Jornal UEG | Edição 18 | abril-maio | 2016

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jornal UEG Jornal da Universidade Estadual de Goiás I Ano 3 - Nº 18 | abril-maio / 2016

UEG 17 Anos

Mais de 85 mil pessoas conquistaram diplomas na UEG ao longo dos 17 anos da Instituição. Ao expandir horizontes, as vidas aqui acolhidas são parte de um todo. Esse todo retrata a história da Universidade

Gestão Planejamento coletivo pág. 3 Equipes gestoras se reúnem para construir roteiro de ações que serão priorizadas nos próximos anos

UEG em contexto Rodas de resistência pág. 4 Pesquisadora da UEG estuda a manutenção da cultura popular goiana por meio das danças regionais

Universidade em mosaico Literatura infantil pág. 10 Professoras dos câmpus Inhumas e Crixás comentam o poder da leitura na humanização e na expansão dos conteúdos de sala de aula


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EDITORIAL

Anápolis, abril-maio de 2016

17 anos de compromisso compartilhado Por Haroldo Reimer, reitor da UEG Pluralidade. Não me vem à mente outra palavra que possa indicar com mais precisão o verdadeiro diferencial da Universidade Estadual de Goiás. Isso a começar pela sua criação que, em 1999, unificou uma universidade e várias faculdades estaduais isoladas com a missão de levar o ensino superior público a todos os cantos do Estado. Essas faculdades já tinham suas histórias e somavam grandes conquistas. Como UEG, tornaram-se um grande e diversificado mosaico. Neste 16 de abril, esse mosaico completa 17 anos. E é ao olhar o desafio primeiro da UEG – o de interiorizar e universalizar o acesso ao ensino superior – que traçamos uma história de significantes conquistas para esta jovem Universidade. No entanto, essas conquistas que levam a sigla UEG são o resultado de um esforço maior do que o próprio nome da Instituição. O que levou a Universidade a se consolidar com 41 câmpus e um Centro de Ensino e Aprendizagem em Rede, em 39 cidades, foi o compromisso de quem passou ou está aqui. Das salas de aula aos laboratórios. Dos setores administrativos aos auditórios. Todos esses espaços receberam e recebem pessoas dispostas a investir o mais intenso dos seus fôlegos na transformação de suas vidas. Muitas dessas pessoas encontraram na UEG a única possibilidade de crescimento pessoal, profissional e acadêmico. Isso porque antes da interiorização promovida pela UEG, há quase duas décadas, o ensino superior público e gratuito não era uma realidade na maioria das cidades afastadas dos grandes centros. Ao se encontrarem neste lugar de possibilidades, essas pessoas escreveram a trajetória da UEG. Para além da pluralidade de áreas do conhecimento das 136 graduação, 10 mestrados, 1 doutorado e mais de 30 especializações, percebe-se ainda mais o perfil inclusivo da UEG quando se direciona o olhar aos estudantes. Como casa pública, a UEG tem os traços do povo goiano. Com uma maioria expressiva de negros, jovens e adultos provenientes de famílias de baixa renda e egressos de escolas públicas, esta Universidade vem cumprindo o seu papel de atender a quem precisa.

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E falando em demanda do povo, temos perfis muito bem delineados na atuação da UEG. No diálogo com a educação básica, por exemplo, a UEG manteve sua expertise de formadora de professores. Das Licenciaturas Plenas Parceladas aos 75 cursos de licenciaturas que hoje são oferecidos, a Universidade tem alimentado o ensino básico do Estado com a formação de muitos profissionais. No que tange ao diálogo com a economia goiana, temos exemplos como o Câmpus São Luís de Montes Belos, o Câmpus Pirenópolis e o Câmpus Trindade, para citar apenas três, nos quais são formados profissionais que atendem diretamente aos arranjos produtivos locais desses municípios. Em minha experiência como reitor, iniciada em 2012, tive a oportunidade de experimentar as benesses e os desafios de gerir uma universidade multicâmpus e de atender às demandas que urgem ante essa pluralidade. As intempéries, no entanto, são as verdadeiras indicadoras de que os grandes passos dados são apenas os primeiros de uma Instituição de ensino público ainda bastante jovem, mas que vem trilhando a direção certa: a de sua consolidação. Pedi emprestado este espaço, no Editorial do Jornal UEG, para lembrar que a celebração dos 17 anos desta Universidade coloca em destaque a função importante da Instituição: contribuir para o desenvolvimento do Estado por meio da condução de novos futuros de cidadãos que sonham em crescer. Dessa forma, a UEG impulsiona o desenvolvimento humano e tecnológico do Estado. Ao contar as histórias de Nayara Violeta, Hamilton Matos e Arsénio Sanda, a repórter Bárbara Zaiden traz três exemplos de quem encontrou na UEG um lugar de exercício de cidadania e de reconfiguração de seus caminhos. Pesquisadores, professores, diretores, gestores, técnicoadministrativos e estudantes vêm a estas páginas porque são eles os construtores diários das possibilidades plurais que fazem da UEG uma Instituição em crescimento. E é a todas e todos os integrantes desses 17 anos de UEG que direciono e com quem compartilho a celebração desta data. Boa leitura!

EXPEDIENTE

jornal UEG Anápolis - Goiás, abril-maio de 2016 Ano 3, Nº 18

CENTRO DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL

REITOR Haroldo Reimer

DIRETOR DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL Marcelo Costa

VICE-REITORA Valcemia Gonçalves de Sousa Novaes CHEFE DE GABINETE Juliana Oliveira Almada PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO Maria Olinda Barreto PRÓ-REITOR DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Ivano Alessandro Devilla PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO, CULTURA E ASSUNTOS ESTUDANTIS Marcos Antônio Cunha Torres PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO, GESTÃO E FINANÇAS Lacerda Martins Ferreira

CONSELHO EDITORIAL Alisson Caetano Péricles Carvalho REDAÇÃO Alisson Caetano Bárbara Zaiden Fernando Matos Stephani Echalar REVISÃO Alisson Caetano Maria Clara Dunck DIAGRAMAÇÃO E ARTE Alyne Lugon Graziano Magalhães Guilherme Mercês João Henrique Pacheco Nabyla Carneiro

FOTOGRAFIA Adilson Rocha Alisson Caetano Bárbara Zaiden João Henrique Pacheco Stephani Echalar DISTRIBUIÇÃO Jacqueline Pires Universidade Estadual de Goiás CECOM - Reitoria da UEG Rod. BR – 153, Quadra Área, Km 99 CEP: 75.132-903 / Anápolis – GO Tel. Geral: (62) 3328-1403 www.ueg.br Impressão: Gráfica Renascer Tiragem: 11.000 exemplares Universidade Estadual de Goiás Coordenação de Jornalismo Tel: +55 62 3328-1403 E-mail: jornalismo.ueg@gmail.com

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GESTÃO

Anápolis, abril-maio de 2016

Esforços coletivos geram plano de ações O projeto Reitoria no Câmpus foi o primeiro passo de um planejamento estratégico para a Universidade. Agora, cada setor da UEG se direciona às demandas mais urgentes ao desenvolvimento institucional

Foto: Bárbara Zaiden

Por Alisson Caetano

Equipes gestoras se reuniram no Câmpus Pirenópolis para projetar as ações que serão priorizadas de curto a longo prazo

Elaborar o roteiro de ações que nortearão os focos das equipes gestoras da Universidade Estadual de Goiás (UEG) tem sido uma ação pautada pelo diálogo. Ao exercer a gestão compartilhada, por meio da qual cada parte assume e se especializa para atuar de forma responsável e com a autonomia que sugerem suas competências, a Instituição projeta seu futuro de forma a englobar medidas que a curto, médio e longo prazo direcionem para a consolidação da Universidade. Nesse sentido, o Câmpus Pirenópolis foi um dos pontos de encontro dessa construção conjunta, tanto para a rea-

2016 Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PrP)

Criação do sistema de gestão de Pós-Graduação Lato Sensu e Stricto Sensu. O sistema de gestão das especializações já foi elaborado e está em fase de implementação. O objetivo da ação, entre outros, é facilitar a inserção de notas e frequências de alunos das pós-graduações.

Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (PrE)

Criação do Programa de Acompanhamento de Bolsa Permanência, que permitirá melhorias no direcionamento das atividades desenvolvidas pelos estudantes.

Pró-Reitoria de Planejamento, Gestão e Finanças (PrPGF)

Oferecer formação sobre os processos de gestão administrativa, orçamentária e financeira. Público-alvo: todos os gestores, servidores e profissionais da UEG que tenham como atividades a compra de materiais e a abertura de processos que envolvam o orçamento da Universidade.

Pró-Reitoria de Graduação (PrG)

Adaptação do Fênix, sistema de gestão dos cursos de graduação, aos novos traços da matriz curricular da UEG.

lização da última etapa do projeto Reitoria no Câmpus quanto para a união de equipes gestoras com uma consultoria externa a fim de elaborar um planejamento.

da UEG participaram dos treinamentos: Planejamento – Conceito, Métodos e Estratégias e Organização Institucional na Gestão de Processos.

Representantes de diferentes setores da Universidade se reuniram no dias 1º e 2 de março, no auditório do Câmpus Pirenópolis. Nos encontros, Reitoria, Vice-Reitoria, as pró-reitorias de Graduação, de Pesquisa e Pós-Graduação, de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis, de Planejamento, Gestão e Finanças, além de coordenações e gerências, foram conduzidos pelos profissionais da Assessoria Cajueiro. Ao longo dos dois dias, as equipes

Ao discutirem o que seria prioritário ao ensino, à pesquisa e à extensão na UEG, os colaboradores recorreram às demandas pontuadas ao longo das reuniões do Reitoria no Câmpus, realizado em 2015. “Somos uma Universidade jovem e estamos nos fundamentando em uma gestão participativa, em que a comunidade acadêmica tem voz e vê suas demandas sendo atendidas”, comenta o reitor da Instituição, professor Haroldo Reimer.

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Com as orientações em mãos, a construção do planejamento começou a tomar corpo. Ao fim do encontro, estratégias foram traçadas e as equipes gestoras retornaram aos seus locais de trabalho com focos de ação para 2016 e para os anos seguintes. Conheça os direcionamentos que a Reitoria e as pró-reitorias da UEG darão em seus próximos passos:

Pró-Reitoria de Planejamento, Gestão e Finanças (PrPGF) Promover melhorias no acesso à internet com a aquisição de equipamentos, licitação de novos links de dados e cabeamento estruturado para os câmpus.

2018 Pró-Reitoria de Graduação (PrG)

Formação permanente a todos os agentes da PrG para gestão das atividades ligadas ao ensino.

Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (PrE)

Criar disciplinas de extensão que fortaleçam os projetos extensionistas com a curricularização deles dentro das disciplinas do Núcleo Livre. Para isso, os docentes de todos os câmpus deverão passar por um processo de formação.

Gabinete da Reitoria

Trabalhar de forma efetiva a perspectiva de sustentabilidade, principalmente no que tange à energia dos prédios que compõem a Reitoria, em Anápolis. Serão observadas possibilidades de ações que envolvem o uso de energia solar.

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PrP)

Promover o aumento no número de bolsas de Iniciação Científica e de Iniciação Tecnológica.

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UEG EM CONTEXTO

Anápolis, abril-maio de 2016

Histórias dançadas Professora dos câmpus Eseffego e Pirenópolis, Cristina Bonetti remonta em suas pesquisas aspectos da cultura popular que resistem ao tempo e preservam as memórias Por Fernando Matos “Não se constrói história em cima de nada”. Com essa perspectiva, a professora Maria Cristina de Freitas Bonetti dedica seus estudos ao registro das manifestações culturais populares observadas em Goiás. Para ela, essas expressões fazem parte de suas memórias goianas, que foram repassadas pelo seu sogro Randall Espírito Santo Ferreira, de tradicional família pirenopolina. Filha de folclorista paulista, a dança sempre esteve presente em sua vida. Descendente de portugueses, vindos da Ilha da Madeira, Bonetti aprendeu danças tradicionais portuguesas com o avô materno e danças folclóricas brasileiras com a mãe. Formada em 1975 pela então Escola Superior de Educação Física de Goiás, atual Câmpus Eseffego da Universidade Estadual de Goiás (UEG), ela ingressou no ano seguinte na docência superior e em 1983 assumiu a disciplina de Folclore – mesma disciplina lecionada por sua mãe, Thida de Freitas, em escola pública do interior paulista. Com uma história pessoal tão intimamente ligada à cultura popular, não é de se estranhar que o olhar da professora tenha se voltado para esse campo de investigação. Local fértil para pesquisadores, as danças populares tradicionais são o centro dos seus estudos.

Corpo simbólico As danças são o ponto de partida para o desenrolar dos trabalhos da professora. “A manutenção delas é parte fundamental da identidade dos grupos nos quais elas são observadas”, analisa. Segundo ela, a dança desempenha um papel importante dentro da comunidade. “Veja bem: como todo aspecto da cultura popular, a dança desempenha um papel central na manutenção da história e memória dos grupos, além de fortalecer os laços da comunidade”, pontua.

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Obviamente, como é próprio da cultura, as manifestações assumem aspectos particulares de acordo com os locais onde estão inseridas. “A Festa do Divino, por exemplo, em Pirenópolis e Santa Catarina, se aproximam em alguns aspectos e se distanciam em outros. Isso é próprio da cultura e das heranças deixadas pelos primeiros ocupantes dos locais onde elas se manifestam”, atesta. Ela também dá especial atenção ao aspecto sagrado dessas manifestações. “É sagrado, não é santo. Em geral, essas danças têm origens pagãs e seus movimentos seguem o traçado das estrelas e também os sinais geométricos dos corpos das deusas da Antiguidade”, observa. Indo mais além em sua análise, a professora compreende que a própria disposição dos integrantes, a forma como se movimentam e mantêm o ritmo, também formam um corpo simbólico no espaço dançado.

Pioneira no Câmpus Eseffego, a professora Cristina de Freitas Bonetti é mestre e doutora em Ciências da Religião e pós-doutoranda em História. Em 2016, a professora completa 40 anos de docência. Para celebrar a data serão lançados em abril, no mês de aniversário da UEG, dois livros de sua autoria. Conheça as obras da pesquisadora: Cultura popular: cantar, dançar e contar histórias com os pés – A professora apresenta aspectos teóricos sobre a cultura popular, bem como um conjunto das danças folclóricas de Goiás e de outros povos. (Editora Kelps, 2015) Contradança: ritual e festa de um povo – A Festa do Divino, que acontece em Pirenópolis e Santa Cruz de Goiás, é o ponto de partida para a autora traçar uma análise sobre os aspectos socioculturais das duas cidades. (Editora Kelps, 2015, 2a. edição)

“AS DANÇAS POSSUEM ASPECTOS RITUALÍSTICOS E CONTAM HISTÓRIAS. ELAS SÃO PONTO DE RESISTÊNCIA EM UM MUNDO CADA VEZ MAIS CAÓTICO DE INFORMAÇÕES” Cristina de Freitas Bonetti, professora dos câmpus Eseffego e Pirenópolis

Memória e resistência A preservação dessas manifestações se torna cada vez mais urgente. “A cultura popular é de tradição oral. A documentação dessa cultura desempenha um papel importante para que ela não se perca”, opina. Acostumada a viver essas experiências de forma intensa, a professora percebe e sente a diferença entre grupos que guardam a tradição e aqueles espetacularizados. “Eu viajo o mundo fazendo imersões para minhas pesquisas. O envolvimento, o comprometimento dos grupos com suas culturas são traços importantes. Seja no interior de Goiás ou em uma ilha grega, o comprometimento é o mesmo. As danças possuem aspectos ritualísticos e contam histórias daquele lugar. Elas são ponto de resistência em um mundo cada vez mais caótico de informações”, pondera. Nesse sentido, a pesquisadora ressalta que quando tomadas apenas por espetáculos ou entretenimento, essas danças não geram a mesma conexão afetiva com seus públicos. “Eu já tive a oportunidade de no mesmo local observar essas duas faces. A percepção é outra. Um grupo que se preocupa apenas com o espetáculo não arrebata. Por outro lado, aqueles que mantêm a tradição, muitas vezes com menos recursos pirotécnicos e evoluções grandiosas, oferecem uma experiência sensorial incrível”, conclui. E assim, entre ritmos diversos, a professora Cristina Bonetti vai juntando peças do passado e construindo histórias, inclusive a sua. “Compreender o passado é importante para se situar no presente e projetar o futuro”, afirma.


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UEG EM CONTEXTO

Anápolis, abril-maio de 2016

Básico e superior: ensinos de mãos dadas Escola Niedja de Souza Machado | Fotos: João Henrique Pacheco

Em uma escola municipal de Campos Belos, tem-se um exemplo vivo de como a interiorização do ensino superior reconfigura a educação básica local Por Alisson Caetano

“Campos Belos funciona como uma grande metrópole em um extenso recorte de sertão do Nordeste Goiano”, explica o diretor do Câmpus Campos Belos da Universidade Estadual de Goiás (UEG), professor Adelino Machado. E é nesse recorte do Estado que a UEG oferece os cursos de Pedagogia, Letras e Tecnologia em Agronegócio, além de uma especialização. Campos Belos é a segunda maior cidade do Nordeste Goiano e atrai migrantes de municípios vizinhos, incluindo cidades do Tocantins e da Bahia, pelos serviços que oferece. A educação, por sua vez, merece destaque. A criação da UEG, em 1999, levou as Licenciaturas Plenas Parceladas (LPPs) a todo o Estado, garantindo formação superior aos professores da educação básica. Desde então, o diálogo da UEG com escolas estaduais e municipais tem ganhado protagonismo na história da Instituição. No caso do Câmpus Campos Belos, essa ligação com as escolas locais se fortaleceu com a consolidação dos cursos de Pedagogia e Letras. Cenários como a Escola Municipal Niedja de Souza Machado, onde mais de 50% do corpo de professores é composto por egressos da UEG, tornaram-se cada vez mais comuns. A cada ano o Câmpus Campos Belos entrega à região cerca de 70 professores formados. A professora Eleny Damasceno Rocha está na direção da Escola há dois anos e vê no dia a dia da educação básica local a influência da Universidade. “Trabalho há nove anos nesta escola e

há dois assumi a gestão. Posso dizer que quando a UEG chegou a Campos Belos os professores que não tinham graduação foram pra Universidade, o que melhorou a qualidade da educação em quase 100%”, comenta Eleny. A diretora Eleny vive em seu ambiente de trabalho a percepção dessa qualidade. A escola que dirige é referência na região e tem ganhado cada vez mais destaque no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Com nota 6,6 no último levantamento, publicado em 2013, a Escola Municipal Niedja de Souza Machado possui o maior desempenho no Ideb de Campos Belos. E é com exemplos como o dessa escola que o diretor do Câmpus Campos Belos ilustra a importância da UEG na transformação social das cidades mais afastadas da região metropolitana. “Essa alta presença das licenciaturas no interior é um processo de libertação. Na região Nordeste, a UEG forma 90% dos professores que chegam às escolas e atuam num raio de 200 km”, conta professor Adelino.

Compromisso aproximado Os corredores e o pátio tomados pelas cores das produções artísticas dos alunos da Escola Municipal Niedja de Souza Machado unem salas de aula que acolhem pequenos cidadãos do 1º ao 5º ano escolar. Pelos mesmos corredores, Dinaílde Silva Araújo experimenta a função de coordenadora pedagógica. Dinaílde pegou o diploma de Pedagogia em 2006 no Câmpus Campos Belos. A coordenadora pedagógica da escola é um desses exemplos de que a UEG é um polo de atração. Nascida em Dianópolis, Tocantins, onde já era professora, ela buscou ampliar sua atuação profissional com a bagagem acadêmica oferecida pela Instituição. “O ensino precisa desse embasamento teórico da universidade. E mesmo estando na coordenação pedagógica, eu não fico fora das salas, porque o acompanhamento aproximado das professoras também faz parte do meu trabalho”, comentou Dinaílde. A todo momento a expressão “acompanhamento aproximado” surgia nas vozes de todas as profissionais da Escola Municipal Niedja de Souza Machado. Segundo as professoras, a diretora Eleny vai às casas das crianças que não vão às aulas para checar os motivos que deixaram algumas carteiras vazias. “A qualidade do nosso ensino é um resultado desse compromisso”, ressalta a diretora.

Diretor do Câmpus Campos Belos, professor Adelino Machado, reencontra egressas da UEG que atuam em escola de destaque da região

sua formação, da básica à superior, ocorreu em Campos Belos. “Fui alfabetizada nesta cidade e hoje estou aqui contribuindo para a educação regional”, conta Iara, que se formou em Pedagogia na UEG.

Esse compromisso aparece, muitas vezes, com a força do elo que as próprias histórias de vida das professoras têm com a educação local. Iara Marques da Silva, por exemplo, nasceu em Monte Alegre de Goiás, mas toda

Laços contínuos O desenvolvimento do ensino básico da região Nordeste se entrelaça à história do Câmpus Campos Belos. “É possível identificar que a maioria das escolas é dirigida ou coordenada por egressos da UEG. Outro elo entre UEG e escolas é o estágio. Temos graduandos em quase todas as escolas. Também temos o Pibid, que é outra ferramenta importante de integração”, explica o diretor do Câmpus, professor Adelino. Esses laços ganham força também na formação continuada com a Pós-Graduação Lato Sensu em Linguagem, Letramento e Cibercultura na Educação Básica, oferecida no Câmpus. Atualmente, 40 professores compõem a turma da especialização. “Hoje nós podemos contar a história de um estudante pra quem dei aula no ensino básico e agora o encontro no ambiente universitário. Dois professores da especialização são mestres em Educação pela UEG e graduados nesta Universidade. São laços contínuos difíceis de serem encontrados em outra Instituição”, destaca Adelino.

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UNIVERSIDADE

EM MOSAICO

jornal UEG

UEG 17 Anos

Anápolis, abril-maio de 2016

Ponto de partida UEG para novos destinos Aos 17 anos, a UEG se fortalece como espaço de acolhida para os que buscam crescer. Das vidas aqui transformadas, micro-histórias pessoais projetam a trajetória da Universidade Por Bárbara Zaiden Como ferramenta de transformação, a educação é um dos principais veículos de crescimento intelectual e pessoal. Por meio dela é possível se inscrever no mundo, se descobrir e apontar o destino a que se quer chegar. Ao completar 17 anos, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) celebra uma extensa coletânea de histórias que partem do particular e inscrevem a Universidade no desenvolvimento social e tecnológico de Goiás. Aqui, pessoas migram da vontade de crescer ao efetivo exercício do seu potencial. Desde que se tornou uma nova casa para a educação superior em Goiás, em 1999, o ensino público e gratuito da UEG redirecionou o futuro de quase 90 mil cidadãos e cidadãs por meio dos cursos de graduação e tecnológicos. Desse universo de egressos, Nayara, Hamilton e Arsénio são exemplos dos rostos, das vozes e das trajetórias de quem passou por aqui e cresceu junto com a Universidade. Personagens que você, leitor, conhecerá nestas páginas. Deles emanam histórias que se repetem por todo mapa de Goiás e que reforçam a relevância do jovem projeto de universalização e interiorização do ensino superior que é a UEG.

COSTURANDO POR AFETO Dos pais comerciantes, Nayara Ferreira dos Santos herdou a capacidade para os negócios. Das mulheres da família, as habilidades manuais para as criações. A esses aprendizados, somou o brilho que emanava dos olhos ao ver tecidos serem transformados em roupas. Foi assim que Nayara começou a produzir peças de vestuário. O espaço para a profissionalização ela encontrou no Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda do Câmpus Trindade da UEG.

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Essa mistura de influências resultou em Naya Violeta, marca que hoje é conhecida e respeitada no cenário da moda goiana. “Eu já tinha uma vocação para lidar com roupas e quis fazer o curso de moda para ter embasamento teórico nas minhas criações. Eu queria ter um certo primor acadêmico”, explica a empreendedora de 26 anos.

Foto: Bárbara Zaiden

Naya Violeta é uma marca para o público feminino e que preza pelo vínculo afetivo. Nayara explica que essa vertente da moda tem a preocupação de entender os clientes por quem eles são e fazer com que se sintam coautores das peças.

Cores históricas e sociais O ateliê de Nayara retrata o afeto do processo de produção da marca Naya Violeta. No Setor Leste Universitário, em Goiânia, ela criou um espaço aconchegante onde recebe as clientes sem pressa, ouvindo suas necessidades e traduzindo seus desejos em detalhes que levam à sensação do prazer em vestir. Ao criar as coleções, inevitavelmente Nayara deposita nelas uma carga histórica e social que a acompanha. Ela explica que essas influências também caracterizam a marca e, por isso, os contornos da cultura afro ganham representatividade em suas peças. “A UEG foi importante para o meu aprimoramento, para eu saber o que seria a Naya Violeta. A Universidade deu um formato de persistência e profissionalismo para a minha marca”, revela Nayara, que encontrou na UEG o espaço para a experimentação estética e para o estudo de mercado, abrindo portas para a consolidação da sua marca no mercado goiano.


jornal UEG Anápolis, abril-maio de 2016

Foto: Stephani Echalar

NOS TRAÇOS DA PESQUISA Hamilton Matos deixou a cidade natal, Santa Teresinha de Goiás, para buscar um ensino médio de qualidade em Anápolis. Aos 17 anos de idade foi aprovado em vestibulares de duas instituições públicas de ensino superior do Estado e optou pelo curso de Geografia no Câmpus Henrique Santillo da UEG, principalmente porque não precisaria mudar de cidade novamente. Durante a graduação, Hamilton foi bolsista em duas categorias: no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e no Programa Voluntário de Iniciação Científica (Pivic). Desses primeiros contatos com a pesquisa, ganhou força a vontade de continuar os estudos sobre geografia territorial. E novamente, na UEG, Hamilton encontrou o que buscava no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado (Teccer). “O corpo docente da UEG é muito bem qualificado. A graduação foi uma base muito importante para eu conseguir passar no mestrado e continuar a carreira acadêmica”, afirma.

Ciclo interdisciplinar Hamilton explica que na UEG encontrou um ensino superior mais abrangente do que esperava. “O curso de Geografia vai muito além da Licenciatura. Aqui, nós realmente fazemos pesquisas científicas”, afirma o mestrando. Atualmente, nas pesquisas do mestrado, Hamilton analisa as mudanças socioespaciais e econômicas causadas pelos projetos de mineração na região do Vale do Rio Crixás. “Para compreender a mineração é preciso entender o contexto histórico e o contexto econômico para além da análise geográfica. Essa interdisciplinaridade do mestrado ajuda a ter uma visão mais ampla do objeto de estudo”, explica. Hamilton é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e integrante de um projeto de extensão ligado às iniciativas do Ministério do Desenvolvimento Agrário que oferecem apoio aos agricultores familiares da região Sudeste de Goiás. O jovem de 22 anos quer ser professor. A intenção de Hamilton é continuar na UEG em sua próxima etapa de formação, no Doutorado em Recursos Naturais do Cerrado (Renac). Dos primeiros passos da vivência acadêmica às pós-graduações, Hamilton nunca mais precisou buscar em outro lugar o ensino que desejava.

Foto: João Henrique Pacheco

CRESCER E IR ALÉM Da província de Zaire, mais precisamente da capital Soyo, em Angola, Arsénio Sanda partiu rumo ao Brasil em 2010. O Programa de Estudantes - Convênio de Graduação (Pec-G) do Governo Federal trouxe o jovem angolano ao curso de Administração do Câmpus Caldas Novas da UEG. Enquanto estudava na UEG, Arsénio recebia auxílios que garantiram sua estadia no Brasil. A dedicação aos estudos foi o seu diferencial. Devido às boas médias, foi bolsista de excelência pelo programa, além de conquistar bolsas de estudos do governo angolano e da própria Universidade. O Pec-G é um programa que oferece formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Após finalizar a graduação, os intercambistas devem retornar aos países de origem e contribuir para o crescimento socioeconômico nacional. E assim Arsénio o fez. Concluiu o curso na UEG, voltou à Angola e assumiu as salas de aula da mesma escola onde fez um curso tecnológico também na área de administração. “É missão cumprida. Para mim, eu estava devolvendo, agradecendo. Não é todo mundo que tem a oportunidade de concorrer a essa bolsa que eu recebi. Eu assumi o compromisso de estudar e depois eu dei um retorno desse estudo ao meu país”, conta.

Novos roteiros A inércia não atrai Arsénio. Ele gosta de estar em movimento. Após contribuir com a educação de seu país, o sonho de fazer uma pós-graduação o trouxe de volta às terras brasileiras. Hoje, aos 30 anos, ele faz uma especialização em gerenciamento de projetos, em Goiânia, além de proferir palestras e oferecer assessoria administrativa. Ao ser acolhido pela UEG e pelo mercado de trabalho brasileiro, a relação de Arsénio com o Brasil gerou frutos maiores do que a profissionalização. Com um filho de seis meses e de nacionalidade brasileira, ele vê aqui o futuro em várias esferas. Mas como se movimentar faz parte de sua história, antes de se estabelecer em Goiás para acompanhar o crescimento de seu filho, Arsénio projeta um próximo destino, Portugal, onde foi aprovado em três programas de mestrado.

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OPINIÃO

Anápolis, abril-maio de 2016

Aconteceu na Universidade...

Agradeço pela honra de fazer parte da história desta Universidade, que hoje representa a construção realizada por um punhado de valentes pedreiros que nela trabalharam e trabalham, construindo palmo a palmo, metro a metro a sua caminhada. Sei que empilhar tijolos, embutir janelas e aprumar paredes, tudo isso tem lá seus riscos. E os pedreiros, apoiados pelos andaimes, são uns valentes que cumprem o seu serviço. Penso em mim mesma. E sinto-me com jeito de andaime. Um andaime que cumpre o seu papel. Como andaime não fui essencial, mas ajudei. E é muito gratificante ter sido andaime. 1991. Quando um convite feito pelo saudoso professor Hermínio Ramos me sacudiu as estruturas: trabalhar na Faculdade de Ciências Econômicas de Anápolis (Facea). Revisei meu presente, meu passado e as razões daquele convite. Terminei na Facea, diante de uma nova realidade que começava com o trajeto diário de Goiânia ou Anápolis até o Ministério da Educação. Fui trabalhar na gestão com o objetivo de elaborar projetos, fazer o planejamento anual, buscar recursos externos e auxiliar a equipe que acompanhava o processo de

transformação da Faculdade em Universidade. Um trabalho que se consolidou em 1994, quando o Governo Federal assinou o decreto de autorização da Universidade Estadual de Anápolis (Uniana).

Foto: Arquivo UEG

No mês em que a UEG completa 17 anos, professora Brandina Fátima Andrade relata a consolidação da Universidade em meio ao seu crescimento profissional

Nomeada coordenadora de Planejamento e Projetos, permaneci nesta função até a transformação da Uniana em Universidade Estadual de Goiás, em 1999. Na UEG, segui com a mesma função, tendo exercido também a chefia do Gabinete da Reitoria por um período de nove meses. Em 2003, a UEG passa a ter sua vida acadêmica jurisdicionada ao Conselho Estadual de Educação, terminando a rotina de viagens a Brasília. Entre 2004 e 2007, por questões de saúde, meu trabalho se limitou à sala de aula. Em 2008, volto à gestão, já na Pró-Reitoria de Graduação. Fui assessora, coordenadora de Ensino, gerente de Ensino e, atualmente, sou coordenadora acadêmica, além de compor, desde 2010, o Conselho Acadêmico da Universidade e acumular, a partir de março de 2015, a função de procuradora institucional. Nesses 24 anos, estive presente em muitas comissões para as mais diversas atividades. Orgulho-me do resultado de todas elas. Vi a Universidade crescer e se organizar. Encerro, pedindo emprestado a Rabindranath Tagore parte de um dos seus poemas que eu rezo com respeito e veneração: “Senhor, quando eu deixar o leme, será o momento de o tomares em tuas mãos. E acontecerá, ao natural, o que tiver de ser feito. E quando quiseres, Senhor, aproxima-te sem ruído e toma teu lugar”. Na Universidade eu sou feliz e agradeço a Deus por tudo. Sempre há um momento e o meu está acontecendo aqui.

Prof.ª Brandina Fátima M. de Castro Andrade

Coordenadora acadêmica da Pró-Reitoria de Graduação

DOUTORADO 8

Recursos Naturias do Cerrado (Renac) Câmpus Henrique Santillo, Anápolis

MESTRADOS Ciências Moleculares Câmpus Henrique Santillo, Anápolis Engenharia Agrícola Câmpus Henrique Santillo, Anápolis Produção Vegetal Câmpus Ipameri

Assim como as graduações, nossas pós-graduações Stricto Sensu também estão em todo o Estado.

Educação, Linguagens e Tecnologias (Mielt) Câmpus de Ciências Socioeconômicas e Humanas, Anápolis Recursos Naturias do Cerrado (Renac) Câmpus Henrique Santillo, Anápolis

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Anápolis, abril-maio de 2016

Autismo pela quebra de barreiras A falta de profissionais qualificados e o despreparo das escolas para lidar com crianças autistas demonstram a importância do mês que marca a conscientização sobre a Síndrome

A necessidade de seguir rotinas é outra forte característica. Apesar de não se comunicar verbalmente, Nicole é capaz de produzir sons que demonstram seu descontentamento, por exemplo, quando a mãe muda a rota para casa. Ricardo, por sua vez, expressa-se por meio de movimentos repetitivos com as mãos: com isso, ele quer dizer que precisa de explicações.

Por Bárbara Zaiden

O caminho da inclusão

O Dia Mundial de Conscientização do Autismo foi proclamado em 2009 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e é comemorado em 2 de abril. Neste mês, o Jornal UEG traz os personagens Nicole e Ricardo, cujas histórias retratam o quanto o processo de conscientização sobre o Autismo ainda precisa caminhar. Os nascimentos de Nicole Boarin, em 1995, e Ricardo Santos Martins, em 1980, mudaram as vidas de seus pais e irmãos. As duas famílias goianas compartilham entre si uma caminhada de aprendizado sobre o Autismo. Ricardo é egresso do curso de História do Câmpus Quirinópolis da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e há alguns meses concluiu a especialização em Educação para as Ciências e Humanidades, no mesmo câmpus. A mãe de Nicole, Rita Maura Boarin, é servidora técnico-administrativa da Instituição há 16 anos na Administração Central, em Anápolis. Na convivência diária, Nicole e Ricardo ensinaram muito aos pais e irmãos sobre a importância de respeitar as necessidades do outro. Com atenção e sensibilidade foi possível superar o despreparo dos profissionais da educação e a falta de acesso a profissionais da saúde que, de fato, entendam sobre a Síndrome.

O que é? O termo médico utilizado para se referir ao Autismo é Transtorno de Espectro Autista (TEA). A palavra espectro diz respeito à existência de características muito diferentes umas das outras, com graus mais leves e mais graves, assim como são os casos de Ricardo e Nicole, respectivamente. Em geral, o Transtorno aparece nos três primeiros anos de vida das crianças, fase em que os neurônios que coordenam a comunicação e os relacionamentos sociais deixam de formar as conexões necessárias. Muitas vezes, o autista é uma pessoa com intenso interesse em um assunto particular. Ricardo, por exemplo, realiza diversas pesquisas sobre a Ditadura Militar do Brasil e a Revolução Russa – tema do artigo de sua especialização.

Há apenas 20 anos a justiça brasileira regulamentou o dever de oferecer, nas escolas, orientação especializada durante a educação infantil. Professora Ângela Meire Borges, que acompanhou Ricardo na pós-graduação da UEG, explica que prezou pela cautela em suas interferências no processo de ensino-aprendizagem. “É preciso que o professor entenda sobre a Síndrome ou a doença do aluno para saber lidar. É necessário que seja feita uma inclusão não excludente”, afirma Ângela ao comentar que as escolas ainda falham quando seus profissionais não elaboram atividades que contemplam o processo de ensino-aprendizagem dos alunos autistas. Ao longo do curso de especialização, Ricardo apresentou maior dificuldade em relação à leitura, como consequência dos sérios problemas de visão, incluindo a hipersensibilidade à luz. A professora Ângela, sensível às necessidades do aluno, passou a fazer adaptações nos textos para Ricardo, aumentando o tamanho das letras. Na UEG, a Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis abriga o Núcleo de Acessibilidade Aprender Sem Limites (Naaslu). O Núcleo promove a inclusão de estudantes com deficiências e síndromes, além de orientar professores acompanhantes. Em 2015, 112 estudantes receberam acompanhamento e 27 profissionais de apoio foram contratados. Rita Maura também aponta que o despreparo dos profissionais é gritante e não existe a compreensão de que as pessoas com Autismo são capazes de aprender. “Nós ainda temos que lutar para que o autista não seja encarado como um papel branco na sala de aula”, explica.

Aproximar para aprender À época do nascimento de Ricardo, poucos profissionais tinham conhecimento sobre o TEA. Ainda assim, a família de Ricardo lidou com a situação de forma muito natural, tendo a religião como apoio. Já a família Boarin teve a possibilidade de conhecer diversos profissionais e opiniões sobre o Autismo. Devido às dificuldades de encontrar centros especializaFoto do topo: Rita Boarin, servidora da UEG, e sua filha Nicole. Foto ao lado: Ricardo Martins, egresso da UEG

dos no tratamento do Transtorno, a servidora da UEG, em parceria com profissionais da área da saúde e outros pais, criou a Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Anápolis (Aspaa).

Fotos: Stephani Echalar

Ricardo lembra dos episódios difíceis durante os tempos de escola. “As escolas não queriam aceitar um aluno excepcional porque achavam que eu ia dar trabalho para eles. Na época, nós não tínhamos noção do processo de inclusão, por isso nós não fomos buscar nossos direitos, nós só aceitamos a situação”, explica Ricardo, que tem poucas dificuldades de socialização e adora ir a eventos na cidade. Diante da constante presença dos olhares de reprovação e do preconceito, Rita lamenta a perpetuação dessas barreiras. Alguns pais e professores ainda distanciam as crianças do contato com autistas. Ela explica que, no convívio com Nicole, os amigos da filha aprendem muito sobre o respeito às diferenças. “É uma pena que esses pais e profissionais percam a oportunidade de conhecer o diferente, de aprender e também de deixar que essas crianças cresçam a partir do contato com o Autismo”.

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Anápolis, abril-maio de 2016

Literatura é

instrumento de ensino Coisa de criança é mais do que criar um universo que atraia os pequenos, é trazer para a sala de aula temas delicados como preconceito e diversidade Por Stephani Echalar Já faz mais de 150 anos que Alice foi ao País das Maravilhas, mas a narrativa das suas aventuras fantásticas continua nas prateleiras das livrarias e nas mãos de crianças e adultos. Isso porque livros são como passagens para uma viagem. A cada folha virada entre os dedos, os leitores são levados para terras distantes. País das Maravilhas, Nárnia e a Terra do Nunca são paradas clássicas no mapa da literatura infantil mundial. Mas por aqui também temos o Sítio do Picapau Amarelo, da obra de Monteiro Lobato, ou a sala de aula de uma professora Maluquinha, personagem criada por Ziraldo. De relance esses universos podem parecer apenas histórias simples para distrair os pequenos, mas a literatura infantil vai bem mais longe. Em meio às letras e às ilustrações aparecem temas com maior profundidade. Medo, saudade, luto. Até mesmo matemática e geografia. As obras de Monteiro Lobato são um retrato dessa riqueza das publicações voltadas às crianças, por isso, em 18 de abril, na data do aniversário do autor, é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. Fabiana Pessoni é professora do curso de Pedagogia do Câmpus Inhumas da Universidade Estadual de Goiás

(UEG) e, entre outras disciplinas, ministra Literatura Infantil. “A principal função da disciplina é mostrar que a literatura infantil é um instrumento pedagógico do professor no desenvolvimento cognitivo da criança”, explica a professora. “A literatura infantil aborda diversos temas, pode contribuir tanto para a aprendizagem da língua portuguesa quanto das demais matérias”, conta Fabiana, destacando que os livros infantis podem complementar a formação das crianças. “Não existem muitos livros didáticos com a cultura negra, por exemplo. Mas os livros literários podem trabalhar isso”.

“OS LIVROS INFANTIS INCENTIVAM O HÁBITO DA LEITURA, EXPANDEM INTERESSES DOS ALUNOS, TRABALHAM QUESTÕES SOCIOCULTURAIS E AUXILIAM NO APRENDIZADO

Enxergar novos significados Os livros literários voltados ao público infantil conseguem tangenciar questões mais complicadas dentro dos seus mundos, como preconceito racial e, mais recentemente, têm abordado temas como diversidade e questões de gênero. “São temas delicados. As crianças muitas vezes são ensinadas a serem machistas e preconceituosas em diversos ambientes e a leitura em sala de aula pode ajudar o professor a expandir essas visões e modelos”, aponta Fabiana Pessoni. Vem daí a presença da disciplina Literatura Infantil na formação de futuros pedagogos. “Eu tento formar um pro-

Fabiana Pessoni, professora do Câmpus Inhumas

fissional que dê o valor necessário à literatura infantil. Os livros infantis incentivam o hábito da leitura, expandem interesses dos alunos, trabalham questões socioculturais e auxiliam no aprendizado”, comenta a professora do Câmpus Inhumas. A neuropsicopedagoga Andressa Pereira também ministra a disciplina de Literatura Infantil no Câmpus Crixás. Para ela, as práticas da disciplina buscam fazer o estudantes “atuar como ‘contadores de histórias’ – incentivadores do gosto pela leitura, formadores de leitores, formadores de produtores de texto e pesquisadores na área de leitura”. Mas não é só na sala de aula que as crianças devem ser incentivadas a ler. Pais e mães também podem levar o hábito para casa. “O hábito ajuda a criança a compreender seus sentimentos, encontrando nos contos significado para pensamentos que antes poderiam ser vistos como vagos, mas que são um turbilhão de ideias em busca de significado”, comenta Andressa.

10 As professoras Andressa Pereira e Fabiana Pessoni dão dicas de livros infantis que se encaixam perfeitamente na sala de aula. Confira: O reizinho mandão (Ruth Rocha): A história ajuda as crianças a refletirem sobre as relações interpessoais, a ganância e o egoísmo.

Menina bonita do laço de fita (Ana Maria Machado): Uma boa leitura para trabalhar representatividade negra, diversidade e racismo.

A turma dos números (Aurélio de Oliveira): O livro apresenta os números como personagens, criando maior aproximação com o universo da matemática.

Chapeuzinho Amarelo (Chico Buarque): A obra infantil do compositor de MPB trata do medo. O livro pode ser trabalhado sob o olhar da autoconfiança e as formas de superar limitações.


jornal UEG Anápolis, abril-maio de 2016

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Errata: • O egresso Douglas Rodrigues (@admdouglasrodrigues) é do Câmpus Sanclerlândia e não de Anápolis. • O estudante da primeira foto da segunda coluna é o @carlosrochalopes e não @admdouglasrodrigues.


jornal UEG

UEG EM

FOCO

Anápolis, abril-maio de 2016

Por Alisson Caetano

Capacitação e fluência em língua inglesa Foto: Adilson Rocha

O Câmpus Pirenópolis recebeu, de 14 a 18 de março, o curso de Imersão em Língua Inglesa voltado a docentes que trabalham com o Inglês ou que desenvolvem projetos de pesquisa e pós-graduação relacionados ao idioma. O curso é fruto de uma parceria internacional da UEG, por meio da Coordenadoria Geral de Relações Internacionais (CGRI), com a EducationUSA, a Partners of the Americas e a University of Wyoming. Ao todo, 40 professores da UEG participaram da programação, que contou com workshops, grupos de trabalho e aulas de campos – incluindo trilhas por cachoeiras e visitas aos espaços históricos de Pirenópolis. Para o trabalho de imersão, 13 professores estadunidenses estimularam a fluência dos participantes com atividades pautadas pelo diálogo em contextos de descontração. A CGRI já articula organizar um segundo módulo do curso. “Ações estratégicas [como a Imersão] contam pontos para a internacionalização da UEG, atraindo para o Estado ações de pesquisa e extensão”, relata o coordenador-geral de Relações Internacionais da UEG, Hebert Melo.

Foto: Alisson Caetano

Empreender grandes vendas O Programa de Incubadoras da UEG (Proin.UEG) trouxe ao prédio da Reitoria, em Anápolis, o workshop Acerte em cheio - Soluções precisas para vendas complexas. O encontro aconteceu no auditório do Bloco IV, no dia 16 de março. O workshop foi fruto de uma parceria entre o Proin.UEG e a consultoria Exact Sales. A Exact é uma empresa da incubadora Celta, de Florianópolis, e a palestra foi ministrada pelo CEO da Exact, Théo Orosco. A atividade foi direcionada a empresários de Anápolis e região e contou com a participação dos empreendedores incubados do Proin.UEG e de outras incubadoras do Estado. “A palestra foi voltada às empresas que já desenvolveram seus produtos e serviços e agora precisam introduzir isso no mercado. A vinda da Exact, altamente gabaritada no marketing digital, é um ótimo norte de experiência em vendas para os nossos empreendimentos incubados”, explicou Bruno Alencar, coordenador do Proin.UEG.

Consciência ambiental Foto: Alisson Caetano

A reunião do 95º Conselho Universitário da UEG, realizada no dia 16 de março, sediou a entrega das sete cadeiras de rodas que resultaram da campanha Tampa Mania. Ao fim de 2015, a campanha contabilizou o recolhimento de 2,6 toneladas de tampas plásticas e de 4,1 toneladas de tampas metálicas. Servidores da Reitoria, do Centro de Aprendizagem em Rede (Cear) e de 30 câmpus da Instituição se mobilizaram em nome da Tampa Mania. As cadeiras foram direcionadas à comunidade acadêmica dos Câmpus Itumbiara, Silvânia, Senador Canedo, Inhumas, Caldas Novas e Morrinhos e uma à Administração Central, líderes do ranking na arrecadação das tampas plásticas. A cadeira de rodas da Administração Central foi destinada à Unidade Oncológica de Anápolis.

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Cidadania em perspectiva histórica

Seminário itinerante

O coordenador do curso de História do Câmpus Morrinhos, professor Júlio Cesar Meira, publicou em novembro de 2015 o livro ONGs, reforma do Estado e movimentos sociais: nova cidadania?. A obra é uma versão da dissertação desenvolvida pelo professor durante o Mestrado em História Social, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O autor explica que o tema foi uma confluência entre uma nova configuração de cidadania e as gestões de serviços públicos que foram debatidas em Goiás ao longo de 2015. “Com as Organizações Não Governamentais surge uma cidadania baseada na prestação de serviço e não na universalização dos direitos”, explica o autor. Júlio Cesar agora cursa Doutorado em História, na UFU. O livro foi publicado pela editora Novas Edições Acadêmicas e pode ser encontrado nas versões física e digital no site www.nea-edicoes.com.

As populações que vivem no Vale do Rio Araguaia e suas relações culturais, sociais e ambientais com os rios da região serão os objetos de pesquisa do V Seminário Itinerante Franco-Brasileiro, com o tema Cidades e Rios na História: Rio Araguaia. A comitiva que trilhará a programação do seminário sai de Goiânia, no dia 16 de maio, e encerra a viagem em Corumbá, no dia 21 do mesmo mês. As inscrições para ouvintes poderão ser realizadas até a data de saída da comitiva, que passará por seis cidades. A organização do evento une a UEG Câmpus Uruaçu, por meio do Laboratório de História e Estudos Multidisciplinares de Ambientes (Lhema), a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Université de La Rochelle, da França. O Seminário Itinerante ocorrerá juntamente com o II Seminário Nacional de História Social e Ambiental e com a XII Semana de História do Câmpus Uruaçu.


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