Mário Peixoto. Programa evento

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a poesia que reside nas coisas





Ligado, pela amizade ou pela criatividade, a nomes como Clarice Lispector e Lúcio Cardoso, entre outros; autor de um livro elogiado por Jorge Amado e

Manuel Bandeira e do qual apenas o primeiro volume, de um total de seis, até

agora – 2017 – foi publicado; exímio poeta. Mas, pouco lembrado por sua literatura. Realizador de um filme elogiado por nomes como Orson Welles e peça de culto da cinematografia brasileira, uma vez que este feito é sempre o primeiro a ser recuperado quando seu nome é citado.

Todas as facetas do artista são exploradas por estudiosos de sua obra na edição 14 da Revista 7faces, com sublinhado para sua produção literária. Este número reúne, além de ensaios, material diverso de arquivo e inéditos. Marca

esta publicação “Mário Peixoto. A poesia que reside nas coisas” – alusivo à memória e à obra do autor.

O evento ocorre nos dias 13 e 14 de novembro de 2017, no Centro Cultural IBEU (Copacabana, Rio de Janeiro).



De Mário Peixoto, é preciso virar a página Por Pedro Fernandes de O. Neto

Repete-se com muita frequência que a geração com pés fincados no grande pântano das redes sociais tem se revelado portadora de um mal: tem muitos planos,

aliás, é extremamente criativa, mas pouco ou quase nada torna-se concreto. E não é porque não saiba o caminho das pedras para concretizar suas ideias; é que, por

alguma razão, tudo se adia um pouco e quando se percebe, a ideia está morta –

muitas vezes suplantada por outra que está novamente fadada ao mesmo destino, um contínuo ciclo vicioso. A acusação tem alguma verdade, mas talvez seja necessário rever que isso não é um mal de geração. É possível até que seja, agora, uma recorrência, e só damos fé porque essas mesmas redes expõem a todos para o

mundo (já não fracassamos sozinhos), mas ela independe do atual contexto. E entre

o projeto e a sua execução há mais elementos envolvidos que a mera inação dos seus idealizadores.

A criatividade é, no geral, coisa que carece e muito de um amplo exercício de autocontrole e canalização das forças para um sentido em específico, ou, a vida inteira poderá não deixar de ser uma sucessão de devaneios. Mas, a bem da verdade, não há mal algum na não-realização de ideias – talvez isso signifique um mal muito mais

para o idealista que para os expectadores da ideia. O fato é que o eterno fracasso, por sua vez, coloca em risco o colorido da existência e nos faz refém de uma sensa-

boria. Está sempre à serviço do falso argumento de que tudo já foi dito ou inventado e que estaríamos, agora, presos numa redoma de repetições.


A negativa de que o fantástico universo de idealizações não é produto da atual ge-

ração se oferece quando somos confrontados com a diversidade de projetos de importantes figuras que nunca saíram do papel e quando estas estavam num tempo em que o tsunami de entretenimento não era uma constante. Nessa ocasião, possivelmente se pensa que, uma parte delas estava marcada pelo desfavorecimento do meio – sobretudo quando pensamos nos países com baixa qualidade de vida como

o Brasil. Mas, essa opinião também morre no instante em que se pode compreender tal condição como um solo fértil à criatividade tal como favorável demais ao goro das ideias.

Nesse ínterim, vale citar um nome que, depois de passado à eternidade, não poderá

continuar sofrendo do descaso – primeiro, em parte, autoimposto, depois, imposto

– e que teimam chamar de fracasso. Trata-se de Mário Peixoto e o descaso aqui se

refere à visibilidade da sua obra literária, visto que, seu nome sempre aparece ligado

à feitura de um filme revolucionário para o cinema de seu tempo, mas pouco – muito

pouco se compararmos as leituras em torno desse objeto e desse acontecimento –

relacionado à literatura brasileira. Descaso aqui, portanto, tem a conotação de silenciamento e sua autoimposição remete ao período de reclusão, fundamental a todo

criador, que se deu, muito provavelmente, nos anos quando mais trabalhou por um

legado literário. Em Onde a terra acaba, documentário de Sérgio Machado que recorda (novamente) o perfil cinematográfico de Mário (o título, aliás, é homônimo ao

de um filme que ele faria com Carmen Santos, mas falhou), os caseiros do Sítio do Morcego recordam a anedota das reiteradas vezes em que ele próprio negava sua identidade aos que iam até sua morada interessados em captar holofotes.

(O exílio de Mário Peixoto no Sítio do Morcego pareceu com uma tentativa, depois

da impossibilidade de concluir Onde a terra acaba, projeto no qual investiu muito de suas forças, de baldear a imagem do cineasta e fazer, com a aparição de O inútil de

cada um, obra de uma vida composta nos anos de reclusão, outra imagem: a de

escritor. Não que Mário se interessasse por apagar o perfil do cineasta – logo ele


que dizia na adolescência sonhar em ser ator e foi levado quase ao acaso a fazer cinema, tarefa que executou com maestria. O caso tem a ver com aquele morrer

citado pela Clarice Lispector, que para ela se dava toda vez depois de concluir uma obra. Trata-se de um contínuo refazer-se; entre um tempo e outro, é necessário, sempre, desapegar-se de tudo. Há no escritor, nesta compreensão, a mesma ordem natural do ator e por isso Mário se identifica tão bem entre o sonho do que queria

ser (e foi) e a tarefa de escrever – descoberta feita possivelmente quando na Inglaterra começou a compor seus diários).

Uma aproximação à biografia de Mário Peixoto logo nos levará a compreendê-lo na galeria dentre os de alta criatividade. Não foi um desfavorecido total porque filho

de família com boas condições, criado no sudeste do país, com incursões pela Europa; mas parece que teve o azar (ou quem sabe a sorte) de pertencer a um país mergulhado na mais fatal das necessidades e integrado numa condição obscurantista e paupérrima.

Não é o caso de acreditar que de lá para cá as coisas tenham dado um giro total e

alcançamos os patamares dos chamados grandes países. Não. Melhoramos, mas ainda sequer colocamos o pé na estrada. Quando o assunto é criação artística, o

máximo que conseguimos foi continuar com mentes ávidas, espíritos criativos e uma

grande força de vontade de romper com o circuito fechado que nos impõem dentro e fora do país. Isto é, em grande parte, pelo menos no nosso contexto, quando os

projetos goram não significa uma mera apatia ou incapacidade do seu idealizador. Nem que este seja um mero devaneador à cata de, no tempo das imagens, um ho-

lofote. É o meio, marcado ora pela cisão de grupelhos, ora pelos gestos de favorecimento aos que já nascem favorecidos e ora o total sufocamento na selva intrincada e fechada, coronelista, que faz de um autor cuja ideia sobrevive a esse mar de in-

tempéries um herói. Em parte, por aqui, ter dinheiro é mesmo insuficiente, porque ideias, sobretudo no âmbito cultural, não carecem apenas disso, mas de outras forças, as que chamam de interesse, e são estas as que mais se negam.


Certamente, Mário Peixoto não gostaria de se deixar passar por esta imagem do herói nacional. Mas, daquilo que sobreviveu à sua visível incapacidade de dedicar

energias para um só plano, dada a extensão da sua criatividade, apenas pela sua

força de ação, porque não foi a filiação a grupos de poder cultural determinado que o fez, o faz herói. Isso das filiações, por exemplo, fica notável na pouca presença de seu nome entre os principais e projetos de sua geração, muito embora não tenham

lhe faltado, vez ou outra, aproximações tímidas, como faz Jorge Amado ao impulsar a publicação de um romance numa editora de algum peso ou Mário de Andrade com um texto que escreve sobre Mundéu, no qual classifica a poesia de Peixoto como

“legítima”: “São poemas que nascem feitos, explosões duma unidade às vezes exce-

lente, em que o movimento plástico das noções e das imagens é incomparável dentro da nossa poesia contemporânea”. Este livro de poemas é do início da década de trinta e fora essa aproximação do poeta paulista, ao que parece, nada melhor saiu

da voz dos outros de sua geração – embora em nenhuma ocasião a obra o faça

poeta deslocado do seu tempo. Manuel Bandeira, quem diz ser Mundéu uma “aluci-

nação assombrativa” (“Tão pouco Julieta”), no seu Apresentação da poesia brasileira,

cita timidamente Mário Peixoto: é de promissora estreia, mas emudecido. Entretanto, é significativo que não acrescente à sua antologia nenhum poema do poeta.

É porque Mário havia emudecido? Possivelmente não. Pedro Nava, só para citar um exemplo, é mesmo considerado poeta bissexto, e bem que figura nesse rol. Logo, Bandeira quem, num texto de 1937 se queixa da exclusão do nome de Mário Peixoto de uma antologia de poetas brasileiros traduzidos para o francês por A. D. Tavares

Bastos, Poésie brésilienne, editada então sob a iniciativa do ministro da Educação Gustavo Campanema.

Mas, onde a acusação de frustrado encontra eco? Como cineasta pensou e produziu uma ampla variedade de roteiros e de ideias, mas só conseguiu realizar a duras penas

um, Limite; como romancista pensou e trabalhou quase toda a vida num grande romance, à proporção de Proust com Em busca do tempo perdido, vingou um


pequeno livro, O inútil de cada um; da extensa quantidade de poemas só um livro

saiu em vida, embora muito tenha aparecido depois; e das narrativas curtas – contos e peças de teatro – sobreviveram oito texto reunidos, também postumamente, em Seis contos e duas peças curtas. E só. Mas, sublinhemos: embora.

Uma observação superficial, e aqui encontramos essa raiz acusatória que tratamos

expurgar de questão, poderia reduzi-lo então com a máxima comum segundo a qual

quem muito deseja pouco ou nada faz ou ainda a impossibilidade de ser – salvaguardando a força dos gênios – tudo ao mesmo tempo. Para as duas opções é pre-

ciso olhar o seu avesso: que Mário Peixoto muito desejou, é verdade, que pouco realizou também, mas o que fez, em termos de qualidade criativa e estética, não foi pouco e sim o suficiente para atestar seu multitalento e colocá-lo entre os nossos grandes criadores. As multi-habilidades, entretanto, não o fazem um gênio. Nem ele, nem ninguém. Um artífice, um sonhador, um desassossegado, um tomado pela força da ideia – tudo isso foi e são os multiartistas. E, no caso específico do brasileiro,

demonstra na maneira como inovou em todos os projetos que idealizou e nos que

realizou. Vale antecipar: frustrado é quase sempre (e serve a este caso) uma opção cômoda de reprovar a significação grandiosa de um talento.

Limite é o raro exemplo, da cinematografia brasileira, de uma produção que nos co-

loca em igualdade com as mais importantes criações e mesmo com a ordem experimental do chamado cinema-arte mundial. Desde sempre, este é um dos nossos

melhores filmes de culto e já agora um lendário. Vinicius de Moraes, quem se referiu à película reiteradas vezes em suas crônicas, sempre com entusiasmado interesse, destaca-o “carregado de meaning, de expressão, de coisas para dizer, sem dizer

nada, sem chegar nunca a revelar, deixando sempre tudo no limite da inteligência com a sensibilidade, da loucura com a lógica, da poesia com a coisa em si” (“Limite,

de Mário Peixoto com fotografia de Edgar Brasil”, A manhã, 31 jul. 1942); “Em Limite,

a técnica vive em obediência ao cinema manifestado e intimamente conjugada com este, o que torna o filme uma obra superior da cinematografia” (“Terra é sempre Terra


II”, Última hora, 4 jul. 1951); “o filme Limite, de Mário Peixoto, a única coisa séria que

tivemos em matéria de cinema no Brasil” (“Recordando o Chaplin Club”, A manhã, 1 ago. 1941). Limite foi ainda produto de uma diversidade de esforços técnicos, numa

época quando os recursos nessa área do Brasil eram praticamente inexistentes. Sua existência é a culminância de um sonho somada à persistência.

A leitura de O inútil de cada um, ainda um romance incompleto, porque depois do primeiro volume publicado graças à intervenção de Jorge Amado, os outros cinco

não passaram de planos – numa repetição post-mortem da falibilidade dos projetos de Mário Peixoto – é motivo suficiente para reafirmar a engenhosidade da sua prosa. Lido como uma narrativa de difícil penetração, certamente porque se filia a uma

tradição literária melhor marcada pela relação entre o conteúdo da prosa e o conteúdo poético, isto é, uma transmutação de formas, qual serão exemplos na litera-

tura universal, além de Marcel Proust ao qual foi comparado antes, mas ainda Virginia Woolf, James Joyce, entre outros, ou a Clarice Lispector, para citar um nome da

nossa tradição e possivelmente influenciada por Mário, este romance, vindo a lume, remodelará certos determinismos do cânone, sobretudo esta linha que atribui a outros nomes a força representativa da introdução desse tipo de narrativa no país.

O quase desconhecimento de O inútil de cada um se dá porque este é um livro nas-

cido numa dupla contracorrente: o seu tempo é o de um explosão do chamado “romance social”, que encontrou fortes adeptos dentro e fora do Brasil, uma vez que se integra a uma corrente fundamental na própria consolidação do romance enquanto forma narrativa, a da escrita de corte realista, de uma relação muito estreita

com o tempo histórico e as questões sociais do contexto com o qual o narrado se

relaciona. A força da tradição realista é, por sua vez, a responsável pela maior aceitabilidade dos leitores das narrativas cujo tratamento estético reside mais na manipulação e elaboração de enredos que sua criação e sua construção. Na primeira, predominam os plots, a linearidade mais ou menos organizada do enredo e a obje-

tividade da linguagem, portanto, são narrativas mais suscetíveis à fruição, enquanto


na segunda, a descontinuidade, a fragmentação que pode culminar na ausência de trama e a linguagem de corte subjetivo-poético requerem do leitor uma condição

mais próxima com o trabalho de reelaboração da obra. Se acrescentarmos a isso que

as políticas de leitura do texto literário investiram em ressaltar o conteúdo narrativo

como forma do conhecimento frente as acusações da leitura literária sem serventia, enquanto mero passatempo, logo compreenderemos ainda mais claramente as ra-

zões pelas quais – e agora, não apenas o romance de Mário Peixoto, mas também os do que se filiam a esta outra tradição – se constrói o silenciamento em torno

dessa literatura. Disto, só nos resta se posicionar, também na contracorrente, porque, a julgar por isso a obra em prosa do escritor, este é outro componente que só

amplia sua valia, principalmente num país onde se contam nos dedos das mãos – e sobram dedos – obras (verdadeiras) que investem no “romance psicológico”.

Mas, Manuel Bandeira (ele outra vez) se referiu a O inútil de cada um em contraposição a Mundos mortos, de Octavio de Faria, amigo de Mário desde os tempos do

clube de cinema O Chaplin, como uma obra “que a gente precisa ler com muita atenção, porque, dado o seu gosto pelas elipses mentais, o seu menosprezo pelo detalhe

vulgar o supérfluo, na sua narrativa não há linhas mortas, não há flou” (“O romance de Carlos Eduardo”). Notava, indiretamente, que as fronteiras com as quais o ro-

mance flertava não eram outras se não as do cinema, um exercício literário que na

França, só nos anos 1950, ganhará o nome de Nouveau roman. A poesia era já a ma-

neira de Mário Peixoto conceber o mundo – o que se vê na sensibilidade imagética de Limite e nesse interesse de fazer da poeisis e não da mimesis sua lente de acesso ao mundo.

Agora, quando da sobrevida do autor e quando é possível olhar para sua obra com outros olhares, menos marcados pelas regras dos falsos dogmatismos de seu tempo, nota-se, muito claramente que, se por um lado ele se filia na extensa lista das figuras

tomadas pelo idealismo e cujas altas temperaturas de uma criatividade atípica contribuem para uma dispersão em igual proporção das realizações, por outro se filia a


outra lista dos que contribuíram para uma revisão fundamental nos rumos na cultura dentro e fora de seu tempo.

Guardadas as devidas proporções, nas duas listas as quais o nome de Mário Peixoto integra, está um sobre o qual poderia caber as acusações do fracasso e não pesam

– o do português Fernando Pessoa. Mário não nos deixou uma arca. Mas nos deixou

uma obra que se expandiu desde sua morte, em 1992, e de igual força inovadora daquelas que apareceram em vida: Seis contos e duas peças curtas, Poemas de per-

meio com o mar e os textos sobre cinema organizados por Saulo Pereira de Mello

(as outras obras também), nome inclassificável no zelo para com a criação de Mário,

Escritos sobre cinema.

Destas, a aparição do livro de 2002 faria Manuel Bandeira lembrar de acrescentar Mário Peixoto à lista de poetas que inclui na sua antologia é o que mais chama atenção, porque demonstra que depois de Mundéu o poeta não emudeceu. Mário Pei-

xoto afasta-se do tópico modernista de seu primeiro livro de poesia; o impasse entre

tradição e modernidade, a consideração de uma linguagem assinalada pela força imagética e pela rapidez são parcialmente desfeitos mais tarde. Embora os poemas apresentados postumamente não se distanciem em muito dos poemas do livro de

1931 – são textos que datam a partir de 1933 – o poeta agora está mais afeito às

simbologias; o poeta é cada vez mais marcado por certo torpor interior produzido de um conjunto de sensações que tentam sobrepor a palavra escrita colocando em questão o próprio poder – que se mostra apenas enquanto possibilidade – de nomear a realidade.

E agora, onde estão as acusações que pesam sobre Mário Peixoto? Elas são apenas o que a própria palavra designa: acusações. Porque não se rendeu às mesquinharias

do local, nem se conformou por estar no limite – mas viveu e criou na tentativa contínua ultrapassá-lo. A imagem que, segundo ele próprio, lhe deu a ideia para o

seu único filme e que se tornou um ícone, é significativa nesta conclusão: há uma


mulher que olha fixamente para um ponto que ultrapassa a imagem que se mostra à sua frente, a de dois punhos unidos por uma algema.

E já agora, se muito se planeja e pouco se faz, isto é, se isso é mesmo uma característica do nosso tempo, então, mais um motivo para ter o escritor em conta: ele era assim desde, pasmem, 1930! É chegada a hora de passarmos, portanto, para uma

nova página. Aquela que visa corrigir determinadas repetições que só contribuem à negação, ao silêncio e ao esquecimento. E, claro, reverter alguns dos comodismos

formados por certa opinião meio sectarista e unilateral. Porque, anote isso, se a inoperância for, como acusam os mais desgostosos de nossa era, uma recorrência ou falha de nosso tempo, ao menos se abre agora o tempo da revisão sobre a obra de

Mário Peixoto, o que, por sua vez, só reafirma, sua atualidade; e, uma vez constatada

sua versatilidade e criatividade, logo, poderá se desmentir a apatia criativa de nossa geração. E se, toda inoperância, resultar em frutos de tão boa safra como o multiar-

tista brasileiro, então, viva a inoperância! Precisamos dela para proteger a arte da mesmidade – esta sim um dos miasmas mais necessários de expurgação.



O diário conhecido por “My Diary”, de Mário Peixoto • Arquivo Mário Peixoto





Mário Peixoto

Mário Peixoto (1908-1992) nasceu provavelmente na Bélgica onde seu pai, João Cornélio, frequentava um curso de Química. Estudou na Inglaterra e lá voltou depois, movido pela paixão de uma vida: o cinema. Fez parte com ami-

gos de um círculo sobre a sétima arte num tempo bastante remoto dessa cultura no Brasil – o Chaplin Club. O grupo que estabeleceu amplo debate sobre

a linguagem cinematográfica no Rio de Janeiro, publicou o jornal O Fan e registrou as discussões de seus membros no momento em que o cinema “silencioso” dava lugar ao cinema “sonoro”.

Das estadas na Europa, concebeu Limite, único filme seu cuja estreia se deu

em maio de 1931; no mesmo período, inicia a filmagem de Onde a terra acaba, uma produção ambiciosa, financiada por Carmen Santos, também atriz principal do filme; mas devido ao rompimento entre os dois, a realização foi interrompida.

A partir daí, são vários os projetos inacabados: Constância (1936) ou Maré

baixa, também chamado Mormaço, da mesma época; o roteiro de Tiradentes escrito para Carmen Santos, depois de recobrada a amizade, cujo texto

desapareceu; Três contra o mundo (1938); a adaptação de ABC de Castro Al-

ves (1946), texto de Jorge Amado, também para Carmen Santos e cujo roteiro novamente

foi

perdido.

Ainda

terão

ficado

nos

planos


Sargaço (1948), reescrito como A alma segundo Salustre (1952) e Outono / O

jardim petrificado (1964), vagamente baseado no conto “Missa do Galo”, de Machado de Assis.

Em 1935, publicou o romance O inútil de cada um, com prefácio do amigo desde os tempos de O Fan, Octávio de Farias que mais tarde foi reescrito e passou de um texto breve para seis volumes e aproximadamente 2000 páginas. Trabalhou nesta obra obcecadamente quase até o final de sua vida, mas só o primeiro volume foi publicado, em 1984.

Anos antes, em 1931, apresenta uma coletânea de poemas que foi intitu-

lada Mundéu (reeditada em 1997) com forte sotaque modernista. Num texto que tomado como prefácio para este livro, Mário de Andrade caracteriza a obra da seguinte maneira: “Os poemas, digamos legítimos, de Mário Peixoto

se caracterizam especialmente pela rapidez. Tem-se a impressão de um jato violento, golfadas irreprimíveis. São poemas que nascem feitos, explosões duma unidade às vezes excelente, em que o movimento plástico das noções e das imagens é incomparável dentro da nossa poesia contemporânea”*.

Mas ele logo se distancia desta poesia por achá-la demasiadamente construída e forçada. Então, é quando dará mais atenção à prosa que começa a ser

produzida no mesmo ano de 1931, quando publica, na revista Bazar, três contos e uma peça de teatro, que fazem parte de uma coletânea editada postu-

mamente por Saulo Pereira de Mello, em 2004: Seis contos e duas peças cur-

tas. Ainda saiu outro título de poesia: Poemas de permeio com o mar, também póstumo. São produções das décadas de 1930 a 1960.

Sua ligação com a literatura parece se ater a compreensão lançada no texto sobre sua obra romanesca publicado no portal dedicado à memória do escri-

tor: “Escrever contra o tempo, contra o relógio que diz ‘menos um, menos um’,

* O texto de Mário de Andrade intitula-se “A respeito de Mundéu” e foi publicado

na Revista Nova (São Paulo, 15 dez. 1931);

depois foi incluído com prefácio na reedição do livro em 1997.


contrabalançando o espaço temporal perdido com o tecido textual crescente,

evocando a memória, sem violentá-la, em direção a uma compreensão contingente da mesma”.

As informações deste texto foram pesquisadas a partir do site dedicado ao escritor, organizado pelo professor Michael Korfmann (UFRGS): mariopeixoto.com



Dedicatória de Lúcio Cardoso a Mário Peixoto de Mãos vazias • Arquivo Mário Peixoto



Dedicatรณria de Vinicius de Moraes a Mรกrio Peixoto de Forma e exegese โ ข Arquivo Mรกrio Peixoto



Dedicatรณria de Octavio de Faria a Mรกrio Pei-

xoto de O retrato da morte (Os renegados II) โ ข Arquivo Mรกrio Peixoto


13 e 14 nov. ’17 ENTRADA LIVRE CENTRO CULTURAL IBEU Av. N. S. de Copacabana, 690 • 11º andar Copacabana – Rio de Janeiro Tel: (21) 3816-9441/9458 • cultural@ibeu.org.br

Dia 13 de novembro 14:30 Apresentação da Revista 7faces n.14 em homenagem ao Mário Peixoto Pedro Fernandes de O. Neto (UFERSA) Cesar Kiraly (UFF)

15:00 Geraldo Blay Roizman (USP) Filippi Fernandes (UFF / Arquivo Mário Peixoto)

17:00 Mar de Fogo, de Joel Pizzini (8 minutos, Blu-ray ) Limite, de Mário Peixoto (114 minutos, Blu-ray )


Dia 14 de novembro 14:30 Apresentação da Revista 7faces n.14 em homenagem ao Mário Peixoto Pedro Fernandes de O. Neto (UFERSA) Cesar Kiraly (UFF)

15:00 Joel Pizzini (Cineasta) Maurício Rezende (PUC-Rio)

17:00 Mar de fogo, de Joel Pizzini (8 minutos, Blu-ray) Limite, de Mário Peixoto (114 minutos, Blu-ray)




7faces

Editores Pedro Fernandes de O. Neto Cesar Kiraly Conselho editorial Eduardo Viveiros de Castro Ésio Macedo Ribeiro Maria Filomena Molder Nuno Júdice

Programa “Mário Peixoto. A poesia que reside nas coisas” Organização de material de espólio. Filippi Fernandes, pesquisador-titular do Arquivo Mário Peixoto www.revistasetefaces.com Editoração e diagramação Pedro Fernandes de Oliveira Neto Capa A partir de fotografia de Vonn Scott Bair. Imagens Mário Peixoto na Praia do Morcego, Rio de Janeiro. Frame do documentário Onde a terra acaba, de Sérgio Machado (2002). Todas as demais imagens são do Arquivo do escritor Mário Peixoto, localizado no Largo do Machado, Rio de Janeiro.

O evento “Mário Peixoto. A poesia que reside nas coisas” é organizado pela Revista 7faces, o Laboratório de Estudos Hum(e)anos e o Grupo de Estudos sobre Romance da Universidade Federal Rural do Semi-árido.



7faces Programa “Mário Peixoto. A poesia que reside nas coisas” Este material foi composto em Stika Banner, 12 e 14, entrelinhas 1pts (corpo do texto), Groutesque MT Light (títulos), 28, entrelinhas 1pts para publicação eletrônica pelo Selo Letras in.verso e re.verso. Redação da Revista 7faces revistasetefaces@ymail.com




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