O Portomosense 676

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Entrevista

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JOSÉ FERREIRA

Nesta edição, JosĂŠ Ferreira quebra o longo silĂŞncio a que se remeteu depois de ter perdido a câmara para o seu antigo homem de confiança, dĂĄ a sua versĂŁo dos factos que fizeram “estremecerâ€? o concelho em 2005 e lança um olhar crĂ­tico Ă actual situação socio-econĂłmica. O antigo autarca acusa JoĂŁo Salgueiro de ser um excelente actor e diz que a sua governação ĂŠ feita, apenas, de aparĂŞncias. JosĂŠ Ferreira diz que foi alvo de muitas mentiras e calĂşnias nestes Ăşltimos anos e garante que nĂŁo voltarĂĄ a candidatar-se Ă câmara. Como sempre, esta ĂŠ a versĂŁo curta da entrevista porque o texto na Ă­ntegra estarĂĄ disponĂ­vel brevemente na nossa pĂĄgina na internet e aĂ­ hĂĄ muito mais para ler...

HĂĄ cinco anos, apesar nĂŁo contar com JoĂŁo Salgueiro na sua lista Ă câmara, sentiu-se atraiçoado quando ele apareceu como seu adversĂĄrio directo? O senhor JoĂŁo Salgueiro exerce cargos polĂ­ cos de forma ininterrupta pelo menos desde 1986. Foi vereador e presidente, por impedimento do presidente da altura, depois fez um mandato na Assembleia Municipal e trĂŞs como vice-presidente. As desavenças todos as temos e eu tambĂŠm as ve com Gomes Afonso mas por trĂŞs vezes ve a coragem de votar contra. Em 12 anos nunca ve tal a tude por parte do senhor Salgueiro. No dia 1 de Julho pedilhe para vir ao meu gabinete e disse-lhe que me estavam a chegar uns “zunzunsâ€? de que haveria algum namoro com o PS. Disse-me para ďŹ car descansado, que fora abordado mas que estaria comigo atĂŠ ao ďŹ nal do mandato e que nha um projecto em ar culação com a esposa, ao qual se iria dedicar. Quinze dias depois era apresentado oďŹ cialmente como candidato do PS.

Ficou magoado com a atitude? É preciso ter uma resistĂŞncia muito grande para enfrentar, em silĂŞncio, as aleivosias e disparates que foram ditos de lĂĄ para cĂĄ. HaverĂĄ alguĂŠm que nĂŁo se sinta depois de um relacionamento de tantos anos em que tudo o que se passava na câmara era do seu conhecimento e sendo seu vice-presidente?

Entretanto, vêm as eleiçþes e perde a câmara para

aquele que tinha sido o seu “braço direitoâ€? durante 12 anos. Outro momento difĂ­cil? Faço um paralelo com a actualidade nacional. Hoje vemos o primeiro-ministro dizer bem da Dra. Manuela Ferreira Leite reconhecendo que se vessem sido ouvidos os seus avisos o paĂ­s nĂŁo estaria como estĂĄ. Pois bem, estĂŁo aqui em confronto dois pos de personalidade exactamente como nessa altura estavam em Porto de MĂłs. De um lado alguĂŠm que pugnava pelo rigor, pela seriedade, que nĂŁo alimentava polĂŠmicas, que nha uma palavra e que quando decidia estava decidido, e do outro uma pessoa com uma postura simpĂĄ ca, bonacheirona, agradĂĄvel. Mas o eleitorado faz estas escolhas.

Como conseguiram trabalhar tanto tempo juntos? A vida Ê um teatro e, de facto, hå excelentes actores. Hå pessoas que enquanto estão em palco conseguem aguentar duas ou três personalidades‌e não digo mais.

AlĂŠm de nĂŁo ter uma personalidade tĂŁo popular, que outras razĂľes encontra para ter perdido? Se calhar conďŹ ei demais. Pensei sempre que ele seria penalizado por aquela “cambalhotaâ€?. A divisĂŁo dentro do PSD ĂŠ outra coisa que me espanta e tem a ver como as pessoas, por vezes, sĂŁo incapazes de ter o mĂ­nimo de memĂłria e de dignidade. Em 2000/01 nĂŁo hĂĄ um Ăşnico processo de obras sem a abastenção dos vereadores do PS. Argumentavam (Dr. JosĂŠ Carlos Ramos, Dr. Rui Neves e Dra. Ana Paula Noivo) que nĂŁo

punham a sua assinatura em nenhum processo trazido pelo senhor Salgueiro porque duvidavam da forma como eram organizados. Como se consegue passar uma esponja sobre tudo isso e de um momento para o outro passarmos de uma relação de conitualidade para uma de amor e ternura?

Nada dessa derrota lhe pode ser atribuĂ­do a si? Se calhar nĂŁo fui muito feliz na escolha do meu “nĂşmero 2â€?, apesar do Eng. AntĂłnio JosĂŠ Ferreira ser um excelente tĂŠcnico. Talvez nĂŁo trouxesse aquilo que as pessoas estavam Ă espera (embora depois tenha feito um bom mandato). AlĂŠm dele havia uma pessoa promissora, o Dr. Nuno Salgueiro, um jovem economista que podia ser uma mais-valia e que por onde tem passado tem feito obra e deixado marca. Com a entrada destes dois jovens poderĂ­amos ďŹ car com um conjunto de quadros importantes para o futuro.

Encontra mais algum factor que tenha contribuído para que tivesse perdido? Tentou-se passar a ideia de que estava tudo mal feito e que era tudo uma cambada de incapazes e incompetentes e que [se João Salgueiro ganhasse] Cristo ia nascer naquele dia e vinha aí um mundo novo. Essa mensagem passou graças a uma excelente campanha de marke ng dirigida por João Gabriel que posteriormente não escondeu o seu profundo arrependimento. Os pecados pagam-se tarde e quando jå não hå remÊdio.

Como analisa o primeiro

mandato de JoĂŁo Salgueiro? Faz-me lembrar aquele ďŹ lme do Can as em que estĂĄ a varrer e pĂľe o lixo debaixo do tapete. Faz coisinhas que se vĂŞem e pouco mais, excepto a intervenção nas ruas 5 de Outubro e Mestre de Avis. NĂŁo se limitou a lavar a cara Ă s ruas mas introduziu o sistema separador dos esgotos pluviais dos domĂŠs cos. Foi um bom trabalho porque nĂŁo con nuamos a pagar Ă Simlis, ĂĄgua da chuva como sendo esgoto. HĂĄ intervençþes que considero esbanjamento de dinheiros pĂşblicos porque se tratou simplesmente de cosmĂŠ ca. Faz-me lembrar o souÊ, vem na taça, muito bonito mas quando se mete o garfo aquilo esvazia-se.

HĂĄ quem diga que JoĂŁo Salgueiro tem procurado apagar da memĂłria dos portomosenses o seu trabalho enquanto presidente da Câmara. A histĂłria mostrou-nos que os piores lĂ­deres foram aqueles que ďŹ zeram tudo para apagar a memĂłria dos seus antecessores. Em Porto de MĂłs isso tem sido tentado. NĂŁo esqueço a memĂłria do PSD nem de quem me antecedeu no cargo. O concelho deve muito ao Dr. Silva Marques, ao Dr. LicĂ­nio, ao Eng. Trindade, ao Eng. Gomes Afonso e tambĂŠm me deve qualquer coisa a mim. A estratĂŠgia “antes de mim era o caosâ€? nĂŁo ĂŠ fĂĄcil de compreender. Este “mimâ€? esteve no poder 20 anos a par lhar esse mesmo caos. Esta estratĂŠgia de apagar o passado revela ou amnĂŠsias sucessivas ou um narcisismo tĂŁo grande que faz ter esses lapsos de memĂłria e

pretender esquecer o passado.

Foi acusado de ter feito mais de uma dezena de “obras fantasmaâ€?. Em nenhum desses casos me podem acusar de beneďŹ cio prĂłprio ou de familiares, de preços anormalmente altos em termos de mercado ou de pagamentos indevidos. Eram obras do conhecimento de todos porque eu nha o hĂĄbito de reunir com os vereadores em regime de permanĂŞncia, com os encarregados e os engenheiros. AtĂŠ 16 de Julho de 2005 eram do conhecimento de todo o execu vo municipal. Algumas foram mandadas fazer, com o meu conhecimento e com a minha autorização, pelo actual presidente da câmara. A Ăşnica desculpa poderĂĄ ser de 16 de Julho a 30 de Setembro, mas nesse perĂ­odo estaremos a falar de obras que nĂŁo tĂŞm nada a ver com os valores referidos.

Acusam-no, ainda, de deixar a câmara bastante endividada‌ É normal que as pessoas assumam as dĂ­vidas que vĂŞm de trĂĄs. Eu ainda paguei algumas coisas do tempo do Dr. Silva Marques e do Eng. Gomes Afonso e nunca me queixei porque a minha assinatura estava lĂĄ. A nĂŁo ser que o senhor Salgueiro assinasse de cruz ou de olhos fechados, a sua assinatura tambĂŠm estĂĄ nas dĂ­vidas que o meu execu vo deixou. No relatĂłrio de contas rela vo ao meu Ăşl mo ano de gestĂŁo a dĂ­vida a curto prazo era de 3,64 milhĂľes de euros (650 mil contos). Com aquelas obras que seria necessĂĄrio regularizar aumentaria ligeira-


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