas de espera. O sistema de prioridade já se aplicava em alguns locais e serviços, embora, com esta alteração, também o sector privado fique sujeito a esta norma. Com a nova lei, este regime passa a ser uma obrigatoriedade transversal a todos os serviços de atendimento. Públicos ou privados, das finanças às empresas, dos restaurantes aos cafés, dos supermercados às mercearias de bairro. A excepção mais relevante é a aplicada às entidades de cuidados de saúde, se o acesso aos cuidados for estabelecido pela sua urgência. O decreto-lei também não se aplica aos locais de atendimento com marcação prévia. Nos casos em que estejam duas ou mais pessoas enquadradas no regime de prioridade, o atendimento será feito por ordem de chegada. Outra das novidades é que existem punições para quem não cumprir: podem ser aplicadas multas até 2000€, com base em queixas que devem ser apresentadas “por escrito, junto do Instituto Nacional para a Reabilitação, entidade reguladora, ou outra entidade a cujas competências inspectivas ou sancionatórias se encontre sujeita a entidade que praticou a infracção; por exemplo, tratando-se de um estabelecimentos de restauração e bebidas, poderá apresentar queixa junto da ASAE”, explicou Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência. A definição de quem está incluído nestes grupos não se altera. Assim, entende-se por “idoso” qualquer cidadão com idade igual ou superior a 65 anos, que apresente “evidente alteração ou limitação das funções físicas ou mentais”. Como pessoa com deficiência ou incapacidade, estipula-se, em decretolei, que é a que “(…) apresente dificuldades específicas susceptíveis de, em conjugação com os factores do meio, lhe limitar ou dificultar a actividade (…) e que possua um grau de incapacidade igual ou superior a 60%”. Pessoas com crianças ao colo que pretendam estar enquadradas no grupo prioritário devem estar acompanhadas de crianças com idade menor ou igual a dois anos.

© Abc

O Pontivírgula foi a um supermercado, um local de atendimento ao cliente onde, para a secretária de Estado, “situações de conflito se poderão levantar”. Neste supermercado, em Algés, a aceitação da prioridade obrigatória é quase unânime: “Claro que concordo. Pode criar problemas no início, mas é uma boa medida”, disse uma cliente. Um idoso foi mais peremptório: “Já devia ser assim há muito tempo. Olhe para onde estamos agora... Numa fila com três ou quatro pessoas e eu estou aqui consigo no fim da fila, sabe-se lá mais quanto tempo” – Após esta frase, foi cedida prioridade a este cliente. Conseguimos falar também com um técnico de caixa: “Acho que até é justo, mas acho que vou ter problemas quando isso começar a ser a sério. Nem toda a gente vai respeitar isso”. Também existiu discórdia, embora a ideia seja entendida: “Acho que em vez de se criar esta medida tão difícil de pôr em prática, deviam ser as pessoas que querem prioridade a tomar a liberdade de pedir. Ainda há uns dias, a minha mulher, grávida de cinco meses e meio, não quis estar a pedir para passar à frente. Acho que se, muitas vezes, a prioridade não é respeitada, é também por culpa das próprias pessoas que querem passar (...) Esta medida é para todos os estabelecimentos? Então nem quero imaginar como será nos restaurantes. Vamos ver”. Um outro cliente acrescentou: “Espero é que esta medida não sirva para as pessoas começarem a trazer os ‘filhinhos’, só para passarem à frente”. O cumprimento da lei será obrigatório quatro meses depois da publicação em Diário da República. Prevê-se que esta norma comece a 1 de Julho, com um período de adaptação nunca inferior a 120 dias. Diogo Oliveira *Textos escritos com o Antigo Acordo Ortográfico


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Dança à distância de um clique

© Online Dance Company via Facebook

“Nasce uma companhia de dança com variados bailarinos de qualidade que já não está presa a um espaço físico.” A Online Dance Company nasceu no dia 10 de Maio com a promessa de mudar a forma como as pessoas vêem a dança. Cifrão, bailarino e antigo membro da banda D’ZRT, é o líder desta companhia online que reúne os melhores bailarinos portugueses espalhados pelo mundo. Porque é que esta iniciativa muda a forma como vemos a dança? Nasce uma companhia de dança com variados bailarinos de qualidade que já não está presa a um espaço físico. O funcionamento desta página de Facebook é simples. Por agora os posts não são muitos, visto que o projecto só nasceu no mês de Maio. Porém, na primeira semana de cada mês será apresentado um novo espetáculo em formato vídeo. Estes vídeos de dança podem conter estilos tão diversos como o hip hop, ballet, contemporâneo ou até salsa. Para além disso, este projecto propõe-se a dar a conhecer tudo aquilo que de melhor acontece no mundo da dança. Na cerimónia de apresentação do projecto Cifrão disse que este “é um projecto que é um sonho. Dar uma oportunidade aos grandes bailarinos que nós temos no nosso país e alguns deles são os melhores do mundo”. Através desta plataforma online Cifrão pretende dar a oportunidade a esses bailarinos de mostrarem o seu trabalho sem terem de subir a um palco e actuar para uma plateia. “Aqui vão estar dentro do ecrã, dentro da net”.

Navegando pela página no Facebook da Online Dance Company podemos ver o primeiro vídeo publicado. Nele figuram os JukeBox Crew. Estes são um grupo de dança criado em 2008 por Vasco Alves e composto por 14 bailarinos. Actualmente são uma das melhores e mais reconhecidas crews de street dance, sendo dos grupos portugueses mais premiados. É também no mês de Maio que qualquer pessoa poderá ver este grupo a actuar ao vivo, pela terceira edição consecutiva, na Street Dance do Rock in Rio. No fim do vídeo aparece Cifrão que se junta ao ritmo e energia contagiante do dançar deste grupo. Podemos ver, também, o destaque para o trabalho de João Assunção, um bailarino português, numa homenagem comovente aos refugiados. Este é mais um projecto que vem promover a cultura e talento nacional. A dança é cultura e Cifrão é o rosto de uma plataforma que a permite divulgar. O uso de uma página de Facebook para esse feito é uma medida inovadora e que se aproxima dos meios utilizados pelos nossos jovens, chegando mais perto deles. Cristina Ferreira, apresentadora do Você na TV, diz no seu blogue, Daily Cristina, que foi Cifrão quem a pôs a dançar e destaca umas das palavras que Cifrão lhe disse quando a ensaiou pela primeira vez: “Todos temos a dança dentro de nós e tu vais descobri-la”. Quantos mais jovens irão descobrir a dança dentro de si tendo todos estes conteúdos à distância apenas de um clique? Andreia Monteiro *Textos escritos com o Antigo Acordo Ortográfico


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Literatura: um assunto de ontem, de hoje ou de sempre? Qual foi o último livro que leste? Qual a última vez que escreveste um texto? Provavelmente tudo isso já aconteceu há algum tempo. Todos precisamos de gostar de ler? Não, mas os gostos educam-se e há gostos que vale a pena educar. Olhando para uma estante com livros amontoados em diversas direcções surge a emergência de relembrar o valor da literatura e analisar a relação que hoje temos não só com as nossas leituras, como também com o que escrevemos.

© Universia

A primeira pergunta que surge é qual deveria ser o papel da literatura nas nossas vidas. Num ambiente descontraído, Jorge Vaz de Carvalho, professor na Universidade Católica de Lisboa, abriu as portas do seu gabinete para discutir algumas destas questões sobre literatura. Quanto ao seu papel nas nossas vidas, este refere que a literatura é “um dos dons do ser humano como a criação estética”. Isto porque o cérebro humano não vive somente de aspectos utilitários, “precisa de criar, dar azo à imaginação… são necessidades do ser humano”. Vaz de Carvalho destaca ainda o papel da literatura para o seu criador como uma forma de expressão e necessidade de “criar discursos novos. O papel da literatura é criar essa variedade de discursos sobre a vida”. Vincula, deste modo, a diferença entre quem escreve e quem lê dizendo que “para quem a escreve, a literatura é a arte prática de usar a linguagem verbal para a manifestação da imaginação criativa. Quem lê, busca, através desse estímulo verbal à sua própria imaginação criativa, usufruir de um especial prazer mental. Se os discursos científico, religioso, filosófico, político-ideológico não apresentam respostas cabais, unívocas ou tranquilizadoras, o ser humano procura, através da inteligência sensível e das capacidades criativas da imaginação compreender e ordenar o mundo complexo do seu desassossego. Se o meio utilizado é verbal, cria literatura.”.

“(...) A literatura tem sido para mim um descobrimento da diversidade da condição humana (...). Jorge Fazenda Lourenço, igualmente professor da Universidade Católica Portuguesa, mostrou-se disponível para discutir esta temática. Ao ponto anterior acrescenta que uma resposta àquela pergunta não poderá ser normativa, visto que cada um de nós será responsável por fazer essa descoberta. “O papel da literatura (como da música, da pintura, da escultura, do teatro, da dança, da ópera, do cinema) pode variar, e geralmente varia, consoante as idades da vida, ou até os momentos dela (há quem leia poesia, e até escreva muitos versos, quando está apaixonado por alguém ou alguma coisa, e depois largue tudo).” Porém, desmistifica a ideia formada de que uma talvez enorme maioria que não vê a arte literária como algo que desempenhe um papel na sua vida as torna“menos dignas, ou piores que as outras, ao contrário do que já foi escrito e pensado.”. O único senão será que, para essas pessoas, a “discussão dos valores da sociedade, na formação das mentalidades ou na construção de uma ideia de nação, por exemplo, passa despercebida a essas pessoas. Entendo a literatura como um espaço de defesa do indivíduo, da sua singularidade, e como um campo de possibilidades, de apresentação de mundos possíveis. Neste sentido, a literatura tem sido para mim um descobrimento da diversidade da condição humana, dos sentimentos e das emoções que, ao longo dos tempos, têm feito e vão fazendo a nossa humanidade plural, e, por consequência, uma fonte de sabedoria, uma sabedoria da sensibilidade, que é uma espécie de lugar interior em constante movimento, onde se fazem, desfazem e refazem todas as perguntas e inquietações, incluindo aquelas maiores: de onde vimos, para onde vamos, o que fazemos aqui? É claro que essa descoberta, que, insisto, tem de ser pessoal, do papel da literatura na vida de cada um, dificilmente se consegue sem uma prévia exposição à leitura, quer dizer, sem uma experiência da literatura. Afinal, ler é um acto tão sensível quanto cheirar, comer, amar, beber, olhar e ver. E aqui o ambiente familiar, os amigos, os professores (por esta ordem, que é a ordem das afeições) desempenham um papel fundamental. Começamos a aprender a ler quando começamos a aprender a ser outros. Ler é um exercício de alteridade. É esquecer-me de mim para me pôr no lugar do outro, para deixar entrar em mim esse outro ou esses outros que pela leitura observo e contemplo (as personagens de um romance ou de uma peça de teatro, que também é para ler).”.


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Literatura: um assunto de ontem, de hoje ou de sempre? Quando se fala em literatura é i mportante relembrar a tradição. Um bom escritor é, inevitavelmente, uma pessoa culta e conhecedora da obra dos grandes mestres. Sendo os temas os mesmos, sem uma cultura literária facilmente acabaríamos por fazer o que já foi feito, não contribuindo criativamente para o mundo literário. Por isso, Vaz de Carvalho diz que “um autor original tem de conhecer as tradições a que escolhe ligar-se e as normas que deseja subverter. Não existem grandes criadores que não sejam cultos.”. Os grandes mestres são intemporais e as suas obras não perderão a sua relevância com o passar dos séculos, daí o seu estudo ser imperativo, principalmente para aqueles que almejam escrever. “Os grandes mestres do passado são insubstituíveis e inexcedíveis: nenhum escritor contemporâneo pode tornar inútil a leitura de Sófocles, de Petrarca ou de Dostoievski; nenhum escritor dos próximos séculos invalidará um grande escritor de hoje.”.

© FCH, UCP

Fazenda Lourenço vem corroborar esta posição ao dizer que “tradição e inovação são, em literatura, as duas faces de uma mesma moeda, e, como tal, incindíveis. Em arte, a tradição é uma actualização ou renovação do passado. Por isso, não há inovação sem tradição.”. Ressalta ainda a importância da partilha feita entre poetas e escritores “de tópicos, códigos e convenções, ou no processo a que chamamos intertextualidade (o diálogo, feito de citações, empréstimos e alusões, que os textos estabelecem entre si, desde a mais longínqua antiguidade). Isto significa que o trabalho literário é um verdadeiro trabalho em rede, e já assim era antes da world wide web.”. É, portanto, o conhecimento da tradição que nos permite actualizá-la, quer através de rupturas, quer através de continuidades.

Para trás ficou, igualmente, a tradição de grandes escritores se juntarem em cafés para fazerem as famosas tertúlias intelectuais. Desta maneira, perdeuse um dinamismo importante que residia na troca de ideias e desenvolvimento de pensamentos entre escritores. Vaz de Carvalho relembra que não foram apenas as tertúlias que ficaram desvanecidas nas linhas do tempo. Também as livrarias já não têm livreiros cultos que sabem efectivamente o que vendem ou fazer troca de ideias literárias com os leitores. Muitas vezes era neste confronto de ideias que os escritores se uniam e activamente influenciavam o avanço do país, por exemplo através de manifestos ou da criação de obras interventivas. Hoje não vemos intervenções intelectuais a ganharem forma e a inflamarem a sociedade por causas que considerem nobres. Vaz de Carvalho, no que respeita a este assunto, afirma que “escasseiam os escritores que são verdadeiros intelectuais – no sentido da intervenção pública, da coragem de fazer ouvir as suas vozes nas grandes questões e nos grandes debates sociais. Ficam contentinhos por verem publicado o seu romancezinho anual, habitualmente na estação de Setembro/Outubro, para as prendas de Natal lhes aumentarem as vendas, e participarem nos múltiplos encontros literários que se organizam no país e no estrangeiro, sem que percebamos qual a utilidade para a literatura. De resto, não mexem uma palha. Dou um exemplo: a grande maioria daqueles com que falo consideram, como eu, o dito acordo ortográfico uma infâmia. Mas, ainda que seja qualquer coisa que afecta os seus próprios textos, e que não tenham sido chamados a acordar coisa nenhuma, não se lhes conhece uma atitude cívica de repúdio radical da coisa. Por exemplo, recusando-se a publicar as suas obras sujeitas à norma que repudiam. Desde que o seu livrinho esteja no escaparate da livraria...”.

“Quando se fala em literatura é importante relembrar a tradição. Um bom escritor é, inevitavelmente, uma pessoa culta e conhecedora da obra dos grandes mestres. Sendo os temas os mesmos, sem uma cultura literária facilmente acabaríamos por fazer o que já foi feito, não contribuindo criativamente para o mundo literário.”


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Literatura: um assunto de ontem, de hoje ou de sempre? Nos dias que correm, qualquer pessoa pode escrever e publicar um livro. Fazenda Lourenço intervém relembrando que “simplesmente, nem todos os livros são livros de literatura. Alguns contribuem apenas para desflorestar o planeta. Uma das virtualidades dos meios digitais foi, aliás, provar que “literatura” e “livro” não são sinónimos.”. No entanto, não concorda que exista uma saturação e desgaste da literatura hoje em dia: “não sejamos ansiosos. Temos tão bons poetas, romancistas, dramaturgos, ensaístas, cronistas, para ler – ou mesmo reler, que é um ler maior. E depois, é muito rara a época que dá conta dos seus “génios” (ponhamos as coisas assim, para facilitar). Shakespeare e Camões, e tantos outros autores que fazem parte do “cânone ocidental”, só foram descobertos com o Romantismo (séculos XVIIIXIX). Fernando Pessoa, tendo embora gente mais atenta, só agora, há cerca de trinta anos, o que é muito pouco para o tempo da literatura, é visto como um dos grandes poetas portugueses e do mundo. E quem conhece a genialidade de Jorge de Sena? Ou de Emily Dickinson? Ou de Carlos Drummond de Andrade? Então e Herberto Helder, que ainda há pouco nos deixou, não era o nosso maior poeta vivo? E Kavafy? E será que Arthur Rimbaud, Virginia Woolf, Franz Kafka, ou Paul Celan, andam a ser discutidos no bar ou à sombra das amendoeiras em flor? Todos estes autores, e tantos outros, que formaram o nosso modo sensível de perceber o mundo, são nossos contemporâneos. Contudo, essa contemporaneidade precisa de ser constantemente revista pela leitura, pela acção de cada um de nós enquanto leitores (escritores ou não), não dependendo apenas das listas de ministérios e professores, por muito excelentes que sejam.”.

Por sua vez, Vaz de Carvalho refere que se trata de ciclos. “Quando andava na Faculdade, o maior problema era não ter dinheiro para comprar tudo o que de bom surgia. Saíam ao mesmo tempo obras de Jorge de Sena, de Sophia, de Ruy Belo, de Eugénio de Andrade, de Carlos de Oliveira, de Ramos Rosa, de Cesariny, de Gastão Cruz, de O’Neill, de Agustina, de Vergílio Ferreira... e a lista podia largamente continuar. Creio que raros países se poderão gabar de possuir tantos excelentes escritores no mesmo período de tempo. É raro o nome vivo de hoje que se pode medir com esses autores. E tenho muita pena. Passo a vida a tentar gostar do que se vai publicando.”.

© Blog Coisas Simples Pares

Jorge Fazenda Lourenço refletiu ainda sobre a concorrência e convivência da literatura com os outros meios de comunicação existentes. “A literatura, mesmo nos séculos XVIII e XIX, sem a concorrência dos mass media, nunca foi um fenómeno de massas, até porque nesses séculos a iliteracia era largamente maioritária, como, entre nós (70% da população), até ao 25 de Abril de 1974, estando a leitura muito restrita aos meios burgueses. Talvez custe a admitir, num tempo de democratização do ensino e da cultura, que nós, em Portugal, estamos a viver com 50 ou 70 anos de atraso, que a literatura seja uma arte minoritária. E que dizer, face à grande preocupação e ocupação dos formadores com a elevação da “literacia visual”, quando, paradoxalmente, os níveis de “literacia escrita” são extremamente baixos? Precisamos de continuar a fazer perguntas.”. © DN


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Literatura: um assunto de ontem, de hoje ou de sempre? Levámos algumas destas perguntas até aos jovens que gostam de escrever e têm o sonho de um dia verem publicado um livro seu. Como vêm toda esta situação? A Faculdade de Ciências Humanas tem bastante talento, por isso, falei com algumas das pessoas que de alguma forma se sentem próximas da literatura. Malachi Clarke diz que o que o apaixona na escrita é “poder relatar um sentimento ou um pensamento de uma forma criativa e que toque às pessoas”. Alexandra Antunes refere que não é possível dizer o que a faz apaixonar pela escrita, “tal como é impossível justificar qualquer grande amor. Ao início é apenas um jogo: pegamos nas palavras porque conseguimos avançar por um determinado caminho com elas. Depois é mais do que isso: é a tua própria vida que acontece ali, quer queiras, quer não. Mesmo que não directamente, tudo o que escreves é um pedacinho de ti. Ao escrever, não só consigo desenhar mundos como me vou descobrindo a mim própria”. João Torres também tem dificuldade em explicar, mas diz que tem “uma ligação com a literatura e acho que, simplesmente, me apaixonei pela arte de descrever a realidade humana através das palavras. Desde há uns anos para cá que tenho uma necessidade intrínseca de procurar a palavra perfeita e encaixá-la na frase perfeita de modo a revelar ideias, valores, storytelling, etc., que de outra maneira não conseguiria transmitir.”. No que toca a obstáculos, tanto a Alexandra como o Malachi se vêm a eles mesmos como o seu maior desafio, quer seja por falta de confiança na sua escrita, quer seja por períodos de falta de motivação. O João já nos fala em problemas de acessibilidade de editoras.

© Alexandra Antunes

Uns com verdadeiras aspirações a serem escritores, outros simplesmente com um carinho e interesse especial pela literatura, começam a dar os primeiros passos naquele que consideram ser um futuro de uma “literatura que se tem degradado ao longo dos anos especialmente na actualidade com o aparecimento das novas tecnologias” (Malachi). Ou onde “cada vez mais as pessoas não querem saber da literatura” (Alexandra). Mas sempre disponíveis para assistir a uma boa nova e confiantes de que “haverá sempre aquela facção vanguardista que preferirá que o consumo literário seja à maneira antiga, por assim dizer. E quem sabe talvez este nicho de mercado leve ao desaparecimento de autores menos conceituados (digamos assim) e à promoção de elites literárias que terão subsequentemente mais apoio para a sua produção artística.”(João). O futuro ninguém conseguirá prever, mas tal como referiu Vaz de Carvalho, “toda a criação madura exige o seu tempo. Encontrar esse tempo é uma das tarefas do verdadeiro escritor”. Por isso, para todos aqueles que gostam de escrever ou ler aqui fica o apelo para encontrarmos o tempo para ler os grandes mestres e aventurarmo-nos em produções escritas. O resto? Só o tempo o dirá, mas de braços cruzados e livros fechados decerto nada melhorará.

Andreia Monteiro © Malachi Clarke

*Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Palavras à Lupa Comentário às Frases do mês de Maio e Junho “Mesmo que não tenha estado mal – nem tenha sido o desastre que alguns previram –, os Queen não venceram por ele; venceram porque ao longo da sua carreira compuseram temas capazes de empolgar uma pedra.”. “Lambert toma um pouco da atenção para si, puxando de um trono no qual se senta a meio da passadeira. Mas mesmo ele reconhece o seu estatuto de suplente: «só existe um Freddie Mercury», conta em jeito de confissão, ou de desculpa.”. - Paulo André Cecílio – Jornal Expresso Ponto prévio 1: não assisti, ao vivo, ao concerto dos Queen + Adam Lambert no Rock in Rio. Ouvi-o pela rádio, em directo, e vi, mais tarde, em vídeos. Apesar de não serem as plataformas ideais para viver um concerto, foram mais do que suficientes para perceber a qualidade do que se passou nessa noite. Ponto prévio 2: Não era fã de Adam Lambert e confesso que fui dos que torceu o nariz à possibilidade de ser ele a tentar reencarnar Freddie Mercury, em parte, por não conhecer, ao certo, o seu potencial. É evidente que, nas artes, a opinião pessoal é soberana e não pode ser transversal a todos. No entanto, esta crónica de Paulo André Cecílio minimiza Adam Lambert de uma forma que, para mim, é tremendamente injusta. O jovem cantor juntou-se aos Queen e deu um autêntico recital. É Freddie Mercury? Não. Mas foi, até hoje, desde que os Queen começaram as sucessivas substituições do falecido vocalista, aquele que mais perto esteve de dignificar o lendário Freddie. Os mais puristas, aqueles que nunca estarão contentes com qualquer substituto que apareça e não admitem que alguém diga um nome que não “Freddie”, nunca reconhecerão aquilo que Adam fez neste Rock in Rio. Os que, apesar de terem Freddie num pedestal, sabem reconhecer, ainda assim, o valor de um potencial “imitador”/seguidor/substituto, são os que percebem que Adam Lambert não foi apenas mais um. Adam Lambert, até contra as minhas expectativas, deu um concerto incrível e aproximou-se, mais do que qualquer outro, do nível a que nunca se pensou ser possível chegar depois de Mercury.

NOTA PONTIVÍRGULA: 2/10

“Como não há os livros que gostaria de ler, escrevo-os eu.” - José Rodrigues dos Santos, em entrevista ao Jornal i.

Insira o seu comentário, caro leitor. E obrigado, José, pela bondade de produzir o material que faltava.

NOTA PONTIVÍRGULA: HUMILDADE: 10/10. CONSIDERAÇÃO PELOS AUTORES EXTRAORDINÁRIOS QUE O MUNDO JÁ VIU: 10/10.


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Palavras à Lupa Comentário às Frases do mês de Maio e Junho

“Olha o gajo aqui, vai mas é comprar Rennie.” - “As prioridades do Vitória” Rui Vitória, treinador do Benfica, disse, após a conquista do título: “Primeiro estão os meus jogadores, a minha família, o presidente, o meu staff e as pessoas dos pequenos-almoços; em 18.º, os professores das minhas filhas; em 77.º, o vendedor de pipocas numa festa qualquer a que eu fui e lá para 90.º está o treinador do Sporting”. Com base nesta “boca” de Vitória, foi criado o site “As prioridades do Vitória”, no qual o utilizador insere o seu nome e o programa diz-lhe em que lugar está na lista de prioridades do treinador e qual é a profissão das “pessoas” antes e depois de si. Eu, por exemplo, estou em 7050º, atrás do “calceteiro da minha rua” e antes do “carpinteiro que me fez os rebites”. Este simulador, puramente humorístico e que teve sucesso imediato, tem uma particularidade: prevendo que alguém iria experimentar colocar o nome “Jorge Jesus” (inicialmente colocado em 90º, como disse Vitória), os criadores decidiram que a resposta que o site geraria a essas pessoas seria: “Olha o gajo aqui, vai mas é comprar Rennie”. Genial! Mais tarde, esta resposta foi retirada, para, segundo um dos criadores, “não discriminar pessoas com o mesmo nome”. Não-genial. Deitar fora uma ideia tão boa, com base em queixas de quem se sentiu discriminado (???) por um programa informático de humor? Por favor... (Ver o último “Palavras à lupa”, que remete para o encaixe das pessoas ao humor).

NOTA PONTIVÍRGULA: 7/10 “E é assim, caros actores, que se lê um teleponto.” – Rodrigo Guedes de Carvalho, na gala dos Globos de Ouro. No fim de cada ano, é habitual vermos os tops dos melhores momentos de televisão do ano que termina. Estamos em Maio, mas arrisco-me a dizer que, no top de 2015 da televisão portuguesa, o jornalista da SIC já garantiu o seu lugar. Os Globos 2015 trouxeram algumas (já habituais) prestações menos conseguidas de alguns actores, no momento de ler aquele pequeno discurso antes de entregar o prémio. Eis que Rodrigo Guedes de Carvalho, jornalista com anos de experiência na leitura de telepontos, decide, no fim da sua exemplar leitura, trazer um dos momentos mais hilariantes que já vi na televisão. Com um ar e uma postura propositadamente sobranceiros e arrogantes (e hilariantes), o jornalista disse: “E é assim, caros actores, que se lê um teleponto”, “desmanchando” toda a plateia e, sobretudo, a sua colega Rita Ferro Rodrigues, que se preparava para falar a seguir (o que acabou por ser difícil). Rodrigo manteve-se firme e sério no seu momento de humor e, apesar da gargalhada quase geral, provocou a ira de alguns actores afectados pela boca e pela lição (a cara de José Fidalgo é impagável). Crème de la crème, também nas redes sociais alguns actores demonstraram o seu desagrado com a ousadia do pivô de informação da SIC. Em ginástica, isto seria um “Perfect 10,00”. Grande Rodrigo! Quem não viu, vá ver.

NOTA PONTIVÍRGULA: 10/10

Diogo Oliveira *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Um Pouco (In)Conveniente Bênção Externa: o ringue da concorrência É verdade, três anos já passaram e se não passaram a correr! Três anos de muito suor (mais ou menos), muito esforço, dedicação e, acima de tudo, de muitas descobertas a nível pessoal. Sim, posso dizer que passei três dos anos mais intensos da minha vida nesta licenciatura. Conheci pessoas importantes, pessoas desafiantes, pessoas marcantes e pessoas dececionantes. Porém, um obrigado gigante a a todas elas! Cresci com todos, tanto com o bom como com o mau e, principalmente, saio desta licenciatura de coração cheio. Sabem porquê? Porque, por muito drama universitário, tanto a nível social como profissional, tudo isto contribuiu para eu sair daqui com a lágrima no canto do olho e com um sorriso de orelha a orelha. Sabem o que me deixou mais impressionada? Foi a bênção externa... Aí sim, senti que todos aqueles que se cruzaram no meu percurso universitário eram parte de mim, de alguma forma muito aconchegante na alma. Pela primeira vez, não senti que os meus colegas, ou futuros ex-colegas, fossem futura concorrência. Na verdade, senti que eles eram tanto quanto eu, eram e serão sempre recordações memoráveis de três anos intensos. Digo o mesmo dos professores, auxiliares e de todos os que se cruzaram comigo naquela faculdade. Por outro lado, tomei consciência de algo assustadoramente real.

“Na verdade, senti que eles eram tanto quanto eu, eram e serão sempre recordações memoráveis de três anos intensos.” Enquanto caminhava pela Cidade Universitária, na minha Bênção Externa (e de mais meio mundo de finalistas), observei cuidadosamente todos aqueles jovens que se reuniam, juntamente com o apoio incondicional das suas famílias, para fecharem mais um capítulo importante nas suas vidas. Ao vê- entoar as canções dos seus cursos, a alçar as suas fitas de forma eufórica, vestidos a rigor, quer fosse com os seus trajes ou com os seus vestuários clássicos, depareime com a minha futura realidade: os meus próximos concorrentes no mercado trabalho. Deparei-me que no meio de tanta felicidade, todos nós, numa próxima etapa, iremos competir por algo, por estabilidade, por futuro, por trabalho e por democracia. Assustei-me, mas, simultaneamente, os meus olhos encheram-se com lágrimas de felicidade. E porquê? Porque somos nós o novo futuro do nosso país, da nossa geração.

© Susana Santos

Começou agora o momento em que nós vamos contribuir para o nosso desenvolvimento! Vamos entoar as nossas vozes para o melhor do nosso país! Não deixaremos que ele caia mais. Agora sim, somos o exemplo! Somos a folha em branco onde somente nós podemos escrever as linhas da nossa história. Por isso, sim, somos concorrência. É totalmente real. Contudo, vamos usar a nossa competitividade e a nossa rivalidade, não para diminuir as nossas vidas, mas sim para fazer voar as nossas ambições e desejos. Temos tanto para dar.... Temos força a transbordar e uma sede imparável de marcar mundos e fundos. Desta forma, vamos usar isso como arma de construção e não destruição. Vamos construir o nosso cavalo de Troia para que assim, nada nem ninguém nos diminua pela nossa pequenez, mas que nos tema pela nossa robustez. Assim sendo, apercebi-me de que os meus colegas de faculdade são família, os finalistas, como eu, são primos e os que aí vêm são netos e, sendo uma família, existe um pouco de tudo, de desavenças a guerras. Porém, qualquer família que se preze sabe que, no final do dia, os machados devem ser colocados de lado, porque os laços que a une chamam mais alto.

Susana Santos


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Ao Rosto Vulgar dos Dias Política O Estado da Coisa Passaram seis meses deste Governo. Os balanços variam de acordo com a ala política que os faz, mas, ao que parece, para agrado de uns e desgraça de outros, a união de esquerdas está para durar. Numa altura em que se avizinham eleições autárquicas, o Presidente da República está empenhado em transmitir ao país a imagem de que a aliança que governa o país está sólida e que nem um mau resultado para a esquerda nas autárquicas (ainda que não seja essa a previsão), poderá abalar a estabilidade da geringonça, como passou a ser habitualmente designado. Marcelo vai mais longe e afirma que um mau resultado para o PSD também não abalaria a liderança de Pedro Passos Coelho. Para o Presidente da República, todos os líderes dos partidos portugueses são “duros e resistentes” e não se vislumbra qualquer perigo de crise no panorama político português depois das eleições.

“O Presidente da República já ressalvou que o «optimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante» do Primeiro-Ministro pode prejudicá-lo (...)” Mas, nem tudo é um mar de rosas para a geringonça, que, apesar de ter tido, ao longo destes seis meses, assinaláveis vitórias, como a aprovação de um Orçamento de Estado que respondesse às metas impostas por Bruxelas e, simultaneamente, agradasse aos partidos de esquerda que viabilizam a solução governativa, ou a aprovação da lei da maternidade de substituição (comummente conhecida por “lei das barrigas de aluguer”), tem, agora, também algumas batalhas ferozes pela frente. Entre polémicas, como as 35 horas ou os contratos de associação — que, não se limitando a, poderiam ser resumidas a diferenças ideológicas — , o Governo tem agora que lidar com problemas concretos, como a meta imposta por Bruxelas de um défice de 2,3% do PIB. Nesta questão, tanto o Primeiro-Ministro, como o Ministro das Finanças garantem que as contas actuais permitem atingir os resultados, sem que sejam precisas medidas adicionais. O Presidente da República já ressalvou que o “optimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante” do Primeiro-Ministro pode prejudicá-lo e aconselha-o a “ter os pés assentes no chão”. Os três meses decorridos desde a entrada em vigor do Orçamento de Estado não permitem ainda tirar ilacções acerca do impacto das medidas propostas pelo Governo, mas os resultados do défice do primeiro trimestre levantam bandeiras vermelhas.

Os resultados pioraram em relação ao trimestre anterior, sendo que o défice quase que duplicou. Em relação ao período homólogo, as contas estão piores, mas numa proporção menor. Ou seja, ainda que os resultados sejam piores, tanto em comparação com o trimestre anterior, como com o primeiro trimestre do ano passado, há sinais de que podem vir a melhorar. Pela frente, o Governo terá ainda o desafio permanente da contestação social e laboral. A forma como chegou ao fim a greve dos estivadores, que paralisou o porto de Lisboa, durante quase dois meses, provocando enormes perdas para o país, assim como o acordo alcançado na noite do passado dia 27, mesmo depois dos operadores do porto terem ameaçado os grevistas com depedimentos colectivos (indo claramente contra um direito consagrado na Constituição), mostra bem a capacidade negocial de António Costa e do seu Governo e pode ser um sinal de que esta geringonça consegue sobreviver às diferenças ideológicas dos partidos que a sustentam.

© Sábado

Aguardamos para saber se, a haver medidas adicionais impostas por Bruxelas, estas serão motivo suficiente para abalar este acordo parlamentar, ou se António Costa continuará firme no uso do seu poder negocial. Ou seja, se António Costa e o Governo vão conseguir, até ao fim da legislatura, cumprir os acordos parlamentares, levando a cabo as políticas com que se comprometeram, sem que isso coloque o país numa posição fragilizada perante Bruxelas. Inês Linhares Dias *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Law & Other Things Direito A discussão em torno dos contratos de associação O fomento da discussão por parte dos líderes de associações, partidos e sindicatos prossegue. O primeiro-ministro António Costa foi recebido calorosamente na chegada aos seus destinos neste fim-de-semana – no Sábado, em Santo Tirso, e no Domingo, em Coimbra. Centenas de manifestantes fizeram-se ouvir, protestando contra o corte no financiamento dos colégios privados com contratos de associação com o Estado. O corte nos contratos de associação implica que determinados colégios em contrato de associação não vão poder abrir turmas em início de ciclo, conforme estabelece o despacho proferido pela Secretária Adjunta de Estado e da Educação.

Acontece que o novo estatuto do ensino particular e cooperativo de nível não superior, Decreto-Lei n.º 152/2013, de 4 de Novembro, estabeleceu um sistema de apoio financeiro prestado às famílias e aos estabelecimentos de ensino particulares, “com vista à criação de oferta pública de ensino”, por meio de contratos de associação e também de outros tipos contratuais.

“O corte nos contratos de associação implica que determinados colégios em contrato de associação não vão poder abrir turmas em início de ciclo (...)” Presentemente, funcionam 656 turmas nas escolas privadas com contrato de associação. No próximo ano lectivo, o Estado financiará 273 turmas em início de ciclo. Ora, tais números significam uma redução de 57%. Esta decisão teve por base um estudo conduzido pelo Ministério de Tiago Brandão Rodrigues, com o escopo de perceber se os colégios em questão tinham escolas públicas por perto e se essas escolas estão aptas a receberem os estudantes. Importa referir que a actuação do Estado em matéria do serviço público da educação não é um assunto inequívoco. Devemos partir da premissa de que estamos perante a liberdade de aprender e de ensinar, que está consagrada na Constituição da República Portuguesa, assim como o direito fundamental à educação e ao ensino. De modo a efectivar estes direitos, tomamos como ponto assente que o Estado está adstrito à obrigação constitucional da criação e manutenção de uma rede pública de escolas. Tal não implica a supletividade do ensino particular e cooperativo, mas apenas que a existência de estabelecimentos de ensino privado não desonera o Estado de cumprir a tarefa suprarreferida.

© Notícias ao Minuto

O Governo afirma a intenção de cumprir os contratos de associação já celebrados, mantendo a aposta firme num sistema público de ensino universal. Abre-se assim uma acesa discussão sobre a coerência e sobre as vantagens e desvantagens desta opção do actual Governo.


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Law & Other Things Direito De um lado, a Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular acusa o Ministério de Educação de falta de “diálogo relevante”, e estima que os cortes se traduzirão no desaparecimento de 2 mil postos de trabalho. Do outro, surge a Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS Susana Amador, que se defende ao dizer que o desemprego já existe, em larga escala e por culpa do ex-Ministro da Educação Nuno Crato. O primeiro vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva aponta um retrocesso na política educativa do Governo pois “há muito tempo que desapareceu a ideia de que o serviço público se confunde com o serviço estatal”. O chefe do executivo assinala que os contratos de associação só são utilizados em caso de insuficiência da rede do ensino público, destacando o seu carácter supletivo. Eis uma pequena amostra do back-and-forth argumentativo que tem preenchido o universo político português nos últimos dias. A questão promete continuar a dar que falar. No entretanto, cabe-me expor um pequeno ensaio opinativo acerca do problema.

© Sapo

O Estado celebrou contratos de associação com estabelecimentos de ensino particular, e muitos desses contratos são de âmbito plurianual. As escolas formaram expectativas em relação à renovação destes contratos e pretendem agora que estas sejam respeitadas. Contudo, a opção do Governo afigura-se como respeitadora dos parâmetros constitucionais e legais vigentes, não sendo manifesto qualquer incumprimento contratual.

A questão é que esta medida governamental do Ministério da Educação implica uma drástica mutação em relação ao período anterior. Se por um lado se compreende o desejo de reforçar a rede de ensino público, por outro não pode ser expectável que se aceite com leveza um corte no financiamento nos termos enunciados.

“Se por um lado se compreende o desejo de reforçar a rede de ensino público, por outro não pode ser expectável que se aceite com leveza um corte no financiamento nos termos enunciados. “ Todavia, não devemos comportar uma “duplicação de custos”, nas palavras de João Miguel Tavares, nos casos em que temos vagas nas escolas públicas e colégios privados com contrato de associação na mesma zona geográfica. A gestão rigorosa de custos é sempre salutar. Mas havendo concorrência entre duas escolas, uma pública e outra privada, nunca poderemos ignorar a comparação – qual a que melhor presta o serviço? Uma leitura atenta da Constituição leva-nos a este infindável quebra-cabeças de perceber qual a melhor conciliação entre os direitos, liberdades e garantias e os deveres do Estado... A questão promete continuar a dar que falar. Por agora, os tribunais ficam submersos em providências cautelares. Duarte Veríssimo dos Reis


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Pensar Diferente! Psicologia

SOS Master! Chegou a pior altura da vida de um estudante de psicologia do terceiro ano. Chegou a altura em que terminámos a licenciatura e que nos deparamos talvez com a escolha mais difícil de sempre. Chegou a altura em que temos de escolher qual o mestrado que queremos seguir. E o que escolher? Depois de três anos de licenciatura a abordar diferentes temas, diferentes áreas, qual delas escolher? São tantos os caminhos que podíamos seguir, mas qual deles o mais correto para nós? Esta é altura em que começamos a imaginar como seria o nosso futuro.

“Um psicólogo não é somente aquele que se encontra sentado ao lado de um divã a ouvir a pessoa falar e falar e falar sobre os problemas que tem na sua vida. “ Por exemplo, podíamos pensar em Psicologia da Educação, porque seria bom ajudar as crianças e os adolescentes a identificar e ultrapassar os seus problemas de aprendizagem. Também podíamos optar por Psicologia da Saúde e passaríamos a ajudar as pessoas na promoção e prevenção da saúde. Outra opção possível seria a Psicologia do Desporto, onde conviveríamos com todo o tipo de atletas e a nossa preocupação seriam os fundamentos, os processos e as consequências da regulação psicológica das atividades desportivas de uma ou várias pessoas que praticam uma atividade. E que tal Psicologia Clínica? Isso implicaria que atuássemos mais ao nível das patologias... Ao contrário disso, também podíamos escolher Psicologia Organizacional. E o que nos surge quando pensamos nisso? Recursos humanos e empresas!

Estes são só uns exemplos de algumas das áreas que os estudantes do terceiro ano de Psicologia podem seguir e, como é óbvio, não é só isso que fazemos em cada área, mas é um breve resumo. Como podem ver, não temos a vida facilitada. Parece tudo tão igual e no final de contas é tudo tão diferente. Um psicólogo não é somente aquele que se encontra sentado ao lado de um divã a ouvir a pessoa falar e falar e falar sobre os problemas que tem na sua vida. Nós temos muitas opções de escolha e parece que à medida que sabemos mais sobre cada uma das áreas, mais confusos ficamos. E se gostarmos de Psicologia Organizacional e de Psicologia Clínica ao mesmo tempo? Sendo elas diferentes, qual delas escolhemos? A escolha não é assim tão linear.

© O5Com, Flickr

Eu, como estudante do terceiro ano de Psicologia, posso dizer que já pensei em seguir quase todas as áreas. Uma decisão difícil que parece que durou três anos a ser tomada. Todos somos diferentes e fazemos algo diferente. Não queremos o rótulo da história “um psicólogo e um divã”. Maria Manuel de Sousa


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Cuida-te! Instituto de Ciências da Saúde

Hospital da Bonecada A Associação de Estudantes da Escola de Enfermagem de Lisboa, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, foi convidada para participar, em parceria com a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas, na XV edição do Hospital da Bonecada. A XV edição do Hospital da Bonecada realizouse de 30 de maio a 5 de junho, na praça central do Colombo, em Lisboa, e contou com a participação de vários alunos, do primeiro ao quarto ano de Enfermagem da UCP. O Hospital da Bonecada ® é um “hospital modelo” em que as crianças são os pais que levam os seus “filhos”, bonecos, ao hospital. Neste local, são recebidas por estudantes de Medicina, Enfermagem, Medicina Dentária, Ciências Farmacêuticas, Imagem Médica e Radioterapia, Fisioterapia, Dietética e Nutrição, Psicologia, Ciências da Educação, Terapia da Fala e Ortóptica. Esta atividade tem como objetivos principais desmistificar a “síndrome da bata branca”; possibilitar o contacto das crianças com o ambiente hospitalar; permitir que as crianças possam, de forma descontraída, familiarizar-se com um conjunto de instrumentos médicos e profissionais de saúde, frequentemente associados ao medo e à dor, desconstruindo essa visão; fazer com que os alunos intervenientes treinem as suas capacidades de comunicação e prestação de cuidados de saúde e permite também a interação entre diferentes grupos de estudantes, numa perspetiva construtiva da sua educação. A Professora Elisabete Nunes, docente do ICS, foi uma das Professoras que ajudou na organização deste evento e considera que “este tipo de iniciativas de grande importância. As crianças aprendem com o brinquedo, com os desenhos, com as brincadeiras, e através deles a criança pode explorar as suas fantasias acerca de equipamentos hospitalares e procedimentos que a assustam. As brincadeiras simbólicas são uma forma de desmistificar o medo de determinados procedimentos, ajudando na compreensão dos mesmos, e estas atividades podem ajudar a diminuir este medo e o desconforto das crianças relativamente aos cuidados de saúde, que inevitavelmente vão necessitar.”

© Sónia Araújo

Devemos privilegiar a realização destas atividades nestes locais pois são locais “neutros” onde as crianças se sentem seguras, sendo então um contexto privilegiado também para dissociar a imagem do enfermeiro a situações menos agradáveis. Este foi o primeiro ano em que os nossos alunos representaram a profissão de Enfermagem neste evento e, por isso, é importante destacar que a Associação de Estudantes contou com o apoio de vários Professores e funcionários da Escola de Enfermagem, tal como da própria faculdade que se disponibilizou a facultar todo o material necessário. A Professora Elisabete Nunes referiu que “os estudantes estão de parabéns pela sua iniciativa e proatividade, e estou convicta que este tipo de experiências extracurriculares, como outras que a Escola proporciona – Mês do Coração, Capacitar para Salvar, Capacitar para Viver – fazem toda a diferença do ponto de vista profissional e pessoal.”. Foi uma semana onde os voluntários distribuíram sorrisos pelas crianças e onde todos acabaram por se divertir a fazer o que mais gostam. Sónia Araújo


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Se Houver Tempo... Lifestyle Um verão Verde lima Agora que é oficial que o bom tempo veio para ficar (esperamos nós), chegou a altura de procurar o melhor spot para quem não faz romaria até ao Algarve, nestas tardes de calor. A verdade é que a luta de um grupo que quer passar uma boa tarde à conversa, é sempre entre “eu quero ir para uma esplanada”, “eu quero estar à sombra”, “apetece-me uma imperial” ou então, já que estamos em época de europeu, “desde de que dê para ver o jogo para mim está bom”. Parece que dentro destas exigências, o leque de opções podia ser, e é, vasto em Lisboa...mas não é! Eu explico. O sítio que é imperativo visitar chama-se Quiosque Verde Lima. Escondido no meio de Sete Rios, local pouco convidativo quando pensamos em algo fresco, está este Quiosque com sabor a verão localizado no Jardim da Amnistia Internacional. Diogo Figueiredo e Luís Jeremias abriram este espaço no início de Maio. Procuravam responder à procura de comida saudável num espaço como um quiosque. Portanto juntaram o útil ao agradável, evidenciando que a preocupação pelo que se come não cabe apenas às meninas.

© Verde Lima

“O Verde Lima já deu muitas cartas e ficou conhecido por ter o melhor Açaí de Lisboa.“ As opções são vastas, desde grandes tostas que alimentam famílias de quatro se for preciso, às saladas, onde a de salmão para mim é a Rainha. Quanto aos doces é tudo magro, menos no sabor. Os gelados que o Quiosque Verde Lima tem, metem o Sr. Santini a um canto. Verdadeiros gelados artesanais que, se fecharmos os olhos, pensamos que estamos a comer uma peça de fruta. De perder a cabeça os gelados da marca FINI, que sinceramente nunca vi à venda noutros locais. O Verde Lima já deu muitas cartas e ficou conhecido por ter o melhor Açaí de Lisboa. E não é exagero. Esta fruta brasileira, que está na moda em Portugal, tem sido um must e dos pratos mais pedidos no Quiosque, refrescando os clientes que já se têm vindo a tornar habituais. Enfim, quem ali passa não fica indiferente, começam por um café, mas rapidamente acabam rendidos ao bom ambiente, à simpatia da equipa e à ementa generosa que acompanha lindamente o verão que temos pela frente. Uma pérola no meio de Sete Rios que nos faz esquecer que estamos enfiados na cidade. Para os amantes de futebol que estão à procura de um local para ver o jogo e querem ter a certeza que a namorada ou o namorado ficam entretidos, é também uma óptima opção. Por isso se tiverem tempo... entre as 10h e as 20h passem por lá que não se vão arrepender. #verdelima Joana ferragolo *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Banco de Suplentes Desporto Os 7 magníficos Em Maio terminaram os principais campeonatos nacionais de futebol. Chegou a hora de falar dos 7 magníficos – os 7 destaques do último campeonato português. Jonas – O avançado do Benfica fez uma época tremenda. O melhor marcador do campeonato ajudou, com golos e assistências, a desbloquear muitos jogos da sua equipa. Adaptou-se muito bem a um companheiro de ataque com características diferentes do anterior (Mitroglou em vez de Lima) e espalhou classe, qualidade técnica, inteligência e, num aspecto pouco valorizado em Jonas, mostrou um fantástico voluntarismo (é dos jogadores que mais (e melhor) corre e pressiona a saída de bola dos adversários). Slimani – O avançado do Sporting subiu muitos patamares relativamente ao que fez no passado, até comparado com a última época, que já tinha sido bastante boa. Com a sua capacidade física, o argelino é o jogador mais difícil de marcar no campeonato português. É forte, é muito rápido (sobretudo para a altura que tem), dá muita profundidade e, num aspecto em que melhorou bastante, sabe receber a bola e esperar pelos apoios. Melhor do que tudo isto: é o cabeceador mais temível do campeonato. Época estrondosa. João Mário – Aproveitou esta temporada para marcar a sua posição como um dos melhores jogadores do campeonato. Muita qualidade técnica, grande capacidade no transporte de bola e um entendimento perfeito daquilo que Jorge Jesus pretende do jogador que joga naquela posição: capacidade de vir buscar bola “dentro”, de dar profundidade no corredor e qualidade a aparecer na área. Além desta melhoria táctica, João Mário melhorou bastante na finalização. Está “na calha” para se transferir para um dos grandes clubes da Europa. Danilo – Apesar da má época do Porto, Danilo esteve em “modo besta” e isso valeu-lhe um lugar como titular de Portugal no Europeu. Forte no desarme, cada vez mais capaz na saída de bola e com uma disponibilidade física tremenda, Danilo “segurou” a equipa do Porto e, muitas vezes, pareceu o único com vontade de ir para a frente e cair em cima dos adversários. Grande época. Renato Sanches – Não entra neste lote por ter sido dos melhores jogadores do campeonato, até porque teve uma quebra de rendimento nos últimos jogos.

Entra, essencialmente, pela influência que teve numa fase-chave da época do Benfica, depois de Rui Vitória ter tentado Pizzi, Samaris e Talisca na posição de segundo médio. Eis que apareceu Renato, que conquistou o lugar com a garra, agressividade e técnica que fizeram dele a nova estrela do clube e que lhe valeram uma transferência para o Bayern de Munique. Uma história inacreditável de uma ascensão meteórica deste jovem. Ainda tem pontos a melhorar, sobretudo na gestão de quando deve pressionar e quando deve manter a posição, mas tem tudo para se tornar num médio de classe mundial. Como prémio final, Fernando Santos chamou-o para o Euro 2016. Rafa – Temporada excepcional. É um dos jogadores portugueses mais tecnicistas e imprevisíveis, características que já tinha, às quais juntou alguma veia goleadora e maior consistência do que era habitual (esteve quase toda a temporada a bom nível). Está no lote de convocados para o Euro 2016 e poderia ser uma das armas secretas de Fernando Santos: é o jogador da nossa selecção que melhor conjuga velocidade, técnica e capacidade de desequilíbrio (Quaresma perdeu velocidade, Ronaldo está menos “artista” e Nani baixou de nível). Fesja – Perdoa-me, Jardel, por não caberes neste lote (o central brasileiro fez uma época fantástica), mas tenho de destacar Ljubomir Fesja. Apesar dos períodos de afastamento por lesão, Fesja esteve a um nível altíssimo. Segurou o meio campo do Benfica, nomeadamente compensando os desposicionamentos de Renato. Sem lesões, Fesja poderia ser dos melhores médios defensivos do mundo. É uma autêntica “carraça”, é rápido, é forte no desarme, é forte fisicamente e melhorou muito no momento de soltar a bola (inclusivamente através do passe longo). É uma pena que tenha tantas lesões. Menções honrosas: Layún, Adrien Silva, Bryan Ruiz, Gaitan, Maxi Pereira, Lindelof, Rúben Semedo, Diogo Jota, Éderson, Iuri Medeiros e Coates. Diogo Oliveira *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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O Cabide Moda A moda Portuguesa Por esta altura, já devem ter percebido que eu não ando aqui a brincar aos trapinhos. A moda e toda a indústria que a envolve é uma área que realmente me interessa. Não tenho paciência para pseudobloggers de moda que só gostam de partilhar os seus #OOTD (Outfit of the day, para quem não sabe), nem para miúdas que querem trabalhar em moda porque é glamoroso (tirem o cavalinho da chuva porque esta área é tudo menos aquelas cenas fabulosas do Diabo Veste Prada ou do Sexo e da Cidade - acreditem que eu sei do que estou a falar). Assim, e como O Cabide está quase a terminar, quero levar-vos numa viagem pela moda portuguesa. Se me conhecem, sabem que sou uma acérrima apoiante da indústria e tenho uma paixão de morte pela Alexandra Moura e pelo Pedro Pedro. No entanto, apesar de termos grandes criadores com um potencial e criatividade gigantes, a moda portuguesa é subvalorizada. Ao longo do tempo, consegui identificar alguns factores que contribuem para esta situação:

“Não tenho paciência para pseudo-bloggers de moda que só gostam de partilhar os seus #OOTD (...)”

- Falta de cultura de moda. Temos de ser incisivos e pôr o dedo na ferida: o povo português não tem cultura de moda. Desde sempre que, em França ou Itália, os pequenos têm contacto com a arte de bemvestir. Cá, uma pessoa que mostre o mínimo sinal de inovação ou luxo é enxovalhada em plena luz do dia. Lá, a moda é vista como uma componente da sociedade, com tanta relevância como a história ou a matemática e que deve ser estudada. Cá, a moda é futilidade para cabeças ocas. Podia continuar, mas penso que já perceberam o meu ponto de vista. - O que é português ainda não é bom. O preconceito contra o made in Portugal é regra na moda portuguesa. Os portugueses sofrem de um enorme complexo de inferioridade, que se materializa através das escolhas de vestuário. Uma marca portuguesa só passa a ser boa quando é reconhecida no exterior. Um exemplo claro: Marques’Almeida só passou a ser “fixe”, quando começou a desfilar em Londres. No entanto, o caso muda de figura quanto à indústria do calçado, que já é considerado de qualidade (em grande parte devido à APICCAPS). Os horizontes começam a abrir-se, mas não à velocidade necessária.

© Pinterest


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O Cabide Moda - Aliado ao estigma do made in Portugal, temos o statement social. Imaginemos esta situação: «Tenho 800€ para gastar num vestido. Compro Filipe Faísca ou Chanel? Claro que compro Chanel, porque é reconhecido socialmente como uma marca de luxo.» Em oposição ao vestido Filipe Faísca, o vestido Chanel é um statement que todos os indivíduos reconhecem como um sinal de poder económico. O que a maioria das pessoas não sabe é que o vestido Chanel é apenas uma etiqueta num bocado de tecido, pois foi feito em fábrica e produzido em massa, ou seja, milhares de outras pessoas têm a mesma peça, tornando-a tudo menos luxo. Em oposição, um vestido assinado por Faísca é feito à mão, com tecidos de alta qualidade e é uma peça única.

© Catarina Veloso

- Falta de comunicação. A maioria dos designers portugueses ainda vive na Idade Média e acredita que não precisa de ter uma estratégia de comunicação (ou contratar uma agência de comunicação que trate do assunto). A comunicação é essencial na divulgação da marca e respectivos produtos nos media. Mas ainda não existe esta mentalidade nos criadores, porque é necessário investir e direccionar verbas para esta área, que não é nada barata. Por exemplo, anunciar em revistas de moda é impensável, pois o valor mínimo de uma página ronda os 5000€. O único momento em que os estilistas conseguem chegar às massas é durante a Moda Lisboa, porque recebem cobertura mediática sem quaisquer despesas - são os jornalistas que os procuram e não o contrário.

“A maioria dos designers portugueses ainda vive na Idade Média e acredita que não precisa de ter uma estratégia de comunicação (ou contratar uma agência de comunicação que trate do assunto).” - Formação: não existe boa formação em design de moda em Portugal. Há sítios melhores do que outros, mas não existe liberdade para explorar e pensar verdadeiramente out of the box. A maioria dos trabalhos provenientes dos estudantes estão carregados de denotações visuais facilmente reconhecíveis. Outra questão a ter em atenção é o facto de os estudantes saírem da faculdade a pensar que já são designers de topo e que vão ser directores criativos da sua própria marca ou de uma maison de alto calibre. É neste momento em que eu digo para controlarem o egocentrismo, descerem à terra e porem os pés no chão, porque é muito pouco provável que isso aconteça. Os “criadores-estrelas” como Ricardo Tisci ou Olivier Rousteing vieram dar a ilusão de que as marcas de moda são um sonho alcançável e de que todos podemos ser o próximo Alexander McQueen. Como podem observar, a indústria da moda é muito complexa e envolve componentes com os quais o mero mortal nem sequer sonha. Mas quem é verdadeiramente apaixonado consegue vingar, prometo. Catarina Veloso *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Fita Queimada Cinema Estamos de volta ao tempo do Vynil Vynil é a mais recente série da HBO, coproduzida por Martin Scorsese e Mick Jagger. Uma obra ficcional que retrata a indústria musical durante os anos 70. O retrato geral é uma mistura orgíaca entre a sociedade americana da altura, psicotrópicos, a explosão do Rock Alternativo e uma dose elevada de promiscuidade. Richie Finestra (Bobby Cannavale) é o CEO de uma empresa discográfica que está à beira da falência. Para combater este flagelo, Richie usa o seu ouvido excepcional para encontrar novas sonoridades e, simultaneamente, com a sua perspicácia, evita a coacção do FBI. A série conta, ainda, com a participação de Olivia Wilde, James Jagger, Juno Temple e Ray Romano. Não pretendo adiantar muito mais em relação à história desta série. A sinopse torna-se mais que suficiente para saciar o desejo cru de qualquer espectador, aliciando-o instantaneamente a uma época cujos prazeres carnais e espirituais se enaltecem de uma maneira etérea. O culminar bruto de uma expressão excelsa de liberdade, sexualidade, contra cultura e liberdade de expressão e pensamento. Logicamente, a transmissão destas mesmas poderá ser entregue de uma forma um pouco deturpada devido à presença constante de estupefacientes, no entanto, não deixa de proporcionar uma certa carga poética às acções das personagens. A série satisfaz, ainda, os caprichos dos mais variados musicólogos e ouvintes ecléticos. Proporcionalmente, por episódio, é dedicado metade do tempo ao puro conteúdo musical. Não só a produção musical de Mick Jagger nos proporciona temas clássicos de blues originais, como também somos surpreendidos pelo aparecimento constante de lendas do panorama musical dos anos 70. Um jogo interessante que o guião lança é a representação desses músicos ou bandas através de nomes fictícios (com ligeiras referências). Exemplo prático é a personagem Hannibal que supostamente retrata Sly dos Sly & The Family Stone. No entanto, não deixamos de encontrar personagens que assumem a sua verdadeira identidade como Led Zeppelin, Alice Cooper ou até mesmo David Bowie (num episódio de tributo sublime).

© Portal Magazine

Esta panóplia de factores nos vários aspectos da série compele, naturalmente, à sua visualização. Uma direcção excepcional tão clássica que esgota adjectivos, por parte de Martin Scorsese; a soundtrack escolhida minuciosamente pelos dedinhos mágicos do líder da língua mais icónica do Rock; um cast infalível proveniente dos dois lados do Atlântico e, claro, a exponenciação da imundice intelectual e fatalista de uma geração são meros pormenores numa obra que avista o fenómeno de culto no horizonte. João Torres *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Inteligência Artificial Gaming/Internet

Clickety Clack Falemos dos eSports e como nos últimos anos têm vindo a ser reconhecidos e valorizados. Sejamos honestos, a razão pela qual os eSports não foram reconhecidos previamente é porque o populus não os consegue perceber, coisa que não acontece com a maioria dos desportos tidos como “tradicionais”, isto não é dizer que os desportos “tradicionais” são fáceis de jogar ou que não requerem talento, mas simplesmente que são fáceis de perceber com uma primeira análise. Não temos dúvida do que esta acontecer num campo de futebol, ou ténis, ou golf. Os eSports, por outro lado, não têm essa facilidade.

“Os eSports são um negócio como qualquer outro, um negócio que mexe milhões de dólares todos os anos (...)”

“Sejamos honestos, a razão pela qual os eSports não foram reconhecidos previamente é porque o populus não os consegue perceber, coisa que não acontece com a maioria dos desportos tidos como “tradicionais (...)” Quando tenho de explicar a complexidade dos eSports a alguém não familiarizado gosto de fazer uma comparação entre o xadrez e jogo StarCraft II. No xadrez existem 6 peças únicas, o rei, a rainha, a torre, o bispo, o cavalo e o peão, para além disto, o jogo é baseado em turnos e a única forma de vencer é capturando o rei inimigo. Em StarCraft II existem 3 “raças” ou “equipas” diferentes, cada uma com perto de 32 “peças” únicas, o jogo decorre em tempo real e os jogadores profissionais executam entre 250 a 300 acções por minuto. Ainda que a vitória seja determinada pela destruição total das unidades do inimigo os jogos podem acabar em questão de minutos por conceição do jogador ao admitir a superioridade do adversário. Parece complicado porque é complicado; é visualmente complicado, é complicado acompanhar a acção do jogo. Contudo, países como Coreia do Sul foram capazes de integrar este jogo como o desporto muitos anos antes do resto do mundo.

© Starcraft II, Blizzard Entertainment

É interessante ver mais e mais sport-bars com noites dedicadas aos eSports e canais como RTP transmitindo torneios de grande importância. Os eSports são um negócio como qualquer outro, um negócio que mexe milhões de dólares todos os anos, começam-se a ver contractos de jogadores para diferentes equipas nos valores dos milhões, os mesmos jogadores a serem patrocinados por grandes marcas e serem adorados como qualquer outro desportista. Mitchel Martins Molinos *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Música nos Tempos que Soam Música O Brasil não é só samba e Ivete Sangalo Quando se pensa no Brasil, há três palavras que podem resumir essa viagem mental: praia, sol e samba. Pegando nesta última, falo-vos, finalmente, do principal tema que me trouxe a esta coluna desde o início. Não de samba propriamente, mas de música electrónica. No entanto, não é apenas música electrónica. É também brasileira. De forma resumida, é música deste género, feita no Brasil ou mesmo cantada na língua daquele país. Mas tem algo de diferente. Não é só música com beat electrónico. O resultado final carrega a essência do Brasil, que transparece claramente para quem o ouve e sente, seja através do house, do ambient ou do tropical (subgénero apropriado).

Deixo alguns artistas que recomendo: Dos mais recentes - Arcade Fighters, Alberto dos Santos ou Philippi & Rodrigo ou recordando os clássicos - à época desiganados apenas como “música de dança” – que estão na base deste novo movimento: Sónia Abreu, Mister Sam (produtor de vários artistas brasileiros) ou Gabinete Calighari. Agora que o Verão (ou, pelo menos, o calor) está aí, é uma excelente oportunidade para ouvir estes artistas e descobrir outros. Daqui a pouco tempo, começarão a ouvir música electrónica brasileira, que é já, por si, um género, mesmo que involuntariamente ou contrariados. Será a próxima grande tendência que, quando cá chegar, já terá rodado nas principais discotecas e festivais do mundo. Nessa altura, lembrem-me de recordar este texto.

© Época, Globo

Este tipo de música começou nos anos 50 e, desde aí, tem feito um caminho de crescimento que vê, nos dias de hoje, uma grande projeção. Como este é um texto-roteiro, fica a primeira recomendação: Enciclopédia da Música Eletrônica Brasileira - A História dos anos 50 à Atualidade. Os próprios Disclosure já ouvem esta nova tendência e Tensnake vai mais longe e conjuga-a nos seus sets. A inovação pode estar exatamente aqui: um objeto abordado por uma cultura que lhe é (quase) desconhecida. No caso, aplica-se à música electrónica atual apropriada pelos brasileiros e, também, à música brasileira tomada por outras culturas, inglesa e alemã.

© Famosidades

Francisco Marcelino *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


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Literalmente Metafórica Literatura O ano do encontro com Ricardo Reis Nem sabem! Aqui há tempos fui passear por Lisboa e encontrei aquele sujeito que escreve poemas, o Ricardo Reis! Conhecem? Às vezes ele é uma pessoa estranha e confusa. Fala nuns deuses da Antiguidade e numas coisas com uns nomes complicados – estoicismo e epicurismo – que, afinal, até se conseguem explicar de uma forma simples. Encontrei-o no cais de Alcântara. Ia carregado com umas quantas malas e parecia-me um bocado perdido; regressou a Portugal depois de 16 anos a viver no Brasil. E agora perguntem-me como soube desta chegada maravilhosa. É óbvio! O meu amigo Zé contou-me! Quando me apercebi, tinha páginas e páginas à minha frente sobre o Ricardo Reis. Acompanhei-o até ao hotel para o ajudar a levar tudo o que trouxera e fomos conversando pelo caminho. Percebi que tinha vindo visitar alguém a Lisboa, uma pessoa importante que lhe dizia muito, mas que já tinha morrido. Aquilo doeu-lhe bastante, coitado, mas depois lá foi sozinho até ao Cemitério dos Prazeres, numa última homenagem.

Após este encontro, tive de falar mais um bocadinho com o Zé. E que coisas descobri! Parece que, finalmente, depois de tanto escrever sobre uma tal rapariga de nome Lídia, o Ricardo a encontrou no hotel! Quis o destino que fosse a nome da criada, vejam lá! Mas não me vou dedicar aqui à cusquice. Se quiserem, falem vocês com o meu amigo, ele não se importa de ter uma bela conversa com quem tiver vontade de ler. A partir dali, os encontros com o poeta foram constantes. Acompanhei-o em longas deambulações: passei pelo Camões, vi os barcos no Cais do Sodré, o castelo a partir do miradouro de S. Pedro de Alcântara e escapuli-me por entre as pessoas no Chiado. Pensámos em beber um copo no Martinho, cruzámos o arco da Rua Augusta e falámos sobre Portugal e a Guerra Civil de Espanha.

© Alexandra Antunes


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Literalmente Metafórica Literatura Levou-me muitas vezes a ler os jornais diários no Alto de Santa Catarina, com o Adamastor como companhia e os velhos sentados num banco a olhar o Tejo. E ainda teve tempo de me apresentar uma bela moça que conheceu em Lisboa, chamada Marcenda! Uma vez, sem aviso prévio, puxou-me por um braço e fez-me ir a Fátima em dia de peregrinação. Viajei num comboio atulhado de gente, vi pessoas a andar pelas estradas para rezarem aos pés de uma Maria que o Zé não consegue compreender e descansei à sombra das árvores num dia de sol abrasador. Mas o ponto alto destes encontros foi mesmo em Lisboa, a cidade que «é um grande silêncio que rumoreja, nada mais.». É neste local construído de palavras que José Saramago se atreve a terminar a biografia de um dos heterónimos de Fernando Pessoa, a um ritmo alucinante pela sua escrita tão característica.

“Ao fechar O Ano da Morte de Ricardo Reis, quase consegui ouvir o poeta segredar-me um poema, baixinho.”

Ao fechar O Ano da Morte de Ricardo Reis, quase consegui ouvir o poeta segredar-me um poema, baixinho. Achei por bem partilhá-lo convosco. «Lenta, descansa a onda que a maré deixa. Pesada cede. Tudo é sossegado. Só o que é de homem se ouve. Cresce a vinda da lua. Nesta hora, Lídia ou Neera ou Cloé Qualquer de vós me é estranha, que me inclino Para o segredo dito Pelo silêncio incerto. Tomo nas mãos, como caveira, ou chave, De supérfluo sepulcro, o meu destino, E ignaro o aborreço Sem coração que o sinta.»

© Alexandra Antunes

Alexandra antunes *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


TEXTO CRIATIVO

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Olhar de Prata Produção Escrita Metamorfose dos sentidos Não interessa se acreditas Não interessa se acredito Se é a Eva ou o Big Bang A existência ou a dúvida. Por onde anda a vida? Por onde anda a mente?

“Se Deus criou a terra/ Porque é que o Humano prefere/ A serpente?”

Sozinha ou à deriva Crente ou descrente.

A tela que seduz os olhos E que alimenta aquilo que temos nas entranhas.

Se Deus criou a terra Porque é que o Humano prefere A serpente?

Mas é no corpo que permanece o impulso Que nos leva a que pequemos.

Entre a sala e a cozinha O sofá e a TV. A sedução da carne É a que vê o sangue Mas nada faz para não parar de o ver.

Se tanto amor nós damos a todos Porque é que pouco amor a ti nós demos? Porque é que o ódio prevalece? Não temos pressa de viver no céu Mas o medo do Inferno Faz com que vivamos nele.

© Alexandra Antunes

Omar prata *Texto escrito com o Antigo Acordo Ortográfico


AS ESCOLHAS DO PONTIVÍRGULA

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LIVROS: “O Mistério da Estrada de Sintra” - Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão “Clarabóia” - José Saramago “Orlando” - Virginia Woolf “Nome de Guerra” - Almeida Garrett Alexandra Antunes

ÁLBUNS: “The Incident” - Porcupine Tree “The day off” - Poldoore “Romance” - Darius “Master of Reality” - Black Sabbath “Moog for Love” - Disclosure Francisco Marcelino

FILMES: “The Jacket” - John Maybury “The Thirteenth Floor” - Josef Rusnak “The Bothersome Man” - Jens Lien “Forgetting Sarah Marshall” - Nicholas Stoller “Training Day” - Antoine Fuqua João Torres

VÍDEOJOGOS: “Overwatch” - PC, PS4, XboxOne “Total War: Warhammer” - PC, Linux, Mac “DOOM” - PC, PS4, XboxOne “Uncharted 4” - PS4 “Ratchet & Clank” - PS4 Mitchel Molinos



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