Caderno-revista 7faces 1a. edição

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Obra da homenageada poesia Rosa de pedra (1953); Salinas (1958); O arado (1959); Exercício da palavra (1975); Navegos (1978, antologia mais o inédito Corpo a corpo); A herança (1984) crítica literária Luís da Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual, 1918-1968 (1970). 2v.; Civil geometria (1987).


7faces caderno-revista de poesia

ISSN 2177-0794

Natal - RN



Porque essa ĂŠ a face (nĂŁo a mais amada) desnuda face, voz que te define Zila Mamede, A (outra) face In Salinas



sumário Apresentação “Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos” por Pedro Fernandes

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Zila, Rosa de Pedra; liquefeita por Filipe Mamede

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7 vozes, 15 poemas Jaci Santana Oásis Tropical; Funda ausência; As amazonas – O retorno

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Rodrigo Sérvulo Contra(versão), Contravenção; Poema de duas faces; Essência

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Suely Costa Efemeridades; Meu espaço

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Geraldo Magela Rua Erma

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Thiago Tonussi T; Sombras das sobras

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José Heber Frustração; Triste fim, as grandes partidas

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Leo Durval A busca

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Entremeio A tríade mamediana: poesia plantada na terra e nascida no mar Por Janaina Alves

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+7vozes,17 poemas Edivan Santos Vertigem; Insônia

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Marciana de Morais Infância

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Alexandre Brum Correa Sem título (1); Vera Bala; Regras de Alejandro

59

Gutemberg Fox Aqua,; Cansaços e descansaços

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André Giusti 'Inda a pouco eram sete horas; Agora que anoiteceu; Em silêncio; Um com o outro

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Paulo Roberto Ferreira, Somnia

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Iracema Albuquerque Soneto a Poesia; Quero; Grito; Decifrado

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nota do editor Caro leitor, O caderno-revista que você tem agora em mãos faz parte de uma ideia minha, das muitas que me acompanham desde meu lançamento na rede mundial de computadores com o blogue Letras in.verso e re.verso. Com a colaboração dos nomes de Üzeyir Lokman Çayci, que gentilmente me cedeu material gráfico; de Filipe Mamede, jornalista e sobrinho-neto da poeta Zila Mamede, e Janaina Alves, mestranda em Letras e estudiosa da obra da poeta, meus convidados; e de Jaci Santana, Rodrigo Sérvulo, Suely Costa, Geraldo Magela, Thiago Tonussi, José Heber, Leo Durval, Edvan Santos, Marciana de Morais, Alexandre Brum Correa, Gutemberg Fox, André Giusti, Paulo Roberto Ferreira, Iracema Albuquerque, poetas eleitos por excelência a compor essas páginas, o caderno-revista pretende trazer ao espaço literário virtual novos ventos, novas escritas, sem necessariamente serem de solo potiguar, porque a ambição da ideia é do tamanho da Web, não tem fronteiras, e o propósito maior é estabelecer correntezas de diálogos entre os nomes daqui e os de outros lugares.

Pedro Fernandes poeta e editor da ideia


apresentação

Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos João Cabral de Melo Neto

“Um galo sozinho não tece a manhã” – eis o elemento impulsionador da ideia para confecção deste material. Na nota de agradecimento às contribuições recebidas, o caderno-revista eletrônico que antes pensava em juntar em si apenas poemas e poetas, expande-se para a ideia de recepção de textos de outros gêneros. E agora, na recepção do 7faces, o leitor haverá de notar que a ideia novamente se vê modificada. E, parece que, enfim, consegui encontrar a modelagem do que realmente pretendia com esse material. “Ele precisará sempre de outros galos” – eis o interesse/pretensão minha com esse veículo. Não surge ele para transgredir nada e nem com ambições maiores do que a de congregar em torno de um mesmo espírito, o da poesia, faces de todo mundo. Eis o princípio de quando lançada na rede que dizia tratar-se 7faces da gênese de uma rede poetas que ambicionava reunir as vozes de poetas de todas as tendências, raças, cores, nacionalidades, temáticas, do que pudesse caber nas infinitas páginas da Web. Logo, mesmo a ideia tendo se modificado ao longo de sua gênese e com a possibilidade de lançamento de um caderno-revista eletrônico, creio que esse propósito do seu princípio ainda prevalece.


Só tenho a agradecer, evidentemente, a todos os que contribuíram com esta edição, cujos nomes já foram citados; é verdade que, sem os contributos, ela não haveria. Ou fazendo jus à epígrafe cabralina que em sua lâmina vaza essa ideia – de que um galo sozinho não tece a manhã – foram eles, os que contribuíram, galos-poetas, que me fizeram de uma forma ou de outra pensar e re-pensar diversas vezes num formato para o tecido desse veículo. O número que agora sai é dedicado a poeta potiguar Zila Mamede (1928-1985). Se fosse ser publicado no tempo oportuno estaríamos pelo cinquentenário de O arado – obra singular que vem trazer aos ventos literários do Estado um estágio outro do fazer poético, já demonstrado quando do surgimento das obras anteriores da poeta; cito, para ser mais específico, Rosa de pedra e Salinas. A ideia dessa edição já estava pronta e, mesmo fora do tom, devido a não anuência de uma data comemorativa prefixada no calendário, permanentemente pronta sai, porque nunca se é data fixa homenagear aqueles nomes que de maneira singular contribuem para uma percepção outra de nós mesmos e do mundo onde nos inserimos. A escolha pelo nome de Zila, deu-se, antes da celebração de uma data, mas a celebração de um nome – que alia-se com o material agora publicado. A escolha por uma mídia digital é simples. Além dos custos serem quase apenas o do tempo do editor, também é o meio eleito por excelência ao grande público, dando a liberdade de o leitor consumir o produto da maneira que achar conveniente: na tela do computador ou impresso, por completo o texto ou por pedaços. Fica esta edição disponível para download no espaço dedicado à sua divulgação, o set7aces.blogspot.com. Digo, para finalizar, que este trabalho que agora é publicado já é, desde então, um sucesso por congregar no seu ventre tão variadas faces, tão variadas vozes.

Pedro Fernandes poeta e editor da ideia


Zila Mamede (1928-1985)


a homenageada

“É o chão onde nasci, e eu gostaria que ela (Nova Palmeira) fosse no Rio Grande do Norte, porque me sinto tão norte-riograndense, que tenho susto quando olho a minha carteira de identidade. Nisso não há nenhum preconceito contra a Paraíba. Apenas fui transplantada muito pequena, a tempo de me sentir enraizada no Rio Grande do Norte. Daí porque eu digo que gostaria que Nova Palmeira, a vila fundada pelo meu avô e pelo meu padrinho de batismo, fosse no Rio Grande do Norte. Era uma fazenda, uma vila, hoje é mais um município brasileiro, mas não é como município, e sim, como sítio do meu avô que permanece na minha geografia sentimental”. Zila Mamede é paraibana de Nova Palmeira, nascida em setembro de 1929. Ainda criança vem com seus pais para o Rio Grande do Norte, Currais Novos. Mais tarde para Natal. Fez Biblioteconomia pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e especializou-se na área nos Estados Unidos. Seu retorno a Natal marca o início da organização das primeiras bibliotecas da cidade, como a da Universidade – que hoje leva seu nome – e a Biblioteca Estadual Câmara Cascudo. De ampla produção, Zila publicou cinco livros de poesia, reunidos mais tarde numa antologia a que intitulou Navegos. Além, destes deixou dois estudos, um sobre o poeta maior João Cabral de Melo Neto e outro sobre Câmara Cascudo.


Üzeyir Lokman Çayci

Zila, Rosa de Pedra; liquefeita _________________________________ por Filipe Mamede

“Em 1953, quando o neo-parnasianismo de 45 espalhava prodigamente suas flores de retórica, Zila Mamede estreou em livro, com Rosa de Pedra”. (Nei Leandro de Castro – com a devida citação). Começava ali a trajetória da poeta, como gostava de se intitular. De verso limpo, elegante, despido de exageros e redundâncias formais, profundamente ligada ao tema “terra-mar-infância-solidão”, Zila foi, antes de tudo, uma lutadora. 7faces – Filipe Mamede

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Final da década de 50, vindo do Rio de Janeiro Zila trouxe em sua bagagem um diploma de bibliotecária para Natal. Pioneira e combativa, deu início a um trabalho novo, técnico e extremamente especializado, encarado por muitos como uma simples atividade de arrumar livros em estantes. Zila parecia falar grego para as pessoas de que dependiam concessões, autorizações e financiamentos. Mantendo um fino trato com as palavras e com a biblioteconomia, Zila cometia seus versos na mesma medida que organizava os “livros”. Única bibliotecária da cidade, em 1958, foi nomeada chefe do Serviço Central de Bibliotecas. Nessa mesma época, Salinas; seu segundo livro, repleto de solidão e até um certo desespero. A poeta avançava no seu domínio verbal e já incitava um certo apelo telúrico. Pouco tempo depois, em 1959, O arado. Considerado um momento alto da poesia brasileira, Zila toma posse da lavra da terra, “substitui a vastidão envolvente do Atlântico”. Nessa hora, a poeta “faz do verso o instrumento com que molda” os objetos da poesia, tematizando sua infância de pedra, sertaneja, sua geografia sentimental. O exercício da palavra viria mais de 15 depois. Esse período de latência, segundo os críticos não deixou o livro impune; “peca por falta de unidade, por dispersão temática”, mas traz a marca inconfundível da grande poeta, admirada por nomes como João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Manteve com os dois últimos, intensa correspondência. Três anos se passam e Zila arremata com Corpo a corpo. Definido por ela mesma como “uma volta sem mágoa” a cada um dos lugares que marcam seu itinerário poético. O mar foi um capítulo à parte na vida de Zila. Exercia um verdadeiro fascínio desde sua infância, mesmo não tendo visto. As crianças que voltavam de suas férias à beira-mar relatavam seus episódios praieiros. A Zila, só restava imaginar. Certa vez, viajando para Recife, viu uma superfície ondulada, que se movimentava ao sopro do vento. Perguntou ao pai se era o mar. Não. Era um canavial. Poucas horas depois a menina de 12 ou 13 anos estaria em frente ao oceano. Desde então o mar passou a ter presença contínua. Todas as manhãs a poeta caminhava na Praia do Forte e dedicava alguns minutos à prática da natação. Até que em 13 de dezembro de 1985 Zila mergulharia para sempre. Foi levada pelo mar que tanto tematizou em sua lírica. Corajosa e precursora, tornou-se, merecidamente, um dos maiores nomes das letras potiguares. Mesmo nascida na Paraíba, foi no Rio Grande do Norte onde Zila traçou suas linhas.

7faces - Filipe Mamede

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7vozes, 15poemas


Jaci Leal Santana Rio de Janeiro, RJ jacilealsantana@yahoo.com.br

Oásis Tropical; Funda ausência; As amazonas – O retorno

Em 2007, Jaci Santana teve seu livro Amor, Sexo e Poesia, editado pela Litteris Editora. Participou do Diário do Escritor, entre os anos de 2006 e 2009, também pela Litteris. Tem poesias no sites Garganta da Serpente, Blocos, Luso Poemas, Sonetos, Jornal de Ville e na Antologia “Canta Brasil”, de Letras de Música, pela Litteris .


Oásis Tropical

Ó negro oásis dos meus encantos! Ostentado de cristalinos diamantes, és fértil até onde finda o areal. Em ti pousei os pés, E na imensidão de tuas entranhas me acolheste. Quando a noite fez-se anunciar, furtivo, um manto negro caiu , suavemente, envolvendo-me o corpo. E como a um filho esquecido pelo mundo, refestelado, abracei-te em mimos. E em longos tapetes em ti ornados, adormeci, Até que a aurora festejasse em cânticos, um novo romper do dia. Perscrutei aquele intocável solo, E vislumbrei a opulência de tuas formas. O orvalhar matinal descortinava o horizonte. O vento, no arfar de uma brisa que soprava do sul, Despertou-te, serena. E o resplendedor de tua relva, musgosa, transfigurou a paisagem diurna, deixando-te plena em virtudes. E lá estava Eu!...Um desconhecido! Um profano a tocar-te o seio. Ó! templo de rara beleza! És formosa, E em teu leito repousarei por mais um dia.

7faces – Jaci Santana

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Funda Ausência

Este teu rosto de porcelana, cultivado como a um cristal polido em seda, na moldura me incendeia em lânguido e suave olhar fatal. Em débil demonstração de amor, fito este olhar de beleza triunfal, e arranco meu coração e dou-te em holocausto. Vem! Toma-o em tuas mãos! antes que pare de por ti pulsar. Mas já é tarde... Muito tarde, e estes teus olhos, que ‘inda me lembro – faz tempo – Vestia-me a alma de ternura. E nestas horas em que me encontro com o pensamento em ti repousar, funda é a tua ausência, mais fundo ainda, meu desespero. Mas guardo-te com tanto zelo, que de mim esqueço o viver. Quando ausente em minha peregrinação noturna, e a lua vem banhar-me com sua luz fecunda, causa-me uma amarga saudade tua, e já não sinto o gozo de sentir o véu da noite, acariciando meu rosto, nem fixar o olhar no horizonte, e ouvir o marulhar das ondas adormecidas no oceano. Vivo mergulhada em sombras, eternas sombras de um passado que já foi teu.

7faces – Jaci Santana

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As Amazonas – O retorno Mulheres guerreiras. Aventureiras. Maestrinas. Mulheres sonhadoras. Românticas. Sensíveis. A Amazonas Que transitam pela vida Entre engôdos e utopias. Travando batalhas Com o mundo que as humilham. Que constroem alicerces Para esta nova mulher Que surge com fé, Nas grandes metrópoles, Demarcando seu espaço. Deixando sua marca. -Seu signoSeu valor. Seu compromisso. O talento que as enobrece. No cuidado com seu ninho. Com seus filhos. Consigo mesma, Sem deixar a leveza, De ser mulher. Mãe. Amante. Porque Deus a fez assim...

7faces – Jaci Santana

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Rodrigo Sérvulo Natal, RN rodrigoservulo@gmail.com engenharialaranja.blogspot.com

Contra(versão), Contravenção; Poema de duas faces; Essência.

Rodrigo Sérvulo é estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), além disso é um dos editores da revista de arte, filosofia e ciências humanas BULA+ (CCHLA-UFRN).


(Contra)versão, contravenção Cumpre-se’screver ‘organismo-poiético : (ex)orbitar, desa(bi)tar o lar do falar, como se não fosse nada - (uni)verso (per)verso (di)verso (in)verso repetititivas - re-petições (or)nadas - desculpas fundamentadas nos (a)versos do falar Dizer o que se quer no não-dizer é falar, não-dizendo? - o que quer isso dizer? contra-dizer o que (r)atos em (pr)atos (ro)eram dilaceraram, sem falar; contra-dizer o mar, como o suicida que se afogou, mas sem querer-morrer; contra-dizer o dito que não-é não-foi, nunca-será no deixar se de ser... Cumpre-se´screver mesmo no não-dizer - o medo do silêncio nos obrigam a falar mesmo que nada tenhamos para, mesmo que falemos do não-falar, mesmo que não falemos...

7faces – Rodrigo Sérvulo

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Poema de duas faces - qual laço prende as palavras às coisas que traço representando situações amorfas - como sentar sobre os próprios dentes como morder nossa própria bunda não exilam nós ausentes, redes armadas em artérias de corpos ao avesso, coisas não ditas, que só por nós saberemos? 7faces -Rodrigo Sérvulo

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Essência

Seja qualquer a intenção de se fazer o exato com caneta pedra martelo veneno ou pólvora. Seja ainda a diagramação de um ato com fitas métricas prévios esboços; ainda que tudo seja premeditado almejado ou estabelecido; ainda que seja tudo isso aí que exista, rios com margens oceanos mensuráveis - que devires devem íris a se observar prelúdios diante de tudo que não seja. Que não passem prismas nem reflitam em espelhos, que não tenham ainda um nome que seja ou possa ser.

7faces – Rodrigo Sérvulo

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Existência

Vestir corpos como quem troca de roupa, revestir cidades, misturar cantos bem-te-vis, canteiros, utilidade das orquídeas; existir como território desejante desmapeado antes de sair do chuveiro do quarto de casa; poder fumar no cachimbo de Magritte, fazer do impossível fumaça, fazer do isto não é um aquilo que pode vir a ser; poder todos os dias pôr um pouco de irrealidade no café e experimentar o gosto de novas cores, antes de sair de casa.

7faces – Rodrigo Sérvulo

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Suely Costa Santo Antônio, RN mscosta3@hotmail.com

Efemeridades; Espaço.

Maria Suely da Costa tem mestrado e doutorado em literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); é professora de Literatura e Teoria da Literatura do departamento de Letras e Educação da Universidade do Estado da Paraíba (UEPB).


Efemeridades

Efêmeros momentos Que passam no jardim da experiência minha Tão reais, tão rápidos e raros. Como uma gota d’água no oceano, Submergem nos entrelaços vários, dos alheios. E no brilho efêmero de seu (meu) ser, Revejo-os, já no mundo das ideias.

7faces – Suely Costa

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Espaço

Parte de mim vive nos séculos que me acho Na atmosférica onírica, aconteço... e desaconteço. Ao lado de seres não sabedores de si. Quem dera que os alheios povoadores de meus sonhos rissem à consciência de seu tempo! Só assim veriam que o movediço mundo também chora.

7faces – Suely Costa

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Geraldo Magela Fortaleza, CE magelaoliveira@yahoo.com.br magelaoliveira.wordpress.com

Rua erma

Geraldo Magela de Oliveira Silva é formado em teologia e pedagogia; exerce a função de coordenador pedagógico na Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza, Ceará.


Rua erma

Deserta és! Não fostes assim outrora... Deserta estás! Já não se escuta os sons que em ti habitavam. O brincar efusivo das crianças. O saltitar apaixonado dos adolescentes. Os passos apressados dos ativistas. O arrastar de chinelos dos de maior idade. O cortejo choroso dos que não mais estão aqui… Não se ouve o brindar das champanhes; O festejar de alguma coisa que pudera servir como marco. Resta a monotonia crescente em cada canto e recanto; o fútil passar dos minutos, horas, dias e mais dias… Alguma ostentação apresentas? Apenas a angústia outonal que denuncia tua solitária condição. Até o sol que em ti bate é pálido e frio. O comércio que fervilhava; Os carros que passavam; Os pássaros que cantavam… Nada mais há que te possa tirar do estático tédio. Ouve-se apenas o silêncio… Violentamente quebrado ao sussurrar dos ventos, Como que dizendo algo à solidão presente, Ao arrastar bruscamente as folhas secas que no chão se encontram, Tantas e tantas… Ainda resta vida? Ainda vida há? Nesta inóspita e póstuma rua erma tudo jaz ao acaso… Será que tudo está condenado a um dia ser como és? A verdade é que em cada ser vivente habita uma desértica rua. 7faces – Geraldo Magela

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Thiago Tonussi Londres, UK thonussi@hotmail.it www.myspace.com/reversothiverso

T; Sombras das sobras

Nasci 01/01/81, me disseram. Família cristã: pais para toda a obra e caridade. Cresci rezando e estudando, não aprendendo. Da música – popular e clássica – cheguei à poesia: Fernando Pessoa. Por sentir-me já fora, saí: para trabalhar e comprar livros. Há 8 anos vivo na Europa: Portugal, Espanha, Itália e, agora, Inglaterra. Sei pouco e do que sei duvido sempre. Escrevo, porque há coisas que não posso, não sei, como as dizer.


Üzeyir Lokman Çayci

T Existem tantos tus meus Quantos tus conheça eu. E quantos tus conheça eu, Serão tus só meus, Com outros eus só deles. Cada eu é um eu ( se supõe ) E muitos tus. Enfim, tu é como eu, Só cambiamos a t pelo e; Enfim, eu é como tu, Só cambiamos a e pelo t. Há em tudo isso, Os tus que só eu conhecerei; E o eu que creio conhecer Entre tantos que só perceberei. 7faces – Thiago Tonussi

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Pedro Fernandes – intervenções em conhaque com mel

Sombras das sobras Será que eu, poeta! Um dia saberei como tu, poeta! O que dizem tuas palavras. O que se me esconderá tuas entrelinhas? Houve perdida entre tu e a folha? Em que pensavas? Com o que sonhavas? Que visão viste que eu não vejo! Que odor exalaste que eu não exalo! Que sentir sentiste que eu não sinto! Por não poder ser tu, ontem; Quanto não percebo por ser eu, hoje. Sensações em tormenta, tormenta de sensações. Poetas são poetas, Poemas só as sobras Das sobras que são tudo. Nas lágrimas que não se tornam palavras, Na alegria que não se pode descrever, Nas costas e sombras dos poemas, Está grande parte do poeta. Grande parte do poema, Que jamais se poderá escrever.

7faces – Thiago Tonussi

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José Heber Canoas, RS heberaguiar@yahoo.com.br joseheber.blogspot.com

Frustração; Triste fim, as grandes partidas

Nascido em Itinga do Maranhão; pequeno, sua família foi viver em Uruará, no interior do Pará. Por ter as duas cidades como berço, costuma dizer-se paranhense. Há alguns anos vive no Rio Grande do Sul, onde é estudante de Teologia.


Frustração*

na solidão de teu seio a razão do teu insulto: “afaste-se diabo, tonto, feio besta morta, alma tosca, vulto” na ilusão de teu sonho o teu amor astuto: “abraça-me amante, lambe-me o seio anjo tenro, amor eterno onde exulto” na comunhão com teu receio (ao que lhe digo) o ódio mútuo: “abranda-me a alma, partida ao meio por seu pobre amor sem fruto”

São Carlos – SP 03/04/2008

* Publicado no Blog: www.joseheber.blogspot.com em Março de 2009; publicado nos sites: EuAutor e Sitedepoesias em Abril de 2009 – informações dadas pelo autor. 7faces – José Heber

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Triste fim, as grandes partidas**

triste fim, as grandes partidas corroem-me a alma, tudo em mim as dores, lágrimas paridas fogem-me de meu amor ruim amo-me tanto, e os sonhos resquícios de minha infância sufocam-me nos escombros de minha fiel intemperança deixo-me nos pontos, as vírgulas separam o que fui do que serei; as ideias do que sou são ridículas: ideias de ser o que só eu sei há no tempo úmido o gesto a forma singular do meu mundo transmuto-me num incesto: não sou mais o de a um segundo

** Publicado no site: www.sitedepoesias.com.br em Março de 2008 www.joseheber.blogspot.com em Maio de 2008 – informações dada pelo autor.

e

no

7faces – José Heber

blog

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Leo Durval Recife, PE leorecife80@hotmail.com eodurval29.blogspot.com

A busca

Nascido na cidade do Recife, estudante de filosofia e pedagogia, ĂŠ poeta e escritor, autor do livro Epistola de um Pensador pela Editora LivroPronto.


A Busca

Quando componho a ti meus modos expressivos em linhas buscadas na imaginação de tua imagem sem céticas aparências apenas poesias ilimitadas... D certo modo rebusco tua canção em meio as rosas que transcreve teu gosto E simples atos relembro a emoção de como o dia transfere outro de como o amor assume a vida; Mesmo assim refaço tua vontade de trazer-te belas lembranças ocasionando outros poemas transladando nossos olhares nas eminentes expressões; transcendida desde sempre Com estes sentidos não vejo mais palavras sinto outras frases progrido versões de te trazer mensagens onde relatar os sentimentos. 7faces – Leo Durval

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Üzeyir Lokman Çayci

entre-meio a tríade mamediana: poesia plantada na terra e nascida do mar por Janaina Alves

Em meados do século XX, tanto no quadro nacional como no regional, a produção literária toma novos ares e começa a florescer – do asfalto, da pedra bruta, do solo sertanejo e da bravura do mar – rosas poéticas. O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto e o mineiro Carlos Drummond de Andrade lançam, respectivamente, Pedra do sono (1942) e A rosa do povo (1945). 7faces – Janaina Alves

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Na década de 50 ainda do séc. XX a poeta potiguar Zila Mamede, numa tentativa de seguir a continuidade da tradição literária, lança as três primeiras obras de sua produção literária – Rosa de pedra (1953), Salinas (1958) e O arado (1959). Proposta ousada e que foi bem recebida pela crítica regional e nacional, essa tríade nos pinta um quadro panorâmico do trabalho literário da poeta durante essa década. A tríade mamediana é uma produção caracterizada pelo limiar entre a terra do sertanejo, da infância da poeta – onde são plantadas as primeiras sementes-palavras – e o mar do marujo que está sempre à espreita de sua subsistência. É poesia plantada na terra árida do sertão, da labuta do trabalhador sertanejo na hora de cortar a terra e pôr as sementes-palavras no seio materno para ser colhida pelo marujo viajante que desbrava o mar à procura de seu alimento. Zila Mamede estréia com Rosa de pedra, título sugestivo e reflexivo quando nos chama a pensar no paradoxo que as palavras rosa e pedra trazem, aparentemente, de contraditórias e que, simultaneamente, mantém pontos de intersecção. A poeta soube perfeitamente aliar a singeleza e a leveza da rosa à fortaleza e à solidez da pedra, apontando o suave lirismo feminino e a bravura máscula que alimentam seus versos e perpassam não só a tríade, como também toda a produção poética mamediana. Em Rosa de pedra, a presença marcante da infância e do mar é uma constante nos poemas que a compõem. Sua poesia é a subversão das dicotomias leve/pesado; feminino/masculino; sólido/líquido; terra/mar, em que se tornam pontos de encontro entre o que se tinha como distante. O mar é seu porto seguro, é onde o eu-lírico marujo canta com voz sertaneja, pois as fronteiras entre terra/mar são diluídas, fazendo-nos percorrer mar/terra sem fazer distinção. A terra – fonte-raiz do eu-lírico é apresentada –, concomitantemente, com a leveza dos grãos de areia e a valentia do mar, em que as vozes do sertanejo e do marujo se fundem num único coro. A segunda obra poética mamediana – Salinas (1958) – denominada pela crítica como uma obra de transição no que diz respeito ao plano temático, uma vez que se propõe a refletir acerca da transitoriedade e da efemeridade da vida, do tempo e, como o próprio título indica, da passagem do líquido, do fluído para o sólido e do mar para a terra.

7faces – Janaina Alves

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Nos poemas que compõem a obra citada, percebe-se certo limite entre os espaços terra/mar. A voz da terra e do sertanejo chama mais alto, porém o chamado da terra é mais que um chamado saudosista ao chão de origem primitiva; é um chamado à necessidade do ser humano de sentir-se ligado à sua terra-mãe, mesmo estando distante dela. É também o chamado à terra do marujo viajante, que sente a voz do silêncio e do vento chamarem para o retorno necessário.

O arado em reedição de 2007, pela EDUFRN

A terceira e última obra da tríade inicial da poeta, O arado (1959), encontramo-nos com a terra, com o lirismo telúrico que perpassam os versos, tecendo os caminhos e indo ao encontro da terra-mãe do eu-lírico. A obra nos convida a velejar no mar/sertão, na terra da infância e dos momentos de outrora que ora vão se presentificando, numa espécie de encontro entre passado/presente; sertão/mar; local/universal. 7faces – Janaina Alves

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É em O arado que se percebe melhor a presença da maturidade poética, pois os versos ora plantados na terra – como o trabalho do lavrador, o suor e a labuta do sertanejo na hora de cortar a terra e semear as sementes que foram postas no âmago do chão para serem colhidos e saboreados com a mesma bravura – são apreendidos pelo marujo para a sua tão esperada nutrição. O lirismo mamediano nos chama para mais próximos, de mansinho e pela relha do arado vamos penetrando na fonte-raiz do eu-lírico na tentativa de nos alimentarmos desses frutos-poemas e continuarmos navegando em suas searas de versos. A poesia mamediana nos convida a (e)ternavegar!

7faces – Janaina Alves

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+7vozes, 17poemas


Edivan Santos Aracaju, SE edivanphilosophia@yahoo.com.br edivansantos.xpg.com.br

Vertigem; Insônia

Edivan Santos é estudante de filosofia da Universidade Federal de Sergipe, poeta e escritor amador. Atualmente está desenvolvendo projetos de pesquisa na área de filosofia clássica e escrevendo um livro de poesia.


Üzeyir Lokman Çayci

Vertigem Já amou? E quem não amou? Vemos verdade na mentira, paz na ira, prazer na dor. É isso que chamamos de amor. Amor não, devaneio, loucura exasperação de sentimentos. O amor não existe. Apenas subsiste em nossa mente e coração, é só uma palavra que causa emoção. Nada mais. Quando você diz que ama, você quer dizer que se engana. Engana-se com seus sentimentos. Porque é apenas um momento. 7faces – Edivan Santos

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Insônia

Tento dormir, mas meus olhos não se fecham só querem se abrir, na esperança de te ver perto de mim. Mas é pura ilusão, simples convulsão de sentimentos. Tento esconder por dentro, mas já é tarde. Mesmo depois desse amor que eu tanto quis, você nem tentou me fazer feliz. Tentei fazer (você feliz), tentei ser (feliz), tentei não te amar... Mas não dá! Vivo respirando seu perfume, me alimentando de seus beijos tentando viver de simples desejos. Estamos em lugares antagônicos, vivendo um momento cômico, que deve ser irônico, por que você não tenta nada pra nos unir? Você quer que eu sempre fique assim, apena a te ouvir? Chego a pensar que sou tão dispensável, uma peça maleável nos sentimentos, um objeto descartável, usado apenas num momento, que passa às vezes tão delével como os suaves ventos.

7faces – Edivan Santos

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Marciana de Morais Mossoró, RN marciana.bio@gmail.com

Infância

Marciana Bizerra de Morais é de Julho de 87, nascida em Brasília-DF. Na infância sua família mudou-se para o estado do Rio Grande do Norte. Sempre gostou de literatura e desde a infância produz poesias; o tempo, entretanto, levou-a para o caminha doutra paixão: a Biologia. Faz graduação na área na Universidade do Estado do Rio do Norte.


Infância

Lembro-me de várias brincadeiras: Pega-pega, esconde-esconde, queimado... No são João olhava milhos em fogueiras, Mas ao invés do milho era o dedo que ficava assado. Das ‘bici-quedas’ boas recordações, Para elas eu faria até canções. Com elas aprendi a cair, levantar e vencer Mesmo com olho roxo para ver o dia amanhecer. As lembranças me trazem uma grande vontade: Voltar a ser criança de verdade. Não repetiria mais os mesmos erros Para não pagar os mesmos preços. Enfim, não perderia tempo, Aproveitaria cada momento. Só assim, observaria melhor o sol sair... E apreciaria bem mais a noite surgir.

7faces – Marciana de Morais

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Alexandre Brum Correa Portalegre, RS correalex@gmail.com

Sem título (1); Vera Bala; Regras de Alejandro

Viveu durante os últimos nove anos em Londres, onde estudou Clown e Bufão com Philipe Gaulier; Pilates com Sonia Nooman no The Place School of Dance e com Chris Hocking no London Dance Studio; e Fotografia no City & Islington College. No Brasil, formou-se em Interpretação Teatral no DAD-UFRGS, além de haver estudado com Antunes Filho no CPT-SESC, e com Carlos Simioni do LUME-UNICAMP. Participou ativamente do “boom” do cinema gaúcho nos anos 80, tendo atuado como produtor, roteirista e assistente de direção em vários curtas e longas destacando-se no curta O Dia Em que Dorival Encarou a Guarda e seu roteiro premiado do curta A Hora da Verdade.


(Sem título 1)

Choro essa paixão infinda, sonho torto de verão de maio, amor fora do tempo fora do esquadro fora dos padrões mais que por casualidade foi por consequência de não querer amar que te amo moça boba coma durma e beba dentro dos meus domínios que não são meus são de outra parte da família ilha do matriarcado mulheres marcadas pelo ferro do amor não realizado o amor rompido e ferem a ti e a mim com o metal incandescente para que não nos percamos no mundo nosso para que vaguemos nos pastos cercados por muros de pedra construídos com amor escravo como as taperas de Santana terras planas sem coxilhas onde possa se mirar ao infinito grito de amor por todos os meus pedaços soltos em cada arame farpado cada machado que derrubou o angico onde subia até o alto para cantar com sabiás o louvor da aurora tardia nas manhãs de inverno frio cavalgadas sobre a cama fofa não como o pelego no lombo do baio bagual do homem que quero ser e quero que vejas do alto dos teus olhos esperando o gaúcho voltar da lida no final da tarde mate em punho e água quente para o banho de meia sola o fumo picado a porta do galpão entreaberta mostrando a luz amarela do fogo de chão pisado forte vento rumo ao norte minuano pra onde queria seguir neste exato momento colher as flores de ipê roxo tombadas depois da primeira geada do outono seguir teus passos pequenos a pisar com pé direito seguir teu rastro megalópole adentro com par de botas novas a correr como se chula dançasse de salto em salto do alpendre da infância desço as escadarias do medo olho no fundo do aljibe sussurro teu nome à minha própria imagem distante e vejo meu rosto tremer quando o ar selvagem toca o espelho d’água lava-me inteiro não pela metade a aguardar teu retorno como a china espiando pela soleira da porta do rancho de pau a pique perigo pôr tudo a perder se não escuto o sino de que estás com fome de comer meu corpo como a carne gorda que assei na sexta santa pra saciar teu sacrilégio em me amar à distância como eu não consegui amar o que não tenho entre as pernas entre o meu olhar curto entra em meu espectro nem que seja no sonho de que tudo vira poeira que se assenta depois da carreta passar.

7faces – Alexandre Brumm Correa

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Vera Bala

Teus losangos imperfeitos cobertos por cristais de açúcar, tem a banana como centro do planeta da doçura. Néctar duro quebrado na mordida mansa, aos poucos se dissolve, desmancha na boca, saliva pura. Há um segredo oculto na beleza do sabor dessa iguaria a ti passado, mãos diligentes, pela nona já ausente, mãe velha da sabedoria. À fruta madura, quase podre, ao cozer em louvor resulta quando a ela, gelatina se mistura! O artifício da cor e do sabor àquela fruta nanica não pertence mas, não há como negar, tornam a tua bala de banana vera fonte de minha gula.

7faces – Alexandre Brumm Correa

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Regras de Alejandro

Alejandro es mi nombre en castellano. Agora fumo, bebo e durmo tarde. Há uma semana, menos, seis da manhã, guenmai, Disciplina. Onde estou? Não importa. Quem eu sou? Por que me aflijo com tão grande questão? Porque gostaria de respondê-lo “de pronto”, De peito erguido e convicto do que sei lá pudesse Ser uma resposta. A ver(reali)dade é que eu sou um não importa o quê. Sou agora um boêmio escritor solitário, buscando uma mulher que perdi no momento em que a encontrei. Sou um homem das artes que não existem. Sou um pouco de tudo a cada momento. Sou como tudo passageiro, querendo causar grandes impressões, Aonde a impressão maior é não ser. Estou de volta para onde não saí. De volta ao berço em que nasci. Estou no sonho de conhecer meu próprio nome. Meu mesmo lugar – a esquina de casa. A casa. Já prometi o mundo – acho que nunca cumpri Minhas promessas. Sou indulgente quando o digo. Não sou diferente de ninguém a não ser Pelo fato de querer ser diferente de todos. 7faces – Alexandre Brumm Correa

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De volta a casa. A volta em torno de casa. Dobrar a esquina, sempre à esquerda, Permanecer na mesma calçada, Não há como se perder. Perder-se, perder de vista, perder! Perder não é desistir. Perder-se, sim, pode significar ganhar. Perdi coisas. Já perdi muitas coisas – materiais. Mas não perdi o medo de perdê-las. Não perdi o medo de perder-me. Não me perdi! Norma Aleandro, sim, ela hoje à noite. A noite. Há noite, há silêncio há solidão. O escuro, a pouca luz. Estrelas? Não há estrelas onde estou. Pero hay mucha luz en la noche. À noite, há gente sem luz. Pessoas vagando feito vaga-lume num campo escuro da infância. Mas vaga-lumes chamam a atenção porque lumem. As pessoas que vi esta noite... Não! Porém me chamam a atenção. Dividi com elas o mesmo balcão molhado, O mesmo ar esfumaçado. Ouvi suas conversas. Não disse nada. Bebi, fumei, vivi suas vidas Por vinte longos minutos Sem luz, sem sol.

7faces – Alexandre Brumm Correa

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Gutemberg Fox Palmas, TO gtmbrg@hotmail.com www.gutembergfox.com foxpoe.blogspot.com

Aqua; Cansaços e descansaços

Gutemberg Raposo da Silva, 25 anos e muitas viagens locais reais e exteriores virtuais, onde busca cultura e saber. É professor de inglês pelo CNA em Palmas-TO e de espanhol por dedicação. Amante de idiomas, ele estuda francês e é um artista plástico nato, porém pouco auto-explorado ainda. É formando em Letras português – inglês e respectivas literaturas pela UFT – UNIV.F. do Tocantins.


Aqua*

Eram só pré-palavras, pré-nadadas ensaiadas Eram n'água anáguas que lavava e suspirava Eram nada as palavras lavadas do que pescava O nada era nada quando nadar nada soava Mas o nada se faz tudo sem enxergar a mágoa Como era coração puro com amor na tábua Aqua lava aqua cura Aqua limpa aqua escura Com ou sem amor nada se perdura, nada, nada

* Publicado no blogue de poemas pessoa do autor foxpoe.blogspot.com. Informação dada pelo autor. 7faces – Gutemberg Fox

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Cansaços e descansaços**

É dia todo dia antes do dia ser dia O levantar de ontem para hoje é... Sete dias por semana, quatro semanas, Um mês e mais um dia, agonia e fé... Anda e canta e coração dança como quer. É a chuva é o sol é o vento é farol É o levantar de ontem é o pôr do sol Nada, nada é como uma noite sem mulher. Todo correr é prazer e tem corpo cansado Suja roupa, sua roupa, sem suor é sossego Anda atoa e perdoa pois com amor é chamego Todo prazer sem amor tem coração fadigado Transpirar sem respirar, sem cansar sem amar Eleva e é leve, leva horas sem demoras a voar Sempre ao fim do dia em sua casa adormecerá Só a alma só a calma vem em sonhos e assim sempre será.

** Publicado no blogue de poemas pessoa do autor foxpoe.blogspot.com. Informação dada pelo autor. 7faces – Gutemberg Fox

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André Giusti Brasília, DF giustiandre@hotmail.com

'Inda pouco eram sete horas; Agora que anoiteceu; Em silêncio; Um com o outro

André Giusti é carioca, mora em Brasília. É basicamente contista, e envereda esporadicamente pela senda da poesia. Tem quatro livros de contos, três pela Editora 7Letras: Voando pela noite – até de manhã; A solidão do livro emprestado e A liberdade é amarela e conversível, que está sendo lançado, além de Eu nunca fecharei a porta da geladeira com o pé em Brasília (LGE Editora). É jornalista, chefe de redação e âncora da BandNews FM em Brasília.


‘Inda pouco eram sete horas Agora são quase dez. A semana já está acabando E sábado-e-domingo também é tão rápido. O ano passou do meio E minha vida, da metade. Logo é outro natal Teu aniversário é mês que vem Qualquer dia, a nossa morte. Apenas a gradual angústia das horas É lenta, Lenta feito um visgo-movediço-vagaroso Nos subindo pelas pernas, Passando da cintura Até nos roubar inteiramente o ar.

7faces – André Giusti

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Agora que anoiteceu é quase matéria palpável essa agonia de talheres batendo e televisão ligada na casa do vizinho de cima de frente dos fundos de baixo. Olhar estrelas esquecer pedidos porque nem em criança acreditei nessas bobagens. Eu acreditava em coisas de homens em verdades de adultos nas mentiras que conheço agora. Olhar estrelas fumar cigarros fritar ovos para comer com pão dormido. Nem uma carta embaixo da porta nem um telefone que interrompa o que estou fazendo nem um puto de um vizinho para reclamar do condomínio. Eu sinto solidão como quem abre e fecha a geladeira.

7faces – André Giusti

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Em silêncio, constrangendo as sombras, vago pela rua procurando a lua para iluminar pensamentos imundos. Mas não acho nem lua nem vida nem nada. Não há notícias de sobreviventes nos últimos meses. Quando durmo, sonho erótico E as mulheres que me amaram assassinaram as que eu não tive. Acordo ao lado do meu corpo duas horas antes do despertador.

7faces – André Giusti

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Üzeyir Lokman Çayci


Um com o outro

Fumando na escuridão no canto do quarto eu ouvia fogos de artifício da favela perto. Você pegou logo no sono depois que transamos calados outra vez. Mesmo com a luz apagada deu pra ver na tua na minha cara: a gente é igual a tudo e lado a lado somos muito diferentes.

7faces – André Giusti

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Paulo Roberto Ferreira Crato, CE paulo.d.master@bol.com.br

Somnia

Paulo Roberto Ferreira é natural da cidade de Crato – CE, nascido em 1987, escreve desde os dezesseis anos, época em que a literatura abre-lhe as suas paisagens, nas quais costuma passear para sentir uma atmosfera mais respirável. Escreve para mascarar um pouco mais de si.


Somnia

Cada sonho esconde um leão que devora. A ilusão evapora Tal qual abraçasse nuvens. Aquele som longínquo De sinos que repicam Trazem a mim, plangentemente, O canto lúgubre do céu cinza. Quando minha alma Busca mais uma vez Lançar um olhar sobre Os paraísos perdidos na terra, Ela grita de dor. Mergulhado entre a sombra e a penumbra, ouço vozes Cada uma é o lugar do mito Que evoco.

12 de Jun de 2009

7faces – Paulo Roberto Ferreira

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Iracema Albuquerque Natal, RN nega_cema@terra.com.br

Soneto a poesia; Quero; Grito; Decifrado

É estudante de ciências da religião; valorizo as artes , principalmente a popular que expressa a cultura a identidade do povo.


Soneto a poesia Tento sair de mim Me esquecendo Penso, agir assim E dissolvendo Segundos de um jasmim Absorver Sem fundos e sem ter fim Inscrever E se na manhã,rememorar o pranto Próprio do passado,um porfiar Insano clã, aprisionar o canto Inciso desengano em minh'alma Recorro a poesia,lenho fugaz! Lenir sereno sol que me acalma.

7faces – Iracema Albuquerque

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Quero

De Olorum, sua benção Do sorriso de uma criança negra A pureza... Da verdade a tradição O sangue, suor e beleza A resistência da mãe do negrão Do negrão, sua grandeza Que não coube na escravidão Do corpo de arqueiros A força da natureza A voz que ilumina o terreiro Do orobô , a riqueza

Da testemunha do ori Do meu Deus orixá Da razão do emi Meu babalorixá A fumaça do cachimbo do vô Da cultura a união O infinito do amor A cura da solidão Da dor, os cantos mais lindos! Aos antepassados, meus sentimentos A seiva que ecoa no firmamento Paz e liberdade 7faces – Iracema Albuquerque

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)))))

Grito

)

Encapsulada, choro Flutuando profundezas de um oceano Inalcançável, langor choro Pensas em mim, absorvo e inflamo Impulsiona tua energia e reclama Vale secreto que chama! Eu espaço e vibra e saio da cama Me lembra a dança... O choro balbucia segredos Engolidos a honra pelo abutres Onde a mágoa faz seu enredo É a solidão que me aturde Há!.. se pudesse ter o direito Em mitradas longas palavras De lamentar a sanha do meu jeito Aniquilar como navalhas Depois cantar verve no recomeço Os mortos no mar E eu no teu corpo, no teu peito Talhando figuras no ar Suspiros suspeitos Dos desejos e minha voz Efeitos, são ditos e feitos Que me enlaço em nós.

7faces – Iracema Albuquerque

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Decifrado Venha vestido de vento Teso liso e sedento A flor da pele, pele levada Me pegue com força, me deixe molhada Então fecho os olhos e tu vens Inundando, me arrepiando vou as nuvens Me apropriando com esse cheiro que tens Laudo do ponto, no meu espaço, vou além Venha erguido a rosa-dos-ventos Agalopada animalesca Afoito, ardido ledor dos assentos Lanceiro de pé, mostre-me como me deita Nesse barco sem rumo, sem prumo mas atento Ao seu olhar devorador que atendo Apelo encantador e vontade de come-lo come-lo por inteiro Lenitivo dedos de carinho Toque nos meu cabelos, friccione Desperte a estrada incendiadora de caminho Nos lábios, bem lá! Succione Até que eu diga não, pare! Me invada acelerado Sussurre, se satisfaça, me beije, me cale Decifrado.

7faces – Iracema Albuquerque

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os convidados

Filipe Mamede é jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com passagens pela redação da TV Universitária, jornal Diário de Natal e com colaborações para as revistas Veja e Brasileiros.

Janaina Alves é graduada em Letras – habilitação em Língua Portuguesa e respectivas literaturas, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/CAMEAM (2006); é Especialista em Literatura e estudos culturais, também pela UERN/CAMEAM (2008) e atualmente é mestranda em Letras, PPGL/UERN/CAMEAM, com enfoque nas questões da memória e identidade na obra da poeta Zila Mamede. Tem experiência na área de Letras, ensino de Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira e Portuguesa.


7faces caderno-revista de poesia

set7aces.blogspot.com

O caderno-revista de poesia 7faces é uma produção semestral independente projetada, diagramada e editada pelo poeta Pedro Fernandes. Organização desta edição Pedro Fernandes Convidados para esta edição Filipe Mamede Janaina Alves Colaboradores (por ordem de apresentação) Jaci Santana Rodrigo Sérvulo Suely Costa Geraldo Magela Thiago Tonussi José Heber Leo Durval Edvan Santos Marciana de Morais Alexandre Brum Correa Gutemberg Fox André Giusti Paulo Roberto Ferreira Iracema Albuquerque Agradecimentos A todos que enviaram material para a ideia e em especial ao artista plástico Üzeyir Lokman Çayci pelas incursões plásticas e a Paulo Eduardo M. Fernandes pelo trabalho em grafite. Contato pelo e-mail pedro.letras@yahoo.com.br 7faces. Caderno-revista de poesia. Natal – RN. Ano 1. Edição n. 1. jan.-jun. 2010

ISSN 2177-0794 Distribuição eletrônica e gratuita. Os textos aqui publicados podem ser reproduzidos em quaisquer mídias, desde que seja preservada a face de seus respectivos autores. Os textos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores, inclusive quanto a correções ortográficas e fica disponível para download em set7aces.blogspot.com

O editor desse caderno é isento de toda e qualquer informação que tenha sido prestada de maneira equivocada por parte dos autores aqui publicados, conforme declaração enviada por cada um dos autores e arquivadas no sistema 7faces.


Para participar da ideia deve o poeta consultar o espaço set7aces.blogspot.com, para ler as regulagens e enviar o material; ou solicitar ao editor atravÊs do contato pedro.letras@yahoo.com.br o envio das regulagens.


Todas as ilustrações foram cedidas e pertencem ao artista plástico Üzeyir Lokman Çayci, a exceção da ilustração Intervenções em conhaque com mel (p.33) que é de autoria de Pedro Fernandes; As incursões em grafite são de Paulo Eduardo M. Fernandes; A imagem de Zila Mamede (p.12) é do Portal da Memória Literária Potiguar através do endereço eletrônico http://www.mcc.ufrn.br/portaldamemoria/wordpress/?page_id=597 em consulta feita em 10 de outubro de 2009; A imagem da capa de O arado (p.41) é scanner do arquivo pessoal de Pedro Fernandes.



Mar morto Parado morto mar de minha infância sem sombras nem lembranças de sargaços por onde rocem asas de gaivotas perdendo-se num rumo duvidoso. Pesado mar sem gesto, mar sem ânsia, sem praias, sem limites, sem espaços, sem brisas, sem cantigas, mar sem notas, apenas mar incerto, mar brumoso. Criança penetrando no mar morto em busca de um brinquedo colorido que julga ver no morto mar vogando. Infância nesse mar que não tem porto, num mar sem brilho, vago, indefinido, onde não há nem sonhos navegando.

(Zila Mamede In Rosa de Pedra)


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