Caderno-revista 7faces 2a.ed. jul-dez. 2010

Page 1



Obra do homenageado poesia Livro de poemas de Jorge Fernandes (1927) prosa Contos & Troças e Loucuras – contos humorísticos de Jorge Fernandes e versos de Ivo Filho (1909)


7faces caderno-revista de poesia

ISSN 2177-0794

Natal - RN


a josé saramago

Não contemos os dias que passaram: Hoje foi que nascemos. Só agora A vida começou, e, longe ainda, Pode a morte cansar à nossa espera. José Saramago, Os poemas possíveis


Novecentos e cinquenta cavalos suspensos nos ares... - Besouro roncando zum... zum... umumum... Aonde irĂĄ aquele Rola-Titica parar? Jorge Fernandes, AviĂľes I In Livro de poemas de Jorge Fernandes



sumário

Apresentação “O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face” por Pedro Fernandes Jorge Fernandes: o seu a seu dono por Márcio de Lima Dantas

12 19

Caderno de poemas, parte 1 Carlos Augusto Cavalcanti Perdoem-me ao entrar em desespero; Se eu te perdi; Amigo astronauta César Augusto Rodrigues O palhaço cai; Existo; Poema

21 26


Clauder Arcanjo Chá de mármore

30

Daniel Morga Geometria

32

Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus) As lavadeiras de sonhos; Explorando o barbarismo

34

Edson Bueno de Camargo Indiscutível; Folhas ao vento; Desconstrução

38

Eloisa Menezes Fraquezas do encontro

44

Jorge Humberto A verdade das coisas; Na simpleza das coisas

46

Entremeio Jorge Fernandes, o poeta da cidade sonhada por Maria Lúcia de Amorim Garcia

50

Caderno de poesia, parte II José Rogério Dias Xavier Água, tanta água

62

Kalliane Sibelli Prece; Poema àquele que me lê; Vestida de tempo; Sentença

64

Marcelo Moraes Caetano Tigre de papel; Scripta Manent

73

Mário Lúcio Barbosa Na latitude do caju; Canto praieiro

76

Renata Iacovino Um gracejo; Feiticeira; Às avessas

81

José Antonio Rodrigues Júnior Cena

86


José Rosamilton O silêncio

88

Tino Portes Onomatopeicos; Pé no chão; Modo de fazer; Alucinógeno

90

Valquíria Gesqui Malagoli Estrelas; Evolução; Veraneio; Esperança

95

Vinícius dos Santos Labirintos; Céu de anil

100


nota do editor Caro leitor, O caderno-revista que você tem agora em mãos é o segundo número de uma ideia minha, das muitas que me acompanham desde meu lançamento na rede mundial de computadores com o blogue Letras in.verso e re.verso. Com a colaboração dos nomes de Márcio de Lima Dantas e Maria Lúcia de Amorim Garcia, meus convidados; e de Carlos Augusto Cavalcanti, César Augusto Rodrigues, Clauder Arcanjo, Daniel Morga, Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus), Edson Bueno de Camargo, Eloisa Menezes, Jorge Humberto, José rOgério Dias Xavier, Kalliane Sibelli, Marcelo Moraes Caetano, Mário Lúcio Barbosa, Renata Iacovino, José Antonio Rodrigues Júnior, José Rosamilton, Tino Portes, Valquíria Gesqui Malagoli, Vinícius dos Santos, poetas que por excelência foram eleitos a compor essas páginas. O caderno-revista tem interesse de trazer ao espaço literário virtual novos ventos, novas escritas, sem necessariamente serem de solo potiguar (lugar físico onde nasceu a ideia); porque a ambição dessa ideia é do tamanho da Web: não tem fronteiras; além de que, é propósito maior estabelecer correntezas de diálogos entre os nomes daqui e os de outros lugares. A partir dessa segunda edição, o cadernorevista se vincula oficialmente a uma outra ideia posta na rede assim que do lançamento da primeira edição: o Selo Letras in.verso e re.verso. O Selo Letras in.verso e re.verso foi criado devido ao número significativo de edições virtuais lançadas nos dois últimos anos pelo espaço Letras in.verso e re.verso. Logo, além do espaço 7faces (set7aces.blogspot.com) a ideia agora fica exposta para ser descarregada também no espaço do selo (seloletras.blogspot.com).

Pedro Fernandes poeta e editor da ideia


apresentação

O poema essa estranha máscara mais verdadeira do que a própria face Mário Quintana

O mundo contemporâneo tem passado por movimentos diversos que encareceram o modo de existir dos sujeitos. Tanto é verdade que o fantasma encarnado na palavra “crise” tem sido o que hoje a tudo povoa. A consolidação das primeiras marcas desse fenômeno de crise, surgido pela soma de uma série de episódios, se dá, sobretudo, por aqueles elementos desencadeados da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Sem dúvidas, as transformações que este episódio, em particular, trouxe ao mundo não se resume apenas à modificação das linhas espaciais do continente físico europeu e as subjetivas dos indivíduos (dos seus modos de agir e ser), mas, feito rastilho de pólvora, se alastra e contamina o mundo todo e todos os setores; no terreno da arte não foi diferente: também as transformações se fizeram marcantes. Lembremo-nos dos movimentos da chamada era moderna que solavancaram esse território introduzindo novas temáticas, novas formas de uso da arte e novos modos e usos da linguagem. É nesse contexto de modernidade que o ano de 1927 será, como um marco, significativo para a cidade do Natal. Pela época o eixo Rio-São Paulo lia Primeiro caderno do aluno de poesia de Oswald de Andrade, de Oswald de Andrade, ou Clã do jabuti, de Mário de Andrade, dois dos principais precursores do movimento modernista no País e duas obras símbolo dessa nova maneira de fazer e entender arte literária. O motivo de tal importância desse ano é que por aqui, também como


no Centro-Sul, se assistia a publicação de um livro inusitado, tanto na forma (86 páginas, 15X21, em forma de caderno de desenho e impresso em papel barato tipo de jornal) quanto no conteúdo (portando singelos quarenta poemas). E ainda vinha com um título inusitado, Livro de poemas de Jorge Fernandes. Tudo isso, aos olhos do nosso provincianismo causou, certamente, estranhamento e, por que não, celeuma no meio artístico, ainda, de certo modo, encantado com os versos primaveris exalando o perfume da rima perfeita. A poesia de Jorge Fernandes inaugura por cá aquilo que já se operava com grande veemência pelo Sudeste. De modo que é uma poesia significativa porque rompe com a estética perfeita e bem desenhada do parnasianismo e vem apresentar que o exercício poético é mais do que “escrever versos metrificados/ contadinho nos dedos”, mas uma labuta constante que se apropria da matéria do próprio cotidiano e da língua corriqueira para refundar novas maneiras e usos da linguagem; o entendimento de que no poema se fundam novos territórios e novas dimensões do pensar e do existir; o poeta cria para si um mundo à parte (uma máscara, para uso dos versos de Mário Quintana) que lhe outorga fins mais puro e mais verdadeiro do que a própria realidade. Em Jorge Fernandes são elementos materiais da modernidade – as máquinas das fábricas, os automóveis, a velocidade, a imagem, a visualidade sonora, e os aviões, sobretudo (está aí o motivo da capa desta edição). Além de toda essa importância para o cenário da Literatura no Estado, e esse será outro motivo pelo qual sai esta edição em homenagem ao poeta, ano passado foi publicada uma belíssima edição reunindo toda a produção de Jorge Fernandes; trata-se do livro Jorge Fernandes – o viajante do tempo modernista, organizado, em mais de trinta anos de pesquisa, pela professora Maria Lúcia de Amorim Garcia. Tal empreitada da professora reinaugura o olhar para a obra-prima de Jorge Fernandes e apresenta-nos outras faces do poeta e do fazer-se poeta. Logo, o nome de Jorge Fernandes constitui, peça fundamental a que esse caderno registra em homenagear na sua segunda edição: um poeta dono de um espírito moderno, que redescobre o poder da palavra; um poeta para uma era ainda mais sofisticadamente moderna e novamente ressignificado na corrente literária do Rio Grande do Norte.

Pedro Fernandes poeta e editor da ideia


Jorge Fernandes (1887-1953)


o homenageado “Habitualmente, vivo assim – sorrindo... O riso, para mim, exprime tudo... E, no ato mais sério, estando rindo, sou mais sério, sorrindo que sisudo!”

Jorge Fernandes de Oliveira é filho de Natal (RN) e representa para o movimento modernista no estado potiguar, o que os Andrade representam para o mesmo movimento no Centro-Sul do País. Teve um único livro de poemas, publicado em 1927 – Livro de poemas de Jorge Fernandes. Junto com Ivo Filho, o autor publicou, em 1909, um livro de contos: Contos & Troças e Loucuras. Apesar de membro de família de posses, de intelectuais e homens de notoriedade pública, Jorge Fernandes não chegou sequer a concluir os estudos. Ao abandonar os bancos escolares vai trabalhar numa fábrica de cigarros e depois como caixeiro-viajante. Seu livro mais famoso, o de poemas, sai com tiragem pequena em papel rústico e é impresso na tipografia do jornal A Imprensa.


Imagem da capa da 1a. Edição do Livro de poemas de Jorge Fernandes, publicada em 1927. créditos da imagem especificados no fim do caderno.


Jorge Fernandes: o seu a seu dono ____________________________________________________

por Márcio de Lima Dantas A recente publicação do livro Jorge Fernandes: o viajante do tempo modernista (Natal: RN Econômico, 2009) é digna de ser festejada, não apenas porque compilou em uma bela edição a obra daquele considerado pelo nosso meio literário como uma das referências-maiores do nosso cânone, mas também por ser um livro no qual o esmero, o rigor acadêmico, a pesquisa diligente e séria confluiriam para um requintado projeto gráfico amadurecido no carbureto da paciência e do bom gosto. Gerações vindouras de aficcionados e pesquisadores muito serão gratos à professora Maria Lúcia de Amorim Garcia, visto terem todo um material sistematizado acerca do poeta Jorge Fernandes: rica iconografia, alguma fortuna crítica, além de generosas margens com anotações esclarecedoras do texto apresentado. 7faces – Márcio de Lima Dantas 17


Agora outra coisa. É consabido que uma literatura nacional não se faz apenas com grandes nomes. Se há rios-poetas pujantes, largos, - percorrendo paisagens diversas, com sua fauna e flora, irrigando com paul fértil as vazantes encontradas em espaços e tempos diferentes, - há que contemplar, para melhor compreender, os cursos de água que se inscrevem como afluentes, os córregos venerandos que banham obscuras aldeias, os riachos possibilitadores de despertar estados líricos naqueles que se encontram à sua beira, que nem por isso, assim simples, anônimos, perdem sua importância.

Leiloeiro do tempo... Uma hora... duas horas... muitas horas... - Dou-lhe uma!... O pêndulo suavemente esperaa o lanço... Consternação... Cabeças desperadas de agonias... - Dou-lhe duas!... Indecisão... Dou-lhe três!... Fábirca universal arrematou.

Isso posto, gostaria de trazer essas ideias-preâmbulo para o fato do poeta norte-riograndense, Jorge Fernandes, deste livro, integrar o cânone da literatura produzida no estado, se bem que sempre em um patamar tão alto que suplanta o nível da sua voltagem estética, se quisermos dar o seu a seu dono (não se esqueçam que a insignificante poesia de Auta de Sousa é tida em alta conta, até por scholares e bons poetas do Rio Grande do Norte). Com efeito, não podemos faltar com a lucidez: a musa soprou pouco fôlego, parcimoniosa em engenho e arte. Temos que lembrar em Jorge Fernandes o fato do seu valor histórico superar o valor estético, quer dizer, jamais poderemos não tê-lo como referência, mas, na acepção de Harold Bloom, não seria considerado um “poeta forte”. A prova? É que não se tornou uma


obsessão aos seus pósteros de mister, como Zila Mamede, presença ali obrigatória, deixando tisnas nas mãos dos outros depois dela, numa inquietante “angústia da influência”. Ora, o que a poesia de Jorge Fernandes tem de ethos descritivo, - quase tudo o que produziu de poemas se enquadra numa espécie de coleção de fotografias com forte poder de sugestão, muito perdeu em poder de reflexão, - de metáforas que dissessem algo do Ser na sua errância pelos aceiros e picadas do mundo. Enfim, o que ganhou em evocação imagética, sugestão de fenômenos e paisagens, perdeu em mímeses e em metafísica. Outra alternativa é dizer dele o que sempre se diz, fazendo coro com o discurso dos cavilosos cordeiros contentes, que aceitam a geral voz da maioria, sem maior conhecimento do que seja uma legítima obra de arte, sem ter um pingo de senso crítico, desconhecendo os avanços qualitativos da teoria da literatura ou os métodos empregados nas tantas Histórias da prosa e da poesia. Saliento aqui, nesta obra, a beleza e magnitude do ensaio de abertura, procedendo por meio dos largos palmos teóricos da poética e da semiótica uma leitura amorosa do poeta, contemplando não somente as imagens obsessionais dele, mas apontando a valia dos recursos manuseados (onomatopeias, disposição gráfica no plano da página, arcaísmos da região) pelo autor do Livro de poemas, de forma inovadora, não apenas chamando atenção para as coisas até então não dignas de serem formatadas no discurso poético, sobretudo para os procedimentos que logo mais seriam de uso comum nos vindouros artistas que fariam uso de tais signos. De toda maneira, seria injusto deixar de louvar esta germânica empreitada, a saber: organizar, anotar, arrolar um vocabulário, apresentar imagens inéditas em um só tomo tudo o que ficou conhecido como produção do poeta Jorge Fernandes.

7faces – Márcio de Lima Dantas 19


caderno de poemas, parte 1 Carlos Augusto Cavalcanti, CĂŠsar Augusto Rodrigues, Clauder Arcanjo, Daniel Morga, Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus), Edson Camargo Bueno, Eloisa Menezes, Jorge Humberto


Carlos Augusto Cavalcanti Palmas, TO carlinhos.cavalcanti@gmail.com www.carlinhoscavalcanti.blogspot.com

________________________________________________________ perdoem-me ao entrar em desespero; se eu te perdi; amigo astronauta

Nascido em Conceição do Araguaia, interior do Pará, filho de Rachel da Conceição de Melo e Barros e Carlos Augusto Cavalcante Barros. Com 11 anos mudou-se com os pais para Belém onde terminou o Primeiro grau. Com 15 anos mudou-se novamente para Brasília para morar com parentes e terminar o Segundo grau. Com 16 anos experimentou escrever pela primeira vez para fazer letra de música. Ao terminar o curso de Graduação, foi para Palmas-TO assumir concurso federal.


Perdoem-me ao entrar em desespero Perdoem-me quando quebrar o silêncio Perdoem-me as palavras mal colocadas Ao extravasar minha tristeza Através do desarranjo do texto Ficará explícito também meu medo Por isso me desculpem... Perdoem o meu descarrego Desculpem a conturbada controvérsia Não liguem para as violações da regra Esqueçam os erros e a falta de métrica Apossarei sem licença da licença poética Num instante, por um momento Apenas leiam-me como eu escrevi Com displicência, sem saber o que fiz Sintam como eu me senti, perdido e vago Descaradamente sem pudor e piegas

7faces – Carlos Augusto Cavalvanti

22


Se eu te perdi Já não me conheço Peço-te de joelhos Que perdoe este infeliz Envergonha-me, o espelho Por todo mau que te fiz Se eu te perdi Tanto mau não só pra ti De tudo que eu tinha pra dividir Tomei o pior e fiquei pra mim Carreguei mais da metade De toda a infelicidade Que foi te trair Se eu te trai Trair-te me fez um mártir Também traí a mim mesmo Descubro, definitivamente Que nem minha pessoa, respeito Se eu te traí Sou mais que imperfeito Este não tem culpa Por assim sê-lo E eu me fiz sem desculpa Pelo teu recente desprezo Se eu te perdi Perdi também o direito De, por mim, ficar triste Fico desmerecido de pena Perder-te foi meu último erro Com a única certeza De um ser sem valores: Se eu te perdi... 7faces – Carlos Augusto Cavalcanti 23


Agora, também, percebo Que, sem você De repente, me perco Se eu te perdi... Eis aqui escombros Eu e meu desamparo Eu e meus olhos baixos Deficientes, inexpressivos Secos, desentusiasmados Eu e, novamente, eu sozinho Do meu lado. Onde, sem você Já não me encontro mais... Sou retrato de natureza-morta Que sussurra aos ouvidos de quem olha Gritos de desesperança da minha alma

7faces – Carlos Augusto Cavalcanti 24


Amigo astronauta Como faço para ir até o alto Como te alcanço com pés descalços Ensina-me tua arte A arte de elevar-se Colocar-se a altitude Ao meio misturar-se Na ausência de gravidade Não tomarei teu espaço Teu espaço que me tomará Com toda espontaneidade Amigo astronauta Estenda tua mão amiga Será a mão de Deus Será a mão que finda Será o gesto que salva Será o ato que me resigna Sinal que vem dos céus Amparo que vem de cima Acalento da minha alma Minha única saída Deixa-me ir Deixa-me subir Eleva-me daqui Suspende este tênue impulso de vida

7faces – Carlos Augusto Cavalcanti 25


César Augusto Rodrigues São João da Boa Vista, SP cesarasrodrigues@gmail.com www.comediafajuta.blogspot.com

________________________________________________ o palhaço cai; existo; poema Cesare (pseudônimo) nasceu no começo do outono de 1984 em São João da Boa Vista. Graduado em jornalismo, cinéfilo, leitor de haicai, Pessoa, Cummings, Rimbaud, Benjamin, Paz e afins, arrisca-se com a poesia desde a infância e vem experimentando com ensaio, prosa e drama. Conta poucas publicações, de maior relevância um conto em um caderno especial d’O Estado de São Paulo e a montagem pela Cia Bella da peça Retalhos de Vila das Águas.


o palhaço cai desolado no chão rio um riso de tintas instantes antes flutuava ava ava... e distraído por ecos espatifei-me de frente com o obelisco limítrofe para a realidade

7faces – César Augusto Rodrigues 27


existo vou e desvou revoo fujo obliquo qual catástrofe inédita qual reflexo assustado reflito minha sombra nas espumas dos teus sonhos na brisa fria que exala do teu sopro renasço incoerente no teu credo e no teu beijo como no teu grito ressoo revoo desvou e vou desisto

7faces – César Augusto Rodrigues 28


poema sou o grito do pássaro acuado sou fado interminável confusão de desvarios quietos tumulto ritmado na ponta dos pés desesperada fuga do claustro sou a lágrima que destrói a tranquilidade do lago o sussurro que disparata o sonho o vacilo o transtorno a desilusão sou equívoco fátuo alheio à morte e quem ouve o meu grito me julga o sopro da noite

7faces – César Augusto Rodrigues 29


Clauder Arcanjo Mossoró, RN aclauder@uol.com.br

________________________________________________ chá de mármore Antonio Clauder Alves Arcanjo (Clauder Arcanjo), nascido em Santana do Acaraú – CE aos 3 de março de 1963, é engenheiro, professor, contista, poeta, cronista semanal, resenhista literário e colaborador de sites, revistas e jornais e várias partes do País. A reunião de contos, intitulada Licânia, marcou a sua estreia em 2007. Entre seus trabalhos inéditos, o autor tem obras nos gêneros poesia, crônica, romance e resenhas literárias. Recentemente lançou a reunião de contos Lápis nas veias.


Chá de mármore Para Paulo de Tarso Correia de Melo Fiz chá de mármore na sala E arrumei o lugar. (Emily Dickinson)

Eu tento cantar A áurea presença, Faltam-me versos, fiel cantar. O céu me usurpa tudo, E eu, tolo e zonzo, a recriar... Na sala, as tarefas da casa; Além d’Uma arma carregada, Sob este silêncio a pulsar. O medo a invadir minha solidão, Aceito o risco, O outro céu?!... Farei, então, chá de mármore Neste samovar, e poucos se servirão. 7faces – Clauder Arcanjo 31


Daniel Morga Rio Grande, RS dmt7@pop.com.br

________________________________________________ geometria Daniel Morga nasceu na cidade do Rio Grande, estado do Rio Grande do Sul, em 23 de abril de 1975, onde reside até hoje. É funcionário do Banco do Brasil e cursa o quarto ano da faculdade de Letras Português-Francês na Universidade Federal do Rio Grande.


Geometria Triângulo amoroso. Círculo vicioso. E eu, sobre o trapézio. Contudo é importante circular: Nessa grave parábola Sou quadrado e obtuso, Mas como oblíquo não me enquadro.

7faces – Daniel Morga 33


Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus) Itaquaquecetuba, SP eucaliptos.jequitibas@gmail.com

________________________________________________ as lavadeiras de sonhos; explorando o barbarismo Dimythryus, heterônimo do poeta Darlan Alberto T. A. Padilha, é licenciado em Letras pela Faculdade UNIESP-SP, Embaixador da Paz, título que lhe fora atribuído pelo Cercle Universel des Ambassadeurs – Suisse–France (Genebra – Suíça). Entre suas premiações destacam-se o “Prix Francophonie”, a Menção Honrosa Diplome d`honneur no 10o. Concours International de Litterature Regards 2009 (Nevers – France), e o 6o. Concurso Poético do Cancioneiro Infanto-Juvenil para a Língua Portuguesa 2010 (Almada – Portugal).


As lavadeiras de sonhos Tu te tornas eternamente responsável Tu deviens responsable toujours Por aquilo que cativas. de ce que tu as apprivoiisé. Antoine de Saint-Exupéry In-Le Petit Prince, 1940

A transparência de um rio Iguala-se as lágrimas que abundantes se cristalizam Numa imagem formidável da leve correnteza. Em sua orla sob as pedras O colorido das roupas se espalham Em meio à canção das lavadeiras. Preocupadas com o sol Compenetradas em suas músicas Distantes do resto do mundo. Distantes das lágrimas Que fundamentam minhas mágoas E por outro lado constituem todo este rio. As lavadeiras inundam-se nos rios Nas lágrimas de suas vidas Na particularidade de seus problemas.

7faces – Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus)

35


Enquanto as lágrimas desesperadas Tentam lavar, levar as nódoas de suas vestes Sob a força de suas mãos ressecadas pelo sabão. A correnteza em sua límpida transparência É fria e dói, dispersas nos versos de cada lavadeira Que sonha com um mundo que imagina longe dali. As pedras acompanham Ensaboadas de desdém Descrentes dos sonhos, de qualquer mundo existente. Ao final o sol se põe E as cores sucumbidas de lágrimas Desfiam-se sobre a palidez da vida. As lavadeiras se retiram Deixando quarar o seu mundo A espera de um sonho que nunca se realiza.

7faces – Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus)

36


Explorando o barbarismo Lá no firmamento a luz rainha

O que seria d’uma pétala Sem o astro poeta a endeosa-la O que seria d’um poeta Sem a seedosa pétala Para eviternizá-la O que seria das estrellas Sem seu brilho? O que do mar Teria sua graça Sem que annuviar-se em belleza Ruído e natura? O mesmo que meu coração Sem sua su’existência Sem sua presença Mesmo que inviso Sempre em evidencia Talhado n’alma No destino... Précis de ce que le premier emeraude Conde Duklye Em francês arcaico: Précis de ce que le premier emeraude Em francês usual : Precieux comme une émeraude Português : Preciosa como uma esmeralda São Paulo 21 de outubro do anno da graça de 2001, 20:25hrs.

7faces – Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus)

37


Edson Bueno de Camargo Mauá, SP camargoeb@ig.com.br http://inventariodn,blogspot.com http://umalagartadefogo.blogspot.com

________________________________________________ indiscutível; folhas ao vento; desconstrução

Edson Bueno de Camargo – (Santo André - SP,1962), mora em Mauá – SP. Publicou De Lembranças & Fórmulas Mágicas Edições Tigre Azul/ FAC Mauá - 2007; O Mapa do Abismo e Outros Poemas Edições Tigre Azul/ FAC Mauá 2006, participou de antologias poéticas. Participa do grupo poético/ literário Taba de Corumbê da cidade de Mauá –SP. Foi o Primeiro Lugar Nacional no 4º Concurso Literário de Suzano – 2008, Categoria Poesia; e o Primeiro Lugar do Prêmio Off-Flip de Literatura – 2006, categoria Poesia.


indiscutível há um desenho perfeito em teus olhos de acumular pedras da estrada e icebergs a deriva água pura a salvo para que se tome um chá de gosto indiscutível antes de se morrer

7faces – Edson Bueno de Camargo 39


folhas de vento a lua se quebra em penhascos de faca e gelo vivo escamas de turquesa fina aguda plumário de serpente folhas de vento suçuarana de sopro suave fumaça leve que dá vida ao barro irmão coiote caminha sobre as línguas da pradaria sobre as pegadas dos que já são extintos dos que sempre estarão onde o velho jaguar pisa nasce o caminho que se revela a bíblia do homem não é mais a do animal desfez-se a harmonia as manchas das costas de felino escrito está o nome da criança deus porção branda da brisa serve de alimento às dores da rocha mãe o parto do tempo areia esculpindo o mundo a cria dos peixes à superfície da água respirados pelo grande espírito que é pai e mãe ao mesmo tempo inflamam os pulmões da terra cultivam vida até onde se pode levar 7faces – Edson Bueno de Camargo 40


tornar a lembrar o que vai acontecer que a chuva já caiu aqui ontem e cairá lavando as dores e o medo por pior frio há primavera alento e cores soa o tambor dos olhos soa o coração nos dedos soa o trovão chuva que chega volta sempre a carne para meus ossos

7faces – Edson Bueno de Camargo 41


desconstrução em que se dá a construção do suicídio nos três aspectos do abandono ocaso das horas silêncio do mundo e ausência do verbo a língua inflamada de vocábulos que não são ditos pesada corrente que é o viver mesmo depois de morto (o sentido) a palavra presa ao céu da linguagem feito uma lanterna japonesa um balão noturno antes da chuva cintilâncias orgânicas verdes noturnas todas as redenções estão perdidas todos os pássaros voam com navalhas que cortam o ar e as veias em asas de ruflar cirúrgico os corvos buscam os corpos dependurados abismados encharcados de rios e de pedras nos bolsos os chocalhos das cascavéis dizem um tanto há algo indigesto no farfalhar das folhas som lento de fogo se alimentando 7faces – Edson Bueno de Camargo 42


de veneno fermentando nos dentes vinho que nunca será bebido na desconstrução do corpo não há razões perceptíveis ou necessárias nunca houve de fato um sentido no mundo

7faces – Edson Bueno de Camargo 43


Eloisa Menezes Porto Alegre, RS eloisa52@ibest.com.br

________________________________________________ fraquezas do encontro

Eloisa Menezes Pereira é professora de Língua Portuguesa; já participou de doze antologias poéticas, várias publicações nos jornais Diário Gaúcho e Zero Hora; participou do Conselho do Leitor, em 2008, no jornal Zero Hora, e foi jurada do concurso Histórias de Trabalho organizado pela Prefeitura de Porto Alegre e organizadora do primeiro e-book lançado nas escolas públicas do Rio Grande do Sul.


Fraquezas do encontro Na magia do prazer O toque brada Impedindo o amanhecer Delira na cantada Sorrisos ociosos Consomem os desejos Perfurando vitoriosos Deleitosos anseios Nos olhares da aventura Implodem os gemidos Esculpindo a candura Germinam os sentidos

7faces – Eloisa Menezes 45


Jorge Humberto Lisboa, Covina, Portugal jorgehumberto.h@netcabo.pt http://jorgehumbertopoesia.blogspot.com/

________________________________________________ a verdade das coisas; na singeleza das coisas Nascido numa aldeia dos arredores de Lisboa, de nome Santa-Iria-de-Azóia, filho único, Jorge Humberto cedo mostrou a sua sensibilidade para as artes, e apurado sentido estético. Nos estudos completou o 6º ano de escolaridade, indo depois trabalhar para uma pequena oficina de automóveis como pintor-auto. A poesia surgiu num processo natural da sua evolução enquanto homem, e a meio a agruras e novos caminhos apresentados, foi sempre esta a sua forma de expressão por eleição. Autodidata e perfeccionista, desenvolveu e criou de raiz 10 livros de poesia, trabalhando atualmente em mais 6 e acumulando ainda mais algumas boas centenas de folhas, com textos seus, que esperam inertes no fundo de três gavetas, a tão desejada e esperada edição, num país onde apostar na cultura, é quase que crime de lesa pátria. Participou em antologias, e-books, tem alguns prêmios em jogos florais, aqui da zona e também em Espanha.


A verdade das coisas Neste meu silêncio azul, Onde o que constrói É um rio que passa, as Flores e as vontades também, Dos homens de boa vontade, Há a voz do que não reina, Testemunha antiga de muitos Mitos contraditórios e falsos Testamentos. E nem lhe importa o reino. Se flores há, se corre o rio Ou a vontade é do homem, Porque quererá ele reinar então, Não é o que há e corre, O que, já correndo, constrói, Ou do Homem, sua vontade, Se a vontade é uma flor, No rio que há, porque passa, Passou e há-de passar, Como coisa que está E é e será e voltará a ser, Porque a si própria se constrói, De sua vontade, Já no homem verdade? Neste meu silêncio, Onde o azul é todo este azul Que há e o que não se vê, Toda a voz é a voz primeira, Do que, embora sem reino, Sempre reinará

7faces – Jorge Humberto 47


clåudia sales de alcântara. Bolero de Ravel


Na singeleza das coisas Na suave temperança, De uma chuva de Inverno, No vidro e na lembrança, No sonho, quando é terno, É que fica a vontade, De gritar ao mundo Esta minha verdade: Na grandeza de uma criança, Na singeleza de uma flor, Nos olhos sem desesperança, No reconhecer ao amor, O direito que lhe assiste, A possibilidade de tudo Ser só isso, porque existe. Não mais que isso, porém, Ao homem se lhe pede: Uma flor que brotasse, Num gesto, que já vingasse, Tão simples como o respirar, Como nada ser de ninguém E tudo uma forma de amar.

7faces – Edson Bueno de Camargo 49


Jorge Fernandes, o poeta da cidade sonhada

_____________________________________________________________

Maria Lúcia de Amorim Garcia A obra de Jorge Fernandes* pode ser avaliada como autêntica representante do Movimento Moderno Brasileiro; e corresponde ao percurso de um ser poético, criador de formas novas que resultam de uma existência que viveu intensamente emoções, sentimentos, humores, fatos e situações em sua terra. O poeta é personagem do início do século XX, morando na Rua Vigário Bartolomeu nº 605 no centro da capital do Rio Grande do Norte. Esta apresentava ares de um provincianismo arraigado no século anterior, no entanto, por iniciativa de algumas 7faces – Maria Lúcia de Amorim Garcia 50



personagens inteligentes, educadas em universidades européias, sobreveio gradativas modificações à cidade. O alerta foi dado com a conferência “Natal daqui a 50 anos”, proferida por Manoel Gomes de Medeiros Dantas, em 21 de março de 1909, no salão nobre do Palácio Potengy, que profetizava uma Natal do futuro. Assinale-se que o sonhador da nova cidade era o diretor – editor do jornal A República que traduziu e publicou, em 05 de junho de 1909, o Manifesto Futurista, menos de quatro meses após a divulgação em Paris pelo jornal Le Figaro, em 20 de fevereiro do mesmo ano. Esse evento cultural demonstra a existência de alguns intelectuais cientes dos grandes acontecimentos mundiais, sempre divulgados em jornais. Desse modo, nas décadas 1920-30, correspondentes ao Modernismo, o jornal A República destaca-se como inovador de técnicas de impressão e diagramação. Em cada exemplar, observa-se a criatividade dos repórteres em mostrar o desvendamento da notícia para composição de artigos; a distribuição das matérias era feita em várias secções de acordo com o assunto; as páginas organizavam-se de acordo com os princípios antropofágicos, segundo os quais se misturavam na diagramação da página, propaganda, ensaios políticos, desenhos e textos literários com o intuito de divulgar novidades para um público ávido que desfrutava tanto matérias de Eloy de Souza, Virgílio Trindade, Câmara Cascudo, Edgar Barbosa, bem como textos de Oswald de Andrade. Esse foi o momento áureo do jornalismo potiguar que anunciava as novas idéias européias e paulistas. A preocupação em divulgar as novas idéias estéticas e as experiências literárias encontra na proposta das revistas o meio necessário para a sua propagação e afirmação como Movimento Moderno. Esse clima de fazer coisas novas é imitado em Natal. As revistas Potengy, Potyguar, Pax, Milho Verde tiveram um papel importante na divulgação das obras literárias, mas que não ofereceram a forma nova. No entanto, a Cigarra, sob a direção de Adherbal França, é exceção. Os seus cinco números demonstram uma proposta moderna no registro iconográfico da época, tanto no que se referem à composição gráfica, ilustrações e design, sob a responsabilidade do artista Erasmo Xavier, quanto ao charme visual do material de propaganda e ao registro da produção literária, assinalando poemas, crônicas e narrativas com ilustrações. 7faces – Maria Lúcia de Amorim Garcia 52


Jorge Fernandes viveu esse momento efervescente de produções criativas em vários setores do conhecimento humano, principalmente na arte e na imprensa. Como não poderia deixar de ser, o poeta bebeu na fonte e utilizou-a para publicar seus poemas e contos em jornais e revistas natalenses e paulistas. Acompanhou as idéias da nova estética através da leitura de obras literárias, de ensaios e manifestos publicados em revistas e jornais que veiculavam os novos procedimentos literários. Foi um entusiasta do movimento de Arte Moderna, iniciado na Semana de 1922 que aconteceu no teatro Municipal de São Paulo. Em 1927, Jorge Fernandes publica sua obra prima, o Livro de Poemas, composto de criações inovadoras na forma, que de acordo com os conceitos propostos pela nova estética moderna, ironiza os poetas parnasianos e profetiza o mundo novo que irrompia com o automóvel, os aviões, as máquinas, o dinamismo do século vinte que podemos sentir em Jahú, Poema das Serras 1, Meu Poema Parnasiano 1, Aviões e outros. Já o poema Rede ... é a proposição do tom sentimental misturado ao princípio de síntese dadaísta, daí irrompe o novo na transcrição da rede armada, solta no espaço. Alguns de seus poemas foram lidos e admirados por Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado e por Mário de Andrade que, em 19 de dezembro de 1929, marca presença em Natal, transcrevendo as impressões deixadas pela leitura do livro de Jorge Fernandes, no seu diário de viagem, o Turista Aprendiz: “O admirável Livro de Poemas que publicou no ano passado é isso: uma memória guardada nos músculos, nos nervos, no estômago, nos olhos, das coisas que viveu. O livro pode ser um bocado irregular pelos tiques de poética antiga ainda sobrados nele, porém possui coisas esplêndidas, das mais nítidas, das mais humanamente brasileiras da poesia contemporânea. São os poemas, como falei, em que a memória do corpo abandonou a memória literalista da inteligência. Então Jorge Fernandes apresenta coisas puras, fortes, apenas a vida essencial, coincidindo com o lirismo popular que nem o poema Manoel Simplício.” Manoel Simplício é como todos: Brando no olhar e no sorrir... No trote do alazão tardio e manso... Olhar miúdo investigando as serras... 7faces – Maria Lúcia de Amorim Garcia 53


Gestos lentos indicando tudo... Voz pausada retumbante... forte... Mão pesada de sincero aperto... Manoel Simplício é como todos eles: Alma de imburana: – pau de abelha... Fúria de juazeiro: – pau de espinho... Os seus poemas foram declamados para a platéia da Diocésia que era considerada uma academia de letras, de arte e de humorismo..., funcionando em um reservado, localizado no 1º andar do Café Magestic, onde os freqüentadores se reuniam para conversar, beber e criar motivos novos para agitar a alegria. O poeta cria imagens, arquiteta paisagens, orquestra sons da cidade, da natureza sertaneja e do agreste que se transformam em palavra - poesia. Sua obra é o resultado não somente da percepção, intuição e inteligência de um grande homem, mas do mais autêntico inovador da poesia norte-rio-grandense. Foi o poeta que sentiu e soube interpretar o cheiro da terra, o sabor das frutas, o perfume das madrugadas no sertão, as cores das árvores, o movimento dos bichos, os sons dos sinos velhos das igrejas, dos chocalhos, o canto dos pássaros, a beleza dos crepúsculos, a quentura do sol gostoso de verão da terra papa-jerimum. Os seus olhos captam signos referentes a objetos velhos e novos que revelam a realidade potiguar, elevando-a à condição de palavra-poesia – mar, som do vento nos coqueiros, dunas, pescador, sol, lua, árvores, sol – são signos identificadores da existência poética. A construção da forma demonstra originalidade e alegria, que organizada em palavras representativas da realidade, equivale à sensibilidade de uma mente séria que está sempre sorrindo. Habitualmente, vivo assim – sorrindo... O riso, para mim, exprime tudo E, no ato mais sério, estando rindo, sou mais sério, sorrindo que sisudo!... A simplicidade natural da terra é traduzida por palavras que mostram signos primitivos cantados na poesia Pau-Brasil e na Antropofagia. A primeira estrofe do poema Natal retrata imagens da cidade em um dia ensolarado de verão, levando o


leitor a sentir as sensações de calor: Minha cidade! De dia o sol queimando tudo, amolecendo as folhas com o mormaço, fazendo preguiça com o seu calor. O céu, de quente, fica mais alto, apatacado de nuvens brancas...

Em Verão, a cidade é identificada sob a perspectiva de um nativo que experimenta o tempo de calor, exibindo objetos de sua existência exótica e pitoresca, fazendo o leitor se transportar para essa cidade como habitante,


objetivando sentir o sabor da fruta, a quentura do sol na pele, o calor e a luz do sol: Verão – dezembro de cajuadas – Tinindo de sol que chega a ferir a vista da gente... Eu gosto deste verão como gosto da vida . . . É quente mas de uma quentura que dá vontade De gritar fogoso... – a luz forte já parece um grito – Se corre p’ra debaixo das árvores E se fica olhando a insolência do calor Que está acuando a gente... (...) A areia vermelha dos barrancos é um beiju Tostando na caçarola de barro... Os cajueiros gritam cheios de cajus vermelhos... (...) E o verão de dezembro enche todo o espaço. De nuvens paradas e miúdas Lembrando escamas de peixe... As imagens no poema Genipabu deixam estupefato o leitor, excitado com tamanha beleza! É a sensação da descoberta que encanta a retina pela luminosidade do lugar pleno de natureza primitiva. A beleza litorânea é representada em imagens inusitadas, indicativas das formas da praia, cores, luminosidade e aromas. A forma verbal vir, na 3ª pessoa do plural, abre o poema convidando o leitor a olhar com alegria o lugar, fazendo-o perceber que as palavras re-fazem a natureza compondo uma foto-imagem em vibrações rítmicas de um espaço em movimento, o poema: Venham comigo poetas... Venham com a alegria desta terra... Não me venham com lágrimas na voz... Tirem a venda dos olhos E olhem com os olhos alegres Todas estas paragens de morros e de sol... Todo este verde buliçoso de coqueiros...


Venham ver estas praias... Olhem este mar de ondas fortes Com rabanadas nas pedras.... Este vento vadio e assobiador Que anda vagabundando pela praia Arrepiando os cabelos dos pescadores, Empurrando as velas das jangadas E fazendo artes do demônio virando os botes Das caçoeiras... Observa-se a liberdade na construção de versos longos intercalados aos curtos e os verbos no gerúndio e infinitivo levam à espacialização pelos substantivos, destacando a cor e a luminosidade do objeto que dão a sensação do dinamismo da ação na construção das imagens sintetizadas – Este vento vadio e assobiador/ Que anda vagabundando pela praia . O Poema, dedicado a Mário de Andrade, identifica o mar como lugar de existência do pescador. Foi inicialmente publicado na revista Terra Roxa e outras Terras... e depois incluído no Livro de Poemas, sob o título Pescadores, onde há a supressão do verso “O mero o traga duma vez só...” Chegou do mar! Quanta arrogância no pescador... O mar fê-lo ríspido, resoluto ... Tem ímpetos de ondas o seu olhar... Olhem o calão do peixe que ele trouxe!... São peixes monstros que ele pescou... Quando há tormenta e a jangada vira O mero o traga duma vez só... E o homem forte matou a fome Do irmão do mero que ele comeu. O primeiro verso – Chegou do mar! – pressupõe a entrada do personagem, o pescador, abruptamente no écran cinematográfico, em seguida surge a sua descrição, e em cada verso é apresentado um dos aspectos de sua silhueta profissional. O leitor é convidado a olhar os produtos da pescaria colhidos na frágil jangada que enfrenta perigos como a tormenta e a possibilidade de virar.


O avião constitui-se como outro signo identificador da história potiguar. O poeta presenciou e registrou em poemas a passagem dos aviões como o Zeppelin, o Clipper, o Argos que fizeram as primeiras travessias do Atlântico Sul nos anos 20 a 30 e desceram na barra do Potengy. A tão esperada e gloriosa chegada do famoso aviador paulista, Ribeiro de Barros, piloto do Jahú, constituiu-se uma festa que durou um mês. – Prei! Prei! prei! prei! Lá vêm os paulistas escanchados no seu Cavalo de pau cor de café pilado... Nos anos 40, Jorge Fernandes testemunhou as manobras dos soldados americanos em solo potiguar, já que, durante a 2ª Guerra, Natal foi considerada ponto estratégico com a construção de Parnamirim Field que passou a ser denominada o Trampolim para a Vitória. O poema Aviões 3 imortaliza o Argos, o hidroavião que recebeu a designação histórica da nau em que os argonautas viajaram de Argólida a Colquida em busca do tosão de ouro. Do mesmo modo, o piloto português Sarmento de Beires buscava a fama com o RAID de Lisboa a Bolama. Em 17 de fevereiro de 1934, Natal recebe a tripulação do Argos em grande festa: banda de música, sinos repicando, automóveis buzinando, fogos de artifício e toda a cidade entusiasmada na rua, comemorando o grande feito. O dia todo os olhos estiveram sobre o oceano P’ra ver o ARGOS Durante o dia nenhuma asa de alumínio brilhou no sol De Bolama a Natal num vôo direto... - Tardinha – Da linha do mar um avião amarou Pegando fogo num fumaceiro de nuvem... Eu Vou Viajar!... é um dos poemas manuscritos, encontrado inédito em um Caderno. O poema foi composto em homenagem à passagem, por Natal, do Brazilian Clipper da empresa nacional de transporte Panair, subsidiária do sistema


de Pan American Airways. O Clipper foi, no seu tempo, o maior hidroavião de passageiros do mundo. Passou em Natal com destino ao Rio de Janeiro, pela primeira vez, em 23 de agosto de 1934 e amerissou no Rio Potengy em frente ao Passo da Pátria, local de desembarque de passageiros da companhia aérea. Num Clipper gigante, voando ruidoso, Eu vou viajar! Vou ver maravilhas do mundo tão vasto, No espaço a voar! E olhar mais misérias, Maiores tormentos, Ouvir mais lamentos Nas grandes cidades... Sentir mais saudades... Eu vou viajar

Autográfo do autor ao livro oferecido a Peregrino Júnior, em 1928.

7faces – Maria Lúcia de Amorim Garcia 59


Os paulistas, que fizeram a Semana de 1922, e Jorge Fernandes foram capazes de manter a tensão da linguagem que caracterizou a vanguarda modernista, incorporando processos fundamentais, tais como, o verso livre, o tom coloquial, a presença de elementos primitivos da terra, a condensação, a surpresa verbal, o humor na feitura de uma imagem descritiva de um fato histórico. Além disso, deixa entrever a audácia no trato dos objetos, quanto à inovação de construções em que palavras sintetizam e preenchem o espaço, permitindo ao leitor a visualização da forma e deixando espaços em branco em discursos interrompidos pela suspensão das reticências. Não cabe, nos estreitos limites deste ensaio, analisar toda a obra de Jorge Fernandes. O limite foi estabelecido ao traçar alguns fatos históricos importantes e esboçar o roteiro dos procedimentos de construção de alguns de seus poemas que se constituem fundamentais para a compreensão da obra do grande poeta norterio-grandense, situando-a no contexto do Movimento Moderno Brasileiro. Nota Todos os poemas encontram-se transcritos na íntegra em FERNANDES, Jorge. O Viajante do Tempo Modernista. Obra Completa. Org., Ensaio de Abertura: Jorge Fernandes, o Viajante da Alegria Tropical, e Notas de Maria Lúcia de Amorim Garcia. Natal: RN Econômico, 2009.

7faces – Maria Lúcia de Amorim Garcia 60


caderno de poemas, parte 2

José rOgério Dias Xavier, Kalliane Sibelli, Marcelo Moraes Caetano, Mário Lúcio Barbosa, Renata Iacovino, José Antônio Rodrigues Júnior, José Rosamilton, Tino Portes, Valquíria Malagoli, Vinícius dos Santos


José rOgério Dias Xavier Mossoró, RN halamid@hotmail.com blogdorogeriodias.blogspot.com

________________________________________________ água, tanta água

José rOgério Dias Xavier é artista plástico e poeta, nascido em 23 de outubro de 1943, na cidade de Martins-RN. Membro de uma família de dezessete filhos, desde adolescente, incentivado por sua mãe e seus irmãos, de forma autodidata, aprendeu a desenhar e pintar. Desempenhou ao longo da sua vida inúmeras profissões nas áreas comercial, bancária, educacional, política e principalmente artístico-cultural. Em outubro de 2005 concluiu o seu livro de poesias, Êxtase da Omissão, publicado pela Coleção Mossoroense, da Fundação Vingt-un Rosado. Atualmente é vice-presidente e membro fundador da POEMA – Associação dos Poetas e Prosadores de Mossoró.


As águas transformadas em vinho na Galileia. As águas podres do Rio, num rio de Mossoró. Pingos d’água que sem permissão caem em nossos torrões. Uma lágrima que rola face abaixo sem saber o porquê. Um rio roxo, Estreito, mal feito, Defeito... Lama correndo pro mar. Fedorento, Mau cheiroso, Sem peixes, sem algas. Coliformes fecais Morrem asfixiados. Oxigênio? Nunca mais! Aedes não aguenta, Hepatite se arrebenta, Cólera fugiu com medo, Meningite se mandou, A gripe reside nele, Contraiu pneumonia... As doenças quem diria, Mossoró? Rio? Jamais. Mas porque os Orixás que derramam água de cheiro, nas sujas águas do mar, sentindo o sal ameno e a podridão borbulhar. Debulha minha Iansã os seus respingos de água sobre o manto de Alá. No sertão da terra seca onde a água é inanição, as árvores crescem pros Céus procurando a imensidão, mergulhando em nuvens soltas no tempo, na escuridão. Ah! Que água! Essas moléculas de hidrogênio fantasmas líquidas que escorregam entre as nossas sujas mãos. Água podre, água serena descendo de morro abaixo procurando um agasalho. Águas saídas do chão, como um derrame mortal faz nascer as plantações. Água de quarenta graus, que somente o homem bebe, Passarim não bebe não. Essa vista da cor d’água que nós chamamos de mar, transparente azulada na rentidão espelhar, é o reflexo do céu das entranhas do universo que nos chega pra brilhar. Ah que água transparente que se despenca do alto, nas cachoeiras dos rios, águas que vão se sujar. 7faces – José rOgério Dias Xavier 63


Açudes espelhos noturnos Que os homens construíram Para guardar águas devassas Que as nuvens expeliram. A água que desce na pele, por sentir a solidão, água que vem da tristeza pra se plantar lá no chão, faz crescer arvores e plantas do meu triste coração. Uma gota branca, um orvalho, se escorregando no ar, desliza por entre ventos, misturando-se ao mar. Milhões delas já caíram, ninguém mais pode encontrar, são delicadas, minúsculas, nas águas se misturar. Como uma lágrima que rola, de um choro que escapou, de um lindo olhar claro, de champagne que brindou. De repente o sol provoca, do calor descomunal...vapores sobem às nuves, formando um manancial. O ar condensa os vapores, pra água se sustentar, o mesmo calor do sol, faz a nuvem se soltar. Começa de novo a dança, gotículas descem a bailar, parecem cristais azuis, partículas vindas do mar. Nasci numa terra, onde não tem água, tem bichos morrendo, tem homens com mágoa. O sol quente numa planta que com água cresceu, uma planta que sem água e com o sol morreu. Passam as águas, molhando o chão, sufocando a terra, germinando ervas, dando vida aos grãos. Na mesa farta de pratos vazios, a criança pede um copo de água e a mãe derrama lágrimas por não poder sanar a sede do filho que chora sem se conter e sem sentir que ele próprio faz rolar sobre a sua face, gotas desse líquido que ele tanto clama. No roçado o rude homem em sua eterna esperança, trabalha duro preparando a terra para receber a santa água que irá fazer as plantas brotarem da terra umedecida por esse liquido milagroso que vem das bandas do céu. A chuva chega acompanhada de uma forte ventania e vai se espalhando por terras sem fim, levando o solo ensopado de muita água, dirigem-se numa só direção: os mares, os oceanos de águas salgadas. A água doce que cai numa cachoeira, desce o rio descontroladamente e caminha entre as matas e pedras fabricando pequenas lagoas em sua trajetória sem fim. Água, água quem diria, algum dia irei comprar mas eu talvez já não esteja nessa vida pra contar. 70% do Universo é coberto por água, mas apenas 1% desse líquido está disponível para o consumo humano. Água suja que desce com lama, nos becos das tramas, rolando e sujando quem passa afinal. Águas podres com jeito de urina, só tem fedentina de mal a pior. Águas claras deslizam das serras, correndo nas relvas prós mananciais. As águas limpas e saudáveis, entram nas tubulações de suas casas, certas que 7faces – José rOgério Dias Xavier 64


serão bem tratadas, mas os inconsequentes jogam as piores imundices dentro dela e contaminam de um jeito que somente os esgotos e fossas podem suporta-las. O seboso chega em casa todo melado, galado, sujo, fedorento e cheirando a macaco podre, ai vai para debaixo de um chuvisco e aja tempo e aja água, não sabe esse mal-informado o crime que ele está praticando contra o meio ambiente e a humanidade. Mas isso não para por ai; mais tarde ele pega uma longa mangueira e liga na tubulação e achando pouco o estrago que já fez para retirar as melequeiras do seu corpo, agora ele vai limpar a calçada, não é varrer, ele vai limpar com água pura, com a água que milhões de pessoas estão tentando beber mas não podem, não tem no seu país, no seu estado, na sua casa. Águas que curam a sede, águas que matam a sede, águas que se tornam milagrosas depois da ingestão, águas que previnem através da hidroponia: A ingestão de água preferencialmente em jejum e em quantidades adequadas conforme as orientações médicas, é indicada para a calculose de vias urinárias e biliares, infecções crônicas de bexiga, eczemas em geral, hiperuricemia e como elemento desintoxicante alimentar e medicamentoso. Água santa que previne contra as doenças. São águas que se precipitam das nuvens e caem nos terrenos porosos se infiltrando de terra adentro e depois se tornando minerais, termais. As águas termas do Thermas, quente, eloquente gostosa de se banhar. Águas que se descolam das profundidades terrestres subindo por canos, sugadas do chão. A água quente, uma lágrima, uma gota que nasceu de uma tristeza, do fim, do rompimento, da dor de perder alguém, do crepúsculo de uma amizade, a dor da perda, as gotículas que brotam de um olhar solitário, de um rosto que se contorce em suas rugas, gotas ou lágrimas enxugadas por um lenço branco da paz.

7faces – José rOgério Dias Xavier 65


Kalliane Sibelli Mossoró, RN kalliane.amorim@hotmail.com professora-flordolacio.blogspot.com

________________________________________________ prece; poema àquele que me lê; vestida de tempo; sentença

Kalliane Sibelli de Amorim Oliveira nasceu em 1982, em Umarizal-RN e reside em Mossoró-RN, onde trabalha como professora da rede pública de ensino. Publicou pela Coleção Mossoroense o livro Outonos (2003) e pela Editora Queimabucha Exercício de Silêncio (2006). Foi Menção Honrosa nas edições II, IV e VI do Concurso de Poesia Luís Carlos Guimarães, e primeiro lugar na edição V.


Prece Meu Deus, eu nasci árvore. Os meninos passam e arrancam minhas folhas. Os mendigos ficam e se cobrem com as mesmas folhas. Elas caem e o vento as leva a lugares que não conheço e onde nunca vou estar. Tanto me exponho, tanto me espalho. Eu digo adeus a toda hora. Ninguém vê, ninguém chora, e até disseram que é bom que seja assim. Mas às vezes os amigos vêm e sentam-se sob sua sombra, lêem uns versos, riem alto, falam dos outros, os que sumiram, e eu tenho vontade de ser outra coisa que não uma árvore, sentar-me junto deles, ir aonde forem, sentir-me desencontrada, dispersa, diversa. Eu sei, eu sou as formas que me fizeram, eu não deveria querer ser outra e me contentar em ter raízes, em estar fincada à terra, levando sol, e vento, e chuva. Mas, Deus, eu não quero estar contente, eu não quero me encontrar. Encontrar-se é ancorar-se à morte. Eu quero é ir-me com os ventos, ainda que não mude de lugar.

7faces – Kalliane Sibelli 67


Poema àquele que me lê Passa por mim a poesia, e silencio, e tudo em mim sofre de beleza. Por entre meus dedos Escorre a minha alma, que todo cantar é um cântaro transbordando eternas carências. Ah, mas quem desejará abrigar-se em meus olhos, amar as canções que meus lábios segredam, andar pelas ruas de pés distraídos, tentando alçar o humano perdido? Meu poema ajoelha-se de tanto desejo: desejo de amar as menores criaturas, desejo de ser, quem sabe, um motivo... E quando vier o vento longínquo e minhas vestes forem apenas, apenas sussurros e simples palavras, quantas faces eu terei dentro das faces que me acompanharem?

7faces – Kalliane Sibelli 68


Vestida de tempo O tempo incansável com sua navalha esgarça a costura que fiz dos meus dias, golpeia de jeito, de noite e de dia, meu peito e me veste com sua mortalha. Por mais que me firam do tempo os tecidos, por mais que me pesem suas rendas de aço, me adorno de brisas, meus olhos enlaço à voz que me canta cantares perdidos. Vestida de tempo no meio da rua, oferto cantigas tecidas de areia, ninguém se aproxima, mas não sigo alheia aos sonhos que dançam de alma desnuda.

7faces – Kalliane Sibelli 69


São tantos os rostos, são tantas as vozes, gargantas vazias temendo silêncios, são sós espantalhos sobre o campo imenso das vidas que ao tempo se lançam velozes... Sereno o meu canto, alento das pedras, textura de ventos, ninguém quis ouvir... Olhando-me as vestes, as mãos entreabertas, tingidas de tempo, de amores, de esperas, quem quer se partir?

7faces – Kalliane Sibelli 70


Sentença E um dia, enquanto afogava formigas, viu-se descendo, sozinha, pelo ralo da pia. Que vida intrusa era aquela? E por que no espelho lágrimas feito estrias? E por que em seu rosto um outro rosto havia? Não faz sentido, não faz – e o rosário se estendia. Mas as xícaras lhe falavam das bocas agora frias, os varais lhe segredavam vontades já encolhidas, e quanto mais atenta às vozes, menos a mulher morria. Ela sequer suspeitava a trama que em si tecia, pensando que essa teia qualquer vento desfaria. Inventava uma desculpa: não estou pra poesia! e quanto mais a negava, mais seu peito se fendia.

7faces – Kalliane Sibelli 71


E um dia quando nada mais lhe sorria, seu corpo encheu-se de olhos, seus olhos, de muitos vazios. Mas os homens não se entreviam, os homens nem se atreviam, e tudo voltou ao começo: o amor de um poeta dormia.

7faces – Kalliane Sibelli 72


Marcelo Moraes Caetano Rio de Janeiro, RJ mmcaetano@hotmail.com

________________________________________________ tigre de papel; scripta manent

Marcelo Moraes Caetano é carioca, tradutor de inglês, francês, alemão e italiano e escritor com 14 obras publicadas palas editoras EdUerj, Academia Brasileira de Letras, Academia Brasileira de Filologia, SENAI-FIRJAN, 7 letras, Vivali, Ferreira, Litteris, ONU-UNESCO. Tem prêmios literários no Brasil e no exterior (Prémio Sófocles, Montevideo, 2010, Prêmio ONU-UNESCO, Paris, 2005 e 2006, Prêmio Litteris, RJ, 2009). É pianista clássico, vencedor de primeiros lugares no Brasil e exterior (RJ, MG, SP, Córdoba etc.)


Tigre de papel Se há pontos em mim que se mostram falhos, se no meu jardim se planta uma forca... leio Frederico García Lorca, e limpo o milharal dos espantalhos... Se o meu barquinho, leve, como o mel, vira quando a maré da vida muda, leio Vinícius com Pablo Neruda: o meu exército abre-se em tropel... Quando a chuva despenca, tão humana, fazendo bem aos pássaros e aos loucos, bebendo música ao som do bourbon... retiro-me e leio Mário Quintana, enquanto vou me preparando (aos poucos) à grande orgia – que é Carlos Drummond...

7faces – Marcelo Moraes Caetano 74


Scripta manent Um poema não deve ser escrito pedindo-se aprovação ou aplauso. Qualquer verso assim sobredito é falso. Escrever é falar música: o vento obstrui, mas toca. O poema é a sinfonia da busca, não uma florida engenhoca. Existe quem digrida, incontinenti, uma tão lúgubre alma idiossincrática pelo auto-rio inexpressivo e seus meandros... Há quem formule (e se contente) que a Literatura é a Matemática dos incomunicáveis delírios em escafandros...

7faces – Marcelo Moraes Caetano 75


Mário Lúcio Barbosa Natal, RN mariolcavalcanti@hotmail.com

________________________________________________ na latitude do caju; canto praeiro

Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti nasceu em Natal, Rio Grande do Norte. Viveu sua infância na Praia do Meio, naquela cidade, e sempre encantou-se com a beleza das coisas litorâneas. Seu pendor poético revelou-se já na adolescência, quando já escrevia poemas e compunha canções. Estudou Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e cursou pós-graduação em Comunicação Verbal nos EUA. Mário Lúcio, que faz parte da SPVA (Sociedade dos Poetas Vivos e Afins) é também músico e tem muitos de seus poemas transformados em canções, musicados por ele próprio.


Na latitude do caju (Homenagem à cidade do Natal)

Eu sou caliente, sou saliente, sensual e bela A pouco mais de cinco graus do equador, ao sul Na banda doce do planeta, na latitude do caju, que cresce 7faces – Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti 77


ao sol dourado, Onde não existe pecado, e o céu é um teto morno e azul A água do mar me exorciza, me lava, me molha A lua tropical me olha e embranquece as dunas As nuvens passam como escunas de velas brancas no mar do céu Formando colossais figuras, qual esculturas feitas sem cinzel Sou fruto de um amor pagão que na praia rolou de um lusitano pescador com uma índia sereia O sol de Capricórnio brilha janeiro a janeiro, mas não me encandeia Eu sou metade mar e areia, e a outra metade amor Me embala o rugir de Netuno no Atlântico abissal e o sol me ilumina primeiro que a todo o resto do continente me beija e me cobre de areia constantemente, o vento leste Eu sou praieira do Nordeste, sou amante fatal Exponho minhas formas nuas para o mundo olhar Já encantei, já seduzi corsários de além mar Me deito onde o crochê de espuma desenha no chão mil Giocondas E deixo que o mar assanhado, tarado, me lamba com as ondas

7faces – Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti 78


Canto praeiro À noite, a Lua brilha na palha, E a espuma espalha seu crochê branco no imenso manto de areia alva E a vida bêbada cai bocejante ao olhar distante da estrela d’alva o mundo é louco, não vale um coco, um banho no rio, ou um samburá velho e vazio, 7faces – Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti 79


de um dia morto, sem pescaria, de calmaria, sem navegar Só pra mostrar minha valentia Juro, Maria, que qualquer dia Eu bebo esse mar... Minh’alma jangada, vela esticada, na ventania, segue arredia a navegar abrindo a porta morna do dia, que dá pro mar Coqueiros ébrios, cambaleando Com suas palhas sempre acenando E o sol brilhando no olhar salgado Vento cantando, ondas dançando Eu me espelhando no chão molhado Moça morena que assa o peixe, por favor deixe que a brasa viva desse teu beijo se apague um pouco na água de coco do meu desejo Em teu encalço sigo eu descalço, Pisando em falso e tu nem sentes Que a areia quente me queima os pés Maré lançando, lua crescendo, peixes brilhando nos jererés

7faces – Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti 80


Renata Iacovino São Paulo, SP reiacovino@uol.com.br reiacovino.blog.uol.com.br reval.nafoto.net

________________________________________________ um gracejo; feiticeira; às avessas

Escritora, poeta, e cantora. Possui livros (de poesias) editados, organizou outros, e têm CDs lançados. Integra entidades literárias e culturais, escreve para veículos de comunicação e é uma das responsáveis pelo jornal literário CAJU. Ministra oficinas e realiza saraus, ao lado de Valquíria Gesqui Malagoli, com quem desenvolve vários outros projetos. Tem participação em antologias diversas e atua como jurada em concursos literários.


Um gracejo Na pupila do teu olho eu me vejo... ali também me recolho, e o gracejo benfazejo é caolho.

7faces – Renata Iacovino 82


Feiticeira Conheci uma feiticeira... fez de mim seu seguidor – um ser sem eira nem beira... –, diz-me que sou seu amor. Vou amá-la a vida inteira, colherei o fel da flor, pois é por essa guerreira que na vida busco a cor! Se em outros campos repouso, sua poção me alimenta, se eu me retraio... ou se eu ouso... Tudo nela me sustenta... alço voo e também pouso. Ah!... feitiço que acalenta!

7faces – Renata Iacovino 83


Às avessas Como o queijo e olho a lua Como a lua e olho o queijo Mordo um pedaço do amarelo Deixo cair um farelo... Da lua. Mordisco um naco branco... Do queijo. Bebo na lembrança o beijo E me engalfinho com a tela À minha frente. Se é branca ou amarela O sabor me trisca o dente E por esta janela Vou me pintando um demente. Como pode o olho da lua me ver? Como posso me entrincheirar Nos buracos deste queijo? Como isto pode ser e não ser? Como isto: o que não se dá a ver... Engulo o desejo Triturado entre nuvens espessas À minha frente Toco-me às avessas. Abraço com o meu 7faces – Renata Iacovino 84


O lábio mais quente Do amarelo momento Que cresce em meu quarto... Crescente. Enquanto cheia enfastio-me dela Pousa no ar uma sentinela Que míngua ao ruflar repentino do vento... E que boa nova me traz tal intento: Às avessas da ilha onde reside este aposento Há uma verde trilha Que cura do mundo o ferimento.

7faces – Renata Iacovino 85


José Antônio Rodrigues Júnior Natal, RN antoniusruderico@hotmail.com

________________________________________________ cena

José Antônio Rodrigues Júnior é graduando do curso de Letras. Nasceu em Natal no ano de 1985, no terceiro dia do mês de junho. Atualmente faz pesquisas na área da História e Antropologia do imaginário do Rio Grande do Norte, com ênfase na crônistica holandesa.


Cena No interior de uma cidade do interior: no interior de um terreno de sítio. Sob o sol, com a sua mãe, uma criança olha para ruínas de uma casa abandonada: mato, pedra, pó e uma imagem desbotada de Maria.

7faces – José Antônio Rodrigues Júnior 87


José Rosamilton José da Penha, RN antoniusruderico@hotmail.com

________________________________________________ o silêncio

José Rosamilton de Lima reside em José da Penha – RN. Possui Graduação em Letras com habilitação em Língua Inglesa e suas Respectivas Literaturas. Desde a infância é um admirador da poesia popular, mas foi no curso de Letras que despertou uma grande paixão pela literatura, principalmente a inglesa, e a partir daí começou a escrever poemas. É Especialista em Linguística Aplicada e em Língua Inglesa. Atualmente é aluno do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Letras pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.


O silêncio

No profundo silêncio Os vocábulos saem A expressão do ser Em formas de versos Em linhas escuras e tortas Com excedente lirismo E sedenta paixão Insanidade racional Realidade irracional Ou instante reflexivo O poema se forma Sem prender-se a forma Um elemento essencial Que a cada letra Desperta-se o mistério Literário da vida.

7faces – José Rosamilton 89


Tino Portes Santa Rosa do Viterbo, SP tinoportes@yahoo.com.br

________________________________________________ onomatopeicos; alucinógeno

no

chão;

modo

de

fazer;

Albertino Lineu Portes nasceu em 25 de abril de 1978, em Santa Rosa do Viterbo/SP. Funcionário público, leitor assíduo de João Cabral de Melo Neto e Baudelaire, ditamlhe as musas que vez por outra metrifique, embora não esconda sua predileção pelos versos e inspiração desmedidos.


Onomatopeicos Já fomos mais nós Mas nos transformamos Tu E eu Mais estranhos que metafóricos Mais enfadonhos que prosaicos Hoje Intransitivos Já não conjugamos Diferentes categorias Gramaticais Antes rima rica Instantes haicais Ora Argh Tanto faz

7faces – Tino Portes 91


Pé no chão No vazio, o passarinho Ziguezagueando Desenha o caminho Que estou procurando Sigo a ave canora A passos miúdos Vou de mim afora Nisso invisto tudo Só que de repente Num ruflar de asa No que um voa à frente O outro volta à casa

7faces – Tino Portes 92


Modo de fazer De amargor um frasco Tome Ei-lo já, o nome: Poema fiasco Do verso o reverso Acrescente Cru, literalmente Imerso Leve ao forno Pré-aquecido Sirva amanhecido Morno

7faces – Tino Portes 93


Alucinógeno Uma gota Uma É gota apenas Em suma Pro sedento À rede Só Um fio Um fio somente Onde fiar a sede Que lhe enreda o centro Uma gota? Um fio? Somenos! – Gotas gotas mil... E remos!!!

7faces – Tino Portes 94


Valquíria Gesqui Malagoli Jundiaí, SP vmalagoli@uol.com.br www.valquiriamalagoli.com.br

________________________________________________ estrelas; evolução; veraneio; esperança

Valquíria Gesqui Malagoli é poeta, articulista, colaboradora de diversos veículos, autora de livros e CDs para os públicos adulto e infantil. Ministra oficinas e realiza saraus. Da parceria com Renata Iacovino, nasceu a CircuitoTeca, biblioteca itinerante sem fins lucrativos, e, de ambas com Josyanne Rita de Arruda Franco, o jornal literário de distribuição gratuita CAJU.


Estrelas Que seremos, senão, desencadeados, átimos sereníssimos cadentes... átomos solitários, surpreendentes, a ressurgir das cinzas noutros prados? Ah, quem nos dera, amor, nós, entrementes, ao chamar-nos a morte, em altos brados, desdenhando da Física, alquebrados –, seguirmos inorgânicos às frentes! Fugazes, afinal, desencarnados, nos tornaremos um, e onipresentes insuflaremos vida em quebrantados. Semideuses meio anjos e serpentes ataremos à abóbada os seus fados, liberando, igualmente, ateus e crentes...

7faces – Valquíria Gesqui Malagoli 96


Evolução Do mesmo Eu o Um nos expeliu ao léu Pra perseguir a esmo sorte sob o céu Sobreviemos no degelo das bordas Corremos no atropelo das hordas Junto a água, ossos, meteoritos, Sangue, destroços, detritos... Ei-nos, cá, felizes afinal – Cicatrizes dalgum mal, De guerra, despojo... Ei-la, a Terra: Um nojo!

7faces – Valquíria Gesqui Malagoli 97


Veraneio Se me falta um motivo, por acaso, para versejar logo que amanhece... abro, à frente, a janela, e em voo raso vejo lá uma andorinha em sobe e desce! Pressinto que ela volta do Parnaso, pois insta-me a escrever, riscando um “S”. E, nisto, dentro, em mim, a alma se anima e inicia a presente oitava rima. No céu, vertiginosa chuva engrossa. Mais andorinhas chegam para o banho. Não veem, sob as asas, grama ou choça, plantações, nem pastor, sequer rebanho... Regalam-se no entanto, e se alvoroça a passarada, ao que eu também me assanho, porque ao observá-las vai crescendo o poema que, ora, amigos, estais lendo. Porém, na altura, um raio risca um traço! E a aspirante epopeia eis que se apaga. Murcha, a inspiração jaz sob o mormaço... A tempestade o verso oprime e esmaga. Se minhas musas fogem, me embaraço; no mar celeste a minha alma naufraga. Anjo caído, eu cisco em devaneio, enquanto o demais parte... em veraneio.

7faces – Valquíria Gesqui Malagoli 98


Esperança Enquanto a fome engole o mundo, cozinha as rimas o poeta... Definha o povo moribundo? Ele dá a receita secreta, pois vem dele – a própria vasilha – uma milagrosa sextilha! “Tendes frio, oh, desamparados? Vinde a mim, trago o cobertor”, brada em versos metrificados ou livres... seja lá o que for! Pobre louco, que a insanidade só condena à mediocridade. Sua esperança é existir céu: um lugar onde, ociosamente, a despeito deste escarcéu, anjos se assentem calmamente apenas para ouvir bobagens, devaneios, libertinagens...

7faces – Valquíria Gesqui Malagoli 99


Vinícius dos Santos São Carlos, SP vsantos1985@gmail.com

________________________________________________ labirintos; céu de anil

Vinícius dos Santos nasceu em 31 de outubro de 1985 na cidade de São Carlos/SP. Bacharel em Ciências Sociais e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente, é aluno regular do Doutorado em Filosofia na mesma Universidade. Desde cedo se encantou com o universo das palavras e encontrou, na poesia, uma maneira de se expressar e de compreender o mundo.


Labirintos I Não sei bem o que sou, mas tenho medo de mim. Assim, tão transparente e frágil, um caco de vidro jogado no chão. Mas a vida, a vida não há de ser nada. E por que haveria? Não temos sempre em nosso roteiro o mesmo triste e previsível fim? (conquanto desenvolva-se singularmente em cada corpo, em cada mente...) Mas seguimos, cegos pela intensidade da luz, perdendo os dias, os anos, as vidas! Nos sufocantes labirintos de nossa parca existência, tentamos encontrar o inencontrável

7faces – Vnícius dos Santos 101


E o mundo, talvez severo, inodoro. Lar da rosa sem perfume, espelho da estrela que já não brilha no céu O mundo, indiferente, gira maquinalmente, incessantemente E como mente, o mundo. E como promete, e depois não cumpre. Mundo meu, afinal, pra quê tudo isso? II Às vezes, sinto todos os relógios parados. Às vezes, vejo todos os olhos me olhando. Às vezes, sou só desespero.


Renata Iacovino – Intempérie

Céu de anil Chuva forte, céu de anil, sem luar. (E cada gota é um pedacinho de estrela que vem me beijar)

7faces – Vnícius dos Santos 103



os convidados

Márcio de Lima Dantas possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Piauí (1992) , mestrado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1995) e doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2006). Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Maria Lúcia de Amorim Garcia é professora de Teoria da Literatura e Semiótica do Deparamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (atualmente aposentada); pesquisadora da obra de Jorge Fernandes. Organizou a última edição do Livro de poemas de Jorge Fernandes, em 2007, e, recentemente, em 2009, publicou a obra completa do poeta potiguar no livro Jorge Fernandes: O Viajante do Tempo Modernista.


7faces

caderno-revista de poesia

set7aces.blogspot.com

O caderno-revista de poesia 7faces é uma produção semestral independente projetada, diagramada e editada pelo poeta Pedro Fernandes.

Organização desta edição Pedro Fernandes

Convidados para esta edição Márcio de Lima Dantas Maria Lúcia de Amorim Garcia

Colaboradores (por ordem de apresentação) Carlos Augusto Cavalcanti César Augusto Rodrigues Clauder Arcanjo Daniel Morga Darlan Alberto T. A. Padilha (Dimythryus) Edson Bueno de Camargo Eloisa Menezes Jorge Humberto José rOgério Dias Xavier Kalliane Sibelli Marcelo Moraes Caetano Mário Lúcio Barbosa Renata Iacovino José Antonio Rodrigues Júnior José Rosamilton Tino Portes Valquíria Malagoli Vinícius dos Santos

Agradecimentos A todos que enviaram material para a ideia e em especial a professora Maria Lúcia Amorim Garcia pela presteza com que atendeu a este canal para composição do texto sobre Jorge Fernandes Contato pelo e-mail pedro.letras@yahoo.com.br 7faces. Caderno-revista de poesia. Natal – RN. Ano 1. Edição n. 2. jul.-dez. 2010

ISSN 2177-0794

Distribuição eletrônica e gratuita.


Os textos aqui publicados podem ser reproduzidos em quaisquer mídias, desde que seja preservada a face de seus respectivos autores. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores, inclusive quanto às correções ortográficas e fica disponível para download em set7aces.blogspot.com

O editor desse caderno é isento de toda e qualquer informação que tenha sido prestada de maneira equivocada por parte dos autores aqui publicados, conforme declaração enviada por cada um dos autores e arquivadas no sistema 7faces.

Para participar da ideia deve o poeta consultar o espaços set7aces.blogspot.com, para ler as regulagens e enviar o material; ou solicitar ao editor através do contato pedro.letras@yahoo.com.br o envio das regulagens.


Ilustrações e Imagens (por ordem de apresentação) capa – a imagem foi coletada do site desenhos.pt o poeta Jorge Fernandes – imagem coletada do site do jornal Tribuna do Norte, autor não identificado capa da 1a. Edição do Livro de poemas de Jorge Fernandes – imagem coletada do Portal da Memória Potiguar, autor não identificado colagem, aviões 008030 fStop Galeria de Fotos Royalty Free – imagem coletada do site Fotos Search a imagem que ilustra o poema O palhaço cai é de Leonardo Pontes – colagem digital composição feita sob desenhos feitos em nanquim, inserindo imagens; editado e finalizado fazendo uso de photoshop. Bolero de Ravel – Cláudia Sales Alcântara (contribuição) colagem, aviões, edifícios, graffiti 008024 fStop Galeria de Fotos Royalty Free – imagem coletada do site Fotos Search o poeta Jorge Fernandes – imagem coletada da internet, autor não identificado o poeta Jorge Fernandes – imagem coltada da internet, autor não identificado autógrafo do poeta Jorge Fernandes em livro dedicado ao Peregrino Júnior em 1928 – imagem coletada do Portal da Memória Potiguar, autor não identificado Tigres, tigre – fotomontagem Mapa do caju – fotomontagem feita por Pedro Fernandes Intempérie – Renata Iacovino (contribuição) Foto do professor Márcio de Lima Dantas coletada do Blog Vivicultura, autor não identificado Foto da professora Maria Lúcia de Amorim Garcia – autoria de Magnus Nascimento para o Novo Jornal Caderno Cultura

tratamento das imagens Pedro Fernandes

Imagens que porventura forem apresentadas indevidamente ou com créditos errados, favor notificar-nos para que seja publicada uma errata corrigindo os erros.



AviĂľes I Novecentos e cinquenta cavalos suspensos nos ares... - Besouro rocando zum... zum... umumum... Aonde irĂĄ aquele Rola-Titica parar? E os olhos dos cabocos querem ver os Marinheiros Os peitados vermelhos das Oropas... E a marmota vai: ron... ron... - cevando o vento Por cima dos coqueiros, varando as nuvens... Depois desce no Rio Grande numa pirueta danisca Desembestado, espalhando ĂĄgua... E fica batendo o papo, cansado de voar...


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.