Somente a Fé

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Somente a F e`



Martinho Lutero Editado por James C. Galvin

Somente a F e` um ano com Lutero • devocionário •

Traduzido por MEIRE PORTES SANTOS


somente a fé - um ano com lutero Categoria: Devocional / Espiritualidade / Inspiração

Copyright © 1998, 2005, James C. Galvin

Publicado originalmente por Zondervan, Grand Rapids, Michigan, Estados Unidos Título original em inglês: Faith Alone

Primeira edição: Outubro de 2014 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Tradução: Meire Portes Santos Preparação e revisão: Luísa Botelho Natália Superbi Raquel Bastos Diagramação: Bruno Menezes Capa: Souto Crescimento de Marca

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lutero, Martinho, 1483-1546. Somente a fé : um ano com Lutero / Martinho Lutero; editado por James C. Galvin; traduzido por Meire Portes Santos. — 1. ed. — Viçosa, MG : Ultimato, 2014. Título original: Faith alone. ISBN 978-85-7779-114-9 1. Igreja - História 2. Lutero, Martinho, 1483-1546 3. Protestantismo 4. Reforma I. Galvin, James C.. II. Título. 14-09239

CDD - 270.6092

Índices para catálogo sistemático: 1. Lutero : Período da Reforma : Igreja cristã : História 270.6092

Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br

A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas de maneira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, além de outras fontes de origem controlada.


Sumário

Apresentação

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Introdução

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Janeiro

11

Fevereiro

42

Março

70

Abril

101

Maio

131

Junho

162

Julho

192

Agosto

223

Setembro

254

Outubro

284

Novembro

315

Dezembro

345

Índice de assuntos

377


As citações bíblicas são da Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional, salvo indicação específica. ABREVIATURAS ARA – Almeida Revista e Atualizada AS21 – Almeida Século 21


Apresentação

“Conversas à mesa” com Martinho Lutero todos os dias do ano

Os bispos (ou aqueles que fazem o papel deles) deveriam orar: “Ó Deus, livra os nossos pastores do relaxamento devocional”; os pastores deveriam orar: “Ó Deus, livra as nossas ovelhas do relaxamento devocional”; os professores de teologia deveriam orar: “Ó Deus, livra os nossos seminaristas do relaxamento devocional”; e os pais deveriam orar: “Ó Deus, livra os nossos filhos do relaxamento devocional”. A igreja seria outra se essa oração fosse feita com tal ardor e sinceridade até ser ouvida ao longo da história. O não relaxamento na prática regular de exercícios devocionais aproxima a alma de Deus e gera uma porção enorme de valores, como humildade, santidade, certezas, entusiasmo, alegria e esperança. Os mais seguros e benéficos exercícios espirituais incluem a leitura proveitosa da Bíblia (quando Deus fala conosco) e a prática da oração não formal (quando nós falamos com Deus). Os dois exercícios estão entrosados entre si. Existe uma íntima relação entre a leitura meditativa da Escritura e a oração contemplativa. Lutero diz que “a leitura bíblica acende a chama da oração”.


A leitura de uma porção diária de algum devocionário sério, que não substitua nem enfraqueça a meditação bíblica, tem sido uma bênção na vida de muitos cristãos. Se este devocionário reúne porções diárias cuidadosamente selecionadas, escritas há 500 anos pelo reformador alemão Martinho Lutero (1483–1546), pode-se imaginar a riqueza que ele representa! Lutero tinha o saudável costume de reunir seus alunos da Universidade de Wittenberg em sua própria casa, nos horários das refeições. Alguns de seus escritos surgiram dessas “conversas à mesa”. Graças à iniciativa de James C. Galvin, ex-diretor de treinamento da Youth for Christ (a Mocidade para Cristo americana), editor-geral do devocionário Somente a Fé – um ano com Lutero, e da Editora Ultimato, leitores da língua portuguesa têm o privilégio de “assentarem-se à mesa” com o reformador e ler retalhos de seus muitos escritos. Como, por exemplo, o que está na meditação de 2 de fevereiro: “Se eu não pregar sobre a fé, o resultado serão obras inúteis e hipócritas. Se eu enfatizar somente a fé, ninguém fará quaisquer obras”. O devocionário de Lutero está sendo lançado três anos antes das comemorações do quinto centenário da Reforma, em 2017. Confesso que estou ansioso pela chegada do próximo Ano-Novo para começar a ler Somente a Fé todos os dias!

Elben M. Lenz César

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Introdução

Martinho Lutero é uma das personagens mais importantes da história da igreja, pois Deus o usou para iniciar uma das maiores revoluções – a Reforma Protestante do Século 16. Seus escritos têm aproximadamente quinhentos anos e ainda são significativos para nossa leitura hoje. Nascido na Alemanha em 1483, Lutero cursou direito na Universidade de Erfurt. Durante uma tempestade violenta, ele fez o voto dramático de se tornar monge, entrando, logo em seguida, para a ordem agostiniana. Após um estudo acadêmico rigoroso e lutas pessoais intensas para encontrar a aprovação de Deus, ele redescobriu o evangelho. Lutero descobriu que somente a fé garante nossa salvação. Depois de ter sido ordenado monge, foi enviado para a Universidade de Wittenberg para ensinar teologia. Lá ele pregou, em 1517, as Noventa e Cinco Teses na porta da igreja, como um convite a um debate teológico. Os tópicos listados causaram tal furor que o debate nunca aconteceu. Como Lutero continuou a escrever, pregar e ensinar, tornou-se rapidamente a figura central da Reforma. Lutero foi professor, teólogo, ex-monge, estudioso, escritor, tradutor da Bíblia e defensor da fé. Entretanto, foi também pastor, marido, pai


e bom amigo de muitos. Ele foi extremamente produtivo. Além de ter escrito comentários, trabalhos teológicos e cartas a amigos, os seus alunos e seguidores anotavam cuidadosamente seus discursos universitários, sermões e até suas conversas à mesa do jantar. Ele morreu em 1546, aos 63 anos de idade. Neste devocionário você encontrará alguns trechos selecionados, originalmente escritos por Martinho Lutero entre 1513 e 1546, e traduzidos recentemente para o inglês. O alvo era que esta edição fosse tanto precisa quanto fácil de entender. Eu selecionei as leituras principalmente de sermões, comentários e outros escritos devocionais de Lutero e elas cobrem tópicos teológicos e práticos. Alguns dos temas teológicos que você encontrará incluem a centralidade de Cristo, a justificação somente pela fé, a autoridade da Escritura e a importância de se colocar a fé em Deus acima da razão humana. Os temas práticos incluem a luta contra o pecado e a tentação, a oração, a humildade, como lidar com a riqueza e as posses, o valor do trabalho diário, a importância do casamento e da família, e o amor ao próximo. Você pode ler uma devocional a cada dia, de acordo com a data, ou explorar temas usando o índice de assuntos localizado no final do livro. O versículo no início de cada devocional geralmente corresponde ao que Lutero usou para escrever ou pregar. Em uma ou outra devocional, anexei um versículo diferente que se ajusta melhor ao tema do pensamento devocional. Vários profissionais talentosos foram envolvidos para fazer deste devocionário uma realidade. Agradeço aos três tradutores que trabalharam diligentemente para capturar o significado, o tom e a imaginação de Lutero: Ric Gudgeon, Gerhard Meske e Trudy Krucke Zimmerman. Agradeço, também, aos estilistas ingleses que melhoraram cada leitura e fizeram Lutero falar em inglês: Kristine A. Luber e Jonathan Farrar. Este também trabalhou comigo na correção final, encorajando-me neste processo. Martinho Lutero amava a Deus e queria que as pessoas cressem em Cristo e crescessem na fé. Ele pregou vigorosamente e defendeu a doutrina de que somos justificados apenas por meio da fé – mais nada. Somente a Fé, então, é um título adequado para um devocionário baseado em seus escritos. Que este livro possa levar você às Escrituras e ajudá-lo a entender a importância da fé, a apreciar o mistério da fé e a animá-lo a crescer na fé.

James C. Galvin 10


1 Janeiro

Fé em primeiro lugar Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos. — Efésios 2.10 Vocês têm me ouvido dizer com frequência que a vida cristã tem duas dimensões: a primeira é a fé, e a segunda são as boas obras. Um cristão deve viver uma vida devota e sempre fazer o que é certo. Porém, a primeira dimensão da vida cristã – a fé – é a mais importante. A segunda dimensão – as boas obras – não é tão valiosa quanto a fé. Entretanto, as pessoas ao redor do mundo adoram as boas obras. Elas as consideram muito superiores à fé. As boas obras são sempre avaliadas como muito superiores à fé. É verdade que devemos fazer boas obras e respeitar a importância delas. Mas devemos ser cuidadosos para não elevarmos as boas obras a tal ponto que a fé em Cristo se torne secundária. Se as estimarmos demais, as boas obras podem tornar-se a maior das idolatrias. Isso tem acontecido tanto dentro quanto fora do cristianismo. Algumas pessoas valorizam tanto as boas obras que negligenciam a fé em Cristo. Elas pregam sobre as suas próprias obras e as louvam em vez de fazer isso com as obras de Deus. A fé deve vir em primeiro lugar. Depois de pregarmos a fé é que, então, devemos ensinar as boas obras. É a fé – sem as boas obras e antes das boas obras – que nos leva ao céu. Nós chegamos a Deus somente por meio da fé.

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2 Janeiro

Vivemos pela fé Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”. — Romanos 1.17 Quando eu era monge, não consegui coisa alguma por meio de jejum e oração. Isso porque nem eu nem qualquer outro monge reconhecíamos o nosso pecado e a nossa falta de reverência a Deus. Nós não entendíamos o pecado original nem percebíamos que a incredulidade também é pecado. Acreditávamos e ensinávamos que, não importa o que as pessoas façam, elas nunca podem estar certas da bondade e da misericórdia de Deus. Como resultado, quanto mais eu corria atrás de Cristo e o procurava, mais ele se esquivava de mim. Assim que compreendi que era apenas por intermédio da graça de Deus que eu seria iluminado e receberia vida eterna, trabalhei com empenho para entender o que Paulo diz em Romanos 1.17 – uma justiça que vem de Deus é revelada no evangelho. Procurei por muito tempo e tentei por várias vezes entendê-la. Mas as palavras em latim para “a justiça que vem de Deus” eram um obstáculo para mim. A justiça de Deus geralmente é definida como a característica pela qual ele é impecável e condena o pecador. Todos os mestres, com exceção de Agostinho, interpretavam a justiça de Deus como a ira de Deus. Assim, todas as vezes que eu lia essa passagem, eu desejava que Deus nunca tivesse revelado o evangelho. Quem poderia amar um Deus irado que nos julga e condena? Por fim, com a ajuda do Espírito Santo, olhei mais cuidadosamente para o que o profeta Habacuque disse: “O justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4, ARA). Desse trecho, concluí que a vida deve vir da fé. Portanto, levei o nível abstrato para o nível concreto, como costumamos dizer na escola. Relacionei o conceito de justiça a uma pessoa que se torna justa. Em outras palavras, uma pessoa torna-se justa por meio da fé. Isso abriu toda a Bíblia – até o próprio céu – para mim!

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3 Janeiro

O que significa “crer” Então Jesus disse em alta voz: Quem crê em mim, não crê apenas em mim, mas naquele que me enviou. — João 12.44 Há duas maneiras de crer. A primeira delas é crer a respeito de Deus, o que significa que cremos que aquilo que é ensinado sobre Deus é realmente verdade. É semelhante a crer que aquilo que é ensinado sobre o demônio ou sobre o inferno é verdade. Esse tipo de crença é mais uma declaração de conhecimento do que uma expressão de fé. A segunda maneira é crer em Deus. Isso inclui não apenas crer que aquilo que é ensinado sobre Deus é verdade, mas também confiar nele e atrever-se a estar em relacionamento com ele. Significa crer, sem dúvida alguma, que ele é realmente o que diz ser, e que ele fará tudo o que diz que fará. Eu não acreditaria em qualquer pessoa com essa mesma intensidade, não importando o quanto outras pessoas fossem capazes de louvá-la. É fácil acreditar que alguém é piedoso, mas outra coisa bem diferente é confiar completamente nele. Aqueles que acreditam em Deus creem em tudo que está escrito a respeito dele nas Escrituras. Eles ousam acreditar nisso na vida e na morte. Essa fé faz deles verdadeiros cristãos e dá a eles tudo que eles desejam de Deus. Uma pessoa com um coração ruim, hipócrita, não pode ter esse tipo de fé, pois se trata de uma fé viva, como é descrita no primeiro mandamento: “Eu sou o Senhor, o teu Deus [...] não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.2-3). Portanto, a pequena palavra em é bem colocada e deve ser observada cuidadosamente. Nós não dizemos: “Eu creio Deus Pai” ou “Eu creio sobre Deus Pai”, mas “Eu creio em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo”. Somente Deus pode dar-nos esse tipo de fé.

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4 Janeiro

Fé somente em Cristo Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado. — Gálatas 2.16 Nós somos justificados por meio da fé em Cristo, e não por nossos próprios esforços. Não devemos deixar que ninguém nos confunda dizendo que a fé justifica as pessoas somente quando o amor e as boas obras são acrescentados a ela. Se as pessoas ouvirem que elas devem crer em Cristo e que apenas a fé não justifica, a menos que o amor seja acrescentado a ela, elas cairão da fé imediatamente e pensarão: “Se a fé sem o amor não justifica, então a fé é vazia e inútil. Somente o amor justifica. Pois, se a fé não é formada e realçada pelo amor, então nada é”. Para provar seus comentários nocivos, meus oponentes citam 1 Coríntios 13.1-2: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor [...] nada serei”. Eles pensam que esses versículos são como uma parede impenetrável. Mas não compreendem os ensinamentos de Paulo. Nós devemos evitar esses comentários como se eles fossem veneno do inferno. Em vez disso, devemos concluir com Paulo que somos justificados somente pela fé, e não por meio da fé formada pelo amor. Assim, não devemos atribuir o poder da justificação a algo formado em nós que nos faz agradáveis a Deus. Devemos atribuí-lo à fé, a qual aceita Cristo, o Salvador, e o mantém em nosso coração. Essa fé nos justifica, independente e anteriormente ao amor. Reconhecemos que também devemos ensinar sobre as boas obras e o amor. Mas somente os ensinamos na hora e no lugar apropriados – quando se trata de como devemos viver, e não de como somos justificados. A pergunta aqui é a seguinte: Como nos tornamos justificados e recebemos a vida eterna? Respondemos com Paulo que somos declarados justos somente por meio da fé em Cristo, e não por nossos próprios esforços.

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5 Janeiro

Indignos de orar Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: “Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador”. — Lucas 18.13 Algumas pessoas dizem: “A respeito de Deus ouvir a minha oração, eu me sentiria melhor se eu fosse mais digno e vivesse uma vida mais digna”. Eu simplesmente respondo: “Se você não quer orar antes de sentir que é digno ou qualificado, então você nunca irá orar novamente”. A oração não deve ser fundamentada na dignidade pessoal de cada um nem na qualidade da própria oração, nem deve ser dependente dessas coisas. Em vez disso, ela deve ser fundamentada na verdade imutável da promessa de Deus. Se a oração for baseada em si mesma ou em qualquer outra coisa que não seja a promessa de Deus, então é uma oração falsa que engana você – mesmo se o seu coração estiver se rompendo com intensa devoção e você estiver chorando lágrimas de sangue. Nós oramos porque somos indignos de orar. As nossas orações são ouvidas justamente porque acreditamos que somos indignos. Nós nos tornamos dignos de orar quando arriscamos tudo apenas na fidelidade de Deus. Então, vá em frente e sinta-se indigno. Mas saiba no seu coração que é mil vezes mais importante honrar a autenticidade de Deus. Sim, tudo depende somente disso. Não transforme a promessa fiel do Senhor em uma mentira por causa das suas dúvidas. Pois a sua dignidade não o ajuda, e a sua indignidade não o prejudica. A falta de fé é o que o condena, mas a confiança em Deus é o que o torna digno.

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