Desafios da Liderança Cristã

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john stott

Tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes


DESAFIOS DA LIDERANÇA CRISTÃ Categoria: Igreja / Liderança / Vida cristã

Copyright © 2014, John Stott’s Literary Executors Publicado originalmente por Inter-Varsity Press, Downers Grove, IL, Estados Unidos Título original em inglês: Problems of Christian Leadership Primeira edição: Maio de 2016 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Tradução: Valéria Lamim Delgado Fernandes Preparação e revisão: Lilian Rodrigues Projeto gráfico e diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Stott, John, 1921–2011. Desafios da liderança cristã / John Stott ; prefácio Ajith Fernando ; tradução Valéria Lamim Delgado Fernandes. — Viçosa, MG : Ultimato, 2016. Título original: Problems of Christian leadership. ISBN 978-85-7779-148-4 1. Liderança cristã I. Fernando, Ajith. II. Título. 16-02049

CDD-253

Índices para catálogo sistemático: 1. Liderança cristã : Cristianismo 253

Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br


Sumário

Prefácio de Ajith Fernando

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Prólogo

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1. O problema do desânimo

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Como perseverar sob pressão

2. O problema da autodisciplina

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Como manter o frescor espiritual

3. O problema dos relacionamentos

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Como tratar as pessoas com respeito

4. O problema da juventude

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Como ser um líder quando se é relativamente jovem

5. Dois “Timóteos” 63 Mark Labberton e Corey Widmer

Apêndice 75 John Stott fala sobre ministério, liderança e serviço



Prefácio

Quando jovem, aprendi muitas lições sobre o estilo

de vida de um líder por meio da vida e dos textos de John Stott. É impressionante quantas delas ainda uso depois de quase quatro décadas de ministério. Este livro apresenta muitas dessas lições às quais um jovem líder cristão pode recorrer para se tornar um líder bíblico. Li este livro lentamente como parte de minha leitura devocional. Como poucos livros fizeram, senti o coração arder com as coisas que Deus estava me ensinando durante a leitura. Muitas vezes tive de parar para orar. Os líderes são desafiados em relação ao seu compromisso com Cristo, com as pessoas, com a disciplina pessoal e com várias outras coisas que fazem deles bons líderes. Há também muita sabedoria em se tratando de como liderar de forma eficaz.


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O que me surpreende é ver que um livro útil como este só esteja sendo publicado tantos anos depois de as mensagens contidas nele terem sido originalmente escritas. Mas, como dizem, antes tarde do que nunca! Ajith Fernando Diretor de ensino da Mocidade para Cristo no Sri Lanka


Prólogo

Este livro é resultado de quatro palestras dadas por

John Stott, em 1985, em Quito, no Equador, em uma conferência para a equipe da International Fellowship of Evangelical Students (IFES) na América Latina. O material foi publicado pela primeira vez em espanhol como Desafios del Liderazgo Cristiano (Ediciones Certeza), mas sem uma publicação prévia em inglês. Quem chamou nossa atenção para o material foi Doug Stewart, ex-membro da equipe da IFES na Bolívia, Argentina e México, de 1964 a 1991, e atual vice-presidente da IFES. Doug trabalhou como intérprete de John Stott na conferência de Quito de 1985. Há algum tempo, ele se deparou com as transcrições das palestras e ofereceu-as a nós para que fossem publicadas. Temos a alegria de disponibilizar em formato de livro este tesouro eterno.


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Stott começou com algumas observações pessoais para apresentar esta série: Gostaria de dizer que é um grande privilégio para mim passar estas quatro tardes com vocês. Quero começar dizendo que meu compromisso com a IFES é muito forte. Meu envolvimento começou há 45 anos quando cheguei a Cambridge como estudante. Eu estava participando do que era chamado de CICCU, hoje normalmente conhecido como União Cristã. Então, de 1952 a 1977, há 25 anos, tive a alegria de liderar missões universitárias em muitos países do mundo, na Europa, América do Norte, África, Ásia e Austrália. Muitas vezes falei em conferências estudantis em muitas partes do mundo, por isso tive uma maravilhosa oportunidade de observar a IFES de perto. Para ser sincero com vocês, sou profundamente grato a Deus por este ministério. Sou grato pelos princípios sobre os quais ele trabalha: movimentos indígenas nacionais, liderança estudantil, evangelismo sério e discipulado maduro. Também sou grato pela qualidade da liderança que Deus deu ao movimento, tanto na equipe como entre os estudantes. Isto inclui vocês, os quais tenho tido a alegria de conhecer nestes dias. Então, obrigado pela oportunidade de passar estas quatro semanas com vocês. Pediram-me para compartilhar com vocês coisas das Escrituras e de experiências pessoais, mas que eu fizesse isso de uma forma um pouco mais informal. Agora, quero dizer quais são os quatro tópicos que escolhi sob o título geral “Problemas da liderança cristã”. Um dos problemas é o desânimo, ou como perseverar sob pressão. Segundo, o problema da autodisciplina, ou como manter o frescor


prĂłlogo

espiritual. Terceiro, o problema dos relacionamentos, ou como tratar as pessoas com respeito. Quarto, o problema da juventude, ou como ser um lĂ­der quando se ĂŠ relativamente jovem.

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O problema do desânimo Como perseverar sob pressão

As pressões sobre os líderes cristãos são intensas e

muitas vezes implacáveis. Consideremos algumas delas. Temos nossas ocupações e a fadiga, sem tempo suficiente para a família, nem mesmo para férias. Depois temos as responsabilidades que líderes reconhecidos possuem. Se o ministério deles é criticado, eles carregam o peso da crítica e têm a responsabilidade de tomar decisões difíceis. Há também as frustrações do trabalho. Líderes possivelmente promissores nem sempre vivem de acordo com o que prometem. Alguns até se afastam. Ministérios promissores começam a declinar em número ou em visão, e isso é uma grande frustração para o líder. Além disso, existem as tentações pessoais que o Diabo usa para atacar todos os líderes, e há a solidão que sentimos quando estamos no topo. Talvez não tenhamos colegas em quem confiar.


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Todos estes problemas podem levar-nos ao desânimo. Na verdade, o desânimo é o maior risco ocupacional de um cristão, uma vez que pode levar à perda da visão e do entusiasmo. Portanto, a pergunta é: Como perseverar sob essas pressões? Eu gostaria de ler 2 Coríntios 4 e espero que vocês não se importem se eu der uma pequena aula de grego. O primeiro versículo diz: “Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos”. E então o versículo 16 diz: “Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia”. Observe a expressão que se repete nestes dois versículos: ouk enkakoumen. Esta é a expressão grega que aparece nos versículos 1 e 16. A maioria das versões bíblicas modernas diz: “Não desfalecemos”. Outra é: “Nós nos recusamos a ficar abatidos”. Há ainda: “Nada pode desanimar-nos”. Existe uma expressão similar que aparece no capítulo 5 para a qual chamo sua atenção, o versículo 6: “Portanto, temos sempre confiança”, e, mais uma vez, o versículo 8: “Temos, pois, confiança”. Isso significa que temos coragem. Você talvez conheça muito bem esses capítulos para saber que, no capítulo 3, Paulo revela a glória do ministério cristão, mas, no capítulo 4, ele apresenta os problemas desse ministério. Este é o argumento paulino: por causa da glória do ministério e a despeito de seus problemas, ouk enkakoumen. Nós nos recusamos a ficar desanimados. Dois problemas: o véu e o corpo

Estamos diante de duas questões: Que problemas tentaram Paulo para que ele desanimasse? E, segundo, que soluções


O problema do desânimo

ou antídotos ele encontrou para eles? Há dois problemas que causaram desânimo nesse capítulo. O primeiro é um problema externo e objetivo em nossos ouvintes e o segundo é um problema interno e subjetivo em nós mesmos. Ao primeiro ele chama de véu, que é kalyma. Este véu é o que cobre a mente dos incrédulos e cega-os para a verdade do evangelho. O segundo problema é soma, o corpo. É nosso próprio corpo, sua fragilidade, este vaso humano frágil que guarda o tesouro do evangelho. Assim, o primeiro problema é espiritual: é a cegueira das pessoas para quem pregamos. O segundo é físico: é nossa própria fragilidade e mortalidade. Quando temos um pregador fraco e uma congregação cega, temos um problema. Estes são os dois problemas, e não acho que exista algo que provoque mais desânimo do que eles. Onde está o véu? Observe 2 Coríntios 3.12-13: “Portanto, visto que temos tal esperança, mostramos muita confiança. Não somos como Moisés, que colocava um véu sobre a face”. Em outras palavras, o véu que cobre a mente das pessoas não é algo que fizemos. Pelo contrário, mostramos muita confiança em nossa pregação e apresentamos a verdade com clareza. Portanto, a causa dessa cegueira humana é diabólica; afeta tanto judeus como gentios. Examine o versículo 14 do capítulo 3. Na metade do versículo, temos: “Pois até hoje o mesmo véu permanece quando é lida a antiga aliança”. Mais uma vez, o versículo 15: “Até o dia de hoje, quando Moisés é lido, um véu cobre os seus corações”. Assim, por duas vezes Paulo diz isso para dar ênfase: os judeus têm um véu que cobre a mente e o coração deles. Então, Paulo continua a dizer que os gentios também têm esse véu. O versículo 4

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do capítulo 4 diz: “O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes”. Agora, pensem comigo: Este não é um de nossos maiores problemas? Expomos o evangelho com clareza, mas as pessoas não podem compreendê-lo. Nós o esmiuçamos de forma tão simples que pensamos que até mesmo uma criança poderia compreendê-lo, mas elas não o entendem. Nós o explicamos, nós o discutimos, argumentamos com as pessoas até pensarmos que elas vão inevitavelmente ceder, mas um véu cobre a mente delas. Duvido que haja algo mais desanimador do que isso para o obreiro cristão, o que pode levar a uma grande frustração. Assim, (a) o primeiro problema é o véu, ao qual voltaremos mais adiante quando pensarmos nas soluções para os problemas, e (b) o segundo é o corpo. Paulo escreve sobre o corpo em 2 Coríntios 4.7-18. Diz o versículo 7: “Mas temos esse tesouro em vasos de barro”, ou seja, assim como em uma antiga lamparina, no obreiro cristão existe um contraste entre o tesouro e seu recipiente. Não há dúvida de que Paulo está referindo-se à fragilidade física, na qual guardamos o evangelho. Por todo o corpo humano estão escritas as palavras “frágil: manuseie com cuidado”. A referência imediata é à perseguição de Paulo, a qual é clara nos versículos 8 e 9, mas ele se refere a essa fraqueza em outros contextos. Em 1 Coríntios 2.3, ele diz: “E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês”. A fraqueza parece ser mais psicológica que física: era o nervosismo natural que sentia quando estava indo a Corinto com o evangelho. Em seguida, temos o terceiro exemplo em 2 Coríntios 12.7, no qual ele se referiu ao seu “espinho na carne”: “Para impedir que


O problema do desânimo

eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar... Mas ele [Jesus] me disse: ‘Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza’”. Paulo continua no versículo 10 a se referir a pontos fracos, insultos, sofrimentos, perseguições e dificuldades, por isso parece mais uma vez que se trata de uma deficiência física. Talvez fosse uma doença ou algum tipo de deficiência. Provavelmente possamos acrescentar nossas próprias fragilidades a essa lista. Podemos ter a timidez de um introvertido, tendência à depressão ou dores de cabeça. Todos estes são exemplos da fraqueza do corpo humano. É a fraqueza do recipiente, que guarda o tesouro do evangelho. Aqui estão dois grandes problemas com os quais não podemos lidar sozinhos. Não podemos levantar o véu, não podemos curar a cegueira dos descrentes e não podemos superar a fragilidade de nossa própria mente e corpo. Contudo, é apesar destes problemas aparentemente insuperáveis​​ que Paulo diz ouk enkakoumen. Não desanimamos. Como então podemos superar o desânimo quando estamos diante desses problemas? O antídoto contra o desânimo

Deixemos de lado os problemas para passarmos aos antídotos contra o desânimo. De certa forma, acho que devemos dizer “antídoto” no singular, pois embora existam dois problemas, há apenas uma solução: o poder de Deus. Observemos novamente o véu e o corpo. Primeiro, o véu. O que fazemos quando as pessoas se recusam a responder ao evangelho? Bem, você sabe os

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motivos pelos quais somos tentados. Somos tentados a forçá-las a responder. Somos tentados a recorrer a técnicas emocionais e psicológicas com o intuito de manipular as pessoas para que creiam ou manipular o evangelho para que seja mais fácil crer nele. Mas, embora a tentação de usar algum tipo de manipulação seja muito forte quando as pessoas não creem, Paulo repudia expressamente essa tentação. Lemos em 2 Coríntios 4.2: “Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano, nem torcemos a palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus”. Rejeitamos a manipulação, mas, em contrapartida, proclamamos o evangelho de forma simples. Agora leiamos 2 Coríntios 4.4,6: “O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. “Pois Deus, que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo.” Acho que é muito importante entendermos estes versículos. No versículo 6, Paulo está referindo-se a Gênesis 1.2-3. Ele compara o coração não regenerado ao caos primitivo, quando tudo era sem forma, vazio e escuro, até que Deus disse: “Haja luz”, e a luz brilhou nas trevas. Aí está o retrato que Paulo faz da regeneração. É isso que acontece com ele na estrada de Damasco. O Deus que em Gênesis disse: “Haja luz”, brilhou em nosso coração. Portanto, regeneração não é nada menos que uma nova criação de Deus, e isso só ocorre quando Deus diz: “Haja luz”.


O problema do desânimo

Aqui temos dois deuses em conflito. No versículo 4, Satanás é chamado de “o deus desta era”; no versículo 6, Paulo fala do Deus da criação. O deus desta era cega os olhos, a mente das pessoas, enquanto o Deus da criação brilha no coração delas. Há um contraste completo e absoluto entre eles. Um é um deus que cega e o outro é um Deus que brilha. Como então podemos agir neste conflito? Não seria modesto e prudente, talvez, se saíssemos da cena de conflito? Não deveríamos deixar que estes dois deuses se enfrentem sozinhos? Contudo, a conclusão de Paulo é diferente. Observemos o versículo 5: “Mas não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor, e a nós como escravos de vocês, por causa de Jesus”. A batalha entre Deus e o Diabo diz respeito à luz. O Diabo tenta impedir que a luz brilhe, mas se é Deus quem está fazendo a luz brilhar, o que é esta luz? É importante notar que é o evangelho. Observemos o final do versículo 4: “A luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”, e o final do versículo 6: “[O] conhecimento da glória de Deus”. Portanto, o evangelho é a luz. É o meio pelo qual Deus vence as trevas e brilha no coração das pessoas. Assim, se o evangelho é a luz, é melhor pregarmos o evangelho. Longe de ser desnecessário, o evangelismo é absolutamente indispensável. A pregação do evangelho é o meio designado por Deus pelo qual o príncipe das trevas é derrotado e pelo qual Deus brilha no coração das pessoas. Então ouk enkakoumen. Não desfalecemos. O véu cobre a mente das pessoas. Não podemos penetrar nas trevas com nossas próprias forças, mas podemos penetrá-las com o poder de Deus quando o evangelho é pregado.

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O poder de Deus na fraqueza

Passemos para o ponto final, o segundo problema: o corpo. Eu gostaria de observar os três versículos de Coríntios que vimos antes. Começamos com 2 Coríntios 4.7: “Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós”. Observemos este “para” (“a fim de”). Segundo, voltemos para 1 Coríntios 2.3-5: “E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês. Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito” [e, mais uma vez “a fim de”] “para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus”. Terceiro, temos 2 Coríntios 12.7: “Foi-me dado um espinho na carne”, o qual Jesus se recusou a tirar de Paulo. Então ele diz no versículo 9: “Portanto, eu me gloriarei... em minhas fraquezas”, e, mais uma vez, temos “a fim de”, “para que o poder de Cristo repouse em mim”. Três vezes Paulo usa esta expressão “a fim de”, e não consigo pensar que seja por acidente. Esta é a ênfase das cartas aos coríntios: que o poder de Deus seja demonstrado na fraqueza humana e que o poder de Deus se manifeste por meio da morte. De volta ao nosso texto em 2 Coríntios 4, observemos os versículos 10 e 12: “Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo... De modo que em nós atua a morte; mas em vocês, a vida”. Estamos trazendo em nosso corpo o morrer de Jesus, para que sua vida possa se manifestar em nossa carne mortal. O poder mediante a fraqueza e a vida por meio da morte são os temas dessas duas cartas.


O problema do desânimo

O que fazemos, então, quando sentimos essa fraqueza de nossa carne mortal? Como Paulo, oramos para sermos libertados de um espinho na carne, e que Deus possa nos libertar. Nossas dores de cabeça podem passar, nossas enfermidades físicas podem ser curadas, nossa timidez psicológica pode ser tirada de nós, mas talvez não possam. Acredito que as Escrituras e a experiência nos ensinem esta lição muito desagradável: Deus, intencionalmente, muitas vezes nos mantém na fraqueza para que seu poder possa repousar em nós. Um exemplo pessoal

Antes de concluir, eu gostaria de tomar a liberdade de compartilhar uma experiência pessoal. Aconteceu durante uma missão na Universidade de Sidney, na Austrália, em 1958. Durante a semana da convenção, tive um problema na garganta e perdi a voz. O que fazer com um missionário sem voz? Tínhamos chegado à oitava e última noite da missão. Os estudantes haviam reservado o grande auditório da universidade e havia um grande número deles lá. Decidimos que eu tentaria pregar. Eu estava sentado em uma pequena sala do lado de fora da universidade quando um grupo de estudantes se reuniu a minha volta e pedi que lessem essa passagem em 2 Coríntios 12. Oramos para que meu espinho na carne fosse tirado, e, se me lembro bem, eles impuseram as mãos sobre mim durante a oração. Contudo, continuamos a orar para que, se fosse do agrado de Deus me manter na fraqueza, eu me alegrasse em minhas enfermidades para que o poder de Cristo pudesse repousar em mim, pois quando sou fraco é que sou forte.

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