Antologia do XXX Concurso Literário de Poesia e Prosa

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DE POESIAEPROSA

-3XXXCONCURSOLITERÁRIO
2022

FICHATÉCNICA

DIAGRAMAÇÃO niMoreiradaSilva

REVISÃOGRÁFICA lhoPin

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NeusaMariaSoaresdeMenezes ARTEDACAPA ECOSExposiçãoComunicacão REVISÃOTEXTUAL MariaJoséGargan
BearizVirgíniaCamarinhaCas
o COORDENAÇÃOGERAL NíveaPoliBarbosa

PALAVRADAPRESIDENTE

Depassoempasso,eseConcursoquenasceu midoeresrio, divulgadopormeiode olheosenreguesdemãoemmão,chegaàsua rigésimaedição,comnúmeroexpressivodeinscriosealcanceinerna cional.Sobreudo,esaArcádiacelebraagoraos rinaanosdeconança deposiadapelosconcorrenesquelhe êmencaminhadoseus rabalhos, bemcomoos rinaanosdededicaçãodeacadêmicosdispososajulgar os exos,arevisá-los,aediá-loseacoordenarospassosdocerame.

Tudoisso azdoConcursoLieráriodePoesiaeProsadaAcademiadeLe rasdeSãoJoãodaBoaVisaumaconsruçãocoleva,empreendidapor muiasmãos–pormilharesdelas.

ÉumahonraqueoXXXConcursoLierário enhacomoparono oacadêmicoVedionildoImpério,hábilnacrônicaenaaredaironia. Advogadopor ormação,égrandeconhecedordalínguaporuguesaede enordevasaculura, endoauadopormuiosanoscomoproessor volunáriodePoruguêsdeinúmerosalunos.Desde1998ocupaaCadeira n°41,paraaqualescolheucomoparonooescriorLimaBarreo.

Buscandosuperarodesaoenrenadopelasinsuições culurais–maner-seavaeauaneperaneasociedade–,esaArcádia emcuidadonãosódeoerecerevenosaopúblico,mas ambémdepro moverumConcursoLierárioquedáespaçoàsdierenesvozesdeseu empo.Sãoescrioresdegerações,localidadeseculurasamplamene diversicadas,oque azcrescerariquezalieráriaeoprazerdaleiura. PoreseConcursoperpassamosmaisvariados emasqueimpacamo homemconemporâneo–doença,miséria,guerra,meioambieneepo líca–aoladode emasaemporais,comoamoreamizade,alegriase dores,esperançasecrenças.

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Cumprimenoaospremiadosea odososparcipanesdoCon curso,incenvando-osamanerem-se rmesnopropósiodeescrever. InvocandoCamões,lembro-lhesqueaobralieráriaexige“engenho eare”.Ouseja,queainspiraçãodeveseracompanhadadoexercício daescria–aoqueacrescenaríamosanecessidadedaleiuradebons modelos.

Agradeçoàsconreiraseaosconradesque,comseumeculoso rabalho,colaboraramparaoêxiodoXXXConcursoLierário:àComis sãoJulgadora,àcoordenadoraNíveaPoliBarbosa,àrevisora exualMa riaJoséMoreiraeàdesignergrácaNeusaMenezes,responsávelpela diagramaçãodaAnologia.

Àsleioraseaosleiores,auguroumbompasseioporesaspági nasque,emdiereneseslos,oerecemdiereneshisóriaseemoções, apermir-lhesexperimenarourossenmenosevivernovasvidas.

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BearizCastlhoPino Cadeiran°31 Parono:PauloSeúbal PresidenedaALSJBV

Oinasmoaávico, undamenadonoIdealismo,desvinculao conhecimenohumanodomeioepregaasideiascomoanerioresàex periência.Aravésdadialécasocráca,comaironiaeamaiêuca,oes mulodesabrochaaessênciadoindivíduo,emummovimenodeaporiaepiseme.

Odualismocorpo-alma,noenendimenoplaônico,reorçaaTe oriaInasa.Comamoredocorpo,aalmaascendeaomundoineligível econemplaasideiasverdadeiras.Aoreencarnar,esquece-as.Cabeao homem, reneaosesmulosambienais,recordá-laseapereiçoá-las.

MesmonocécoDiscursodoMéodo,RenéeDescaresassume aexisênciadeideiasinaas.Conrariameneà losoaescolásca,oina smocaresiano, undamenadonoRacionalismo,éapredisposiçãopara oconhecimeno,nãomaisaqueleconhecimenoadormecido.

Deenconroà eoriaprimordial,oempirismoarisoélico,anco radonaconcepçãoambienalisa, xaaexperiênciacomo aorimpres cindívelparaaaquisiçãodeconhecimeno.Oesmulo orna-seaprópria experiênciaeesasemoldaemconhecimeno.Pelaobservaçãode enô menosempíricos,ohomeminduzprincípiosgerais(doparcularparao universal)e,poseriormene,deduz(dosprincípiosgeraisesabelecidos paraoparcular).Aaquisiçãodeconhecimenoéaquioresuladode indução,observaçãoededução.Asideiasnãosãoinaas.

JohnLockereomaArisóelesesugereamenehumanacomo uma ábuaraspada(“abularasa”),uma olhaembranco,deconeúdo zero,aparrdaqual,comexperiênciasinernaseexernas,asinormaçõescapadaspelossendoshumanosvãosendogravadas.

“Inmediovirus”,avirudeesánocenro,jánosadveraVirgílio

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PALAVRADOPATRONO

SegundoJeanPiage,oconhecimenonãonascenosujeionem noobjeo,massimnaineraçãoenreosujeioeoobjeo.Aaprendiza gemdeveocorrerem odososambienes,comesmulosoriundosde educadores, amiliareseouroscomponenesdasociedade.

Sobqualquerópca eóricadeaprendizagememéododeensi no,acondiçãosinequanon,noprocessodeaprendizado,éoesmulo. Sejapararesgaarideiasaávicas,paradesperarideiasadormecidas,para moldarconhecimenosabsraos,paraseraprópriabasedoconhecimen ocomoesabeleceoEmpirismo,ouapenasparamediaraineraçãosu jeio-objeo(undamenodaaquisiçãodeconhecimenodoIneracionis mo),anecessidadedeesmuloéconsenso.Desa orma,aAcademiade LerasdeSãoJoãodaBoaVisacumpreseupapel,promovendoeducação eesmulandooaprendizado.

Obinômioesudo-aprendizadoéocaminhoseguroparaaevolu çãopessoal,social,prossional, nanceiraeespiriual.Faciliarachegada aodesnoassiseanós,enquanoeducadoresesociedade,mormene pelo aodeocaminhoporquesechegaaodesnoser oruoso,repleo dearmadilhassociaisdonossopaís.Agradeçopor azerparedese raje oe aciliarachegada.

VedionildoImpério Cadeira41

Parono:LimaBarreo ParonodoXXXConcursoLierário

-8(Vergilius).E,nocenro,vemaconcepçãoineracionisa,segundoaqualo conhecimenoéproduzidopelaaçãodohomemsobreomeioedomeio sobreohomem.Omeioé ormadodeesmulos sicosdosobjeose deesmulossociaisdasrelaçõesinerculurais.NaTeoriaIneracionisa SocioconsruvisadeVygosky,ohomemseconsuinaineraçãocom omeionoqualesáinserido,nãoapenasinernacionalizandoas ormas culuraisquerecebedomeio,mas ambéminererindoeas ransor mando.

PALAVRADACOORDENADORA

Háquaroanos,venhoexercendoocargodeCoordenadorado ConcursoLierárioPoesiaeProsadaAcademiadeLerasdeSãoJoãoda BoaVisa,oque oi,paramim,umahonrae ambémumaoporunidade deconhecer anaspessoas alenosasdessenossopaís,bemcomode ourasparesdomundo.Escriores(as)quebuscamnaslerasamelhor ormadeseexpressareme,usandoaspalavrascommaesria,vãocriando exosqueenvolveme ransporamosleioresaumaourarealidade, avandoaimaginaçãodianedoespaçoqueoscerca.

EsamosnoXXXConcursoLierário,eesaAnologiaéaprova doesorçoedaresponsabilidadedesaArcádia,quesempre eveolhose dedicaçãovoladosaenaleceralínguaporuguesa.

Tivemos,eseano,umnúmerorecordedeinscrições,1.145(um mil,cenoequarenaecinco),vindasdeváriasparedoBrasiledeouros países,comoPorugal,Bélgica,Irã,EsadosUnidos,SuéciaeCanadá.Foi umgrandesucesso!

AgradeçoàconreiraMariaJoséGarganniMoreiradaSilvapela revisão exualdasobrasvencedoraseaoscolegasacadêmicosquesedis puseramacolaborarcomojulgadoresdos exosanósencaminhados.

Obrigada,conreiraNeusaMariaSoaresdeMenezes,pelasuadedicaçãonadiagramaçãodanossaAnologia.

MeusinceroagradecimenoaoconradeVedionildoImpérioque, genlmene,aceiounossoconvieparaseroParonodeseConcurso Lierário.

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Parabénsaospremiadosea odososqueenviaramsuasobras. Connuemescrevendoeacrediandoemseupoencial,pois“enhoem mim odosossonhosdomundo”(FernandoPessoa).

EmnomedaAcademiadeLetrasdeSãoJoãodaBoaVista,agradecemosacredibilidadequedeposiaramemnosso rabalho.

NíveaPoliBarbosa Cadeira35 Parono:CasimirodeAbreu CoordenadoradoXXXConcursoLieráriodePoesiaeProsa

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POESIA

PrêmioEmílioLansacToha

EmílioLansacToha(1897-1984),umdos undadoresdaAcademia deLerasdeSãoJoãodaBoaVisa,eraexímiosonesae,como al,empresaseunomeaoPrêmioLieráriopromovidopelainsuiçãonamoda lidadedePoesia.

NauraldeSãoSimão/SP,EmílioLansac ormou-seemConabili dadeeemDireio.FundouoInsuoComercialeauoucomoproessor ulardeDireioComercialnaFaculdadedeCiênciasConábeiseAdmi nisravas(aualUniae)enaFaculdadedeDireio(aualUnieob)deSão JoãodaVisa.Foidireordosjornais ACidadedeSãoJoão e OConstucio nalisa,bemcomoredaordosjornais OMunicípio e AEvolução.EmSão Paulo, undouojornallierário OColibri.Foidireoreredaor-cheeda revisa Crepúsculo eda RevisadeConabilidade.Colaborouem odosos jornais, endo-sedesacadonoperíododaRevoluçãoConsucionalisa de1932.Foimembrocorrespondenedeacademiaseinsuiçõesculuraisde odoopaís.

Publicouoslivros Enardecer (soneos), Mensagem,Remanso,Vi gíliade ernura,Todoscanamsua erra,Cânarovazio,Anologiapoétca e Verbena.Quando aleceu, nhaourosdoislivrospronosparapublica ção: Aclive e Músicaaolonge,eseúlmocomsoneosoriginais.

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PrêmioOcávioPereiraLeie especialparaauores60+

OcávioPereiraLeie(1902-1989) oiumdos undadoreseprin cipaisorganizadoresdaAcademiadeLerasdeSãoJoãodaBoaVisa. Foiseupresidenepor rêsgesõesconsecuvas,de1981aésuamore. Escriorinspirado, eveseunomearibuídoaoPrêmioLieráriodesnado aosmaioresdesessenaanosdeidade,sejaemprosaoupoesia.

PereiraLeienasceuemBananal/SP.Exercendoaavidadede carorário,residiuemMogiMirim,onde ambémcolaboravaemjornais, eemSãoJosédoRioPardo,cidadeemquechegouapreeio.Mudou-se paraSãoJoãodaBoaVisa,ondeauoucomo abelião,redaordojornal ACidadedeSãoJoão evereador.FoiaindacoundadordaSociedadeCul uraldeDebaesedoServiçodeAssisênciaSocial,alémdepresidenedo RoaryClube, endorecebidoo ulodecidadãohonoráriosanjoanense em1967.

Éauordoslivros SoboscéusdaEuropa,Velhaspáginas, ONordese ea Amazônia e Minhasmemórias,alémdeobras écnicas.

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COMISSÃOJULGADORADEPOESIA

BearizVirgíniaCamarinhaCaslhoPino CarmenLiaBasaBoelhoRomano JoãoBasaRozon LuizFernandoDezenadaSilva MariaCândidadeOliveiraCosa MariaCeciliaAzevedoMalheiro

MarlyTerezinhaEsevamdeCamargoFadiga MariaJoséGarganniMoreiradaSilva SilviaTerezaFerraneMarcosdeLima SoniaMariaSilvaQuinaneiro

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PrêmioEmílioLansacToha

Até12anos

1ºlugar-“Senmenosruins”-AnaLauraToledoBeo-SãoJoãodaBoa Vista-SP

2ºlugar-“Todacriança”-BearizHelenadeOliveiraPan-SãoJoãoda BoaVista-SP

3ºlugar-“Amizade”-DandaraMore Braz-SãoJoãodaBoaVisa-SP

De13a18anos

1ºlugar-“Divórcio”-AnaLuísaAmorimQueirozMarquesdaCruz-Rio deJaneiro-RJ

2ºlugar-“Amizade”-MarianaColleonePeneadoSaveli-SãoPaulo-SP

3ºlugar-“Liberdadenaleiura”-AnaClaraCabraldeCarvalho-São Paulo-SP

De19a39anos

1ºlugar-“Meninaàbeira”-SauloLopesdeSousa-Imperariz-MA

2ºlugar-“Omardevidro”-GabrielaLagesVeloso-SãoLuís-MA

3ºlugar-“Mundomoderno”-VíorAparecidoPereiradaCosa-Barueri -SP

De40a59anos

1ºlugar-“Oriosoueu”-AlineBrasilQuadros-VolaRedonda-RJ

2ºlugar-“Chuvas”-MoisésSelvaSanago-PoroVelho-RO

3ºLugar-“Todasascores(deRosa)”-Arnaul L.Dias-PraiaGrande-SP

PrêmioEspecialOctávioPereiraLeite

60+

1ºlugar-“Tricô”-NeyJorgeCampello-LaurodeFreias-BA

2ºlugar-“Coneor”-MárioLuizFerrazAraújo-Mairiporã-SP

3ºlugar-“Todososmeusversos”-AdelgícioRibeirodePaula-Franco daRocha-SP

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POESIA:TEXTOSVENCEDORES

Sentmenosruins

Esoucansadadesereu.

Esoucansadade ervergonha.

Esoucansadadenãogosardomeucorpo.

Esoucansadademesenrinerior.

Esoucansadadenãoconseguir alar, deguardar udoparamimeexplodirdepois.

Esoucansadadesenropesodascoisas, comasquaiseunãodeviapreocupar-me.

Estoucansadademeimportarcomquemnãomerece, pois,mesmosabendo,eumeimporo.

Esoucansadademeachar eiaeesranha, quandonaverdadesouboniaelegal.

Esoucansadademeacharburra, quandonaverdadesoumaisineligenequemuiosouros.

Estoucansadademecompararcomosoutros, mesmosabendoquesomosúnicos.

Esoucansadadesenrinvejadeourasmeninasenãoviverminhavida.

Esoucansadade car risepornãoserconvidada quandonemmesmogosodequem oi.

Estoucansadadetentarseraceita porpessoascomquemnemgosode alar.

Esoucansadadeligar ano quandonãodevianemmesmopensarnisso.

-151ºLugar Poesiaaté12anos

Esoucansadade ngirseralguémquenãosou.

Esoucansadadevesrpersonagensquenãosãomeus

Esoucansadadeserinseguracomigomesma. Estoucansadademepreocuparcomoqueosoutrospensamenão minhaopinião.

Esoucansadadesóvermeusdeeiosenãominhasqualidades.

Ninguémépereio,muiomenoseu.

Somosbonioseineligenes,mesmonãoenxergandoisso. Eusou eliz,mesmonãopercebendoàsvezes.

Somosúnicoseissoéoqueimpora. Avidadeveseraproveiada,nãoineliz. AnaLauraToledoBeto SãoJoãodaBoaVisa-SP

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Todacriança

Todacriança em:

Umbrinquedo avorio Direitodesercuidadaeprotegida Umaproessorapreerida Umamigopor odaavida.

Todacriançagosa:

Debrincardecabaninha Edemamãee lhinha Fazerbolinhadesabão Terbichinhodeesmação.

Todacriançaquer:

Ganharbrinquedonoaniversário Dormirnacasadaavó Comerdoceescondido Fazerumnovoamigo.

Todacriançaprecisa:

Deumdiadesolparanadar Umquebra-cabeçaparabrincar Lápisdecorparapinar Aquarelaeuma elaparacriar.

-172ºLugar Poesiaaté12anos

Todacriançasonha:

Comerboloaédoerabarriga Esourarummonedebexiga Casanaárvoreparabrincar Comosamigosviajar.

Todacriançamerece:

Recebercarinhoeaenção Serportodosrespeitada Terboaeducação Sersempremuioamada.

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BearizHelenadeOliveiraPan SãoJoãodaBoaVisa-SP

Amizade

Nãohápalavrasparaexplicar Comosãoosamigosverdadeiros. Nãohámaneirasdese alar Quemdiriadescrevê-los.

Háamigosmaisesperos Tambémosquepodemmais Háaquelesmaisaberos Eosque êmváriosanimais.

Háamigosmaispacienes Queaconselhamsempreagene Háaquelesmaisineligenes Quepara udousamamene.

Naamizadenãoexistepreconceito Nãoimporaoseujeio Sóamorerespeito Enela odomundoéaceio!

DandaraMoretBraz SãoJoãodaBoaVisa-SP

-193ºLugar Poesiaaté12anos

Divórcio Paisseparados

Doispresenesdeaniversário

Dois“FelizNaal”adianados

Dois“FelizAnoNovo”arasados

DoisovosdePáscoa

Duasmenrasemprimeirodeabril

Duashisóriaspodemserconadas: Amenra

Emqueos rêsseabraçamnasala elizespelaconquisadamenina Eaverdade

Emqueameninasedeitanochão Sozinha

Semninguémparabenizando-a Por rardez No rabalhodesolidãorepenna.

AnaLuísaAmorimQueirozMarquesdaCruz RiodeJaneiro–RJ

-201ºLugar Poesiade13a18anos

Amizade

Amizade,aquelaque eenrolaedesenrola Aquelaqueesásemprenoralaerola.

Cabeludaounão,sempreseráminhairmãdocoração Minhaprimadeconsideração.

Amizadeéserlealenuncadesisr Amizadeéinsisrenuncadeixarir Amizadeéredimiresempredescontrair Amizadeésedistrairnopiormomento

Amizadeésabersealegrarcomasviórias, massaberchorarjunocomasderroas. Àsvezes,aamizadesignicaamara“mócoa”, masdeixarirsemnenhumaderroa.

Amizadeécomoasesrelas,mesmolonge,elasbrilham.

Amigossãoaquelesque emolhame eacolhem Aquelesque êmacoragemde econaraverdade. Émelhorandarcomumamigonaescuridãodoquesozinhonaclaridade.

Amizadesnãoprecisamserpereiasesimverdadeiras Amigocomecongona renedageladeira Nadavalemaisdoquever-eajudandoumamigo Aquelequeesásemprecomigoémeuabrigo.

MarianaColleonePeneadoSaveli SãoPaulo-SP

-212ºLugar Poesiade13a18anos

Liberdadenaleiura Emumavidadecriança

Aleiuranãosóexise Ela ormaedesenvolve Alémdisso,envolve.

ViajamoscomWilliamShakespeare PasseamoscomMachadodeAssis Pensamosnospersonagens Eimaginamosasimagens.

Naverdade,quandocriança, Aúnicacoisaqueseouve Sãohistóriasdemontão Porquesóimporaadiversão.

Masquandoadolescene Ascoisasmudam. Paraquemnãogosa, cachao E,paraouros,umapedranosapao.

Édicil erpersisência Poiséalgoqueseconquisa Mascomumesorçodiário Criamosalgoexraordinário.

-223ºLugar Poesiade13a18anos

Começamoscomosgostos Depoisvêmasdesculpas Àsvezesparanãoler Valeaéseesconder.

Édicilescolher Qualgênerosevailer Com anasopções Nossacabeçaviramilconusões.

O empovaipassando Easpreerênciasvêmchegando Nãosãosómaisescolhas Sãohisóriasemdiversas olhas.

Aleiuraéimporane Uns camreluanes Masquemsededicadeverdade Descobrealiberdade.

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I

Seudesnopôsnorio, água urvamordeopé. Embruiadoemassobio, dameninaMarizé.

Noie unda, oiprincesa, anasiamãenacama. Mas,decor, nhacereza: seucaseloeradelama.

Noraiar,demanhãzinha, vozpequena,erouca,diz: “Seprincesaouraĩa, quéremaiésê liz!”.

II Aodescerdaribanceira, elasabe,moraorio, quebeliscababaneiras, eiomoçaempeioril.

Eladesce,já aceira. No erreiro,aveembando. Mãenotachodadoceira, Osirmãos,passarinhando.

Meninaàbeira

-241ºLugar Poesiade19a39anos

Vaidescalça–nemseimpora!–Temcosume;éda erra. Lásedeia,livree ora, nobarrancodoBoiberra.

III Rioseachega,moia,lima; eimaovenonovesdo. Esrada,d’ôipracima, compezinhoencoído.

Tembravezaessamenina; numassombra arrincão! –Tealevana!Embruiaasina, ánahoradacanção: “Ó,riolargo!Ó,rio undo! Lev’im eusredimoĩos meudesno,barco-mundo. Levaosonhoqueadivĩo.”

IV Marizé,então,sumiu odaela,na undura. Eseusolhosdenavio aundaramcom ernura.

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SauloLopesdeSousa Imperariz-MA

Omardevidro

Em ua riae undalâmina, encontram-semistérios escondidos,omedodo conronocomverdades oculas,ou,quemsabede, simplesmene,perder-se.

Tuaduraáguarefee eencantaosNarcisos, levando-osaoeerno desconenameno. Teulume riorevela a eraineriorque,em vão, ena-seesconder.

Espelho,ésopoçomais proundoqueexise. Emumasómirada aravessasasbarreiras do empoedavida. Mágico,sombrioou verdadeiro,apenas, ésummardevidro.

GabrielaLagesVeloso SãoLuís-MA

-262ºLugar Poesiade19a39anos

Mundomoderno

Acordo

Olhosnocelular

Nocaçõespeloar Pincelando

As(pa)redessociais

Nociasredundanes Regurgiadasem ormadenovidade Nadarealmenerelevane Paraquesonaravonade

Deserauômao

Apósodesaogoinempesvo Prevalecemasdisrações Dosescavalaresdedopamina

Para ngiresarvivo Perpetuandoasina Dehumanocorrosivo

Duraneo édiodasocupações Umdevaneiodeummundoirreal

Ahsepudéssemosviverdealienaçãoepoesia

Comoseresplenamenelivres Quesenuremdecriavidade Porémsomosprisioneirosdasobrigações Docorpoedomeio Nãoháalegorias

-273ºLugar Poesiade19a39anos

Paraamenizaraágua ria Alouçanapia Nãohálieráriabeleza Nasroupassujas Amonoadassobreamesa Éprecisosalário Parapreencheroarmário Nemomaissoscadoverso Podeconseraroadverso Opneu urado Acontaatrasada Oalimenoesragado Atomadaqueimada Apoeiraacumulada Muitomenos Celesaisrimas Podemcurarcealeias Apenasumabelaideia

Nãoécapazdedesobsruir Umaartéria entupida Nomundomoderno Opoeasedesboa Torna-seumestranhodentrodesi Quandopercebe Quearealidade Esóoqueexiste Mesmoassimeleinsise Semenenderomovo Doseucoraçãoconoavo

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Antesdeadormecer

Maisumaespiadanavidaalheia

Nas elasiluminadas

Vidas ransiampelasmesmas eias Enquantomaisumpoema (Re)nasce

Apesardocecismodosisema.

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VíorAparecidoPereiradaCosa Barueri-SP

Oriosoueu

Vejoacorrene,crisalina, Emmovimenoconsane. Nuncaamesmaágua Éaquerefeemeusemblane. Nuncaomeurosto Éomesmo,ali,exposo. Eueorionãosomos,estamos Orioeeusempremudamos. Sechegoàsuabeiraagora Nãosoumaisquem uiourora. Semolhomeuspésnacorreneza Nãoéoriodeanes,comcereza... Ascurvasquevãosurgindonocaminho Trazem olha,for,pedra,espinho... Seguimos,orioeeu,nossajornada Quevaidarnomar,oudaremnada...

Sóháum aoqueédenivo: Quemdeuinícioaesapoesia Talqualorio,semodicou Ejánãosevêmaiscomosevia...

AlineBrasilQuadros VolaRedonda-RJ

-301ºLugar Poesiade40a59anos

Chuvas

Chuvasamazonensessão rias

Casanheirasimensasseusbraçosesendemem osumedecidos

Deslizamem onsdemarronsdoscaulescomomolhadasesrias Mulascinamolharesenverdecidos

Chuvapernambucanaémorna

Coqueirossorridenesbailamaplumagemcomoseresalados

Reservamauerinaáguanococoquedeboaadoçaeadorna Mulalimenaolharescalados

Asamazonensessãoroneiras

Orquídeasexibemplumagens ão rágeisdeodoresluxurianes Laçamriossinuososelargosemáguasiguaisa eias eseiras Muldesaamolharesfuuanes

Apernambucanaéesperada

Cacospacienesdegusam elizesagoadagoaemmuiosespinhos Ávidoeáridooserão oloseguebebendoesugandoo udoeonada Mulenriseceolharessozinhos

Aquelassãoreumbanes Trovõesensurdecemecereiroéomedodomais elcoração

Torrencialmeneenvolvemmilvidascomoimponene urbane Mulexasiamolharesdeemoção

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2ºLugar Poesiade40a59anos

Aoutraéesparsa

Relâmpagosemfashesproclamamnoazulo mouravezdos risesesos

Descobre-serevoladoanoapósanoqueasecaenriquecedopolícoa arsa

Mulconsolaolharesdoenos

As ropicaissãovolupuosas

Gineceuseandroceus ãoloucose elizesapelamexalandoodorescordiais

Ovárioseespermasnesseimensocalordeslamsussensaçõesvolumosas

Mularaindoolharessensuais

Aliorâneaéconvidava Licoresebolo-de-roloeladeirasligamqualponessimplesamigos Engenhossecreamcanas ãodocesquedegusadasodesejoava Mulemperandoolharesunidos

Asamazonensessãoinsáveis

Floresasecidadeseseusavaaressimbiocamenedenudam uuros Gaiolascananesperenesfuuamnosriosbeijandoas ribosamáveis Mulfuindoolharesseguros

Apernambucanaébem-vinda

Alâncoéomarquesussurraeacariciapaixõesebravuraem anosamanes Jangadaseredesdesbravamasondascompeixesdebrisasemviageminnda Mulgerandoolharesmuanes

Asamazonensessãoassim Vivo-asaquinessaidade Apernambucanaemmim Irrigaagora anasaudade.

MoisésSelvaSantago PoroVelho-RO

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Todasascores(deRosa)

Ealiesavaacena, eleaolhavavermelhoderaiva eelaencolhidadignadepena, brancademedo,pelo apaquecriva. Numahisóriacinzaepequena. Eassim oi,maisouravez, queasmarcasroxasescondia. Maselaseenganavadeumviés esorriaamareloaquemvia ouranovamanchaacravarsua ez.

Porém,enreeses,houveumdia maispreoquepodiasupor... E evemuiosgriosecorreria aéque:silêncio...eelaperdeuacor. Praadoaço...enãomaissemexia.

SeRosacresseanesde alhora queo“udoazul”erasóemlembrança, saberiaqueoverde,visoourora, não oraoverdedaesperança. Masumsinalparair-seembora.

Arnaul L.Dias PraiaGrande-SP

-333ºLugar Poesiade40a59anos

Tricô

Éassimqueandosendo,ànoieme eço,dediamereazendo. Comoasábiasenhoraemsuacadeiradebalanço, ecendo oa o,a linhado empoea ramadavida.

Assimmereconheço,pedaçoapedaço,comoaagulhaquedesenhao raço;ànoiemecanso,dediarenasço.

Eavelhasenhora azereazseusmosaicos ecidos,comoaconece comigo;realhoarealho,souonovoporumsegundo,eovelhomuda do,quesevêrenascido.

Nãoimporao empoparaessasenhorinha,nemo ricôdeseio;impora eceracosuradalida,comonavida ambémé:cadaumdoseujeio. E,aoescurecer,obordadomajesosodescansaaoseulado,aéonovo amanhecer,quandodesperamosprimeirosraiosdodia;eavelha senhoravolaabordar,cominimiávelmaesria.

Eéassimquesendo,euando,dediamedesazendo,ànoieme bordando.

Asagulhasdoem,masa ramarecompensa:éaacupunuradavida,que sócuraquando ura.

Esemepergunamsobreo mdessa essiura,eudepronorespondo: impora ecer,nãoimporaquando.

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1ºLugar Poesia60+

Confeor

Quemaisvospedir?

Desesmaisquebálsamoàsminhasdores! Tudodequesequercareço, Tantosamores, Imensuráveis, Sempreço... Mereço,Senhor? Mereço?

Quemaisvosrogar?

Inelizquesou,sabes... Meaculpa... Ah...Secrédioindahouver, Oravosrogoperdão:

Por udoquenão ui,não z,nãoquis, Nem enei... Peloqueorasou Equem,quiçá,nemsei, Peloqueserei...

Eseamanhãhouver,Senhor, Sehouver,Senhor... Amanhã,Senhor, Se...

MárioLuizFerrazAraújo Mairiporã-SP

-352ºLugar Poesia60+

Todososmeusversos

Ouviu-seoesrondodeum rovão

Eas revas ornaramanoiemaisescura, Porummomeno,nocéuumclarão, Masdepois,asolidãodasepulura.

Aconteceu,nãomaisquederepente, Foinumpiscardeolhoslacrimejanes, Comumbrilhoinensoereluzene, Ea errajamaisserácomoanes.

Então,cessaramorisoeocanto, Acançãodeamor oiesquecida, Ohomemcorajososepôsemprano Eamão orese ornouesmaecida.

Quandoavirudeevolaeaalmasedesencana, Eaéomaisproundodahonrasecorrói, Osangueque ransborda,jánãoespana, Nemincomodaa eridaquenoourodói.

Jánãohávinhoquecureasdoresdaalma, Ousequerumbeijoquedespereasaudade.

Falaumavozqueconduzaàcalma Ecoraçõesqueproduzamaliberdade.

Mas,porqueinsistocomaminhapoesia, Peraneesemundocaócoeinsano? Poisescondidaemsuaculahipocrisia, Nãosoairônicaaessênciadohumano?

-363ºLugar Poesia60+

Nodiscursodesigual,éigualdadeoquesenega, Masarealidadecodiananãodesvela, Porque raiçoeiraéacereza,edeveras,cega, Devoraa odosquecegameneconamnela.

Dianedeumaluainglóriaedesigual, Alcanceioslimiesdaprópriacalma, Manvea delidadee,mesmono nal, Nãosedeuporvencidaaminhaalma.

Maseuseiqueumdiachegaráàexausão Aquelequeempunhaabaionea, E ambémseiquejamaiscansaráamão Dealguémquebemmanejaacanea.

Porissoeumederramotodoempoesia, Esparramoaspalavras,comoovenoàsfores, Parasecaraslágrimasdaironia Edesazerasnuvensdosdissabores.

Seemessênciaaminharima oipouca, Éporqueeuevoqueileradosaresãos. Nãose ezsilêncio,naminhaboca, E rêmulaslerasrabiscaramasminhasmãos!

Ao ndaressajornada,permaneçoinquieo, Taciurno,comoalgumerranequecaminha, Vouseguindocomoquemesácompleo, Porémincompleasegueapoesiaminha.

Assim,ensaieiosmeuspassosnarebeldia, Fizemergirsenmenosourorasubmersos, Eparaesriara riseza,queem  ardia, Foiquejuneiasrimasde odososmeusversos.

AdelgícioRibeirodePaula FrancodaRocha-SP

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PROSA

PrêmioFábiodeCarvalhoNoronha FábiodeCarvalhoNoronha(1918-1991) oiprosador,poea, composiorejornalisa.Foiumdos undadoresdaAcademiadeLerasde SãoJoãodaBoaVisa.Comoreconhecimenoporseu rabalho,levaseu nomeoPrêmiodedicadoaosprosadores nalisasdoConcursoLierário dainsuição.

Nascidonessacidade, oiumauodidaacomexraordináriacul urageral.FoipormuiosanosdireordaCâmaraMunicipal,alémdera dialisanaRádioDiusoradeSãoJoãodaBoaVisaejornalisaemvárias publicações,como OMunicípio,AGazeadeSãoJoão,ACidadedeSão João (onde oiredaor),alémdejornaiserevisasdaregião.Exímiocomu nicadoreorador,grandeconhecedordahisóriadacidade,era ambém mul-insrumensaecomposior.Édesuaauoriaamúsicado HinoOfcial dacidade–que emlerada ambémacadêmicaLucilaMararello Asolpho.Escreveuconos,crônicasepoemas,enreosquaissoneose rovas,modalidadequeajudouadivulgar.

Deixouumlivropósumo, Esóriasdocotdiano,decontoscurtos, eoinédito Pérolaseplumas,depoemas.

-38-

PrêmioOctávioPereiraLeite especialparaautores60+

OcávioPereiraLeie(1902-1989) oiumdos undadoreseprin cipaisorganizadoresdaAcademiadeLerasdeSãoJoãodaBoaVisa. Foiseupresidenepor rêsgesõesconsecuvas,de1981aésuamore. Escriorinspirado, eveseunomearibuídoaoPrêmioLieráriodesnado aosmaioresdesessenaanosdeidade,sejaemprosaoupoesia.

PereiraLeienasceuemBananal/SP.Exercendoaavidadede carorário,residiuemMogiMirim,onde ambémcolaboravaemjornais, eemSãoJosédoRioPardo,cidadeemquechegouapreeio.Mudou-se paraSãoJoãodaBoaVisa,ondeauoucomo abelião,redaordojornal ACidadedeSãoJoão evereador.FoiaindacoundadordaSociedadeCuluraldeDebaesedoServiçodeAssisênciaSocial,alémdepresidenedo RoaryClube, endorecebidoo ulodecidadãohonoráriosanjoanense em1967.

Éauordoslivros SoboscéusdaEuropa,Velhaspáginas,ONor deseeaAmazônia e Minhasmemórias,alémdeobras écnicas.

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COMISSÃOJULGADORADEPROSA

ClineidaAndradeJunqueiraJacomini

LauroAugusoBitencour Borges

LucelenaMaia

LuizAntonioSpada

LuizFernandoDezenadaSilva

MariaCândidadeOliveiraCosa MariaIgnezdosSanosD’ÁvilaRibeiro

MarlyTerezinhaEsevamdeCamargoFadiga RauldeOliveiraAndradeFilho

SilviaTerezaFerraneMarcosdeLima

VaniaGonçalvesNoronha

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PROSA:TEXTOSVENCEDORES

PrêmioFábiodeCarvalhoNoronha

Até12anos

1ºlugar-“O anasmadaáguaIki-MiguelLuvezu Valverde-VargemGrande doSul-SP

2ºlugar-“Temosqueaprender!”-LuísaBasaMesquia-Brasília-DF

3ºlugar-“SonhoXMedo”-FelipeFerreiradeOliveira-VargemGrandedoSul -SP

De13a18anos

1ºlugar-“A ravessia”-MariaLuizaSalomãoSmozono-Franca-SP

2ºlugar-“Humber:umareleiuradeLolia”-ClaraSiqueiraRangel-Campos dosGoyacazes-RJ

3ºlugar-“Imago”-CamilaCosaParma-Mococa-SP

De19a39anos

1ºlugar-“OImigrane”-AndréLuizPorrecaFerreiraCunha-SãoPaulo-SP

2ºlugar-“Aurora”-RebecaNaháliaBarbosaMaia-BeloHorizone-MG

3ºlugar-“Vingança”-AnaCrisnaMelancieriSimão-Bauru-SP

De40a59anos

1ºlugar-“Tudomuda”-SilvanaLemesdeSouza-Sarapuí–SP

2ºlugar-“Acordaliberdadenãoécinza”-GiselaLopesPeçanha-Nierói-RJ

3ºlugar-“Águalimpa”-AndersonAlmeidaNogueira-CachoeirasdeMacacuRJ

PrêmioEspecialOctávioPereiraLeite

60+

1ºlugar-“EscriasdeTila”-ElísioVieiradeFaria-SãoJosédoRioPreo-SP

2ºlugar-“Moedade roca”-MariaLúciadeMoraes-Jacareí-SP

3ºlugar-“Opasso”-WalerKarwazkiChagas-PoroAlegre-RS

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OFanasmadaÁguaIKI

Ikaié lhodeYuki,ummesreespadachimnopódiomaisalodos Yorus.Assimcomoseupai,Ikaiqueriaserumsamurai.Tudocorriabem emsuavida,aéquesuamãe,Kireina, coumuiodoene.Ela cavano quaroodia odo,aéqueumdiaIkairecebeuumamensagemnaqualela mãeochamava.Ogaroo,enão, oiaéoquarodamãe,quelhedisse palavrasquemarcaramsuavidaparasempre.

–Olá,meu lho,comovaio reino?–pergunouKireina.

–Vaibem,mãe,eusoubem ore!–respondeuIkai.

–Quebom!Masselembre:nãoimporaoquão orevocêseja, abondadesempreserámais orequevocê.Enãoprocureajudaras pessoaselembre-se,meu lho:ohomem oresedeendesozinho,o homemmais oredeendeosouros–disseKireina.

Emseguida,elamorreu,masdeixandoumamensagemparao garoo.

Ikaicresceuevirouumgrandeguerreiro, reinandosemprepara seromelhor.Todos nhamorgulhodeconvivercomele.Umdia,Ikai rei nava,comosempre,aéqueumaavelheenregouumamensagemque dizia:“Ikai, lhodeYuki,você oiconvocadoparaaseleção nal, raga apenassuakaanaeseucavaloaomoneGekko”.

Ojovempegousuaespada,monouemseubravocorcelKikene saiudesuacasaàmeia-noie,jáqueocaminhoparaomoneserialongo. Aosgalopesdocavaloeapreciandooluar,Ikailembroudamãeedesuas palavras.Orapaz,enão,pensousobreavidaecomoelaeraboa,pensou emcomosuamãeo zera eliz:eleprecisavahonrarseunome!Ojovem aperouasrédeaseacelerouacaminhada.

Porvoladeseehorasdamanhã,Ikaichegouaomone.Mais quinzejovens ambémesavamlá,aéqueumhomemapareceuegri ou:

–MeunomeéTsuyoi,souodécimo erceirocomandanedoes quadrãodesamuraisdailhaIki.Vocêsesãoaquihojeparaprovarque

-42-

1ºLugar Prosaaté12anos

sãobonsosucieneparaenrarparaoesquadrão.Esperoque enham vindoacavalo,casoqueiram ugir.Espero ambémque enhampegado suasespadas,casoprecisemluar.Equecomeceabaalha!

Ikaipegouaespadaesaiuagalopesparaaprimeira asedase leção nal.Chegandoaolocal,ele eriaquecorarpedras,masnãope drasnormaise,sim,aspedrasmaisresisenesdomundo.Elecomeçou preparandoaespadaeaspedrascomeçaramavoaremsuadireção:ele desvioudaprimeira,masasegundaoangiu.Concenrou-seedisse:

–Posuradaágua,quinaposição:Yakedonomiz!

Elepulouemdireçãoàspedraseascoroucomumúnicogolpe. Quandoelepercebeuoque ez, coumuioanimado,maslogovoloua missão.

Nasegunda aseele evedebaalharconracinquenasoldados das orçasdoimperador.Vendoaquilo,ele couemchoque.Masnão pensouemouracoisaanãoseremaacar.Elebradou:

–Posuradaágua,décimaposição:DragonTaipunoreiOa!

Elepulouemdireçãoaossoldados,maandoumporumcomsua espada.

A erceiraeúlmapareeraamais enebrosade odas:derro arquinhenoshomensdoExércioReal.Ikai,vendoisso, couperplexo, pensandoemdesisr,maslembroudesuamãe,oquelhedeu orçaspara connuar.Ele,enão,griou:

–Quevenham odos!Eunãoireidesisr!

Oshomenscorreramemsuadireçãoeelecorreucom odasas suas orças,luandobravamenecomcadaumdeles.Ao nalde rêslon gashoras, odoselesesavamderroadoseIkaipassounaseleção nal. Tornou-seumgrandeespadachim,honrandosua amília.

Passadoumanodesdeaseleção nal,Ikai ornara-seumhomem oreecorajoso.Cerodia,orapazesava reinando,quandoumhomem ochamouparaumamissãoqueconsisaemderroarolídermongolque esavainvadindosuailha.Eleparuemsuajornadaparaproege-la.Ob servandodelongeosnaviosmongóis,Ikaipercebeuqueas roasma rímaseram racasequeele,enão,poderiaenrarnabasepelomar: masseriamuioarriscado,logoeledecidiuqueomelhoreraenrarpela rene.Ikaireuniuseushomense oiparaabaalha.Chegandoaolocal, percebeuqueeraumaarmadilha:aluacomeçoucomdezmoresno exérciodeIkai.Alua coumaisinensaacadasegundo,comIkaidando

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Ikailevanouamadeiraeohomemaindaesavavivo.Aúnica or maqueeleviuparaderroarolídermongol,erausandoa écnicaproibida daposuradaágua.Elesepreparou,respirou undoesuavemenedisse: –Posuradaágua, écnicaproibida,décimasexaposição: Inazumadeshakunesuna ora.

Surgiuenãoum greescaldane,queacompanhavaomovimen odaespadadeIkai.Olídermongol couparalisadoe,quandopercebeu oqueesavaaconecendo, oiangidopelaespadadeIkai.

Logoapósabaalha,Ikai oilevadoajulgameno,poisusuraa écnicaproibida.Ele oicondenadoaoaodeSeppuku,mas cou eliz porqueconseguiuhonrarsuamãeeseular.Conemplando-aemuma visão,ele cou elizese oi:masseunomeIkaiKyorioko counahisória como

OFANTASMADAÁGUAIKI.

MiguelLuvezutValverde VargemGrandedoSul-SP

-44seumelhorpeloseular.Olídermongolchegoueorapazcomeçoualuar conraele.Acadagolpe,Ikai cavamais eliz,masele ambémesavama chucado.Aluaesavamuio ensaeosamuraijáesavadesisndo,mas selembroude udooquepassaraedesuamãe:elejunousuas orças, aacouolídermongoleoaceroucomumgolpenacosela;emseguida, assimqueIkaioangiu,umaparedobarcoemchamascaiusobreolíder mongol.

Temosqueaprender!

Emumbelodiadesexa-eira,esavaandandonomeubairro, HorizonedeRaios,que caemBrasília.Eu,porserumdosmelhoreses udanesdoEnsinoFundamenal,eramuiocobradopelaescola,porisso esavameioesressadoe enavamedisrairaoarlivre.

Derepene,vi,perodemim,umadolescenedierenedosou ros.Eledesperouminhaaençãopor erumaexpressão riseeumar soliário.Tinha ambémumcabelobagunçadoepreo,eraalo,masnem ano,epossuíaolheiras.Alémdisso,usavaumvesuárioexravagane: camisealisrada,calçaverdee ênisroxoescuroelaranja.

Algunsminuosdepois,comeceiaconversarcomoindivíduo.O rapaz cousurpresopordialogarcomele.Disse-mequeseunomeera Renaoe,por erumaaparênciadierene,erarejeiadopelamaioriados colegasdeclasse.

Fiquei riseporele.Esavaemdúvidadoque alar,poispoderia anoalegrá-loquanopioraraindamaisasiuação.Arrisqueiedisse-lhe uma rasequehaviapensadonaqueleinsane:“Aspessoasquenãogos amdevocênãomerecemsuaamizade,dedicaçãoeconança”.

Depoisdisso,elemeabraçouecomeçouachorardealegria.Des semomenoemdiane,passamosasergrandesamigos.Desdeenão, percebiqueaspessoasprecisamaprenderaverabelezanodierenee arespeiarasdiversidades,pois odos emossenmenosedevemos er empaacomopróximo.

LuísaBatsaMesquia Brasília-DF

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2ºLugar Prosaaté12anos

SonhoxMedo

MeunomeéFelipe, enho12anosemoroemVargemGrande doSul.Esudeiemumcolégiomuiobomaéo6ºano,porém,desdeo 5ºano,umdosmeussonhoseravirparao ão amosoColégioAngloem SãoJoãodaBoaVisa.E,comoquemsonhasemprealcança,aquiesou, semprecomDeusà renede udo,cursandoo7ºano.

Umasemanaanesdevirparaaula,aansiedade omouconade mim:eu vedoresnabarriga,chorei,sorri, quei eliz,preocupadoecom medo,masDeus couo empo odoaomeulado.

Eenãoasaulascomeçaram!Acordo ododiaàs4h50m, omo caéeaguardooônibuspassarnaminhacasaàs5h30m.Conessoque ébemcansavo,minharonamudou oalmene,masesou eliznesse aspeco.Minhamãedizque udoservedeaprendizado.

Naescola zalgumasamizadescomalunos,proessores,alémde odoopessoalque rabalhanaescola.

Oméododeensinoé anásco,masémuiodierenedoque eu venaescolaanerior;econessoqueissomeabalou:asprimeiras provas oramesressanes, nhapergunaqueeunemsabiaoquesigni cavaapalavraenãoconseguirinerprearmeprejudicou.

Enm!Oqueerasonhoacabouvirandomedo.Medodenãocon seguiracompanhar,medode carderecuperação,medode erquevol arpara rás.

Esoudecepcionadocomminhasnoas,poisnunca orambaixas. Isso emmedeixado rusrado,preocupadocommeu uuro,poisquero serummédicodesucesso.

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3ºLugar Prosaaté12anos

Preocupadocomessasituaçãoecomminhasnotas,mudeio meuméododeesudos:comeceiausaroméodode“auladada,aula esudada”.

Sempre uimuioresponsável azendo areas, rabalhos,pres andoaençãoàaula,esudandoparaasavaliaçõeseparcipando.Enão, acredioquemeuerro oinãoesudar ododia.

Bom,esáaíumpouquinhodoFelipeesuavidaescolar.Espero, deverdade,queeuconsigasuperaressasnoasbaixase,junodisso,que essemedodêlugarnovameneaosonho.

FelipeFerreiradeOliveira VargemGrandedoSul-SP

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Atravessia

Nãoseimuioaocerooporquê,maseuesavaemumaponee nhaquearavessá-la.Nãosabiaomovo,apenas nhaquepassar.Era quase1:30hdamadrugada.Aponeeraescura,esavacheiademusgos einseosmoros, nhaposesdeiluminação racoseumgao.Eraum gaorajadoecomalgumascicarizes,semelhanesaqueimaduras.Me emocioneiaovê-lo,poislembravamuiomeugaoquehavia alecidoano passado.Achoquenãodevolembraromovodesuamore....Eureal menemeesqueci!Eleesálána rene,esánolimiemáximoquemeus olhospodemver.Corroemdireçãoaeledesesperado.Elecorredemim. Aquelaponeerarealmenegrande.

Euamavameugao,eaquelenãoeraomeu.SeunomeeraShakes peare,elenãocorreriademim.

Shakespeare,meuShakespeare,jánãoesavamaisvivo,enão nãoesariacomigo.Andeiparao mdapone,erameuobjevo.Andei maisemais,não nha m.Pareciaesarnomesmolugar.Andei,corri,dei passoslenos,passosdemaneirasdierenes,não nha m.Mecansei. Deiei-meedormidesono,esavarealmeneexauso.Acordeie,poral gunssegundos,nãosabiaondeesava.Ogaoesavaemmeuspés,me encarando.Quandopercebeuqueeuhaviaacordado, oiparaperode mim.Peguei-oaocolo, zcarinhoedeiumbeijoemsua esa.Shakes peare,meuShakespeare,quenãoémeuShakespeare.Shakespeareera conemplaçãoeenusiasmo.Amorecaé ore.Amoaspálpebrasdeseus olhoscasanhos,seuspelosmorenosemacios,seujeiosuave,carinhoso eagiado.

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1ºLugar Prosade13a18anos

Levaneie eneiaravessaraponenovamene.Agoraeupodia vero m!Esavachegando,eogaoemmeucolo.Trocava-odebraço quaseacadaquinzeminuos.Shakespeare,meuShakespeare!Seriaele meuShakespeare?Jáesavaquaseamanhecendo,quase5:30hdama nhã.Dormipouco(quasenada),aindaesavacomumpoucodesono.

Lembrei!Agoramelembro!Shakespearehaviasidomoroemumincên dio!Connuo rmenacaminhada,agoraolhandoparasuascicarizes.

O mesáacincopassosdemimeeuesouacincopassosdo m. Olhopara rás,olhoparaosgaos,douumbeijoeacariciosua esa.Passo o mesigomeudesnocomShakespeare,meuShakespeare,queagora volaraasermeu.

MariaLuizaSalomãoSmozono Franca-SP

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Humber:umareleiuradeLolia

“Lo-li-a”écomoHumber pronunciaoapelidoqueeleinvenou, suaveepausadamene,comoacalmaanesda empesade,comoovenenoqueseespalhalenameneemuma rilhanociva.“Lo-li-a:apona dalínguadescendoem rêssalosocéudabocapara ropeçardeleve,no erceiro,conraosdenes.Lo.Li.Ta”.Docecomoaimagemqueelenure desuailusão.

MasLolianunca oimaisqueumdelíriodeumpedólo,uma mulhernauopiadeumpredadorsexual.Doloreséquemseescondepor rásdonomequeHumber lhedera, ão ervorosamenequebeiraode sespero,adoandoaidendadedeumapessoaquenãoexisecomouma máscaraparaaguenararealidadecruelemquevive.Dolores,quevive desorrisosquebradoseaçõesquebeiramabesalidadequando udoo queaguiasãoinsnosdesobrevivência.

Dolores–quenaverdademalconnuaaserDolores, endode sisdode udooquea aziaserelamesmanaconradióriaesperançade queissopudesseajudarapreservá-la–nãoéenunca oiLolia.NãoLoli a,nãoninea,nãoseduora;mesmoquandoelamalconsegueenxergar denrodesiumacascaprópria.Nãoimporaoquanoseupadraso ene juscarseusvisaoscomoseelaesvessedealguma ormaprovocan do-os,averdadeéqueelaésóumacriançaassusada.

Tudooqueelaqueréviver,eumadasúnicascerezasque emno augedeseusdozeanoséqueelaconseguirá,no nal.Talvezdespedaça daecicarizada,masviva.

Éporissoqueelaaceia anasdascoisasqueele ena azercom ela,porissoqueelaengoleaspalavrasásperasquerugememseupeio parasair,porissoqueelaabaixaacabeçae ngeseragaroaangelical queeleparecealucinarqueelaé.Éporissoqueeladeixaessaimagem deboamenina(com odaacondescendênciadaexpressão,comoseele

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2ºLugar Prosade13a18anos

esvesse alandocomummerocachorroquenãopudesseenenderas palavrasdias)fuirnodiaadia,adoa-acomose osserealmenesua,e enaignoraroquãosoliáriaessemododevidaa azsesenr. Doloressesenemuiosoliária,essesdias.

Não sicamene,Deussabeoquanoelaquerqueseusuposo “pai”parede ocá-la,oquanoelaquerqueseucorpoesejalivrede qualquerconao.Psicologicamene,porourolado,Doloresnãoconse guepensaremum empoemque enha cadomaissozinha.Suamãe morreurecenemene,seucorporeorcidoesradonoasalodepoisde seraropelada,eadeixouporsuaprópriaconaparalidarcomohomem comoqualsecasara.Doloresnãopodepensaremumúnicoserquees ejaperodelaporsisó,enãodaimagemdeLoliaqueelaseapropria. Suaúnicacompanheiraconsaneéavergonha.

Vergonhapesaemseuesômagocomoumapedra,eenopesua garganacomoumnó.Avergonhaécomogeloemsuasveias, ão riaque quasequeimacomsuainensidade.Avergonhaécomoumvermedenro deseuesômago,alimenadopor odososaosqueelanuncacomeeria normalmene,pela omequeelavênoolhardeseuabusador odavez queeleaolha.Elasesenegraapelavergonha,porém,porqueéuma orçaluandodireameneconraosavançossexuaisdeseupadraso,um impulsoamanémaleraparaabarbaridadedasiuação.

Avergonhaécomoumabesacriadaparaenrenarummonsro muiomaiscruel.

Eé,de ao,ummonsrogroescoqueaameaça.“Humber ”éo nomequeDoloresnãoquerpronunciar,onomequedariahumanidade aomonsroquearruinousuavida.“Hum-ber:oarsaindocomoossuspi rosqueela ngeseremdeprazer,eoslábiossendomoldadosnumapro núnciaenganosamenesuave.Hum.Ber.”.Elanãoochamapelonome comoumarebeliãosilenciosa,comouma ormadereribuiraproanação queelecomeeaomassacraronomequesuamãelhedeu,masnãosó poressemovo.Elanãopodeignorara ormacomoonomedeleporsi sójáéosucieneparaenviarcalariosdehorrorpor odasuaespinhae arrepiarcadapelodoseupequenocorpoemnojo,ecomoela ogedessas sensaçõescomoumacriancinha ugindodoescuro.

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Arrepioscomoessessãocomunsparaelaagora,inelizmene,e ambém requenemenemalinerpreados.Omonsrosóvêoqueele desejaver,mesmoquandoissosignicasecegarparaodesprezoóbvio queelaseneenquanoosdedosdelecorremporseucabeloou odas asvezesquesua esase ranzedianedoqueeleinerpreasercari nho;mesmoquandoissosignica ngirnãoouvirochorodesoladodela ànoieounãoenenderporqueela axa ãoveemenemenequalquer aoqueele azcomela.Qualquerarrepiodelaéumbomparaele,eisso signicaqueelesesenelivrepara omá-loscomoaceiação.

Essassãoashorasemqueavergonhanãoéaúnicaemoçãoque omaseucorpo,eelanão emcerezaseelasesenealiviadaouaerro rizadacomisso.

Nessashoras,Doloresodeia.Odeiaomonsroque rousuain ância,odeiaomundoquepermiuqueeleo zesse,odeiasuamãeque adeixousozinhaàmercêdele.Elaodeiaeodeiaeodeia,eoódioéquen eenadacomoavergonha,queagelaaésu’alma.Oódiodeixaumgoso rançosoemsuabocaecravasuasgarrasemseusossoseinundaseucora çãoemlíquidoviriólico.Issoaaqueceemchamasviolenasvindasdireo doconmdoinerno,eDoloresnuncasesene ãoassusadaquanoos momenosemqueo ogocanaemsuasveias.

Masseuódionãoimporaparaele,assimcomonãoimporaque Dolores enhaumnomepróprio–nãoLolia,nuncaLolia–ouqueela ésuaeneada.Nadadissoimporaenadadissoiriaimpedi-lo;enãoela cavadenrodesiporumsorrisoe ngecomoumaprossional;usa odos osseus1,47merosdealuracomoumaarmaeumescudo,qualquer coisaquesejanecessáriaparaasobrevivência.

Acimade udo,Doloresquerviver.Éoqueimpulsionasualuae aimpedededesisr,éagasolinaquealimenaasbrasasinabaláveisde esperançaqueserecusamaseapagar.Mesmoquesejaegoísa,mesmo queelasaibaquemuiosnãoenenderiam odosossacriciosqueela esá azendo,elanãopodedesisr. Éporissoqueelaaceiaquandoomonsrodeslizaseusdedos suavemenesobreabochechadela,comoseela ossealgodignodeado ração;omovodeelaengolirogrio uriosoquesurgeemsuagargana

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quandoseus oquesse ornammaisínmosdoquejamaispensou;ara zãopelaqualela orçasuaspernasa caremparadasenquanoelanão emcondiçõesdearranjarumabrigodeceneparaseesconder,mesmo quando udooqueelaqueréjogar odoodisarceparaosaresecorrer semplanoalgumesemolharpara rás,indopara ãolongequanoseus péspossamlevá-la.Mesmoquandoelasenequeesámorrendolena mene,denhandoaéque udooquesobrasãocinzasdameninaque elacosumavaser,elaseagarraaoseuobjevocomumapero uriosoe senegaadeixar-seir.

Éporissoque,mesmoenojadaaéoâmago,Doloresseinclina parareribuirseusbeijosemesmoenquanoodeiaproundamenecomo nuncaodiounadaanes,algodenrodelasorri.Elasabequeessaéuma luaqueelavaiganharno nal.

Ela emquê.

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Imago

Láesavaela,deolhosaberosnaquelamadrugadade evereiro. Nãoconseguiadormir.Passouodia ascinadacomaenergiaconagiane e picadaalegriadecomplearmaisumanodevida,emespecialodéci mooiavo.Passouanoiedeseuaniversáriocoma amíliae,mesmoem casa,nãopôderesisrà enaçãodesearrumaredisarçarseusemblane cansado.Usavaumvesdovermelho,oscabeloscasanhoscaíamsul menesobreseusombros.Osolhos,escuroscomoocéunourno,eram amáveisemiseriosos.E,emboranão ossenadaparecidacomCapiu, comcerezaaqueleolharerainensocomoodeumaciganaoblíquae dissimulada.Felizmene,sabiaosignicadodeambasaspalavras:amava escrever.

Sempre oiumagaroaalegre-ouaomenosauavamuiobem. Cosumavamdizerqueseusorriso raziaconoroparaasouraspessoas. Porconseguine,sorriapara odosa odoomomeno.Umavezqueo mundojáeraamargodemais,nadacusariaolhara udoea odoscom umolhardoce.

Desceuasescadasdacasa,chegouàcopa.Seuspaisesavamà mesa,esperandoporela.Comodecosume,empadão, oradelimãoe Tubaínasobreamesa.Comeram,conversaram,rirammuio.Sepudesse eernizaressemomeno,comcerezao aria.Tudocorriabem,aéque uma rase,diaporseupai,ressoounorecino: –Vouaproveiar,jáquecedoou ardeminhafordemaracujá nãoesarámaisaquiemcasa.

Agaroasorriu,aspalavrasouvidasecoaramemsuacabeça.Ir embora...sinônimodecomeçarumavidaemumacidadedierene,com pessoasdiereneseumaronadierene.Nuncaresisraàmudança,es pecialmenenessecasoondesuamaiormeaerapassarnovesbular. Enreano, oraobrigadaaencararopreçodeseussonhos.Eisadosede

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3ºLugar Prosade13a18anos

Ojanarseguiunormalmene,ashorassepassarame odos oram dormir.Menosela.Láesavaela,deolhosaberosnaquelamadrugadade evereiro, enandocompreendercomoumasimples rasedesencadeou umacrise ãoprounda.

Sempre oimuioapegadaà amília,emespecialaospais.Osúl mosdoisanos orammarcadosporalosebaixos,desdeumainernação porcoronavírusaéodesempregodopai.E,aparrdeumasériede aconecimenosinesperadoseindesejados,esavadecididaaser ore, anal,nãoqueriapreocuparninguém.Nãoobsane,nãoexisem oralezaspereiaseemnenhummomenodeixamosdeserhumanos.Logo, adoréineviável.A empesadeinsaurou-seemseusereoolhar,aé enãomarcane,nublou.Asduasíriscasanhasrevelavamcomdesrezaa melancoliaarrebaadoradaquelaalmajuvenil.Jogou-senacamadeseu quaro,coberapelovelholençollilás,e ransormouoleioemseureú gio.Esavadisposaadarparasiseuprópriopresenedeaniversário.Um preseneúlemaisquenecessário:oalívio.Esavacansadaderemediar ouignorarossinomas.Aomenosporaquelanoie,iriacuidardesi. Quemdiriaquepor rásdaquelamoçasorrideneesimpácaha biavaumcoração ãodilacerado....Odiavao aode ngirqueascoisas esavamsobconrole.Odiavalidarcomseu uuroincero,merouniversoqueoscilavaenredesabareascender.Odiavaoinsuporável“c-ac” dorelógiodasaladeesar,sejapelapoluiçãosonoraoupelosimples aleradequecadahora,minuoousegundojamaispoderiaservivido novamene.

Suador,reprimidanomaisproundodeseuser,eclodiraempran o.Easlágrimassurgiram,molhandoorosomoreno.Quandoarmazena mospólvora(ousenmenos)umaúnica aíscapodedesencadearuma explosão.Ela,agora,esavaemchamas.Quemviriaapagaraqueleincên dio?Provavelmeneninguém.Elaseriaaúnicapessoaconscienesobre oqueaconeceranaquelanoie.No nal,resariamapenasasruínas,em cinzas,eaoporunidadederecomeçar.Nãolimiouoprópriosorimeno: chorouaé odaamaquiagemborrar,acabeçadoere,por m,osono vir.

Adormeceuproundamene.E,quandoosolraiou,acalmariasur giunoexaomomenoemqueabriuseusolhos.Levanou-se,ajeiouos

-55realidadesurgindoemsuaessênciamaispura:sulcomoumbelosoco nabocadoesômago.

Osolhosabriram-se oalmene,redondoscomosehouvesse descoberoumdosmaioressegredosde odomundo.Nuncamaisseriaa mesma.Surpresacomaesperançaoriginadanoâmagodeseuser,escre veusobreoepisódionoblocodenoasdeseucelular,imoralizandoseu renascimeno.

CamilaCosaParmo Mococa-SP

-56lençóis,abriuajanela.Odiaesavaensolarado,océuindescrivelmene azul.Esava rise?Alegre?Nãosabiadizer.Apenasexisaemmeioaum marasmosenmenal,implorandoparaqueissosignicasseuma régua paraseusconfiosinernoseexernos. Foiquandopercebeualgoapicocamufadonosgalhosdaqua resmeiraem reneaosseusolhos:umcasulo.E,aparenemene,elees avaláháum empoconsiderável,umavezquehaviauma endanaquela esruura.Nuncagosoudeinseos,massempre oi ascinadaporbor boleas.E,nessecaso,aquelepequenoseraladoesavaemsuaimago: basavaulizar odaasua orça,romperocasuloporcompleoeapro veiaraliberdadeparavoaredesruardonécardediversasfores.Ea resposaaosquesonamenosdainsônia nalmenesurgemparaaquela meninamulher.Suabocaesboçouumsorriso,junamenecomosolhos. Concluíraqueesavaemumprocessodemeamorose.Talvez,a asedi cil osse,acimade udo,uma asenecessáriaparaseuamadurecimenoe ransormação.Quandoissoacabaria?Nãosabia.Todavia,compreendeu queavindadaprimaveranãoémerojogodepalavrasparadisraircora çõesansiosos.Aoconrário,avindadaprimaveraéum ao:éimpossível queoinvernosejaeerno.Porano,resariaesperareluaraéqueseu casulorompesse.Porora,cuidariadesi,junaria orças,sorririamuioe aproveiariacadamomenoqueoereçaomínimode elicidade.Eassim viveria,diaapósdia,aéo mdesua ormena.Suahoradeforescer chegariaeessacereza aziacomquequalquer ornadoseconveresse emumagaroadeverão:leve,simplesparedoprocesso.

Oimigrante

15de evereirode1893:quara-eiradeCinzas.OsinodaIgre jadaImaculadaConceiçãoenoavaasexabadaladaeovigárioabriaa robusaporademadeira.Giovanniprosrava-sedejoelhosdianedaes cadariadepedra,comorosárioemmãos.ASanaMissacomeçariaem algunsinsanes.Doouroladodarua,Luísa,suaesposa,o lhoMariano eocunhadoNicolaadmiravam,pelaúlmavez,ascolinasbucólicasda pacaaGuilmi.Avisavam,nãomuiolonge,amodesacasadepedrada SradaPiazza,número rezenosequarenaeoio.Aquaresmaseriamais longanesseano.

“Lembra-equeéspóda erraeà erravolarás”,disseopadre, ao naldamissa,comomandaaliurgia.Giovannisabia,noseuínmo, queàquela erranãovolaria.“Masparaquevolar?”-quesonava-se, amarguradopelanosalgiaesenndo-seingraopelaoporunidadeque Deuslheproporcionava.Aosquarenae rêsanosdeidade,seunívelde omismoerasensivelmenereduzido,emcomparaçãoao lhoMariano, quecompleariadezesseeemalgunsdias.

-“ReinodaIália”,paraquê?MeupaidiziaqueaEuropaacabou comNapoleão.Eleesavacero.VitorioEmanueleIInãomeagradae esoucerodequeoReiHumberonão raráprogressoaonossopaís,”ex clamavaGiovanni, andoMarianocomardeauoridade,enquanoLuísa olhavacomdesconança.Haviaceroinconormismoemsuaspalavras, emboraaunicaçãoialiana osseum aoconsumadohámaisdeduas décadas.

-Pai,éverdadequenaAméricaexisemlâmpadasqueseacen demsozinhas?–indagavaMariano.

-Filho,dizemqueexisemaécarroçasqueandamsemcavalos!

“Eleprecisaparardebeber”,pensouLuísa,regozijando-seporquenão precisariamaisresgaaromarido,quase odanoie,na abernaescurae édadaViaRoma.

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1ºLugar Prosade19a39anos

AviagemaéacidadedeChie,capialdaprovíncia,eralonga epenosa.Lá, omariamum reme,apósváriasescalasebaldeações, desembarcariam, nalmene,emGênova,ondelhesaguardavaovapor Aquiaine,vindodeMarselha.

No rajeorumoaonore,enquanoadmiravaasmonanhasco berasdeneve,naregiãodosAbruzos,Giovanniquesonava-sesobreo acerodadecisão.EraimperiosodeixaraIália,masváriasinquieações dominavamasuamene.Denreourasincerezas, emiacopiosamene nãoseadaparaoclimabrasileiro.Lembraradealgunsprimosdoseupai, moradoresdacidadevizinhadeTorricellaPeligna.Sabiaqueeleshaviam escolhidoonoredosEsadosUnidos,regiãocomclimamaisparecido comoqueesavamhabiuados.Sem empoparadivagaçõeseremorsos, Giovannilembrou-sedaconversaque veracomGirolamo,dedicado un cionáriodaagênciamigraóriadeGuilmi:

-Giovanni,oclimaéaúnicasemelhança.Osanglo-saxõessãocul uralmenemuiodierenes.Ademais,possolhegaranrque erámais acilidadecomoidiomaporuguêsdoquecomoinglês.

Aproximando-sedeGênova, odosadmiravamapaisagemque sedesenhavanasjanelas.Giovannirecordava-sevagamenedaságuas domar.AcompanharaseupaiCamilloaéoPorodiVaso,numaviagem denegócios,quando nhaseeanosdeidade.Luísa,quejápassavados quarena,sequerconcebiacomo anaáguapoderiarepousaremumsó ambiene.

7demarçode1893: erça-eira,diadeSanaPerpéuaeSana Felicidade,márresdocrisanismo.Emmeioàmuldão, uncionários apiavamegriavam:“NavioAquiaine,comdesnoaSãoPauloeBuenos Aires,úlmachamada!”

Nesseinsane,apenasumpropósio:enconrarumlugaronde pudessempermanecersemoriscodeteremospésesmagadosporum baúoupelossapaosdeouraspessoas.A erceiraclassepareciadisane. OpesodasmalascomeçavaaincomodarosombrosdeMarianoeNicola. Todosansiavamporumbanhoeporumanoiederepouso.

OcolchãonãoeramaisespessodoqueoexemplardaBíbliaSa gradaque oda amília raziaconsigo.A emperauradaágua,porsuavez, erasucieneparanãoprovocarhipoermia.Aindaassim,ascondições precáriasda erceiraclassenãoescandalizavam.NoBrasil,eraceraapro messadeprosperidadeedevidamelhor.PerpéuaeSanaFelicidade!

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O uuroéaAméricadaslâmpadasedascarroçassemcavalo.AEuropa resumia-seàsruínasdeumpassadogloriosoque orasepuladocomNa poleão.

Poucosdiasapósoembarque,onaviosepreparavaparaaúlma paradaemsoloeuropeu,naEspanha.Emseguida,cruzariaoAlânco rumoaoNovoMundo.Nodiaseguineàderradeiraparda,porvoladas vinehoras,apósojanar,GiovanniconvidouLuisaparadançar aranela noporãodoseorB.Gaeano,umsimpácojovemdeolhosclaros,era músicoemNápolesenãoabandonouseusdons.Virouumacelebridade na erceiraclasse.Embora enhaseenredonoiníciodaviagem,Luí sa,porvoladodécimoquinodiade ravessiapeloAlânco,deixoude acompanharGiovanni.Eraumaabnegadaesposa,massuasaúdeinex plicavelmene rágiljánãopermiaenvolver-secomnoiadas.Ademais, nãodemorouaperceberqueoineressedeGiovanni,naverdade,era novinhodeGaeano.Haviaceroremorsoporbebere esejaremplena quaresma.Porém,ele nhacerezadequenasAméricasnãoenconraria primivosemonepulcianos.Aliás,“seráqueeles omamvinho?”,inda gava-secomcera requência.

2deabrilde1893:DomingodePáscoa.Falavaapenasumase manaparaodesembarquenoPorodeSanos,onde omariamum rem paraaHospedariadosImigranes,nobairrodoBrás,emSãoPaulo.Abso luamene udoesariapagopelogovernobrasileiro.Eraoquesesabia. Nadaalémdisso.Girolamo,o uncionáriodemigração,nãopoupara oo graas.Aliás,aquela oiumaexperiênciamarcaneparaGiovanni,Luísa, MarianoeNicola:“Comoummomenopodeserregisradoemumpeda çodepapel?”

Giovannierademasiadamenecurioso.Osseusquesonamen os,inndáveis.Não osseasimpaainaa–inensicadapelaboare muneraçãoadvindadoacordoBrasil-Iália–cerameneGirolamo eria expulsadoa amíliaineiradareparçãopública.Noslimiesdasuaenxu aliberdadedeescolha,Giovanni nhaalgumascerezas:Repeliaosares cariocas-ameracogiaçãodenão eruminvernoou,pelomenos,não nosmoldesialianos,eraassusadora.Tambémnãolheeraconvidavaa ideiademigrarparaosuldopaís.Emboraoclimalheparecesseaprazível, ouvira alarsobrecolôniasdeimigranesalemãeseausríacosnaquela região.Seoassusavaaconvivênciacomanglo-saxões,lidarcompovos germânicosesavacompleamene oradecogiação.

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EraaprimeiraPáscoasemvigíliapascal.Apesardisso,opadre Leonardo aziaquesãodedeixarseusaposenosparaorarjunoaos éis às erças,aosdomingosenasdaascrisãs.Naquelamanhã,apósmediar sobreamoreearessureiçãodeJesusCriso, odosseemocionaramcom adeclamaçãodocapíulo erceirodoLivrodeEclesiases,iniciadacomo versículo:“Para udoháummomeno,eum empoceroparacadacoisa debaixodocéu.”

Comaansiedadeapaziguadaeasesperançasàfordapele,Gio vanniesua amíliaconversavamsobreaspaisagensqueviramnas oo graas.Agradava-lhes,sobreudo,orelevodaSerradaManqueira,enre osesadosdeSãoPauloeMinasGerais.Oarbucólicoevocavaalembrançadesua erranaal.Receavamaeuoriadasgrandescidadesesabiam queocampoeraomelhorlugar.Eram,anal,camponeses.

9deabrilde1893: erça-eira,seishorase rinaeseeminuos damanhã.OvaporAquiainelançasuasâncorasnoporodeSanos.Mi nuosanes,convésloado.TodosqueriamsaudaroNovoMundo.Over defamejanedaMaaAlâncaencanavaosolhoseenchiaoscorações deesperança.O empoeraaprazível,céuabero,vineedoisgraus.

Comaaberuradasporasdonavio,qualquer enavadede sembarqueorganizadoresulariaindubiavelmene racassada.Aosgri osesorrisos, odossaiamemalvoroçorumoà erra rme.Noimenso saguãoporuário, ormavam-seas lasparaorganizaçãoeencaminhamenodosimigranesparaaCapial.Ouros anospermaneceramno Aquiaine,comdesnoaBuenosAires.

Apóscuraviagempelos rilhosdaSerradoMar, odosdesem barcaramnoBrás.Começavamos rabalhosde riagemedirecionamen odosesrangeirosparaasourasregiõesdopaís.Échegadaavezde Giovanni,Luísa,MarianoeNicola.Vera,a uncionáriapública,pronuncia vagarosameneolongonomedacidade.Naquelemomeno,Giovanni aprendeaprimeirapalavraemporuguês:oseupróprionome!Esava elizporqueoseu uurorepousavanaboavisadas oograas.Alémdo mais,oúlmoEvangelhosempre oraoseupredileo.

AndréLuizPorrecaFerreiraCunha SãoPaulo-SP

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Aurora

Avenaniainsisenesopraumruídocomouivodeloboe azcom queosvidrosdasjanelas remeliquem.

–Barulhoinsuporável!

Auroragiranacama,esádicilpegarnosono,elalevana, oma umcopod’água,dáumavolapelapequenasaladoseuaparamenoe volaadeiar-se.Revirauma,duas, rêsvezesnacamaecomeçaairriarse.Amenenãopara.Ela cacriandolisasmenaisdas areasquede verãoserexecuadasduraneasemana.Paulo,queesádeiadoaoseu lado,percebeaagiaçãodeAuroraeaninhaseucorpoaodela, enando ranquilizá-la.

Hásemanas emsesendoesranha,oca,semânimo.Ocorpo anda ãocansadoqueelasóconseguepensarem cardeiada.Ànoie, udo capior;Auroraé omadaporpensamenossombrioseuma riseza inexplicável.Ela enadesesperadameneenconrarmemóriasilumina das,mas udoqueenconraéescuridão.Conseguelembrar-sede rag menosdesuainâncianolioral,brincandocomosvizinhose azendo caselosdeareianapraia,maslogoemseguidadepara-secomaimagem dopaisegurandoumagarraadepingaeaarrasandoparacasapelos cabelos.

–Penseemumlugarque ragaumamemória elizedescreva-o emdealhes, oioquepediuaproessoradocursodeAresCênicas.

Aurorasenuopeiorasgar-se.Quallugardescreveria?Quelu garnodecorrerdesuabreveexisênciamerecia alaenção?Pensouem invenar,eraboanisso.Quesonouaproessora,sim, nhaqueserum lugardeboaslembrançaseprecisavaserdescriominuciosamene.Era dicilrevelar,poisseulugarmais elizeraobanheiro,ondeelase rancava porhoras,senavanopisogeladoe umavacigarrossemparar.Obanhei

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2ºLugar Prosade19a39anos

AluzapagadanãopermiequeAuroraenxerguePaulo;elasene apenasarespiraçãopesadadeleemseupescoço.Elaoadmira,masnão sabeseoamaepoucoenendeoporquêdeeleaindaesaraoladodela, depoisderecusarseupedidodecasameno.Auroranuncaconseguiuex plicaraeleaorigemdesuascicarizesequeimadurasnosbraços,nem pôderevelaroparadeiroda amília,eo aodeserumamulhersoliária. FoiPauloqueminsisu,Aurora nha alenoparao earo.Emquemo menoeleobservou alhabilidadeelanãosabia.Talvezporelaesarsem pre ngindo.Fingeser eliz, ngegosardealguém, ngeesarsasei a, ngequerersair…Quandonaverdade, udooqueelamaisqueré rancar-senobanheiro,chorareacumularguimbasdecigarro.Quando eles ransam,Auroraeviaser ocada,preereesarnocomandoeesa belecendooslimiesdoconao.

Quandoesásozinhaemcasa,elasepermieabrirumagarraa devinhoe caraobservarpelajanela.Doquinoandarelaconseguever asluzesdascasaseprédios,osneonsdosediciosempresariais,océu acinzenadoeasrarasesrelas.Aoolharparabaixo,paraocaneirode

-62rodeazulejosazuisclaroseraseureúgioenãoqueriacomparlharesse segredocomninguém.Oquepensariamdelaquandoconasse udoque escondiaali?Todososcomprimidosde arjapreaguardadosnoarmá riodeespelho rincado,oscigarros,asmaquiagensparaocularascica rizes…Elacogiouescreversobreobardeluz racaeavermelhadaem quePauloapediraemcasameno,porémelanãoserecordavamuio,só lembravade“Wishyouwerehere” ocandoao undoedoanelquePaulo segurava.Aúnicacoisaquebrilhavanaquelelugareramosolhosdele. Não nharecordações elizesdesuacasa,nempoderiaacres cenarqualquer podeaeoaosespaços sicosemqueviveucoma amília.Havianasaladejanarumamesagrandedemadeiraondesua mãecolocavaaceiadeNaal,masninguémchegavaasaborear,poisas brigasvinhamanesdeJesuseamesaposaerajogadaaochão.Oquaro minúsculo,divididocom rêsirmãsaésairdecasa, ediaamooe nha rachadurasnasparedes.Também oinessequaroqueAurora oiesupra dapelo oenquanoopaiesavaembriagadonosoáeamãerezavana igrejapedindoaDeusqueomalnuncaalcançassesua amília.

gramaqueimadaeoplayground,elasenequepodedar ma odador, serbreveassimcomooalvorecerquelhedeunome.

–Aindanão,Aurora,dizasimesmaapósbeber odaagarraa. Depoisvaiaobanheiroeengoleumapílulaparadormir.

Quandoacordadanoie urbulena,percebequeovenose oi eascornasesãoaberas.Auroraconempla, ascinada,rajadasdeluz ecoresinensasinvadiremocéudeouonoanesdonascerdosol.Éo começodeumnovodia.

Pauloseaproximacomumaxícaradechá umeganeeum sorriso: –Nãoélindaaaurora?

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RebecaNahaliaBarbosaMaia BeloHorizone-MG

Vingança

Nãoqueriaque vessesidoassim.Senadonoescuro,escondido, pensonoque z.Nememsonhoseumaariaalguém!Erasóenrare sair.Enraresair.Masnão,ele evequeabrirsuagrandebocaesairdo combinado!

Logocedoescueimeupaigriando:“anda,Marco,levana!Vem geneaí!”.Traeidelevanarparanão erqueouvirosegundopedido, geralmeneseguidodeumsaanão.Aindapassavaasmãospeloscabelos, numa enavainúldeendireiá-los,quandoouviaporada renese abrir.

EraDomPeroniempessoa.Nuncao nhavisode ãopero. Muiobemvesdoemum ernocaro,desoandodoambieneemque acaboudeenrar.Meupaioconvidouparasesenareoereceuuma bebida.

–Tenhopressa,Nicolau.Sóprecisosaberseaindapossoconar comvocê.

–Sempre,DomPeroni,paraoqueprecisar.

–Enãologovocêvairecebernocias.Seiqueédicil,masserá bemrecompensado.Nãodeixoumamigoemdiculdades.Esperoo mesmo.

Nossa amília emdívidacomDomPeronidesdequeminhairmã eveaquela osse errívelquandobebê.Meupai oipedirajudaaele,para poderlevá-laaumbommédico.Elenãosóprovidenciouomelhormédi codacidade,comonosdeu odoodinheiroparacomprarosremédios. Assimminhairmãnãomorreu,eumadívidacomDomPeroni oicriada. “Emummomenodenecessidade,possoconarcomvocê,Nicolau?”.Por causadessa rase,meudesnomudou.

Chegadoo adicodia,meupai,muiovelhoparaarar,mepas souaarmaassimquearecebeuemsuasmãos rêmulas.Eledariaoreca doeeuesariacomaarma.“Paraalgumproblema”,adver aele.Erasó

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3ºLugar Prosade19a39anos

–Eulhedissequeoseudiaiachegar,dissenumvolumemuio baixo.Agora rabalhoparaDomPeroni,equalquerproblemacomeleé umproblemacomigo;conroleseu lho,emnomedeDeus!

Ohomemdeuumagargalhada:

–Ummerdacomovocê,vai azeroquê,mebaer?Vocêéum cornoquecriaumbasardo.Umvelhoalcoólara.Cai oradaqui,seu bosa!

Meupaiabaixouacabeça,limpandoosuorda esaarapalhada mene.Recolheuasmãoscomrapidez.Nadadaquilo aziaparedocom binado.Oqueohomemdissesobrenósinelizmeneéverdade.Minha mãe eveumcasoexraconjugalcujoresulado oiaminhaexisência. Meupaimecrioucomoseu.Dizemqueseualcoolismocomeçoudesde enão;nuncaperdoourealmeneminhamãe.Deusalevouhádoisanos, de ebre,edesdeenãoéramossóeuemeupai–minhairmãsecasoue semudouparalonge.

–Vocênãoenendeu.Vamosacabarcomvocêe odaasua a mília,seoseu lhonãoenrarnalinha.DomPeroniesábravo,enãoeu ambémesou,dissemeupai,com rmeza.

–Vácuidardasuavida!Meu lhovainamorarquemelequiser, da amíliaque or.Tenhosóumalavanderia,massomoshonrados.Evocê quemal emumpedaçodelixoonde enaplanaralgumacoisa,sópra nãomorrerde ome?Achaquepodeviraéaqui alaralgumacoisa?, griouohomem.

–Nadamedariamaisgosonavidaque emaar,meupaide clarouemplenoódio.Agoraque rabalhoparaDomPeroni,posso azer agoramesmo!connuou, orcendoasmãosarásdocorpo.

–Vocêéummerdaquenãopresapraisso.Seu lho–apona paraaminhacaranumgesocuro–ésóumroceiro.Tirovocêsdaqui numminuo!,disseohomem,pegandoumporree.

-65darorecadoesair.Aindarepassavamenalmeneasinsruçõesenquano enrávamos,quandoouvimeupairesmungar“elemepaga”,enreden es.Nessemomenopercebiquehaviaalgumacoisaerrada.Foiexaa menenessemomeno.Eramuio ardeparavolar;connueiandando. Enramosnalavanderiajádeenconrocomodono,paraquemorecado sedesnava.Meupaisegurouasmãospara rás, enandoconrolaro ore remor.Endireiouocorpoeolhouohomemnosolhos,emanando puraira.

Umconronoseria udooqueeunãoqueriaparaessemomen o.Ele emrazão,meupaiésóumvelhoeeuumcaipira.DomPeroninos escolheunaceraporsaberdesseangoarioenremeupaieohomem dalavanderia.Oquevou azer?Pegaraarma?

Meupaimeolhouno undodosolhos,porumbreveinsane.En ãoeupercebiqueesseeraoplanodeleo empo odo.Pegueiaarma.

Oqueaconteceuaseguirserepeteatodomomentonaminhacabeça.O ro,osangue,osgrios,a uga.Fugindoomaisrápidoquepodia, enconreiesconderijonomeiodamaa.Minhapreocupaçãoagoraécom aminhairmã.Elacompreenderáoque z, enhocereza.Quanasvezes choramosjunos,abraçados,enquanoele,bêbado,agredianossamãe! Agoraelaesávingada,depoisdeumavidadesorimenosaoladodeum monsro.Maeimeupai,enãomesinoculpado.Fizoqueprecisavaser eio,anesqueomaldeleangisseourapessoa.

Precisodarumjeiodeverminhairmã,masanesmeexplicarei aDomPeroniedevolvereiaarma.Erasódarumrecadoe,bemoumal, ele oidado.Elehaverádeenender.Adívida oipaga.

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Tudomuda

Ah,essameneinsaciávelquenãosecansa,pareceummarde águasbraviasemebulição,noieedianãosedierenciamnessamene emeervescênciaquase renéca!Osraiosdesolaaquecemeelareplica emimagensqueasmãos raamlogodemaerializar.Aoclarãodoluar elaconnuapulverizandoimagens,gemendosons urvosquelogose ransormamemcanções.

Asimagens...ah!asimagens....Vejocoisasquesóexisemnessa meneinsana!Coisasquecrioerecrioemversose rovas...E udoissovai semodicandoacadarespirar,acadapensar,acadasenr,acadapulsar davidadenrodemim.

Depoisquesedávidaàspalavrasaoescreverumapoesia,avida nuncamaiséamesma.Aspalavrasnavegamemseupensamenoea cadarespirarelascriamvidaprópria.Depoisdaprimeirapoesianunca maissevolaráaoesadodeanes.Nuncamais!

Oolharsemodica;osouvidos cammaisaenos;oolao,um animalescomaisapurado;o ao,exremamenesensível;opaladar,como deumsommelierdasmaisrequinadaspalavras...

Tudo,exaamene udosemodica!Omundoqueorodeiamuda de ormae amanhoacadarespirar.Asfores alamcomvocê,comoem AsquaroesaçõesdeVivaldi;oarco-írislhesorricomasulezamelodio sadePaganini;ospássaroslevamrecadoscomopeçasdeMozar aosseus ouvidos;os rovõespassamde enômenodanaurezaainsrumenosde sopronasobrasdeBach.

Osrelâmpagosse ransormamem naisdecompassosmusicais deBeehovencomumabelapausadesemibreveeiníciodecompassos

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1ºLugar Prosade40a59anos

musicaisdeTchaikovsky,acompanhadodeumasunuosa ermaa.Oba rulhodaságuas,umaorquesracomxilooneegaiasescocesaseo ér minode empesadescomoosrenovosdeChopin.

Depoisdaprimeirapoesia udomuda...Opaladar,oapee,a sedeeosdesejosmudamconsideravelmene;aliás,ospoeasjánascem dierenes.Mesmoqueaindanãosaibamdasuarealvocaçãocomaspa lavras,elessãodierenes...

Geralmene midos,insaseios,desejamalgoquenãosabem denir,escuamsonsquenãosabemdeondevêm,senemosaromas ra zidospeloveno,pelachuva,pelabrisaeaémesmopela umaça,quiçá aédoalém!

Quandocrianças,queremabraçaromundo;quandoadulos, queremesconder-sedomundo;e,quandovelhos,queremsedissiparpor enreosvenos,as empesades,asbrisas,o rescordosuavevenode ouono,oslampejosdechuvasdeverão,ovenodeinvernouivandona janeladoquaroaoanoiecer,osarroubosdocalordaprimavera...

Quandovelhos,queremos udooque orpossível.Eaindarein venamosoimpossível.Quandovelhosqueremosunir-nosànaurezae quandoamoreseaproximasomospreensiosos!Queremosreencarnar em ormadefor,em ormadepássaroemumjardimdemargaridas,em ormadejoaninhaemumcampodegirassóis,em ormadecolibriemum roseiral,em ormadedunasdeareia,emoásisnodesero,emcoraisdos oceanos,emcorrenezadascachoeiras...

Enm,somosde aopreensiosos!Poeasnascemdierenes,vi vemdierene,soremdierene,choramdierene,morremdierenee renascemdierene!

Opoeariem ormadecrônicas,seapaixonaemacordesededi lhadosdeumaviolaclássica, caapreensivoem ormadeconos,chora em ormademúsicaesedespeem ormadepoesias...

Quando cabravo ransorma-senumbelo adoaopiano,quan doesácomameneociosa ocaumafauadoceoufauadePane udo serenova.Aliás,eleserenovaemcadapalavraqueescreve,renasceem cadapoesiaquecria,se eleransporaemcadamúsicaquecompõe,se limpaemcadalágrimaquederrubaaoemocionar-secomaspalavras vivasnopapel.

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O emposorriparaopoea,avidalheencanacomsuasbelezas naurais, udose ornabeloaosolhosdopoea!Masalgosempreirálhe assombrar.Opoea emeoprópriohomem,suameneinsana,seusde sejos unesosesombrios,suamaldadeoculanoolharsorridene... Osmedosdopoea?Seusdilemas?Ei-los:

Seumedo,maldadehumana;suador,amisériaalheia;seuso nho, ransormaromundo;suailusão,espalharoamorem ormadepo esia;seudesejo,serimoral;seupesadelo,deixardesonhar;sua ara, escreveromaislindocono;suaganância,guardar udooqueescreve; suaarrogância,quererserúnico;suavaidade,admirarsuasobras;sua simplicidade,viverenreaspalavras;suasina:senr-sesempresó...

Depoisdaprimeirapoesianadamaiséigualaanes,vocêacaba enconrandooqueprocuravaquandocriança,masnãosabiadescrever oudenir.Vocêenconraamagiadaspalavraseimergedoenigmáco mundodossonhos,dasverdades,dasilusõesdossenmenos,dasdores, dasdesilusões.Osmundossemisuramde al ormaqueorealinvadeo ilusórioeoilusórioseemaranhanoreal.Depoisdaprimeirapoesia udo muda, udosepoencializa,ador,aalegria,a risezaaeuoria,ochoro,a melancolia.

Depoisdaprimeirapoesia udomuda,vocêpassaaserumgluão desensações,umexravaganedaspalavras,umosenadordepremia çõeslierárias,umcaçadordeconcursos.

Almeja azerdodicionáriooseusobreudo;darimaemérica pereias,seuaneldebrilhanes;suacomenda,umaesmeraldaaopeio; suapelerine,amaisrobusaarmadura;suamão,acanea neiro;seus livros:oseuexércio!Suaspoesias:assuasarmas;seucérebro:umbem precioso.Suamaéria:oalimenoda erra;seuespírio:osoprodeins piraçãoaquemumdiadebomgradoquiseracolhê-loquandose or.Sua alma:reornaráaoCriador...

Depoisdaprimeirapoesia,jamaisenxergaráomundocomoum simplesmoral,porque,depoisdaprimeirapoesia, udomuda!

SilvanaLemesdeSouza Sarapuí-SP

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Acordaliberdadenãoécinza

Caminhodechinelos.Roupaqualquer.Maquiagemzero.Ligoa elevisão:dor,esascas,mores,médicoseenermeirosquechoram ouaplaudemumpacienequeserecuperou.Doreemoção.Olhosma rejados.Vouàpequenavaranda,molhoplanas,pensoemcanarpara alegraravizinhança,maslembroquenão enhovonade,nemvoz.Tudo oqueconsigoé azerumcaéedarcomidaecarinhoparaminhagaa Saloméquedenadasabe,doalodosseus16anos.Suavidaéacordar, espreguiçar,espichar,comer,esconderacacaedormirmais.Nãosabe queomundoesásorendo,nãosabequeesamospresasemcasapois, anal,elasempreesevepresamesmo:assimcomoBenedic,meucolei rinho,quesócanaparamim.Meuscompanheirosdevida.

Pegoumaxícaradecaé.Falopelozapcomminhamãee enhoa sensaçãodequeacabouodia.Elachora, emsaudade.Olhoparaa ele visão,mas enhomedodeligar.Pegoumlivro,massempaciênciadeler. Querosairdecarro,masnão enhoparaondeir.Ligoparaumamigo,ele reclama.Ligoparaumaamiga,elareclamaechora.Ovizinhodecimaen saiacanarumacançãoNapoliana,maisdesanadoqueapiomolhado. Masvaleuaboainenção.Esamos odos rancados.Ele enoualegrara riseza.

Não enhobicicleaergomérica,mas enhoumabikeenerruja da,naqualnãopasseioháanos.Assoladapelo édiocompiadasgrossas dedepressãoameaçandomosrarasuacara,insisonaideia.Coloco ênis decorrida–velhoporconademeuócio–óculos,capacee,luvas,más cara.Junoàgarraad’água,um rascodeálcoolemgel.Elávoueu.Com pleamenesó.SirvoBenedic comseualpiseimporado,aagoSalomé comumpoedeleie resquinho,ememando.Avidaworkaholicde ala de empoeosedenarismomepresenearamcomumjoelhodeonadoe umalevepança:umpoucoparecidoaoqueaconeceucomagaa.Eeu, eragaa ambém.Benedic permaneceumagro,porqueachoquealpise não emcaloriaalguma.

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2ºLugar Prosade40a59anos

Aosairpelocorredor,enconroavizinhacomumamáscaraazul, exraordinariameneespessaeprossional.Pensologoquequeriauma igual.Mas,elamalmeviuesaiucorrendo,commedodeeuconaminá-la. Naverdade,aanpaaanecediaapandemia.Ela,umadondocaesnobe; eu,uma rabalhadora ull-me.Mas,porummilagre,elasorriuparamim. Eeu,reribuí.Cumplicidadenador,amém.

Pegueiabikenagaragem.Elarangeu,comoquemnãovêóleohá décadas;mas,esranhamene,ospneusesavamaécheios,davapara andar.Enão,pus-meameudesnosemdesno.

Pedaleipeloquareirão.Cidade po“Ensaiosobreacegueira”,ou “BladeRunner”.Ficçãocienca.Poucaspessoaspassando,demáscara ouaécapuz.Olheiosprédiosdolugarondemorohádezanos,enãoos reconheci.Alguns nhamcoreslindas,eslosar decó,ar nouveau,que nuncareparei.Tudodierene.Aviseiomar,decidipararabikeesenar sozinhaemumbancodecimeno.Olheiparaocéueviumazul urquesa, omdeaquarela...aareia,branquinhacomoneve,semumalanhaou pláscosequer.Aágua, ransparene,comose oraomardoCaribeoude FernandodeNoronha.Leveiumsuso!Semedissessemqueeuesavano paraíso,acrediava.

Mas,maiorsusolevei,aoverduas ararugas(mãee lhoe) nadandoalegremenesobaágua ranslúcida,acompanhadasdepeixes gorduchos.Olheiemvolaamecercarseeunãohaviamorrido,erenascidonoJardimdoÉden.Respirei undoeoaresavamais resco,puro. Eu cariaaliporhoras.Tudopareciaumnovoplanea,compleamene desconhecidodemeucodiano.Nãopareciameubairro,nãoparecia meumundo,nãopareciameumar.

Moneinabikeerodeimaisquareirões,sendoseguidaporpás saros.Ascalçadaspareciamchãodeumcenrocirúrgico:nemumúnico papeldebalasequer.Pedalei,pedalei,porhoras!Olheicadaarquieura quenuncahavianoado,cadacaneiroqueeunemsabiaexisr!Cada árvorequeeununcahaviapercebido,mesmo candodianedelasnoen garraamenode odososdias–rumoao rabalho.Oveno ocavameu roso.Minhaspernasnãoqueriamvolar.Eeuchorava,peladordomun do.Masmesenagraa,porainda ervida. Chegandoemcasa, reio ênisnaenrada,coloqueiaroupade molho,laveiasmãoseseneinavarandinha.Saloméveioseesregando pedindoaeo,enoeioquanoelaesavaumabola.Benedic canou,

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PegueiSaloménocoloeprome aelaque,quandoomundo vencesseovíruse udovolasseaonormal,comprariaumacoleiraea levariaparapassear odososdias–asubiremárvoreseseesbaldarnos caneiros.Imagineiaé rocarmeuaparamenoporumacasacomquin al.Emseguida,abriagaioladeBenedic e,comocoraçãodilacerado,o deixeiparr...paraqueelepudesse erumaúnicachancedevoar.Edeser livre.

Diasdepois,acordeicomSaloméseespreguiçandoaosmeuspés, eumcanomaislindoqueexise,melodiavaemminhajanela.Meucolei rinhohaviavoladoparamevisiar.Eleagoraeraumpássarosemprisão, comumcanomuiomais oreevalene.Tambémdescobriuqueser livreéobemmaiorquehá.

O empopassou,apandemiacurou,vidanovaraiou,eeu roquei meuaparamenoporumacasacomquinal.Adorme rouxenovosva lores.E,lembrandodo lme‘’ALiberdadeéazul’’...émesmo.

Salomé,mesmoanciã,aprendeuasubiremárvores, alqualuma alea.Benedic secansoudocéu:achougrandedemaisparaquemcresceuemgaiola,preerindo azermoradanoabacaeirodacasanova,pero dosqueamava.Eelenãovolousozinho: rouxesuacompanheira,uma papagaiaqueenconroupelocaminho.Elacanavaodiaineiro,melodia vaaéohinonacional!

EuabazeicomonomeLiberdade.

GiselaLopesPeçanha Nierói-RJ (Eseconoédedicadoàscenenasdemilharesdebrasileirosqueperderamaluaconra aCovid.)

-72comosempre azquandoeuchego.Eeupenseioquanoomundopode serlindo,eo anoqueoserhumanoodesrói,diaapósdia.Hábeleza em odapare!Camufadaporsujeira,pordesrespeio,porsuperpopula ção,pordesigualdades,por aladeplanejamenourbano!Porasxia!A vidapodeseroura.Hámuiavidapor rásdavida.

Águalimpa

Nasceuemnoiedeluacheia,redonda alqualqueijobrancoe brilhane;masqueijoporaquisóseconhecedeouvir alarpoisnemas cabrasdãomaisleiepra azê-los, alasecuradopasonesseesoque eimaemnãocessar.Océu,esreladoanespareciarevoadade ano vaga-lumequenuncaseviraum anãoassimporessasbandas;de empospracáocaloranda anoquenemvaga-lume emdadoascaras,sóse vêvoodemariposaasadebruxaede ormigaarará.

Ocenárioqueemolduravaachegadadorebeno,maisumna prolenumerosa, nha udopraserpoéco,masocalorexremo,asecura dochão,achuvaque eimavaemnãocair ornavamqualquer ernuraem ormeno,poesiaemagonia,alenoemsorimeno.

Nasceu.Ecomo odorecém-nascido,sujodesangue,sebeno. Limparam-nocomumpanoquasebranco–já nhasidobrancohá empos,quandoaquichoviae nhaáguapralavar...Nãopodeserbanhado pelapareira,águanãohaviaquase,nãosecareciadesperdiçar,ia alar prabeber.Quando nhaáguaprabeber...

Avidaéduraporaqui,ochãoéduroporaqui–nãochoveágua pramolhara erra,praaoarochãodaqui.Nuncasevêlamaporaqui–nemsesabeoqueissoénasbandasdaqui...

Amãedorecém-nascidoquaseparecevóde ãoenrugada,roso envelhecidomuioanesdo empocero,apeledacaraéoespelhodo solodolugar:rachado,quebradiço,poeireno.Semexpressão.Semalen o.Osuorqueescorremarcaapoeiragrudadanoroso.

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3ºLugar Prosade40a59anos

Nãochoralágrimasdadordoparo,nemdaalegriadamaerni dade;aslágrimassecaram,sejapeladorquejáseacosumou–“nasceu rápido, emboapassagem”,disseapareira;sejapelo amanhodaprole jánumerosa,“éonono lho!Seisvivos”,disseomaridoacendendoum cigarrodepalha.

Aslágrimasdevem erevaporado alqualoaçudedaVila,que nemoriachoquedesciadomorromarromdoqualsobrousóoleio, al éocalorque azaqui.Se vesselágrimaschoravamuiosópraverse junavaágua,aindaquesalgada.

Oúlmorebenocresceu,“comoo empopassarápidoigualcar reiradebode”,assimsedizporaqui.Já emsombradebigodee ana espinhanacaraqueparecemandacarudejaneiro,quenão uloranaseca. Quasenuncaviuchuva,nemselembraquanasvezes.Nãoconheceen chene, emporalnemsabeoqueé.Águalimpanuncaviu.Nembebeu, nãosabedosem-gosodaágualimpa:“água emgosode erra”.

Apoucaáguaqueporvezescaidocéu–dequandoemvezSão Joséabençoa,caina erraeevapora.Aquesobravaiprorasoaçudebar reno,pisadodegadomagro,remexidodelaad’águaecuiadecabaça. Éraso,masnãosevêo undo, empoucaágua,quasenada,rasae urva quenemvisacansada.

“Ouvidizerqueáguaeralimpa,claraecrisalinaquenemvidro dejanela.”Nuncaviuassimnão,quandocaidocéué ãopoucaquenão juna,quando ána erramisuraeganhacor.Prabebernãopresanão, massenãobebernãosobrevive.

Dizemquenacidadegrande emde udo: rabalho,mar,moça pracasar–eágualimpa.“Voupralá,minhamãezinha”.Junouas ralhas, bempouquinhas, ezsinalpedindocaronaaocaminhãoqueiaparaaci dade,lábemlonge.“Dizquelá emmuiaágua, emaéuma aldeinun daçãode anaáguaquechove.Seidizeroqueénão,ninguémvoloude lápraconar.Deveserbom”.

Saloudacaronanacidade,perodaesaçãocenralde rem.Falaório,correria,conusão.Nuncavira anagenejuna,“pareceaéenxa mede ormigacarregadeira,meuDeus!”Largounochãoobornalcomas poucas ralhasquecarregava,de onoque cou.“Perdeu,mané!”Ouviu ogrioeláse oiapoucabagagemque nha,sumidadenreamuldão.

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Semapoucabagagem,semparadeiroparaondeir,sedeucona do amanhodoproblemaque nhanaquelelugardesconhecido.Vagou semsaberpraondeir,adormeceunamarquiseacompanhadod’ouros anoscomoele,sempousoceropra car.Puxouconversa,“onde emágualimpaporaqui?Rioquesevêpeixenadar,quesevêpedra no undo?”

“Águaaé em,logodepoisnoviaduopraládosinal;jáágua limpaéruim,hein.Oriodaquiéocanaldomangue,quasedápraan darporcimad’água;enemprecisaserhomemsano.Peixe?Táde sacanagem,né?!”

Foilápraconerir:correumavaladeáguacinza, edorena,gros saquegrudanaspedras.Aspedras camensebadasenemse vessemil panosquasebrancos,daquelescomqueapareiraolimpouconseguiria descobriracordaspedras.Ouviradizerqueáguaeracrisaliza,semchei ro,semcor.Semgosodenada,oquenãoenendiamuiobem:“como podeserboasenemgoso em.”

Escreveucaraparaamãe:“Nãocreia,quenemeu,queáguaé coisalimpaquenemcéusemnuvem,claracomovidrodejanela–isso nãoexise!Deveser ruodeconaçãodehisóriadecigana.Águaécinza, sebena, emcheiroruim, eneiaébeber–vomiei.Éruimpordemais. Achoqueáguaboasó emaquelaquecaiporaídequandoemvez,cada vezmenos.Pelosmenossebebe.”Acara,guardounobolsode rásda calçadesboada,não nhadinheiropramandar.Ese vesse,aindaassim elechegariaanesemcasa.“Vouvolarpracasanaprimeiracaronade vola”, aloucomseupensameno–“daquijávourezandopraSãoJosé prachuvadequandoemvezcairnoserão.Águaboaporaqui,cidade grande,nãoexisenão.”

Umanoie,ouradepois,maisuma ambémdepoisdecadadia desol.Noquarodiao empo echouemnuvenscinzenas,clarãoderaio ebarulhode rovãolhechamaramaaenção.“Hojeachuvavem,vamos verseéboamesmo,sedáinundação.Vou omarbanhodeágualimpa, voubeberágualimpa ambém.”

Achuvacaiu ore,nuncavira anaassim.Derepenecorreria, umulo,griaria.Tinhamaisbarulhoalémdosomde rovão:“corre!”, “pega!”,“para!”Acorreria oiseguidadebarulhode ros.Achuvacaiu

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“Táchovendo,meuDeus!”griousemserouvidoemmeioao umulonamuldão.“Águalimpa!”Nuncavira ana,em amanhaquan dade.Esava ãoexasiadocomaprousãodepingosgrossosna ace lavadaquenemdeuimporânciaparaobaque orenovenre–porrada ardidaquedoeuqual erroembrasa.Hipnozadopelaágua araque nunca nhaviso,olhouemvola–decimacaíalimpa,nochão,aosseus pésaáguaesava ngidadecarmim–vermelhoquenempenadepassa rinho ê.

Alvejadopelabalaperdidamorreunapoçad’águalimpacomque sempresonhara.Águaaindaquaselimpa,manchadacomseusangue...

AndersonAlmeidaNogueira CachoeirasdeMacacu-RJ

-76ore,as rovoadasaumenaramovolume,osclarõesdosrelâmpagos conundiam-secomosclarõesdasrajadasdebalasdo roeio.

EscritasdeTila

Onomequereceberaemseuregisrocivilnãolhesoavabem aosouvidos.Aceiava-opelaescolha erhomenageadoumaproessora dacidadeondenascerapelosidosdosanos rina.

Nomeio amiliarchamavam-naTila.Pareciasempre elizcom aquelechamamenocarinhoso.

Tilaviveusuavidaenrelaçadaàspalavras,àsleraseàsescri as.Aoverqualquerregisroimpresso ornavamaisbrilhososseusverdes olhos.

Eolhavaeseencanavaesedeixavaperplexacomoemaranhado dasescriasedasrepresenaçõesregisradas,capadasporsuasrenas.

Eracomalegriaasua alarememoravaaoseu empodeescola,lon gínquosquaroprimeirosepossíveisanosdoangogrupoescolar,duro períododesuaescolarizaçãopopular,cimenadoemdurospassosaéa chegadaaovelhoeducandário.

Orespeio doehavidoporsuasquaroproessoraseradiscurso evideneemsua alasobreossaberesesaboresdaleiuraedaescria. DesacavaamaesriadeD.Luzia,coincidenemenesuamesranopri meiroenoquaroanosdoensinoprimário.Aela ribuavaosomdesper adordaimporânciadoesudonavidahumana.

Ouvi-la alarsobreaspalavraseraumaode éedeesperança paradesvelarummundodeconhecimeno.EracomoseTilaeBelisaCre pusculário,personagemdocono“Duaspalavras”,daescriorachilena IsabelAllende,marcassemumenconroenrearealidadeearepresena çãoeséca,emespaçosdisnos.Oceroéqueambas êmna orçadas palavrassuasquesõesidenárias.

AssimeracomTila.Quandoo emaerasaberescolocava-seem posiçãodeesranhamenoedizia:“eunãosei udo,masde udoprocuro

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1ºLugar Prosa60+

Donadeumhumordeexcelência,cuidandode ocarasuavida nasingelezademulherdolar,rodeava-sedeuma,deváriasedediversas olhasdepapéis,sobreasquaisregisravasuasescriasà naoualápis, osresuladosdeseuesranhameno, ruosdesuaaenção,suapercep çãoemovaçãoaolido,aopensado,emseuconnuo empodebruçado sobreocursodeviver.

E oram anasasbulasderemédiomarcadas,assimcomoas o lhasdejornalemdesuso,pequenos olheosdeanúnciosdiversos, olhas nãomaisesparsassobreasquaisumououroaponamenoreveladorda escriadeTila:regisrossilenciososdeseuprazer,mesmoumnomelido nopapel, ãosomene.

Eacaminhada errealdavidadeTilachegouaoseu nalnoiní ciode2015.Trises,aspalavrasembaucaram.Desvalidos ornaram-seos papéisemblocoouavulsos,companheirosdaescribaerecolheram-seao silêncio,ouvindo-seapenas,longinquamene,odobrardossinos.

Eosanossepassaram,aslembrançasmarcanesdeTila,guarda ram-nasoscoraçõesdeseusenesqueridos,seusamigoseseusconheci dos.Aparlhadasaudade azageneguardarlembrançaspeculiares.

De anoveredeadmiraradiscriçãodosseuspapéis,cuideida caixaarmazenadoradesuamemóriaescria.Recolhi-acomopreciosidade comqueera raada,eguardeicomigoosperencesdopequenobaúdas escrias:blocos, olhasavulsas, olheos,recoresdejornal,caderneasde anoações,enm,oconjunovivodaspalavrasdeTila.

Passadosalgunsanos,norevirardelembrançasedosguardados, reviacaixa.Nelahibernavamaspalavraseaslerascomescriasgenuina meneenreecidaspeloconao empo/objeo/regisro.Eraumvolume grandedeescrios.Enreeleshaviaumavelhaagenda–nem ãoanga assim,considerandoo emponelaimpresso–oanode2009–queme chamouaaenção.

OereciaquelaagendaàmãeTilabemnoiníciodaqueleano,um mimoaenriqueceroprazerdeseusregisrosemsualidaapaixonadana consruçãocalígraadeseuemenário.

Tinhacomigoqueaescriuraçãodeminhamãe ossepossivel meneasua ormadebordareadecosurar,habilidadesnãoaprendidas

-78saberumpouco”.Noescavardossegredosdosvocábulosesavaelaa desvelarpalavrasnadainocenes,nemaomenoslançadasaoveno.

Comocoraçãoacelerado olheei,volvendo olhaa olhadaagen da.LáesavamaspalavraseaslerasdeTila.Foiummomenodesig nicavosenmeno:-eracomoseeuouvisseovirarouodesvirardas olhasporelaabuscaralgum podeanoação rmadaumdia.Esabeleci aliconexõesdesaudosa elicidade,aquelemomenoderenamenode lembrançaseemoçõesvividas.

Epercorriaagenda–o emploescriuraldeTila–deixando-me levarpelopassardaspáginas,aé oparumregisronocenrodeuma das olhas.Marcaneregisro.Sempreaocenro,amesmamensagemse repeaporalgumaspáginasadiane.Emêxase,reomandoo ôlego,eu vicommaiorinensidadedosenr,os raçosdobordadodasescriasma ernasnaquelaagendarelicário.

Amesmacaligraaenãoacrescidade raços rêmulosnoriscadodorocamo,causadosporumaenermidadequealeraraligeiramene o raçadooriginaldaescria– ãoclaraaneriormene–nuncaabando nada,eenãoseassemelhavaaoavessodobordado.Oavesso ambém alinhavavaapaixão,abelezaeamarca esemunhaldeTilano ecimeno desuahisória,desenhosdosseussendosdevida. Aqueleregisrolidoproduziueeiosemmim.Busqueimaeriali zaroido empodalembrançaimpacane razidaporelesaosmeusolhos, anosdepois.Alembrançaresgaouaqueleiníciodejaneiro,em2009, quandoabrindeicomaagendaelhedisse:“queridamamãe,parapassar umbom empo,umbomanoescrevendo”– raseesaesampadapor maisdecincopáginas,no remidodeleras,presenequemeobsequiou comalegriapelasingelezadamensagemrevisiada, ransormadaenão numsuspirodedocesaudade,senmenobom,paramim,a raduçãode amorbordadopelos oselinhasdoamordemãenasdocesescriasde Tila.

ElísioVieiradeFaria SãoJosédoRioPreo-SP

-79porelaao odalinhaecomaagulhadecoser.Tãoparcularmeneem seuesloTilabordeavaescrias,alinhavavapalavrasnocerzirdeseuen tretenimento!

Moedadetroca

Avidaéumgrandequebra-cabeças!

Imaginemaquelejogodidácoediverdodeconsruçãodeima gens,ulizandopequenaspeçasqueseencaixam.Éumómoexercício queajudanodesenvolvimenodacapacidadederesoluçãodeproble mas.Insga-nosaanalisaro odoedesenvolveresraégiasparaasua monagem.Sãováriososcaminhos,váriasopçõesqueescolhemospara denirporondecomeçar.

Tudo emseucomeço,meioe me,narea nal,aúlmapeça ará odaadierençaparaaconclusãodo rabalho.

Eaínosdeparamoscomumobsáculo:sabeaquelaúnicapeça que alanojogo?Aquelaque,porvezes,esáaonossoalcance,nanossa rene,enãoaenxergamos?Ounãoqueremosenxergá-la?Inconsciene mene,sabemosqueelaéachavedaquesão.Mas,esamos ãoacosu madosaoconormismoquedeixamosaqueleespaçovazioparaamanhã, semnospreocuparmossehaverárealmeneumamanhã.

Àsvezes,aquelapeçaesáescondidadebaixodo apee.Sim,da quele apeeondeempurramos odaasujeirinhasemimporânciana quelemomenoequevaiseacumulando,qualsenmenodecanado. Basaumachacoalhada,ummovimenosequerparaseespalharpor odo lugar,comoumaavalancheinconrolável.Enão,adeixamosláporpre guiçadeprocurá-laouparaeviarmosalgumdesconoro.Pelosimples aodenãoesarnonossocampodevisão,proelamosaresoluçãodos problemas.

Assim azemoscomanossavida,proposiadamene.Fingimos queesá udobemequeaquelasiuaçãonãoiránosaear.

-80-

2ºLugar Prosa60+

OmesmoaconecequandoligamosaTV.Oquevemos?Vemos somenenocias risesesenmenosnegavos.Poucosprogramas sãodeenreenimeno,educavos,deesperançaou razemmensagens posivas.

Inelizmene,oquedáaudiênciasãoosaconecimenos rágicos, as oocas,adispuapelopoder,aguerranosendorealdapalavra.O negavismoimperanasredessociaiseéissoquearaiopovo.

Mas,agrandeilusãoéacharmosque udoderuimaconeceso menecomosouros,ouras amílias,ourospaíses.Mesmoqueincons cienemeneesejamosincomodadoscomasdesigualdadessociais,com ospoderososque azemaguerra,masnãoenramnelas,comasinjusças de odasasordens,coma omee aladeesperançadahumanidade,nos deixamosaprisionarpelascorrenesdoegoísmoeemnossapequenez cruzamososbraços,calamosavoze echamososnossosolhos.

Paro,enão,parapensar:Ondepoderiaesaressapeçavialda vidaque alaparamonaroquebra-cabeças?Esariaescondidanoabis moescurodanossainconsciênciaenadesesperança?

Deus ezascoisas ãosimplesenóscomplicamos udo!Nossas rusrações,decepções,sorimenoseconfiossãoresuladosdasnossas própriasescolhas,doscaminhosqueescolhemos,daesradaqueresolve mos rilhar.

Apeça-chaveéoAmor!

Acausade odoonossosorimenoéoegoísmo,a aladeamor. Amorpornósmesmos,pelosnossosirmãos,pelaspessoasemsiuação de ome,miséria,desajusesedesigualdadesociais.Amoràsnossasraí zes,nossomeioambieneemdegradaçãoeaosanimaisemsiuaçãode abandonoemaus raos.Amoràsdierenesraças,opçõessexuais,crian ças,jovenseadulosespeciais,idososeosqueseenconramàmargem dasociedade.Tanasdesvenurasvivemosmenosaorunadoseaindie rençaéopiorsenmenoquepodeexisremumasociedadedepessoas individualisas, riasevaziasdeamoresolidariedade

Amor:Éapeçaque alaparaoequilíbriodahumanidade,paraa salvaçãodasnossasalmasenossaevolução.Amoràvidaeaelasermos graos.

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Nem udosãoforesepoesia,mas,nessecenáriodeconradições ousoserpoea.Ouso alardeamorporqueele ranscendeavidaeperpe uaossonhos.Ousoplainarqualborboleasnasasasda anasiaporquea poesiaeernizaosmomenosdealegria,prazer,deleie,delíriosesonhos. Enósprecisamossonharporqueossonhossãoalimenoparaanossa alma ãosoridapelosrevesesdavida.

Mesmosabendoqueminhaspalavrasperdemseusendoquan dooecodaminhavozbaenovaziodoscoraçõessurdos,queroexpressar oquevainaminh’alma:Ah!Seomundo osseavessoàsdierençase enreaspessoasnãohouvesseindierença.Se odosassumissemasua essênciaenãovivessemapenasdesimplesaparência...Ah!Seaspessoas vessemDeusnocoraçãoerespeiassemaindividualidadedoseuirmão. Osonhodaigualdadeserianossarealidadeeomundonão eriaperdido asuaidendade.

EnquanooAmornão oramoedade roca,eevamene,omun dosoreráasconsequênciasdesuasescolhaserradas.Esempre alará umapeçanaconsruçãodavidaqueescolhemos er.

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Jacareí-SP

Opasso

Nuncavouesquecerodiaemqueelanãoconseguiumaiscami nhar.Aéenão,vinhacaminhandocomoauxíliodeumandadorqueeu haviacompradoparaelasesenrmaisseguraeindependene pelo menosemcasa.

Adoençaavançavarapidameneacadadia,acadahora,acada minuo.Umdiaera oalmenedierenedoouro.Asdiculdadesde hojeseriammaioresamanhã.Ogesoindependenedehoje,pormais rivialque osse,amanhãjánãoseriapossívelcomamesma acilidade.

Saiudoquaro azendomuioesorçoparacaminharenomeiodocorre dorqueligavaosquarosàsalaparou,euesavalogoaráseviasuasper naspareceremdechumboao enardarumnovopasso.Virouacabeça paramimedisse:“Nãopossomais.Éomeulimie....Voucair...” Euaabraceipor ráse omosjunosdevagarbuscandoochão. Seucorpopesavamuiomaisdoqueparecia.Senamosnochão.Elana minha rene,meiodelado,repousouacabeçanomeupeioemeolhou comcarinhovirando-seemminhadireção.Euaacomodeimelhore ca mosporumperíodoemsilêncio.Umsilênciodecumplicidades.

Dormimosumpouco.Quandoacordeielaesavacomaqueles olhosverdesacuidardemim.Eudeiumpequenosorrisoeelamedisse: “Agenedeverialembrardodiaquedemosoprimeiropasso,issonosen corajariapor odaavida”.Nessemomeno veacerezadequeelasabia quenãoandarianuncamais.Aperei-aemmeusbraçoscomoeu osse umúeroecheireiseuscabelos.

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3ºLugar Prosa60+

Ficamosali rocandolembrançaseelame alouqueaindalem bravadodiaquecadaumdos lhos nhaandadopelaprimeiravez.

Disse-mequeeuandeioprimeiropassoagarradoàspernasdela.Rimos umpouco.Brinqueiqueeusempre uimuioapegadaaela.Respondeumecomumsorriso.

Agora,euesavaaliparaproegê-laemseuúlmopasso.Emsi lêncio.Sónósdois.Tivevonadedechorar,maspenseinagrandezada quelemomenoemminhavida,emnossasvidas.Nãopoderiachorar, poisisso ornaria udomaisdicilparaela.Enreos lhos,euesavasen doagraciadocomaquelemomeno.Nãopoderiaperder empochoran do.Aindanãoeraahora.

Pelaprimeiravez alamossobreadoença.Eudisseque nha medopordesconhecer udooquepoderiavirdaliparaa rene.Elame conessouquesesenacomoesvesse candopresaemumaparede.

Aquela rasemedeuacerezadequeeuseriaaexensãodelaaparr daquelemomeno como,de ao,aconeceu. Sósaímosdalinocomeçodanoie.Aospoucosaacomodeie consegui carempé.Meucorpopareciaenergizado.Energizadopara suporarosdoismesesqueaindaviveu.Minhaúlmagrande area oi levá-lacomvidadevolaparacasaparaquevivesseseusúlmosdiasem amília.

Àsvezesmepergunoporqueeu uio lhoescolhidoparapassar essesmomenoscomela.Aindahojenão enhoaresposa,mas odavez que açoesapergunalembrodosolhosverdesdelaameolhar.

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WalerKarwazkiChagas

PoroAlegre-RS

Acadêmicosnaatualidade

AnonioCarlosRodriguesLorete

BearizV.CamarinhaCaslhoPino CarmenLiaBasaBoelhoRomano

CelinaMariaBasosVarzim Pe.ClaudemirAparecidoCanela ClineidaAndradeJunqueiraJacomini

CyroGilberoNogueiraSanseverino DoniseeTavaresMoraesOliveira FaustoLucianoPanicacci FranciscodeAssisCarvalhoAren HélioCorreadaFonsecaFilho

JoãoBapsaScannapieco

JoãoBasaGregório JoãoBasaRozon

JoãoOávioBasosJunqueira

JorgeGuembergSpletsoser Pe.JoséBenedioAlmeidaDavid JoséRicardoBitencour Noronha JoséRosaCosta

LauroAugusoBitencour Borges LincolnAmaral LucelenaMaia

LuizAntonioSpada

LuizFernandoDezenadaSilva LuizaNagibElu

MariaCândidadeOliveiraCosa MariaCeciliaAzevedoMalheiro MariaCéliadeCamposMarcondes MariadeLourdesOliveiraJuvêncio MariaIgnezdosSanosD’ÁvilaRibeiro MariaJoséGarganniMoreiradaSilva MarlyT.EsevamdeCamargoFadiga NeusaMariaSoaresdeMenezes NíveaPoliBarbosa RauldeOliveiraAndradeFilho RonaldoFrigini SérgioAyronMeirellesdeOliveira SilviaTerezaFerraneMarcosdeLima SoniaMariaSilvaQuinaneiro SusanadeVasconcelosDias VaniaGonçalvesNoronha VedionildoImpério WildesAnônioBruscao WilgesArianaBruscao

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DiretoriaAtual

DiretoriaBiênio2021-22

Presidene:BearizVirgíniaCamarinhaCaslhoPino Vice-Presidene:LucelenaMaia

1ªSecreária:NíveaPoliBarbosa

2ªSecreária:MariaJoséGarganniMoreiradaSilva

1°Tesoureiro:LauroBitencour Borges

2ªTesoureira:VaniaGonçalvesNoronha

ConselhoFiscal: DoniseeTavaresMoraesOliveira JoãoOávioBasosJunqueira WilgesArianaBruscao

ACADEMIADELETRASDESJBVNAINTERNET:

www.alsjbv.ar.br secrearia@alsjbv.ar.br acebook.com/alsjbv insagram:@alsjbv www.youube.com/c/academiadelerasdesaojoaodaboavisa

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