Antologia xx concurso literario 2012

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FICHA TÉCNICA

COMISSÃO JULGADORA: Antonio “Nino” Barbin Clineida Andrade Junqueira Jacomini Donizete Tavares Moraes Oliveira Gilda Magalhães Nardoto Lauro Augusto Bittencourt Borges Lucila Martarelo Astholfo Luís Antonio Spada Maria Cândida de Oliveira Costa Maria Cecília Azevedo Malheiro Maria Célia de Campos Marcondes Maria José Gargantini Moreira Ronaldo Frigini Sílvia Tereza Ferrante Marcos De Lima Sonia Maria Quintaneiro Vedionil do Império DIAGRAMAÇÃO e CAPA: Neusa Maria Soares de Menezes REVISÃO GRAMATICAL: Antônio “Nino” Barbin INSCRIÇÕES VIA INTERNET: Neusa Maria Soares de Menezes COORDENAÇÃO GERAL: Ana Lúcia Sguassábia Silveira Finazzi PRESIDENTE:

Francisco de Assis Carvalho Arten

www.alsjbv.com.br academiadeletras@alsjbv.com.br - -


APRESENTAÇÃO

A Academia de Letras de São João da Boa Vista, que tem como meta a promoção da literatura nacional, vem através do Concurso Literário de Poesia e Prosa, em sua vigésima edição, dar aos escritores a oportunidade de lançar suas obras através das Antologias. Houve participação recorde de inscrições de todos os estados brasileiros e muitas inscrições de diversos países estrangeiros de língua portuguesa como Portugal e Angola. Assim como de brasileiros residentes em outros países, tais como: Japão, Suíça e Inglaterra, que se inscreveram através da internet. Num país que tem a fama de ler muito pouco, a participação de diversas escolas brasileiras do ensino fundamental e médio nos mostra que alunos bem estimulados, por professores interessados e dedicados, produzem excelentes textos e, com certeza, caminham a passos largos a tornarem-se grandes escritores e vorazes leitores. A edição deste ano tem como patrono o Acadêmico João Baptista Scannapieco. Nos anos anteriores, foram homenageados os acadêmicos: Palmyro Ferranti, em 2008, Ernani de Almeida Paiva, em 2009, Teófilo Ribeiro de Andrade Filho, em 2010 e Nege Além, em 2011. Um agradecimento especial à Coordenadora do concurso, Ana Lúcia Sguassábia Silveira Finazzi, pela eficiência, organização e disponibilidade com que vem conduzindo este evento nos últimos anos.

Francisco de Assis Carvalho Arten Presidente da ALSJBV - -


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PREFÁCIO

Conviver com a arte de escrever

O pensar é privilégio do ser humano. Do pensamento surge a palavra e ela mostra quem é o homem. Este só se perpetua pela escrita. Assim, povos e homens, apesar do tempo, continuam presentes pela escrita, que nos deixaram... Como saberíamos a história da Mesopotâmia não fosse a escrita cuneiforme no documento máximo: “O código de Hamurabi.” O que saberíamos do Egito dos faraós, se não fossem os hieróglifos do “Livro dos Mortos” e a pedra de Roseta? Através dos cinco rolos escritos do Pentateuco ou Torá dos hebreus, sabemos o que Deus falou ao seu povo, através dos profetas. A Grécia foi a pioneira a sistematizar a escrita: alfa mais beta deu o alfabeto. Por este meio, sabemos a História da Civilização Ocidental. O que pensava Aristóteles? Entre suas frases emblemáticas está escrito esta: “O verdadeiro discípulo é aquele que consegue superar o mestre”. Roma herdou a escrita dos gregos e surgiu o ramo latino da língua e da escrita, que chegou até nós. Dos pensadores romanos, os historiadores encontraram tábuas e tábuas com escritos, que, até hoje, são - -


citados como máximas de sabedoria. Ouçam esta: “Mel in ore, fel in corde” – traduzindo: “Mel na boca, fel no coração”. Com a escrita de Eginhardo, sabemos a História da origem da França. A Itália, culturalmente unida, só surgiu através de Dante Alighieri, com a sua magistral “Divina Comédia”. Esta língua usada e escrita se transformou em idioma oficial de toda península, que antes era separada por uma infinidade de “dialetos”. Chegando mais perto de nós, não podia faltar a citação de “Os Lusíadas” de Camões. Nestes textos, está a epopéia do povo português, ou melhor, lusitano! Com um salto no tempo e no espaço, e para não me alongar, chegamos à literatura brasileira. Quantos poetas, escritores, cronistas, críticos literários, que hoje são patronos de muitas Cadeiras desta Arcádia, são imortais pelos ricos textos que deixaram! Não há uma Academia de Letras, neste país, que não tenha Machado de Assis, entre seus patronos. Se pararmos para pensar, as grandes atitudes do homem foram tomadas e depois registradas na união do papel e da pena. Os tratados, os começos e os fins das guerras, as anotações mais preciosas, o começo dos grandes romances, o começo das grandes obras musicais, a sua vida, bem no começo nas certidões de nascimento, tudo bem debaixo de nossos olhos... Vamos voltar a cultivar a escrita, pois só assim existiremos como verdadeira civilização! Feliz o homem cuja escrita não morreu com ele! Estamos exaltando a escrita! Os participantes desta jornada literária, os vencedores e premiados, organizadores e esta Casa de Letras, todos recebem meus cumprimentos! - -


Ao encerrar este comentário, pensei muito para escolher termos exatos para agradecer a esta Arcádia o fato de atribuir meu nome como patrono, deste concurso literário. Li muito, pensei horas e horas, digitei e anulei e, com o coração sincero, digo que optei pela simplicidade, que é esta: muito obrigado pela honra a mim concedida! Termino, dizendo que, com este concurso, a Academia mudou a máxima do festejado filósofo Descartes: de “Penso, logo, existo-” para “Penso, logo, escrevo”! Vamos preservar a escrita! Um abraço a todos!

João Baptista Scannapieco

Patrono do XX Concurso Literário de Poesia e Prosa e Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista

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COORDENAÇÃO

O XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de

Letras de São João da Boa Vista, nesta edição de 2012, reuniu 459 obras, distribuídas entre as categorias prosa e poesia. Os trabalhos procedentes de 139 cidades de 24 estados brasileiros, 6 localidades de Portugal, uma do Japão e uma da Inglaterra, fizeram do evento o mais concorrido de todos já realizados por nossa Arcádia.

Integrando o calendário anual de atividades da Aca-

demia de Letras, tem como objetivos revelar poesias e trabalhos em prosa, inéditos; aprimorar o gosto pela arte literária; e incentivar novos talentos, além de tornar enaltecidos imortais da Academia de Letras de São João da Boa Vista, que dão nome aos prêmios dos primeiros colocados, em cada categoria literária do concurso, bem como o patrono de cada edição.

Atribuímos tudo isto à credibilidade já conquistada

nestes vinte anos do concurso, devida à lisura com que vem sendo organizado em todas as suas etapas.

O evento tem, também, estreitado laços com outros

países de língua portuguesa, bem como com brasileiros residentes fora do Brasil e que compartilham o gosto pela literatura, em suas várias expressões.

Esperamos que esta Antologia, reunindo os traba-

lhos premiados, seja não somente uma forma de premiação dos classificados, como também mais um incentivo à participação nas futuras edições.

Ana Lúcia S. S. Finazzi

Coordenadora - -


POESIA Prêmio Emílio Lansac Thôa

Infantil – até 12 anos 1º LUGAR – “O TEMPO” – Marina Macedo Romera – São João da Boa Vista- SP – Anglo Ensino Fundamental 2º LUGAR – “INFÂNCIA”- Lara Mauro de Araújo – São João da Boa Vista-SP- Anglo Ensino Fundamental 3º LUGAR- “O PENSAMENTO”- João Henrique Gião – São João da Boa Vista- SP- Anglo Ensino Fundamental Juvenil- 13 a 18 anos 1º LUGAR- “MUNDO DAS PALAVRAS”- Juliano da Silva Damas Júnior- São João da Boa Vista-SP- Colégio Experimental Integrado 2º LUGAR- “UM PAÍS HISTÓRICO CHAMADO BRASIL”- Matheus Lucas de Arruda Camara- Cantagalo-RJ 3º LUGAR- “MASOQUISMO”- Paula Cardella Amaral – São João da Boa Vista-SP- Anglo Ensino Fundamental Adulto – 19 a 59 anos 1º LUGAR- “VOCÊ VAI FICANDO EM MIM”- José Leite da Silva – Florianópolis-SC 2º LUGAR- “NEBLINA DA SERRA”- Rubens Luíz Sartori- Campo Mourão-PR 3º LUGAR- “A POESIA DOS TEMPOS” – Marcelo Augusto Araújo de Oliveira- São Paulo-SP Prêmio Especial Octávio Pereira Leite Maiores de 60 Anos 1º LUGAR- “POR QUEM OS SINOS DOBRAM”- Luzia Terezinha de Brito Vacari- Campinas-SP 2º LUGAR – “ARTE HUMANA, ARTE DIVINA”- Edileuza Bezerra de Lima Longo- São Paulo-SP 3º LUGAR-“PALCOS DA VIDA”- Nilton Silveira- Porto Alegre-RS - 10 -


POESIA

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1º Lugar Poesia Infantil

O Tempo

Todo dia é único Em todos, vivo como se fossem os últimos Pois sei que o tempo não voltará para ser revivido.

Voltarei no tempo Apenas em pensamento Em minhas memórias.

Memórias que, como tudo, se vão E a única lembrança que me resta É você, sempre em meu pensamento.

Você é a lembrança do passado A presença na memória É um pouco de mim.

Mas tudo passa E transforma-se em memórias Que novamente partirão...

Marina Macedo Romera São João da Boa Vista- SP

Anglo Ensino Fundamental Profa. Alessandra Perucchetti Macedo Romera - 12 -


2º Lugar Poesia Infantil

Infância Como é bom ser criança E aproveitar a infância... Correndo no pega-pega, Quase que a Júlia escorrega. Brincando de amarelinha, A desastrada da Ana Perdeu a pedrinha. No “stop” de papel, O final foi cruel! Não sabia o país E perdi para Thaís. Quando o assunto é queimada, Lívia não fica parada. Uma bolada na Isadora, Que agora está fora! Na hora do esconde-esconde Preciso achar Iasmin, Mas não sei onde E o jogo não chega ao fim. Combino durante a aula, Com Beatriz e Maria Paula De chamarmos a Giovana Pra ganharmos a gincana! “Stop” de bola, Verdade ou desafio, Vivo ou morto, Pique bandeira, Jogos virtuais, São brincadeiras legais! Como é bom ser criança E aproveitar a infância...

Lara Mauro de Araújo

São João da Boa Vista-SP Anglo Ensino Fundamental Profa. Alessandra Perucchetti Macedo Romera - 13 -


3º Lugar Poesia Infantil

O Pensamento O pensamento nos traz Respostas para os Problemas mais casuais Como achar a inspiração Para escrever um poema, Uma poesia ou refrão

Sem o pensamento Não teríamos sociedade Seríamos homens da caverna Sem inteligência e capacidade

É necessário refletir De dia, de noite, ou antes de dormir Com essa ação Melhoramos como pessoa, Ser humano e cidadão.

João Henrique Gião

São João da Boa Vista-SP Anglo Ensino Fundamental - 14 -


1º lugar Poesia Juvenil

Mundo das Palavras Na ponta desta caneta Dou a volta no planeta Sem sair do lugar Minha caneta vira pincel Colorindo o branco do papel Escrevendo sem cessar No mundo dos versos De cabeça eu mergulho Deles, faço diversos Silenciando qualquer barulho. As palavras vão à frente Descobrindo a verdade Neste espaço diferente Onde tenho a liberdade. Desvendando um novo mundo Que antes era escuridão E a cada segundo Uma nova constatação. A garota dos meus sonhos No papel eu posso tê-la A mais linda paisagem No papei eu posso vê-la. E esse prazer Manifestando em mim Começo a escrever Versos e rimas sem fim. Eu não sei o que é isso Pode até ser magia É um belo feitiço Chamado Poesia. Juliano da Silva Damas Júnior

São João da Boa Vista-SP Colégio Experimental Integrado

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2º Lugar Poesia Juvenil

Um País Histórico chamado Brasil Sou o índio, o primeiro habitante Sou o tapuia, o botocudo. Um verdadeiro herói Esquecido pelo mundo. Sou as caravelas Os portugueses Ah! Os velhos e puros portugueses Que aqui aportaram. Sou a conciliação entre duas raças Por que não dizer entre três? Sou o escambo, o escravismo O inimigo demoníaco. Sou a extração O Pau-Brasil, o ouro A cana e o algodão Sou os africanos que infelizmente sofreram escravidão. Sou os jesuítas, os carmelitas. E todas as ordens vistas Pelo mundo até então. Ah! Como é bom dizer: Sou as drogas do sertão. Sou os imigrantes Nostálgicos, banzeiros Que aqui aportaram E viraram brasileiros. Sou a grande lavoura Os rios e os cafezais. Sou o ouro de aluvião A terra pedindo por paz. Sou o pão da terra Que alimentou os tristes escravos E o salitre sulista Que alimentou os gados. - 16 -


Sou a produção extrativa O cravo, a canela, a salsaparrilha. Sou as artes e as indústrias O ferro e a tinturaria. Sou o comércio marítimo Os gêneros de subsistência Sou a marinha, o sertão, as minas A vida infeliz de uma triste consciência. Sou a administração As armas, a justiça e o rei Sou o capitão-mor E o ouro que desperdicei Sou Américo Vespúcio Duarte Pacheco e Cabral Sou Euclides da Cunha E o drama Nacional Sou a queda de D. Pedro II O 15 de Novembro E Deodoro, o Marechal Sou as tristes linhas tortas, o drama social. Sou a década de 64 E o triste final Sou a chegada da tecnologia O burburinho jovial. Sou jovem e forte Apesar das guerras Sou bem estruturada Apesar das minhas quedas Sou a terra do Sabiá Belezas e recantos mil Às margens do Ipiranga Sou o maravilhoso Brasil.

Matheus Lucas de Arruda Camara Cantagalo-RJ

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3º Lugar Poesia Juvenil

Masoquismo É rir sozinho Por entre as pessoas É abrigar-se num ninho Enquanto seu canto ressoa É música no silêncio Que toca sem cessar É entregar o lenço Feito para eu chorar É amarrar O nó da própria forca É lamentar Pela felicidade pouca É chorar de saudade É temer pela presença Insatisfação por amizade É uma doença

Paula Cardella Amaral

São João da Boa Vista-SP Anglo Ensino Fundamental Profa. Maria Juliana Zogbi Farias De Rosa - 18 -


1º Lugar Poesia Adulto

Você vai ficando em Mim

Você vai ficando em mim Como uma doce lembrança Como um olhar de criança Descobrindo a flor no jardim Como Como Como Como

a o a o

chuva na terra sol no horizonte água na fonte perdão pra quem erra

Você vai ficando em mim Como a onda no mar Como o perfume no ar Da linda flor do jasmim Como Como Como Como

o orvalho na folha o beijo roubado o desejo guardado imagens numa bolha

Você vai ficando em mim Como o amor revelado Como o segredo guardado No teu batom carmesim Como o abraço apertado Como o arrepio na pele Como o gostar que desvele O êxtase de ser amado - 19 -


Você vai ficando em mim Como o aroma na rosa Como na face formosa Os olhos de um querubim Como os desejos contidos Como o afã verdadeiro Como aguardar fevereiro Para perder os sentidos Você vai ficando em mim Como as estrelas no céu Como a nuvem ao léu Como a cruz no marfim Como o amor que semeia Como os braços na cruz Como o som que produz O sangue em minha veia Você vai ficando em mim Como a tinta na tela Como a luz de uma vela Iluminando o meu fim Como esse imenso sentir Como esta saudade intensa Como o amor que compensa Toda esta dor de existir

José Leite da Silva Florianópolis-SC

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2º Lugar Poesia Adulto

Neblina da Serra

Neblina da serra envolvente e espessa, neblina da serra não vá, não me esqueça, neblina da serra me ensine a sonhar.

Nas noites de outono, de inverno ou verão, tu nasces co’a brisa, tu dormes no chão. Neblina da serra, neblina da serra, não sejas maleva a esconder primavera.

Me ensine neblina, teu doce envolver. Teu manto suave, de sonho esconder. Tão densa tu és, tão simples de ver. Neblina da serra, me ensine a viver. - 21 -


Te vejo neblina em todas manh達s. Te invejo neblina, por livre viver. Tu encobres o monte, o vale e a serra, e nas madrugadas, me ensine esquecer.

E quando o astro-rei com seu brilho feroz, te esconde neblina pro teu descansar, tu dormes quietinha, neblina da serra, ora noutras manh達s a serra sonhar.

Rubens Lu鱈z Sartori Campo Mour達o-PR

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3º Lugar Poesia Adulto

A Poesia dos Tempos

És tu a poesia que não passa, És métrica impecável, verso e rima! És obra que qualquer poeta estima E quem tentar versar logo fracassa! Fracassa, pois a língua é escassa. Fadada a dissolver-se em ruínas, Pois toda sorte de palavras finas Jamais faria jus à tua graça. Tentar versar-te é quase ameaça E não importa a arte que se faça, Se acaso ousar dizer-te, é assassina! Pois mata de ofensas quando traça Quaisquer cortejos, tudo se embaraça Sem nunca traduzir tua valia.

Marcelo Augusto Araújo de Oliveira São Paulo-SP

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1º Lugar Poesia - maiores de 60 anos Prêmio Otávio Pereira Leite

Por quem os sinos dobram Menina pobre de trança, Tinha um sonho de criança, Ser anjo na procissão. Lantejoula e purpurina Bordadas na veste divina, Sempre encantavam a menina. Na procissão, De anjo nunca desfilou, Mas o sino da igreja Muitas vezes badalou. Pobre, menina pobre, não tinha auréola nem asas. Com braço forte a repicar, Puxava a corda sem parar. O badalo batia pra lá e pra cá, como um hino, E suas trancas pra lá e pra cá seguiam o som do sino. E a gente humilde e de fé ouvia distante o brado, E vinha chegando ao som do chamado. Delem gom dem... Delem gom dem... Era pra Deus, que no amanhecer, Num lampejo divino, Na pujança do sino, Por sua mão, Chamava o povo pra oração. E numa noite, enquanto dormia, Ouviu uma voz que dizia: “Depressa, menina, vem! Vem seguir a procissão.” Enquanto o sino batia, No céu o anjo cosia Lantejoula e purpurina Na sua veste divina, Que Deus te fez anjo também! Luzia Terezinha de Brito Vacari Campinas-SP

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2º Lugar Poesia - maiores de 60 anos

Arte Humana, Arte Divina Tudo o que foge daquilo que a vista alcança formas lapidadas em barro, mármore ou aço letrinhas esculturadas em pequenos pedaços pinturas emolduradas que ao homem encanta

nas entrelinhas, nas curvas, nas mil criações imaginações, metafóricas mãos de pianistas nas réplicas da natureza, nos traços cubistas quaisquer que sejam elas, dão-nos emoções

nas artes, o homem é Deus e Dele é herança transformando o mundo num melhor espaço cultuando a beleza, o homem é Dele o traço merecendo o título de ter Dele a semelhança

Deus foi o primeiro escultor fazendo Adão e ainda deu-lhe vida, num sopro simplista o homem copiou o Seu espírito de artista e a Arte se tornou a sua mais bela ação! Edileuza Bezerra de Lima Longo São Paulo-SP

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3º Lugar Poesia - maiores de 60 anos

Palcos da Vida

Em um cenário de céu com spots de astro-rei, baila o ator principal a sinfonia do vento. É um velho guapuruvu, cujos braços embalaram folguedo de minha infância, e, na juvenilidade, permitiu que em sua carne tatuasse eu corações varados por frecharia sob bênçãos de Cupido, No teatro-natureza, Além da árvore amada, perfazem a encenação buganvilias, jasmineiros e outros tantos vegetais que, entre pedras e animais, cirandam sobre gramínea de rizomas rastejantes.

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E no decurso da vida (hoje um tanto encanecida) o espetáculo não para: aos signos visuais, lingüísticos e sonoros da mais completa das artes, de novos significantes e outros significados, que magicamente resultam nos signos sensoriais, por meio dos quais consigo — fora ver, ouvir, falar — sentir o halo emanante do Supremo Diretor. Assim, alma embevecida, em cada nova sessão desse arboreto encantado, aconchego-me à ribalta e, ante o conjunto de imagem que impressionam a visão, a gritar bravo!... bravíssimo!, louvo as belezas da vida e aplaudo com o coração.

Nilton Silveira

Porto Alegre-RS - 27 -


PROSA Prêmio Fábio de Carvalho Noronha Infantil – até 12 anos 1º LUGAR- “CHEIRINHO DE MINHA INFÂNCIA”- Rebeca de Almeida Borges – São João da Boa Vista-SP- Escola SESI156 2º LUGAR –“MEU MELHOR AMIGO”- Maria Eduarda do Prado Matheus- São João da Boa Vista- SP- Anglo Ensino Fundamental 2º LUGAR - “TARDE MISTERIOSA”- Lara Mauro de AraújoSão João da Boa Vista-SP- Anglo Ensino Fundamental 3º LUGAR- “A FLOR QUE NUNCA BROTAVA”- Luiza Arantes Jacinto – São João da Boa Vista- Anglo Ensino Fundamental Juvenil- 13 a 18 anos 1º LUGAR – “ PROVA DOS OITO” – Matheus Lianda – São João da Boa Vista- SP - Colégio Objetivo 2º LUGAR-“ÚLTIMO FRAGMENTO”- Larissa Gulin GazatoSão João da Boa Vista-SP- Escola SESI 156 3º LUGAR-“TUDO POR UM SONHO”- Flávia Lemes Gamba – São João da Boa Vista- Escola SESI 156 Adulto - de 19 a 59 anos 1º LUGAR- “ DOIS MOMENTOS”- Elias Araújo- Américo Brasiliense-SP2º LUGAR-“HOMEM DOBRANDO A ESQUINA”- Gilberto Garcia da Silva- Praia Grande-SP 3º LUGAR- “ UM PIANO E UMA XÍCARA DE CHÁ”- Gustavo Fontes Rodrigues- São Paulo-SP Prêmio Especial Octávio pereira Leite Maiores de 60 anos 1º LUGAR-“IDENTIDADE E CPF”- Renato Vieira OstrowskiCampo Magro –PR 2º LUGAR-“O RETORNO”-Maria Apparecida S. CoquemalaItararé – SP 3º LUGAR-“CONFISSÕES ÍNTIMAS”- Luiz Alberto de Almeida Magalhães-Belo Horizonte- MG - 28 -


PROSA

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1º Lugar Prosa - Infantil- até 12 anos

Cheirinho de minha Infância Ah... Minha infância. Lembro-me das vezes em que levava leves palmadinhas no bumbum, daquelas brincadeiras. Lembro-me de quando estava brincando com algumas amigas que moravam em minha rua, e a mamãe gritava: - Rebeeecaa, vem pra dentro !!! Eu ia correndo para casa, afinal, se mamãe estava chamando era coisa séria. Às vezes, havia maratona de filmes em casa, assistíamos a tudo quanto é filme, desde terror, aventura, humor, qualquer coisa que achávamos em casa. Única coisa a que não assistíamos era romance. Papai era muito bravo... Mas nunca ocorreu de baterme. Papai sempre ganhava os meus materiais escolares. Eu nunca usava todos; então eu os pegava para brincar. Quando aprendi a escrever, mamãe vivia a brigar comigo porque eu escrevia meu nome em todas as paredes da casa. Um dia estava voltando da escola correndo saltitante pelo meio fio, quando caí e me machuquei por inteira. Lembro-me como se fosse ontem, eu estava com alguns ralados no joelho, cortes pela testa .. Este dia ficará marcado para sempre, afinal, ainda tenho uma cicatriz na testa. Lembro-me de quando mamãe e papai me deram um patinete de Natal. Isso aconteceu depois que descobri que Papai Noel, fada do dente, coelhinho da páscoa, bicho papão, lobo mau, cuca, não existiam. Lembro-me das cantigas: “Quem tem medo do lobo mau, lobo mau”, “Cuca vem pegar”, “bicho papão sai de cima do telhado”. Quando perdi o meu primeiro dentinho, eu estava no - 30 -


maternal, minha professora era quem os tirava... Nunca doía! Mas quando ia ao dentista... Ai que medo! Era aquela pressão toda, pois achava que todo dentista era malvado, mas apenas queriam ver meus dentinhos bonitos e fortinhos. Quando procurava alguém e não encontrava, vovó logo gritava: -Tomou doril... Nunca consegui entender, mas um dia eu vi um comerciai na televisão que dizia: -Tomou doril... A dor sumiu. Tenho vagas lembranças de alguns amigos, mas ainda guardo todos no coração. Quando ainda era bebê, mamãe dizia: - “Uma minhoquinha faz ginastiquinha”, quando me sentia com cólica, afinal é normal bebês ter cólicas. Vovó sempre dizia que quando algum bebê está com febre, coloca-se algodão com álcool no pezinho dele. Nunca soube ao certo se funciona mesmo... Música foi outra coisa que marcou muito a minha infância. Vovô era quem brincava de “serra, serra”. Quando eu tinha dois anos, minha tia era quem cuidava de mim, todo dia quando meu tio chegava do trabalho íamos à padaria comprar bombom. No entanto minha mãe dizia que uma das primeiras palavras que aprendi a dizer foi ”Bombom”. Agora eu aprendi que quando a mamãe e o papai ficavam bravos, era porque eles se preocupavam muito comigo e só queriam o meu bem. Havia alguns dias em que não via a mamãe chegar do trabalho, mas toda noite ela ia verificar se estava com frio ou não. Quando havia chuva de pedra, a vovó pegava uma pedrinha e colocava-a no meu coração, pois se dizia que a chuva acalmava. Será que isso é real? Ou é apenas uma ficção? Agora estas histórias não passam de meras lembranças... Eu já cresci, e amadureci, agora passo a ver o mundo com outros olhos, afinal já posso entender o que é certo ou - 31 -


errado... Minhas histórias nunca serão esquecidas, as aventuras jamais substituídas. Pois é algo que nem o tempo apagará. Quando criança, pensamos que a vida é apenas diversão, que a vida seria sempre daquele jeitinho fácil, daquele jeito alegre, maluco, afinal, é pensamento de criança... A adolescência chegou... Mostrou o que é amor, mostrou também um pouco da dor. Papai sempre diz que na vida tudo tem seu tempo, há tempo para dar o primeiro beijo, para começar a namorar, sofrer, curtir a vida, tudo. Tudo tem seu tempo. Não devemos pular nenhuma etapa da vida, pois para cada etapa há a sua lição de morai, aquele aprendizado. Mamãe dizia que quando eu era criança não saia de frente da televisão. Agora ela diz que não saio da frente do computador. Com a adolescência chegando, descobrimos que éramos felizes e não sabíamos. Vamos aproveitar ao máximo tudo que esta preparada para nós na vida!

Rebeca de Almeida Borges

São João da Boa Vista-SP Escola SESI- 156 Profa. Marly Terezinha E. de Camargo Fadiga - 32 -


2º Lugar Prosa - Infantil- até 12 anos

Meu melhor amigo Dizem que “quem tem um amigo, tem um tesouro”, então... Puxa... Sou uma menina de sorte! Nem cresci e já sou rica! Difícil mesmo é escolher o melhor entre tantos bons amigos. Nem sei se dá! A Mariana, por exemplo, é a garota que mais gosta de esportes que eu conheço! Já o Ale... Ah, o Ale... É o garoto mais engraçado que já vi! O Caio é joia, o Ângelo, mesmo sendo meio tímido, é um bom companheiro. A Gabi e a Amanda, essas são fãs do Monster High! A Larissa já é mais quietinha, em compensação, o Edes fala muito! A Luciana e a Roberta são “Patricinhas”, mas são muito legais e o Léo, é a calculadora humana! A Naná e a Ana Luiza são BFF (Best Friends Forevour), o Daniel é o anjinho, o Felipe gosta de Beyblade mesmo! A Duda está sempre disposta a ouvir o que temos a dizer e a Carol tem fama de durona, mas é uma grande menina! O Árick, esse é parceiro do Ale! A Luíza é uma amiga legal e a Ana Laura... Essa é desenhista! A professora... Essa é exigente, mas é parceira. Mamãe é exigente também, por querer meu bem, é lógico! Tenho ainda a sorte de ter uma baita irmã, a Maria. E outra maravilhosa, a Gabi. Ah, e tem a Fer. Sabe, antigamente, a Fer era minha amiga, mas aí a gente foi brigando muito e, de tanto a gente rir juntas, hoje sei que ela não é só uma amiga... É uma irmãzinha que a vida me trouxe de presente! Bom, como eu disse, foi difícil escolher o melhor entre tantos bons amigos... Mas cheguei a uma conclusão. Meu melhor amigo não é “ele” ou “ela” e sim ELES. Todos eles são meus amigos e, sem eles, pra que viver? Maria Eduarda do Prado Matheus

São João da Boa Vista- SP Anglo Ensino Fundamental Profa. Alessandra Perucchetti Macedo Romera - 33 -


2º Lugar Prosa - Infantil- até 12 anos

Tarde misteriosa Era uma vez uma menina muito gulosa chamada Tati. Ela só pensava em comida. Via uma nuvem, pensava em algodão doce e ia logo comprar. Via a lua, pensava em queijo; via uma bola de boliche, pensava em um coco... Resumindo, tudo lembrava comida para ela! Tati tentava pensar em outras coisas, pois seus amigos criticavam essa sua fome toda. Quando seus amigos compravam alguma comida, tentavam esconder-se, mas Tati sentia o cheiro de longe! Certo dia foi à praia com os amigos Mônica e Fábio. Lá, eles viram uma barraca de pastel e, para Tati não devorar a barraca inteira, Fábio tentou distraí-la dizendo: - Ei, Tati, vamos brincar de enterrar? - Sim, vamos! Mônica e Fábio enterraram Tati deixando só sua cabeça para fora. - Vocês são tão legais! – disse Tati. - Não somos nãão! Só te enterramos para comermos em paz! - O quê? Seus falsos! - Ah, Tati, vê se relaxa e vem comer este último pastel que sobrou... - Oba! E Tati, com muita fome e vontade do delicioso pastel, deu uma mordida e... - Blargh! Eca! Que gosto horrível! Que sabor é esse? - Chuchu azedo com fungos! - 34 -


- O quê? Seus amigos da onça! Vocês me enterram, comem na minha frente só para me fazer passar vontade e depois me dão pastel sabor chuchu azedo com fungos?! - Sim! Nós estamos no concurso de pior comida, não estamos? - O quê? Concurso? Nós não estávamos na praia? - Praia? Que praia, Tati? Tá ficando louca? - É! Nós estávamos na praia! Eu lembro... - Ah, Tati, deixa de inventar coisas e vem cozinhar com a gente! Eu estou fazendo sopa de alho com bananas! - E eu estou cozinhando leite talhado com tomate! Tati sem entender nada diz: - Credo! Que nojo! Que comidas são essas? - Já sei, Fábio, vamos cozinhá-la! - O quê? Como assim me cozinhar? - Isso Mônica! Mas antes, vamos dar uma lambidinha nela para ver se tem gosto bom! - Aaaaaah!! Não me cozinhem, por favor!! Então, Tati acordou com algo lambendo sua orelha... - Ufa! Ainda bem que foi um sonho! Mas, por precaução, vou parar de comer em exagero! E Tati viveu feliz e magrinha para sempre.

Lara Mauro de Araújo

São João da Boa Vista-SP Anglo Ensino Fundamental Profa. Alessandra Perucchetti Macedo Romera - 35 -


3º Lugar Prosa - Infantil- até 12 anos

A flor que nunca brotava

Havia uma garotinha que adorava seu jardim, mas tinha uma flor que nunca brotava. Na cidade, ia acontecer uma competição de flores. A menina, que era dona do jardim, estava ficando nervosa, porque aquela era a única flor que queria levar para a competição. Todos os dias, ela regava, podava e nenhum resultado aparecia. No dia da competição, várias crianças estavam com flores grandes, coloridas e cheias de botões e a garotinha pegou o vaso e levou sua plantinha, mesmo sabendo que ela não brotaria. Todas as crianças foram chamadas a apresentar suas flores e a garotinha, sem esperanças de vencer, também foi. Nesse momento, a juíza da competição olhou para ela e disse: - Esse é o vaso que eu queria ver! As outras crianças ficaram bravas e disseram que as flores delas estavam bem mais bonitas. A juíza olhou para todos e falou: - Essa não é uma semente comum, ela só é encontrada por aqueles que gostam muito da natureza, porque ela faz com que a pessoa cultive qualquer planta com muita facilidade! Ela somente aparece para aqueles que realmente têm esperança! Todos ficaram muito impressionados e a garotinha mais ainda, por ter percebido o presente tão maravilhoso que ganhara. Ela voltou para casa feliz e, quando cresceu, tornou-se a maior jardineira daquele lugar. Luiza Arantes Jacinto

São João da Boa Vista-SP Anglo Ensino Fundamental Profa. Alessandra Perucchetti Macedo Romera - 36 -


1º Lugar Prosa - Juvenil- 13 a 18 anos

A Prova dos Oito São notáveis as loucuras existentes na mente humana. Estranhas manias são tão comuns que passamos a ignorá-las, ou mesmo considerá-las normais, devido a nossa convivência diária com elas. Aqui relato uma que me intrigou, chegando a me irritar. Sim, porque fui gradualmente me interessando por um assunto de que não tenho conhecimento, e discuti sobre ele com seriedade, como se fosse relevante. Apenas agora, com a mente mais tranqüilizada, percebo o quão ridículo era, embora parecesse ser muito importante para meu amigo de longa data, o qual eu não visitava havia muito tempo, Simão. O assunto em questão eram as curiosidades numéricas. Sobre o número 8 e seus múltiplos, com efeito. Eu não me recordo muito bem em que momento de minha visita nós começamos a ter tal diálogo. O gim caía nos copos com uma freqüência alarmante, levando em conta que nós dois teríamos que trabalhar na manhã seguinte. Ele é comerciante, já há algum tempo, um dos melhores em minha opinião. Conheço poucos com tamanha habilidade de discursar — acredito que sua prévia experiência de vendedor ambulante lhe tenha proporcionado tal talento. Mas pode ser inato, também. Ele é famoso por suas frases filosóficas que circulam por aí, e ele filosofa desde pequeno, realmente. Você consegue entender minha admiração pelo número 64? Ele começou o assunto de maneira séria, quebrando o clima da conversa cômica e irônica que estávamos tendo. Sobre política, vale acrescentar. Não, na verdade, o que há de especial no número 64? Não tinha certeza se falava sério ou se faria algum tipo de anedota; por via das dúvidas, falei com toda seriedade que consegui reunir, mas segurava um meio sorriso em minha face. O seu semblante, porém, estava concentrado e pensativo, como se procurasse maneiras de expressar o que sentia. - 37 -


Perceba que esse número é a potência de um outro número que é perfeito. Ele olhou para mim esperando que eu lhe perguntasse o porquê. Muito bem, então. Explique seu pensamento, Simão. O oito - ele olhava para um espaço vazio como se pudesse contemplar o número ao fazer sua explanação - é perfeitamente cíclico... Espere. O zero é que é perfeitamente cíclico. - não iria deixá-lo argumentar com facilidade. Ele teria que provar seu raciocínio refutando minhas observações! Sim, você tem razão. Admitindo que o zero seja cíclico, é correto dizer que o 8 é “bicíclico”, o que o torna duas vezes melhor. É um ponto de vista interessante, mesmo, embora toda vez que eu me lembre dessa resposta ela me pareça um pouco forçada. A seguir, fica até um pouco pior... - O zero nem podia ser considerado um número, na minha opinião. Ele é dependente de outros números para existir; sozinho ele é fraco, ou melhor, inexistente. O zero é um acessório dos outros algarismos, que se tornam mais poderosos com sua presença. Se o zero é acoplado a outro, este outro se torna 10 vezes mais forte. Não gosto desse símbolo, que se deixa ser usado para alcançar o topo! Que resposta eu poderia dar depois disso? Ele terminou sua tese vermelho, bufando de raiva. Acredito que o gim, que desaparecia do seu copo nessa pausa, estava fazendo efeito. Tentei acalmá-lo com uma piadinha que estava em minha cabeça: -Você gosta tanto do oito, então não deveria desprezar o zero, sabe? Sem ele não haveria a expressão “oito ou oitenta”. Como fazer oitenta sem zero, não é mesmo? Eu fui ignorado, e agora concluo que com razão. Ele achava aquele tópico importante, eu não devia brincar. E não foi engraçada, além disso. Bem, eu não sou comediante, oras! Simão, que terminara de articular seus sentimentos sobre o zero, voltou ao 8: Outro fato interessante sobre o 8 aparece quando você o deita. Do que está falando? Ele pegou uma folha de um bloco de anotações que - 38 -


estava à mão e tirou uma caneta do bolso. Desenhou o 8 e virou a folha de lado. -Ah sim... – Meus processos cerebrais estavam meio lentos. Um administrador, como eu sou desde a minha juventude, teria compreendido perfeitamente o que ele quisera dizer. Senti o auxílio de uma ilustração. Infelizmente, o gim era cruel e agia vagarosamente. É o símbolo do Infinito. O que você está me dizendo então é que sua admiração é pelo número oito, e não pelo 64? Veja bem, como é que eu não posso admirar um número que, sendo o 8 perfeito, e o produto de 8 vezes 8? - ele estava certo, mais uma vez. Mas eu estava começando a gostar da discussão e quis prolongar a linha de pensamento. - Concordo, Simão. Mas sendo assim, o 64 é um número dependente do oito para existir, e você acabou de me dizer que não gostava do zero pelo mesmo motivo. Está caindo em contradição, meu caro amigo! Eu poderia tornar-me advogado depois dessa brilhante conclusão. O leitor pode não ver nada de impressionante em ligar um fato ao outro como fiz, mas lembre-se de que realizei essa façanha com quase meio litro de álcool no sangue. Já cantava a vitória, quando ele me deu uma resposta igualmente intrigante: Se fôssemos seguir por esse caminho, nossa discussão seria um absurdo - e era; era a discussão de dois bêbados num domingo à noite. Mas ignoremos este detalhe. - Porque todos os números são compostos de unidades. Então só o um seria um número verdadeiro, todos os outros não são várias vezes ele? Então vou aproveitar que você mencionou o um e terminar essa discussão dizendo que ele é o número mais importante. Ele é absoluto e original! Ponto final! Agora me intriga muito essa personificação que estávamos fazendo em relação aos números; estávamos adjetivando-os e, de certa forma, criando uma rivalidade entre eles! Não, esqueça isso. Há outros muito mais intrigantes. O 9 é um exemplo bom. Acredito que você não saiba, ou nunca tenha tido interesse em admitir como isso é fantástico, mas a soma dos algarismos de qualquer produto do nove, adivinhe... é 9. Ele tinha um sorriso triunfal na boca, como se tivesse me - 39 -


mostrado a descoberta da cura da estupidez. Para coroar, ainda fez uma conclusão pedante. - Isso, meu caro, vale até menos para números fracionais. Pra você entender, são os que têm a vírgula. Fiquei um pouco ofendido, tentado a recordar-lhe de que nós dois lidávamos com números, mas que eu era o dono da minha empresa, enquanto ele ainda era um funcionário, mas não quis provocar rixas por questões pequenas. O que eu queria era ter deixado claro que eu sabia o significado de “fracionais”. Mas continuei a falação: Então, acho que o nove é o melhor número, certo? Pelo menos é o mais “intrigante”, em sua opinião? Para falar a verdade, não. Essas curiosidades infantis não me despertam o menor interesse. Fiquei confuso: -Você acabou de fazer uma cena aqui só pra me contar a curiosidade do nove! Se é infantil, por que a usou como argumento? Ele olhou para mim com desdém: -É infantil, mas para você serve como argumento! Nesse momento eu fiquei zangado! Quis dar-lhe uma resposta à altura, mas por respeito à sua casa, e lembrando-me mais uma vez de que ele estava sob a influência do gim, me contive. Simão estava se sentindo intelectualmente superior, mas tinha bebido três taças a mais que eu... Você está começando a falar como se fosse um especialista na área. Mas não o é, certo? Fui sutil, mas acredito ter deixado claro que estávamos nas mesmas condições de diálogo. Ali, ninguém sabia muito bem sobre o assunto. Oh, sim, eu não sou um especialista na área... No entanto, sou aficionado por números desde que me entendo por gente; naturalmente, tenho um conhecimento mais amplo do que você, com o perdão do pensamento. Estava aborrecido com essa preleção. Tive uma ideia para encerrar de vez o assunto. Mas antes, abrimos outra garrafa para abastecer a nossa inventividade. Resolvi desafiá-lo. Não há muito que dizer sobre apenas um número, então quis descobrir o quanto ele se retorceria para resolver a seguinte proposição: Certo, Simão, então você parece ter um bom conhecimento sobre os números, e gosta muito do 8, não é? - 40 -


Olhei em seus quatro olhos desfocados. Digo quatro porque os meus também estavam igualmente fora de foco. - Você consegue me arranjar 8 motivos que evidenciem sua preferência? Sim senhor, eu consigo sim. Ele se ajeitou em sua cadeira, e começou a falar, com a voz já bem engrolada, parando às vezes para pensar um pouco. - O primeiro motivo certamente é que e!e também seja o símbolo do Infinito; oras, se não há nada maior que o Infinito, isso é um bom indício de sua perfeição. Ele se virou para mim e perguntou: Você acredita em Deus? Acredito, sim. O que isso tem a ver com as respostas? É que isso me leva diretamente a minha segunda razão: sendo o símbolo do Infinito, e aceitável dizer que o oito é o número mais próximo a Deus, mais próximo até do que o famigerado sete. Não estou certo nisso? É algo a se pensar, sim. Hoje, analisando novamente esse diálogo, acho essa resposta interessante. Um dos melhores motivos que ele me deu naquele dia. O terceiro e o quarto motivos serão fatores culturais, mas você vai aceitá-los porque aqui não tem nenhum xenófobo. É sabido que na China a pronúncia da palavra “morte” é igual a da pronúncia do número quatro. Por isso, o quatro é considerado grande azar por lá. Uma vez que o oito é o dobro de quatro, ele se tornou um amuleto de sorte! Uma companhia aérea de lá pagou uma pequena fortuna para que o número de telefone de seu call-center fosse inteiro constituído de oitos. Meu outro exemplo vem da cultura haruhiista, que o amaldiçoa, infelizmente. Bem, o quinto exemplo é... Só um momento! - eu já queria encerrar o assunto, mas ao mesmo tempo não queria que ele ganhasse tão fácil - Essa cultura que você falou aí... A cultura haruhiista. Sim, que seja. Ela dá uma certa importância ao oito, mas não é uma coisa boa. Como ser amaldiçoado pode ser uma boa razão para que você goste dele? Ora, e como não? É justamente esse tipo de polêmica que torna algo famoso. Não acreditei que ele tinha uma - 41 -


refutação até para isso - Você só é realmente conhecido quando metade das pessoas o ama e a outra metade o odeia. As controvérsias são boas! O pior é que esse também foi outro excelente argumento. A análise que ele faz sobre a polêmica é verdadeira: um assunto só entra em voga quando há quem lhe seja a favor e quem lhe seja contra. E o quinto e o sexto argumento serão curiosidades matemáticas, das quais você certamente não tem conhecimento. Ele olhou para mim com seu desprezo velado, mas ele finalmente deve ter percebido que eu estava me sentindo incomodado com aquelas insinuações, porque acrescentou rapidamente: Você não deve ter conhecimento por ser muito ocupado e não ter tempo para pesquisar esse tipo de coisa. Você sabe que eu estava brincando quando disse que argumentos infantis lhe bastariam, não é? Fiz que sim com a cabeça e fiquei feliz pela consideração. Mas, no fundo, no fundo, acredito que ele realmente queria parecer mais esperto do que eu, e até do que ele realmente é, naquele dia. Não que ele não seja inteligente. Mas sofre com crises de meia-idade e tem problemas de autoestima, traumas de infância - ele morava na fazenda e foi perseguido uma vez por um marreco por três quilômetros até conseguir chegar em casa e fechar a porta. Mas isso não vem ao caso. Bem, o quinto exemplo é o fato de ser a soma de dois números primos: o 3 e o 5. Eu considero interessante tudo o que é relacionado com números primos, sabe, porque esses são tinhosos mesmo, não aceitam ser divididos por outros que não o um e eles próprios; eu vejo muita personalidade nos tais primos. Simão se divertiu falando sobre isso! Era notório que ele realmente apreciava os números. Ainda que tal qualidade seja meio incomum! -O sexto é a ocorrência de ele ser o cubo perfeito de 2. O 8 é o único cubo perfeito na primeira dezena de numerais. Isso o torna meio exótico, em minha opinião. Não considerei muito esse exemplo na época, mas ao pensar nesse assunto de novo, percebi que ele é o único cubo não só na primeira dezena, mas nas duas primeiras. Sim, realmente pode-se dizer que ele é exótico! - 42 -


Simão precisou pensar alguns minutos para dizer um sétimo pretexto. -O sétimo será a respeito de sua sinuosidade absoluta. Veja que ele é tão complexo que fazer uma manobra em forma de oito, em qualquer meio de transporte, é considerado um ato de maestria e domínio sobre a direção. Poucos conseguem fazer isso perfeitamente. De fato, bêbado como eu estava, eu não conseguiria fazer nem a pé. -Quanto ao oitavo, meu caro amigo — discorreu se levantando e dando uma boa espreguiçada no mesmo momento em que olhei meu relógio e decidi que já estava na hora de pegar o caminho de casa. É é muito simples. Perceba que com oito bons argumentos você pode convencer alguém de suas ideias. Essa eu não engoli até hoje. Mas como ele conseguiu convencer-me da superioridade do 8, pode ser que ele tenha a sua razão. Incrível como um homem pode defender seus ideais com unhas e dentes, por mais ridículos ou irrelevantes que sejam. Talvez por eu não ter uma opinião formada sobre o assunto, ele tenha tido mais facilidade. Provavelmente, seu eu tivesse um número de preferência diferente, eu também teria perdido longos minutos tentando convencê-lo. Talvez horas, pois cada um tentaria provar que seu lado é melhor. Isso me lembra da frase de um célebre homem: “Vamos discutir bastante, e não chegar a conclusão nenhuma”. Talvez esse seja o resumo perfeito da atitude que temos o hábito de tomar frente a problemas: discutir. Raro mesmo é ver alguém se levantar e solucionar.

Matheus Lianda São João da Boa Vista- SP Colégio Objetivo - 43 -


2º Lugar Prosa - Juvenil- 13 a 18 anos

Último Fragmento Enquanto vivo, papai sempre me alertara para que eu vivesse cada dia como se fosse o último. Agora compreendo o que um homem já vivido queria que eu absorvesse quando proferia essas palavras. Debilitada, sei que estou chegando ao meu estado terminal. Os hipócritas tentam me esconder isto, também tentam com todos os outros pacientes – aos quais prefiro chamar de amigos. Há alguns poucos que acreditam, eu mesma finjo acreditar, pois não quero ser a responsável por arrancar de meus familiares quaisquer esperanças de que, aqui internada, eu possa vir a me curar. Quando você é um ser humano eficiente, com todos os seus membros ativos, reclama de coisas tão banais quanto um grão a mais de areia nas dunas. Fui assim um dia: uma pessoa mesquinha e egoísta. Ah! Se eu pudesse voltar atrás! Mas o tempo não volta e, para alguém lutando pela sobrevivência numa prisão repleta de macas e aparelhos grotescos, o tempo corre... Corre depressa. Cada segundo passado é um momento perdido, uma aproximação do fim. Fui uma criança normal, brinquei de bola, peteca, casinha, mamãe e filhinha. Vez ou outra via um homem em seu jaleco branquinho, pedindo-me para subir na balança. Ria, sorria, me contorcia. Meu sonho de ser modelo explodia. Escalava com tamanha habilidade o pé de laranja lima, bem ali, no terraço da fazenda. Penteava os cabelos das bonequinhas, como se todas fossem minhas filhinhas. Trançava, inventava moda, prendia. Escrevia estórias sobre princesas, vilões e fantasias, as quais hoje releio, no tempo vazio que tento ocupar, não deixando que me escapem da vista os erros de ortografia. Mas como dizia a vovó, todos, em seu destino, têm traçado um vale tenebroso, o qual são obrigados, um dia,

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a enfrentar. Eis-me aqui, a prova destes dizeres. Foi junho o mês em que morri pela primeira vez. Inverno frio e triste – tal qual minha alma – quando o doutor entregou o resultado do exame. Esse tal momento, um dia, ousou-me chegar. E então, desde lá, a leucemia vem, aos poucos, a me derrubar. Dos cabelos macios e escorridos como fios de linho, tão negros e lisinhos, que antes mamãe fazia questão de arrumar, com penteados que ela mesma inventava ou via em alguma artista de revista, agora restam alguns poucos à vista. Não ouso olhar-me em qualquer objeto que venha a refletir um vestígio de minha imagem. Prefiro a foto na parede, o retrato daquela menininha corada e bela, com um sorriso sarcástico. Sorriso de quem, por uma guloseima, deixou que a fotografassem. E hoje, aqui deitada, está o resto de uma garota que fora, pela sua simpatia, coroada. Talvez ainda haja algum tempo: dias, anos ou horas, somente? Essa é uma incógnita. Convivo com a morte diariamente. Vejo amigos de quarto vegetando ou partindo, tendo desligados os aparelhos que os mantêm vivos, mas sou impedida de acompanhá-los no dia fúnebre. Um dia estarei com eles nesse mesmo último fragmento de vida, que é a morte. Os raladinhos que adquiri durante a infância, outrora, são como agulhas perdidas no palheiro se comparados às cicatrizes de agora. Ao meu pai, falecido, dedico os anos em que fui feliz. Segui à risca o que aconselhava. Fui criança, fui menina, fui mulher e até atriz. Atrevida, arteira, eu fui sim! Cantarolava, corria, fazia birra. Era a mais adiantada da turma no colégio. Não sobrou tempo para a faculdade e nem para mim. Meu sonho foi distorcido: se antes eu lutava por um lugar na passarela, hoje apenas rezo com persistência para abrir os olhos pela manhã. Ainda vi meu pequenino nascer do ventre de minha mãe. Para ele, o fardo ou graça de filho único, hão de ficar? Ou Deus, por um milagre, irá fazer-me levantar, me colocando novamente a andar? Fui uma boa filha, como há de concordar minha geratriz. Nunca ousei pedir artigos caros - 45 -


ou dirigir-lhe a palavra com grosseria. Sei que isso tudo não pode ser um castigo, pois, pelo quê castigada eu seria? Encaro como um descaso do destino, um acaso. A mim, ficarão as boas lembranças: o parquinho da praça, a buzina estrondosa do carrinho de sorvetes, as cantigas de roda, os cheiros e aromas de tudo que conheci na infância.

Larissa Gulin Gazato São João da Boa Vista-SP Escola SESI 156 - 46 -


3º Lugar Prosa - Juvenil- 13 a 18 anos

Tudo por um sonho A plateia gritava, Gustavo estava no octógono, olhando diretamente para seu rival, tudo lhe passava pela cabeça e sentia um misto de coragem e medo, alegria e insegurança. Ao primeiro passo lembrou-se da sua trajetória até ali. Nascera em uma tradicional família carioca e logo nos primeiros anos de vida mostrara interesse pelas artes marciais. Não haveria de ser diferente, pois assistia na TV infinitos filmes japoneses de luta, o que fazia seu coração pulsar mais rápido e aumentava sua paixão pelo esporte Por ser uma criança muito hiperativa os pais foram aconselhados a colocá-lo em algum tipo de esporte, e escolheram o judô. Porém não esperavam que isso fosse adiante. O combate começou intenso. Gustavo golpeava o adversário e reagia com muita energia, suas têmporas estavam vermelhas e quando mais recordava o passado mais força adquiria. Com apenas dez anos, já era faixa preta no judô. Era admirado pelos mestres e colegas, já havia ganhado campeonatos por todos os cantos do país. A partir daí decidira que era esse o caminho que seguiria em sua vida. Matriculou-se nas aulas de artes marciais mistas. Os pais lhe deram apoio até o dia em que passou a chegar ferido em casa. Certo dia, uma quinta feira de agosto, tempo nublado em uma tarde muito preguiçosa, Gustavo chegou com dores e o joelho muito inchado. Sua mãe Rita, mulher elegante com traços fortes, percebendo o que acontecera, e farta de vê-lo todo dia da mesma maneira em casa lhe disse: - 47 -


-Meu filho, acho que já é hora de parar com isso. Te dei meu apoio, porém a situação aqui se inverte. Já basta de chegar com ferimentos todos os dias, você tem apenas 17 anos, isso pode se letal. Você deveria entender que é meu sonho e... Sonhos nem sempre valem a pena. Obedeça-me, sei o que é melhor para sua vida. Gustavo ficou paralisado, com os pensamentos voando de um lado para o outro. Sentia que isso só poderia ser um pesadelo Beliscou-se. Não era um pesadelo. Entrou em pânico, chorou à noite toda, e então pela manhã tomou uma decisão. Iria escondido para seus treinos. Entrou com passos pesados na cozinha para o café da manhã, o pai o olhava fixamente, a mãe estava séria. Ouviram seu choro desesperado a noite, mas mesmo assim permaneceram em sua decisão. Neste mesmo dia, colocou o plano em prática. Passou duas semanas treinando secretamente. O torneio nacional estava próximo, e ali começava o problema, pois precisaria da autorização dos pais para participar. Pensava muito para encontrar uma saída. Talvez falsificar a assinatura do pai resolveria o problema, porém considerava-se fraco demais para isso. Descartada qualquer outra possibilidade, resolveu abrir-se para os pais tão inseguros: -Queria contar o que está acontecendo. Estou treinando escondido há duas semanas. O torneio nacional- engoliu seco - é daqui a dois meses e preciso da permissão dos senhores para participar- respirou aliviado. Rita, enfurecida lhe respondeu: -Já disse que isso não pode continuar. Desista estou ordenando. E entrou para seu quarto como um leão raivoso. O pai que permanecera quieto até e então, olhou para o filho que estava atordoado: Você ama esse esporte, não? É minha vida. - 48 -


Pois bem, eu permito que participe do torneio. Mas nenhuma palavra com sua mãe, combinado? -Não irá se arrepender, eu juro- pulou no colo do pai e chorou feito criança - muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado... A plateia gritava, um golpe duro derrubou Gustavo, levou muitos golpes na cabeça, estava realmente muito ferido. Sentia agora seu corpo leve como uma pluma, porém a cabeça parecia explodir. Ouvia chamarem paramédicos. Seu corpo foi perdendo as forcas... e partiu em nome de seu sonho.

Flávia Lemes Gamba

São João da Boa Vista Escola SESI 156

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1º Lugar

Prosa - Adulto

Dois Momentos

Primeiro

A primeira vez que Virgínia Lênis viu seu noivo foi no dia do casamento. Ela tinha 13 anos e a alegria de uma borboleta recém-saída do casulo. Corria pelo sítio alimentando o vento da primavera com seu vestido de chita barata e com seus cabelos longos de menina livre. Brincava de pega-pega com os primos menores, sorridente como o sol da manhã, ao ouvir o tropel dos cavalos passando pela porteira. Os primos e primas saíram correndo para encontrar os pais gritando euforicamente. Ela pensou em se esconder entre as plantas do sítio, mas a mãe pareceu adivinhar suas intenções que desonrariam o pai naquele fim de mundo. — Virgínia. — gritou a mãe. — Vem cá, teu pai tá chegando com teu noivo. — Mas eu não quero casar agora, mãe. — disse ela, agarrando-se à cintura da mulher. — Eu só quero brincar mais um pouco. A mãe fez um muxoxo, o mesmo que o destino a obrigava a fazer de vez em quando ao vencer a batalha. E levou-a para dentro, enquanto suas irmãs, cunhadas e tias preparavam a casa e a festa para os homens. Virgínia deixou-se ser lavada, vestida, penteada. E levada para a tarde florida e ensolarada do seu casamento. Quando olhou para os homens na sala, todos vestidos com roupas de missa, não viu a menor diferença de idade entre eles, a não ser o Zé Joaquim, um primo que mal chegava aos 17 anos e que a olhava como uma criança olha um doce na vitrine da confeitaria e não pode ter. Trocaram olhares de imploração e inércia de um e de outro. E de tristeza em comum. No fundo da sala o padre a esperava atrás de um - 50 -


altar com tudo improvisado: uma toalha de renda, algumas flores, um livro e um noivo vestido de marrom e enfeitado com um bigode espesso. Ele não tinha boca, como ela percebeu, apenas o bigode. Então talvez nem precisasse beijá-lo. Duas semanas antes de viajar, o pai dissera: — Virgínia, venha cá, moleca do cão! Lembra do sinhô Pedroso, que nóis conheceu na quermesse ano passado? Então, fia, ele enviuvou mês passado e se alembrou d’ocê. Tá querendo ocê pra casar e como ocê tá mocinha já, e aqui no sítio tem seus primo que pode lhe fazer mar, dei permissão pra ele casar c’ocê quando nóis vortar de viagem. Não, ela não tinha conhecido o homem, porque na quermesse ficara muito doente, ardendo em febre e só lembrava-se de ter ficado em uma casa de uma tal de sinhá Amália Pedroso, que cuidou dela muito bem. E mais nada. Então aquele homem sem boca era o viúvo dela? — Senhor Otávio Pedroso, aceita Virgínia Lênis como sua legítima esposa? — Claro, foi pra isso que eu vim, uai! — Virgínia Lênis, você aceita Otávio Pedroso como seu legítimo esposo? Ela ficou muda. Olhou para a mãe e sentiu vontade de ser carregada no colo. — Não... — sussurrou como passarinho com espinho na garganta. — Deixa de ser besta, menina! — gritou o pai. — Claro que aceita, padre, aceita! O padre insistiu na pergunta, esperou, esperou. — Sim...

Segundo

A segunda vez que Virgínia Lênis viu seu noivo foi no dia do velório do marido. Sinhô Pedroso — como ela o chamara durante toda a vida conjugal — tinha morrido de madrugada. E ela dividira os ouvidos entre o vento desesperado por entrar na janela e os gemidos do velho. - 51 -


Ela nunca soube como ele conseguia falar, gritar, comer ou gemer ou até mesmo resfolegar nas noites em que a cobria com sua manta de ossos. Porque nunca conseguira ver a boca dele atrás daquele imenso bigode, o que lhe dava uma aparência rude, talvez mesmo violenta. Entretanto, a violência nunca brotara daquele homem magro. Ao contrário, Virgínia nunca teve do que reclamar, era bem tratada, bem cuidada. Vigiada também, já que uma esposa menina bonita 40 anos mais jovem era motivo de preocupação para um pequeno fazendeiro que viajava muito a negócios. Dos pequenos pecados que cometera até aquele momento, Virgínia só confessava ao padre a dor de nunca ter amado o marido. Talvez ele até merecesse, mas nunca conseguiu enxergá-lo de uma forma diversa daquele homem que fora buscá-la ainda descalça no sítio da família. Tudo o que fez foi lhe dar três filhos e esperar que morresse de velhice. Infelizmente a velhice chegou, mas a morte não. Otávio Pedroso custou muito a morrer. Relutava. Insistia tanto que ela achou que a Morte tinha desistido de tentar levá-lo. Mas Ela não era entidade de desistir tão fácil dos seus pertences, Virgínia bem o sabia e resolveu ter mais paciência do que vinha tendo. Até que na última madrugada abriu o sorriso para a Morte entrar como velha amiga. Sinhô Pedroso ainda lutou bravamente durante a madrugada. Agarrou a mão de Virgínia, gorgolejou, sacudiu-se inteiro na cama, tentou levantar. Agarrou o pescoço da mulher, como a querer levá-la junto. E realmente queria. O sussurro gutural transmitiu a Virgínia mais pavor do que nos longos anos de casamento. — Virgíniaaa! Me ajuda, minha menina. Eu não querooooo... não quero... morrer. — Já passou da hora, Sinhô Pedroso. — disse ela com tanta naturalidade que o marido sorriu, enquanto segurava fortemente sua mão. — Vá com Deus, Sinhô. Ele teve um último espasmo, como alguém que morre afogado e tenta emergir antes do mergulho fatal. Depois se aquietou e morreu com olhos abertos em direção à chama - 52 -


da velha lamparina. Virgínia soltou sua mão delicadamente e juntou as deles sobre o peito magro. Depois calmamente fechou-lhe os olhos. Ficou um tempo assim, olhando para o rosto dele, até que a tomou uma curiosidade mórbida. Cuidadosamente, para não machucá-lo, ela ergueulhe o farto bigode. E sorriu. Pela primeira vez depois de 40 anos Virgínia viu os lábios finos e inexpressivos do marido. Então, ela virou para o lado, cobriu-se e dormiu até o amanhecer. — Que Deus me perdoe, mas tá muito cedo pra levantar. Mais tarde, quando todos chegaram para o velório, ela já estava sentada ao lado do caixão posto no centro da grande sala de visitas da casa grande. As mulheres abraçaram-na e beijaram-na. Os homens apertaram-lhe a mão respeitosamente. Os irmãos ofereceram-lhe ajuda para cuidar da fazenda. Os filhos vieram da cidade, mas avisaram que não podiam ficar muito tempo e se a mãe quisesse vender tudo e ir morar com um deles... — Não. Vou arrumar alguém pra cuidar da fazenda. Disseram depois as más línguas que ele já vinha visitando a fazenda na ausência de Sinhô Pedroso, porque ela o reconheceu assim que entrou no velório. Zé Joaquim caminhou lentamente até ela, pegou-lhe a mão e ajudou-a a levantar. Abraçou-a respeitosamente sob o olhar espantado de todos os homens da sala, porque nenhum deles tinha ousado tanto. Trocaram olhares de surpresa e alegria em comum. E tiveram pensamentos iguais, como se dissessem ao mesmo tempo como estavam ainda bonitos mesmo depois dos 50 anos. Ela resolveu que alguns meses de luto eram suficientes para amenizar a dor de ter ficado viúva e sozinha. E como o primo Zé Joaquim também estava viúvo e sozinho, com todos os filhos casados, ambos se resolveram. Para deleite das más línguas. A pequena igreja da cidade não comportou a família que havia crescido muito nos últimos anos em que ela ficara confinada ao casamento. - 53 -


— José Joaquim de Lênis, você aceita Virgínia Lênis como sua legítima esposa? — Sim, claro. — Virgínia Lênis, você aceita José Joaquim de Lênis como seu legítimo esposo? — Agora que eu não posso brincar mais um pouco, sim, aceito, sim.

Elias Araújo

Américo Brasiliense-SP

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2º Lugar Prosa - Adulto

Homem dobrando a Esquina Meu nome não interessa. Dar endereço e fisionomia para a própria dor é o mesmo que masturbar-se em público contemplando um catálogo de aberrações. Vaidade às avessas, orgulho que sobrevive da piedade alheia. Prefiro dizer assim. Sou aquele homem que dobrou a esquina da principal avenida da cidade, na hora de maior movimento, sem que ninguém soubesse para onde e porque ia. Não era alto nem baixo, nem gordo nem magro, nem bonito nem feio, nem rico nem pobre, nem gênio nem estúpido. Caminhava rápido, meio curvado, pensando em coisas distintas como o preço da gasolina e o cardápio do jantar. O homem que cruzou a faixa de pedestres ao seu lado e a quem você lançou um olhar indiferente. Mais de quarenta e tão confuso quanto aos trinta, aos vinte, aos dez. Com agravantes, claro. Impaciência e ansiedade fora de controle e duas doses diárias de uísque além do recomendável. Assumo que a maturidade é um mito e a lucidez não vale o esforço. Sou casado e tenho dois filhos adolescentes. Não gosto muito da mulher que me foi destinada, acho que jamais gostei. Ela teve os seus encantos e, se bem me lembro, chegamos a dar algumas gargalhadas. Para mim sempre foi fácil tomar o medo da solidão pelo amor, e talvez por isso (gargalhadas, medo) tenhamos nos casado. Isso aconteceu há muito tempo, antes que os anos corroessem a sua alma e ela se transformasse nessa idosa transbordando amargura e rancor pelas promessas não cumpridas da juventude. Não, o tempo não melhora as pessoas. Fosse assim e a velhice seria um sacramento. Meus filhos são dois cretinos, como mais ou menos os filhos de todo mundo. O menino quer ganhar dinheiro para comprar o estilo de vida que - 55 -


vê na televisão. A menina está em todas as redes sociais da internet e sonha em participar de algum reality show. Não me iludo. Ele vai terminar numa clínica de desintoxicação antes dos trinta e ela vai virar uma puta deprimida pela mesma época. Mas preciso ser justo. Por baixo de tanta futilidade vicejam talentos inquestionáveis. Exemplifico: são capazes de usar os aparelhos modernos sem ler as instruções; apaixonam-se e desapaixonam-se no ritmo enlouquecido da música que ouvem; não sentem culpa por serem egocêntricos e não conhecerem coisa alguma além das paredes do quarto que habitam. Devo ter-lhes dado uma péssima educação, e se atingirem os objetivos que almejam isso será a prova de que eu também não passo de um imbecil. Tenho uma amante, embora não veja grande vantagem. Ela é minha secretária. Tem quase vinte anos a menos e vive o auge da beleza. Naturalmente está interessada somente no dinheiro que, por meio de malabarismos inacreditáveis, desvio da conta conjunta que mantenho com minha mulher e, entre trejeitos constrangidos, lhe dou como se fosse o presente de um pai incestuoso. Concorda em sair comigo todas as tardes de quinta-feira e não se acanha de passar três horas num motel barato do Centro, fingindo orgasmos enquanto se entope de vodca com energético. Jura que me ama e é fiel, mas sei que se entrega a qualquer um que não tenha a barriga flácida ou os dentes amarelados que ostento sem pudor. Não me importo, desde que continue mentindo que sou o único e o melhor dentre os que já teve. Toda sexta-feira meu sócio chega ao escritório com um sorriso canalha no canto da boca. Sabe o que fiz no dia anterior e não perde a chance de retirar meus velhos discursos moralistas da lata de lixo e esfregálos no meu nariz. Começamos como amigos e, por motivos obscuros, passamos a nutrir um ódio gigantesco um pelo outro. Não admite, mas acredito que as terças-feiras são dele. Só mantemos a sociedade porque é muito trabalhoso e caro encerrá-la. (Lição para a posteridade: a preguiça e a mesquinhez continuam sendo as melhores colas dos rela- 56 -


cionamentos humanos). Quase todos os dias arrumo confusão no trânsito. Não tolero motoristas lerdos ou folgados. Uso muito a buzina e minha pressão sobe cada vez que grito e xingo algum relapso. Chego perto do ataque cardíaco, mas não consigo evitar, o impulso é mais forte do que eu. Três ao quatro vezes desci do carro pronto para esmurrar quem aparecesse pela frente. Fantasio com freqüência em pegar uma arma e sair pela rua, disparando a esmo. Também fantasio que sou o herói que interrompe o morticínio. Ainda não decidi se o prazer de matar a maior quantidade possível de desconhecidos é maior do que o de ser entrevistado e ganhar medalhas em horário nobre. De qualquer modo, minha covardia me mantém longe dos extremos. Não vou ao cinema. é mais fácil comprar filmes piratas e assistir em casa, meio bêbado, dormindo nas partes sem tiroteio. Detesto o teatro porque, em regra, não aprecio coisas que não podem ser editadas. Além disso, considero desagradável atender o celular quando alguém em volta fala mais alto do que eu. Meu gosto musical é eclético, ou seja, ouço o que o rádio toca. Aprendi a tomar banho gelado no exército. Vejo muita pornografia na rede. Nem sempre tenho ereção. Em certas ocasiões, quando tenho, o sexo parece uma batalha desgastante e sem sentido, inclusive nas tardes de quinta-feira. Tentei parar de fumar e não consegui. Tentei fazer dieta e não consegui. Tentei escrever um livro e não consegui. Sou ateu. Vou à igreja uma vez por semana e rezo de olhos fechados. Já beijei um homem. Só leio revistas técnicas e romances policiais. O pôr do sol me relaxa e o barulho me irrita. Não pinto os cabelos. Tentei o suicídio. Às vezes me pego sorrindo sem motivo.

Gilberto Garcia da Silva

Praia Grande-SP

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3º Lugar

Prosa - Adulto

Um Piano e uma Xìcara de Chá

A friagem era grande na antiga sala de estar. O cheiro ali era o mesmo havia muitos anos, bem como o mobiliário. Sentada na mesma cadeira, enrolada a uma malha de lã, a velha senhora tomava o seu chá, o mesmo chá que tomava diariamente desde não se sabe quando. Olhando para o nada, a velha enxergava apenas as suas lembranças. Seus movimentos eram lentos, espaçados, como se fossem resultado de muito ensaio. Iguais, todos os dias. No canto da sala, avistou o seu velho piano. Há quanto tempo ele havia passado ali, despercebido. Não lembrava da última vez que tocara naquele instrumento. Levantando-se com dificuldade, a velha chegou até ele e, com delicadeza, passou a mão sobre a fina madeira que formava o seu corpo. O toque suave e o deslizar dos dedos fizeram com que ela fosse transportada no tempo. As memórias pareciam mais claras, mais sóbrias. O passado havia-se transformado em presente. Na sala ela sentia a presença de várias pessoas. Familiares, amigos, as crianças gritando, correndo e brincando enquanto ela, agora jovem e muito bonita, tocava naquele piano um clássico de Bach. Naquela festa, podia sentir sobre ela o olhar penetrante de um jovem rapaz. Tímida, brigava com os seus olhos para que eles mantivessem a atenção apenas nas teclas do piano. Era difícil. Por mais que tentasse, vez ou outra os olhos escapavam para o sorriso mais bonito que já tinha visto na vida, ainda que de relance. Terminada a sua breve apresentação, foi pega desprevenida pela mãe. Ela fazia questão de que a filha conhecesse Joaquim, jovem médico recém-chegado de Coimbra, filho de um comendador muito amigo de seu pai. Era ele, o dono do sorriso que tanto chamara a sua atenção. Estou realmente encantado com a senhorita. Ela nunca esqueceu aquelas palavras. Nem aquele olhar. O pri- 58 -


meiro olhar, ainda distante. Aquele que Joaquim insistia em lançar sobre ela enquanto fazia sua breve apresentação. Aquela noite tornou-se mágica. Diferente de todas as outras que ela tivera até então. Sua timidez havia sido arrebatada por um desejo muito maior, um sentimento muito mais forte. Talvez ela tenha se dado conta, graças a um homem, de que ela era realmente uma mulher. Naquela noite começou a sonhar, conheceu o luar, as estrelas, descobriu um céu maravilhoso e brilhante sobre ela. Descobriu que as palavras tinham sabor, e poderiam ser doces, prazerosas em sua essência. Tudo, apesar de novo, fazia muito sentido. De volta à realidade, a velha se viu sentada ao piano, tocando o último acorde daquela mesma música que tocava naquele dia, muitos anos atrás. Ao terminar parou por alguns segundos, imóvel. Sorriu. Percebeu que ainda era, sim, possível ser feliz. Até mesmo hoje, sozinha, tinha a sorte de ter com ela as suas memórias. O passado de felicidade e amor se tornava um alento para o presente cheio de dificuldades. Fechou o tampo de proteção das teclas do piano com a mesma delicadeza com que dedilhou a melodia, segundos antes. Era grata a ele. Levantou-se e voltou à sua cadeira, ao seu chá e, ao levar a xícara até a boca, percebeu quão fria a bebida se tornara. Aquilo fez com que ela fosse transportada novamente ao passado, este mais recente. Um dos dias mais tristes de sua vida. O dia em que Joaquim, seu companheiro em mais de trinta anos de vida, morrera. Ela podia sentir o clima lúgubre do velório, avistava muito claramente, ao fundo da sala, o féretro do marido, e sentia o gosto frio do chá servido pelas amigas tentando esquentar a sua dor. Balançou a cabeça e voltou à sua velha sala de estar. Sorriu novamente. Até mesmo as memórias ruins insistiam, vez ou outra, em visitar os seus pensamentos; cabia a ela, assim, tocar mais piano e cuidar de que o chá nunca esfriasse.

Gustavo Fontes Rodrigues São Paulo-SP - 59 -


1º Lugar Prosa - Maiores de 60 anos Prêmio Especial Octávio Pereira Leite

Identidade e CPF CPF vive o amargor em seu ponto máximo, talvez porque tenha nascido de um pai xucro e dono de uma mão muito pesada, o Bloqueio Judicial e da indiferente mãe Duplicata, que se limita a duplicar os castigos que o pai lhe dá, impostos à inocente irreverência de uma criança de nove anos, que vive fuçando em tudo, mas só encontra coisa velha e amarelada de um cartório, sem porta nem janela, onde o sol penetra por uma fresta solitária, e por onde CPF imagina, um dia, poder fugir. Desiste de mastigar papel mofado e vai emagrecendo a ponto de poder escapar, faceiro da vida, de braço dado com o amigo oculto, Passaporte, que o aguardava do lado de fora, saindo juntos para viver a vida. Como já tivessem quase dezoito, passam uns tempos na casa da tia Promissória, que vive na cidade de Registro, mas não chegam nem a esquentar a cama do quarto de visitas, por conta das taxas de luz, água e telefone que a mesma pretendia dividir com eles. Dali, vão cumprir o dever cívico e acabam fazendo um acordo bastante suspeito com o Certificado de Reservista, homem sisudo, portador de um nariz muito vermelho e agudo, ao que são imediatamente liberados, já que CPF fecha um dos olhos e não passa no exame de vista. Passaporte, idem, posto que seja dono de um tipo de sangue raro, meio azul, desses que não se acostumam em lugar nenhum, estão sempre viajando em busca da felicidade em paraísos fiscais e lavando dinheiro nos cassinos de Las Vegas, o que acaba levando-o aos braços da Casa de Câmbio - uma loira manipuladora de negócios obtusos - frustrando a amizade que tinha de longa data com CPF. CPF também se cansa da vida de solteiro e consegue, com Carta de Alforria - uma esquisita balzaquiana, - 60 -


cuja especialidade é encontrar pelo em ovo -, a libertação dos grilhões da Burocracia. Faz amizade com o Título de Eleitor, que o aconselha a pensar bem no seu primeiro voto - pelo menos no primeiro -, mas o que ele quer mesmo, de verdade, é eleger uma guria bacana, caráter ilibado, com dotes alfandegários e passe livre nas agruras da vida, portadora de vastíssimo coração, honesta e fiel, - coisa rara nos documentos de hoje em dia - e, com ela, ter uma penca de documentozinhos importantes, que não chorem à noite e nem colem na porta da geladeira a infinita relação dos Direitos da Criança. Como tivera sido criado praticamente na ausência de luz, CPF precisa comprar uns óculos de sol e o faz emprestando a grana de um agiota, dono de uma cicatriz adulterada, sendo obrigado a penhorar a única foto três por quatro que tem entre os pertences. Quando atravessa a Rua Dos Embargos, é atropelado pela Carteira de Motorista, uma sirigaita movida a uísque falsificado e cigarro clandestino, que dirigia alucinadamente, furando sinais, não acostumada a dar crédito nenhum aos Empréstimos Compulsórios, que perambulam pela região, enganchados no Juro e na Correção Monetária, um casal difícil de engolir. CPF acorda, depois de quatro dias em coma maisque-profunda e se apaixona perdidamente pela enfermeira, que atende pelo nome de Identidade, mulher exuberantemente morena, macérrima, porém elegante, portadora de profundos e maliciosos olhos, tão negros quanto os carimbos do Arquivo Geral. Dessa união nasce uma seqüência de documentos nunca dantes gerados, todos impecavelmente vestidos por Código de Barras, um alfaiate supimpa, mestre na plastificação de documentos, que acaba apresentando a família ao Cartão Clonado, sujeito estranho, com a cara cheia de números borrados, louco para arrumar um sócio. CPF e Identidade vão saindo, desconversando, de braços dados, como todo bom casal que se preza, pois tinham mais o que fazer. Renato Vieira Ostrowski

Campo Magro –PR

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2º Lugar

Prosa - Maiores de 60 anos Prêmio Especial Octávio Pereira Leite

O Retorno Oito dias e nove noites tinham-se passado. E ainda nítida a lembrança da sua última imagem, descendo a rua, virando a esquina, um pequeno vulto magro contra o crepúsculo sangrento, vagaroso, desaparecendo. Estava ainda se recuperando do acidente que quase lhe custara a vida semanas atrás, quando, nunca se soube como- um enigma, por tratar-se de um felino- caíra na lata de resina esquecida aberta na lavanderia. Entrara desesperado pelo vitrô, corria pela casa miando sua dor, agitando-se, tentando libertar-se do verniz abrasivo que cobria uma pata e parte da barriga. Tentávamos lavá-lo, mordia nossas mãos, escapava, voltava a correr miando enlouquecido sua aflição. Impotentes para ajudá-lo, liguei à veterinária, que ouvia os miados, sentia o desespero, não foi preciso explicar muito. Passava da meia noite. E o levamos às suas mãos competentes. Ficou internado poucos dias, mas que nos pareciam muitos. Miguilim já era então parte de nossas vidas. Voltou com as marcas da queimadura ainda incicatrizadas, mas semanas depois estava quase recuperado. O nome era uma dupla homenagem: a Guimarães Rosa, o escritor famoso, através do pequeno Miguilim, personagem da história homônima; e a ele próprio, nosso gato. Ambos tão carentes, tão necessitados da atenção dos humanos. Tinha chegado filhote, desmamado precocemente, daí o muito mimo, leite no pires chinês, colo pra cá, colo pra lá, dormindo onde lhe apetecesse, em cima dos armários, do piano e dos televisores, no sofá, até nas gavetas e camas quando o inverno vinha forte. Tanto dengo parecia ter resultado num animal meio felino, meio gente, sempre perto de alguém, no colo, no ombro, ao lado, fosse da casa, ou não, o importante era o calor humano. A bióloga explicava: - 62 -


-Certamente, viu alguém ao nascer, antes de ver mamãe-gata. Identificou-se com gente. Pensa que é também. Não sei se falava sério, pois ela ria ao explicar. Eu gostava de brigar com ele, -Bichano sedentário, a preguiça vai acabar com você... Colesterol vai bater na estratosfera, gato preguiçoso. O mundo está cheio de ratos, não vai caçar, não? Esquecia-me de que tinha havido um tempo em que caçava borboletas, gafanhotos, passarinhos... Tempo dos namoros nos telhados, dos longos miados, correrias, brigas terríveis, às vezes vencedor, às vezes derrotado, retornando ferido, pelos deixados pelos caminhos, até um pedaço da orelha numa noite em que a disputa se acirrara de tal modo que uma pobre gata tinha aparecido morta na garagem de casa, o útero exposto, vítima dos ataques dos gatos excitados. Miguilim era então um gato feliz nos seus domínios até que... Até que o cheiro impregnando a casa, cheiro de marcação de território, nos incomodasse a tal ponto, que decidimos pela castração. Engordou, tornou-se mais apegado a todos nós, mais sedentário. Dava pena vê-lo indiferente às gatas, não mais correndo pelos telhados enluarados, perdida aquela parte aventureira que o namoro lhe dava. Dei de me questionar sobre a castração... Se tínhamos buscado nossa comodidade ao preço da sua masculinidade. O desaparecimento, a sentida ausência, o incerto destino me faziam sentir culpada. Somos responsáveis pelos que cativamos, lembrava-me do Pequeno Príncipe. Expandi a reflexão, somos responsáveis pela integridade de todos os que tomamos aos nossos cuidados, inclusive de um gato sem raça definida. Os dias escorriam, Miguilim não retornava, procuramos na vizinhança, depois mais longe, muito mais longe, até que um veterinário amigo explicou, como querendo consolar, -Gatos se vão quando sentem a aproximação da morte. Não morrem em suas casas, vão para longe. Como - 63 -


os idosos de uma tribo americana que procuram uma colina para morrer sozinhos, não querendo entristecer a família com sua agonia. Também os velhos elefantes separam-se da manada. Imaginei Miguilim pressentindo a morte, aceitando humilde o destino, se afastando de nós naquele entardecer. Chorei imaginando quanto lhe teria custado a separação. Oito dias e nove noites tinham-se passado. Acordamos com os miados no quarto. Ali estava ele, pele e ossos, sujo, cheirando a carniça, miando sua alegria, fome, sede. Assim interpretamos. Imediatamente, o levamos à cozinha, ao leite, à ração, à carne, a tudo que se pode oferecer a um gato. E o cobrimos de afagos apesar do cheiro, da sujeira. Depois, dormiu no tapete, ao lado da nossa cama, felizes todos nós. Imaginávamos o que tinha acontecido: os dias escorrendo, a morte não dando o ar de sua graça (ou desgraça), crescendo o bom sentimento de que se enganara, a hora fatal não tendo ainda chegado, sendo preciso retornar à sua casinha adorada, às pessoas que ele amava. Então voltara sobrevivendo até de carniça encontrada em lixeiras. E na madrugada da nona noite, a chegada, o vitrô aberto, traduzindo a esperança da sua volta... E aqui continua, dorminhoco, sedentário e querido.

Maria Apparecida S. Coquemala Itararé–SP

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3º Lugar Prosa - Maiores de 60 anos Prêmio Especial Octávio Pereira Leite

Confissões Íntimas

A obediente senhora já estava na cozinha. Recatada,

sempre esteve ali cozinhando, nos quartos e sala, arrumando, espanando e arranjando, sem nunca ter tido uma auxiliar para ajudá-la nestas tarefas do dia-a-dia. Casarase com ele, não muito jovem, tendo sido mãe solteira na adolescência. “Menina vadia!”, comentavam uns,“menina, que menina o quê, mulher crescida, olha o corpo, vagabunda e ordinária, isto é o que ela é”, os mais cruéis. Sofrera, e muito, com os preconceitos. Fora caixa de banco. Nas sextas-feiras saía com os colegas para beber cerveja. Era cortejada, mas não gostou de ninguém. Só do antigo namorado, que a engravidou. E logo depois, deixou-a, pressionado pelos pais. Ela, então, arregaçou as mangas e foi à luta. Traumatizada, não namorou mais. Criava a filha sozinha. Num dos bares, conheceu-o. Não lhe escondeu nada da sua vida. Foi ele quem lutou para conquistá-la, fazendo-lhe promessas. Embora ela o considerasse um homem vazio de propósitos, embarcou. Deixou o emprego a seu pedido.

Com as suas infindáveis noitadas, amargou e comeu

o pão que o diabo amassou. Penou e ainda pena. Menos com a velhice dele. Restaram feridas. A filha não mora mais com eles ali, vive na Espanha. A casa vazia, respirando marasmo. Só ela e ele. Que não era nada. Nem marido, nem amante, nem companheiro. Pouco se falavam. Com o - 65 -


silêncio, nasceu apenas mais um mistério entre eles. Com a palavra, certamente, nasceria um abismo. Um peso morto. Vinte e dois anos mais velho. Ela sempre quisera ter uma vida mais feliz, mais confortável, uma velhice calma de diversões e passeios ao lado dele. Nunca os teve. Nem quando moços. Ele sempre dizendo que o dinheiro estava curto. Uma vida inteira. Gastava com bebidas, ela sabia. E com mulheres, talvez. Nunca vira. Ela nunca quis luxo. Nem mesmo sabia o que era luxo. Ele não se lixava, sempre na sua. Velho e bichado, mudou um pouco, deixando de beber. Ela, sempre sonhando, apegada aos seus santos, pedia que eles lhe dessem saúde, mais vontade de viver.

E um pouquinho mais: conhecer a Espanha e rever

a filha, que sempre lhe escrevia. Desejava começar a desfrutar a vida, que foi só de sofrimentos. Sair daquela execrável cidade, que ela detestava. Morar numa cidade com mar. Seria o primeiro passo. Sonhava que teria isto tudo. “Seria luxo poder viajar e morar com janelas voltadas para o mar? Quem sabe um dia!”-. Simplesmente sonhava em ter um pouquinho mais, além do que lhe oferecia o velho. Com ele, jamais teria isso. Era um acomodado. Ela talvez se achasse uma velha, não pela idade que tinha, mas pelo que padecia nas mãos do velho. Não pedia o amor dele, que durou pouco. E se cobrava:-Será que amei?

Se amou, não guardou lembranças. Era mais certo

que não. Procurava não se lembrar. Tinha coisas melhores para sonhar. Já o velho, que era um encosto, não merecia um sonho. Ele sim, precisava dela. Vivia amordaçada pela avareza do velho, que poderia ter, mas não oferecia. Enganava a vida com um homem também egoísta, às ve- 66 -


zes cruel e desconfiado. Não tinha amigas, os vizinhos não eram bem vistos pelo velho. Porém, achava que não era bem isto. Não tiveram filhos. Melhor assim,talvez os odiasse por terem parte do sangue dele. Como não os teve, evitava pensar nisto. Regozijava-se com a filha. Bastou-lhe a menina. Era dela, só dela. O pai, moleque, nunca a procurou e nem ela precisou. Hoje, agradecia a bondade de Deus por ter gerado a filha. Gozavam ambas de boa saúde, o que também lhe importava.

O velho levantava tarde, quebrava o jejum com uma

xicrinha de café e, pouco depois, almoçava e saía para a rua. Não se despedia. Doía nela o descaso. Seu único destino era uma velha casa que os pais lhe deixaram. Terrenaço, cercado por majestosos e caríssimos edifícios de apartamentos. Área nobre da cidade. Empresas de Engenharia oferecendo muito dinheiro e apartamento na planta. Ele, irredutível.

Debaixo de uma mangueira, onde seu pai construíra

um banco de cimento, ficava o velho a rememorar seus tempos de criança, adolescente e jovem adulto. A casa e o terreno serviam-lhe para recordações. A casa já não lembrava nada, visto o seu abandono: sem portas, sem janelas... um esqueleto de uma construção, outrora suntuosa. Seu pai fora um rico homem de negócios. Perdera tudo pela confiança que depositava nos empregados, que lhe roubaram tudo. Ficaram a casa e seu terreno. Ele, já casado e morando em outra cidade, perdeu os pais. Abandonado, o casarão tornou-se o que é hoje. Voltou, não para morar na casa, que já havia sido saqueada por mendigos. Cheirava à podridão. Alugou uma modesta morada e ali ia vivendo com a sombra daquela que nunca lhe foi vista como sua - 67 -


esposa, mas sim, como uma dedicada empregada de toda hora.

O banco, que tinha como encosto o tronco da árvore,

já não lhe oferecia o mesmo conforto. Pensava, naquela hora, em si mesmo e na velhice que lhe comia as energias e os movimentos: “Dói-me o corpo. As costas, coitadas, arqueadas, já não me servem. Sou eu que as aguento, elas não me suportam mais. Cheguei aqui porque sou teimoso com meus ossos e músculos. Como me tem custado essa teimosia. Foram anos e anos. Não nasci ontem, foi antes. Um outro dia. Nadei muito em rios. Era forte como um touro, dizia mamãe orgulhosa. Não pensava em nada, tinha tudo. Perdi-me em outro lugar e me fiz encontrar num casamento, que logo depois fracassou. Mamãe havia rechaçado: “mulher com filho?, meu filho”. Ela chorou no dia. Talvez, também, por um tiquinho de ciúmes. Nunca quis que eu saísse de casa. Papai, mais recatado, só felicitou-nos. Não disse mais nada. Fechou-se em copas. Enfrentei. Eduquei filha que não era minha. Virou moça, sumiu. Alegrava a casa com suas amigas. Depois, quando abri os olhos, era tarde demais. Casa vazia, só eu e a mãe dela. Jovem, eu sonhava colorido. Tudo muito fácil para mim. Depois, vivi no escuro da vida que eu não sabia ser escuro. Alcoolizei-me. Casei, mas não me emendei. Podia ter continuado sonhando colorido, ao lado dela. Não sonhei porque não quis. Tinha tudo pra ser sempre colorido. Ser mais homem, responsável e humano. Agora é tarde, estou velho. Não tenho mais o direito de sonhar. Nem colorido nem escuro. Velho não sonha, espera a morte. Com ou sem sofrimento. Feliz daquele que não sofre. Mamãe morreu sofrendo. Cirrose. Papai, não, morreu forte. O que - 68 -


aconteceu? Desaparecemos um do outro. Mamãe morreu envelhecida, carcomida, apesar de relativamente jovem. Foram-se, como um dia eu vou. Estou indo, Deus me chama. É só chegar a hora, que não sei qual. Estou lúcido, ou será que não? Acho que é agora. Tenho lembranças de meu rosto quando jovem. Vou descobrindo o tempo em que não me fiz. Fui bonito, de olhos azuis. Mamãe se encantava. “Azul do céu”, dizia.

Lembro-me disso. Deixava as mulheres alucinadas.

Namorei muito, recordo-me de todas. Não tenho mais ninguém de sangue. Não tive irmãos. Ultimamente, tenho chorado muito, ou um pouco a cada dia. Escondido. A velha árvore, vejo, ainda está saudável, dando uma sombra refrescante. E como é velha esta árvore! De tantos anos. “As mangueiras duram muito”, dizia papai.

Como

eu chupava mangas, lambuzando-me! Mamãe ralhava, me passando uma toalha molhada no rosto. Dormia arrotando mangas. Às vezes, com dor-de-barriga. Mamãe ficava na cabeceira da cama contando histórias. Trabalhava na casa o dia inteiro, fazendo comida e ajeitando a casa. Gostava de tudo limpinho. E, à noite, ainda tinha tempo pra mim. Papai dizia que empregada em casa é pra xeretar. Mamãe queria. “Absolutamente, não“, dizia. Cresci ouvindo mamãe insistindo nisso. Papai não arredava pé. Sinto dores, preferia não estar aqui. Em qualquer outro lugar, não aqui. Estou segurando as palavras. Mesmo pensando, não quero pensar. Impossível evitar, é só tristeza. Saudade, de que? Fui sozinho de irmãos e estou sozinho casado. A minha vontade é ir embora, voltar pra casa. Mas como?, não tenho forças. Gostaria de morrer feliz, mas as palavras ainda me atormentam. Estou perdendo o pouco das forças que - 69 -


me restam. Ninguém aguenta pensar a mesma coisa por muito tempo, muito menos eu. O meu corpo está doído. O sangue também. Não sou mais a criatura viva desta carne. Acho que dormi um pouco, talvez tenha sido muito. Eu poderia ter vendido este terreno, não há mais casa. Pedaços. Ruínas. Onde está o pomar? Morreu, como tudo na vida. Esperei demais, achando que minha mulher ia primeiro. Não posso morrer pensando assim. De que adianta negar. Eu sou o que sou. Insensível? Talvez. Queria morrer segurando a mão dela, vê-la chorando, agarrada a mim. Horrorizada por me perder. O homem bonito de olhos azuis. Não vai ser possível, estou confuso. Estou pensando e me preparando. Este meu corpo, não encontro energias pra levantar.

Tenho a impressão de que estou secando Tudo acon-

tece muito rápido. Só quero estar pronto. Não sei definir como é estar pronto para morrer. Vou morrer aqui mesmo. É muito estranho. Deus quer assim...”

Levaram o corpo do velho para casa. Ela fingiu pa-

vor. Descabelou-se. Era preciso. A vizinhança repara tudo. Espreitam. Comentam. Tomam conta de tudo. Vigiam até pelas gretas das janelas, atrás das cortinas. Telefonou para a filha, comunicando. Encomendou flores para o velório. Vestiu luto. Unicamente pelos olhares maldosos. Poucos foram, uma mixaria de gente. Nenhuma surpresa, achou bom. Viram que ela chorou. “Piedosa mulher”. “Santa mulher”. A vida havia lhe ensinado: “fui mãe solteira”, pensou. Odiou a todos, os de ontem e os de hoje. Achou que cumpriu o papel. Cansada, recostou-se na cama, não sem antes lavar as mãos: “gente xexelenta!” Agradeceu a Deus e aos seus santos. Ficara livre dele. “Vai-te, merda, te esconjuro”! - 70 -


Achou a frase pesada. Estaria pecando? Pensou e

achou que não. Nunca conhecera a felicidade. Sim, um pouco, quando nasceu a filha. Chorou sorrindo. Dormiu e sonhou com ele, era natural. Anos de convivência e de sofrimento. Não levantou cedo. Quando acordou abraçou-se por ele já não estar mais ali. Sentiu uma sensação diferente. A princípio, estranhou. Acostumaria, com certeza. Preparou um cafezinho qualquer. Foi aos quartos. Espantou-se por não haver mais sinal de bagunça. Suspirou profundamente. Teve uma sensação de liberdade. Remoçou. Lembrou-se de cantar. Não sabia cantar. Nem as antigas. Esquecera as letras. “E a música, como era mesmo?” Deixou pra lá. Tinha o que fazer. Trocou o luto por um vestido cinza. Suspirou de novo, mais profundamente. Sentiu-se bem. Procurou pelo catálogo. Ligou para a Imobiliária. Resoluta, depois de anos. Colocou a velha casa e o terreno à venda. Levitou.

Luiz Alberto de Almeida Magalhães Belo Horizonte- MG

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Presidentes e diretorias da Academia de Letras dos dias atuais até sua fundação em 1971 Lucelena Maia Francisco de Assis Carvalho Arten Maria Célia de Campos Marcondes Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira Maria Aparecida P. Mangeon Oliveira - três gestões Maria Célia de Campos Marcondes José Edgard Simon Alonso Wildes Antonio Bruscato Octávio Pereira Leite - três gestões Dom Tomás Vaquero - três gestões

Biênio 2013/2014 PRESIDENTE- Lucelena Maia 1º VICE-PRESIDENTE- Antonio Carlos Rodrigues Lorette 2º VICE-PRESIDENTE - João Sérgio Januzelli de Souza 1º SECRETÁRIA- Silvia T. Ferrante Marcos de Lima 2º SECRETÁRIA- Maria Candida de Oliveira Costa 1º TESOUREIRO- Lauro Augusto Bittencourt Borges 2º TESOUREIRA- Vânia Gonçalves Noronha 1º BIBLIOTECÁRIO- Maria Célia de Campos Marcondes 2º BIBLIOTECÁRIO- Antonio “Nino Barbin CONSELHO FISCAL Donisete Tavares Moraes de Oliveira Luiz Antonio Spada Ronaldo Frigini Biênio 2011/12 PRESIDENTE: Francisco de Assis Carvalho Arten 1º VICE PRESIDENTE: Vedionil do Império 2º VICE PRESIDENTE: Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira 1º SECRETÁRIO: Gilberto Brandão Marcon 2ª SECRETÁRIA: Sílvia Tereza Ferrante Marcos De Lima 1º TESOUREIRO: Lauro Augusto Bittencourt Borges 2ª TESOUREIRA: Sônia Maria Silva Quintaneiro 1ª BIBLIOTECÁRIA: Maria Célia de Campos Marcondes 2ª BIBLIOTECÁRIA: Gilda Magalhães Nardoto CONSELHO FISCAL

Donisete Tavares Moraes Oliveira José Rosa Costa Luiz Antônio Spada - 72 -


ACADÊMICOS NA ATUALIDADE Antônio “Nino” Barbin

José Carlos Sibila Barbosa

Antônio Carlos Rodrigues Lorette

José Rosa Costa

Antônio de Pádua Barros

Lauro Augusto Bittencourt Borges

Beatriz Virgínia C. Castilho Pinto

Lincoln Amaral

Carmen Lúcia Balestrin

Lucelena Maia

Carmen Lia Batista Botelho Romano

Luiz Antonio Spada

Celina Maria Bastos Varzim

Maria Cândida de Oliveira Costa

Clineida Andrade Junqueira Jacomini

Maria Cecília Azevedo Malheiro

Décio Teixeira Noronha

Maria Célia de Campos Marcondes

Donizete Tavares Moraes Oliveira

Maria José Gargantini Moreira Silva

Ernani de Almeida Paiva

Nege Além

Francisco de Assis Carvalho Arten

Neusa Maria Soares de Menezes

Gilberto Brandão Marcon

Plínio de Arruda Sampaio

João Baptista Scannapieco

Ronaldo Frigini

João Batista Gregório

Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira

João Batista Rozon

Silvia Tereza Ferrante Marcos de Lima

João Otávio Bastos Junqueira

Sonia Maria Silva Quintaneiro

João Sérgio Januzelli de Souza

Vânia Gonçalves Noronha

Jorge Gutemberg Splettstoser

Vedionil do Império

José Benedito Almeida David

Wildes Antônio Bruscato

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