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Direto da Produção
from Seafood Brasil #36
Formas jovens em ebulição
Investimentos em genética e importação de matrizes querem elevar a produção brasileira de peixes, camarões e mexilhões a outro patamar
Texto: Fabi Fonseca e Ricardo Torres
aquicultura brasileira está
Aplantando as sementes para o futuro. A afirmação é literal, já que os dados mostram ascensão da produção de alevinos na década e sinalizam uma recuperação da produção de pós-larvas de camarão pós-mancha branca. De
acordo com a mais recente Pesquisa da Pecuária Municipal, do IBGE, a produção de alevinos deu um salto de 64,66% entre
2013 e 2019, enquanto as pós-larvas de camarão mostram estabilidade a partir de 2018. Já as sementes de moluscos caíram 31% em 2019, na comparação com 2013, mas ensaiam uma ligeira recuperação: aumento de 0,44% sobre 2018.
Este ensaio deve ganhar um forte impulso com a chegada de técnicos da Galícia (Espanha) a Cabo Frio (RJ) para montar, a 2,5 quilômetros da Praia do Peró a maior fazenda marinha do Brasil. A iniciativa da
Mexilhões Sudeste Brasil (MSB), pretende produzir mexilhões, ostras
e coquilles Saint-Jacques no local em
uma área com cessão de uso junto à Secretaria de Aquicultura e Pesca do Mapa (SAP/Mapa) por 20 anos. A área estimada para o cultivo é equivalente a 200 hectares, com investimento de R$ 420 milhões e previsão de produzir 35 mil toneladas por ano. Isso equivale ao dobro de toda a produção nacional, concentrada em Santa Catarina.
As sementes não serão compradas de terceiros, mas produzidas ali mesmo.
A MSB desenhou um laboratório para abrigar “o sistema de incubação mais avançado do mundo em criação
de mexilhão”, como define o projeto. Na estrutura, serão armazenados as condições de cultivo de cada lote,
Projeto da Mexilhões Sudeste Brasil (MSB) envolve a construção de um laboratório em Cabo Frio para abrigar incubadora de mexilhões
para análise e otimização. Além disso, ocorrerá o registro de atividade com dados de crescimento da semente, identificação e controle de lotes mediante tecnologia de radiofrequência (RFID). Já com a licença de operação, o projeto tem previsão de iniciar no primeiro semestre de 2021.
A chegada da MSB traz consigo uma série de tecnologias comuns no cultivo de mexilhões na Galícia, que têm potencial para qualificar ainda mais a produção nacional. Os espanhóis se juntam, assim, a um time de estrangeiros líderes em seus segmentos que desembarcaram no Brasil. Outro exemplo são os alemães do EW Group, que consolidaram o ramo de melhoramento genético de alevinos no Brasil, a partir das
aquisições da Aquabel e AquaAmérica pela GenoMar Genetics AS. A
AquaGenetics do Brasil, holding criada com as aquisições, marca a junção das empresas que comandaram nos últimos anos o segmento de alevinagem e melhoramento genético de formas jovens de peixe no Brasil, que se tornam oficialmente as marcas de genética de tilápias Aquabel e AquaAmerica.
Camarão: importação ou programas nativos
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, fez a alegria de muitos ao sinalizar apoio à intenção de alguns produtores de importar matrizes de outros países. A posição da ministra é vista como positiva e necessária para Ana Carolina Guerrelhas, sóciafundadora da Aquatec, em Barra do
Cunhaú, Canguaretama (RN). Ela assegura que o Aquatec importaria
EVOLUÇÃO DAS FORMAS JOVENS 2013-2019 | MILHEIROS
1.500.000
1.000.000
500.000
0 2013
Larvas e pós-larvas de camarão Sementes de moluscos Alevinos
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
0
oficialmente as matrizes, assim como fez pela última vez em 2006. Ela alerta, no entanto, que a autorização precisa ser simplificada para evitar que entre material genético “de contrabando”, capaz de atender a uma demanda pontual, mas também pode levar ao caos.
Na contramão da idéia, Saulo Guedes, sócio-fundador da Aquasul, laboratório de pós-larvas e náuplios
em Nísia Floresta (RN), defende que a decisão irá atender apenas ao anseio de poucos produtores. Há também receio pela possibilidade da importação de doenças que ainda não foram vistas no País, apesar de o governo e os produtores interessados defenderem que os quarentenários evitariam este problema. Conforme ele, deveria ser desenvolvido esse trabalho aqui no Brasil, para então o passarmos a exportadores de matrizes e não importadores. Ele apostaria em parcerias, como uma público-privada entre o governo e uma instituição, como por exemplo a Embrapa. Outro caminho é a facilitação do acesso aos financiamentos, mas que atualmente ainda esbarram na burocracia.”Para fazer aqui um trabalho de genética em que a gente possa desenvolver nossas matrizes, precisaria do aporte, do apoio do governo federal. “Então, eu acredito que seria uma linhagem muito melhor paro o Brasil e já adaptada às nossas condições e, principalmente, com restrição às novas doenças”.
Entrada da CP Foods já rendeu ganhos de sanidade nas larvas para consumo próprio da Camanor
Entre os maiores interessados na importação de animais de desempenho, o diretor da Camanor, Werner Jost, afasta as possibilidades
de importação de doenças. A empresa construiu um quarentenário, aprovado pelo Ministério da Agricultura, que se tornou o único do gênero aprovado para camarão no Nordeste do Brasil, segundo Jost. “Há fornecedores de matrizes nos EUA e na Tailândia, mas no nosso entender a melhor genética é da empresa CP Foods, da Tailândia”. Não à toa, a CP Foods é dona de 40% da Camanor desde abril de 2018. “Ela investe há 20 anos milhões de dólares por ano para montar o programa deles. Os fornecedores norte-americanos usam, na grande maioria, cópias das larvas da CP Foods.”
Segundo ele, o potencial genético das matrizes se reverte em crescimento e sanidade do animal. “Mesmo que a genética tenha um peso muito grande no sucesso da produção, o aspecto de sanidade é o que mais pesa no resultado final. Robins McIntosh deixou claro que 20% é genética e 80% é sanidade.” A Camanor não conseguiu
- ainda - importar a genética, mas a ajuda da CP Foods já possibilitou melhorar o status de sanidade dos
animais domésticos. “Hoje, eles testam negativamente contra todos os vírus conhecidos e testados com o método do PCR”, atesta Jost. Evolução de sistemas torna atividade complexa
Foi no laboratório de pós-larvas na praia de Barretos que a Aquasul começou a produção, nos anos 2000. “Nessa época, o Brasil, embora já estivesse na atividade havia alguns anos, não tínhamos muito conhecimento técnico. Esse conhecimento foi trazido basicamente pelo pessoal do Equador”, lembrou. Além de melhorias na
genética, o tempo também trouxe mais conhecimento de manejo, nutrição animal, combate e prevenção de doenças e mais uma série de
benefícios. Os avanços também são reflexos das formações acadêmicas, como biólogos, engenheiros de pesca, veterinários e tantos outros cursos espalhados pelo País. “Hoje, eu vejo assim, que o Brasil não deixa mais nada a desejar, em termos de tecnologia, em termo de conhecimento da atividade, para outros países. No âmbito da genética, a gente precisa avançar, mas no resto não”, defende.
Há um pouco mais de uma década antes de a Aquasul entrar na atividade, especificamente em 1989, a Aquatec iniciava sua trajetória como referência nacional na produção de
PLs de vannamei. Naquela época, como detalha Guerrelhas, tudo no ramo ainda era muito complexo e somente alguns “abnegados” e amigos do “desafio” se atreviam a encarar a atividade. Com o tempo foram surgindo inúmeras referências na literatura e a internet trouxe ferramentas, como os vídeos no YouTube, com detalhes de produção. “Com tantas informações e insumos acessíveis, aparentemente tornou-se mais fácil a produção de PLs, mas o difícil ainda é ter um produto que apresente a performance zootécnica adequada para atender à diversidade de ambientes, instalações, manejos e filosofias de produção existentes no mercado”, diz Guerrelhas, frisando também os desafios sanitários. “Hoje se domina os processos básicos de fazer a ‘pós-larva’ mas não se consegue ainda atender a complexidade da indústria. É como se tentássemos montar um grande quebra-cabeças no qual algumas peças não se encaixam, outros podem se encaixar ainda que não perfeitamente e outras são perfeitas. Eu diria que, com todas as dificuldades,
falta de insumos e tecnologia do passado, era muito mais fácil produzir PLs do que é hoje , com a presença de tantas doenças e uso de ambientes, manejos e instalações tão diferentes.”
Por isso, ela avalia que é mais vantajoso comprar matrizes de outro programa já desenvolvido e adaptá-las às suas necessidades.
A Potiporã ainda considera vantajoso apostar em um programa nacional e ainda reforçou os investimentos nos últimos anos, conta
a gerente geral da unidade produtora
de larvas da Potiporã, Roseli Pimentel. “No início de 2019, foram realizados investimentos para desenvolvimento de um software personalizado para integração de dados, aquisição de um sequenciador de DNA e desenvolvimento de um painel de marcadores genéticos”, conta. Já neste ano, a empresa apostou no envio de um projeto ao edital 04/2020 à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para introduzir tecnologias 4.0 no programa da Potiporã. O projeto foi aprovado em segundo lugar e garantiu R$ 2,5 milhões em recursos não reembolsáveis que serão aplicados no programa genético a partir de 2021. “Esses investimentos projetam o programa de melhoramento genético da Potiporã como um dos mais robustos e inovadores em nível mundial”, aponta.
O que dá estas credenciais, na visão dela, são os recursos que a empresa tem para realizar a identificação genética de 100% dos animais do programa de melhoramento genético, o que representa a genotipagem de mais de 3.000 animais por mês. “O domínio dessa tecnologia permite monitorar de forma precisa a diversidade genética dos plantéis e determinar as famílias
que apresentam melhor desempenho em condições de campo, garantindo o ganho contínuo em sobrevivência e crescimento.” Pimentel destaca ainda que a empresa expandiu recentemente o número de lotes (batches) para seleção realizados por ano, visando diminuir o tempo para identificação das melhores famílias. “Outro ponto importante é que o programa genético da Potiporã é assistido também pelo monitoramento sanitário do plantel. Todos os animais do programa são certificados individualmente por meio da técnica de PCR, o que permite manter no programa apenas os animais ‘limpos’, ou seja, sem carga viral detectável para os principais vírus que acometem a carcinicultura nacional.” Expansão em curso
Em processo de ampliação da sua produção, Guedes, da Aquasul, tem boas perspectivas ao futuro próximo do laboratório. Atualmente, a Aquasul
tem uma área de produção com 60 funcionários e um parque com 10 mil m² que passa por reformas. Em breve, serão 15 mil m² de produção para 11 unidades em operação – hoje em dia são cinco, mas outras seis serão
instaladas. A capacidade instalada é de 300 milhões de PLs/mês e 45 milhões de naúplios por dia, enviadas principalmente para o mercado do Nordeste. Em 2020, o laboratório viu uma sazonalidade na comercialização das PLs, já que o Aquasul também vende para outros laboratórios que não têm o setor de maturação, as reservas são para mais de 60 dias. “Estamos com todas as cinco unidades em plena produção e ainda não damos conta de atender a demanda. É por isso que começamos uma nova ampliação, onde vamos atingir 600 milhões de PLs/mês”. As obras estão previstas para serem concluídas até 2022.
Já na Aquatec, apesar da Covid-19, as estimativas também são positivas. É esperado que o volume de produção
de PLs fique em torno de 18 bilhões neste ano, mas o número poderia passar dos 20 bilhões se não fossem as baixas de 3 meses (abril, maio e junho) que o laboratório sofreu
baixas com a pandemia. Guerrelhas ressalta que neste ano, a indústria teve a oportunidade de experimentar um novo material genético de “resistência/ robustez” introduzido pela Aquacrusta/ Sabores da Costa, que será responsável pelo futuro aumento de produção para se chegar às esperadas 120 mil t contra as 90 mil t de 2019. “Seu impacto não foi em taxa de crescimento e nem em conversão alimentar, mas foi em maior sobrevivência nos diferentes ambientes.”
Já as vendas foram maiores no período, apesar de tudo. Com a performance atual, o Aquatec espera aumentar suas vendas em 25% em relação ao número de 2019. Mas, para o próximo ano, ela revela que está
difícil prever o resultado, sobretudo
Centro de produção da pós-larva X, da AquaCrusta/ Sabores da Costa: alto índice de sobrevivência conquistou o Nordeste e pode elevar a produção nacional a 120 mil toneladas contra 90 mil de 2019
pelos questionamentos do tipo: se as exportações vão acontecer em quantitativos expressivos e não só experimentais, se o mercado consumidor conseguirá absorver 120 mil toneladas na forma como
é vendido o camarão hoje – fresco e com preços justos na comporta, além de uma série de outras dúvidas que somente o tempo responderá se impactarão em sua produção. “Como sou pelo ‘otimismo’ acredito que vamos contornar estas situações imprevisíveis e vamos seguir crescendo a passos regulares”, finalizou. Covid-19 acelera protocolos de biossegurança
Na terceira geração de carcinicultores da Costa Negra, no Ceará, o CEO da Sabores da Costa,
Rubens Sales, tem o desafio de fazer jus ao legado dos pioneiros José Rubens Sales (avô) e Livino Sales (pai). “No decorrer do tempo, a operação da minha família foi crescendo, de forma a se fazer necessário manter todo o controle do processo produtivo, passando a construir, além dos viveiros, o seu próprio laboratório, investindo sempre em tecnologia e melhoramento da genética do camarão.” A Sabores da Costa surge no cenário nacional, em 2014, com objetivo inicial de se posicionar no mercado de comercialização de camarões orgânicos, como parceira da empresa Aquacrusta Marinha.
Rubens assumirá também o legado do pai no âmbito institucional em fevereiro, quando se tornará o presidente da Associação dos
Carcinicultores da Costa Negra
(ACCN). A região produz o único camarão com Denominação de Origem Controlada (DOC) e Identificação Geográfica (IG) reconhecida internacionalmente. “Temos como objetivo principal fomentar a região da Costa Negra, o grupo de empresários pretende dar visibilidade ao setor, levando o produto da Costa Negra do Ceará para o mundo”, sustenta.
Atualmente, a Sabores da Costa se apresenta como a única no Brasil com selo World Quality Services (WQS) de rastreabilidade para
criação de camarão orgânico, fresco e congelado. Segundo Sales, a partir da experiência adquirida na produção e comercialização do produto, a empresa passou a manifestar interesse em participar mais de perto do processo inicial da cadeia. Foi assim que assumiu a gestão do laboratório da Aquacrusta, em Acaraú. “No último ano, desde que assumimos a gestão do nosso laboratório principal, até o momento, representamos a produção aproximada de 30% a 35% de Litopenaeus vannamei do Brasil. Esperamos para o ano de 2021 um incremento de 20% na nossa produção”, aponta Rubens Sales.
Fruto de um aprendizado longo de recuperação e convivência com doenças, que se iniciou com a larva Delta, em 2004. “Com o aparecimento da NIM (Síndrome da necrose idiopática muscular), em 2004, e da mancha branca (WSS), em 2015, o setor sofreu bastante, em especial no segundo momento, onde a virulência era capaz de dizimar produções inteiras”, sublinha Sales. “Com o constante investimento
em tecnologia e melhoramento da genética do camarão, foi desenvolvida pelo nosso laboratório a denominada larva X, resistente à mancha branca e que tem melhorado os índices de produção do setor no último ano.”
Para o executivo, 2020 foi um divisor de águas, mesmo em face da Covid-19. A empresa investiu no melhoramento genético das larvas de resistência, além de aprimorar protocolos laboratoriais, automação de processos, captação de dados, análise e desenvolvimento de novos protocolos de produção. Tudo isso se somou a outros investimentos realizados em anos anteriores. “O resultado disto é que possuímos hoje em nossa empresa, a título de exemplo, o maior cepário da América Latina, com a produção em escala de microalgas, contando várias espécies, além da produção de artêmia viva, sendo estes um diferencial competitivo relevante, à medida que internalizamos todo o processo, fato que nos permite aumentar o nível de exigência quanto à qualidade.”
Fator importante no momento atual é assimilar que a mudança
de protocolos de biossegurança é a melhor forma de resolver, ou ao menos minimizar os problemas sanitários.
“Trabalhamos com ciclos de produção com tempo de repouso para desinfecção dos laboratórios, acesso limitado de pessoas, restringindo em algumas áreas apenas para os funcionários do setor. Além disto, reformulamos os demais protocolos de produção, melhorando e expandindo a estrutura para reduzir a densidade populacional e assim gerar menos impacto. A tarefa é árdua, porém recompensadora quando se comparam os resultados obtidos neste último ano”, indica o executivo.
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55 SEAFOOD BRASIL • OUT/DEZ 2020 • O sabor que faz a diferença