Especial Subversa e Julho Literário V.13 nº5

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[Entrevista -Ângela Vilma] “Sou uma desajustada no mundo. Cheguei até aqui por conta da Literatura. Sem ela não teria vingado” | por Dan Porto

“Porque nós, os infelizes, faremos uma festa”. Foi assim, por meio da publicação do poema Balada dos infelizes no Jornal Rascunho de setembro de 2019, que o universo me alcançou Ângela Vilma. O texto foi parar no 2º Julho Literário; eu ousei marcá-la em uma postagem, ou enviar o vídeo por mensagem, não lembro bem; A Solidão mais funda veio parar na minha estante; minha série poética foi parar na estante da Ângela; e cá estamos: em diálogo.

Poetisa, mas também contista, cronista e professora de Literatura na Universidade Federal do Recôncavo Baiano, radicada nas graças de São Salvador (Deus guarde a Bahia!) Ângela Vilma resiste à realidade: “enfrento-a com a poesia”. Na resistência, durante o ano passado, batemos um papo, ela de lá e eu de cá. * Em 2015, no blog Aeronauta (http://wwwaeronauta.blogspot.com) você registra que “Escrevo para dar o tapa na cara que eu não dei […] para lavar a minha honra. Todos os dias quero […] me vingar”. Você segue escrevendo? E segue escrevendo para se vingar? De quê ou de quem? Sim, continuo escrevendo, mas neste ano terrível, 2020, quase nada. Passei um ano doente, muito doente. Por não conseguir escrever, vivi menos, morri demais. Sem escrever, não consigo descontar os murros que a realidade me dá, todos os dias. Guardo, entalada, a dor. A pandemia me deu a tensão extrema, a total falta de vontade de viver, a atrofia. Os sentimentos ficaram encalacrados, adoecidos. Há uma confusão aqui dentro muito grande. Escrevi poucos poemas, quase nada. A minha dor não consegue ganhar forma, está em estado de nebulosidade total.

Você publicou livros e textos em coletâneas de 1990 a 2006, depois no blog de 2007 a 2016. O que escreveu após 2016? Em 2016 publiquei o livro A solidão mais funda, de poesia, pela editora Mondrongo. Participei, com alguns poemas, de alguns números da revista Organismo (Salvador) e de outras antologias, como Mulheres poetas e baianas (Caramurê, 2018) e Poesia Brasileira em contracorrente (o retorno estético do século XXI) – também pela Mondrongo, em 2019, bilíngue com tradução francesa, organizada pelo poeta Wladimir 29


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