Um ano Jesus - mini livro

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APRESENTAÇÃO

O objetivo de passarmos um ano com Jesus

é aprendermos a orar. Nossas orações não começam conosco. Começam com Jesus. Antes mesmo de abrirmos a boca em oração, Jesus está orando por nós. Apesar de se falar muito o contrário, não há segredos para se viver a vida cristã. Não há atitudes como pré-requisitos. Não há condições mais ou menos favoráveis para se buscar o Caminho. Qualquer pessoa pode fazer isso, de qualquer lugar, começando a qualquer momento. Mas, isso só é possível mediante a oração. Só podemos orar para que nossa vida siga os passos de Jesus. Quero insistir em que a oração não é algo que se acrescenta à vida cristã (ou à qualquer forma de vida, na verdade). Não podemos nos especializar mais na oração do que na vida. Não podemos fazer uma oração abstrata a partir de nossos exemplos existentes ou isolados de oração e estudá-los sob condições de laboratório. É na língua que nossa vida é vivenciada, estimulada, desenvolvida, revelada, instruída. A língua que aceitamos como verdadeira, amamos, exploramos, buscamos e encontramos. Não há atalhos nem desvios: a oração é a língua de berço entre todos aqueles que “nasceram de novo” e cresceram para seguir Jesus. É uma vida vivida em resposta a Deus. Não aprendemos sobre a oração, mas aprendemos a orar; e a oração, como se vê, nunca é apenas oração, mas envolve todas as dimensões de nossa vida – comer, beber, amar, trabalhar, andar, ler, cantar. Devemos interiorizar e manifestar o modo como seguimos a Jesus. É isto que a oração faz: recebe Jesus dentro de nós, coloca seu Espírito em nossos músculos e reflexos. Não há outra maneira. Não podemos protelar a oração até que “levemos jeito para ela”. Ela é a única linguagem que temos ao nosso alcance enquanto levamos nosso ser único e particular, “assim como somos sem nenhuma justificativa”, à conversa de hora em hora, todos os dias, com Deus, que vem “como ele é” em Jesus. Seguir a Jesus necessariamente significa assimilar suas palavras e caminhos em nossa vida cotidiana. Não é suficiente simplesmente reconhecer e aprovar seus caminhos e começar na direção certa. Tudo o que está relacionado a Jesus existe para ser aceito por nossa imaginação e assimilado em nossos hábitos – no modo como cremos e vivemos. Isso só ocorre quando oramos enquanto lemos a história de Jesus, oramos as coisas que vemos Jesus realizando, oramos as palavras que ouvimos Jesus dizendo, oramos as dúvidas que temos, oramos


4 as instruções, promessas e convites que nos vêm nesta história, oramos as dificuldades que encontramos pelo caminho. Oramos com Jesus; Jesus ora conosco. Dia após dia, semana após semana, mês após mês, oramos Jesus – Deus conosco – nos detalhes de nossa vida, e a salvação de Deus se forma em nós. Com o intuito de oferecer este texto para a oração, para suas orações e as de Jesus – uma verdadeira conversa –, usei as histórias e palavras de Jesus dos evangelhos de São Mateus e de São João e as distribuí em uma sequência de leitura, reflexão e oração de 365 dias. Interrompi Mateus dois capítulos antes do fim para deixar a conclusão para João, a qual é a mais magnífica. Minha intenção é que sua leitura de Jesus se transforme em uma oração com Jesus, mantendo a agradável companhia dele como amante e amigo.


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Ajoelharam-se e o adoraram Entraram na casa e viram o bebê nos braços de Maria, sua mãe. Num gesto de submissão, ajoelharam-se e o adoraram. Em seguida, abriram a bagagem e entregaram os presentes: ouro, incenso, mirra. Mateus 2.11

A primeira coisa que os sábios fazem na presença de Jesus é adorá-lo; eles não se cumprimentam por terem-no encontrado, não fazem perguntas e não tentam obter algo dele, mas se oferecem a ele. Como é sua adoração?

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Em tua presença, Senhor Jesus, quero que minha vida seja transformada, de uma vida para obter coisas para ser uma vida de entrega, a fim de que eu possa vir a ser completo. Amém.


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Sal Permitam-me dizer por que vocês estão aqui. Vocês estão aqui para ser o sal que traz o sabor divino à terra. Se perderem a capacidade de salgar, como as pessoas poderão sentir o tempero da vida dedicada a Deus? Vocês não terão mais utilidade e acabarão no lixo. Mateus 5.13

Por menor e mais insignificante que seja cada indivíduo cristão, somos a maneira pela qual Deus preserva a sociedade, aguça a papila gustativa da civilização. Nossa utilidade não está no que fazemos, mas no que somos pela graça de Deus. Quais são os principais usos do sal em sua vida? Pai, fico pensando que tenho de correr e fazer algo; tu continuas a me chamar de volta para ser alguém. Usa esta vida que criaste e redimiste para preservar e beneficiar aqueles entre os quais vivo hoje. Amém.

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Reino Dá um jeito neste mundo. Faze o que é melhor – tanto aí em cima quanto aqui embaixo. Mateus 6.10

Todo sistema político inventado pelo ser humano é falho em algum ponto e, por fim, corrupto. A tarefa de ordenar a vida das pessoas com harmonia e justiça escapa a nossa competência. Enquanto isso, há pessoas que já estão sendo governadas com amor e que vivenciam nesse governo a bondade e a satisfação de Deus. O que significa “reino”?

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Venha o teu reino: Estabelece teus princípios de redenção em mim e entre todos os que se ajoelham em tua presença e confessam teu senhorio. Inaugura teu governo, Senhor Jesus, e faze-me um cidadão participante dele. Amém.


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Venham a mim Vocês estão cansados, enfastiados de religião? Venham a mim! Andem comigo e irão recuperar a vida. Vou ensiná-los a ter descanso verdadeiro. Caminhem e trabalhem comigo! Observem como eu faço! Aprendam os ritmos livres da graça! Não vou impor a vocês nada que seja muito pesado ou complicado demais. Sejam meus companheiros e aprenderão a viver com liberdade e leveza. Mateus 11.28-30

O DIA está repleto de possibilidades. A ordem de Jesus desperta-nos de uma timidez sonolenta. Ele não nos pede para ir ao mundo e conquistá-lo, mas nos chama a carregar o jugo com ele. Ele não nos pede para fazer algo que não promete fazer conosco. O convite para estarmos com ele é maior do que a ordem que nos envia ao mundo. Como funciona o jugo de Jesus em sua vida? “Vinde a mim, vós, cansados, e eu vos darei descanso. Ó bendita voz de Jesus, que vem aos corações oprimidos! Ela fala de bênção, de perdão, de graça e de paz, da alegria que não tem fim, do amor que não pode cessar.”1 Amém.

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1. William C. Dix, “Come unto Me, Ye Weary”, The Hymbook, p.233.

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Calma! Terminada a refeição, ele insistiu em que os discípulos entrassem no barco e fossem para o outro lado, enquanto ele despedia o povo. Em seguida, subiu a uma montanha onde pôde ficar sozinho e orar. E ali ficou até tarde da noite. O barco já estava longe quando começou a ventar muito forte, e a embarcação era sacudida pelas ondas. Por volta das quatro horas da madrugada, Jesus foi na direção deles, andando sobre o mar. Aterrorizados, eles nem conseguiam pensar direito. “Um fantasma!”, gritaram apavorados. Jesus tratou de tranquilizá-los: “Calma! Sou eu. Não tenham medo”. Mateus 14.22-27

Enquanto os discípulos pelejavam no barco, Jesus estava orando no monte. O trabalho deles não os estava levando a lugar algum; Jesus, forte graças às suas horas de oração, dá-lhes aquilo de que eles precisam. Qual é um dos momentos mais assustadores de sua vida?

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Obrigado por tuas orações, Senhor Jesus, por me trazeres Deus, por me dares amor, por invadires meu terror com tua coragem, por me salvares. Amém.


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Ponto de encontro de ladrões Jesus foi direto ao templo e expulsou todos os que faziam comércio ali. Ele derrubou as mesas dos agiotas e as bancas dos vendedores de pombas, citando este texto: “Minha casa foi designada casa de oração; mas vocês a transformaram em ponto de encontro de ladrões”. Mateus 21.12-13

Os lugares de adoração são centros movimentados: centros para grupos de discussão, projetos de trabalho, reuniões sociais – e, naturalmente, uma breve oração para que as coisas comecem bem. A maioria das igrejas poderia apoiar uma boa limpeza do templo. A oração é a atividade central em sua igreja? Da próxima vez em que eu entrar em minha igreja, Pai, orarei. Não falarei sobre ti nem falarei com as pessoas lá, mas me voltarei para ti e serei teu alvo. Mantém-me fiel e atento à conversa que estás tendo comigo em Jesus Cristo. Amém.

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As minhas palavras permanecerão Aprendam a lição da figueira. Quando perceber que ela começou a florescer e verdejar, vocês sabem que o verão está chegando. O mesmo acontecerá com vocês. Quando virem os sinais, saberão que não demorará muito. Levem isso a sério. Não estou me dirigindo apenas a gerações futuras, mas a vocês também. Esta era continua até que todas essas coisas aconteçam. O céu e a terra vão desaparecer, mas as minhas palavras jamais. Mateus 24.32-35

A terra parece tão sólida, os céus parecem tão imensos – e as palavras parecem tão frágeis. Mas as palavras que permanecerão, que estão cheias de energia e que cumprirão nossa redenção são as que Cristo pronuncia. Reflita sobre a importância da “palavra” no evangelho.

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2. Sarah E. Taylor, “O God of Light, Thy Word, a Lamp Unfailing”, The Hymbook, p.217.

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“Ó Deus da Luz, tua Palavra, uma lâmpada infalível, brilha em meio à escuridão de nosso caminho pela terra, sobre o medo e a dúvida, sobre o desespero sombrio que prevalece, guiando nossos passos ao teu dia eterno.”2 Amém.


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A busca do irmão André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram o testemunho de João e que haviam começado a seguir Jesus. A primeira coisa que ele fez depois de descobrir onde Jesus vivia foi procurar seu irmão, Simão, e dizer: “Encontramos o Messias”. (isto é, ‘o Cristo’). Ele imediatamente o levou a Jesus. Jesus olhou para ele e disse: “Você é Simão, filho de João? De agora em diante seu nome será Cefas” (ou Pedro, que significa “pedra”). João 1.40-42

O primeiro impulso daqueles que são atraídos a Jesus é a generosidade – não obter tudo o que pudermos, exclusivamente, para nós mesmos, mas compartilhar tudo o que pudermos com os outros. A generosidade de André era o evangelismo. Quem você levou a Jesus? Quero ser um bom testemunho a ti, Senhor Deus, para que não falte a ninguém entre meus familiares, amigos ou vizinhos o convite de minha parte a entrar em tua presença e sair da violência, do esquecimento ou do egoísmo. Amém.

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Desceu do céu Digo isso agora da maneira mais sóbria e solene: quem crer em mim tem vida verdadeira, vida eterna. Eu sou o Pão da Vida. Seus antepassados comeram pão do céu no deserto e morreram. Mas agora está aqui um Pão que verdadeiramente veio do céu. Quem comer desse Pão jamais morrerá. Eu sou o Pão – o Pão vivo! – que desceu do céu. Qualquer um que comer desse Pão viverá – e para sempre! O Pão que dou ao mundo, para que possam comer e viver, sou eu mesmo, um ser de carne e sangue. João 6.47-51

A vida vem do alto, não do que nos rodeia nem de nosso interior. A salvação eterna é um dom de Deus, não um acúmulo de virtudes humanas. Recebemos aquilo de que precisamos eternamente quando nos abrimos para Deus e recebemos o que ele dá em Cristo, não quando tentamos conseguir as coisas por nós mesmos. O que aconteceu no deserto?

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Querido Senhor Deus, não quero viver com base na lembrança de velhos milagres, mas experimentar os novos na fé. Atrai-me à plenitude da graça deste dia no qual tens coisas novas para realizar em mim e por meu intermédio, em Jesus. Amém


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Um único rebanho e um só pastor Eu sou o Bom Pastor. Conheço minhas ovelhas, e minhas ovelhas me conhecem. Da mesma forma, o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Tenho mais consideração pelas ovelhas que por mim mesmo. Sacrifico-me se for necessário. Vocês também precisam saber que tenho outras ovelhas, além das que estão neste aprisco. Preciso trazê-las e ajuntá-las também. Elas também reconhecerão minha voz. Então, haverá um único rebanho e um só Pastor. João 10.14-16

Um bom pastor não tem favoritos, concentrando a atenção em alguns e ignorando os demais. A preocupação e afeição do pastor excedem o que um único aprisco ou uma determinada ovelha podem experimentar ou até mesmo saber. Quem são algumas das “outras ovelhas”? Pastor Cristo, ouço tua voz; quantos ouvem-na também? Enquanto me levas aos verdes pastos e para o lado de águas tranquilas, guia-me à comunhão de amor com outras pessoas que te seguem. Amém.

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Pai Tenho usado figuras de linguagem para comunicar estas coisas, mas em breve vou deixar de lado as figuras e falar claramente a respeito do Pai. João 16.25

Na época de Jesus, a maioria das pessoas acreditava que havia um Deus, mas poucas pensavam nele com carinho. Para aquelas que, relutantemente, o respeitavam como um legislador distante ou, timidamente, temiam-no como um juiz irritado, Jesus proclamou-o como Pai e demonstrou um relacionamento pessoal com ele em amor. Como a palavra “pai” muda suas ideias acerca de Deus?

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“Nosso Pai do céu, revela-nos quem tu és. Dá um jeito neste mundo. Faze o que é melhor – tanto aí em cima quanto aqui embaixo. Conserva-nos vivos com três boas refeições. Preserva-nos perdoados por ti e perdoando os outros. Guarda-nos de nós mesmos e do Diabo. Tu estás no comando! Tu podes fazer tudo o que quiseres! Tua beleza é fascinante! Amém. Amém. Amém.”


Eugene Peterson

Nascido em 6 de novembro de 1932, no estado norteamericano de Washington, e graduado pelo Seminário Teológico de Nova York e pela Universidade Johns Hopkins, o Rev. Eugene Peterson fundou em 1962 a Igreja Presbiteriana Cristo Nosso Rei, em Bel Air, Maryland, Estados Unidos, comunidade que pastoreou por 29 anos. A partir de 1991, passou a dedicar mais tempo ao ensino e à literatura, tornando-se, em 1993, docente em teologia espiritual no Regent College, no Canadá, onde mais tarde tornou-se professor emérito. Casado com Janice Stubbs, teve três filhos: Karen, Eric e Leif. Além de ter sido ordenado como pastor, Peterson tem os seguintes títulos acadêmicos: • B. A. em filosofia pela Universidade Seattle Pacific • S.T.B. do Seminário Teológico de Nova York • M. A. em línguas semíticas pela Universidade Johns Hopkins • D.H.L. (causa honoris) pela Universidade Seattle Pacific Pastor dos pastores Peterson é uma referência na teologia cristã contemporânea e já escreveu mais de trinta livros. Os temas escolhidos provocam seus leitores a irem mais fundo na essência da espiritualidade cristã. Com uma rara mistura entre erudição, escrita e piedade, ele se tornou uma referência da chamada “Teologia Espiritual”. Por ter escrito bastante sobre a espiritualidade dos pastores, Peterson também é conhecido como “pastor dos pastores”. Além de escritor e poeta, ele produziu uma tradução da Bíblia, publicada sob o título “The Message” (A Mensagem), quase que uma paráfrase contemporânea que agrega beleza poética e conhecimento requintado das línguas originais e das técnicas de tradução. Com esta publicação, o autor recebeu o prêmio Gold Medallion Book Award. No Brasil, a bíblia foi publicada pela Editora Vida. Eugene Peterson é prestigiado não somente nos Estados Unidos, mas também no Brasil. Mais de vinte livros dele já foram publicados por editoras brasileiras, como Mundo Cristão, Vida e Palavra e agora Editora Ultimato.

Pastor sem querer

Em seu livro “Memórias de um Pastor” (Mundo Cristão, 2011), Eugene Peterson lembra que nunca havia passado por sua cabeça ser pastor: “Jamais imaginei que


pudesse ter a menor inclinação que fosse para isso”. Ele cresceu em um lar cristão e abraçou o caminho de Jesus ainda jovem: “Eu respeitava as Escrituras. Jesus para mim era assunto sério. A igreja também, assim como a oração, mas não os pastores. Em geral, eles pareciam não ter nada a ver com tudo isso. Em nossa igreja, tínhamos pastores e reverendos, irmãos e irmãs, professores de vida em profundidade e evangelistas, missionários, avivalistas e pregadores de cura divina. No entanto, ‘pastores’ mesmo não havia” (“Memórias de um Pastor”, p. 15). Apesar disso, hoje, Peterson diz que não ser pastor é uma coisa simplesmente impossível de imaginar. “Fui pastor muito tempo antes de saber que era pastor, só não tinha descoberto ainda um nome para isso.” Mas, ao falar sobre vocação pastoral, Peterson também destila seu inconformismo com o modelo religioso norte-americano. Ele critica os “profissionais da religião”, que entendem tudo de estratégias, métodos, administração, mas que transformam as pessoas em meros consumidores. “Devo acrescentar que a cultura norte-americana não oferece condições apropriadas para que se viva a vocação de pastor. Os homens e as mulheres que hoje exercem o pastorado nos Estados Unidos sentem que seu estilo de vida está em ruínas. A vocação de pastor foi substituída por estratégias comandadas por empreendedores religiosos munidos de um plano de negócios” (p. 16).

Sobre escrever Eugene Peterson tem um vasto conhecimento literário e um estilo de escrita envolvente. É interessante perceber como ele integra os dons de pastor e professor enquanto escreve sobre espiritualidade. Leia um pequeno testemunho dele com a escrita em “A Maldição do Cristo Genérico” (Mundo Cristão, 2007): “Escrever sobre a vida cristã é como tentar reproduzir num quadro um pássaro voando. A própria natureza do tema, em que tudo está sempre em movimento e cujo contexto sempre muda – o ritmo das asas, as penas coloridas pelo sol, nuvens levadas pelo vento (e muito mais) –, coíbe a precisão. É justamente por isso que a maioria das definições e explicações deixa escapar exatamente o que nos interessa. Histórias, metáforas, poemas, orações e conversas descontraídas são mais apropriados para esse tipo de tema, um diálogo que, necessariamente, inclui o outro.


“Meu trabalho como professor, porém, foi também formativo. Como professor visitante ou adjunto nos anos em que exerci o ofício de pastor, tive diversas oportunidades de passar bom tempo com alunos e pastores refletindo sobre a interseção das Escrituras, da teologia, da história e da igreja no trabalho de levar o evangelho a ser vivenciado nas condições reais que defrontamos em nossa cultura. Nesse tempo, depois de trinta anos de ministério pastoral, passei a lecionar [a disciplina] Teologia Espiritual em tempo integral no Regent College, no Canadá. A sobreposição de campos de atuação – ministério e magistério – promoveu uma troca dinâmica de influências e forneceu a oportunidade e a energia necessárias para que este livro fosse escrito. Posso atribuir o caráter eclético do texto, a mistura de estilos acadêmico e pessoal, à grande variedade de pessoas que participaram de cultos e aulas comigo e com as quais converso sobre esses assuntos (agricultores e pastores, donas de casa e engenheiros, crianças e idosos, participantes dos cultos e das aulas, pais e acadêmicos)”.

Limpando o terreno Os textos de Peterson parecem fazer o trabalho de “limpar o terreno” – a despeito dos autoenganos da religiosidade - para que possamos, de fato, nos relacionar aberta e profundamente com Jesus Cristo. O aspecto erudito do autor não sufoca as frases diretas e simples sobre como viver a vida com Deus. Além de confessar que vive “o tempo todo no limiar da derrota”, Peterson é suficientemente honesto para acrescentar: “Coloco todos os dias o amor em risco. Não há nada em que eu seja pior do que em amar. Saio-me muito melhor na competição que no amor. Sou muito melhor em responder a meus instintos e ambições de ir na frente e deixar minha marca do que em entender como amar meu semelhante. Estou treinado e preparado em habilidades egoístas, em fazer coisas à minha maneira” (“Um Ano com Eugene Peterson”, Editora Palavra, p. 35). A lida de retirar tudo o que atrapalha nosso olhar sobre Jesus nos faz vislumbrar a relevância prática das verdades eternas – não em função de um falso moralismo, mas de uma grande expectativa de encontrar beleza no cotidiano da vida e de resgatar o sentido de encantamento e esperança em Cristo, a partir dos registros das Escrituras. Isso não somente nos torna mais piedosos; também mais humanos.




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