Ontem Esponja, Amanhã Peneira

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marcos botelho victor fontana


ONTEM ESPONJA, AMANHÃ PENEIRA Categoria: Ética / Liderança / Vida cristã

Copyright © 2015, Marcos Botelho, Victor Fontana

Primeira edição: Abril de 2015 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Revisão: Natália Superbi Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Botelho, Marcos Ontem esponja, amanhã peneira : o direito de ligar e desligar na sociedade da informação / Marcos Botelho, Victor Fontana. — Viçosa, MG : Ultimato, 2015. ISBN 978-85-7779-121-7 1. Comunicação 2. Informação 3. Tecnologia 4. Telecomunicação - Aspectos sociais I. Fontana, Victor. II. Título. CDD-303.4833

15-01658 Índices para catálogo sistemático: 1. Informação : Tecnologia : Mudança social : Sociologia

303.4833

Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br

A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do papel deste livro provém de florestas que foram gerenciadas de maneira ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável, além de outras fontes de origem controlada.


Sumário

Apresentação

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Parte um Sobre esponjas e peneiras. Quem são eles? 1. Peneiras e esponjas na vida real

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2. O que é peneira e o que é esponja

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3. Armazenando a informação

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5. Tudo tinha uma ordem e uma razão

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6. Ou é ou não é

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7. Só quero ver os resultados

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8. Passou muito rápido

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Parte dois Na época dos esponjas era assim 4. A culpa de não saber

Parte três Transição: conheça o mundo dos peneiras 9. A verdade funciona

10. Peneirando por prazer (fins e meios)

57

11. Compartilho, logo existo 12. Experiência pessoal

59 63 69

13. Muitos estilos ou meu estilo

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14. Tudo está desatualizado

77


Parte quatro Os direitos esquecidos dos esponjas 15. A efetivação de um peneira

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16. Direito de ir e vir

87

17. Direito de esquecer

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18. Direito de romper

95

19. Direito ao privado

99

20. Direito de tocar

103

21. Direito de desligar

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Apresentação

Depois de vinte anos trabalhando com – e para – a nova geração, percebo que, mesmo muito antenado, não consigo acompanhar o ritmo das mudanças. Muito menos a rapidez com que as novidades aparecem. Conversando hoje com gerentes, professores, pais e outros tipos de líder de jovens, vejo que todos estão muito esgotados por não compreenderem as mudanças dos últimos tempos e por não conseguirem entender os mais jovens. O desgaste acontece diariamente, bem como a descrença em projetos para trabalharem juntos, e a ruptura tem sido inevitável. A grande maioria dos livros publicados sobre esse tema coloca o foco nas gerações, tentando distingui-las por data de nascimento e atribuindo características a cada uma delas.


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ontem esponja, amanhã peneira

Assim, tentam entendê-las para diminuir o abismo entre líderes e liderados, pais e filhos, professores e alunos. O problema da tabela feita com base na data de nascimento é que ela nunca se encaixou na minha realidade. Vejo estagiários que se comportam como velhos e CEOs que se encaixam na classificação dos jovens. Alguns professores de cursinhos são muito mais Geração Y do que a maioria dos adolescentes que conheço. E nem quero falar do meu pai, de 67 anos, para o qual ainda não inventaram uma tabela de classificação do comportamento. As mudanças radicais que vemos hoje não têm a ver com a época em que você nasce, e sim com que intensidade você abraçou as novas tecnologias, a internet, as mídias e a velocidade do mundo corporativo. É ela que determina quão rápido você, seu chefe, seus filhos e amigos estão mudando nos últimos anos. É claro que se você tem 15 anos é muito mais provável que já tenha mergulhado nessa enxurrada de informação que a internet trouxe nos últimos tempos, muito mais do que uma senhora de 55 anos. Mas, devido aos contextos políticos, geográficos, culturais e sociais, encontramos sem muita dificuldade velhos nadando de braçada nas redes sociais e jovens se afogando e se ferindo com todo tipo de comunicação. Antes, todo tipo de informação era escassa, difícil de encontrar; tínhamos de correr atrás, e gastava-se muito tempo buscando o lugar, a circunstância e a pessoa certa da informação desejada. Quando você a encontrava, tinha de absorvê-la toda de uma vez, como uma grande esponja cerebral. Hoje, a torneira foi aberta. Vivemos uma época de alagamento de informação, com muita coisa útil, porém muito mais coisas inúteis. Não há esponja que suporte essa enxurrada de mensagens. Temos de entender a nossa epistemologia e transformar ou adaptar o nosso jeito de aprender. Temos de trocar a nossa esponja, que funcionou no passado, pela peneira – o único jeito de sobreviver e aprender algo no presente.


apresentação

Foi por isso que me juntei, nos últimos três anos, ao meu amigo jornalista Victor Fontana para neste livro, com histórias engraçadas e princípios importantes, mostrarmos como é possível aprender a conviver de forma saudável uns com os outros na internet, na sala de aula, no trabalho, na igreja ou em casa. Boa leitura! Que pelo menos um trecho desta obra passe pela sua nova peneira. Marcos Botelho

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Parte um

Sobre esponjas e peneiras. Quem s達o eles?



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Peneiras e esponjas na vida real

João e seus vinte primeiros dias de estágio. Estágio não, trainee, que é mais chique, coisa de quem será chefe um dia. Afinal, de quê valeram as horas de estudo para passar no vestibular de uma boa faculdade e as muitas etapas de entrevista? Não foi para ser chamado de estagiário. Mas não vamos perder o foco. João chegou ao seu vigésimo dia na empresa e já ouviu o boato pelos corredores. O diretor de sua área tem uma grande dificuldade em aproveitar os jovens talentos que a companhia recruta. Dizem que Norberto, o diretor, é muito exigente. Poucas vezes fica satisfeito com os funcionários que terminam o programa de trainee. Das conversas breves que João teve com Norberto, não leu no chefe um sujeito exigente demais. Muito menos lhe


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ontem esponja, amanhã peneira

parecia alguém de má fé, que simplesmente não quisesse jovens talentosos por perto. Pelo contrário, com 21 anos, João nunca havia encontrado alguém que parecesse tão interessado em seu desenvolvimento e, desde sua chegada, não havia sido exigido além de suas capacidades em nenhuma tarefa. Na verdade, ele tinha como primeiro trabalho aprender. E aprender muito. O diretor havia deixado cerca de mil páginas sobre a mesa de João para ele ler entre políticas internas da empresa, manuais de sistemas de informação e livros sobre a vida corporativa. Assim era sua rotina naquelas semanas: muita leitura durante a manhã, cerca de duas horas atendendo clientes e repassando casos mais complicados para funcionários mais experientes e boa parte das tardes era dedicada a horas de oficinas sobre os sistemas da empresa, as melhores práticas de atendimento ao cliente e palestras sobre a cultura vencedora de uma organização. Naquele dia, Norberto convidou João para um café no final do expediente. O jovem trainee ficou um pouco aflito. Será que ele já estava desagradando ao chefe? Em apenas vinte dias? O que será que aquele homem queria? Assim andaram os dois até o elevador, desceram, atravessaram a rua e caminharam até um bistrô que, durante a tarde, servia cafés e era famoso por seus doces de massa folhada. “Espero que ele pague” – pensou João. Sentaram-se em duas poltronas com uma mesinha de centro e, até aquele momento, Norberto só havia falado de amenidades, como a partida de futebol do dia anterior e opiniões sobre a política econômica adotada pelo Banco Central. João já estava ansioso quando chegou o café forte de Norberto. Com a xícara e o pires nas mãos, o diretor finalmente resolveu falar sobre trabalho. Perguntou sobre o que o garoto estava achando das atividades e fez quatro perguntas sobre os principais temas dos livros que havia recomendado. O trainee respondeu a todas sem precisar se esforçar muito. Norberto não conseguiu esconder o sorriso. Cumprimentou o garoto e novamente pôs-se a falar:


Peneiras e esponjas na vida real

– Faço essas perguntas a todos os trainees. Raramente eles respondem a uma delas perfeitamente. Você foi bem nas quatro. Como fez isso? Conseguiu ler tudo em duas semanas? – Claro que não – respondeu João para a surpresa de Norberto. – Na verdade, não li quase nada. É informação demais para muito pouco tempo. Então, priorizei o que parecia ser mais importante. Sobre políticas internas da empresa, preferi perguntar a colegas mais experientes. Quanto aos livros mais técnicos, pulei prefácios e introduções, fui ao sumário e vi que alguns tópicos teriam explicações mais curtas na internet. Em alguns capítulos, li apenas o primeiro parágrafo. João já tinha a certeza. Norberto não era exigente. Apenas achava que informação é sinônimo de conhecimento. Os trainees que o antecederam caíram nesta armadilha. João, entretanto, sabia que não tinha condições de armazenar em sua cabeça todas aquelas informações. O sucesso do início de sua vida profissional muito se deu porque ele sabia separar informação útil de lixo que não deve sequer ser absorvido.

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