Repensando a Missão na Igreja Local

Page 1




C. RENÉ PADILLA

Traduzido por VERA JORDAN


REPENSANDO A MISSÃO NA IGREJA LOCAL Categoria: Igreja / Liderança / Missão Copyright © 2017 C. René Padilla

Primeira edição: Novembro de 2018 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Tradução: Vera Jordan Encarnação de Aguiar Revisão: Lívea Araújo Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes Legenda NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje NVI – Nova Versão Internacional As citações bíblicas não seguidas de indicação são da versão Almeida Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN - Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971 P123

Padilla, C. René. Repensando a missão na igreja local / C. René Padilla ; tradução Vera Jordan. —Viçosa, MG : Ultimato, 2018. 88 p. ; 21 cm. ISBN 978-85-7779-184-2 1. Missão da igreja. 2. Missões. 3. Discipulado (Cristianismo). I. Jordan, Vera. II. Título. CDD 261.1

PUBLICADO NO BRASIL COM TODOS OS DIREITOS RESERVADOS POR: EDITORA ULTIMATO LTDA Caixa Postal 43 36570-970 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 www.ultimato.com.br


SUMÁRIO

Prefácio 1. Uma igreja missionária

7

9

2. Como entender o Pentecostes?

15

3. O nascimento de uma comunidade

19

4. Toda a igreja é missionária

23

5. A missão e o cruzamento de fronteiras

29

6. As igrejas locais e a missão mundial

33

7. O êxito numérico e a fidelidade ao evangelho

37

8. A missão e a unidade da igreja

43

9. As missões e o dinheiro

49

10. A pregação do “evangelho da prosperidade”

55

1 1 . A igreja e os grupos de koinonia 12. Educação teológica para a missão

59

65

13. O amor ao poder e o poder do amor

Apêndice – Histórias de uma igreja serva

69

75



PREFÁCIO

PORQUE O MUNDO MUDOU. E continua mudando.

Porque a dor mudou. Porque crescem a fome e a sede de compaixão, consolo, amor e companhia. Por isso é necessário repensar a missão. E por muitas outras razões. Porque não é justo responder com fórmulas banalizadas aos desafios que um Deus criativo nos propõe. Porque cada geração de cristãos tem o dever de trazer para os dias atuais seu modo de ser fiel ao chamado de Jesus. Porque os idiomas, os códigos e as perguntas que o próximo nos faz estão mudando. Porque há um caminho percorrido, cujas lições devem ser aprendidas para se persistir, mas também para se repararem os erros. E, sobretudo, porque existe um povo incrivelmente valioso, amado e amoroso, desejoso de obedecer a Deus e capaz de curar feridas e de abençoar o mundo de muitas e renovadas maneiras. Por tudo isso celebramos o surgimento destes textos, pensados e aperfeiçoados durante anos por René Padilla, um


8

REPENSANDO A MISSÃO NA IGREJA LOCAL

renomado teólogo e querido mestre, que continua inspirando uma geração após outra. Desejamos que o Senhor abençoe e multiplique esta semente. Que as ideias apresentadas e as perguntas oferecidas para motivar a reflexão resultem em crescimento sadio e genuíno de igrejas e grupos, bem como de cada coração sincero em busca de respostas. Pablo Alaguibe


1

UMA IGREJA MISSIONÁRIA — DEPOIS DO PENTECOSTES —

SOB A PERSPECTIVA CRISTÃ, o Pentecostes e a igreja são

realidades inseparáveis – ambos apontam para a presença e a ação do Espírito Santo. O Pentecostes marca o cumprimento da promessa de Jesus Cristo aos seus seguidores: o advento do Espírito Santo. Essa promessa é mencionada em passagens como Lucas 24.49 (“E eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai”) e Atos 1.4 (“E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes”). Embora as promessas de Deus sejam muitas, essa é “a promessa do Pai” por excelência. Contudo, com base nas duas passagens citadas, está claro que a promessa tem uma conotação missional: guarda relação estreita com a extensão do evangelho a todas as nações. Para comprovar, basta observar vários termos que se repetem nos respectivos contextos das duas passagens, os quais sugerem


10

REPENSANDO A MISSÃO NA IGREJA LOCAL

uma missiologia que toma como ponto de partida o advento do Espírito Santo: “testemunhas” (Lc 24.48; At 1.8), “poder” (Lc 24.49; At 1.8), “todas as nações” (Lc 24.47), “até os confins da terra” (At 1.8). Falar do Pentecostes é falar do poder do Espírito Santo, o qual Deus outorga ao seu povo para que testemunhe do evangelho em todas as nações. A igreja que surge do Pentecostes é uma comunidade missionária. Ao mesmo tempo, falar do Pentecostes é falar da igreja como comunidade do pneuma, a comunidade do Espírito. No início de seu evangelho – o primeiro volume de sua obra – Lucas vincula o Espírito Santo ao batismo de Jesus (Lc 3.21-22) e ao seu ministério messiânico (4.18). No início do segundo volume – Atos dos Apóstolos –, Lucas o vincula à igreja. O Pentecostes não é outra coisa senão o “batismo” da igreja, por meio do qual Deus a capacita para que continue a missão de Jesus Cristo até o fim dos tempos. Vejamos agora, bem rapidamente, a relação entre o Pentecostes e a igreja em Atos 2. A passagem se divide em três partes: o evento do Pentecostes (v. 1-13), o significado do Pentecostes (v. 14-39) e os resultados do Pentecostes (v. 40-47). O EVENTO DO PENTECOSTES (ATOS 2.1-13)

A festa do Pentecostes era um dos três festivais com os quais o povo judeu celebrava a colheita, e era realizada cinquenta (daí a referência a pentekoste = 50) dias após a Páscoa, marcando o início da colheita. Lucas limita-se a indicar que o derramamento do Espírito Santo, com o qual nasceu a igreja neotestamentária, aconteceu “quando chegou o dia do Pentecostes” (v. 1, NTLH), sem tirar qualquer conclusão desse fato. O que importa vem a seguir: o Espírito de Deus desceu sobre os cento e vinte discípulos de Jesus reunidos em Jerusalém. Trata-se do batismo da igreja, sobre o qual cabem três observações.


Uma igreja missionária

Em primeiro lugar, o batismo da igreja foi uma experiência pessoal, ao mesmo tempo em que comunitária. O autor parece ter um cuidado especial em destacar essa experiência ao dizer, por um lado, que “apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles” (v. 3); e, por outro lado, que “estavam todos reunidos no mesmo lugar” (v. 1) e “todos ficaram cheios do Espírito Santo” (v. 4). O pessoal e o comunitário se complementam. Em segundo lugar, foi uma experiência em que o Espírito Santo se manifestou por meio de fenômenos aparentemente “naturais”: “Um som como de um vento impetuoso” (v. 2) e “línguas como de fogo” (v. 3). É provável que esses sejam elementos relativos às teofanias ou manifestações de Deus no Antigo Testamento: o vento, que simboliza poder, e o fogo, que simboliza purificação. Não é difícil relacionar a referência a tais elementos com o anúncio de João Batista: “Ele [Jesus] os batizará com o Espírito [pneuma = vento] Santo e com fogo” (Lc 3.16, NTLH). Em terceiro lugar, o batismo no Espírito Santo foi uma experiência que tornou possível a proclamação do evangelho a “todas as nações”; uma antecipação da evangelização, que, começando em Jerusalém, se estenderia “até aos confins da terra” (At 1.8). Lucas não deixa espaço para dúvidas sobre o caráter internacional da multidão presente em Jerusalém por ocasião do Pentecostes. Segundo ele, a cidade estava cheia de judeus “piedosos” da diáspora (ou dispersão), “vindos de todas as nações do mundo” (At 2.5, NVI). Em seguida, ele oferece uma ampla lista de nacionalidades (9-11), a mesma que suscitou a curiosidade de estudiosos devido à sua aparente falta de coerência. Entretanto, o que interessa ao autor destacar é que, pela ação do Espírito Santo, no dia do Pentecostes “as maravilhas de Deus” foram anunciadas a pessoas de muitas nações, símbolo de toda a oikoumene.

11


12

REPENSANDO A MISSÃO NA IGREJA LOCAL

A glossolalia (falar em línguas), à qual o versículo 4 faz menção, somente faz sentido se atrelada à intenção de Deus de que o evangelho fosse anunciado a todas as nações. Não é uma experiência mística ou extática, mas um recurso missional. Essa conclusão é reforçada pela observação de que cada um dos presentes “os ouvia falar na sua própria língua” (v. 6) e pelos comentários que surgem da multidão: “E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (v. 8); “como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (v. 11). No Pentecostes, Deus confere à igreja o poder necessário para comunicar a Palavra a todas as nações. Pela ação do Espírito, todas as nações são reconhecidas como parte de uma única raça humana e colocadas na esfera em que o evangelho é anunciado com vistas à formação de uma nova humanidade. A isso se adiciona outro dado que não se pode desprezar: os que anunciam o evangelho são galileus (v. 7), ou seja, pessoas desprezadas pelos habitantes de Jerusalém. Isso não seria uma mostra da humildade (e do poder) de Deus? PERGUNTAS PARA DISCUTIR EM GRUPO 1. O advento do Espírito Santo é “a promessa do Pai” por ex-

celência. O que significa ser uma comunidade “missionária”? O que é ser uma comunidade “do pneuma”? De que maneira esses conceitos estão correlacionados?

2. O advento do Espírito Santo foi uma experiência pessoal, ao

mesmo tempo em que comunitária. Manifestou-se por meio de fenômenos aparentemente “naturais” e foi uma experiência que tornou possível a proclamação do evangelho a “todas as nações”. Em nossa experiência de igreja, o pessoal e o comunitário se complementam mutuamente ou enfatizamos mais um aspecto do que o outro?


Uma igreja missionária

3. As manifestações do Espírito Santo são meras experiências de

êxtase pessoal ou nos ajudam a ser mais maduros em nossas relações como membros da Igreja de Cristo?

4. Essas manifestações nos separam das pessoas de nosso bairro

ou nos conectam com elas, facilitando a proclamação do evangelho? Qual é a relação entre essa proclamação e o propósito de Deus de criar uma nova humanidade?

13



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.