Venha o Teu Reino – Uma Igreja para Hoje

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Venha o Teu

Reino



[organizadores] LEANDRO SILVA MARCOS MENDES RENILDO DINIZ VALTENCI OLIVEIRA

Venha o Teu

Reino

UMA IGREJA PARA HOJE


VENHA O TEU REINO Categoria: Ética / Igreja / Vida cristã Copyright © 2018, Missão ALEF

Primeira edição: Outubro de 2018 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Revisão de provas: Equipe de revisão Ultimato Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Venha o teu reino : uma Igreja para hoje / organizadores Leandro Silva....[et al.]. — Viçosa, MG : Ultimato, 2018. Vários autores. Outros organizadores: Marcos Mendes, Renildo Diniz, Valtenci Oliveira. Bibliografia. ISBN 978-85-7779-182-8 1. Igreja - Aspectos sociais 2. Igreja e o mundo 3. Missão da Igreja 4. Reflexões I. Silva, Leandro. II. Mendes, Marcos. III. Diniz, Renildo. IV. Oliveira, Valtenci. 18-20318

CDD-266

Índices para catálogo sistemático: 1. Missão da Igreja : Cristianismo

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PUBLICADO NO BRASIL COM TODOS OS DIREITOS RESERVADOS POR: EDITORA ULTIMATO LTDA Rua A, no 4 - Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 www.ultimato.com.br


SUMÁRIO

Prefácio

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1. VENHA O TEU REINO

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Uma igreja para hoje Howard A. Snyder

2. DISCERNINDO O HOJE

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Reflexões sobre a contemporaneidade Marcos Mendes

3. IGREJA, IDENTIDADE E CULTURA

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A igreja e seu lugar na história Renildo Diniz

4. IGREJAS URBANAS

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Celeiros para a sinalização do reino de Deus nas cidades Leandro Silva

5. CRESCIMENTO DA IGREJA

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O dilema entre quantidade e qualidade Valtenci Oliveira

6. RIO LIMPO, CIDADE SAUDÁVEL O reino nas águas de um rio Géssica Dias José Marcos

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7. IGREJA DA VINHA

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Um testemunho de transformação Bebeto Araújo

8. “SEJA FEITA A TUA VONTADE”

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Guia de estudos

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Notas

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Referências bibliográficas

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Andando nas pegadas de Jesus Valdir Steuernagel


PREFÁCIO

PODEMOS GLORIFICAR A DEUS pelos sinais de seu reino de justiça e paz que nos desafiam a continuar vivenciando a esperança mesmo frente aos sinais contrários. Os sinais do reino de Deus vêm de vários lugares, sinalizando pequenas luzes do Sol da Justiça, Jesus. O Congresso da Missão ALEF (em sua 6ª edição em 2018), em Natal, RN, é um destes abençoados sinais do reino em nosso sofrido Brasil. O encontro conta, além de vários preletores e preletoras nacionais, com a presença do renomado pastor e teólogo Howard A. Snyder. A Visão Mundial é parceira da Missão ALEF desde seu nascimento, de maneira que celebramos os mais de dez anos em que Deus tem usado estes irmãos e irmãs para desafiar as lideranças das igrejas brasileiras e de outras partes do mundo a se comprometerem com a missão integral de Deus para sua igreja. O congresso deste ano nos brinda com o livro tema do encontro: Venha o Teu Reino – Uma igreja para hoje, escrito a várias mãos


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e vários corações. É uma ferramenta para que o leitor possa aplicar em seu contexto as reflexões, os recursos e boas práticas aqui compartilhadas. O capítulo de abertura – homônimo do livro –, de Howard Snyder, nos chama a renovar nosso compromisso com a missão integral da igreja, que é a missão de Deus. O cuidado com o meio ambiente é abordado de maneira bíblica e relevante para nossos dias, além da abordagem clara e encorajadora sobre a marca dos pobres na missão integral de Deus. Na verdade, o texto de Snyder é uma base para as demais reflexões, todas buscando contextualizar o reino de Deus e sua justiça para os dias de hoje. Cada capítulo nos desafia a nos encantar novamente com a igreja e o seu potencial de transformação do ser humano e seu contexto de forma integral. Não posso deixar de mencionar aqui o querido amigo Leandro Silva. Desde muito jovem, ele vem, incansavelmente, abrindo picadas com sua paixão pela missão integral da igreja na tentativa de abençoar as lideranças do Brasil e quem cruza o seu caminho. Incentivo o leitor à leitura atenta das páginas que se seguem e convido-o a também orar por este ministério que tem abençoado tantas vidas. Em nome do Jesus de Nazaré. Welinton Pereira Diretor Nacional Adjunto | Visão Mundial Brasil Setembro de 2018


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Uma igreja para hoje HOWARD A. SNYDER

CRISTÃOS têm a esperança audaz e fazem a afirmação

ousada de que estão construindo o futuro no presente. Eles afirmam isso não meramente no sentido histórico de que hoje está sempre se tornando o amanhã, mas no sentido bíblico escatológico de que nossas vidas e ações de hoje como seguidores de Jesus apontam para a frente e, em certo sentido, nos aproximam do fim definitivo e do objetivo da história. O testemunho fiel acelera o tempo em que Deus “restaurará todas as coisas, de que Deus falou por boca de seus santos profetas desde a antiguidade” (At 3.21). O “pequeno rebanho” dos discípulos de Jesus pode viver com confiança porque Jesus prometeu dar-lhe “o reino” (Lc 12.32). Como então este pequeno rebanho pode viver fielmente ao reino o qual reivindica? Hoje, é claro, a igreja cristã é uma realidade multicultural internacional. Ela existe em muitas formas, incluindo muitas


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corporações eclesiásticas multinacionais que conduzem ministérios especializados. No Novo Testamento, entretanto, e frequentemente em seu melhor ao longo da história, a igreja tem sido meramente um “pequeno rebanho” vivendo na audaz esperança do reino de Deus. AS LENTES DA ECOLOGIA

Eu tenho argumentado em muitos de meus livros que a Bíblia é profundamente ecológica. Ela é um organismo vivo, o Corpo de Cristo. Há trinta anos o termo “ecologia” era usado estritamente. Cientistas estudavam a ecologia de organismos particulares. Mas ao longo da geração passada, com os avanços da ciência e a ascensão das questões ambientais, “ecologia” tem ganhado um significado maior. Ver as coisas ecologicamente não é novidade. Era comum há 2000 anos, especialmente no pensamento grego. Nossa palavra “ecologia” data desta visão grega. “Ecologia” significa o estudo da casa (oikos no grego, fonte das nossas palavras que começam com “eco”). Pensadores gregos antigos usaram a palavra oikonomia e oikumene (a origem de nossas palavras “economia” e “ecumênico”) para falar sobre como tudo na cidade-estado e tudo no cosmos está conectado. “Economia” é na realidade uma ideia ecológica, ainda que não tenhamos pensado nisso desta forma no Ocidente por 200 anos.1 Hoje é importante que nós, cristãos e cidadãos do mundo, pensemos claramente acerca disso. Ecologia diz respeito à Terra – micróbios, substâncias químicas, insetos, água, árvores. Até recentemente, ecologia tinha sido primariamente um assunto do corpo, não do espírito. Mas isto é unilateral e não ecológico. Como cristãos, não podemos permitir uma lacuna este corpo e espírito quando pensamos ecologicamente.


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Uma vez que entendemos que as vidas de caracóis e pardais estão conectadas às de seres humanos de vários modos, o significado de ecologia expande-se gradativamente para incluir todos os outros aspectos da vida humana e bem-estar. Como cristãos, temos recursos abundantes nas Escrituras para explorar esta verdade. As próprias parábolas de Jesus refletem este elo estreito entre os mundos físico e espiritual. É o que os faz funcionar. A ecologia nos ajuda a entender como o mundo funciona. Quão importante é uma planta anteriormente desconhecida que é descoberta na Amazônia? Não podemos responder até conhecermos verdadeiramente sua ecologia – como ela afeta e é afetada pelo meio ambiente e outras formas de vida. Podemos pensar que a planta é irrelevante. Mas suponha que descubramos que ela produz uma substância química que pode curar uma doença humana terrível. De repente algo que era tido como irrelevante torna-se altamente valioso! A ciência ecológica nos encoraja a presumir que há significado mesmo onde nós ainda não o encontramos. A ecologia ensina que tudo é significativo simplesmente porque nos conecta com tudo o mais, mesmo se nós ainda não entendemos a conexão. Se algo é importante e tudo está conectado, então toda parte é importante. A ecologia insiste que cada fator influenciador deve ser contado. Se nós aplicarmos este entendimento à sociedade e à cultura, descobriremos que devemos considerar não somente fatores físicos, econômicos, sociais e políticos, mas também as dimensões da mente e do espírito. A ecologia não está completa se ela ignora estes fatores mais elusivos, mesmo que eles sejam mais difíceis de se quantificar, analisar e medir. A cosmovisão cristã tem muito com o que contribuir aqui. Por outro lado, a ecologia pode ajudar a igreja a perceber a amplitude e a interconectividade de sua missão. A criação de Deus é ecológica, marcada pela inter-relação: Homem e mulher em relacionamento mútuo; amor em relação à verdade; a pessoa em relação à sociedade; a humanidade em relação ao meio ambiente; o presente em relação ao passado e ao futuro.


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Cristãos bíblicos certamente sabem que a ecologia não é toda a história. Ela cabe em uma história maior – a história do que Deus está fazendo em Jesus Cristo. A Bíblia dá um entendimento mais amplo e profundo de ecologia. Ela é parte de um plano maior ou economia (oikonomia) de Deus. A ECOLOGIA DA MISSÃO

O apóstolo Paulo sumariza a estratégia da salvação de Deus deste modo: Deus tem “um plano [oikinomia] para a plenitude do tempo para ajuntar tudo no céu e na terra debaixo da direção de Jesus Cristo” (Ef 1.10).2 Jesus Cristo é o “cabeça da igreja” e também de toda criação (Ef 5.23; cf Cl 1). A Igreja é de fato o “Corpo de Cristo” (1Co 12.27). A imagem do corpo no Novo Testamento nos lembra que a Igreja é fundamentalmente um organismo vivo, não uma construção física ou organização estática. Uma vez que a Igreja é o Corpo de Cristo, a pergunta básica é: Como este corpo funciona? O que é ecologia? Como ela se torna visível no mundo? O apóstolo Paulo ressalta a fé, a esperança e o amor. Ele diz aos colossenses, “desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que tendes para com todos os santos; por causa da esperança que vos está preservada nos céus” (Cl 1.4-5). Ele escreveu, “agora, pois permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1Co 13.13). Isto reflete as palavras de Jesus: “Nisto todos saberão que vocês são meus discípulos, se amarem uns aos outros” (Jo 13.35). As palavras de Jesus deixam claro que a marca distintiva suprema da igreja é o amor. Marcas tradicionais da igreja

Embora a fé, a esperança e o amor sejam prominentes na descrição da igreja no Novo Testamento, a teologia cristã ao longo do tempo pôs ênfase em ouro lugar. Enquanto a igreja desenvolvia


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suas estruturas e lutava com questões doutrinárias, um conjunto diferente de marcas distintivas surgiu.3 Pelo fim do quarto século a igreja tinha desenvolvido uma teoria das “marcas” ou “notas” da igreja – modos de identificar a verdadeira igreja. O primeiro concílio de Constantinopla em 381 depois de Cristo descreveu a igreja como una, santa, católica e apostólica. Esta formulação tem moldado muito do entendimento próprio da igreja desde então. Porque essas quatro marcas são consagradas nos credos mais antigos, elas têm sido quase universalmente aceitas. Outras marcas têm aparecido às vezes, mas essas quatro tem permanecido inquestionáveis.4 Uma visão mais ampla da ecologia da igreja

Quão bíblicas são as quatro marcas? Ela nos ajudam a entender e a personificar a missão da Igreja como Corpo de Cristo e comunidade do Rei? Efésios 4.3-6 pode ser citado como suporte às marcas clássicas: “[...] por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé e um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está sobre todos”. Esta importante passagem destaca a unidade (e por implicação a catolicidade) da igreja – “um Senhor, uma fé, um batismo.” Outras passagens em Efésios acentuam a santidade da igreja (especialmente 5.26-27) e a apostolicidade (especialmente 2.20, “edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”, e 3.5, “revelado aos seus santos apóstolos e profetas pelo Espírito”; cf. 4.11). Outras passagens do Novo Testamento podem ser citadas – especialmente João 17, sobre a unidade da igreja. Então textos bíblicos podem de fato ser vistos dando suporte à unidade, santidade, catolicidade e apostolicidade como


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marcas-chave. Mas no Novo Testamento, outras ênfases são mesmo mais importantes, especialmente quando vemos a igreja como um organismo vivo. A forma quádrupla clássica nos diz somente parte da história. Isto é óbvio mesmo em Efésios 4.3-6, pois o próximo verso diz: “Mas a cada um de nós foi dada graça de acordo com a medida do dom de Cristo”. Isto introduz a acentuação da diversidade carismática, não vista na fórmula tradicional. De fato, as quatro marcas tradicionais destacam apenas um lado da ecologia da igreja. A igreja de Jesus Cristo é mais complexa, diversa, e mais gloriosa do que as marcas clássicas sugerem. É biblicamente mais preciso, deveras, dizer que a igreja é: DIVERSA bem como UNA CARISMÁTICA bem como SANTA LOCAL bem como CATÓLICA (ou UNIVERSAL) PROFÉTICA bem como APOSTÓLICA A teologia clássica ortodoxa fala de uma igreja una, santa, católica e apostólica. Ela geralmente tem falhado em falar da igreja também como diversa, carismática, local e profética. Este segundo conjunto de marcas é igualmente visível no Novo Testamento. Em Atos, por exemplo, a diversidade da igreja é clara quando observamos as primeiras comunidades cristãs – Antioquia, Icônio, Corinto, e Éfeso, por exemplo. A natureza carismática da igreja primitiva está clara nos “sinais e maravilhas” destacados em Atos (4.30; 5.12; 14.3; 15.12). A localidade ou enraizamento contextual da igreja é óbvio no fato da igreja ter sido plantada em ambientes locais específicos. O caráter profético da igreja primitiva é visto no modo que os cristãos constituíam uma sociedade contrastante cujos valores e cosmovisão conflitavam com a cultura dominante. No mundo altamente complexo de hoje, é necessário, tanto teológica como missionariamente,


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notar o significado da diversidade e contextualidade da igreja; suas dimensões profética e carismática. Diversa, carismática, local, profética

A diversidade, localidade contextual, testemunho profético, e a vida carismática da igreja tornam-se óbvios quando lemos o Novo Testamento. Aqui encontramos uma comunidade de fé, esperança e amor curativa e reconciliadora que personifica as boas novas entre os pobres e começa a alcançar as nações, estendendo seu testemunho “aos confins da terra” (At 1.8). Assim vemos: 1. A igreja é uma, mas também muitas. Variada e diversa. Observe a diversidade das primeiras congregações de Antioquia a Colossos e Roma. Veja como as cartas de Paulo celebram a diversidade étnica, socioeconômica, e de classes na igreja (Gl 3.23-29; 1Co 12.13; Cl 3.11). A genialidade da igreja é não somente nossa unidade em Cristo mas também a diversidade que a igreja une e celebra. Esta diversidade é parcialmente o que torna a unidade tão dinâmica.5 O ensinamento sobre “um corpo, muitos membros” de 1 Coríntios 12 e Romanos 12 pode ser estendido tanto para a igreja universal quanto a local. O ponto é que a igreja, local e global, é ambas uma e muitas. 2. Carismática, mas também santa. O mesmo Espírito Santo que santifica a igreja a abençoa com diversos dons (Ef 4.7-16; 1Co 12; Hb 2.4). É o Espírito Santo quem concede dons. A igreja funciona melhor com ambos os frutos e os dons do Espírito, encarnando o caráter e o carisma de Jesus.6 À primeira vista, santidade e carisma não parecem estar conectados. Mas duas coisas se destacam nos ensinamentos bíblicos. Primeiro, as Escrituras unem diretamente o caráter santo (sagrado, separado) da igreja com ela sendo uma comunidade dotada de dons do Espírito (At 1.8; 2.4-38; Hb 2.4; 1Pe 2.9).



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