Paraná sem retaliações

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POLÍTICA

ECONOMIA

EDUCAÇÃO

REVISTA DOCUMENTO RESERVADO Nº 30 - OUTUBRO/2010 - R$ 5,00 www.documentoreservado.com.br

AGRONEGÓCIO

TURISMO

SAÚDE

SEGURANÇA

TECNOLOGIA

Mais que pesada Considerada uma das mais altas do mundo, a carga tributária brasileira vai arrecadar R$ 1,3 trilhão neste ano Discórdia na AL Os 51 projetos que o Governo Pessuti enviou à Assembleia tem sido causa de embates entre os deputados

O governador eleito, Beto Richa (PSDB), e os senadores eleitos, Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB), não acreditam que o Paraná seja discriminado pela presidente Dilma Rousseff

Paraná sem retaliações ns om bo ano c a z i al te do sin a nes Merca para a soj s preço




editorial expediente Jornalista responsável e editor-chefe Pedro Ribeiro Coordenação Geral e Edição Silvio Oricolli Redação Norma Corrêa, Pedro Ribeiro, Silvio Oricolli e Lucian Haro Revisão Nilza Batista Ferreira Fotos Shutterstock Ilustrações Davidson Projeto Gráfico e Diagramação Graf Digital Impressão Reproset Tiragem 10.000 exemplares Impresso em papel couché fosco LD 150 g, com verniz UV (capa) e couché fosco LD 90 g (miolo) Endereço Rua João Negrão, n0. 731 Cond. New York Building - 120. andar sl. 1205 - CEP 80010-200 - Curitiba - PR Telefones (41) 3322-5531 / 3203-5531 E-mail editor@documentoreservado.com.br

REVISTA DOCUMENTO RESERVADO Nº 30 - OUTUBRO/2010

Um naco de esperança T

ereza Assis de Lima Mendonça nasceu e vive até hoje na comunidade de pescadores de Vila Fátima, na Ilha do Superagui, município de Guaraqueçaba. Ativa, aos 57 anos de idade, dona Tereza atende ao rádio amador, rema até as comunidades vizinhas de Vila Rita e Abacateiro, para ver se tudo está em ordem e pesca o alimento do dia. Ela é agente comunitária e principal responsável, junto com o marido, Aníbal Mendonça, e os filhos Cristiano e Beto, pela realização de uma das maiores festas do nosso litoral: a Festa da Nossa Senhora de Vila Fátima que reuniu, em agosto deste ano, perto de 800 pessoas na pequena vila de pescadores com apenas 12 casas e na entrada no Canal do Varadouro, divisa do Paraná com São Paulo. O que nos chama ainda mais a atenção é a força de vontade das pessoas da comunidade. Como não havia habitantes suficientemente para a manutenção de uma escola no local, dona Tereza e a professora voluntária, arregaçaram as mangas e reuniram 12 habitantes para aulas diárias de alfabetização no precário postinho de saúde, onde há anos não aparece um médico sequer. Seo Aníbal, 67 anos, a própria dona Tereza, seo Salvador Mateus, 70 anos, e os demais, todos com idade acima de 60 anos, batem ponto diariamente na escolinha. Estão aprendendo a ler e a escrever e têm sonhos como, por exemplo, o dia em que a luz chegar à vila, poderão ter computador e navegar na internet. Hoje assistem televisão através de antenas parabólicas e com gerador de energia. A energia é solar, portanto, não suporta uma geladeira ou um chuveiro. Ao desembarcar, dia desses, na pequena ilha, onde a curiosidade de fotógrafo amador e pescador de fim de semana me fizeram apaixonar pela vila, achei estranho o fato de não encontrar ninguém na beira do barranco, onde as embarcações param para a descida das pessoas. Estavam todos na aula, que começa às 14 horas e termina às 18 horas. Imediatamente, vem o seo Aníbal e, depois, dona Tereza. E a aula continuava. “Que bonito”, disse com meus botões. Sinal de que ainda há um naco de esperança em erradicar o analfabetismo no Paraná, onde quer que ele esteja. Bonito também é saber que vem aumentando o número de escolas em comunidades quilombolas do País. A exaltação do negro guerreiro é uma das características de um tipo de estabelecimento de ensino que só apareceu em 2004 e cresce rápido pelo Brasil: as escolas quilombolas. À primeira vista, são instituições comuns, com a mesma estrutura física e disciplinas das outras escolas públicas, mas a cultura em que estão inseridas as difere em público e rotina. Quilombola significa grupo formado por descendentes de escravos foragidos em quilombos. Embora o tema remeta ao passado, em termos de educação é bastante novo. O primeiro Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) a citar as instituições foi o de 2004, quando havia 364 delas em todo o País. Agora, já são 1.696. Inaugurada em 2005, a escola Maria Antonia Chules Princesa, no Vale do Ribeira, é uma instituição estadual, que fica no Quilombo André Lopes, na cidade de Eldorado (SP). Como é a única da região que oferece até o ensino médio, atende às quilombolas vizinhas de Ivaporunduva, Pedro Cubas, São Pedro e Pilões, todas no mesmo município. Das escolas quilombolas atuais, 56% se concentram no Maranhão, na Bahia, em Minas Gerais, em Pernambuco e no Pará, mas com exceção do Acre, Amazonas e Rondônia, todos os Estados já possuem alguns desses estabelecimentos de ensino. Pedro Ribeiro

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DILMA PRESIDENTE Primeira mulher eleita para a Presidęncia do Brasil, a petista Dilma Rousseff terá de assumir o desafio de suceder o presidente mais popular da história do País, implementar sua marca e enfrentar uma oposiçăo mordida com derrotas para o PT

LONGE DO ALVO Năo é de agora que há críticas contra o resultado de pesquisas eleitorais e os institutos que as realizam. Neste ano as denúncias de manipulaçăo se acentuaram, a ponto de deputados quererem impedir que sejam divulgadas no Paraná

SAÚDE EMBUTIDA Além de saborosos, os embutidos, como os salames, podem ganhar aliados que fomentem ainda mais o seu consumo: pesquisa desenvolvida no Paraná deve incorporar a utilizaçăo de bactérias probióticas na formulaçăo desse alimento

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17 TODOS PELO PARANÁ O governador Beto Richa (PSDB) e os senadores Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requiăo (PMDB), eleitos no dia 3 de outubro, prometem empenho junto ao Governo de Dilma Rousseff em benefício do Estado

18 OLHOS ABERTOS A primeira senadora eleita pelo Paraná, Gleisi Hoffmann (PT), adianta que exigirá do próximo Governo do Brasil atençăo maior ao Estado. Apesar de ser colega de partido da presidente eleita, já avisa: “Estarei lá para cobrar também.”

POMO DA DISCÓRDIA Até meados de outubro, o governador Orlando Pessuti havia enviado ŕ Assembleia Legislativa do Paraná 51 projetos. Isso gerou discórdia entre os atuais deputados governistas e a bancada de apoio do próximo governo

38 GUERRA POLÍTICA Ex-aliados de longa data e agora adversários, apesar de pertencerem ao PMDB, o exgovernador Roberto Requiăo e o atual, Orlando Pessuti, tęm travado uma dura batalha, com direito a palavrőes em público

40 ALÉM DA CONTA A sociedade é cada vez mais onerada com a carga tributária brasileira imposta pela Uniăo, estados e municípios, que neste ano deve chegar a R$ 1,3 trilhăo, como mostra a Fiep na cartilha “Sombra do Imposto”

22 PRÁTICA CONDENÁVEL Condenada em verso e prosa e combatida pela Justiça Eleitoral, a antiga prática da compra de votos permanece viva no Brasil e mostra seu poder nos períodos eleitorais: ela se alimenta de dinheiro, favores e promessas

50 TEATRO EM CASA Fim da desculpa para năo ir ao teatro porque é caro ou por falta de tempo. Novidade ainda no Brasil, mas já disponível em Curitiba, o e-teatro permite que as pessoas assistam, pela internet, as montagens em tempo real

51 SANTA PÍLULA O urologista Sergio Bassi mostra, em artigo, os limites das pílulas contra a impotęncia sexual masculina, após enaltecer suas propriedades. E lembra que há casos em que só outros métodos garantem a “potęncia”

54 44 BONS VENTOS Deixando a especulaçăo para trás, o cenário das commodities agrícolas deve ser pautado pela lei da oferta e procura na atual safra. Isso sinaliza com melhores preços para os grăos, especialmente para a soja

FADA MADRINHA Fernanda Richa, com vasto histórico de açőes sociais como primeira-dama de Curitiba, se prepara para desempenhar esse papel no Estado visando construir uma sociedade com melhor qualidade de vida

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Secretariado

O governador eleito, Beto Richa (PSDB), depois da segunda maratona política, onde acompanhou o candidato ŕ Presidęncia da República, José Serra (PSDB), em várias cidades do País e no Paraná, vai parar por 10 dias. Richa viajará com a família e somente após o dia 15 de novembro começa a estudar os nomes para compor o secretariado. Até agora, estăo certos os nomes de Flávio Arns (Educaçăo), José Richa Filho (Administraçăo), Gustavo Fruet (Copel ou Sanepar), Deonilson Roldo (Comunicaçăo Social) e Ivan Bonilha (Procuradoria Geral do Estado).

Broxar é normal?

Quem responde é o médico Sergio Bassi: “Todo homem, em algum momento de sua vida, deverá aceitar o fato de passar por algum episodio de impotęncia. Quem diz que nunca falhou, significa que ainda năo passou por um episódio deste ou está mentindo. Broxar também năo tem idade para acontecer. Devido ŕ complexa sexualidade masculina, inúmeras razőes podem afetar a potęncia do homem. Estresse e ansiedade săo apenas alguns dos fatores mais comuns”.

Ansioso e inseguro

Segundo ele, a impotęncia psicogęnica é uma das formas mais comuns. Além do mais, a impotęncia psicogęnica se retroalimenta em um circulo vicioso: “A cada nova falha o homem fica progressivamente mais ansioso e inseguro para a próxima relaçăo sexual, sendo a ansiedade e insegurança alguns dos fatores determinantes da impotęncia.” Este fator psicológico que se retroalimenta, piorando a impotęncia, ocorre mesmo nos casos de impotęncia de origem orgânica, neste caso, adicionando a causa psicogęnica ao problema orgânico, a relaçăo sexual se torna praticamente impossível.

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Lei seca

Em Apucarana, a Polícia Militar local ficou uma fera, depois que teve a sede do Sistema de Atendimento Móvel de Urgęncia atingido por tręs balaços. Em represália, cassou o Alvará da Boate Fusion, que funciona nas proximidades do móvel policial restringindo o horário de funcionamento para só até ŕs 23 horas. Como justificativa, alega denúncias da presença de menores de idade frequentando o local, se embriagando e provocando confusőes.

Como resolver

Quando mais de dois episódios de impotęncia ocorrem em sequencia, o mais indicado é procurar o auxilio de um profissional médico especializado na área da sexualidade masculina, geralmente um urologista. Mesmo que o caso seja somente psicogęnico, o simples fato de ouvir uma opiniăo especializada irá confortar e tranquilizar o homem, ajudando-o a perder a ansiedade, insegurança e por vezes mesmo o pânico dos próximos atos sexuais. Medicamentos para a ereçăo, quando bem indicados, podem ser úteis para ajudar o homem a fugir do circulo vicioso de insegurança na impotęncia psicogęnica.


sintonia fina

Pérola do judiciário

Xô desgraça

Depois de sobreviver dentro do olho do furacăo, com a grande mídia paranaense fungando no seu cangote, o presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, deputado Nelson Justus (DEM), reeleito para mais um mandato parlamentar, respirou aliviado. Para comemorar a vitória e relaxar, passou măo nos molinetes e varas de pescar e foi para o Pantanal, onde se deliciou com belos exemplares de pacus, pintados e dourados. Com ele, estava o coordenador geral da campanha de Beto Richa, Joăo Elísio Ferraz de Campos.

Herança política

Alexandre Curi (PMDB), campeăo de votos nesta eleiçăo, vai ser pai de gęmeos e poderá integrar a equipe de Beto Richa no Governo. Curi, embora do PMDB, fez uma campanha silenciosa e provou a todos que realmente herdou o gene político do avô Aníbal Curi. Deu de ombros para as críticas – também da grande mídia – e colocou o pé na estrada. Depois de andar por praticamente todos os municípios, comemorou a vitória com perto de 150 mil votos.

Alto risco

A soma dos fatores drogas e periferias urbanas tem grande potencial para resultar em exploraçăo sexual de pessoas com menos de 18 anos. A avaliaçăo vem do Mapeamento dos Pontos de Exploraçăo Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras, divulgado pela Polícia Rodoviária Federal. A pesquisa levantou 1.820 pontos vulneráveis ŕ exploraçăo sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais. Eles apresentam prostituiçăo adulta, tráfico ou consumo de drogas, presença constante de crianças e adolescentes e ocorręncias de exploraçăo de pessoas com menos de 18 anos nos últimos dois anos.

Na sala de Justiça, a criatura pede danos morais porque era obrigado a andar com uma cobra de madeira na empresa. O cara juntou a cobra ao processo e a instruçăo: “que conhece a cobra do reclamante; que já viu o reclamante com a cobra exposta; que o reclamante andava com a cobra ŕ vista na empresa; que todos no setor já viram a cobra do reclamante”. Pode!

Ferro nos bebuns

O bicho está pegando em Londres. O prefeito de Londres, Boris Johnson, quer adotar na cidade um esquema que obrigaria pessoas que cometeram crimes quando alcoolizadas a ficar sóbrias por certos períodos de tempo. Esses cidadăos, condenados por crimes associados ao consumo de álcool, serăo obrigados a fazer o teste do bafômetro duas vezes por dia. Se falharem, terăo de passar 24 horas na cadeia.

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política

Um enigma Com o apoio contundente do presidente Lula, a candidata do PT Dilma Rousseff saiu do anonimato e conseguiu ser eleita à Presidência da República em sua primeira eleição. Agora tem de provar que tem luz própria.

O

Brasil acaba de passar por mais um grande teste dentro do seu avançado processo de democracia que hoje, serve de exemplo ao mundo, ao eleger pela primeira vez em sua história, uma mulher para comandar os destinos da Nação: Dilma Rousseff, 62 anos, escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e adotada pelo PT. Depois de passar pelo maior desafio de sua vida, já que nunca havia disputado uma eleição, a ex-ministra da Casa Civil terá agora, o grande desafio de suceder o presidente mais popular da história política brasileira e caminhar com as próprias pernas. Outro desafio para a presidente eleita será o de enfrentar uma oposição que vem, literalmente, mordida pela sucessiva derrota ao PT de Lula que está no comando do País há oito anos. Se as atuais oposições pretendem voltar ao poder em 2015, depois das eleições de 2014, têm de começar a enfrentar o Governo desde já. E parece que isto ficou claro até na disposição do candidato derrotado, José Serra (PSDB), que avisou: “Vou estar ativo na política.” Outra liderança que manifestou oposição forte é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). As oposições governarão mais da metade da população brasileira. Consciente de que terá oposição forte, tanto no Congresso Nacional como nas lideranças partidárias nos estados e municípios, Dilma se antecipou e falou em conciliação, justamente para poder governar. Em seu discurso afirmou que os interesses do País estão acima das desavenças partidárias ou pessoais dentro do processo político. O próprio Lula sempre se pautou como um conciliador e abriu o peito pedindo votos em benefício do povo.

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Norma Corrêa e Pedro Ribeiro

a desvendar Além das oposições, as reformas tributária e previdenciária são pontos cruciais na administração de Dilma Rousseff e necessárias para que o Brasil cresça nos próximos anos. Historicamente, a questão previdenciária só é amplamente discutida no Congresso Nacional em períodos de crise, a exemplo do que está ocorrendo atualmente em vários países na Europa. No Brasil, o tema só entrou em pauta em 1999 e 2003, anos economicamente complicados. A conjuntura econômica atual favorável fornece argumentos contrários à reforma, o que sinaliza com grande desafio à equipe do novo governo. Em relação à reforma tributária, ela também impõe um alto custo político à sua implementação. Lula foi o quarto governante derrotado pela enorme resistência em reformar o sistema de impostos e contribuições estabelecido pela Constituição de 1988. O maior entrave é, de longe, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de receita dos estados. Receosos de perder arrecadação, os governadores fazem pressão contra as tentativas de simplificação ou redução das alíquotas. Assim, a reforma não avança e a complexa estrutura tributária brasileira continua sendo pesada, pouco transparente e injusta. Dilma, em seus discursos, tem demonstrado interesse e disposição para avançar nas reformas tributária e previdenciária. Não falou em redução da carga, mas em simplificação. A “reforma das reformas” é “prioridade” para a petista, embora ela não tenha dado

Tão logo o resultado das urnas deu a vitória de Dilma Rousseff, a militância petista saiu às ruas de todo o País para comemorar

muitos detalhes de como trabalhará a questão. Mas como essa proposta depende mais do Congresso do que da presidente, a concretização fica refém de sua capacidade de conquistar o apoio dos parlamentares.

Laranja ou luz própria A petista Dilma Rousseff – eleita com 55.752.529 votos (56,05%), enquanto seu opositor, José Serra, totalizou 43.711.388, o que correspondeu a 43,95% dos votos válidos – assume a Presidência da República no dia 1º de janeiro de 2011, como um grande enigma a ser desvendado. Ela terá pela frente alguns desafios a superar, como, por exemplo, sair da sombra do presidente Luiz Inácio Lula da

Silva para construir a sua própria identidade e mostrar que tem capacidade de articulação. Terá ainda a missão, já que é a primeira vez que disputa uma eleição, de esclarecer o rumo e as diferenças de seu governo, para desvincular a idéia de que Lula poderá estar por trás do comando na Presidência da República. Para a cientista política, Lúcia Hipólito, Dilma ascendeu ao poder não só por causa do apoio do presidente Lula, mas também porque a máquina pública atuou “pesado” para ajudar a elegê-la. “Por isso, não acredito que ela vá ser apenas um pau mandado de Lula. Ela não será laranja nesse processo. Creio que deva buscar luz própria”, disse. O professor Marco Antônio Villa, da Universi-

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política

dade Federal de São Carlos (SP) faz a mesma avaliação quanto ao desafio de Dilma de se dissociar do presidente Lula. “Mas se ela continuar mantendo esses laços, mostrará que é uma criatura que age pela demanda do criador. Ela precisa mostrar que não está sendo teleguiada pelo PT”, resumiu. Segundo Lúcia Hipólito, a luz própria da nova presidente brasileira será colocada à prova por ocasião da montagem da equipe ministerial, quando os aliados já deram o tom de como vão encaminhar o assunto. O PMDB do vice de Dilma, Michel Temer já avisou que na repartição do “pão” não vai aceitar ministérios de pouca importância e, ao que tudo indica, vem com gula na distribuição de cargos. “Dilma certamente vai enfrentar uma boa briga na formação do seu ministério. Ela vai ter que contentar e administrar os arroubos de aliados que vai de Paulo Maluf (PP) ao José Rainha (líder do MST)”, disse, ao acrescentar que, um dos grandes feitos do presidente Lula foi ter conseguido unir a oposição, na reta final da campanha presidencial do segundo turno. Até então, na opinião da cientista política, os oposicionistas estavam esparsos, sem rumo e perdidos na função de opositores. E mais ainda, ela aposta que os senadores eleitos por Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS), podem despontar como as lideranças da oposição no Congresso Nacional. De acordo com Lúcia, agora começam as especulações sobre quem vai assumir o comando dos 36 ministérios. E um deles é o

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fortalecimento da Casa Civil, e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci seria o indicado para fazer o papel de articulador político. “Até há pouco tempo a Casa Civil não tinha a relevância que tem hoje. É uma pasta de articulação e o ministro atua como primeiro-ministro. No entanto, além da Casa Civil, para Beto Richa, governador eleito, trabalhou até os últimos momentos pela eleição de os outros ministérios, existem muiJosé Serra no Paraná e em outros estados tos candidatos para poucas cadeiras. Por isso, resta saber como vai as e religiosas, além de zelar pela “ampla e ser o jogo de cintura de Dilma para resolver irrestrita liberdade de imprensa” e combater a esse problema”, disse, adiantando que o chancorrupção. Ela assegurou que está sendo coeceler Celso Amorim e os ministros Guido Manrente com as suas idéias e princípios que detega e Nelson Jobim não devem permanecer fendia nos anos 70. “Não sucumbimos aos no novo governo. “Certamente será uma dismodismos ideológicos. Persistimos em nossas puta muito acirrada para compor a equipe convicções, buscando, a partir delas, consministerial e Dilma poderá fazer a partilha truir alternativas concretas e realistas”, disse. negociada do Estado. Resta saber se ela terá Dilma pregou a união do País, mesmo nas jogo de cintura suficiente para impedir o sadivergências e, ao agradecer os votos recebique das estatais”, emendou o professor Villa. dos, acenou pela composição com os partidos Segundo Villa, a oposição terá uma tarefa de oposição e com os eleitores que votaram árdua no Congresso Nacional. “A Câmara não em Serra. “Estendo minha mão a eles. De mipoderá contar mais com Fernando Gabeira nha parte não haverá discriminação, privilégi(PV ) e Gustavo Fruet (PSDB) que representaos ou compadrio”, afirmou. ram papel político de fundamental importânTambém fez um chamamento aos emcia na oposição. Agora, está muito difícil idenpresários, às igrejas, governadores, prefeitificar uma liderança de oposição na Câmara, tos e “todas as pessoas de bem” para se unir onde Dilma terá maioria. Mas, nessa maioria pela erradicação da miséria, compromisso governista pode haver insatisfação na distriassumido pelo presidente Lula, no seu pribuição de cargos e esses podem se insurgir meiro mandato, e assegurou que essa “amcontra o Governo”, avaliou. biciosa meta” não será realizada apenas pela vontade do Governo. “Não podemos desCombate à corrupção cansar enquanto houver brasileiros com Horas depois de ser considerada eleita pelo fome, enquanto houver famílias morando Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no dia 31 nas ruas, enquanto crianças pobres estivede outubro, Dilma Rousseff fez um pronuncirem abandonadas à própria sorte”, disse. amento emocionado e não conseguiu segurar Dilma também fez questão de lembrar o o choro, embora seja conhecida por seu tem“apoio” do presidente Lula, admitindo que peramento forte. O discurso foi conciliador ele foi o grande responsável por sua vitória prometendo respeitar as diferenças partidárie que sempre vai recorrer ao “padrinho” quando se defrontar com dificuldades. “BaLula e Dilma, criador e criatura, saem terei muito à sua porta e, tenho certeza, a vitoriosos nas eleições deste ano. encontrarei sempre aberta. Ter a honra de Lula promete voltar em 2014


Confira o resultado das urnas no País Estados onde Serra foi vitorioso: seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda”, afirmou.

Momentos equivocados Lúcia Hipólito disse que o ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB) escolheu os momentos errados para disputar a eleição presidencial. Segundo ela, em 2002, quando os brasileiros queriam mudanças, Serra usou o discurso da continuidade, e, em 2010, quando a população queria a continuidade, o tucano optou por defender a mudança. “Ou seja, Serra era o homem errado na hora errada. Além do mais, a oposição não foi competente, porque, numa eleição difícil de ganhar, errou muito. E não foram poucos os erros: Lula aparecendo na propaganda do Serra; o tucano demorou muito para se identificar como candidato; demorou três meses para anunciar o vice que, a exceção do Rio de Janeiro, era um ilustre desconhecido no restante do País”, apontou. E disse ainda que, em 2014, será outro grande desafio para a oposição, já que Lula está disposto a disputar novamente a Presidência da República. “Se venceu Dilma, que era desconhecida no País e foi eleita graças a atuação de Lula, imaginem como será quando Lula se colocar como candidato? A oposição tem que se mexer se não quiser fazer feio nas urnas”, ensinou. De acordo com os analistas, embora o PT sempre tenha defendido a alternância no poder, as eleições de Lula (2002 e 2006), Dilma (2010), e a possibilidade da volta de Lula em 2014, dará ao PT 20 anos no poder. Dizem que Dilma poderá fazer um mandato tampão, uma vez que a legislação não permite mais de uma reeleição, para preparar a volta de Lula, em 2014. Enquanto isso não acontece, o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, anunciou, pouco antes do encerramento da apuração dos votos na eleição do segundo turno, quando a vitória de Dilma Rousseff já estava selada, que já está tudo pronto para a transição. E, respondendo a jornalistas sobre Dilma ser “laranja” de Lula, o ministro assegurou que “ela tem luz própria e que terá seu próprio estilo de governar”.

Base aliada Os partidos da base aliada da presidente eleita Dilma Rousseff comandarão 17 dos 27 estados brasileiros a partir de 2011: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Sergipe e Mato Grosso do Sul.

Oposição As legendas da oposição ficam com Alagoas, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

No Paraná O tucano José Serra foi confirmado como o favorito dos paranaenses, também no segundo turno: fez 55,44% dos votos, enquanto que Dilma Rousseff (PT) ficou com 44,56%. Em Curitiba, maior colégio eleitoral do Estado, Serra ficou com 63% dos votos e Dilma com 36%; em Londrina, Serra fez 75% dos votos e Dilma, 24%; em Maringá, Serra fez 61% dos votos e Dilma 38%; em Ponta Grossa, Serra teve 54% dos votos e Dilma 44%; em Paranaguá, Serra fez 65% dos votos e Dilma fez 34%; em São José dos Pinhais, Serra teve 51% dos votos contra 48% de Dilma.

Rio Grande do Sul José Serra – 50% Dilma Rousseff – 49%

Santa Catarina José Serra – 56% Dilma Rousseff – 43%

Paraná José Serra – 55% Dilma Rousseff – 44%

Săo Paulo José Serra – 54% Dilma Rousseff – 44%

Mato Grosso do Sul José Serra – 55% Dilma Rousseff – 44%

Goiás José Serra – 50% Dilma Rousseff – 49%

Mato Grosso José Serra – 51% Dilma Rousseff – 48%

Roraima José Serra – 66% Dilma Rousseff – 33%

Acre José Serra – 69% Dilma Rousseff – 30%

Rondônia José Serra – 52% Dilma Rousseff – 47%

Espírito Santo Serra – 50% Dilma – 49%

Estados onde Dilma foi vitoriosa Minas Gerais Dilma – 58% Serra – 41%

Rio de Janeiro Dilma – 60% Serra – 39%

Bahia

Dilma – 70% Serra – 29%

Sergipe

Dilma – 53% Serra – 46%

Alagoas

Dilma – 53% Serra – 46%

Pernambuco Dilma – 75% Serra – 24%

Maranhăo Dilma – 79% Serra – 20%

Rio Grande do Norte Dilma – 59% Serra – 40%

Tocantins

Dilma – 58% Serra – 41%

Ceará

Dilma – 77% Serra – 22%

Paraíba

Dilma – 53% Serra – 46%

Amapá

Dilma – 62% Serra – 37%

Amazonas Dilma – 80% Serra – 19%

Piauí

Dilma – 69% Serra – 30%

Distrito Federal Dilma – 52% Serra – 47%

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política

Dilma Vana Rousseff Dilma Rousseff nasceu em Belo Horizonte, no dia 14 de dezembro de 1947. É economista e foi ministra-chefe da Casa Civil do Governo Lula. Nascida em família de classe média alta e educada de modo tradicional, interessou-se pelos ideais socialistas durante a juventude, logo após o Golpe Militar de 1964. Iniciando na militância, integrou organizaçőes que defendiam a luta armada contra o regime militar, como o Comando de Libertaçăo Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares). Passou quase tręs anos presa entre 1970 e 1972, primeiramente na Oban (onde passou por sessőes de tortura) e depois no DOPS. Reconstruiu sua vida no Rio Grande do Sul, onde junto com o companheiro por mais de 30 anos, Carlos Araújo, ajudou na fundaçăo do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e participou ativamente de diversas campanhas eleitorais. Exerceu o cargo de secretária municipal da Fazenda de Porto Alegre no governo Alceu Collares e mais tarde foi secretária estadual de Minas e Energia, tanto no governo de Alceu como no de Olívio Dutra, no meio do qual se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) em 2001. Participou da equipe que formulou o plano de governo na área energética na eleiçăo de Luiz Inácio Lula da Silva ŕ Presidęncia da República em 2002, onde se destacou e foi indicada para titular do Ministério de Minas e Energia. Novamente reconhecida por seus méritos técnicos e gerenciais, foi nomeada ministra-chefe da Casa Civil devido ao escândalo do mensalăo, crise que levou ŕ renúncia do entăo ministro José Dirceu. Foi considerada pela Revista Época uma dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.

Infância e início da juventude Dilma é filha do advogado e empreendedor búlgaro naturalizado brasileiro Pedro Rousseff e da dona de casa Dilma Jane Silva. Seu pai, parente distante do escritor Ran Bosilek, manteve estreita amizade com a poetisa búlgara Elisaveta Bagriana, foi filiado ao Partido Comunista da Bulgária e frequentava os círculos literários nos anos 1920. Chegou ao Brasil no fim da década de 1930, já viúvo, mas se mudou para Buenos Aires e anos depois retornou ao Brasil, fixando-se em Săo Paulo, onde prosperou. Em uma viagem a Uberaba conheceu Dilma Jane Silva, moça fluminense de Nova Friburgo, professora de vinte anos, criada no interior de Minas Gerais, onde seus pais eram pecuaristas. Casaram-se e fixaram residęncia em Belo Horizonte, onde tiveram tręs filhos: Igor, Dilma Vana e Zana Lúcia (morta em 1976). Pedro Roussef trabalhou para a siderúrgica Mannesmann, além de construir e vender imóveis. Vencida a resistęncia inicial da sociedade local contra os estrangeiros, passaram a frequentar os clubes e as escolas mais tradicionais. Incentivada pelo pai, Dilma adquiriu cedo o gosto pela leitura. Falecido em1962, Pedro Roussef deixou de herança por volta de 15 imóveis de valor. De 1952 a 1954, cursou a pré-escola no colégio Isabela Hendrix e a partir de 1955 iniciou o ensino fundamental no Colégio Nossa Senhora de Sion, em Belo Horizonte. Em 1964, prestou concurso e ingressou no Colégio Estadual Central (atual Escola Estadual Governador Milton Campos), ingressando na primeira série do curso clássico (ensino médio). Nessa escola pública o movimento estudantil era ativo, especi-

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almente por conta do recente golpe militar. De acordo com ela, foi nesta escola que ficou “bem subversiva” e que percebeu que o mundo năo era para “debutante”, iniciando sua educaçăo política. Ainda em 1964, ingressou na Política Operária (Polop), uma organizaçăo fundada em 1961, oriunda do Partido Socialista Brasileiro, onde militou ao lado de José Aníbal. Seus militantes logo viram-se divididos em relaçăo ao método a ser utilizado para a implantaçăo do socialismo: enquanto alguns defendiam a luta pela convocaçăo de uma assembleia constituinte, outros preferiam a luta armada. Dilma ficou com o segundo grupo, que deu origem ao Comando de Libertaçăo Nacional (COLINA). Foi nessa época que conheceu Cláudio Galeno Linhares, cinco anos mais velho, que também defendia a luta armada. Galeno, que ingressara na POLOP em 1962, havia servido no Exército, participara da sublevaçăo dos marinheiros por ocasiăo do golpe militar e fora preso na Ilha das Cobras. Casaram-se em 1967, apenas no civil, depois de um ano de namoro. Carlos Araújo foi escolhido como um dos seis dirigentes da VAR Palmares, que se autointitulava “uma organizaçăo político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propőe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construçăo do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”. Dilma era a grande líder da organizaçăo clandestina VAR-Palmares. Usando vários codinomes, como Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda, teria recebido epítetos superlativos dos relatórios da repressăo, definindo-a como “um dos cérebros” dos esquemas revolucionários.

Prisão Uma série de prisőes de militantes conseguiu capturar José Olavo Leite Ribeiro, que se encontrava tręs vezes por semana com Dilma. Conforme o relato de Ribeiro, após um dia de tortura, revelou o lugar onde se encontraria com outro militante, em um bar na Rua Augusta. Em 16 de janeiro de 1970, obrigado a ir ao local acompanhado de policiais disfarçados, seu colega também foi capturado e, quando já se preparavam

para deixar o local, Dilma, que năo estava sendo esperada, chegou. Percebendo que algo estava errado, Dilma tentou sair do local sem ser notada. Mais tarde, ela denunciou as torturas em processos judiciais, inclusive dando nome de militares que participaram dos atos, como o capităo do Exército Benoni de Arruda Albernaz, referido por diversas outras pessoas. Ainda que tenha revelado o nome de alguns militantes, conseguiu preservar Carlos Araújo (que só viria a ser preso vários meses depois) e sua ajudante no recolhimento das armas, Maria Celeste Martins. Seu nome estava numa lista, encontrada na casa de Carlos Lamarca, com presos a que se daria prioridade para serem trocados por sequestrados, mas nunca foi trocada e cumpriu a pena regularmente. Carlos Araújo foi preso em 12 de agosto de 1970. Durante o período em que Dilma esteve presa, Araújo teve um rápido romance com a atriz e simpatizante da organizaçăo, Bete Mendes. Em dezembro de 2006, a Comissăo Especial de Reparaçăo da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro aprovou um pedido de indenizaçăo de Dilma e outras 18 pessoas presas em dependęncias de órgăos policiais do governo estadual paulista na década de 1970. Em seu processo, foi fundamental o depoimento de Vânia Abrantes, que esteve com ela na mesma viatura policial em uma viagem de Săo Paulo para o Rio de Janeiro (Vânia era a companheira de Carlos Araújo quando ele e Dilma começaram seu relacionamento). Pediu ainda indenizaçăo nos estados de Săo Paulo e Minas Gerais, pois além de ser presa em Săo Paulo, foi levada a interrogatório em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro. Também pediu indenizaçăo ao Governo Federal. Nos tręs estados, as indenizaçőes, fixadas em lei, podem chegar a R$ 72 mil reais. A assessoria de Dilma, afirma que os pedidos tęm caráter simbólico, além do que teria solicitado que os processos só fossem julgados após seu afastamento dos cargos públicos.

Mudança para Porto Alegre Dilma saiu do Presídio Tiradentes no fim de 1972, com 57 kg, dez quilos mais magra e com uma disfunçăo na tireoide. Havia sido condenada

em alguns processos e absolvida em outros. Passou um período com sua família em Minas Gerais para se recuperar, ficou algum tempo com uma tia em Săo Paulo e depois mudou para Porto Alegre, onde Carlos Araújo cumpria os últimos meses de sua pena. Ficou na casa dos sogros, de onde se avistava o presídio onde estava Araújo. Dilma o visitava com frequęncia, levando jornais e até livros políticos, disfarçados de romances. Desativado o Presídio da ilha das Pedras Brancas, Araújo cumpriu o restante da pena no Presídio Central. Punida por subversăo de acordo com o Decreto-lei 477, considerado o AI-5 das universidades, ela foi expulsa da Universidade Federal de Minas Gerais e impedida de retomar seus estudos naquela universidade em 1973, o que fez Dilma prestar vestibular para Cięncias Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Graduou-se em 1977, năo tendo participado ativamente do movimento estudantil. No ano anterior, em março, nasceu sua única filha, Paula Rousseff Araújo. Sua primeira atividade remunerada após sair da prisăo foi de estagiária na Fundaçăo de Economia e Estatística (FEE), vinculada ao governo do Rio Grande do Sul. Sobre a polęmica a respeito de sua titulaçăo, Dilma declarou que: “Fiz o curso de mestrado, mas năo o concluí e năo fiz dissertaçăo. Foi por isso que voltei ŕ universidade para fazer o doutorado. E aí eu virei ministra e năo concluí o doutorado.” A universidade informa que ela nunca se matriculou oficialmente no mestrado.

Carreira política Com o fim do bipartidarismo, Dilma participou junto com Carlos Araújo, dos esforços de Leonel Brizola para a recriaçăo do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Após a perda da sigla para o grupo de Ivete Vargas, participou da fundaçăo do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Araújo foi eleito deputado estadual em 1982, 1986 e 1990. Foi também duas vezes candidato a prefeito de Porto Alegre, perdendo para os petistas Olívio Dutra, em 1988, e Tarso Genro, em 1992. Dilma conseguiu seu segundo emprego na primeira metade dos anos 1980 como assessora da bancada do PDT na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

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política

Secretária Municipal da Fazenda Araújo e Dilma dedicaram-se com afinco na campanha de Alceu Collares ŕ prefeitura de Porto Alegre, em 1985, sendo que em sua casa foi preparada grande parte da campanha e do programa de governo. Eleito prefeito, Collares a nomeou titular da Secretaria Municipal da Fazenda, seu primeiro cargo executivo. Collares reconhece a influęncia de Araújo na indicaçăo, mas ressalta que também contribuiu a competęncia de Dilma. Ali ela permaneceu até 1988, quando se afastou para se dedicar ŕ campanha de Araújo ŕ prefeitura de Porto Alegre. Enquanto Collares lembra da gestăo de Dilma como exemplo de competęncia e transparęncia, Políbio Braga discorda, lembrando que “ela năo deixou sequer um relatório, e a secretaria era um caos”. A derrota de Araújo na candidatura a prefeito alijou o PDT dos cargos executivos. Em 1989, contudo, Dilma foi nomeada diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, mas acabou demitida do cargo pelo presidente da casa, vereador Valdir Fraga, porque chegava tarde ao trabalho. Conforme Fraga, “eu a exonerei porque houve um problema com o relógio de ponto”.

Secretária Estadual de Energia, Minas e Comunicações Em 1990, Alceu Collares foi eleito governador, indicando Dilma para presidente da Fundaçăo de Economia e Estatística, onde ela estagiara na década de 1970. Permaneceu ali até o fim de 1993, quando foi nomeada Secretária de Energia, Minas e Comunicaçőes, sustentada pela influęncia de Carlos Araújo e seu grupo político. Ficou no cargo até final de 1994, época em que seu relacionamento com Araújo chegou ao fim. Depois reconciliaram-se e permaneceram juntos até 2000, quando Dilma foi morar sozinha em um apartamento alugado. Em 1995, terminado o mandato de Alceu Collares, Dilma afastou-se dos cargos políticos e retornou ŕ FEE, onde foi editora da revista Indicadores Econômicos. Foi nesse intervalo que se matriculou oficialmente no curso de doutorado da Unicamp, em 1998. Em 1998, o petista Olívio Dutra ganhou as eleiçőes para o governo gaúcho com o apoio do

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PDT no segundo turno, e Dilma retornou ŕ Secretaria de Minas e Energia. Na sua gestăo, a capacidade de atendimento do setor elétrico aumentou 46%, devido a um programa emergencial de obras onde participaram estatais e empresas privadas.

tas. Amigo de Lula, Pinguelli foi nomeado presidente da Eletrobrás e protagonizou grandes divergęncias com a ministra, chegando a colocar o cargo ŕ disposiçăo. Ironizava as oscilaçőes de humor de Dilma.

Ministra de Minas e Energia

Ministra-Chefe da Casa Civil

Os assuntos relacionados ŕ área de minas e energia na plataforma do candidato Lula eram discutidos em reuniőes coordenadas pelo físico e engenheiro nuclear Luiz Pinguelli Rosa. Outro destaque do grupo era Ildo Sauer, sendo ambos totalmente contrários ŕs privatizaçőes no setor, que em sua visăo eram as responsáveis pelos problemas energéticos que o País passava. Dilma foi convidada por Pinguelli a participar do grupo em junho de 2001, onde chegou tímida para integrar uma equipe com vários professores, mas logo se sobressaiu com sua objetividade e bom conhecimento do setor. Para todos no grupo, contudo, era evidente que Pinguelli seria o ministro de Minas e Energia, caso Lula vencesse a eleiçăo em 2002. Foi grande a surpresa quando Lula, eleito, escolheu Dilma para titular da pasta. Teria pesado muito a simpatia que Antonio Palocci nutria por Dilma, reconhecendo que teria trânsito muito mais fácil junto ao setor privado do que Pinguelli, além de ter apoiado a Carta aos Brasileiros, concordando com as mudanças no partido. Sua gestăo no Ministério foi marcada pelo respeito aos contratos da gestăo anterior, pelos esforços em evitar um novo apagăo e pela implantaçăo de um modelo elétrico menos concentrado nas măos do Estado, diferentemente do que queriam Luiz Pinguelli Rosa e Ildo Sauer. Quanto ao mercado livre de energia, Dilma năo só o manteve como o ampliou. Convicta de que investimentos urgentes em geraçăo de energia elétrica deveriam ser feitos para que o País năo sofresse um apagăo já em 2009, Dilma travou sério embate com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que defendia o embargo a várias obras, preocupada com o desequilíbrio ecológico que poderiam causar. José Dirceu, na época ministro-chefe da Casa Civil, teve que criar uma equipe de mediadores entre as ministras para tentar resolver as dispu-

Quando José Dirceu saiu do ministério por causa do escândalo do mensalăo, ao invés de ficar enfraquecida, Lula surpreendeu a escolhendo para a chefia da Casa Civil. O Consulado dos Estados Unidos em Săo Paulo encaminhou ao Departamento de Estado, logo após a posse de Dilma na Casa Civil, um dossię traçando seu perfil detalhado, falando de seu passado como guerrilheira, gostos e hábitos pessoais e características profissionais, sendo descrita como técnica prestigiada e detalhista, com fama de workaholic e com grande capacidade de ouvir, mas com falta de tato político, dirigindo-se ŕs vezes, conforme relatos de um assessor graduado, diretamente aos técnicos ao invés de seus superiores. Por causa do escândalo dos cartőes corporativos, que eclodiu em janeiro de 2008, atingindo o governo federal e causando a demissăo da ministra de Políticas de Promoçăo da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, a oposiçăo entrou com um pedido para a instalaçăo de uma Comissăo Parlamentar de Inquérito para investigaçőes mais aprofundadas. Em 22 de março de 2008, uma reportagem publicada pela revista Veja, afirmou que o Palácio do Planalto montou um dossię que detalhava gastos da família de FHC. A matéria diz que os documentos estariam sendo usados para intimidar a oposiçăo na CPI dos Cartőes Corporativos. A Casa Civil negou a existęncia de tal dossię, apresentando no espaço de 15 dias tręs versőes diferentes sobre o assunto, todas depois desmentidas pela imprensa. Em 28 de março, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma reportagem afirmando que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Alves Guerra, deu a ordem para a organizaçăo do dossię. Em entrevista coletiva em 4 de abril, Dilma reconheceu a feitura do banco de dados, mas descartou a conotaçăo política do mesmo. Disse que o vazamento de informaçőes e papéis federais é crime e que uma comissăo de inquérito interna iria


Programa de Governo Programas Sociais Manter e aprofundar a principal marca do governo Lula - seu olhar social -, ampliando programas como o Bolsa Família e implantando novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia. apurar o fato. Em 7 de abril, a Polícia Federal (PF) decidiu investigar o caso. Em 7 de maio, em audięncia na Comissăo de Infraestrutura do Senado Federal, respondeu questőes relativas ao dossię. As investigaçőes da PF concluíram que o responsável pelo vazamento foi o funcionário da Casa Civil José Aparecido Nunes, subordinado de Erenice Guerra entăo secretária executiva de Dilma Rousseff. Ele enviou passagens do dossię para o assessor do senador Álvaro Dias, André Fernandes, confirmando que o dossię existiu.

Caso Varig Em junho de 2008, a ex-diretora da Anac (Agęncia Nacional de Aviaçăo Civil) Denise Abreu afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que a Casa Civil favoreceu a venda da VarigLog e da Varig ao fundo norteamericano Matlin Patterson e aos tręs sócios brasileiros. Denise, que deixou o cargo em agosto de 2007, sob acusaçőes feitas durante a CPI do Apagăo Aéreo, relatou que a ministra Dilma Rousseff e a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, a pressionaram a tomar decisőes favoráveis ŕ venda da VarigLog e da Varig. Segundo ela, Dilma a desestimulou a pedir documentos que comprovassem a capacidade financeira dos tręs sócios (Marco Antônio Audi, Luís Eduardo Gallo e Marcos Haftel) para comprar a empresa, já que a lei proíbe estrangeiros de possuir mais de 20% do capital das companhias aéreas. Dilma negou as acusaçőes e Denise Abreu năo apresentou nenhum documento ou prova que sustentasse suas acusaçőes.

Programa de Aceleração do Crescimento Dilma Rousseff é considerada pelo governo a gerente do Programa de Aceleraçăo de Crescimento (PAC). Lula também a chamou de “măe” do PAC, designando-a responsável pelo programa em todo o país e informando que a populaçăo deve cobrar dela o andamento das obras. Quanto ao ritmo das obras, Dilma alegou que o País năo tem o elevado grau de eficięncia da Suíça, mas tem conseguido acelerar os mai-

Educação de Qualidade Priorizar a qualidade da educaçăo, contemplando medidas como o treinamento e a remuneraçăo de professores; bolsas de estudo e apoio para que os alunos năo sejam obrigados a abandonar a escola; e salas de aula informatizadas e com acesso ŕ banda larga. Proteger as crianças e os mais jovens da violęncia, do assédio das drogas e da imposiçăo do trabalho em detrimento da formaçăo escolar e acadęmica. E, simultaneamente, oferecer aos jovens a oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e a perspectiva de realizaçăo pessoal. Ampliar e disseminar pelo Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis.

Saúde Para Todos Aprimorar a eficácia do sistema de saúde, garantindo mais recursos para o SUS, reforçando as redes de atençăo ŕ saúde e unificando as açőes entre os diferentes níveis de governo; dedicando uma atençăo ainda maior aos hospitais públicos e conveniados, as novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), ao SAMU e a programas como o Saúde da Família, o Brasil Sorridente e a Farmácia Popular.

Reforma Urbana Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas da populaçăo. Melhorar a habitaçăo e universalizar o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente. E reforçar os programas de segurança pública.

Meio Ambiente Fortalecer a proteçăo ao meio ambiente, reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo; mantendo a vanguarda nacional na produçăo de biocombustíveis e desenvolvendo nosso potencial hidrelétrico; e cumprindo as metas voluntárias assumidas na Conferęncia do Clima, haja ou năo acordo internacional.

Indústria, Agricultura e Inovação Aprofundar os avanços da política industrial e agrícola, enfatizando a inovaçăo, o aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito e o aumento da produtividade. Agregar valor a nossas riquezas naturais e produzir tudo o que pode ser produzido no Brasil. Continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistęncia técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.

Transparência Manter a transparęncia dos gastos públicos e aperfeiçoar seus mecanismos de controle. Combater a corrupçăo, utilizando todos os mecanismos institucionais. Concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que năo puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas, como a reforma política e a tributária. Aprofundar a postura soberana do Brasil no mundo, defendendo intransigentemente a paz mundial e uma ordem econômica e política mais justa. Manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflaçăo e a política de câmbio flutuante.

ores projetos.

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política

Pedro Ribeiro

Foco no Paraná O

governador eleito, Beto Richa (PSDB), não acredita em retaliação do Gover no Federal ao Paraná. Logo após a confirmação da vitória de Dilma Rousseff para a Presidência da República, disse que vai continuar sendo um soldado do partido e, sempre que for chamado, estará à disposição. Ele lembrou que, assim como havia prometido, o candidato do partido à sucessão do presidente Lula, José Serra, mais que dobrou os seus votos no Paraná. “Como prefeito de Curitiba, sempre tive bom relacionamento com o governo federal. No Governo do Estado, espero que o relacionamento seja o mesmo. Mas é evidente que, com o Serra presidente, a história seria diferente, pois temos afinidades políticas e uma amizade pessoal. E ainda teríamos o mesmo partido no poder no Estado e no Governo Federal. Além de tudo isso, o Serra já demonstrou em inúmeras oportunidades sua identidade com nosso Estado”, disse. Richa garantiu que não vai fazer o papel de oposição, porque essa postura cabe ao Congresso Nacional. “Parece que a sociedade brasileira não entendeu as propostas de Serra.

Além do mais, o presidente Lula, que tem uma popularidade gigantesca, pediu, e muito, votos para Dilma, dando à sua candidata vantagem grande no Norte e Nordeste do País, e apesar do aumento da votação de Serra no Sul, não foi suficiente para reverter os votos do Norte e Nordeste”, avaliou.. Também o ex-governador e senador eleito, Roberto Requião (PMDB), prometeu defender o Estado junto ao Governo Federal. Como

aliado de Dilma Rousseff, ele acredita que o relacionamento será bom. Ele, no entanto, condicionou seu apoio ao governador Beto Richa desde que ele não privatize a Copel e mantenha a política de educação para o Estado, adotada por seu irmão, Maurício Requião. A mais contundente em relação às defesas do Paraná foi a senadora eleita, Gleisi Hoffmann, que também prometeu cobrar, no Senado Federal, integral apoio para o seu Estado.

Richa diz que terá postura que beneficie o Estado; Requião e Gleisi prometem empenho para obter mais atenção em favor do Paraná 17 Documento Reservado / Outubro 2010


política

O Paraná A senadora eleita pelo Paraná, Gleisi Hoffmann, e os cientistas políticos, Luiz Domingos Costa e Ricardo Oliveira, não acreditam que a presidente eleita, Dilma Rousseff discrimine o Paraná, por causa da escolha dos paranaenses por José Serra. Pelo contrário, eles apostam que a petista deve destacar o seu governo realizando obras, até para que os eleitores do Estado mudem de opinião

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Norma Corrêa

não será preterido E

leita a primeira mulher presidente da história do Brasil, a mineira Dilma Rousseff (PT) vai estender ao Paraná as ações de Governo desenhadas para o País, embora o seu adversário, José Serra (PSDB) tenha vencido as eleições no Estado, com O apoio determinado do governador eleito no primeiro turno, Beto Richa (PSDB). A garantia foi dada pela senadora eleita, Gleisi Hoffmann (PT). Segundo ela, sem paixões partidárias, o Estado vai receber os mesmos investimentos previstos para todos os estados brasileiros. “Dilma tem as definições bem claras de seu projeto de governo, e os compromissos assumidos em campanha serão implementados no País. O Paraná não será deixado de lado porque o outro candidato venceu aqui. Não acredito que ela (Dilma) discrimine o Estado”, assegura. Até porque a própria Gleisi estará atenta no Senado para que o Paraná seja atendido em suas necessidades. “Estarei lá para cobrar também”, diz, contando, bem humorada, que o seu marido, Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, disse que “agora” depois de eleita senadora a petista vai “incomodar” mais. Entre as ações pretendidas estão a construção de 500 unidades de Pronto Atendimento, 6 mil creches e pré-escolas e 2 milhões de casas populares. De acordo com a senadora, Dilma deve também concretizar os programas em andamento, como o PAC 2, que prevê um grande volume de ações na área de habitação,

com o Minha Casa, Minha Vida; obras de saneamento; a concretização do consórcio de saúde envolvendo 18 municípios de Curitiba e Região Metropolitana; no setor de educação, com a construção de mais 16 Institutos Federais Tecnológicos – já existem 14 e a intenção é de que o Paraná tenha 30 unidades. Na área de infraestrutura, Gleisi garante que o Estado será beneficiado com diversas ações, citando a reforma do terminal rodoviário de Foz do Iguaçu e a construção da segunda ponte, que liga o Brasil ao Paraguai. Sobre a construção do metrô, em Curitiba, a senadora eleita disse que o PAC 2 tem recursos reservados para o transporte urbano, para atender as 12 cidadessedes da Copa do Mundo de 2014. “Os recursos estão lá. Mas, a definição sobre a construção ou não do metrô cabe à comissão encarregada de preparar a cidade para receber a competição. Esta comissão é composta por representantes da Prefeitura de Curitiba e do Governo do Estado, que estarão encarregados de decidir o que é melhor para a cidade”, explica. Além de trabalhar por recursos e obras para o Paraná, Gleisi diz que vai atuar com firmeza para que a reforma política saia do papel e, também, para atrair o interesse das mulheres para a política. “Dilma disse certa vez uma frase que acho muito importante e que deve ser multiplicada: “eu também posso.” As mulheres precisam saber que também

podem ser presidentes, deputadas, senadoras. Elas precisam despertar o interesse para essa realidade”, ensina.

Relação administrativa O cientista político, Luiz Domingos Costa,

Dilma: “Eu também posso”, para mostrar que as mulheres podem ser presidente, deputadas, senadoras...

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política

também é da mesma opinião da senadora Gleisi: o Paraná sempre manteve relação administrativa com os presidentes da República. “Não acredito em discriminação porque a maioria dos eleitores do Estado escolheu Serra. Dilma não fará isso. Até porque, os governantes não priorizam a relação política em detrimento do relacionamento administrativo. Ninguém faz isso”, diz, citando como exemplo o presidente Lula, “que não tem relação de animosidade com nenhum governante”. Segundo Costa, o Paraná também não será preterido porque o governador que assume em 2011 é de um partido de oposição. “O fato de a maioria dos paranaenses terem escolhido José Serra, e de o governador (Beto Richa) ser de um partido oposicionista não vai refletir no tratamento que a presidente eleita (Dilma Rousseff ) dispensará ao Paraná. Acredito até que esse fato pode ter efeito inverso. É possível que a petista procure enfatizar o Governo Federal com obras. E, numa tentativa de reeleição, as obras realizadas podem ter peso suficiente para reverter o quadro, que foi negativo agora”, pontua. Para o cientista político Ricardo Oliveira, “ninguém se coloca contra um presidente da República, se quiser o desenvolvimento do seu estado, da sua cidade”. Segundo ele, quem

“Estarei lá para cobrar também.” Gleisi Hoffmann

faz oposição ao Governo central são os representantes no Senado e na Câmara Federal, e também a imprensa. “É claro que Dilma terá uma relação amistosa com Beto (Richa, o governador eleito) e com o Paraná, mas que poderia ser muito diferente caso o eleito fosse José Serra. A relação deve ser republicana, porque faz parte do jogo político. Nenhum governante se coloca contra o presidente da República, da mesma forma que nenhum prefeito é contra o governador, porque há interesses”, completa.

Em quase 8 anos de mandato,O presidente Lula não teve nenhuma relação de animosidade com governadores, garantem cientistas políticos

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“Mais trabalho”

O governador eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), já pressentia o resultado das urnas pouco antes de votar em Curitiba, no final da manhã do dia 31 de outubro, no Colégio Estadual Amâncio Moro, no Jardim Social. Em entrevista à Agência Estado, o tucano admite que, com a eleição de Dilma Rousseff (PT) para a Presidência da República, ele terá “um pouco mais de trabalho” na administração do Estado do que se José Serra fosse o vencedor. Mas, Richa assegura que está preparado. “Fui prefeito de Curitiba por quase cinco anos e meio, também com o Governo Federal do PT, sendo perseguido pelo Governo do Estado. No entanto, conseguimos com nosso esforço, com grande equipe, fazer um bom trabalho”, observa. Para ele, a eleição de Serra seria “excepcional” para o Estado. “Ia me ajudar muito nas transformações que queremos para o Estado, ajudar a implantar boas, importantes e consistentes propostas”, avalia.


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política

Mercado E

xistem os votos ideológicos (em que o eleitor vota pela ideologia partidária), os votos pessoais (quando se vota no político, pela pessoa e não pelo partido ou ideologia) ou os votos circunstanciais (eleitores que eventualmente votam em um determinado candidato atendendo pedido de alguém, por ser amigo, conhecido, etc.). Nos últimos anos, porém, somam-se a estes, mais uma diversidade eleitoral: os votos comprados. Comprar e vender voto são os piores e os mais perigosos dos crimes praticados no Brasil, uma vez que os seus efeitos são devastadores, capazes de envenenar e destruir uma sociedade inteira sem se importar com o respeito ao próximo. Há quem compare a ação destruidora do comércio de voto como algo semelhante aos vendavais, que fazem desaparecer cidades inteiras em pouco tempo. Este é um problema que está sendo comparado a um mercado persa, quando, neste panorama escancarado e sem qualquer resquício de honestidade, troca-se voto por remédios, sapatos, materiais de construção, iluminação para uma rua, alvará de construção, material escolar, e houve casos, nas eleições deste ano, de troca de voto por

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do voto

uma pedra de crack. Também, no comércio de votos encontra-se com facilidade pessoas dispostas a trocar seu voto por dinheiro vivo, por dentaduras, por botinas, por falsas e enganosas promessas de emprego, enfim, por tudo que forma o conjunto das necessidades imediatas de um povo carente de civismo e mal educado politicamente. Essas práticas, a cada ano que passa, estão cada vez mais enraizadas no tecido social do brasileiro e cujo diagnóstico, aos poucos, vem sendo revelado, escandalizando os cidadãos de bem. Nos primeiros dias de outubro, tão logo a Assembleia Legislativa do Paraná voltou à atividade, depois do recesso branco, proposto para que os deputados pudessem garimpar votos Estado afora, as denúncias de aliciamento de cabos eleitorais pipocaram no plenário. Não foram poucos os deputados que se queixaram da dificuldade de conquistar o eleitor, para o qual já havia promessa financeira de outro político. E nem poderia dizer que se tratava de chororô de perdedores, de deputados que não se elegeram e que, agora, diziam que houve compra de votos e, por isso, não foram eleitos. Nada disso. Até mesmo os que

se saíram bem nas urnas contaram casos de “interferências financeiras” em seus redutos eleitorais. O deputado Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), que diz ter sua base eleitoral no Norte Pioneiro, reclamou das intervenções de candidatos na sua região, dificultando o seu trabalho junto aos eleitores, denunciando a prática de abuso de poder econômico. Ele contou que “soube” de deputado que gastou quase R$ 10 milhões para se eleger. Por outro lado, o deputado Élio Rusch (DEM), líder da oposição na Casa, repetiu o mantra da “necessidade da reforma política” no País. “Não é possível convivermos com 40 partidos. Não é possível que se faça coligação por interesses pessoais e não ideológicos. Isso precisa ser revisto. Criar um partido político é mais fácil que abrir boteco de esquina. Espero que o novo Congresso Naci-


Norma Corrêa

O jogo pesado do poder econômico está cada vez mais ousado no comércio da compra e venda de voto: Troca-se voto por remédios, sapatos, materiais de construção, iluminação para uma rua, alvará de construção, material escolar, e houve casos, nas eleições deste ano, de troca por uma pedra de crack. Há quem prefere dinheiro ou ainda aceita dentaduras, botinas e até por promessas de emprego onal analise essa situação, que está ficando insustentável”, reagiu. O deputado Dobrandino da Silva (PMDB), também se queixou do desequilíbrio da disputa com o poder econômico ditando as regras em Foz do Iguaçu. Além disso, o número expressivo de candidatos à Assembleia Legislativa dificultou ainda mais a captura de votos, não para ele, que não concorreu, mas para seu filho, Sâmis da Silva (PSDB), que disputou uma cadeira no Legislativo paranaense. Para o deputado Stephanes Júnior (PMDB), as eleições deste ano superaram todas as expectativas no que diz respeito ao abuso do poder econômico. “Em compa-

ração com as eleições passadas (2006), este ano o jogo financeiro foi pesado. Não foi fácil conquistar os votos”, lamentou.

Histórias que se multiplicam

chegam a envergonhar. No Amazonas, o senador Arthur Virgílio (PSDB) denunciou ao Ministério Público Federal (MPF) um esquema “maquiado” de pagamentos a cerca de 100 mil cabos eleitorais no interior do estado, no va-

As reclamações, porém, não ficaram restritas aos deputados estaduais paranaenses. Em todos os cantos do País, as histórias se renovam, com detalhes picantes, hilariantes e que

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política

Cartaz do Ministério Público Federal é item da campanha contra a compra e venda de voto

lor de R$ 600,00 ou R$ 1,2 mil cada. À revista IstoÉ Dinheiro, Virgílio disse que “os beneficiados com os cartões seriam os coordenadores das compras de votos, que ficariam com R$ 100 ou R$ 200, e seriam encarregados de comprar entre 10 e 20 votos pelo valor de R$ 50 cada”. Para o senador tucano, esses cabos eleitorais talvez sejam pessoas que já recebem uma

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bolsa, por meio de cartão bancário do Bradesco, no programa Bolsa Floresta, administrado pela Fundação Amazonas Sustentável, uma parceria do Governo do Estado com a instituição financeira. Na Paraíba, um juiz denunciou à Polícia Federal a compra e venda de votos por pedras de crack, no município de Solânea, a

140 quilômetros da capital João Pessoa. De acordo com o juiz, o esquema tem a participação de políticos e cabos eleitorais, que usam o serviço de moto-táxi para a distribuição da droga. Segundo ele, políticos participam do esquema e consumidores são usados como cabos eleitorais no processo de troca de votos pelo crack. Também um eleitor indignado, de João Pessoa, escolheu uma forma inusitada para protestar contra a corrupção que domina as campanhas eleitorais. Ele colocou um anúncio no “Mercado Livre”, um dos mais procurados meio de comércio eletrônico, para vender o seu voto nas eleições deste ano. A notícia, publicada no jornal Diário de Natal, dizia que, pela tabela, o voto do paraibano custava R$ 20. E não foi o único a ter essa ideia curiosa. Em outro jornal, a Folha Vitória, no Espírito Santo, destacou matéria de um eleitor carioca, declaradamente indeciso, mas que tinha total disposição para vender o seu voto por meio daquele site, postando preço, prazo e condições de pagamento definidos: R$ 550, que poderiam ser divididos em até 12 parcelas, em cartão de crédito. No mesmo “Mercado Livre” outro eleitor, morador da região de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, também se dispunha a vender o seu voto: “Se alguém tiver interesse estou vendendo meu voto. É muito mais barato que ficar colocando cartazes na rua e gastando com publicidade! É um voto garantido! Não me importo com política e não tenho partido, logo, para mim, tanto faz quem está no poder, e esta é minha garantia”. Essa prática, embora criminosa, parece comum aos olhos do cidadão? Um fato corriqueiro? Tudo indica que sim. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa feita pelo Ibope, sob encomenda da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), e que traça um perfil do eleitor brasileiro. A pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 21 de agosto deste ano, com 2002 pessoas, de 140 cidades do País. De


acordo com o levantamento, a região Nordeste é campeã na incidência de compra e venda de votos, com 21% de casos confirmados. Isso quer dizer que lá, um em cada cinco eleitores admite aceitar benefícios em troca de voto. A pesquisa mostra, ainda que 43% dos entrevistados dizem ter conhecimento de compra e venda de votos e, desses, 57% possuem nível escolar superior; 41% disseram que conhecem alguém que já vendeu o voto e 13% admitem que podem vender o voto. Com relação a denuncias, 54% disseram que não denunciariam a venda e compra de votos, 14% falaram que não sabem para quem denunciar e 43% afirmaram que denunciariam à Justiça Eleitoral. Ninguém lembrou do Ministério Público. A pesquisa revelou que a compra e venda de votos atinge todas as classes sociais e está presente em todas as regiões do País, como se fosse uma praga que se espalhou pelo Brasil. Para a advogada especialista em Direito Eleitoral, Carla Karpstein, esse fenômeno tem as suas causas e suas explicações, e a dificuldade em punir corruptores e corruptos está na apresentação de provas. “Esse é o grande problema para a impunidade da

Stephanes Júnior: “Em comparação com as eleições passadas (2006), este ano o jogo financeiro foi pesado”

compra e venda de voto. Usar apenas depoimento de testemunhas não é suficiente, a Justiça Eleitoral não aceita como prova para cassação. Por isso, o conselho é para que as pessoas filmem, tirem foto, consigam documentos que possam comprovar o crime”, ensinou. Segundo ela, essa é uma prática de

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) denunciou esquema “maquiado” de pagamentos de 100 mil cabos eleitorais, no valor de R$ 600,00 ou R$ 1,2 mil cada

grupos políticos formados há muitos anos e que vêm brigando entre si, e cada um usa as armas que tem para conquistar o voto do eleitor. “E, nesse jogo, ganha aquele que paga mais e melhor. Mas, a população também tem grande parcela de culpa. E não adianta as campanhas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de conscientização contra a venda do voto. Esse apelo chega ao ouvido da população, que prefere não ouvir e acreditar que está sendo ‘esperta’ ao trocar o seu voto por qualquer coisa que seja. Tem muita gente que espera os períodos de eleição e, na cara dura, fazem as suas ‘reivindicações’ aos candidatos. É uma vergonha o que se vê por aí”, constata e avisa que se nada for feito, num breve espaço de tempo, a tendência é a situação piorar e o custo do voto ficar cada vez mais caro. A advogada diz que, enquanto se pratica a corrupção, o Brasil continua caindo no ranking das nações, como o último colocado no atendimento à educação e penúltimo em saúde, “porque os políticos que compram votos

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política

(2 prisões); Distrito Federal, 14 casos (11 prisões); Paraná, 10 ocorrências (4 prisões), e o Rio de Janeiro, com 10 registros (3 com prisão). Em ordem decrescente, os principais registros de infração foram: divulgação de propaganda (14 com prisão; 39 sem prisão); boca de urna (11 com prisão; 7 sem prisão); compra de votos (13 prisões); transporte ilegal de eleitores (3 prisões e um caso sem prisão); uso de auto-falantes, amplificadores ou realização de comissões e carreatas (apenas dois registros sem prisão). A lei nº 9.840, de 28 de setembro de 1999, a Lei Eleitoral, diz que o candidato que oferecer qualquer benefício em troca de votos poderá ser punido com multa de até R$ 50 mil e cassação do mandato. Foi com base nessa lei que, a exemplo da Lei Ficha Limpa, também existe graças à mobilização popular (reuniu 1 milhão de assinaturas de eleitores de todo o Brasil para aprovação de lei no Congresso Nacional), mais de 900 políticos perderam os seus mandatos por arrecadar O ex-governador do Maranhão, Jackson Lago, teve seu mandato cassado pelo TSE, por compra de votos em Imperatriz

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querem o benefício próprio e não se comprometem com o bem estar da população”. Já para o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Oliveira, a saída para acabar com esse tipo de crime eleitoral é uma ampla reforma política, que pregue o voto distrital misto, políticas mais rígidas para controle de gastos em períodos eleitorais, financiamento público de campanha e escolha de políticos pela ideologia. Segundo ele, o brasileiro é considerado o povo mais mal informado sobre a política e suas implicações (despolitizado) e, por isso, é mais fácil de ser enganado e comprado. “Esse tipo de situação, dentro de um regime democrático, pode provocar danos irreparáveis, com atrasos desordenados no crescimento intelectual e moral”, disse.

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Punições por compra de votos Nas eleições de 3 de outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou os números de ocorrências de infração à legislação eleitoral em todo o País: 103 casos registrados até as 11 horas do do dia das eleições, dos quais 42 terminaram em prisão. Ao todo, 13 pessoas foram presas por compra de votos (corrupção eleitoral, artigo 299 do Código Eleitoral). Embora São Paulo seja o maior colégio eleitoral do País (30,3 milhões de eleitores, segundo o TSE), foi registrado apenas um caso de infração, mesmo assim, sem prisão. O desrespeito eleitoral praticado pelo paulistano foi a divulgação de propaganda. Minas Gerais foi o campeão de ocorrências: 20 no total (12 com prisão), seguido por Mato Grosso do Sul, com 15 registros de infração

O ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda, foi cassado em 2009, pelo TSE, por promessa de vantagens a eleitores, preenchimento de cargos públicos de forma irregular, distribuição de bens custeados pelo serviço público, uso indevido de meios de comunicação e doações de 14 mil cheques-moradia


Na Bahia, a forma mais comum de compra de voto é trocando por asfalto

votos ilegalmente, desde 2000 até o ano passado. Somente no período compreendido entre o final de 2008 e março de 2009, 357 prefeitos, vice-prefeitos e vereadores foram cassados nas eleições de 2008. Em 2000, foram 15; e, em 2004, o número subiu para 73. Nos últimos anos, o MPE tem se mostrado mais atento com a prática da compra de votos exercida por parte de postulantes a cargos públicos no período eleitoral, e a Justiça tem dado mostras de que a punição para os casos comprovados pode chegar ao seu último grau, com a perda de mandato e dos direitos políticos de quem a cometeu. De 2008 para cá, três governadores e 457 prefeitos foram cassados após comprovação de captação ilícita de votos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB) e o vice, José Lacerda Neto (DEM), foram cassados pelo TSE, em 20 de novembro de 2008, por abuso de poder econômico e político e compra de votos. Antes, contudo, em julho de 2007, o ex-governador e seu vice já haviam sido cassados sob a acusa-

ção de terem distribuído 35 mil cheques à pessoas carentes durante a campanha eleitoral de 2006. Também acusados por compra de

votos, em 3 de março de 2009, o ex-governador do Maranhão Jackson Lago (PDT), e seu vice, Luiz Carlos Porto (PPS), tiveram seus mandatos cassados pelo TSE. O ministro Eros Grau, afirmou, na época, que foi comprovada a compra de votos no município Imperatriz, com a prisão de eleitores e a apreensão de R$ 17 mil com o motorista de um vereador aliado de Lago. A lista de cassação de mandatos de governadores encerra com o ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB). Em 26 de junho de 2009, o TSE cassou, por unanimidade, os mandatos do peemedebista e de seu vice, Paulo Sidnei Antunes (PPS), também por abuso de poder político. Entre as acusações contra Miranda estão a promessa de vantagens a eleitores, preenchimento de cargos públicos de forma irregular, distribuição de bens custeados pelo serviço público, uso indevido de meios de comunicação e doações de 14 mil cheques-moradia.

O ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, foi cassado pelo TSE, em 2008, por abuso de poder econômico, político e compra de votos

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“Para mais ou Todos os institutos de pesquisas erraram os levantamentos feitos para medir a preferência do eleitorado brasileiro, no primeiro turno

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ual é o caminho que os eleitores usam para escolher os seus candidatos? Essa é uma questão que incomoda e desafia cientistas políticos e marqueteiros de todas as hostes. Muitos, se não milhares, de eleitores brasileiros apostam naqueles candidatos que ocupam a ponta da tabela, aqueles que estão na frente das pesquisas eleitorais, para formar o conjunto de motivações da sua preferência política. É para essa grande parcela da população que os institutos de pesquisa atuam. Essas empresas agem com maior desenvoltura em períodos eleitorais, porque coletar informações sobre a intenção de voto do eleitor brasileiro virou obsessão, e uma fonte de lucro. No primeiro turno das eleições deste ano, Ibope, Datafolha, Sensus, Vox Populi, todos erraram nas suas previsões. O Ibope errou até na pesquisa de boca de urna – feita no dia da eleição quando os entrevistadores abordam os elei-

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tores e perguntam em quem ele votou. Se as pesquisas tivessem acertado, a candidata do PT, Dilma Rousseff, teria vencido a disputa para a Presidência da República no primeiro turno, e a corrida ao Palácio Iguaçu, no Paraná, teria ido para o segundo turno. Não é de hoje que a credibilidade dos institutos de pesquisa está em xeque. No segundo turno,

Pereira: “os institutos extrapolaram de novo, insistindo na mentira”

porém, os “erros” foram menores, mas podem ser considerados dentro da margem prevista pelos próprios institutos, em torno de 2% a 3%. No dia 31 de outubro, a pesquisa de boca de urna do Ibope dava vantagem de 16 pontos percentuais para Dilma Rousseff (58% a 42% para José Serra). Quando as urnas foram abertas a diferença entre a petista e o tucano foi de 12% - Dilma fez 56,05% dos votos, e José Serra 43,95%. “Serra derrotou as pesquisas manipuladas e o exército de manipulação e mentira”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB), ao analisar o resultado do dia 3 de outubro. E o governador


Norma Corrêa

para menos”

eleito do Paraná, Beto Richa (PSDB), fez questão de salientar que, no primeiro turno “se anunciava uma inundação da onda vermelha, mas essa onda está morrendo na praia”. Para Serra, “os resultados das pesquisas passaram vexame no primeiro turno, inclusive do Ibope, que errou até na pesquisa de boca de urna”. Já o deputado Élio Rusch (DEM), líder da oposição na Assembleia Legislativa, os erros “gritantes” dos institutos de pesquisas abre a possibilidade de as pessoas avaliarem como bem entenderem os números divulgados pelos levantamentos. “Se formos avaliar a metodologia dos institutos, ninguém pode garantir com

zem o eleitor ao erro. “Existe eleitor que pensa que não adianta votar no candidato ‘a’ porque ele está em segundo lugar nas pesquisas, e aí vota no candidato ‘b’, que aparece na frente. É assim que o eleitor comete erro. Sou contra publicação de pesCarla: “As pesquisas quisa em período eleitointerferem, sim, no processo político” ral”, argumentou. O deputado Reni Pereira (PSB) também concorda que deve ser colocado um freio nos institutos de pesquisa. “As pesquisas sérias deixaram de existir há muito tempo. A partir do momento em que o resultado foge da margem de erro, passa a ser mentira. E, no primeiro turno dessa eleição, os institutos extrapolaram de novo, insistindo na mentira. Não se pode falar em democracia segurança que o presidente Lula tenha mesmo quando se induz o eleitor a erro”, atirou. Peesse percentual de aprovação popular, con- reira é um entre os deputados paranaenses forme informam os institutos de pesquisas. que pretende engrossar o movimento daqueEssa mesma metodologia les que defendem o fim que foi questionada por das pesquisas eleitorais Beto Richa e sua coligação, no País. “Infelizmente, que pediu impugnação das hoje, as pesquisas se prespesquisas porque encontam apenas para atender traram falhas. E nós sabequem paga por elas, desmos que a Justiça jamais merecendo a opinião do aceitaria um pedido de imeleitor”, disse, ao anunpugnação se as falhas não ciar que pretende se aliRicha: “No primeiro turno se anunciava uma inundação da onda existissem”, disse, ao afirar ao deputado federal vermelha, mas essa onda está morrendo na praia” mar que as pesquisas indueleito, Rubens Bueno

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Na mídia a pesquisa. “São situações (PPS), que pretende procomo estas que levam à Uma nota “apimentada” publicada no blog por projeto de lei impeimpugnação de pesquisas, do Jornal da Mídia ( JM), de Salvador, Bahia, dindo a divulgação de e com razão, porque a pes- diz que o Vox Populi, de propriedade de Marpesquisas três meses anquisa acaba manipulando cos Coimbra, já esteve à beira da falência, mas tes das eleições para não o eleitor. Os políticos sa- renasceu com força no petismo. “Ele trabalha induzir o eleitor ao erro. Álvaro: “Serra derrotou as pesquisas manipuladas e o exército de bem disso e muitos deles para e com o PT, embora suas pesquisas e ele O deputado federal manipulação e mentira” as usam como forma de próprio sejam vistos em certas áreas, só em Gustavo Fruet (PSDB), que perdeu uma das duas vagas no Senado – manipular a decisão do eleitor. E, como a mai- certas áreas, como isentos. Coimbra é colunisos eleitos foram Gleisi Hoffmann (PT), em oria do eleitorado brasileiro é despolitizada, é ta de uma revista petista (Carta Capital) e escreve também no Correio Braziliense, como primeiro, e o ex-governador Roberto Requião muito fácil a manipulação”, explicou. ‘cientista social’, é claro”, alfinetou, também O diretório nacional do PSDB tem se colo(PMDB), que era apontado como o preferido dos eleitores paranaenses - o deputado tucano cado como um crítico ácido quanto aos levan- colocando uma nuvem cinzenta sobre a creditambém questionou a seriedade das pesquisas tamentos feitos pelo Vox Populi, especialmente bilidade do Instituto Sensus, que faz, costue deve atuar junto à direção nacional do PSDB depois de uma pesquisa, ainda no primeiro tur- meiramente, pesquisa para a Confederação na formulação do pedido de investigação que no, indicando uma diferença de 12 pontos en- Nacional dos Transportes (CNT). “A empresa o partido pretende fazer sobre os institutos de tre Dilma e Serra (51% a 39%). Alvaro Dias acu- (Sensus) é presidida pelo dublê de empresário e político Clésio Andrasou a empresa mineira de pesquisa. de. É aquele instituto que trabalhar para o PT. “O Vox me encanta particularmenPopuli, de forma perversa, Situação crítica te por sua precisão decimal. Na opinião da advogada especialista em martelou diariamente que No dia 29/09, Dilma teria não teríamos segundo turDireito Eleitoral, Carla Karpstein, a situação 54,7% dos votos; Serra, das pesquisas é crítica e já passou da hora de no. Isso foi demolidor, mas 29,5%, e Marina, 13,3%. A mesmo assim avançamos”, a Justiça Eleitoral promover mudanças no sisprevisão não ficou para Ritema. Para ela, os levantamentos que avaliam disse. Em entrevista no dia Oliveira: “nenhuma pesquisa cardo Guedes, diretor técpode ser 100% perfeita, mas todas o comportamento do eleitor diante dos candi- 19 de outubro, o senador apontam para um mesmo cenário, nico do instituto, mas para datos que disputam uma eleição não podem Sérgio Guerra, presidente mostrando as tendências” o ‘especialista’ Clésio: nacional do PSDB, classiser considerados irrelevantes. “Pelo contrário, as pesquisas interferem, sim, no processo po- ficou o levantamento divulgado pelo Vox Po- “Num período de quatro dias, é muito difícil lítico, facilitando ou dificultando doações, puli “de pesquisa sem-vergonha” e afirmou reverter essa vantagem”. Ok, errou, paciência, formação de palanques eleitorais, gerando que o instituto promove uma “poderosa” ação certo? Mais ou menos. Carlos Augusto Montenotícia positiva ou negativa e, fazendo parte combinada para interferir na intenção de voto. negro, depois de fazer uma previsão temerária do jogo político, quando aponta para os elei- Segundo ele, o Vox Populi errou e teria mani- há alguns meses assegurando a vitória de Sertores qual candidato pode sair vitorioso”, ava- pulado os dados, quando indicou que a ex- ra, passou a asseverar a vitória de Dilma no liou. Segundo ela, as pesquisas já são muito ministra Dilma Rousseff venceria no primeiro primeiro turno com a mesma convicção. E até caras e, para não encarecê-las mais, os institu- turno. “Não dá para acreditar que foi um erro. chegou a sugerir que a oposição estava fazentos acabam por não atender alguns requisitos Foi uma safadeza, uma falta de respeito pelas do baixa exploração dos escândalos e não resexigidos pela Lei Eleitoral, como o intrincado instituições brasileiras”, acusou. ”Não leva- peitava a democracia. São comportamentos sistema de estratificação dos levantamentos, mos em consideração a pesquisa do Vox Popu- inaceitáveis”, completa a nota, no blog do site que pede o mesmo número de homens e mu- li, porque sabemos que é um instituto de com- JM, cujo editor responsável é Antônio Raimunlheres com o mesmo grau de instrução, igual provada falta de credibilidade, que maquiou do da Silveira. O jornalista Fernando Rodrigues, na Fofaixa etária, mesma camada social, entre ou- os resultados durante todo o primeiro turno”, lha Online, também tratou do assunto, afirtros detalhes que encarecem, conforme Carla, emendou Serra. 32 Documento Reservado / Outubro 2010


mando que o Vox Populi foi contratado pelo PT e pela campanha de Dilma Rousseff, e que os resultados ajudaram “a turbinar a campanha petista”, embora tenha sido o instituto de pesquisa que mais se distanciou da realidade das urnas no primeiro turno. E, para terminar a nota, Rodrigues deu uma pitada de bom humor ao emaranhado de interrogações quanto à credibilidade dos institutos. “Não dá para deixar de relatar a piada que circulou em Brasília, quando saiu a pesquisa Vox Populi, depois do segundo turno. Um gaiato que acompanha a política há décadas disparou: “Você viu? O Vox Populi está dizendo que a Dilma ganhou no primeiro turno”. O senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB) também ficou indignado com erros superiores a dez pontos percentuais nas pesquisas eleitorais no primeiro turno da eleição para a Presidência da República. Ele defendeu que as empresas responsáveis por esses levantamen-

tos sofram algum tipo de punição dentro da margem de erro. Mas da Justiça. Já o senador Geraldo admitiu que a divulgação dos reMesquita Júnior (PMDB-AC) critisultados pode influenciar o voto cou, em entrevista à Agência Senado eleitor, principalmente o indo, o que considerou uma tentatideciso, que prefere embarcar “no va de manipulação da opinião voto útil”. Oliveira avaliou que o pública pelos institutos de pesquieleitor pode, na última hora, sa e pelo Governo Federal durante Serra: “passaram vexame mudar de opinião, o que influenprimeiro turno, inclusive a campanha. Para ele, é inaceitá- no cia no resultado das pesquisas. do Ibope, que errou até na vel que essas empresas “ganhem pesquisa de boca de urna” “Pesquisa não ganha eleição. milhões de reais, errem e tudo fique por isso Quem acha que pesquisa influencia resultado mesmo”. Segundo ele, os “enormes erros” das são os candidatos derrotados, que jogam em empresas enganam o eleitor, que é induzido a cima das pesquisas as suas derrotas”, afirmou. errar; a imprensa, que faz a divulgação, e os Segundo ele, mais que avaliar a opinião públipróprios candidatos, que agem de acordo com ca, as pesquisas mostram as tendências, como os resultados. qual o candidato que está subindo na prefeJá o professor da Universidade Federal do rência do eleitorado, e quem está descendo. Paraná (UFPR) e cientista político, Ricardo “Nenhuma pesquisa pode ser 100% perfeita, Costa Oliveira, pensa o contrário, ao afirmar mas todas apontam para um mesmo cenário, que as diferenças no resultado das urnas, alvo mostrando as tendências, ainda que o resultada reclamação da maioria dos políticos, estão do das urnas seja diferente”, avaliou.

Pelo fim da divulgação de pesquisas eleitorais O deputado Elio Rusch (DEM), líder da oposição na Assembleia Legislativa, e o deputado Stephanes Júnior (PMDB), apresentaram no dia 26 de outubro, um projeto de lei que proíbe a divulgação de pesquisas eleitorais no Paraná. De acordo com a matéria, a proibição se estende a todos os órgãos de imprensa, e compreende o período eleitoral entre a data limite de registro de candidaturas e/ou a divulgação dos registros dos candidatos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), até o final da votação. As pesquisas estariam liberadas apenas para análise interna de partidos e candidatos. Rusch garantiu que não se trata de censura, por entender que os eleitores decidam em quem votar tomando por base as propostas dos candidatos

apresentados nos veículos de comunicação e raram feio. Neste ano, para presidente, não pelos resultados das pesquisas. “Os elei- todas apontavam a vitória de determinatores não podem ser induzidos por pesqui- do candidato no primeiro turno, o que sas. A opinião das pessoas deve não aconteceu. No Paraná, ser formada a partir das proo caso mais crítico foi em relação ao Senado. Gustaposições apresentadas pelos candidatos”, argumentou. vo Fruet poderia ter sido O parlamentar disse eleito, caso fosse levado em conta as pesquisas inque, com frequência, muitos eleitores preferem votar naqueternas. Os levantamentos le candidato que está na frente apresentaram uma discrepância com o resultado fipara não perder o voto. Com base nas últimas eleições, Rusnal”, justificou. A proposta dos deputach colocou em dúvida a parcialidade de alguns institutos. dos do DEM e do PMDB se“Está ocorrendo há algum tem- Rusch: “ninguém pode garantir gue para a Comissão de po uma verdadeira farra das com segurança que o presidente Constituição e Justiça (CCJ) Lula tenha, mesmo, esse pesquisas. As pesquisas divul- percentual de aprovação popular” para que seja analisada a sua gadas nas últimas eleições erconstitucionalidade.

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política

Foto: Nani Góis

Cabo de Guerra Projetos enviados pelo Governo do Estado esquentaram os debates nas sessões plenárias da Assembleia Legislativa

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ramitam na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alep) 51 projetos de lei enviados pelo Governo do Estado, que tratam dos mais diversos assuntos. O número excessivo de mensagens tem criado problemas e muita discussão entre os deputados da atual bancada governista e da bancada de opo-

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sição e futura base do Governo Beto Richa (PSDB). Há quem enxergue aí “vingança” do governador Orlando Pessuti (PMDB), para mostrar que é capaz de fazer muito mais em nove meses do que o ex-governador Roberto Requião (PMDB) fez em sete anos e meio de mandato. Tanto que não é mais segredo para

ninguém que os dois, hoje, são ex-amigos. Mas também há pessoas que acreditam que tanto projeto, que pode comprometer financeiramente o futuro Governo, pode ser uma maneira para atrapalhar a futura administração do Estado, pois Richa assumiria, em tese, um Estado endividado. Porém, não faltam


Norma Corrêa

As dezenas de projetos do Governo do Paraná transformaram-se no pomo da discórdia entre os deputados pró-Pessuti e favoráveis a Beto Richa, que assume em janeiro mete a folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Ele contou que o contrato entre a CAIXA e a ParanaPrevidência vence em janeiro de 2011 e não há justificativa para que o documento seja “negociado” a menos de dois meses para terminar o mandato do governador. Por isso, sugere, o que considera como o caminho mais sensato, a prorrogação dos contratos e não a renovação como pretende o Governo. “Acho muito Traiano: “decisões drásticas precisam ser tomadas para estancar a voracidade do governador” baixo o valor de R$ 30 milhões oferecidos pela CAIXA para gerir uma folha de pagamento de R$ 260 milhões. tos, porque não vamos permitir. Podem até Comentava-se que existe a possibilidade de o fazer, mas tudo será revogado depois. Como banco aumentar para R$ 90 milhões a oferta. pode o Governo renovar o contrato com a Mas, ainda assim é irrisório. Vejam, a Universi- empresa que fornece a alimentação dos predade Estadual de Londrina (UEL) fez uma licita- sos? O certo seria a prorrogação, para que o ção e o Banco Itaú, vencedor da concorrência, futuro governo faça uma licitação para escocomprou a folha de pagamento (que é de R$ 10 lher quem vai prestar esse serviço”, atira. E milhões) da instituição por R$ 10 milhões. A Traiano emenda: “Esse Governo está com uma universidade não vai perder nada com isso. Mas fome louca para fazer o que não fez em oito o Governo vai perder se continuar insistindo anos e agora, em quatro meses, estão vendennisso”, compara. Segundo ele, essa negociação do o Paraná.” Porém, do outro lado da corda, poderia chegar a R$ 150 milhões. “Não pode- está o deputado Caíto Quintana (PMDB), líder mos permitir esse imenso prejuízo ao erário. É do Governo na Casa, puxando pela defesa do uma irresponsabilidade. O dinheiro público atual Governo, ao assegurar que o discurso não pode ser lançado na vala comum”, atira. tucano não faz o menor sentido, dando um Para o deputado Valdir Rossoni (PSDB), os recado, curto e grosso, a Rossoni: “Nem pense deputados estão alertando os paranaenses e em revogar contratos, porque não revoga. É todos aqueles que estão negociando com o um documento juridicamente perfeito.” Estado. “É bom que saibam que, a partir de Açoite nos neogovernistas janeiro, vamos tomar atitudes firmes e conAproveitando a deixa, Quintana soltou o tundentes contra o que pretendem (o atual Governo). Não vamos deixar que eles gover- verbo contra os neogovernistas. Começou fanem o nosso governo. É bom que saibam que lando das denúncias contra a ParanaPrevidênestão perdendo o tempo nessa correria para cia que, segundo técnicos do Tribunal de Conpropor projetos de lei e renovação de contra- tas do Estado (TCE), haveria um “furo” de Foto: Arquivo

deputados que justificam a postura de Pessuti dizendo que ele não pode “fechar” o Estado “só porque existe um governador eleito”. E, nesse cabo de guerra, de um lado estão os que pedem cautela nas ações governistas e, do outro, está a justificativa da governabilidade. E, no meio, o Paraná, que precisa de ações que atendam a sua população. O deputado Ademar Traiano (PSDB), apontado como líder do futuro Governo na Alep, fala da “voracidade” que o governador Pessuti está tendo ao tomar algumas decisões que, em sua visão, pode comprometer o futuro Governo do Paraná. E diz que tem suas razões para acreditar nisso. “As decisões que o governador vem tomando, no apagar das luzes do governo, nos preocupa. A 60 dias de encerrar o mandato, ele propõe a mudança de dois membros do conselho da Sanepar, talvez com o perigoso objetivo de proteger algumas empresas que vêm pleiteando recursos na Justiça”, avalia. E diz ainda que se a pressão continuar, o novo governador, Beto Richa, deve tomar posições drásticas sobre a situação. Traiano se refere às informações “cantadas em verso e prosa” pelo deputado Nereu Moura (PMDB), relator do Orçamento, que tramita na Alep, que, em 2011, o orçamento será apertado. “A Casa concedeu inúmeros benefícios à diversas categorias do serviço público, teremos que implantar as mensagens já aprovadas e, se o governador continuar agindo dessa forma, certamente vamos ter sérios problemas no ano que vem. Por isso, creio que decisões drásticas precisam ser tomadas para estancar a voracidade do governador”, acrescentou. O futuro líder governista citou, uma por uma, as propostas que podem causar situações incômodas em 2011. Falou sobre a negociação que Pessuti começou com a Caixa Econômica Federal (CAIXA) e que, segundo ele, compro-

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Foto: Nani Góis

política

centa. Outro deputado que parece que também não entendeu a discussão em torno da renovação ou prorrogação de contratos, foi o deputado Tadeu Veneri (PT). Por isso, bate na tecla de que o governador precisava “prorrogar” os contratos para que os presos pudessem se alimentar. “Ora, é exatamente esse o ponto que estamos defendendo: a prorrogação dos contratos e não a renovação deles, como o Governo fez. E no caso da CAIXA a renovação é por cinco anos”, reage Rossoni.

Rossoni: “podem até fazer, mas tudo será revogado depois”

Cautela R$ 3 bilhões. Segundo ele, os parlamentares, que hoje são oposição, estão “assombrando” os aposentados, quando divulgam o que ele assegura “não ser correto”. “Estão dando a impressão de que vai faltar dinheiro para pagamento das aposentadorias. E isso não é verdade. A ParanaPrevidência não está quebrada e não há qualquer risco de não pagar os aposentados”, afirma. Mas o líder da oposição na Alep, deputado Élio Rusch (DEM), rebate as declarações do governista. “Nunca falamos que a ParanaPrevidência está falida. O que sempre afirmamos é que o Governo do Estado não tem repassado os valores devidos ao instituto previdenciário e que isso poderá comprometer a saúde financeira da ParanaPrevidência, colocando em risco o pagamento das aposentadorias e pensões daqui a alguns anos”, afirma, ao explicar que quando foi aprovada a lei que criou a ParanaPrevidência ficou determinado que, a partir de 2005, o Estado pagaria uma parcela mensal para capitalizar o fundo previdenciário. “Essa parcela nunca foi paga e o valor em atraso já beira R$ 1 bilhão. O Estado deve ainda mais de R$ 2 bilhões em razão de ativos não incorporados ao instituto”, pontua Rusch. Quintana defende a renovação do contrato com a CAIXA e com a empresa que fornece alimentação para os presos, cujos contratos terminam, em janeiro do ano que vem. O pee-

36 36 Documento Documento Reservado Reservado // Outubro Outubro 2010 2010

medebista diz que o banco público tem uma história de parceria com o Governo e que isso está pesando, e muito, para a renovação do contrato com a ParanaPrevidencia. “O programa trator solidário é fruto dessa parceria, e o financiamento de casas populares, também é”, destaca. Para Rossoni o Governo não pode ficar á mercê de um banco. “O Governo não pode renovar um contrato para que o banco dê aquilo que dá de graça a outros estados. Precisamos avisar o Pessuti que ele tem apenas dois meses de governo e não tente fazer nesse período o que não foi feito em oito anos”, rebate. “Nós termos que pagar para eles financiarem casa própria para os paranaenses? Isso não existe! O programa trator solidário é financiado e quem compra paga juro. Estamos, isto sim, discordando de muitas atitudes do governador Pessuti, com essa sua volúpia em apresentar projetos e mais projetos, às portas de terminar o Governo. Vamos ter cautela”, dispara, lançando um desafio a Quintana: “Atravesse a rua, Caíto, e leve essa cautela ao governador.” A deputada Rosane Ferreira (PV ), parece não ter entendido “muito bem” o que o Traiano disse, mas defende o governador Pessuti, ao enfatizar que esse “Governo que aí está sabe das suas responsabilidades. Não posso acreditar que ele (Pessuti) esteja irresponsável. Também não acredito que essas mensagens enviadas pelo Executivo tenham segundas intenções”, acres-

Desde que voltaram do recesso branco, no dia 4 de outubro, os deputados oposicionistas pedem cautela na aprovação de projetos na Assembleia Legislativa. Os parlamentares propõem que as matérias fiquem para a próxima legislatura, para que o novo Governo possa se adequar à realidade. Um deles que está gerando polêmica é o projeto do Governo do Estado que cria a Defensoria Pública no Paraná. Na opinião de Traiano, a reivindicação do governador Orlando Pessuti esbarra na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que diz que o atual governador não pode deixar dívidas para o próximo. Segundo o deputado, a matéria prevê gastos com pessoal que ultrapassam em mais de 120% do limite previsto no orçamento de 2011. Ele diz que o projeto determina a criação de 407 cargos e, de acordo com a tabela que determina os valores relativos às funções, serão 300 cargos para defensores públicos e outros 27 cargos em comissão, que despenderão R$ 42 milhões por ano. “No orçamento, há uma previsão anual de R$ 28 milhões para a Defensoria. Deste total, R$ 19 milhões estão reservados para os gastos com pessoal. O projeto não informa de onde virá o restante do dinheiro para cobrir essa diferença”, alerta Traiano. “Isso somente comprova que temos que ter cautela na análise das mensagens que estão sendo enviadas aos montes à Assem-


Foto: Nani Góis

Quintana: “é um documento juridicamente perfeito”

“Nada temos a esconder” Enquanto o tempo esquenta na Assembleia Legislativa, no Palácio das Araucárias, o governador Orlando Pessuti tenta acalmar os ânimos, com “uma boa conversa”. No dia 26 de outubro, o peemedebista reuniu os deputados estaduais para um almoço, com a intenção de pedir agilidade na tramitação dos projetos de lei de iniciativa do Governo. O governador assegurou, na oportunidade, que está fazendo de tudo para entregar o Governo, ao seu sucessor, em situação melhor do que o recebeu em março deste ano. “Entregar o Governo do Paraná com os seus compromissos em dia não é apenas uma obrigação constitucional, mas uma questão de honra para mim. Da mesma forma como o presidente Nelson Justus (presidente da Assembleia Legislativa) quer entregar a Casa ao seu próximo presidente em condições melhores do que a encontrou, ao assumir”, disse, dando um recado ao ex-governador Roberto Requião. Foi daí que alguns deputados tiraram a conclusão de que a “enxurrada” de projetos enviados à Alep é uma resposta à Requião. Aos deputados, Pessuti garantiu que o governador eleito Beto Richa terá participaFoto: Roberto Corradini

bleia, pelo Governo, no apagar das luzes. Não vamos permitir que sejam colocados aleatoriamente na pauta projetos que causem impacto no orçamento”, emenda, acrescentando ainda que o projeto determina a contratação de outros 80 funcionários, mas não informa os valores correspondentes e nem a forma de contratação, se por indicação ou por concurso. “Votamos aumentos para o funcionalismo público e que vão gerar problemas para a sua implantação. Serão necessários R$ 600 milhões para implantar a totalidade das propostas aprovadas aqui. Espero que, nem nós que seremos oposição, e nem os senhores, que serão governistas, impeçam a implantação do que foi aprovado aqui, pela ampla maioria dos senhores. Agora é lei e deverá ser implementada. E nós estaremos aqui para cobrar isso e a promessa de Beto Richa de aumentar em 26% os salários dos professores. Os policiais militares, os advogados do Estado, o pessoal da Emater, em maio, todos eles estarão cobrando aplicação dos reajustes, aprovados aqui, na folha. Eu não estarei aqui para criticar a aplicação da lei, mas estarei aqui cobrando a aplicação da lei”, avisou Quintana.

ção nas decisões que serão tomadas nos dois últimos meses de Governo, ao revelar que ele e Richa têm conversado regularmente. “Nada temos a esconder e nada será feito sem conversarmos com o próximo Governo e a equipe de transição”, disse. Ele contou que já iniciou discussões sobre a lei do IPVA, que entrará em vigor no ano que vem, e sobre a situação da ParanaPrevidência com o governador eleito. “Desde que fui empossado, determinei que a situação da ParanaPrevidência fosse avaliada com rigor”, garantiu. Ainda segundo ele, os projetos que estão em análise na Assembleia Legislativa não são pessoais, mas são propostas antigas, “que refletem o desejo da população paranaense. É o caso da criação da Secretaria de Estado da Mulher, tema que fez parte do plano de governo, em 2002, mas que efetivamente foi encaminhada apenas recentemente”. Pessuti também comentou sobre a polêmica gerada em torno da criação e estruturação da Defensoria Pública. “É um compromisso que tem 21 anos, que está previsto na Constituição Estadual. Não é coisa de final de mandato, houve um amplo debate na sociedade. Se é oportuno implementá-la neste momento é a Assembleia que decide”, disse. Também durante o almoço com os deputados, o governador prestou conta sobre o andamento das obras que estão em desenvolvimento no Estado, como as clínicas da mulher e da criança, as escolas e bibliotecas cidadãs, além da formalização da Universidade Estadual do Paraná. Pessuti ressaltou a importância de o Executivo e o Legislativo trabalharem em sintonia no período que antecede a posse do governador eleito. “Juntos, com a ajuda e compreensão dos deputados, vamos terminar melhor esta gestão”, afirmou.

O governador Orlando Pessuti tenta acalmar os ânimos com “uma boa conversa” durante almoço com deputados

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política

Vergonha política A

guerra política, com forte dose de baixaria, travada entre o senador eleito Roberto Requião (PMDB) e o governador do Estado, Orlando Pessuti (PMDB), tem revelado pobreza de espírito de duas das principais lideranças políticas, com mais de 30 anos de experiência no poder público e envergonhado os eleitores paranaenses, principalmente os habituais ouvintes de programas de rádio e leitores de jornais. A cena mais patética foi protagonizada por Requião durante uma entrevista à rádio CBN de Foz do Iguaçu, onde disse, em bom tom, que “companheiro é companheiro, filho da puta é filho da puta. E eu trabalho com os companheiros e tenho compromisso com os eleitores que acreditaram em mim”. O endereço dessa vergonhosa frase, de briga de trânsito, era justamente o governador Pessuti.

Dessa vez, Pessuti não levou desaforo para casa e, também em entrevista a uma rádio, mas da capital, disse que concordava com a frase e acrescentou: “Agora, é importante dizer quem, na política do Paraná, é considerado companheiro e companheira e quem é considerado filho da puta. Eu concordo com a frase que ele disse, só que me coloco na classificação de companheiro e espero que os companheiros do Pessuti saibam quem é o verdadeiro filho da puta da política do Paraná”, concluiu. A irritação do governador tem a sua

razão de ser, conforme ele mesmo disse, já que o ex-governador não mede palavras para agredir. Pessuti adiantou que quem deverá avaliar a postura do senador eleito é a Comissão de Ética do PMDB.

Carta denúncia Os aliados de Requião, principalmente deputados do PMDB, sustentam que o ex-governador já tem pronto, em sua gaveta, uma carta de denúncias, que irá divulgar logo após as eleições do segundo turno. Pela avaliação do pes-

Companheiro é companheiro, filho da puta é filho da puta. Roberto Requião

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Pedro Ribeiro

“ soal chegado a Requião, o “tempo vai esquentar ainda mais”. A petulância do senador não pára aí e foi motivo de risos dentro da ala tucana do governador eleito, Beto Richa, quando mandou recado dizendo que só apoiará o governador do Paraná se ele prometer manter a “mesma política da Secretaria de Educação”, onde seu irmão, Maurício Requião, foi secretário e “não privatizar a Copel”. Caso contrário, abriria guerra contra Richa, em Brasília. Na entrevista à Rádio CBN de Foz do Iguaçu, o polêmico ex-governador disse exatamente o que pensa dos seus opositores, inimigos, detratores e até daqueles que já foram amigos. Ou melhor: com todas as letras, xingou, usando palavrões. A entrevista foi gravada e as inserções da chamada para a matéria, entre a programação da rádio, chamou a atenção e percorreu o Paraná, pela internet, por causa do conteúdo. Foi a primeira vez que Requião falou realmente o que pensa do seu sucessor, o governador Pessuti. Em um dos trechos da entrevista, Requião disse: “Precisamos do apoio do governador [Beto Richa] e da rápida saída do Pessuti do Governo do Estado”. Para o ex-governador, ex-companheiros e a questão partidária no Paraná e no Brasil, “estão uma porcaria”. Ele falou da época em que ocupou o Palácio Iguaçu e se queixou dos puxa-sacos. “Tinha gente que puxava tanto o saco, a ponto de me arranhar o saco, numa tentativa de conseguir um cargo. Jamais coloquei esses puxa-sacos num cargo público. Então, por que eles (Pessuti) tentaram transformar o Estado numa espécie de poleiro de puxa-saco?”, questionou, ao criticar, com veemência algumas atitudes do governador no comando do Estado.

Espero que os companheiros do Pessuti saibam quem é o verdadeiro filho da puta da política do Paraná. Orlando Pessuti

O grande perdedor Pessuti imprimiu novo estilo de governar, mudando muitos dos secretários escolhidos por Requião. Embora afirme que não tem inimizade pessoal com ninguém, o ex-governador disse que tomou algumas atitudes (agressões ao Pessuti) por causa da população. “Ele (Pessuti) saiu da linha sim, e se transformou num governador transgressor”, assegurou. Disse que faz política por compromisso e não por profissão. “Existem dois tipos de políticos: Quem vive da política e quem vive para a política. Eu assumo compromisso e, por isso, vivo para a política, porque grande parte da minha vida foi na vida pública”. Pessuti, por sua vez, disse que “essa é uma posição costumeira de Requião que, quando não tem nada pra fazer, fica buscando espinafrar e acusar companheiros e aliados. Ele normalmente escolhe para atacar os seus companheiros. Normalmente, ele escolhe falar mal daqueles que o ajudou. O governador lembrou que o senador Osmar Dias (PDT) teria sido um dos alvos

do destempero de Requião. “Vocês lembram do Osmar Dias? Ele foi um dos mais fiéis escudeiros do governador Roberto Requião, quando era secretário da Agricultura. Ele também coordenou sua campanha (de Requião) e, logo depois, passou a ser criticado e condenado pelo ex-governador”, contou, lembrando das eleições deste ano, quando Requião e Dias voltaram a subir no mesmo palanque, dando a entender que as divergências de anos já haviam sido contornadas. Mas Pessuti criticou a postura do examigo. “Depois, sem nenhum constrangimento, com a maior cara de pau, e com o maior volume de peroba na cara, ele (Requião) se submeteu, de novo, a apoiar o Osmar Dias. Eu acredito que mais que apoiar, ele atrapalhou a eleição de Osmar. Pelo menos é o que eu escuto por aí afora. Se o Osmar tivesse deixado o Requião de lado e tivesse acompanhado a Gleisi, o Orlando Pessuti, ou aqueles que sempre foram os seus verdadeiros companheiros, ele (Osmar) teria um êxito maior”, acrescentou.

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economia

Tributação chega ao limite do

A

carga tributária brasileira, incluindo impostos e taxas pagos à União, Estados e Municípios, chegará a R$ 1,3 trilhão neste ano. Fardo pesado, “insuportável e insustentável”, reclama o empresário Edson Campagnolo, vicepresidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), coordenador da campanha “Sombra do Imposto”, lançada pela entidade para alertar e levar ao conhecimento das pessoas o sistema tributário brasileiro. “Hoje, uma empresa trabalha cinco meses por ano só para pagar tributos”, observa o empresário do setor de confecções que sente na carne o estrago que o imposto faz àqueles que trabalham na formalidade. O industrial, o comerciante, o prestador de serviços, o produtor rural, sabe quanto desembolsa de imposto por mês nas suas empresas, ao contrário do cidadão comum, que pouco sabe o quanto paga para o governo, a não ser a famigerada mordida do “Leão” do Imposto de Renda, diz Campagnolo. A carga tributária no Brasil é uma das mais altas do mundo e representa perto de 40% do PIB. Ao todo, contabilizam-se 80 tipos de tributos. São perto de R$ 100 bilhões de arrecadações por mês e R$ 2, 525 bilhões por dia. Hoje, cada brasileiro paga em média, R$ 6 mil por ano só em impostos. A arrecadação de Campagnolo: “Queremos mobilizar a sociedade e sensibilizar os congressistas sobre o pesado fardo dos tributos no Brasil”

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tributos em setembro aumentou 17% em relação ao valor recolhido no mesmo período de 2009. Segundo Campagnolo, o aumento tem, como uma das causas, os próprios mecanismos de controle e fiscalização do governo, cada vez mais eficientes. Prova disso é a Nota Fiscal Eletrônica. Entre os produtos mais tributados, estão a bebida – por exemplo, no preço dos destilados estão embutidos 60% de impostos -, cigarros, perfumes e combustíveis.

Investimentos Pagar imposto é um dever do cidadão. Os recursos são investidos em obras, equipamentos e serviços, que dão sustentação à manutenção do Estado, que é responsável por aplicar os recursos arrecadados para o bem comum. O dinheiro dos tributos, portanto, paga pela manutenção de escolas e hospitais públicos, segurança, asfalto etc. Esses serviços não

são nenhum favor dos governos. Em 2010,, os brasileiros devem pagar mais de R$ 1,3 trilhão em impostos, o que corresponde a 37% de tudo o que o País produz. É como se cada brasileiro desse R$ 6 mil para bancar os serviços públicos. Cada brasileiro paga em média 40% de sua renda em impostos. É como se trabalhássemos cinco meses do ano somente para pagar os tributos. A campanha “Sombra do Imposto” tem como objetivo aumentar o conhecimento da população sobre o sistema tributário brasileiro e defender a reforma tributária. Serão distribuídas, numa primeira etapa, 1,2 milhão de cartilhas através do Sistema Fiep, da Federação das Associações Comerciais e da Associação Comercial do Paraná. Com informações sobre quanto o brasileiro paga em tributos e sobre como os recursos públicos são utilizados, o documento percorrerá todo o Estado,


Pedro Ribeiro

Fiep lança cartilha “Sombra do Imposto” para orientar o cidadão sobre o sistema tributário que, neste ano, embolsará R$ 1,3 trilhão dos brasileiros

insuportável e insustentável principalmente na rede de ensino como instrumento de cidadania. “Queremos que toda a sociedade brasileira saiba o quanto pagamos de impostos e como eles são distribuídos. Nossa intenção é chamar a atenção dos congressistas para que isso se torne uma bandeira nacional. Não contra impostos, mas que os recursos arrecadados sejam efetivamente bem aplicados e com transparência”, pondera Campagnolo. Para o coordenador da cartilha, trata-se de um movimento de cidadania, onde todos tenham conhecimento sobre a distribuição da renda, fruto de trabalho de todos e não para ser aplicada em assistencialismo ou apenas em projetos sociais que visam frutos eleitoreiros.

Como são cobrados As três esferas de governo - União, estados e municípios - cobram impostos. Os tributos são cobrados em produtos e serviços de forma indireta, e de forma direta, sobre a propriedade de bens, por exemplo. A União também recolhe contribuições, que podem incidir sobre produtos, operações financeiras, salários etc. Veja alguns dos principais impostos e contribuições. No total, são mais de 80 tributos, taxas e contribuições no Brasil. IPI - É um tributo federal cobrado sobre

o que é produzido pela indústria. A alíquota varia de acordo com o produto. Em uma máquina de lavar, por exemplo, o imposto é de 20%. Um carro 1.0 paga 7%. ICMS - É um imposto administrado pelos estados e que é aplicado sobre produtos vendidos no comércio e sobre serviços essenciais, como telefonia e energia elétrica. A alíquota varia de acordo com o produto e o estado em que é cobrado. No Paraná, por exemplo, os alimentos da cesta básica têm alíquota de 7%, enquanto na energia elétrica ela é de 29%. Imposto de Renda - Este tributo é cobrado diretamente pelo governo federal e incide sobre rendas, como salários, aplicações financeiras e imobiliárias. No caso do salário, estão isentas as pessoas que ganham até R$ 1.499,15 por mês. Acima disso e até R$ 2.246,75, a alíquota é de 7,5%. Na faixa seguinte, até R$ 2.995,70, o imposto é de 15%. Depois, a alíquota é de 22,5% para salários até R$ 3.743,16. A partir desse valor, passa a ser de 27,5%. IPV IPVAA - O imposto é administrado pelos estados, que cobram alíquotas variadas. No Paraná, os veículos de passeio pagam 2,5% ao ano sobre o valor de mercado. IPTU - É cobrado pelas prefeituras, com alíquotas variáveis e que são aplicadas todos os anos sobre o valor dos imóveis.

Quanto é gasto Neste ano, o setor público vai gastar mais de R$ 1,4 trilhão. São R$ 1,3 trilhão arrecadado com impostos e outros R$ 100 bilhões emprestados. Isso significa que o governo tem déficit, ou seja, gasta mais do que arrecada.

Quem gasta Governo federal ............................ R$ 800 bilhões Estados ........................................... R$ 400 bilhões Municípios ..................................... R$ 200 bilhões

Prioridades Veja quais os itens que mais consomem recursos públicos no Brasil - incluindo a conta previdenciária e todos os níveis da administração: Previdência ..................................................... 28% Saúde ............................................................... 15% Educação ........................................................ 13% Juros ............................................................. 12,8% Administração ............................................... 5,7% Transportes .................................................... 3,7% Segurança ...................................................... 3,7% Assistência social ........................................... 3,5% Outros .......................................................... 14,6%

O que dá para fazer Com R$ 1,3 trilhão de tributos, pode-se construir 48.994.527 casas populares de 40 m2, ou construir 83.698.984 salas de aula equipadas, ou construir 12.554.848 quilômetros de redes de esgoto, ou ainda asfaltar 1.004.388 quilômetros de estradas, ou pagar 1.969.387.849 salários mínimos, ou fornecer 8.369.898.357 Bolsas Família, ou comprar mais de 4.853.287.281 cestas básicas, ou adquirir 14.348.397 ambulâncias equipadas, ou construir mais de 21.369.953 postos policiais equipados, pagar por 151 meses a conta de luz de todos os brasileiros ou, ainda, plantar 251.096.950.701 árvores. Fonte: Impostômetro

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Tamandaré

A administraçăo municipal de Almirante Tamandaré continua qualidade de vida da populaçăo, a Prefeitura tem feito um esforço

1. CENTRO DA JUVENTUDE

PAVIMENTAÇÃO DE RUA NO TANGUÁ

(Obras em andamento)

(Obra concluída) Mais uma obra de pavimentaçăo concluída pela Prefeitura - a Rua Roberto Dreschler, na qual está localizada a Escola Municipal Clair do Rocio Sandri e a Escola Estadual Professor Alberto Krause, no bairro Tanguá.

Localizado numa área de 20.000 m2, desapropriada pela Prefeitura Municipal para a construçăo do novo Centro Administrativo (já em funcionamento), o Centro da Juventude comporá um grande complexo de prédios públicos que atenderăo a populaçăo da regiăo da Grande Cachoeira. A área destinada ao Centro da Juventude é de 8 mil metros quadrados. O local contará com área de lazer, piscina, teatro ao ar livre, quadras esportivas, pista de skate e um prédio com salas de informática, auditório, salas de estudo, entre outros espaços que atenderăo jovens de 12 a 18 anos.

As obras, que se iniciaram em agosto, estăo orçadas em cerca de R$ 422 mil e estăo sendo executadas com recursos próprios do Município.

PAVIMENTAÇÃO DA AVENIDA VER. WADISLAU BUGALSKI (Obra em funcionamento) O trecho pavimentado é de 220 metros lineares (correspondentes a 1.763 m2) e a obra custou cerca de R$ 132 mil, que foram pagos com recursos próprios do Município.

PAVIMENTAÇÃO DE RUA NO TANGUÁ- Vila Marta (Obra em andamento)

2. PAVIMENTAÇÕES PAVIMENTAÇÕES DE RUAS EM AREIAS (Obras concluídas) A Prefeitura Municipal pavimentou tręs ruas da

Através do Plano Comunitário, está sendo executada a pavimentaçăo da Rua Machado de Assis, com aproximadamente 650 metros de extensăo.

PAVIMENTAÇÕES DE RUAS EM TRANQUEIRA

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Regiăo de Areias: Bortolo Muraro, Otilia de Souza Ferrarini e Nilo Cropolato Matias. A obra, orçada no total de R$ 498 mil, foi totalmente custeada com recursos próprios do Município e a extensăo total das pavimentaçőes é de 800 metros.

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(Obra em andamento) Em Tranqueira também estăo acontecendo obras da Prefeitura Municipal. com aproximadamente 1.000 metros, as ruas que estăo sendo pavimentadas săo: Rogério Gulin, Francisco Cardoso e José Luiz Keep.

A obra de pavimentaçăo desta via de 7 quilômetros, está dividida em dois Lotes (1 e 2). O primeiro Lote, da Regiăo do Jardim Buenos Aires até a Ponte do Taboăo (divisa com Curitiba), já está com os serviços de drenagem, execuçăo de meio fio e regularizaçăo de base das calçadas laterais da pista já concluídas. Já foi iniciada a aplicaçăo de capa asfáltica (1Ş. camada) na pista (próximo ao acesso principal da Escola Estadual Tancredo Neves). O outro trecho (Lote 2) já está com o contrato com a empresa vencedora da licitaçăo assinado e os trabalhos preliminares, já autorizados pela Prefeitura, deverăo ser iniciados no início de novembro e o prazo para execuçăo total é de 180 dias. Este Lote liga a sede do Município até o Jardim Buenos Aires (cerca de 3,5 Km).


em Obras

trabalhando em benefício da cidade. Para a melhoria da com a execuçăo de obras em várias regiőes da cidade. Confira: PAVIMENTAÇÃO DE RUA NO MONTE SANTO (Obra em andamento)

4. CONSTRUÇÃO DO CREAS – Centro de Capacitação de Adolescentes (Obra em andamento) Com Ordem de Serviço assinada em 26 de julho de 2010, as obras de construçăo do Centro de Capacitaçăo de Adolescentes – Programa de Medidas Sócio-Educativas de Almirante Tamandaré estăo em fase de acabamentos interno e externo. lizadas. Estăo sendo substituídas as portas de vidro (para vidro temperado) e será colocado piso de granito em parte de saguăo (onde está danificado). A Previsăo de conclusăo da obra é para o męs novembro.

As obras de pavimentaçăo da Rua Săo Bento, localizada no Jardim Monte Santo, com 280 metros de extensăo (acesso ŕ Escola Municipal Lourenço Ângelo Busato e Ginásio do Jardim Monte Santo) estăo orçadas em R$ 222 mil.

3. US JARDIM ROMA – AMPLIAÇÃO (Obra em andamento)

A Unidade de Saúde do Jardim Roma, cuja Ordem de Serviço foi assinada em 16 de junho, está com suas obras de ampliaçăo de mais 90 m2 em estágio avançado. Orçada em R$ 106 mil, que serăo pagos com recursos do FUNASA e com contrapartida do Município, a obra está em fase de acabamentos interno e externo e a previsăo de entrega da obra ŕ populaçăo é para o final do męs de novembro.

6. ILUMINAÇÃO DA RUA AGRIMENSOR NICOLAU WALKIR NETO (MONTERREY) Localizado na Rua Joăo Cândido de Siqueira, no Centro, funcionará ao lado do Centro de Atendimento Psicossocial Osmar Jopert. As novas instalaçőes, com aproximadamente 88 m2, contarăo com salas de múltiplo uso, sala de informática e banheiros. O investimento total para a construçăo é de R$ 110 mil, com recursos do Fundo da Infância e Adolescęncia (FIA) e uma pequena contrapartida da Prefeitura.

(Obra concluída) A Prefeitura executou a iluminaçăo completa da Rua Agrimensor Nicolau Walkir Neto localizada no Jardim Monterrey. A retificaçăo do traçado e pavimentaçăo da via, uma antiga reivindicaçăo da comunidade, foi anteriormente executada pelo Município em parceria com o Governo do Estado. A iluminaçăo completou a obra.

5. EDIFÍCIO SEDE DA PREFEITURA (CENTRO) – OBRAS DE RECUPERAÇÃO DA FACHADA (Obra em andamento) A obra, orçada em torno de R$ 70 mil, está em fase de finalizaçăo da recuperaçăo da sacada (que estava com a estrutura danificada por infiltraçőes) e parte do edifício já foi pintada. Na cobertura foram substituídas telhas e madeiramento e todas as floreiras foram impermeabi-

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agronegócio

Mercado favorável Para se beneficiar do bom momento vivido pela soja, o agricultor tem de planejar as vendas

D

iferente do que os agricultores passaram na safra 2009/2010, onde as cotações da soja foram influenciadas por fatores especulativos, a tendência para 2010/11 é que os preços dos grãos sejam fundamentados na lógica da oferta e da demanda. Esta é a avaliação do economista e diretor técnico da área de oleaginosas do Grupo Safras, Flávio Roberto de França Júnior, ao sinalizar que as projeções para o atual período agrícola mostram variáveis distantes das que predominaram nesse ano e apresentam margens mais apertadas aos produtores. Mas o cenário não é de todo ruim. Durante o “Seminário de Tendências do Agronegócio - Cenários para 2011”, promovido pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em parceria com o Sindicato e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), no dia 19 de outubro, em Curitiba, França Júnior adiantou que o mercado internacional, em compensação, estará mais favorável à comercialização. “O preço da soja na Bolsa de

Plantio Já aguardando a chegada do fenômeno La Niña e tendo noção do risco que as plantações correm, os produtores paranaenses têm se preparado de diversas formas, para não serem prejudicados pela estiagem. O agricultor Neudi Mosconi, produtor de grãos em Cascavel e Vera Cruz, no Oeste do Para-

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ná, vai apostar no plantio escalonado e na aplicação de aminoácidos nas sementes, para proteger os mais de 700 hectares de feijão e 250 hectares de soja que cultiva. Segundo ele, a técnica do plantio escalonado, de acordo com o ciclo de desenvolvimento de cada cultura, preserva a produção

final, caso haja uma temporada com poucas chuvas. “Plantando os grãos em diferentes períodos do ano, com intervalos de tempo característicos de cada planta, a chance de perdermos a safra é menor, já que sabemos que ficaremos na dependência da chuva”, disse. Mosconi vai utilizar também, a aplicação


Lucian Haro

França Junior: “fundamentada na lógica da oferta e da demanda”

Chicago (CBOT) ficou engessado ao longo de 2010, entre US$ 9 e US$ 10 o bushel, e só subiu para US$ 12, em setembro, quando boa parte da colheita brasileira já havia sido vendida. A perspectiva é de que esse patamar se mantenha na venda da safra 2011, mas com a diferença de que não haverá especulação, ou seja, os preços serão mais firmes e consistentes”, previu. Para ele, os “ares” favoráveis aos produtores em 2011, estão relacionados, também, aos prêmios de exportação, que devem se manter, em média, entre US$ 0,40 e US$ 0,50 o bushel no Porto de Paranaguá. Sobre a inesperada valorização da soja na

de aminoácidos para fortificar e garantir o desenvolvimento do feijão e da soja. “Estamos utilizando, também, aminoácidos junto às sementes, para ativar o poder radicular das plantas e elevar, assim, entre 30% e 40% as chances de ocorrer o enraizamento no solo”, afirmou.

CBOT, ocorrida no segundo semestre deste ano, o analista disse que o aumento na demanda veio embalado por uma mudança no complexo grãos: como o trigo e o milho, que sofreram um enxugamento na Europa e, por isso, foram mais procurados no Brasil. “A relação da soja com os outros grãos está diretamente ligada à demanda do mercado de consumo de ração e também à produção dos Estados Unidos. Com o milho custando US$ 5 a saca e o trigo custando US$ 7 a saca, é praticamente impossível a soja ficar abaixo dos US$ 10,50, US$11”, explicou. Já quanto aos fatores que podem comprometer o sucesso da próxima safra, o economista afirmou que o perfil climático será grande motivo de preocupação. Tudo isso, porque está prevista a ocorrência do fenômeno La Niña, de intensidade moderada a forte, no Centro-Sul do País. “O fenômeno se diferencia do El Niño, que ocorreu no ano passado, e pode causar períodos severos de seca, interferindo no cultivo e no desenvolvimento dos grãos. O clima não apenas preocupa, como provoca mudanças no perfil das plantações, tanto que o plantio no Centro-Oeste do Brasil já está atrasado”, afirmou França Júnior. Mesmo com as boas perspectivas para o cenário da comercialização em 2011, a reco-

mendação do analista para os produtores é a de aproveitarem a boa fase oferecida pelo mercado. Mas sem pressa em se desfazer da produção. “O meu conselho é vender a safra, mas sem ser agressivo. Não dá para deixar de aproveitar os bons preços, mas é bom seguir uma linha conservadora até o final deste ano, afinal, 2010 é um ano de margens apertadas, e a expectativa é que os preços melhorem de 10% a 15%, só na época das primeiras colheitas”, alertou.

Soja no Paraná De acordo com o agrônomo Otmar Hubner, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, os agricultores paranaenses tinham plantado soja em cerca de 4,5 milhões de hectares até setembro. A produção estimada da oleaginosa é de 13,7 milhões de toneladas.

Otmar Hubner

Um plantio escalonado para proteger a produção. Neudi Mosconi Mosconi Neudi

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agronegócio

Saboroso e saudável N

ovas descobertas científicas sobre alimentos e substâncias que desempenham funções benéficas ao corpo humano interessam a qualquer um que queira ter uma “saúde de ferro”. Ainda em fase de testes, mas já apresentando resultados promissores, a novidade do setor é a utilização de bactérias probióticas em produtos embutidos, como salames, para tornar mais funcional o poder desses alimentos no organismo. O nome pode parecer estranho, mas os probióticos já são velhos conhecidos da população. Eles estão presentes em bebidas lácteas, leites fermentados, sucos, barras de cereais e cremes vegetais e, segundo especialistas, são ótimas ferramentas na prevenção de doenças, proteção dos órgãos e tecidos e manutenção das reações básicas do corpo. Em carnes, a utilização dessas substâncias ainda é incipiente, mas, levando em consideração que quanto mais nutritivo for o alimento, mais “turbinado” à saúde ele se torna, o avanço parece ser bastante promissor. Um grupo de pesquisadores paranaenses testou, recentemente, a incorporação dessas bactérias em salames - a iniciativa pode ter dado origem a uma versão mais saudável do

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Lucian Haro

Pesquisa com probióticos no Paraná pode ter dado origem a salame com propriedades benéficas ao organismo

Foto: João Borges

produto. De acordo com a coordenadora do projeto, Renata Emlund Freitas de Macedo, pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e também vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos - Regional Paraná (SBCTA-PR), a tentativa de agregar os benefícios dos probióticos às propriedades naturais

Alguns produtos com probióticos

dos alimentos cárneos, surgiu para tentar potencializar a funcionalidade dessas substâncias, quando ingeridas. “Os probióticos são conhecidos por melhorarem o equilíbrio microbiano intestinal, facilitando a digestão, prevenindo o câncer de cólon e reduzindo os níveis de colesterol sanguíneo, por isso são incorporados frequentemente a outros alimentos”, afirma. Segundo a pesquisadora, os microorganismos precisam ser consumidos vivos para funcionarem e para que se mantenham no ambiente, é necessário, porém, que estejam em uma matéria-prima que não sofra aquecimento durante a produção e que permaneça

Fermentados:

Yakult, Actimel, Chamyto, Batavito, Vigor Club etc. Activia, Biofibras e Nesvita

São incorporados frequentemente a outros alimentos. Renata Emlund Freitas de Macedo

Iogurte:

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agronegócio

refrigerada – por isso a escolha do salame. A pesquisadora explica ainda, que depois de ter escolhido a base para as experimentações, foi preciso testar algumas linhagens bacterianas para ver qual delas se adaptaria melhor à carne. “Durante o estudo, utilizamos os Lactobacillus casei, paracasei e rhamnosus, misturados à massa de salame e avaliados quanto à viabilidade durante o processamento do produto e também quanto às alterações que poderiam causar nas características do produto, como textura, aparência e gosto. No fim, verificamos que os probióticos mantiveram-se viáveis no salame, em quantidade superior à mínima necessária para obtenção dos efeitos probióticos no organismo e sem gerar alterações”, diz. A chegada do produto ao mercado ainda não está prevista, muito menos foi estipulado o valor comercial que teria, mas Renata garante que o salame não custaria caro nem para os produtores e nem para os consumidores, comparado com os benefícios que o consumo do alimento traria à saúde. Ainda sobre as vantagens do consumo dos probióticos, a nutricionista e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sila Mary Ferreira, diz que esses microorganismos, quando ingeridos frequentemente e em uma quantidade suficiente para funcionarem, assumem um papel importante no organismo. Segundo ela, as bactérias mais conhecidas por exercerem essa função são as Lactobacillus spp, Streptococus thermophilus, Bifidobacterium sp, presentes principalmente em leites fermentados e alguns iogurtes. “Um alimento com probióticos incorpora microorganismos vivos (lactobacilos, bífidobactérias) e, se consumido de forma contínua, produz benefícios à saúde, ao bem estar, além dos efeitos nutricionais, como proteção do intestino grosso (cólon) e equilíbrio da flora intestinal”, afirma.

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Sila: “produz benefícios à saúde, ao bem estar”

Funções dos probióticos Atuam no intestino grosso como inibidores da proliferaçăo de bactérias intestinais indesejáveis. Ao se fixarem na parede intestinal promovem a imunidade humoral e celular; Melhoram a resposta imunológica do organismo, pois aumentam a síntese de imunoglogulinas (IgA) e ativaçăo de linfócitos T e B provocando barreira protetora no intestino; Os lactobacilos presentes nos probióticos produzem a enzima beta-galactosidase, que facilita a digestăo da lactose; produzem substâncias que inibem a açăo dos agentes causadores de toxinfecçăo alimentar. Os Lactobacillus spp, por exemplo, produzem substâncias bactericidas como peróxido de hidrogęnio que inibe a açăo da Salmonella sp; a presença das Bífidobactérias é capaz de sintetizar algumas vitaminas do complexo B e enzimas digestivas; as Bífidobactérias reduzem, também, o colesterol total pela diminuiçăo do colesterol LDL e, aumento de colesterol HDL.

Probióticos x Prebióticos É comum ainda que muitas pessoas confundam a funçăo dos microorganismos probióticos com a dos prebióticos. Mais do que uma letra no nome, a diferença entre elas está, também, nas açőes que desempenham no corpo humano. A nutricionista Sila Ferreira, explica que os dois tipos de bactérias atuam juntos no sistema digestivo mas assumem papéis diferentes. “Os prebióticos podem ser definidos como fibras alimentares năo digeríveis pelo organismo e funcionam como estimuladores seletivos do crescimento e ou atividade de um número limitado de bactérias úteis ao cólon. Essas substâncias năo săo digeridas pelo estômago e săo aproveitados pelos probióticos, garantindo os efeitos positivos no organismo”, esclarece. Ainda de acordo com a nutricionista, os prebióticos evitam a proliferaçăo de bactérias “ruins” no intestino grosso, pois produzem ácidos graxos de baixo peso molecular (AGCC – acetato, propianato e butirato), além de facilitarem a absorçăo do cálcio, magnésio, ferro e zinco pelo organismo.


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cultura

Da Redação

Cultura de graça Com transmissões ao vivo pela internet, expectadores não precisam mais sair de casa para ir ao teatro

J

á se foi o tempo em que era preciso enfrentar filas para comprar ingressos de alguma peça de teatro, desembolsar um bom dinheiro para ver um artista em cartaz ou ter que sair de casa uma hora antes do início do espetáculo para não se atrasar. Tudo isso foi substituído agora, pela internet, que passou a transmitir as montagens em tempo real e o melhor de tudo, de graça. A técnica do e-teatro, como é chamada, ainda é novidade no Brasil, mas já funciona em Curitiba desde junho desse ano. As exibições são realizadas, unicamente, pelo teatro Reikrauss, que é o único espaço da América Latina a dispor dessa tecnologia de maneira independente e sem cusBenemond: “disseminação gratuita da cultura tos ao público. curitibana e brasileira pelo mundo” Segundo o diretor do teatro, Reikrauss Benemond, o objetivo da compra do equipamento para transmissão simultânea das peças em cartaz, é divulgar a cultura para as pessoas que, por algum motivo, não podem assistir às produções no teatro e para proporcionar, também, o acesso às montagens do Reikrauss em todo o mundo. “Mais do que uma inovação, O e-teatro trata da disseminação da cultura curitibana e brasileira pelo mundo e do livre acesso à cultura por aqueles que não podem ir ao teatro, seja pela distância, falta de tempo ou de dinheiro”, diz. Para Benemond, a novidade tem tudo para dar certo, ainda mais se levado em consideração o aumento no número de acessos “O Avarento”, umas das peças que foi transmitida simultaneamente pela internet

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à internet, registrados pelos brasileiros – segundo o Ibope, o País já é o quinto do mundo em conexões à rede mundial. Ele diz ainda que os teatros não correm o risco de ficar vazios. “Dificilmente a experiência de assistir a uma peça de teatro ao vivo será substituída. Espera-se, inclusive, que a prática on-line incentive as pessoas a irem ao teatro, hábito ainda incomum em mais da metade da população brasileira”, acrescenta. Desde o começo das transmissões, já foram exibidas na internet 15 peças, entre produções locais e de outras cidades brasileiras. O próximo passo do eteatro é disponibilizar um telão, que rodará em alguns pontos da cidade, transmitindo os espetáculos.

SERVIÇO Informaçőes pelo site

www.teatroreikrauss.com.br


artigo

Sergio Bassi *

A ”onda azul”. O milagre não existe H

á 12 anos, após anos de pesquisas, a indústria internacional da bioenge nharia farmacêutica colocou à disposição dos homens deste planeta, aquilo que se poderia chamar de “o milagre da potência eterna”. A milagrosa pílula da potência veio para ficar. E ficou. Criou raízes e se expandiu por todos os cantos do planeta. O conhecimento de sua existência e a curiosidade sobre seus efeitos foram de tal forma importantes que “Viagra”, o nome comercial patenteado que a Pfeizer deu ao produto, passou a ser sinônimo de “remédio para impotência”. Foi a época da euforia. Adeus àquelas técnicas de injeções no pênis inventadas pelo meu amigo e professor em Paris, o Dr. Roland Virag. Adeus às Próteses Penianas que eram, na época, o símbolo da solução definitiva da impotência. Os mais ricos mundo afora, permitiam-se “mimos sofisticados” como o implante de próteses infláveis (com botão de ativação sob a pele da bolsa escrotal) que aumentavam até em comprimento e espessura quando infladas. Foi nesta época que eu realmente me perguntei! “De que valeu meu tempo gasto nos EUA com os mestres e amigos Montague, Mulcahy, Dabwalla, aprendendo a instalar cirurgicamente traquitanas tão sofisticadas, se agora elas estavam prestes a cair no ostracismo? De que valeu meu tempo viajando por tantos países das Américas e da Ásia, operando junto com colegas médicos interessados em aprender sobre tais traquitanas se elas estavam prestes a ser extintas, esmagadas pela “onda do comprimido azul”? O tempo passou, a fofoca continuou, a curiosidade também. Muitos falaram mal. Até mesmo “matar do coração” o comprimido foi

acusado. Muitos mais falaram bem. Novos primos, com outras cores e nomes surgiram para aumentar a famosa e tão desejada família dos “remédios de impotência”. Quem não conhece os termos Levitra, Cialis, Helleva e atualmente tantos similares e genéricos decorrentes da abertura da patente do “comprimido azul”? A ponderação veio com o tempo. A realidade dos fatos foi demonstrada pela ação séria de pesquisa da Medicina. Estes são verdadeiramente medicamentos revolucionários para a qualidade de vida dos homens. Eliminaram definitivamente qualquer indicação de uso das famigeradas injeções penianas do meu querido Dr. Virag. São medicamentos que funcionam muito bem para melhorar uma potência normal naqueles dias de maior empolgação. Funcionam ainda muito bem nas impotências de origem psicogênica, não somente permitindo ao homem retomar imediatamen-

te sua vida sexual, mas recobrando nele a autoconfiança, tão essencial nestes casos para permitir o retorno de uma atividade sexual natural (não auxiliada por medicamentos). Estes medicamentos funcionam também em casos de impotência orgânica de origem vascular e/ou neurológica leve ou moderada, trazendo a baixa performance para um nível mais natural de desempenho sexual. Enganam-se, no entanto, aqueles que acham que tudo pode ser resolvido no comprimido. As próteses penianas sobreviveram à euforia dos comprimidos. Elas continuam sendo a opção mais sensata, prática, segura e definitiva para as impotências mais severas, que respondem pouco aos medicamentos em baixas doses. O paciente diabético, ou com doença neurológica incapacitante, aquele homem com impotência por sequela cirúrgica, são candidatos perfeitos a um implante de Prótese Peniana. O remédio deve ficar de uso restrito aos outros casos mais leves de disfunção erétil. Uma coisa, no entanto, a euforia, a sensação do milagre da ciência, trouxe de bom para nossa ainda ingênua humanidade. Nunca se falou com tanta naturalidade sobre sexo como depois do surgimento do comprimido azul. O tabu caiu! O pavor de ficar impotente tornouse apenas medo. A “Idade das Trevas” se foi, a “Inquisição” sobre o sexo e a sexualidade humana acabou e com o comprimido azul veio o “Renascimento” da sexualidade humana no apagar das luzes do Século XX . Parabéns ao comprimido azul. Viva o Renascimento. Fim do Século XX . Sem milagres. Felizmente somos humanos. *Sergio Bassi é médico urologista e presidente do Hospital Griffon

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agenda

Eventos

Encontro de Máquinas

O Pavilhăo de Exposiçőes do Parque Barigui vai funcionar, nos dias 13 e 14 de novembro, como garagem para as máquinas do 3ş Encontro Brasil Hot Rods Curitiba Roadsters. O evento reunirá mais de 200 carros antigos, além de 40 estandes de empresas e marcas do setor automotivo nacional. Informaçőes: www.encontrobrasilhotrods.com.br

Neurocięncia Aplicada ŕ Educaçăo

Nos dias 18 e 19 de novembro, o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe (IPP) realiza o 1ş Workshop de Neurocięncia Aplicada ŕ Educaçăo, dentro da programaçăo do 1ş Simpósio de Neurocięncia Aplicada ŕ Psiquiatria. O Workshop abordará temas atuais que afetam crianças e adolescentes em período escolar. Os encontros serăo realizados na sede do Conselho Regional de Medicina do Paraná. Informaçőes: www.pelepequenoprincipe.org.br.

Comércio Internacional

Promovido pelo Instituto de Pesquisas em Comércio Internacional e Desenvolvimento, pela Escola de Direito e Relaçőes Internacionais e pelo Programa de Mestrado em Direito das Faculdades Integradas do Brasil (UNIBRASIL), será realizado no dia 26 de novembro, o Encontro Brasileiro de Comércio Internacional 2010. O evento tem como objetivo discutir aspectos jurídicos práticos envolvidos nas transaçőes comerciais internacionais, assim como as perspectivas da economia brasileira e a sua correlaçăo com o comércio exterior. Informaçőes: www.ebcinter.com.br

Salăo do Automóvel

O Expotrade Convention Center recebe entre os dias 20 e 28 de novembro a 14ş ediçăo do Salăo do Automóvel, realizado pela Agęncia J.A Produçőes e Eventos. Na ediçăo de 2010, o maior evento automotivo do Brasil trará novidades da área náutica, motocicletas de alta cilindrada, veículos esportivos, hot rods, customizados e fora de série. Informaçőes: www.twitter.com/salaodecuritiba

Exposições

Retratos da música curitibana

O Quintana Café & Restaurante abriga até o dia 19 de novembro a exposiçăo “Retratos da música curitibana”, do fotógrafo Paulo Rick. A mostra tem como tema o trabalho das bandas curitibanas. A visitaçăo pode ser feita de segunda a sábado: das 11h30 ŕs 18h e aos domingos, das 12h ŕs 16h. Informaçőes: (41) 3078-6044.

Desenhos no BRDE

Até o dia 24 de novembro, a exposiçăo “Desenhos Cobertos de Tintas”, do artista plástico Júlio Manso Vieira, pode ser vista no Espaço Cultural BRDE. A mostra é um diálogo entre o desenho e a serigrafia e traz como tema imagens inspiradas na Serra do Mar do Paraná, local que resgata a relaçăo do artista com a natureza. Exposiçăo fica aberta de segunda a sexta-feira, das 12h30 ŕs 18h30. Informaçőes: (41) 3219-8056.

Transeuntes

A fotógrafa Alessandra Haro expőe, até o dia 27 de novembro, o resultado artístico das pesquisas que realizou durante o mestrado em Fotografia Artística, feito na Espanha. A exposiçăo “Transeuntes” está montada no Museu Guido Viaro, em Curitiba e a entrada é gratuita. informaçőes pelo (41) 3018-6194 ou no www.museuguidoviaro.org.

Os Modernos Brasileiros

Até o dia 28 de novembro, estarăo expostas no Museu Oscar Niemeyer (MON), obras de designers e arquitetos renomados como Oscar Niemeyer, Gregori Warchavchik e Lasar Segall, nunca vistas pelo público. A mostra chamada de “Os Modernos Brasileiros + 1”, reúne 58 peças originais, que até hoje săo referęncia para o design. Informaçőes: (41) 3350-4400.

Panoramas Paranaenses

“Espreguiçadeira com Balanço”, de Oscar Niemeyer, década de 70

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A exposiçăo “Panoramas Paranaenses”, da artista plástica Ane Serpa Cazamajou fica aberta para visitaçăo até o dia 10 de dezembro, no Hotel Blue Tree Towers Curitiba. A mostra reúne 18 obras com uma perspectiva bastante peculiar e intimista da artista sobre as paisagens do Estado. Informaçőes: (41) 3017-1090.


Teatro

Circo do “Zé Priguiça”

Até o dia 11 de dezembro, a populaçăo é convidada a visitar, gratuitamente, o Circo da Cidade “Zé Priguiça”, no Alto Boqueirăo. As apresentaçőes circenses contam com participaçăo da Cia. La Arena, de Buenos Aires, trazida a Curitiba pela companhia Imă.circo e pela Aspart. A intençăo dos organizadores é gerar um intercâmbio entre artistas argentinos e criadores curitibanos e promover, também, oficinas de artes para alunos das escolas da rede municipal de ensino. O circo está montado na Rua Benedicto Siqueira Branco, s/n – Alto Boqueirăo. Informaçőes: (41) 3287-5307.

Alice no País das Maravilhas

A montagem do espetáculo infantil “Alice no País das Maravilhas” fica em cartaz no Teatro Regina Vogue, até o dia 14 de novembro, sempre aos sábados e domingos, ŕs 16 horas. Informaçőes: (41) 2101-8292

Feche os olhos para Olhar

Fica em cartaz até o dia 21 de novembro no Teatro Cleon Jacques o espetáculo “Feche os olhos para Olhar”, da desCompanhia de dança. O espetáculo trata do olhar que se faz no toque, na relaçăo, nos sentidos e acima de tudo na percepçăo. Entrada franca. Informaçőes: (41) 3313-7190.

Shows

Norah Jones

No dia 12 de novembro, a cantora e pianista norte-americana Norah Jones faz única apresentaçăo no Grande Auditório do Teatro Positivo. A artista inicia sua turnę no Brasil para apresentar seu mais recente trabalho “The Fall”. Valor dos ingressos: de R$ 104 a R$ 244. Informaçőes: (41) 3317-3000.

Millencolin

Também no dia 12, a banda sueca de Punk rock Millencolin retorna ao Brasil, para agitar o Curitiba Master Hall. Os ingressos estăo ŕ venda pelo Disk Ingressos. Informaçőes: (41) 3248-1001 / 3315-0808.

Joăo Neto e Frederico

Já para quem prefere uma balada sertaneja, a dupla Joăo Neto e Frederico se apresenta no Curitiba Master Hall, dia 19 de novembro. A dupla goiana traz a Curitiba sucessos do disco “Vale a Pena Sonhar”, que incluem “Revelaçăo”, “Tô Sofrendo por Paixăo” e “Marmiteiro”. Os ingressos custam de R$ 35 a R$ 65. Informaçőes: (41) 3248-1001.

Sandy

Após encerrar uma carreira de 17 anos ao lado do irmăo, a cantora Sandy vem ŕ Curitiba para lançar seu CD solo, “Manuscritos”. O álbum tem treze faixas, todas de autoria de Sandy. O show será no dia 19 de novembro, no Teatro Positivo. Os ingressos já estăo a venda e podem ser adquiridos pelo Disk-ingressos.

Filhos da Música

Nos dias 26 e 27 de novembro, o guitarrista Bem Gil (filho de Gilberto Gil), o pianista Donatinho (filho de Joăo Donato) e a pianista Bianca Gismonti (Duo Gisbranco, filha de Egberto) se encontram no Teatro Paiol, dentro do projeto Filhos da Música, que tem como objetivo celebrar o DNA musical e mostrar que as influęncias da música já nascem no berço. Nos dias 3 e 4 de dezembro, é a vez André Vasconcellos (filho de Ricardo Vasconcellos), Joăo e Max Vianna (filhos de Djavan) se encontrarem e encerrarem a programaçăo. Informaçőes: (41) 3213-1340.

Paz e Humor

No dia 2 de dezembro, o humorista gaúcho Paulinho Mixaria estreia seu novo show “Paz e Humor” no Grande Auditório do Teatro Positivo. O humor sem palavrăo é a marca registrada do artista, que leva a platéia ao riso através de causos e piadas do cotidiano das pessoas. Mixaria sobe ao palco junto com o irmăo Jorge Barttira e fará, ainda, o lançamento do DVD “Ói As Cunversa”. Ingressos a venda pelo Disk Ingressos e na bilheteria do Teatro. Informaçőes: (41) 3315-0808.

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perfil

Fernanda Richa N

a Vila Parolim, uma das mais perigosas favelas de Curitiba, Fernanda Richa, esposa do governador eleito, Beto Richa, jogou bolinha de gude com as crianças e é uma espécie de madrinha da Associação dos Moradores do bairro. Encara todas as situações e há quem sustente que ela teve papel fundamental na vitória do então candidato ao Governo do Estado. Foi vitoriosa também nas duas campanhas que elegeram o marido a prefeito da capital paranaense. Assumiu a Fundação de Ação Social com braço forte e, hoje, é uma das mais respeitadas dentro das comunidades carentes de Curitiba. Citar seus feitos não a elogia, porque sempre diz que nada mais faz do que a obrigação do cargo público e o prazer em poder contribuir para uma sociedade com melhor qualidade de vida.

Foi assim todos os dias de primeira-dama do município de Curitiba e deverá ser assim como primeira-dama do Estado onde, provavelmente, assumirá a presidência do Provopar para ampliar seus conhecimentos e suas ações no combate à miséria em todo o Paraná. Embora tenha nascida em berço de ouro, neta do banqueiro Avelino Vieira, que mon-

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tou um dos mais complexos sistemas financeiro do País, Fernanda Richa estudou na Suíça, é de gosto simples e normalmente veste jeans tanto nas imersões da promoção social, como em um jantar ou almoço nos clubes mais sofisticados da capital. Seus discursos na área social são recheados de esperança e nunca de promessas. E ela só se compromete com o que, efetivamente, possa vir a cumprir. Sua comunicação com o mundo da periferia está pautada no diálogo, onde suas palavras lotam associações de bairros, levando um naco de esperança às pessoas carentes, principalmente às crianças. Mãe e esposa dedicada, é capaz de interromper qualquer agenda para atender aos três filhos: Marcello, André e Rodrigo. Eles são prioridades absolutas. Fernanda Richa é formada em direito, nasceu em Curitiba, em 1963. Ainda muito jovem, perdeu o pai, Tomas Edson Vieira, em um acidente de avião que comoveu o País. Talvez, por ter sofrido a perda do pai, a jovem passou a se dedicar nas ações sociais, impulsionada pelo marido, o ex-prefeito e governador eleito, Beto Richa que também herdou do pai, o ex-governador José Richa, o carinho e a atenção especial para com os mais carentes. Por Pedro Ribeiro


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