Chams Business 7: O Brasil na marca da cal

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ano VIII número 7 - novembro de 2013

O Brasil na marca da cal Gols de placa e bolas fora da Copa de 2014 craque Rivellino sem papas na língua

Roberto duailibi não se pode ter medo de investir em publicidade

ícone Henry Maksoud Neto conta a história do hotel que não envelhece

produtos halal empresas brasileiras de olho no mundo árabe


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A P R E S E N TAÇÃO

Estamos em campo e com muita paixão

A

Chams Business não é uma revista especializada em esportes, mas pegou carona no principal torneio esportivo mundial e elaborou uma edição que está batendo um bolão. A Copa do Mundo já vem mexendo com o brasileiro desde que o País foi anunciado como sede, em 2007. Esta edição não será temática, falando exclusivamente sobre o evento, mas escalou alguns temas que tabelarão com a Copa e com turismo, esporte, automóveis, marketing esportivo, publicidade e muito mais. E não vamos fazer feio, mostrando que temos domínio do jogo. Escalamos um time de primeira, com Roberto Rivellino, o jogador; outro Roberto, o Duailibi publicitário; o ministro do Turismo, entre outros especialistas em suas posições e conhecedores do campo e dos adversários. Enfim, a revista vai mostrar que o Brasil funciona, sim, por causa da Copa do Mundo e sem ela também. Aliás, o que queremos é mostrar

exatamente isso: o Brasil está preparado, mas há vida no País fora do torneio de futebol. A hotelaria está muito bem treinada, porém o mais importante é saber como ela se comportará depois que o apito final encerrar o jogo e mostrar que o País vive sem a atração principal. E mais, que acabada a Copa, outro desafio vem aí, as Olimpíadas em 2016, no Rio de Janeiro. Mas isso é outro assunto, quem sabe, outra edição. Nossa Chams Business entra em campo este final de ano para seguir o que o professor nos pediu. Afinal, jornalismo não é uma caixinha de surpresas. Mas uma caixa de Pandora, na qual podem estar todas as surpresas, que esperamos sejam sempre boas. Por falar em boa, uma boa leitura!

Marco Barone Jornalista Responsável


v i são d a e d i tora

Navegar é (im)preciso dani sandrini

C

hams Business nasceu temática, nos idos de 2007. Foram duas exclusivas de mercado imobiliário e construção civil, já engatilhada a uma de saúde e bem estar. A partir de 2010, partimos para as multi-setoriais. Porém, no início deste ano, nossa equipe havia decidido por voltar a rondar temas. Como não se ater a grandes eventos? Mas não foi este um ano qualquer. Para o jornalismo, ano de perdas, quando o mês de maio levou na braçada de uma mesma semana os grandes publishers Ruy Mesquita e Roberto Civita. Chegou, então, o mês de junho, quando multidões outrora caladas optaram por tomar as ruas, o espaço do outro, do nós, do coletivo. Para o jornalismo, ano de sustos. Ficou célebre a imagem da repórter da Folha de S. Paulo que teve o olho direito alvejado por uma bala de borracha na violenta repressão policial da noite de 13 de junho. Mas esta mesma juventude que tomou as ruas não se contentava com a cobertura da mídia tradicional, a colocou em cheque e evidênciou um novo modo de fazer mídia, de se consumir notícias. Para o jornalismo, ano de encruzilhadas. Como lidar com as metamorfoses que questionam o status quo outrora consolidado? No início do ano, a receita de circulação de New York Times superou a de publicidade. Em agosto do mesmo ano, o Wa-

shington Post, talvez o mais antigo jornal da capital norte-americana, foi vendido ao presidente da gigante Amazon.com pela bagatela de U$ 250 milhões. Ao mesmo tempo, redações pelo Brasil cometeram cortes preventivos, encerraram publicações, redesenharam processos (isso necessário). Nunca foi tão grande o abismo entre gerações. A tecnologia não criou somente novas tribos, gírias e maneiras de comunicação, mudou a maneira de se consumir conteúdo, e não se trata de mudança estanque. Enquanto isso, na quadradura dos campos, clima de união, luta por direitos. Jogadores se manifestaram imóveis em nome do Bom Senso Futebol Clube. No decorrer do caminho, uma Copa veio se construindo, ao modo brasileiro, como poucos duvidavam que seria: gastos exorbitantes para enormes e quase modernas arenas — muitas das quais tornar-se-ão ociosas aos apitos finais. Se não for o legado da infra-estrutura, se não for o legado da inclusão, se não for o legado da mobilidade, se não for o legado do respeito ao que é público, que seja o legado de sobreviver a adversidades e, acima de tudo, aprender com elas. Micaela Fajuri de Bruyn Ferraz Diretora editorial Novembro de 2013


Consórcio Excelência e Qualidade em Construção Civil Pesada.

Aeroporto de Manaus/AM

O Consórcio Encalso – Engevix – Kallas está ampliando o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus/AM. Quando concluído, será o 4º maior do país em área

Resumo do empreendimento Terminal de Passageiros: Área Ampliada: 57.774,93 m², que totalizará uma área de 97.258,55 m²

construída.

Estacionamento para 2.670 vagas. Capacidade Anual de passageiros:

As obras estão em pleno andamento com

– Atual: 4,2 milhões

entrega prevista para abril de 2014.

– Projetada: 13,5 milhões

Encalso Construções Ltda. Praça Dom José Gaspar, 134 4º andar - São Paulo - SP www.encalso.com.br

Engevix Engenharia S.A Alameda Araguaia, 3571 Barueri - SP www.engevix.com.br

Kallas Incorporações e Construções S.A Rua João Lourenço, 432 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP www.kallasnet.com.br


SUMÁRIO 6 ESTANDE

diretor Raul Tárek Fajuri

8 energia

fontes alternativas já são vistas como opção

diretora editorial Micaela Fajuri de Bruyn Ferraz

projeto gráfico Wilson Roberto Santos

10 joel leite

“o brasileiro percebeu que podia exigir mais dos fabricantes”

arte e diagramação Wilson Roberto Santos revisão Luiz Paulo Rodrigues Leila Miriam Saraiva Fajuri jornalista responsável Marco Barone MTB 22.537

rodovias e ferrovias para integrar o País

administração, redação, departamento comercial e assinaturas: Av. Brigadeiro Luís Antônio, 2050 cj 105 - ala A CEP 01318-002 São Paulo SP

20 cruzeiros

Chams Business Novembro de 2013

o muro invisível entre o IDH e a cidadania

quase 800 mil passageiros navegaram pela costa brasileira na temporada 2010/2011

22 PRODUTOS HALAL

a Quatá teve linha de queijos certificados para público muçulmano

Divulgação/Ascom MPOG

17 ARTIGO

Os conceitos emitidos em entrevistas e artigos refletem unicamente à opinião de seus autores. A posição desta Revista é de total isenção, tendo como objetivo a livre exposição de ideias.

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14 transporte

Chams Business é uma publicação de Chams Empresa Jornalística Ltda.

contato: 55 11 3459.7488 55 11 99515.5073 chams@chams.com.br www.chams.com.br

Divulgação

diretor comercial Ramiro Elias Fajuri

notas do mercado


ESPECIAL O BRASIL NA MARCA DA CAL ção ga ul iv D

24 ministro Gastão Vieira “há hoje 15 aeroportos

em obras nas cidades-sede”

26 marketing esportivo a Copa será a ‘prova dos nove’

dos empresários, que não entendem nada de futebol”

ção lga vu Di

30 rivellino “o futebol está nas mãos 32 pirataria fez o Brasil perder

R$23,8 bilhões no último ano

Baker ine Al

35 ESTANDE notas do mercado 36 henry Maksoud neto “não estamos preocupados

com a Copa”

es ora eM lip Fe

40 hotéis o Brasil dos 460 mil leitos

46 ROBERTO duailibi “as marcas já não tem mais donos”

Novembro de 2013 Chams Business

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estande

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Chams Business Novembro de 2013

Para quem quer comprar um imóvel em Dubai O mundo árabe, sem dúvida, é um mercado de enorme potencial, em todos os setores e não podia ser diferente com o mercado imobiliário. De olho em potenciais compradores e investidores, o Departamento de Terras de Dubai (DLD, na sigla em inglês), lançou o site eMart (www.emart.gov.ae) que visa a venda e a locação de imóveis no emirado. A ideia do site é fomentar o mercado local, atrair mais investimentos estrangeiros e facilitar os trâmites para as transações. O endereço permite que proprietários e profissionais do mercado listem suas unidades e as negociem por meio de vendas diretas ou leilões. Todas as negociações realizadas po meio do eMart seguem regras e leis estabelecidas pelo Departamento de Terras de Dubai. Por ora só estão disponíveis imóveis residenciais, mas, com o tempo, o site terá imóveis comerciais como escritórios, lojas, showrooms e estacionamentos, além de vilas e terrenos, entre outros tipos. Todas as transações financeiras serão processadas pela plataforma de pagamentos Noqodi. Os compradores têm opção de fazer o pagamento por meio de cartões de crédito ou transferência bancária para as instituições associadas ao Noqodi – Emirates Islamic Bank, Emirates NBD, Commercial Bank of Dubai, Abu Dhabi Islamic Bank e Mashreq Bank. (Fonte: ANBA)

Brasil bate recorde de turistas A Copa do Mundo ainda nem começou e o Brasil já mostra que está preparado parta receber maior número de turistas em nosso território. O Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) anunciou que o País acaba de bater seu próprio recorde de visitantes estrangeiros em um ano — e olha que 2013 ainda não terminou. Segundo o órgão, até este mês, entraram no país mais de 6 milhões de turistas. Esse montante superou a marca dos 5 milhões que durava desde 2005. De acordo com o levantamento, esse aumento foi devido aos eventos realizados este ano, a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude. Só a JMJ, que contou com a visita do Papa Francisco, trouxe mais de 2 milhões de estrangeiros ao Brasil. De acordo com Flávio Dino, presidente da Embratur, a média de crescimento brasileira está acima da mundial, 5%, contra 3%. Há um crescimento constante acelerado, ainda mais pelos eventos. O impacto dos megaeventos é indiscutível", afirmou Flávio Dino o presidente da Embratur. A América do Sul ainda é a maior origem de turistas, com destaque para os argentinos, seguida, na ordem, da Europa, América do Norte, Ásia, África, Oceania e América Central.

Reprodução

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Ser dono de um negócio é um ótimo negócio Pesquisa recentemente divulgada pela Endeavor — principal instituição mundial de seleção e apoio a empreendedores de alto impacto — mostra que 76% da população brasileira quer abrir um negócio próprio. Na última edição da Chams Business foi feita análise do segmento de franquias, uma porta de entrada interessante para quem quer “andar com as próprias pernas”. Só para se ter ideia, há franquias de vários segmentos com investimentos que se encaixam em diferentes perfis, partindo de R$ 15 mil até a casa dos milhões. Ter uma franquia também é sinônimo de maior segurança. Segundo o Sebrae, a taxa de fechamento de unidades de franquias no País é de apenas 5%, após dois anos de existência. Além disso, o setor vem mantendo taxas de crescimento de dois dígitos nos últimos dez anos. Os bons números não param. Em 2013 a Associação Brasileira de Franchising (ABF) prevê crescimento de 10% para o setor. Em 2014, a entidade aposta que negócios em alimentação, prestação de serviços, educação e limpeza e higienização serão os alavancadores de números ainda mais positivos.

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notas de mercado


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Governo autoriza concessão de cinco portos A Secretaria de Portos (SEP) do Governo Federal anunciou nesta segunda-feira a autorização da concessão de cinco novos Terminais de Uso Privado, localizados em Niterói (RJ), Porto Belo (SC), Guarujá (SP), São João da Barra (RJ) e Santos (SP). Os terminais são os primeiros concedidos após a entrada em vigor do novo marco regulatório do setor portuário, de junho de 2013, e vão movimentar carga geral, passageiros e granéis sólidos. A SEP informou que também estão em análise final, na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), autorizações para terminais privados no Espírito Santo (Aracruz), Pará (Barbacena, Itaituba e Juriti), Amazonas (três terminais em Manaus), Bahia (dois em Ilhéus) e Rondônia (Porto Velho). A estimativa é que os 15 empreendimentos gerem investimentos aproximados de R$ 6,4 bilhões. Segundo a SEP, de agora em diante, o fluxo de concessão de terminais será contínuo, a partir da manifestação do interesse privado e da disponibilidade de área. (Fonte: Agência Brasil) Brasil maior O Brasil pode ter mais 363 municípios nos próximos anos. Essa é a estimativa do Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (Ipea) que recentemente divulgou pesquisa na qual foi considerada que a promulgação do projeto de lei nº 98, de 2002, que permite a criação de novas cidades. De acordo com técnicos do Instituto, que teve como base pesquisa em sites de Assembléias Legislativas de 19 estados, no total foram contabilizados 475 pedidos. Mas como a Lei impõe limites populacionais para os novos municípios e para os remanescentes da emancipação, o número de processos que atendem aos requisitos caiu. O estado que conta com mais pedidos é o Piauí, com 80 processos, mas somente 49 cumprem os pré-requisitos. O Acre fica em último, com quatro processos. Entre os estados que cumprem os requisitos, a Bahia tem mais pedidos, 52. O exemplo vem de Minas Gerais Há dez anos o estado de Minas Gerais mostra que é possível, sim, desburocratizar e descomplicar a vida das empresas. O Descomplicar, programa mineiro de desburocratização, completou dez anos em 2013, e o balanço é altamente positivo, principalmente para as pequenas e médias empresas. Além de reduzir o tempo de abertura de empresas de 45 para seis dias, aumentou

para 37% a participação de PMEs nas compras governamentais, por meio da compra exclusiva de bens e serviços por secretarias e autarquias do governo. Só em 2013, as PMEs forneceram quase R$ 562 milhões ao governo de Minas. Mas não são só as empresas que ganharam. A desburocratização das relações entre Estado e cidadãos também foi alvo do Descomplicar. Desde 2010, a expansão da rede de atendimento ao cidadão passou a ser feita por meio de Parcerias Público -Privadas. Com isso, O índice de satisfação do cidadão atualmente é de 99,3%, e o tempo médio de espera caiu de 46 para 12 minutos. Que o exemplo seja seguido em todas as esferas. País já pagou mais de R$ 1,5 trilhão em impostos Nem tudo no Brasil é boa notícia. Segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o brasileiro pagou este ano mais de R$ 1,5 trilhões em impostos. Segundo o Impostômetro, relógio instalado na sede da entidade, cada brasileiro, em média, pagou quase R$ 8 mil de carga tributária, até o fechamento desta edição. Ou seja, até o final do ano, esse número deverá ser maior. Em 2012, segundo o levantamento, o brasileiro pagou R$ 1,56 trilhão. O primeiro impostômetro foi instalado em 2005 com finalidade de conscientizar a sociedade do valor financeiro da carga tributária anual, chamando a atenção para a precária contrapartida dos serviços públicos oferecidos à população. Quem quiser acompanhar as diversas mudanças, pode acessar o siteimpostometro.com.br e acompanhar (e lamentar) o relógio em tempo real. Novembro de 2013 Chams Business

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energia

A luz no fim do túnel continuará acesa

‘Brasil, país que me seduz, de dia falta água e de noite falta luz’. A trovinha é uma brincadeira do passado que relatava, em rima, uma realidade de muitas cidades brasileiras de todos os portes. O País progrediu, a forma de se ter energia também, mas os riscos de novos colapsos nunca saíram da cabeça da população, que, vira e mexe, ressuscita os versos. Na década de 1990 o Brasil começou a sofrer crises de apagões, mas uma das piores acorreu entre 2001 e 2002, que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica em todo o País, sendo causado por falta de chuvas, que deixaram várias represas vazias. Segundo especialistas do governo, o Brasil não corre mais esse risco 8

Chams Business Novembro de 2013

o receio de novos colapsos de energia no País ainda toma conta de empresários e população. Governo garante que a luz não se apagará.

de grandes faltas, mas o fato pode ocorrer em pequenas proporções. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), interrupções pontuais podem acontecer, tendo em vista que o sistema não é infalível, porém ela trabalha e fiscaliza para que elas não ocorram, principalmente interrupções de grande magnitude. A Agência não trabalha com a hipótese de apagão/ racionamento como os ocorridos no passado, uma vez que que a realidade daquela época era outra, de uma oferta menor de energia. Nos últimos anos foram outorgadas diversas usinas hidrelétricas — entre as quais, Santo Antônio, licitada em 2007, com capacidade instalada de 3.150 MW; Jirau, licitada em 2008, com 3.300 MW de potência, e as usi-

nas de Belo Monte, (5.500 MW), Teles Pires (1.820 MW) e Sinop (6.000 MW). Somam-se a estas, outras de médio porte, como Dardanelos e Mauá (261 e 361 MW, respectivamente), ambas já implantadas. Além dessas instalações, há a previsão de novas pequenas centrais (entre 1,1 MW e 30 MW de potência instalada) instaladas em quedas d’águas e que, no geral, abastecem centros consumidores no entorno — inclusive unidades industriais e comerciais — o que facilita o transporte da energia. Nos últimos oito anos, de 2005 até 2012, foram outorgadas pela Agência 139 autorizações para novas Pequenas Centrais Hidrelétricas. Ou seja, nos próximos anos — e principalmente nos grandes eventos que virão —, estamos tranquilos.


Atenção e prevenção Mas de qualquer maneira, falhas podem ocorrer e o sistema está se preparando para evitar futuros colapsos. De acordo com a Aneel, além do incremento da matriz energética, com realização de leilões e construção de usinas, a agência cumpre com sua obrigação de fiscalizar a prestação dos serviços de eletricidade, nos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, aplicando multas regularmente quando o processo de fiscalização identifica comportamentos conflitantes com o regramento estabelecido no marco regulatório em vigor. Tais sanções tem caráter coercitivo e visam induzir as concessionárias de serviço público na direção das boas práticas regulatórias. Está em desenvolvimento na Agência a ampliação das atividades de acompanhamento e monitora-

opções, e tem promovido leilões para contratação de energia eólica. Atualmente, ela representa 1,71% da matriz energética brasileira, mas pode crescer. A oferta principal de eólica é no Nordeste, por ser uma região onde há bastante vento. Já a solar é mais cara, porém interessante devido à grande incidência de sol no Brasil. A Aneel promoveu recentemente uma chamada pública para incentivar projetos nessa área. O brasileiro não precisa mais ter em casa um estoque de velas ou de pilhas. A situação é diferente e os versos simpáticos da antiga trovinha, felizmente, só ficaram na lembrança. Mas é bom lembrar que somos um País com grande território e que essa realidade é mais concreta em grandes centros. Regiões mais distantes sofrem ainda com o problema, mas a tendência é que, nos próximos anos, isso mude. Pelo menos é o que se espera.

mento da prestação dos serviços de transmissão e distribuição de eletricidade. Trata-se de ação complementar ao processo punitivo e visa identificar e corrigir tendências que possam levar à degradação dos serviços prestados antes que os problemas estejam caracterizados. Tal meta está alinhada à busca continuada da melhoria da prestação dos serviços de transmissão e distribuição de energia elétrica, a fim de aumentar a segurança e a qualidade dos serviços prestados aos consumidores. Alternativas bem-vindas O bom é que o Brasil não depende somente da energia tradicional, elétrica, vinda de usinas. As energias alternativas, como a eólica e solar, por exemplo, já são vistas como opção, apesar de ainda não serem amplamente exploradas em seu potencial. A Aneel entende que são boas

Fotos: Divulgação

hidrelétricas outorgadas nos últimos anos

Jirau no Rio Madeira, a 120 km de Porto Velho, é considerada uma inovação por alagar uma área menor que outras usinas

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Belo Monte está sendo construída no Rio Xingu, na cidade de Altamira, no Pará

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Santo Antônio também no Rio Madeira, na cidade de Porto Velho. Em novembro de 2016, estará totalmente concluída, operando as 50 turbinas instaladas

SC RS

Teles Pires, no Rio Teles Pires, afluente do rio Tapajós, na fronteira dos estados do Pará e Mato Grosso

Novembro de 2013 Chams Business

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e n t r e v i s ta

Divulgação

Para o alto e avante, sempre

de carro 10 Chams Business Novembro de 2013

brasileiro exige mais e deixa de lado o simples e barato. próximo passo para o setor automotivo é unir o conforto exigido a preços mais acessíveis.


joel leite

Entre o final da década de 1980 e começo da de 1990, o Brasil vivia uma realidade de não abertura das importações, em qualquer setor. Se pudermos citar uma coisa boa do governo Collor [Fernando Collor de Mello, presidente do Brasil, que sofreu impeachment em 1992] foi a abertura do País às importações. A indústria automobilística foi uma das maiores beneficiadas. Até essa data, o brasileiro estava acostumado às cerca de quatro grandes montadoras (Volkswagen, Ford, GM/Chevrolet e Fiat — que ainda representam, juntas, 60% do mercado brasileiro) e poucas menores, fruto de insistência de empresários brasileiros, como a Gurgel, e a importações feitas pessoalmente pelo próprio consumidor, a custos altíssimos. Esse quadro mudou e, hoje, o cenário é bem diferente. Rodam no País 49 marcas, 300 modelos e 1,2 mil versões. O brasileiro vive um momento importante no qual a evolução de vendas cresce em torno de 15 a 20% anualmente, e a produção também. "Se eu tivesse ideia para onde a indústria automobilística vai, ficaria rico." Assim resume o momento o jornalista Joel Leite, um dos maiores especialistas no setor no Brasil. Ele trabalhou durante 12 anos no Jornal do Carro, então suplemento do Jornal da Tarde e, hoje, do Estadão. Passou por diversas redações e criou a Agência de Notícias AutoInforme, que responde pelos sites Auto Informe e Eco Informe. Hoje, apresenta o Boletim AutoInforme, nas rádios Bandeirantes, BandNews e Sul América Trânsito, além de ter suas colunas publicadas em vários veículos. Ou seja, sobre carro tem muito que falar. Para ele, o mercado atual é marcado pela versatilidade, e o Brasil vive um momento de crescimento moderado, o que deve ser uma tendência para os próximos anos.

Segundo ele, durante a crise econômica mundial, no início dos anos 2000, enquanto outros países se retraiam, o Brasil cresceu economicamente, em todos os setores. O de automóveis foi um deles. Éramos o 19º mercado mundial e hoje somos o quarto em consumo, passando players importantes, como a Alemanha. E mais, em produção, estamos em sétimo lugar. De 2005 a 2012, enquanto a média mundial de crescimento foi de 25%, no Brasil foi de 122%. Só a China, Arábia Saudita e Índia cresceram mais. Essa virada se deu a partir de 2006, quando começaram a chegar por

seja, se o consumidor sabia, por exemplo, que um GM era mais moderno, que um Volks era mais forte, que a Fiat tinha carros com maior espaço interno e a Ford, os mais luxuosos, isso, atualmente, está espalhado por todas as marcas, e é possível encontrar essas características em todas as marcas e modelos. "Claro que cada marca tem sua identidade, mas não são grandes diferenças, como no passado", afirma. Hoje o grande diferencial está, sim, no atendimento. É esse contato direto com o comprador que vai determinar o sucesso e a fidelização de um modelo ou de uma mar-

"O brasileiro acordou e percebeu que podia exigir mais dos fabricantes, que por sua vez, tinham de ‘ganhar’ esse comprador, que começava a ter maior poder de compra" aqui montadoras chinesas, coreanas e francesas, que abriram fábricas em diversos estados, melhorando a economia de diversas localidades. Isso, segundo ele, gerou um fenômeno que não se via no passado: a infidelidade (no bom sentido). O consumidor, que era apegado a uma marca e suas características mais fortes e tinha suas preferências, ganha opções. Ele abre o olho e passa a escolher o que tem de melhor, de acordo com seus próprios critérios: conforto, luxo, economia, praticidade, potência etc. "Com a revolução da informática, a tecnologia ficou acessível a todos. Hoje, tecnologia não é mais segredo de uma única marca, pois quem determina isso é o mercado. O produto a ser feito, oferecido e comprado depende do padrão que o consumidor deseja. Não é mais imposto pelas montadoras. Foi uma mudança de paradigma", explica Leite. Atendimento e fidelização Isso fez com que as características mais marcantes — e os diferenciais — de um fabricante acabassem. Ou

ca. Hoje se pensa no pré-venda, na venda e no pós-venda. Tecnologia é uma commodity. Atendimento e contato é que determinam o diferencial de uma fábrica. "O relacionamento está por trás de tudo, inclusive o sucesso." De acordo com o jornalista, pesquisas mundiais mostram que o brasileiro é um consumidor infiel. Ele troca facilmente uma marca pela outra, se ele encontrar o que procura por preço mais interessante. Cabe a cada empresa fidelizar esse consumidor. As empresas que aqui estavam antes da abertura do mercado não tinham essa preocupação, pois não havia opções. A entrada das chinesas mudou o cenário, abrindo um leque de opções que acabou com a afetividade do consumidor. "O brasileiro acordou e percebeu que podia exigir mais dos fabricantes, que por sua vez, tinham de 'ganhar' esse comprador, que começava a ter maior poder de compra", diz. Apesar disso, o brasileiro — e muitos apaixonados por carro pelo mundo todo — é apegado a deterNovembro de 2013 Chams Business 11


e n t r e v i s ta

minadas marcas e modelos, ainda mais se elas também são fiéis a elas na entrega. Um exemplo disso é o Golf, da VW, que é um ícone, mesmo que não seja um modelo que chama tanta atenção nas ruas. Um dos primeiros modelos importados a entrar no País, sempre foi um carro visto como versátil, moderno e tecnológico. Isso explica a razão do sucesso de vendas desde seu lançamento, ainda como importado. Agora, com uma geração ainda mais moderna e tecnologia, o sucesso continua. Dentro de sua faixa, está entre os mais vendidos. "A fidelização está mais pelo padrão do carro do que pela marca", afirma. "A mudança de mercado fez com que tudo mudasse. A entrada dos chineses, em nichos mais populares, sacudiu o segmento. Os carros populares mudaram o mercado. Dos médios para cima, era normal ter tudo. As montadoras chinesas chegaram com populares equipados. O mercado brasileiro — e o consumidor — começou a mudar a partir daí", lembra Leite. Mesmo assim, os chineses não ‘estouraram’ em vendas. O lobby das maiores montadoras inviabilizou isso. O governo atuou impondo impostos mais altos, o que impossibilitou um crescimento maior dessas marcas. Mas elas se mantêm, pois o mercado brasileiro é importante para elas. Custo Brasil no carro também Uma das maiores reclamações do brasileiro é o custo de um carro no Brasil. Tirando o nicho de carros de altíssimo padrão, como Ferraris, por exemplo, na média, o mesmo modelo no Brasil é muito mais caro que em outros países. As próprias montadoras, conforme Joel Leite, não explicam isso. Em sua pesquisa ele ouviu dos próprios presidentes das empresas, que o brasileiro paga mais caro por qualquer carro, mas eles não justificam. Eles, os presidentes, afirmaram que não veem 12 Chams Business Novembro de 2013

motivos para baixar os preços, pois o mercado brasileiro aceita. "Para eles, a lucratividade do mercado brasileiro é maior, o brasileiro compra, por isso não precisam baixar os valores de venda", conta. Ele acrescenta que nessa pesquisa — que virou uma grande reportagem — os empresários foram categóricos: “Por que baixar o preço se o consumidor paga?”, explicava um executivo. Ou seja, não só no

impensáveis. A demanda fará com que o mercado mude. "Essa parcela é a mais infiel. Ela quer comprar o melhor, dentro de suas possibilidades e troca facilmente de modelo, de marca. O fator preço é fundamental para isso. Ou seja, se as montadoras não mudarem esse pensamento, não terão sucesso", afirma. O brasileiro quer melhorar. Por exemplo, há alguns anos, os carros populares representavam 57% do

"A entrada dos chineses, em nichos mais populares, sacudiu o segmento. Os carros populares mudaram o mercado. Dos médios para cima, era normal ter tudo. As montadoras chinesas chegaram com populares equipados. O mercado brasileiro — e o consumidor — começou a mudar a partir daí " setor de automóveis, o brasileiro paga mais caro, como não briga para mudar esse cenário. Ou seja, se quem compra não liga, por que quem vende vai ligar? De acordo com ele, a razão de ser o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, que é a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. "Mas o grande vilão dos preços não são os impostos, mas o lucro que as montadoras querem ter. Em nenhum país do mundo, onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor como no Brasil, mesmo em carros fabricados aqui", assegura. Mas o consumidor começou a acordar para isso, não só na compra do seu carro. O novo consumidor, a chamada Classe C emergente, começa a se tocar e se revoltar. Ou seja, ele, em um futuro próximo, é quem determinará essa mudança. O acesso faz com que esse consumidor tenha mais opções. “Essa parcela da população é quem está comprando essas novidades e sendo responsável por sucessos de venda que antes eram

mercado, hoje mal chegam a 40%. O responsável por isso é justamente essa parcela de consumidores ‘infiéis’. Ele não quer um segundo carro mais barato, ele quer o único, melhor. "Ou as montadoras percebem isso logo, ou não atenderão mais esse consumidor, que trocará facilmente por um carro/ marca mais confortável, mas mais barato", garante. Enfim, o mercado brasileiro, que passou por um boom do mercado, vive um momento bom, com crescimento real, paulatino, e isso deve ser assim daqui para frente. A grande vantagem do Brasil em comparação a outros países é que passamos ao largo da crise mundial. O setor de automóveis sobreviveu, pois entendeu o potencial do nosso mercado. "Quem quer vender bem no Brasil — e muitas empresas estão entrando no País — tem de saber entender e atender o consumidor daqui. O consumidor mudou, mas o mercado também. Só despertará o interesse do comprador daqui quem oferecer mais para ele. E não e só a venda interna, o Brasil é um ponto de exportação para a América Latina", conclui Joel Leite.



Neco Varella/Divulgação

transporte

O Brasil ainda cresce por rodovias? Apesar de ser uma opção, o transporte modal, no Brasil, ainda não é uma realidade em todo o território nacional. Muito ainda se tem para crescer. “Governar é construir estradas”. Essa frase é de Washington Luis, que foi presidente do Brasil entre 1926 e 1930, mas foi proferida quando ainda era presidente do Estado de São Paulo (antigo nome do cargo de governador). A frase correta foi “Governar é povoar; mas, não se povoa sem se abrir estradas, e de todas as espécies; Governar é, pois, fazer estradas!”. À época, ele foi muito criticado pelos seus adversários que eram contra essa novidade, as estradas, chegando a ser chamado de ‘General Estrada de Bobagem’, um trocadilho com ‘Estra-

da de Rodagem’. Essa tradição ‘estradeira’ de Washington Luis ficou arraigada nos governadores futuros, inclusive sendo intensificada e, hoje, São Paulo é o Estado com maior número de estradas, sejam locais (ou vicinais, que ligam cidades), estaduais ou federais. No País, de certa forma, esse conceito também vingou e o Brasil construiu estradas, mas, em compensação, esqueceu ou relegou outros modais a um segundo plano. Na década de 1970, por exemplo, os governos militares desbravaram o País por meio de rodovias. Os

14 Chams Business Novembro de 2013

maiores exemplos foram a BR230, conhecida como Transamazônica; a BR-174, que liga Manaus a Boa Vista; a BR-210, conhecida com Perimetral Norte; e a BR 163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA). Essas estradas fizeram parte do Plano Nacional de Integração (PIN), instituído pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, em 16 de julho de 1970, e que também previa que 100 quilômetros em cada lado das estradas a serem construídas deveriam ser destinados à colonização. A intenção do governo era assentar cerca de 500 mil pessoas em agrovi-


Quase 60 anos de opção pelo transporte rodoviário não se jogam pelo ralo. A BR116, movimentada rodovia que liga as regições sul e sudeste, recebe duplicação em obra do Governo Federal

Obras de Construção da Ferronorte, que abrange os municípios de Alto Araguaia, Pedra Preta, Rondonópolis e Alto Garças, no estado do Mato Grosso (outubro de 2012)

Ferrovias e hidrovias Apesar do volume desse tipo de modal, o Brasil não é só estradas. Para ampliar e melhorar o sistema de transporte ferroviário de carga, foi lançado em agosto de 2013 o Programa de Investimentos em Logística: Rodovias e Ferrovias (PIL). O Programa inclui um conjunto de projetos que contribuirão para o desenvolvimento de um sistema de transportes moderno e eficiente e serão conduzidos por meio de parcerias estratégicas com o setor privado, promovendo-se sinergias entre os modais rodoviário, ferroviário, hidroviário, portuário e aeroportuário. No setor rodoviário, o programa prevê a concessão de 7

Divulgação Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

las que seriam fundadas. Mas isso só ficou no papel. Já ferrovias e hidrovias nunca foram o forte do País, mesmo sendo meios mais interessantes, mais baratos e com menores perdas para quem os utiliza. Hoje, Governo e iniciativa privada tentam tirar essa ‘herança’ dos projetos de modais e, ao mesmo tempo, fazer com que o Brasil cresça fora das rodovias. Mesmo que isso demore ainda alguns anos, algo está sendo feito. Durante muitos anos o Brasil pouco investiu na infraestrutura de transportes. A partir dos anos 90, o governo deu início ao programa de transferir à iniciativa privada a concessão de rodovias federais. Pesquisas feitas pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostram a situação das rodovias federais exploradas pela iniciativa privada em comparação à malha existente em outros países. De acordo com o levantamento, denominado Pesquisa CNT de Rodovias e realizado desde 1996, cerca de 65% da movimentação de car-

gas e 90% da movimentação dos passageiros ocorrem pelas rodovias. Apesar disso, 63,8% da extensão avaliada apresentam alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou na geometria da via. Foram pesquisadas toda a malha federal pavimentada e as principais rodovias estaduais, em um total de 96.714 km avaliados em 30 dias de coleta em campo. Em 2012, o índice havia sido de 62,7%. Também aumentaram os pontos críticos, passando de 221 para 250. São consideradas como pontos críticos situações que trazem graves riscos à segurança dos usuários, como erosões na pista, buracos grandes, quedas de barreira ou pontes caídas.

Novembro de 2013 Chams Business 15


transporte

mil km de rodovias. O investimento estimado é de R$ 46 bilhões. Já no setor ferroviário, o programa prevê investimentos de R$ 99,6 bilhões em construção e/ou melhoramentos de 11 mil km de linhas férreas. Suas diretrizes principais prevêem uma rede ferroviária ampla, moderna e integrada; cadeias de suprimentos eficientes e competitivas; modicidade tarifária; responsáveis pela infraestrutura, sinalização e controle da circulação de trens. O programa contempla um novo modelo, em que os concessionários terão concessão pelo prazo de 35 anos, e contemplará ferrovias de bitola larga (1.600 mm) com alta capacidade de carga e traçado geométrico otimizado que permita maiores velocidades (80 km/h). Para o setor de hidrovias,

‘muita água há de correr sob essa ponte’. Comparativamente aos outros sistemas, o Brasil pouco vê necessidade de se olhar para rios como meios de transporte de carga. Apesar de o País ter um transporte hidroviário interessante, dividido nas modalidades fluvial e marítima, com um total de 4 mil quilômetros de costa atlântica navegável, além de milhares de quilômetros de rios, o modal foi deixado de lado pelo PIL. Pode-se entender esse esquecimento pelo fato das hidrovias serem muito periféricas, pois não passam por grandes centros produtores ou consumidores. Dessa forma, a prioridade é criar uma malha ferroviária mais robusta. De acordo com especialistas, o Sudeste e o Sul do País tem potencial para se aprovei-

em

1996 cerca de

tar esse tipo de modal. Porém, para se aproveitar melhor essas vias navegáveis, é necessária a construção de eclusas, grandes obras de dragagem e, principalmente, de portos que possibilitem a integração intermodal, que, infelizmente, não foram contempladas no PIL. O que pode servir de alento é que poucos países usam esse tipo de transporte. Um bom modelo pode ser os EUA, com o Rio Missisipi. O que se deve, sim, é pensar no futuro. Como a Copa do Mundo, de certa forma, resvala em todos os setores, o que se espera é que o legado dos grandes eventos (incluindo-se as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro) também se reflita nesse segmento. O Brasil precisa mudar e essa mudança, necessariamente, passa pelo transporte, seja pelas estradas, ferrovias ou hidrovias.

agosto de

já Em

2012

, o índice havia sido de 62,7%

65% cargas e

2013 pil lançado o

(Programa de Investimentos em Logística: Rodovias e Ferrovias) com investimento de

90% da movimentação dos passageiros ocorrem pelas rodovias. Apesar disso, 63,8% da extensão

avaliada apresentam alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou na geometria da via. 16 Chams Business Novembro de 2013

46 aumentaram os pontos críticos, passando de

221 250 para

bilhões

(previsão de 7 mil km para rodovias) e

99

bilhões

(em construção e/ou melhoramentos de 11 mil km de linhas férreas)


artigo micaela fajuri B. Ferraz

O muro invisível entre o IDH e a cidadania Desde 1991 — ano em que o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) passou a medir o IDH dos municípios brasileiros — São Caetano do Sul goza de sua glória de campeã. A pequena cidade da Grande São Paulo, quando não ocupa o posto mais alto, acotovela-se entre as primeiras colocações. Não à toa, já que o pequeno polo industrial colonizado por italianos possui orçamento de quase R$ 900 milhões para ser aplicado em uma área de 15 km2. O resultado é uma cidade relativamente bem resolvida, principalmente em comparação com as do ABC Paulista ou de outras regiões metropolitanas que também ostentam boas posições no ranking brasileiro de Índice de Desenvolvimento Humano Municipal. Entre os dez maiores IDHs do País, o estado de São Paulo abocanha quatro posições, Santa Catarina três, sendo que uma delas divide com o estado do Espírito Santo, enquanto as três restantes ficam com os estados do Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal. Um olhar mais superficial coloca a pequena cidade do ABC paulista no mesmo patamar das outras. Porém um observador mais atento aos números das cidades

no banco de dados do IBGE percebe que, neste seleto grupo, São Caetano do Sul apresenta também o menor índice de desigualdade. No Mapa de Pobreza e Desigualdade, figura com índice de Gini de 0,36, o mesmo de Joaçaba, o pequeno município catarinense que ostenta o sétimo IDH do País. Mas embora São Caetano e Joaçaba tenham IDHs tão parecidos — respectivamente 0,862 e 0,827 — e o mesmo coeficiente de Gini, há sim maior façanha do município paulista, que mantém baixo índice de desigualdade com PIB per capita

112% maior que o do município catarinense. Comparando ainda com as vizinhas Santo André e São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul é certamente a mais bem resolvida das três do ABC Paulista. Há total cobertura de saneamento básico, boa iluminação pública, saúde pública acima da média, assim como o sistema educacional, que além do Fundamental, possui Fatec e universidade municipal. A pavimentação é de qualidade e alcança a totalidade das ruas, dado bastante coerente com a frota de automó-

comparativo São Caetano do Sul/SP

Joaçaba/SC 73.605,89

0,862 0,827 34.766,58 0,36 0,36

IDH Índice de Gini

PIB per capita

*Fonte IBGE Novembro de 2013 Chams Business 17


veis, caminhonetes e camionetas de 0,95 por habitante maior de 20 anos em um município de 15 km2 (essa mesma relação cai para 0,76 em Santo André, 0,74 em São Bernardo e 0,69 na capital São Paulo). Em um dos quesitos de acessibilidade, São Caetano também é um ponto fora da curva: aproximadamente 43% dos domicílios particulares permanentes possuem rampas para cadeirantes em seu entorno, contra os 5% de Santo André e São Bernardo e 8% da capital. Não é só o IBGE que traz São Caetano do Sul em alta conta. No Índice de Bem Estar Urbano (IBEU), estudo do Observatório das Metrópoles, está entre as quatro primeiras no ranking geral. Nos quesitos ‘atendimentos coletivos’ e ‘infraestrutura urbana’, figura na segunda e primeira posições, respectivamente. Porém, no mesmo relatório, considerando a mobilidade urbana, vai para o 169º lugar das 289 ranqueadas. um redesenho caótico urbano Mas ser o primeiro IDH do Brasil sem políticas públicas que permitam frear a especulação mobiliária tem um preço: cerca de 274 unidades por km2 em lançamentos verticais, entre 2010 e 2012, segundo o Secovi-SP (Sindicato da Habitação). A quantidade relativa supera em 350% São Bernardo e em mais de 650% Santo André, que lançaram respectivamente 78 e 41 unidades por km2. Esta enxurrada de empreendimentos imobiliários tem consequências. Espaços que antes abrigavam pequenas casas passam a ostentar enormes edifícios, com ao menos duas vagas por unidade. Novos residentes buscam a qualidade de vida propagandeada pelo primeiro IDH do Brasil, o que acarreta aumento de população, frota e, principalmente, um redesenho 18 Chams Business Novembro de 2013

caótico da cena urbana local. Casas foram derrubadas indiscriminadamente para a subida de prédios, onde pessoas se escondem em confortáveis fortalezas verticais. As edificações, por sua vez, com seus altíssimos muros oprimem as calçadas estreitas potencializando, assim, a violência que primeiro os motivou a construir tal muro. Dessa forma, uma cidade antes calorosa tende a tornar-se aos poucos insegura, inóspita e impessoal. cortando vínculos Os critérios que compõe o Índice de Desenvolvimento Humano são bastante limitados: renda, educação e longevidade. Um alto IDH

não se converte, necessariamente, em altos níveis de cidadania ou de censo comunitário. A rica cidade do ABC paulista isola seus pobres “pra lá da linha do trem”, em áreas que repetidamente sofrem com enchentes. Nos cortiços espalhados por alguns bairros da cidade, os vizinhos enxergam ameaça e gradeiam seus jardins, cortandose, assim, o vínculo com a comunidade. A violência presente nas grandes cidades não chegou a São Caetano do Sul com a mesma força, mas nota-se comportamentos “preventivos”, quando se enxerga no outro, de maneira um tanto histérica, uma ameaça ao invés de uma proteção.

Lançamentos imobiliários verticais (2010-2012) São Caetano do Sul Santo André São Bernardo do Campo

4107 unidades 7230 unidades 9194 unidades

Lançamentos imobiliários verticais em unidades por km2 de área urbana São Caetano do Sul Santo André São Bernardo do Campo

274 unidades / km2 41 unidades / km2 78 unidades / km2

*Fonte: Secovi-SP


Nos cortiços espalhados por alguns bairros da cidade, os vizinhos enxergam ameaça e gradeiam seus jardins, cortando-se, assim, o vínculo com a comunidade. A violência presente nas grandes cidades não chegou a São Caetano do sul com a mesma força, mas nota-se comportamentos“preventivos”, quando se enxerga no outro, de maneira um tanto histérica, uma ameaça ao invés de uma proteção.

O índice de 0,95 veículos por habitante maior de 20 anos também torna-se significativo quando estima-se que apenas cerca de 20% dos residentes exerce trabalhos em outros municípios (embora o valor esteja acima da média estadual, aproximadamente 80% da população reside e exerce atividade em uma cidade que caberia dentro do bairro da Vila Mariana e, ainda assim, a imensa frota denota opção pelo transporte individual). Cidades mais seguras tem vida em suas calçadas, com pessoas caminhando nas mais diversas horas, porque no espaço público há troca, há encontro, e dele se alimenta o senso coletivo. Ao contrário, utiliza-se o “quase um carro por pessoa” para circular pela cidade que já sente o aumento dos índices de congestionamento — a adoção de rodízio de veículos já é pauta frequentemente discutida pelos jornais locais e pela prefeitura. Dentro da frota total de mais de 130 mil veículos, o despreparo em lidar com o pedestre é notório. Motoristas ignoram faixas de pedestres e as utilizam frequentemente como vagas de estacionamento; pedestres que tentam atravessar em faixas que não possuem farol vivem verda-

deiras aventuras e são longamente ignorados; fregueses de estabelecimentos comerciais tradicionais da cidade estacionam em locais proibidos, mas agentes de trânsito nada fazem (e não é desprezível citar que sempre há um político influente que frequenta os mesmos locais). tradição cordial O alto poder aquisitivo da cidade não se traduz em opções culturais diferenciadas. Por cinco anos a cidade não teve sequer uma sala de cinema e atualmente conta com salas de uma grande rede limitada a títulos comerciais. Encontrar uma livraria também foi tarefa árdua por muitos anos, mas atualmente há uma megastore também de grande rede. Não é irrelevante o fato de tanto o cinema quanto a livraria estarem em um novo shopping center que faz parte de um colossal empreendimento imobiliário de 300 mil metros quadrados, em construção no terreno de uma antiga fábrica de cerâmica. No campo político, há relevância no fato do mesmo partido ter estado no poder ininterruptamente por 30 anos, sendo que nas eleições de 2012 fora derrotado não por uma oposição de fato, mas por

uma dissidência do próprio partido governista, mantendo assim os mesmos grupos no poder. Embora haja grande oferta de serviços públicos, estes não são públicos em seu sentido puro, pois nem sempre são distribuídos de acordo com regras universais. De seus gabinetes, alguns se sentem os donos do poder a ponto de lotear benefícios e os distribuir, na melhor tradição cordial, como favores pessoais, angariando a gratidão das “bases” que os perpetuam no poder. Há que se fazer justiça aos números, e os de São Caetano do Sul reluzem entre seus vizinhos. O IDH é uma medida importante, deve ser almejada e sempre melhorada. Mas não basta se abraçar a ela como simples indicador de desempenho, pois não revela níveis de cidadania, a capacidade de seus residentes trazerem para si a responsabilidade, de se sentirem parte do problema e da solução, de se enxergarem no outro, de serem também o vizinho, ao mesmo tempo senhorio e inquilino. Que números podem mensurar cidadania? Humanamente desenvolvido, o desafio está em transformar o “H” em “humanitário”. Novembro de 2013 Chams Business 19


cruzeiros

Viajand pelos

mares Modalidade de viagem ganha cada vez mais interessados no Brasil e cresce em todas as camadas da sociedade.

Apesar de ser uma realidade relativamente nova no Brasil, o turismo em cruzeiros tem crescido muito por aqui. O País já é o quinto em número de turistas transportados em cruzeiros marítimos no mundo. Segundo dados da Cruise Lines International Association (CLIA), divulgados pela Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar), na temporada 2010/11, foram transportados 793 mil passageiros pela costa brasileira, o melhor resultado de todos os tempos. Pode-se dizer que os cruzeiros marítimos no Brasil, como 20 Chams Business Novembro de 2013

forma efetiva de turismo, tiveram início na década de 1960 (o que havia antes eram alguns roteiros esporádicos, mais para a região Nordeste). Porém, foi somente a partir de 1995 que uma alteração na lei liberou a navegação costeira a navios estrangeiros e abriu esse mercado. Já a partir do ano seguinte, o País começou a receber navios estrangeiros para a exploração dos portos nacionais durante todo o período de verão. As temporadas iam de meados de dezembro ao início de abril, quando os navios retornavam

ao local de origem (geralmente Europa, EUA e Caribe), para iniciar novos itinerários. De lá para cá a coisa toda mudou, fazendo com que o passageiro brasileiro subisse no patamar das empresas que operam esse tipo de turismo. Na última década, por exemplo, de acordo com a Abremar, houve um considerável aumento do fluxo de cruzeiros marítimos na costa brasileira, com a ampliação da oferta de leitos nos navios e de rotas por parte dos armadores. De acordo com o estudo da associação, que levou em consideração a


793 mil passageiros foram transportados pela costa brasileira, na temporada 2010/11

Os pontos de partida são: Santos (SP) Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) Fortaleza (CE) Recife (PE) Natal (RN) João Pessoa (PB) Itajaí (SC)

R$ 1.4 bilhão

Os impactos totais (diretos e indiretos dos armadores e dos cruzeiristas)

temporada 2010/2011, não só os brasileiros se aproveitaram desses roteiros. Cerca de 100 mil estrangeiros viajaram em 20 navios pela costa brasileira. O Brasil tem condições de crescer ainda mais neste segmento. Os impactos totais (diretos e indiretos dos armadores e dos cruzeiristas) foram de R$ 1,4 bilhão, sendo R$ 893,5 milhões gerados pelos gastos dos armadores com compras de suprimentos, custos portuários e combustíveis, e R$ 522,5 milhões gerados pelos gastos dos cruzeiristas nos portos de embarque/desembarque e de trânsito. Assim como nos hotéis, os navios também recebem uma classificação para determinar o tipo e grau de serviços oferecidos a bordo.

A temporada que depende do sol Hoje, muitas agências de viagens tem se especializado nesse tipo de viagem. Só para se ter ideia, a CVC, maior operadora de viagens da América Latina, tem incrementado seu portfólio de cruzeiros para oferecer aos turistas a maior oferta de pacotes marítimos do mercado — pelo Brasil e exterior. Hoje, ela conta com mais de 100 navios para atender a demanda da temporada 2013/2014. Desses, dez transatlânticos realizaram 242 roteiros no período, só no Brasil. Um dos destaques dos roteiros em águas brasileiras e que sempre resultam em sucesso são os cruzeiros temáticos, focados em dança, saúde,

culinária, rock, bem-estar e até mesmo como extensão acadêmica, para estudantes de Educação Física, Turismo, Gastronomia, Moda, entre outras áreas. Os pontos de partida são Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Natal (RN), João Pessoa (PB) e Itajaí (SC). Os cruzeiros são mais uma opção de turismo para o Brasil. Um país que pode ser explorado — no bom sentido — por terra e por água, mostra que as possibilidades são quase que infinitas. Iniciativa privada e governo podem, sim, trabalhar para que esse potencial seja melhor explorado. Há demanda, e o caminho aponta para o crescimento. O mar, está sim, propício.

Novembro de 2013 Chams Business 21


produtos halal

Queijo brasileiro no mundo islâmico Quatá adquire certificação Cibal Halal em linha de produtos direcionada a público muçulmano.

Os produtos alimentícios brasileiros sempre tiveram excelente aceitação no mundo árabe. Os países dessa região figuram entre os principais importadores de gêneros como frango, carnes de maneira geral e produtos agroindustriais. O Oriente Médio não é nosso principal mercado comprador, como a China, EUA e União Européia, mas há espaço para ampliar cada vez mais essa relação comercial. Como prova de que o campo é fértil, a Quatá Alimentos recentemente obteve a certificação halal concedida pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), sob inspeção da Cibal Halal, para seus produtos derivados do leite, principalmente os queijos, sua principal produção, chancelando a intenção da entrada da empresa no mundo islâmico. A palavra ‘halal’ significa ‘lícito’ em árabe. Portanto, trata-se de muito mais que um produto sendo elaborado com matéria-prima halal, ele é resultado de um sistema de produção que

busca criar mecanismos que contribuam com a saúde humana, criando equilíbrio sustentável em todo o processo dentro das leis islâmicas. A Quatá fabrica e comercializa produtos das marcas Quatá (queijos, leites etc.), Glória (leite, leite em pó, creme de leite e leite condensado) e Cristina (queijos). Segundo Mauro Roberto Afanacio, gerente de Marketing da Quatá, a entrada nos países muçulmanos é a primeira investida internacional da empresa. Eles já começam com um verdadeiro desafio, pois há muitas particularidades que precisam ser entendidas e respeitadas para se comercializar com essa porção do globo. Se a região ainda é pouco conhecida, os países islâmicos guardam ainda mais detalhes. “Acreditamos que a oportunidade de negócios no segmento de alimentação no Brasil, voltado para o nicho halal, já faz parte da realidade, sendo um cenário que cresce significativamente com a quantidade de itens fabricados conforme as diretrizes de algu-

22 Chams Business Novembro de 2013

mas doutrinas. Observando o crescimento dessa comunidade no País e no mercado externo, nossa indústria se preparou para fabricar itens voltados a esse consumidor”, explica. O mundo muçulmano, como se sabe, tem suas peculiaridades, e esse, talvez, seja o grande desafio da empresa. Mas a grande vantagem é que a Quatá não precisou fazer mudanças ou adaptações em suas linhas para entrar no mercado halal. De acordo com Afanacio, os processos das fábricas já são padronizados, o que permitiu atender todas as exigências para a certificação. “O que podemos considerar é uma adequação recente, relacionada a um ingrediente, onde, ao invés de utilizarmos o coalho de origem animal, passamos a utilizar um coagulante enzimático”, adiciona. A Quatá exportará 16 itens — todos queijos — para o novo mercado: gorgonzola, parmesão, minas padrão, mussarela bolinha, mussarela, prato, prato cobocó, prato esférico, e os tipos emmental, gruyère, es-


tepe, provolone fresco, reino, gouda e provolonete curado. Os produtos serão comercializados no mercado varejista e industrial, e a empresa tem grandes expectativas já no médio prazo. Aval religioso e de qualidade Visando o mercado islâmico, foi necessária a Certificação Halal concedida pela Fambras. A instituição religiosa, reconhecida mundialmente, tem o braço operacional na Cibal Halal, responsável pela prestação de serviços e auditorias. Ou seja, para entrar nesse novo mercado, qualquer empresa deve obedecer e provar que segue critérios de qualidade em sua produção, além de respeitar todos os quesitos religiosos que esses países exigem. De acordo com Mohamed El Zoghbi, presidente da Fambras, para se obter a certificação, uma empresa que queira entrar nesses países deve passar pela auditoria da Cibal Halal. Somente após a aprovação da Federação é concedida a habilitação Halal e/ou certificado Halal. Especificamente para o caso de alimentos, na entidade há dois segmentos: o setor frigorífico e industrial. Para o primeiro, a empresa deve seguir a norma, passando primeiramente por auditoria que contempla requisitos de segurança alimentar: a Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle Halal (Appcch). Os interessados devem implantar procedimentos halal, que contemplem linha de abate direcionada a Meca, sangradores muçulmanos e câmaras de estocagem exclusivas. Sempre que se for exportar, é emitido certificado a cada embarque.

Roberto Afanacio, gerente de Marketing da Quatá

A auditoria segue o mesmo conceito para o setor industrial. A certificação para essa área se divide em duas metodologias: matérias-primas (ingredientes), que passam por auditoria anual, com análises laboratoriais específicas e certificação para a cadeia fornecedora; e produtos finais, que entram na categoria de acompanhamento de produção por supervisor muçulmano, também com emissão de certificado a cada embarque. Especificamente para o segmento de queijos, como os da Quatá, as matérias-primas são 100% Halal, garantidas por procedimentos de auditorias, bem como acompanhamento de

toda a produção, com monitoramento e rastreabilidade total do produto. Segundo Zoghbi, os cuidados da entidade são muitos. Por exemplo, para habilitação de produtos industrializados, o importante é que seus ingredientes não contenham elementos considerados ilícitos pelos muçulmanos, como os derivados do porco, de animais que não foram abatidos conforme a jurisprudência islâmica, de insetos, de seres humanos e de sangue, e também álcool etílico. Esse rigor não foi empecilho para a Quatá, visto que a empresa já tem rigoroso processo de produção e, conforme a certificação, possui conceitos de boas práticas de fabricação e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, em concordância com requisitos halal de segurança alimentar. Falando particularmente da Quatá, Zoghbi acredita que a empresa enxergou potencial no mercado e traçou estratégia. “A Quatá certamente realiza pesquisa de mercado e enxergou o grande público potencial no Brasil e nos países islâmicos. A empresa recebeu a certificação para duas marcas, Quatá e Cristina, e para a fábrica de Vazante (MG), mas em breve devem receber a habilitação os demais produtos e plantas”, assegura o dirigente. Tanto Quatá quando Fambras esperam excelente retorno. Para a entidade, será a expansão do conceito halal; para a Quatá, a certeza de que entram em um mercado promissor, que conta com mais de 1 milhão de consumidores, que pode se multiplicar com facilidade e que movimenta US$ 650 bilhões por ano no mundo.

Novembro de 2013 Chams Business 23


e n t r e v i s ta

Divulgação

O Brasil precisa ser visto 24 Chams Business Novembro de 2013

Em entrevista à Chams Business, Gastão Vieira, ministro do Turismo, defende a necessidade de fazer o Brasil ainda mais atraente para os turistas estrangeiros, e também os daqui.


g a s tão v i e i r a

País de dimensões continentais, com um litoral de quase 7,5 mil quilômetros, fora suas riquezas naturais, com biomas diversos, pouco vistos em outras partes do planeta. Apesar disso, o País recebeu 5,1 milhões de visitantes estrangeiros em 2010, apenas o segundo principal destino turístico na América do Sul e o terceiro na América Latina, depois de México e Argentina. O Best in Travel 2014, classificação anual dos melhores destinos feita pelo guia de viagens Lonely Planet, classificou o Brasil como o melhor destino turístico do mundo em 2014. Mesmo assim, isso não tem se refletido em aumento de turistas no País. O turismo interno tem crescido, mas está muito longe do que se pode esperar. Em entrevista exclusiva à Chams Business, o ministro do Turismo, Gastão Vieira, elenca o que governo e iniciativa privada podem fazer para mudar esse cenário. Comparando-se com outros destinos, como EUA, Europa e Ásia, o Brasil está longe dos turistas? Como reverter isso? Sim, o Brasil evidentemente está longe da Europa, da Ásia e dos EUA. Esse é um dos motivos de termos nos argentinos 30% dos visitantes internacionais. A França, que tem 80 milhões de visitantes, tira vantagem da posição geográfica privilegiada, no centro da Europa e cercada de países ricos. É claro que não dá para mudar o Brasil de lugar, mas podemos aumentar o fluxo de turistas estrangeiros ampliando conexões aéreas entre o Brasil e países cujos habitantes queremos atrair, como a Rússia, por meio de voos diretos, e estabelecendo políticas de multidestinos com outros países da América Latina — roteiros internacionais integrados com nossos vizinhos — para aumentar o interesse dos turistas estrangeiros. Como está a rede hoteleira nas cidades turísticas? E nas que receberão jogos da Copa do Mundo? O Brasil tem hoje cerca de 464 mil lei-

tos em sua rede hoteleira. Nas cidadessede, a perspectiva é de mais 26 mil novos quartos acrescentados até 2015. O total de leitos é compatível com o volume de turistas que o País recebe? É bastante compatível. A taxa de ocupação em 2012 ficou em torno de 65%, segundo o Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB). O que o setor teme, na verdade, é que haja inclusive excesso de quartos ofertados na Copa em algumas cidades e que isso possa comprometer a rentabilidade dos empreendimentos. Por que o turismo no Brasil é caro, comparativamente com países que recebem mais turistas? Por vários motivos: um é o câmbio. A valorização recente do Real em relação ao Dólar minou a nossa competitividade para os turistas estrangeiros. Uma evidência disso é o número de americanos que vinham ao Brasil em 2004, com o dólar a R$ 2,93, e em 2012, com o dólar a R$ 1,91, caiu de 706 mil para 586 mil. Os operadores turísticos também se ressentem de uma carga tributária excessiva e de leis trabalhistas muito rígidas. O Governo já está agindo para sanar esses problemas. No ano passado, a hotelaria, as empresas aéreas e o setor de transporte rodoviário de passageiros entraram no pacote de desoneração de INSS do governo, o Brasil Maior. E os hotéis tiveram abatimento em sua conta de luz, o que tende também a se refletir nos investimentos e na diária. De forma geral, o setor hoteleiro respondeu bem às medidas do governo. Como trazer o turista à América do Sul, inclusive os de países mais distantes? Uma possibilidade na qual estamos trabalhando é a política de multidestinos, mencionada acima. Queremos começar com Cuba, que desde meados deste ano passou a contar com um voo direto para o Brasil e atrai muitos turistas russos.

Vale a pena construir novos empreendimentos em razão de grandes eventos? Sim, embora, a rigor, os empreendimentos que estão sendo feitos no País hoje, excluindo-se alguns hotéis em cidades mais saturadas, não sejam destinados especificamente à Copa, mas à população. Grandes eventos deixarão legado no turismo? Sim. Um exemplo são os aeroportos. A expansão na infraestrutura aeroportuária é uma necessidade de longa data, que foi catalisada pela proximidade dos grandes eventos esportivos. Há hoje 15 aeroportos em obras nas cidades-sede. Todos eles ficarão como legado para a população e para a economia das cidades. O mesmo vale para as obras de mobilidade urbana e de sinalização turística. Há ainda um fator menos tangível, mas nem por isso menor, que é o aumento da visibilidade internacional do Brasil como destino. Isso para o turismo é fundamental — e esperamos que o grande legado da Copa seja a mudança de patamar na atração de turistas para o País. O turismo interno e destinos mais próximos de pontos de origem têm potencial? Altíssimo. O Brasil hoje tem metade de sua população na classe média. Só paulistas viajando pelo Brasil são 18 milhões de pessoas por ano. O Ministério do Turismo tem a convicção de que é no mercado doméstico que está o maior potencial de explosão no número de turistas no País. Os brasileiros foram alçados recentemente ao mercado de consumo e querem viajar. Foi pensando nisso que o MTur relançou, em setembro, o programa Viaja Mais Melhor Idade, para estimular o turismo em baixa estação entre idosos, aposentados e pensionistas. O programa está sendo um sucesso: só no primeiro mês foram 236 mil acessos ao site. A próxima etapa será uma versão do Viaja Mais destinada a jovens. Novembro de 2013 Chams Business 25


reprodução

marketing

Times nacionais tem muito a aprender Apesar de terem evoluído nos últimos anos, o futebol brasileiro tem muito o que aprender — e crescer — com o marketing esportivo.

26 Chams Business Novembro de 2013

Barcelona tem por volta de 223 mil sóciostorcedores; ao lado do Benfica, são os dois com maior número no mundo

O brasileiro, sem dúvida, tem uma paixão pelo futebol que pouco se vê em torcedores de outros locais no mundo. Mas essa paixão, no Brasil, não se reflete em benefícios diretos para os times. Não como na Europa, por exemplo, ou mesmo em países que não contam com a mesma tradição ou paixão de torcedores, entre eles os Estados Unidos. O futebol brasileiro não pode deixar a paixão de lado só pelo negócio, mesmo que seja altamente lucrativo. O negócio já é lucrativo e a paixão existe e deverá permanecer, pois faz parte da cultura e dos valores do brasileiro. O que se precisa é organizar a coisa toda. Com a Copa do Mundo se aproximando, o cenário futuro é bem promissor, mas ainda se patina muito por aqui.


“Temos bons profissionais no marketing dos principais clubes do País, entretanto é necessário que o departamento tenha o respaldo”

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Para Cesar Gualdani, sócio-diretor da Stochos Sports & Entertainment, especialista em marketing esportivo, isso tem tudo para mudar, principalmente se os times trabalharem melhor suas marcas. Segundo ele, comparando-se o momento atual com a ótica que se tinha dez anos atrás, algumas coisas evoluíram. Hoje, clubes possuem departamentos específicos onde profissionais de marketing atuam. Olhando-se os grandes centros do mundo, o Brasil — clubes brasileiros deixam muito a desejar. Mas o cenário não é tão ruim assim e muito pode se aprender com boas iniciativas de fora. Os programas de sócio-torcedor são um exemplo. Parte considerável das receitas dos clubes no Exterior, no Brasil os exemplos são poucos, porém frutíferos e com grande potencial inexplorado, principalmente para os programas voltados à relação do ingresso e ida a estádios. Profissionais podem ajudar nesse sentido. “Temos bons profissionais no marketing dos principais clubes do País, entretanto é necessário que o departamento tenha o respaldo e, principalmente, o entendimento de conselheiros, diretores e presidentes de que essa área é importante, diria até vital. Que necessita de

Cesar Gualdani, sócio-diretor da Stochos Sports & Entertainment

orçamento adequado para realizar e desenvolver suas ações”, defende Gualdani. Em contrapartida, de acordo com ele, os piores exemplos de marketing dos clubes são os patrocínios pontuais que não agregam valor algum à marca, nem para o torcedor nem para o time. “Ganha no curto prazo, mas deprecia sua marca e não entrega nada em troca”, assegura.

Naming rights Uma novidade para os times brasileiros são os chamados naming rights, direito ao uso de nomes em estádios, torneios, como a Libertadores da América, cujo nome oficial é Copa Bridgestone Libertadores — ou mesmo em times (uma realidade lá fora e muito distante daqui, apesar de alguns exemplos). Nós, exatamente pela paixão, não vemos ou entendemos que o estádio onde nosso time joga — ou mesmo o nome do seu time — pode ser batizado com o de uma empresa e fazer com que o clube ganhe mais dinheiro, cresça e possa ser competitivo. No Brasil, o primeiro exemplo claro no futebol brasileiro a adotar a prática foi a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense. O espaço adotou o título de Kyocera Arena entre 2005 e 2008, em razão de parceria com a empresa japonesa Kyocera Mita America, especializada na produção de aparelhos e componentes eletrônicos. O acordo foi desfeito a partir de 1º de abril de 2008, por decisão do clube, para tentar buscar outros parceiros mais lucrativos, devido à expectativa existente à época com o retorno com a Copa do Mundo de 2014. Com a Copa, a ideia de arenas veio com tudo. Algumas que já foram entregues fecharam parceria com a marca

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marketing

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São Paulo, Corinthians e Santos vem investindo nos planos de sóciotorcedor. O case de maior sucesso no País ainda é o Internacional, com os paulistas trabalhando forte.

Foi apresentado este ano o sexto projeto de roforma na história do estádio Santiago Bernabeu. Com museu, passeio turístico, loja do clube, restaurante, dentre outras opções, a arena é uma das grandes receitas do clube merengue. de cerveja Itaipava, mas, por causa das regras da Fifa, só podem ser ‘batizadas’ depois da Copa do Mundo. O Palmeiras, time paulista, fechou acordo com a seguradora alemã Allianz e receberá o nome de Allianz Parque, escolhido pelos torcedores. Para o especialista, tanto em competições quanto em estádios, o resultado depende do objetivo do patrocinador. Se for somente visibilidade, pode esquecer. Conforme ele, existem dezenas de outras propriedades mais acessíveis que podem agregar mais valor que o futebol. Agora, se o objetivo for relacionamento, o resultado é positivo.

28 Chams Business Novembro de 2013

Bons exemplos devem ser seguidos Embora novo, comparativamente com times da Europa, o marketing esportivo no Brasil tem bons exemplos de sucesso, como o São Paulo, Internacional e Corinthians. Estão longe de Barcelona, Milan ou Real Madrid, mas são modelos que podem ser seguidos por clubes daqui, mas não cegamente. Como qualquer outro negócio, é preciso conhecer profundamente o meio e, principalmente, o cliente-torcedor, as ameaças, riscos, o lado político e os concorrentes. Enfim é um negócio como todos os outros, que têm altos e baixos. Gualdani avisa que, mesmo

com o cenário de negócios altamente positivo, o esporte vem em primeiro lugar. Os eventos, por exemplo, servem de suporte para receitas adicionais quando o estádio apresentar ociosidade, mas é importante lembrar que eles são, primariamente, estádios de futebol. Voltando à questão dos estádios e das receitas que podem vir dele, o especialista alerta que, no exterior, qualquer base ou projeto de marketing de um grande clube contempla um estádio como principal gerador de negócios para suas marcas. “Para viabilizar um bom retorno com o esporte, cabe aos profissionais da área entender e conhecerem as estruturas e


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as possibilidades de negócios envolvidas. Depois da Copa teremos vários elefantes brancos, pois os investimentos em estádios foram altíssimos e o público que vem depois não responderá como nos grandes centros”, avisa, alertando que essas arenas deverão ter projetos muito bem pensados. A Copa do Mundo será a ‘prova dos nove’ para o marketing esportivo e deve fazer com que esse mercado mude nos próximos anos. “Certamente a pergunta mais difícil é saber qual o legado e como tirar proveito com a Copa do Mundo. A Copa que sonho dificilmente acontecerá. Termos como ‘legado’, ‘organização’, ‘oportunidade de negócios’, ‘investimento em infraestrutura’, podem não acontecer por aqui. Talvez acontecessem se estivéssemos na Alemanha, mas, neste momento, para quem ainda não se movimentou, é tarde demais”, conclui Gualdani.

O Estádio do Palmeiras será inaugurado em 2014 e seu nome estará ligado a uma seguradora alemã, detentora do nome de outras arenas pelo mundo.

O Atlético Paranaense foi o primeiro clube a comercializar no País o naming right de seu estádio. A Arena da Baixada hoje é uma das sedes do mundial e o clube espera mais uma vez vender o nome do estádio, com valores ainda maiores que o do contrato anterior.

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e n t r e v i s ta

quatro perguntas

para Roberto Rivellino

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conhecido como “patada atômica”, o ídolo corinthiano, que também atuou no fluminense, se mostra incisivo também nas opiniões.


roberto rivellino

Um dos maiores jogadores que o Brasil já produziu, Roberto Rivellino não foi só craque nos campos de futebol. Celebrizado por um chute potente, tanto que recebeu na Copa do México a alcunha de ‘Patada Atômica’ por sua força na perna esquerda, depois que se aposentou dos campos levou essa força para os microfones. Atual comentarista do programa Cartão Verde (TV Cultura), onde passou a ocupar a cadeira deixada pelo saudoso doutor Sócrates, Rivellino mantém uma opinião forte quando o assunto é o esporte preferido dos brasileiros. Não seria diferente às vésperas de uma Copa do Mundo do Brasil. Atualmente, Rivellino tem uma escolinha de futebol e tenta encontrar entre as crianças um novo craque. Ao lado do rei Pelé, do Rai (fundador da Fundação Gol de Letra), do Cafu (capitão do penta), e dos jovens valores do futebol brasileiro, Lucas e Neymar, Riva também é embaixador da Volkswagen, que explora sua imagem na promoção de seus veículos. A Chams Business ouviu o ex-jogador sobre o que ele espera do Brasil na Copa e sobre o futebol hoje. O que esperar da Copa do Mundo no Brasil? Todos nós esperamos que seja um grande evento. Problemas todas as copas e todos os países-sede tiveram. O que acho interessante é que quando o Brasil se candidatou a ser sede ninguém reclamou, muito pelo contrário, todo mundo bateu palmas e queria o evento aqui. Quando o Brasil foi eleito, aí vieram críticas e mais críticas. Todo mundo jogou pedra. Deveriam ter feito isso antes. Claro que há absurdos. Quatro estádios não deveriam sequer ter sido construídos, que o legado vai ficar para ninguém: Brasília, Natal, Manaus e Cuiabá. Isso, sim, é dinheiro jogado fora. Eu escuto desde criança que saúde, educação, segurança e moradia são prioridades e não é

o futebol ou a Copa do Mundo que vão fazer isso mudar. Tudo tem de acontecer. Se formos ver, o Brasil só gastou um dinheiro que não tinha quando sediou a Copa de 1950. De lá para cá o futebol só deu alegria para o povo. É uma hipocrisia dizer que se está gastando o dinheiro que iria para essas necessidades. Deveria, sim, também se gastar com isso, mas pensar que o futebol trará um legado para o povo, nem que seja de alegria. Problemas, temos sim, como todo mundo tem, mas por que o Brasil não poderia fazer uma Copa? Sou otimista e acredito que vamos fazer uma grande Copa. Para você, quem vem forte e com chance de levar a Copa? Quais são as chances do Brasil? O Brasil sempre é um dos favoritos. Acho que o Felipão [Luis Felipe Scolari, técnico da seleção brasileira] deu uma cara para a seleção, que hoje tem uma credibilidade maior no mundo e com os torcedores. O Brasil é um dos favoritos, não que vá ganhar ou que seja uma obrigação. Acho que a Alemanha ganhou maturidade na última Copa e vem forte. A Espanha tem um futebol que encanta; a Itália que tem tradição, mesmo jogando mal a gente sabe que vem forte; a Argentina, do meio de campo para frente tem qualidades e conta com um jogador que deve ser a copa dele, o Messi. Pode ter surpresas. Não vejo a Holanda forte; uma Colômbia que não assusta; Bósnia que é uma incógnita. Na época em que você jogou, o futebol era mais um esporte que um negócio. Você acredita que a mudança foi benéfica para times e jogadores? Para os jogadores, sim. Por exemplo, a Lei Pelé [legislação criada por Pelé à época que era ministro dos Esportes] beneficia os jogadores. As Federações estão ricas, os jogadores milionários, mas os times estão

falidos. Hoje, um menino já vale milhões e tem contrato assinado ou compromisso assumido com 16 anos, brigando com o time para ir para a Europa. Muitas vezes o clube formador não recebe qualquer retorno, pois eles saem de graça. O futebol está nas mãos dos empresários, que não entendem nada de futebol, mas de negócios. O Neymar foi uma exceção, mas mesmo assim o Santos perdeu dinheiro com ele. Infelizmente, o futebol virou business. Não há interesse em melhorar isso, moralizar, fazer um calendário decente. Eu vejo com simpatia esse Bom Senso Futebol Clube [iniciativa de jogadores para melhorar as condições de trabalho para melhoria do futebol brasileiro] e até me coloquei à disposição para ajudá-los. Eles não estão pedindo coisas absurdas. Tomara que esse movimento tenha força. Rivellino foi, durante anos, do Corinthians e depois do Fluminense. Havia essa identidade entre jogador, time e torcida. Com poucas e raras exceções, como Marcos e Rogério Ceni, isso não existe mais. Qual a razão disso e é possível voltar ao que era no passado? Não, porque hoje o futebol é negócio e o mercado não permite mais isso. Os clubes de fora tem condições de levar um jogador daqui. Como você consegue combater isso? O que o Santos fez com o Neymar foi um milagre. Hoje um menino de 15, 16 anos é levado para fora e não cria identidade com time algum. Mesmo com ele, parecia que havia um acordo para ele ir para o Barcelona. Hoje, um jogador aparece para o futebol e não quer renovar com o time, quer, sim, ir para fora. Os contatos não são mais com os clubes, mas com os jogadores. E não sou contra. Se eu ainda jogasse e me surgisse uma oportunidade dessas, eu sairia sim. A qualidade do futebol e a organização deles é outra. Eles valorizam, sim, o negócio, mas o negócio só existe se o jogador aparece. Novembro de 2013 Chams Business 31


p i ratar i a

Todos contra os piratas 32 Chams Business Novembro de 2013

Pirataria ĂŠ um dos grandes funis da competitividade. Paga-se caro para produzir, mas nĂŁo se tem como competir contra produtos falsificados.


linha de frente

O termo ‘pirataria’ é usado nos tempos de hoje para falar de um produto que é falsificado. Nada mais é que a prática de se vender ou distribuir produtos sem a expressa autorização dos proprietários de uma marca ou produto e sem o devido pagamento de royalties. No mundo todo — e, claro, no Brasil — os maiores exemplos de cópia e falsificação estão em roupas, calçados, utensílios domésticos, remédios, livros, softwares e CDs. A pirataria é considerada crime, e o pior lado está no montante que movimenta e no destino dos lucros que, muitas vezes, vai para o narcotráfico. O crime é financiado, em sua maioria, por grandes grupos organizados e máfias internacionais. Segundo dados do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCC) — maior associação brasileira com foco exclusivo no combate à ilegalidade —, os brasileiros gastaram cerca de R$ 23,8 bilhões no último ano. De acordo com a entidade, em São Paulo, o maior pólo da pirataria do País, entre dezembro de 2010 e dezembro de 2012, foram apreendidas 78 milhões de unidades de produtos, um montante que representaria R$ 2 bilhões no mercado legal. Segundo Marcio Lamonica Bovino, advogado do escritório Focaccia, Amaral & Salvia,

e assessoria jurídica da Associação de Marketing Promocional (Ampro), a pirataria (violação de alguma propriedade intelectual) é um grande mal que assola não só o Brasil, mas o mundo inteiro. Ela se manifesta tanto no uso não autorizado de uma criação autoral (Lei nº 9.610/1998), como também na violação a alguma marca protegida (propriedade industrial, Lei nº 9.279/1996). “Sob o aspecto autoral, depende de autorização expressa do autor (criador), a utilização de uma obra protegida pela lei por quaisquer das modalidades existentes, como por exemplo, a reprodução, a edição, a adaptação, a distribuição, a fixação, a exibição audiovisual etc.”, explica. Segundo ele, a proximidade com a Copa do Mundo tende a deixar esse quadro ainda pior, mas é possível, sim, que muitos negócios sejam gerados, respeitados os preceitos da Lei Geral da Copa (nº 12.663/2012), que dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações Fifa 2013 e à Copa do Mundo Fifa 2014, entre outros eventos. O trabalho das agências de live marketing (o chamado marketing promocional) pode ser considerado criações de espírito e, como tal, classificado (dependendo da análise pontual) como obras protegidas. O advogado alerta que o uso

APCM (Associação Antipirataria de Cinema e Música) www.apcm.org.br Criada em meados de 2007, a partir da união da ADEPI-Brasil (Associação de Defesa da Propriedade Intelectual) e a APDIF (Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos), tem como objetivo fundamental proteger os direitos autorais de seus titulares, proporcionando um mercado mais ético, e oferecer meios para realização de ações que visem combater a pirataria.

UBV (União Brasileira de Vídeo) www.ubv.org.br As principais atividades consistem em representar as empresas associadas em favor dos interesses do setor de vídeo, em especial no que se refere a: contatos com autoridades governamentais para controle e elaboração de políticas direcionadas ao setor; cumprimento das leis nacionais e internacionais para proteção de direitos autorais; desenvolvimento de programas para incentivo e manutenção do mercado de vídeo doméstico; combate à pirataria de produtos audiovisuais no Brasil.

FNCP (Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade) www.forumcontrapirataria.org É uma associação civil, sem fins lucrativos, formada em 2006 por entidades setoriais empresariais, empresas e sindicatos. É a maior associação brasileira com foco exclusivo no combate à ilegalidade. Conta atualmente com 26 associados, que representam os seguintes setores econômicos: brinquedos; celulares; cigarros; eletroeletrônicos e computadores; pilhas; videogames; produtos de limpeza; Tv por assinatura; peças de automóveis; óculos; relógios, impressoras; suprimentos de informática; roupas; tênis; material esportivo; soluções de segurança; perfumes e cosméticos; combustíveis; bebidas; produtos de higiene.

Novembro de 2013 Chams Business 33


p i r ata r i a

não autorizado de uma campanha, por exemplo, pode ser enquadrado como ato de pirataria em geral, sujeitando o infrator a sanções civis de busca e apreensão e indenização por perdas e danos, além da possibilidade do encaminhando do caso concreto às autoridades policiais para investigação do crime de violação autoral previsto no artigo 184 do Código Penal. Já no campo registral, as marcas também recebem proteção contra o uso e reprodução não autorizados na forma do art. 130 da Lei nº 9279/1996. Cabe ao titular licenciar o uso de sua marca para terceiro, sob pena deste praticar ato de pirataria. No entanto, é importante dizer que o titular não tem o controle efetivo que impeça comerciantes que a utilizem com o objetivo de promoção e comercialização, pois o poder de fiscalização é estatal. “O Brasil vem intensificando o combate à pirataria estruturado sobre três eixos: educacional, econômico e fiscalização”, lembra. E as empresas, como ficam? As empresas contratantes de serviço/produtos e o setor de marketing promocional, de modo geral, estão preparados para atender grandes demandas. Conforme Mônica Schiaschio, diretora executiva da Ampro, o mercado promocional conta hoje com aproximadamente 3,5 mil agências em todo o território nacional. São agências de micro, pequeno, médio e grande porte que prestam toda a gama de serviços relacionados ao live marketing (eventos, ações promocionais, ações em ponto de venda, incentivo, promonline 34 Chams Business Novembro de 2013

“O Brasil vem intensificando o combate à pirataria estruturado sobre três eixos: educacional, econômico e fiscalização” (Marcio Lamonica Bovino, advogado)

etc.), sempre proporcionando o contato e a experiência com a marca ou produto. “As empresas brasileiras estão preparadas para atender a grandes demandas, haja vista as ações e eventos de grande porte que tem ocorrido em nosso País nos últimos anos, sempre executados por essas agências. Temos empresas muito bem estruturadas, que investem em seu potencial criativo, em tecnologia e em seu capital humano. E não estamos falando somente das grandes agências, mas também de pequenas e médias, que através das chamadas coligações, acabam absorvendo parte dos jobs das grandes agências, o que garante capilaridade às ações em todo o Brasil”, afirma a diretora. Marcio Bovino assegura que tanto as grandes como as pequenas marcas combatem a pirataria principalmente mediante o apoio às ações do Governo e iniciativas de associações de classe de cada setor. Ele traz como exemplo entidades que trabalham nesse sentido, como a Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM), o FNCP (veja box página 33), entre outros. A garantia das empresas produtoras e de live marketing tem respaldos nacional e internacional. No Brasil, regulando os Direitos Autorais, vigora a Lei nº 9.610/1998, e a

proteção da marca vem tratada na Lei nº 9.279/1996. Já o Decreto nº 5.244/2004 dispõe sobre a composição e funcionamento do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP). O artigo 184 e seguintes do Decreto-Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, Código Penal, trata do crime de violação autoral. No campo internacional, vigoram os acordos TRIPS sobre aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio, promulgado pelo Decreto nº 1.355 de 30 de dezembro de 1994, a Convenção Universal sobre o Direito de Autor revista em Paris em 24 de julho de 1971 e promulgada pelo Decreto nº 76.905 de 24 de dezembro de 1975, além das Convenções de Genebra, Berna e Roma. Além disso, a própria Fifa tem suas regras e os produtores contam com um grande aliado nesse sentido. Cada vez mais, a maioria dos consumidores deixa de comprar produtos piratas para contar com a qualidade de bens com garantia. O problema que ainda tem de ser resolvido não depende exclusivamente das empresas: o Custo Brasil, com tributos altíssimos, deixam o produto original muito caro. Aí fica difícil competir.


estande notas de mercado

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Quem quer ver a Copa, quer o Rio de Janeiro Donos de imóveis para locação no Rio de Janeiro estão rindo à toa. Estudo do TripAdvisor, maior site de viagens do mundo, mostra que a cidade é que desperta maior interesse de quem vem assistir ao torneio do Brasil. De acordo com o site, além de receber a final do torneio, os encantos da Cidade Maravilhosa atraem os turistas. Na temporada, conforme análises do TripAdvisor, o aluguel de um apartamento varia entre R$ 2 mil e R$ 7 mil por semana. A conta fica atrativa quando se viaja em grupos, mas o valor supera os praticados em cidades como Buenos Aires, Lisboa, Miami e São Francisco. nem tudo se compra A Fifa, a Uefa e a Interpol, auxiliada pela Europol, buscam maneiras de coibir a manipulação de jogos ao redor do mundo. Dados do inicio do ano apontam a um esquema que envolve ligas de 15 países, lucros em torno de ' 8 milhões e pagamento de propinas de até ' 100 mil por jogo. Em setembro, a entidade chefe do futebol e a polícia internacional apresentaram um programa na internet para combater casos de manipulação de resultados no futebol, com o objetivo de jogadores, treinadores e árbitros se protegerem das abordagens. Os possíveis alvos de assédio seriam

treinados por meio de um guia interativo para identificar, resistir e denunciar os suspeitos. O programa, que também espera ser eficiente na missão de coibir apostas ilegais, está disponível nos sites da Fifa e da Interpol, nas línguas inglesa, francesa, alemã, espanhola e árabe. Quem paga essa conta? Segundo levantamento realizado pelo UOL Esportes, com base em

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ueeeba! dinheirinho antecipado Às vésperas do sorteio dos grupos da primeira fase da Copa, o Comitê Executivo aprovou a criação de um Fundo de Legado da Copa do Mundo da FIFA 2014. Ao contrário da iniciativa do evento de quatro anos atrás, desta vez o fundo será lançado antes do torneio. Ele depende dos lucros da entidade, mas tem investimento inicial de US$ 20 milhões (R$ 47 milhões) no Brasil. A ideia é fomentar as categorias de base e os iniciantes no esporte. Resta saber a quem cabe a administração dos recursos.

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o legado da copa O consórcio Encalso/Engevix/ Kallas está realizando reforma, modernização e ampliação do Aeroporto Internacional de Manaus Eduardo Gomes. As obras contratadas pelo Governo Federal tornam o Terminal de Passageiros de Manaus o quarto maior do País em área construída, superado apenas por Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Brasília (DF). Em se tratando de equipamentos mecânicos e elétricos, a entrega prevista para março de 2014 engloba 11 elevadores, dez escadas rolantes, quatro esteiras de restituição de bagagem, três chillers, quatro grupos-geradores, cinco transformadores, entre outros equipamentos. A obra tem valor previsto de R$ 389 milhões.

copa

sites de transparência e dados enviados pelos governos municipais, oito cidades-sede aumentaram em média 30% suas dívidas com a União em decorrência dos financiamentos de obras previstas para a Copa. São Paulo, embora seja o município com a maior dívida junto ao Governo Federal, não contraiu empréstimos para a Copa; já o Rio de Janeiro é a cidade que pegou o maior financiamento com a União para as obras da Copa, R$ 1.179.000.000,00, totalizando um endividamento de mais de R$ 7 bilhões, segundo informações da Secretaria da Fazenda Municipal. Novembro de 2013 Chams Business 35


Aline Baker

e n t r e v i s ta

Uma marca ainda viva e moderna 36 Chams Business Novembro de 2013

Primeiro hotel a se instalar na região da Paulista, o Maksoud Plaza resiste ao tempo e às mudanças, e se reinventa.


henry maksoud neto

Em 1979 a cidade de São Paulo ainda tinha na região central toda a força de sua economia. Lá estavam as sedes dos principais bancos, os maiores escritórios da cidade, enfim toda a decisão que mexesse com a vida financeira da Capital estava centralizada na região. Nessa época a Avenida Paulista começava, ao poucos, a girar a bússola do mercado financeiro e imobiliário. Ainda não era o futuro centro financeiro, mas já dava os primeiros passos para isso. Foi nesse cenário que um visionário vislumbrou uma oportunidade e mudou a história da hotelaria paulistana — e nacional. Henry Maksoud, fundador e diretor presidente da Hidroservice Engenharia de Projetos Ltda., especializada em engenharia pesada, adquiriu um terreno na Alameda Campinas onde ficava um convento de freiras beneditinas enclausuradas. Quis diversificar seu negócio, e começou a criar um conceito. O engenheiro não tinha experiência no ramo, apenas havia feito, até então, algumas incursões no ramo imobiliário, mas nada dessa magnitude ou no nicho. Ele, como hóspede curioso e detalhista, procurou fazer do seu hotel um resumo do que de melhor via e conhecia na hotelaria internacional. Não pensou só na beleza — feito por um engenheiro acostumado à construção pesada, o edifício teve o melhor tratamento construtivo, com conforto e segurança. Totalmente pensado para que o hóspede tenha a melhor estadia possível. A hotelaria paulistana se resumia a hotéis de pequeno a médio portes e a poucos de alto padrão. Os modelos nesse segmento eram o Hotel Hilton, na Avenida Ipiranga, Othon Palace, na Rua Líbero Badaró, Windsor e San Raphael, na região da Avenida São João. Com exceção do Hilton, eram

mais clássicos que funcionais. Eram o modelo de alta hotelaria na cidade, mas não tinham um padrão internacional de excelência. Henry criou um conceito ao lançar o Maksoud Plaza Hotel, um marco na hotelaria paulistana e nacional. A região da Avenida Paulista não tinha sequer um hotel de pequeno porte, quanto mais um chamado ‘cinco estrelas’, que se colocaria entre os mais luxuosos da cidade e, indo além, oferecendo atendimento de primeira qualidade e conforto ao extremo. Exatamente o que Henry Maksoud vivenciara em suas viagens pelo mundo.

Terceira geração Henry Maksoud Neto hoje é o responsável pela operação do hotel, a terceira geração da família no controle do Maksoud Plaza. Uma característica de famílias libanesas, o controle e administração são 100% familiares e passam de pai para filho. Segundo ele, o hotel já passou por algumas reformas, mas manteve seu padrão. Claro que sofreu um pouco com a mudança de cenários nos últimos anos e a criação de uma concorrência, que veio exatamente desse pioneirismo. O neto do ‘Seu Henry’ chegou a ver toda a negociação para a com-

"Meu avô sempre diz que quer um hotel com serviço de qualidade, e que isso seja uma constante: que quem entra aqui tenha um atendimento de primeira, do ckeck in ao check out. Quem chega aqui sabe que terá o melhor atendimento e melhor serviço com honestidade. Temos décadas de experiência e quem usa nossas instalações tem essa segurança" Não demorou para que o hotel começasse a receber altos executivos, chefes de estado e celebridades nacionais e estrangeiras. O atendimento cuidadoso e atencioso voltado ao conforto de seus hóspedes, além de uma série de detalhes requintados, o tornaram uma referência. Afora isso, a beleza arquitetônica em meio ao centro empresarial e financeiro da cidade fez sua fama. Tudo começa com a recepção, e era esse o conceito que Maksoud quis dar ao seu hotel. O majestoso Atrium Lobby já é a melhor acolhida que o hóspede pode ter: a estrutura escultural que se vê logo que se entra, com teto solar, torres coloridas dos elevadores panorâmicos, fontes e espelhos d'água, vegetações floridas e verdes, obras de arte, jardins suspensos de plantas tropicais e reflexos de tonalidades da luz solar nos forros dos 22 andares do Atrium.

pra do terreno. Nascido em 1975, ainda criança era levado pelo avô nas conversas com as freiras que venderam o local. A construção, de acordo com ele, não foi fácil, até pela topologia do terreno, mas tinha de ter esse tamanho e padrão de qualidade e luxo. Com o tempo, começaram a ser construídos mais hotéis, aumentando a concorrência, mas Maksoud Neto não entende que isso possa ter deixado o seu para trás. "Há três décadas, o Brasil tinha tudo para fazer, em todos os segmentos. Não era diferente com a hotelaria. Lançamos um conceito que passou a ser adotado por outros estabelecimentos, mas o Maksoud não deixava de ser referência", afirma. Além da hospedagem, o Maksoud Plaza levou um novo conceito de negócio para a região. Possui, desde sua inauguração, áreas para reuniões, exposições, Novembro de 2013 Chams Business 37


e n t r e v i s ta

Barriga no balcão Hoje o Maksoud continua 100% familiar e nunca abriu mão do luxo e do esmero no atendimento e ainda é referência. Não existe na cidade um hotel com essa característica. "A vida em hotel é complicada. Operar um hotel tem seus custos. Diariamente, eu assino de quatro a cinco pastas de contas, compras de insumos. Manter essa estrutura e disputar com grandes cadeias internacionais não é fácil". De acordo com ele, para competir você tem de ter seus diferenciais. O hóspede que chega aqui deve sentir que tem esses dife38 Chams Business Novembro de 2013

renciais de serviço e atendimento, não plastificado, como em um hotel de cadeia. "Oferecemos o atendimento 'barriga no balcão', mas com requinte, luxo e excelência", define. Para Maksoud Neto outro diferencial do seu hotel é a qualidade de seus funcionários. A média de casa dos colaboradores é de dez anos. Quem chega à recepção reconhece quem o atendeu há alguns anos. Outro ponto de destaque é que o hotel não segue modismos que não levam a nada.

Segundo ele, uma mudança de cor de parede não adianta se isso não carrega em si uma funcionalidade ou eficiência. "Nossa identidade é nossa principal marca". O faturamento do hotel também mudou com o tempo. No passado, a maior parte do retorno vinha da hospedagem, em menor escala dos eventos e serviços. Hoje, 50% vem da hospedagem, 40% de eventos e 10% de outros serviços, como restaurantes, estacionamento etc. Como a área de eventos cresce em uma cidade

aline baker

auditórios para eventos, palestras, teatro, casa de shows e restaurantes que sempre se destacaram pelos cardápios de qualidade. Segundo ele, hoje a hotelaria paulistana tem uma grande oferta que atende à demanda, até com sobra — ou até predatória, em razão de preços. Ele entende que a concorrência é válida, pois os quatro estrelas atendem o público que não vai para os de cinco; os de três, aqueles que não vão para os de quatro; e assim por diante. "Até mesmo os flats e hotéis econômicos tem seus públicos. Mas houve um período de exagero e os estabelecimentos sofreram com isso", pondera. Hoje o mercado mudou e o Maksoud Plaza é um dos poucos hotéis em sua categoria que depende exclusivamente de suas receitas. Os chamados cinco estrelas, atualmente, são mais controlados por grupos estrangeiros ou fundos de pensão. Caso precisem de uma reforma, por exemplo, recorrem aos seus administradores para conseguir os fundos para isso. "O Maksoud Plaza, não. Qualquer mudança ou reforma que planejemos sairá necessariamente de nossa receita, do nosso negócio", diz.

Vista do Atrium Lobby: os anos passam, mas o projeto de Henry Maksoud não envelhece


henry maksoud neto

como São Paulo, o hotel foi se estruturando para melhor atender esse público. Com um diferencial: não existe na região um local com tamanho, espaço e estrutura como o Maksoud Plaza. São 5 mil metros de área para eventos, 38 salas, comportando de dez a mil pessoas confortavelmente em localização privilegiada. Paulista: eterno chamariz No passado, a escolha da região da Avenida Paulista foi óbvia para atender um público que começava a ficar importante na cidade, mas a região chegou a passar por uma espécie de decadência. O problema maior pelo qual a Paulista passou foi sua limitação construtiva e de espaço, por isso houve a migração das empresas para outras regiões. Uma delas foi a Avenida Luis Carlos Berrini. Lá, havia espaço e maiores condições para que as empresas, grandes corporações, que antes estavam na Paulista, se instalassem. Com isso, houve também a criação de um novo polo hoteleiro. Essa mudança fez com que o próprio Maksoud Plaza passasse por épocas mais ‘brandas’, principalmente entre 2004 e 2005, mas, mesmo assim, o hotel nunca pensou em fechar as portas. "Um hotel é o último laço da cadeia e, quando as coisas vão mal, os primeiros cortes recaem sobre eventos e viagens de funcionários. Mas a vantagem é que isso é cíclico", avalia Maksoud Neto. Atualmente o Brasil vive um bom momento em sua economia e isso traz bons resultados e reflexos ao setor, um segmento que ainda tem muito o que crescer. Uma nova era se inicia A região da Paulista deve voltar, em breve, a ser um novo centro econômico. Há um novo shopping em construção, empresas tem voltado à avenida, até mesmo por ter

"Não estamos preocupados com a Copa. O mês de julho, quando acontece a Copa, é um período de férias em que cai um pouco nossa taxa de ocupação. Somos um dos hotéis oficiais da Fifa, mas não vislumbramos um grande aumento no nosso fluxo normal, pois quem faz negócios evitará a Copa"

um metro quadrado para locação mais em conta que a zona sul, o que trará novo alento para o setor hoteleiro na região. O Maksoud, hoje, é um hotel de business, que procura facilitar a vida de seus usuários, empresários, empresas, colaboradores e hóspedes, prestando um serviço de qualidade. “Meu avô sempre diz que quer um hotel com serviço de qualidade, e que isso seja uma constante: que quem entra aqui tenha um atendimento de primeira, do ckeck in ao check out. Quem chega aqui sabe que terá o melhor atendimento e melhor serviço com honestidade. Temos décadas de experiência e quem usa nossas instalações tem essa segurança", assegura Maksoud Neto. Segundo ele, o avô ainda é o presidente da empresa e está totalmente envolvido nas decisões do dia-adia. "Aprendi com meu avô que as coisas tem de ser certas, corretas e cumprir o que se prometeu". Entre os planos de investimentos do hotel estão as reformas dos quartos e das áreas de eventos com espaços novos dedicados principalmente a eventos sociais, estas já concluídas, a reforma do lobby, que se refletirá em todo os ambientes (ainda a ser iniciada) e a melhora da infraestrutura com menor consumo de energia, já em andamento.

A Copa não muda nada Com a proximidade da Copa do Mundo muitos setores estão se mexendo e esperam retorno com o evento, mas isso não deve ocorrer com o segmento de hotelaria. Segundo Maksoud Neto, é claro que o movimento deve aumentar nos hotéis, principalmente nas cidades-sede, mas não deve interferir no movimento do Maksoud e nem no setor como um todo. "Não estamos preocupados com a Copa. O mês de julho, quando acontece a Copa, é um período de férias em que cai um pouco nossa taxa de ocupação. Somos um dos hotéis oficiais da Fifa, mas não vislumbramos um grande aumento no nosso fluxo normal, pois quem faz negócios evitará a Copa", calcula. Segundo ele, a taxa de ocupação do hotel gira em torno de 50% a 60% nos dias úteis, sendo o forte de terça a quinta-feira, e de 30% a 40% nos finais de semana. A média de estadia é de dois dias e o perfil dos hóspedes é de pessoas que vem para negócios (brasileiros e estrangeiros), em sua maioria homens. "O mais interessante é perceber que, assim como o hotel, que está na terceira geração na administração, nossos hóspedes também estão nessa mesma geração. Temos aqui netos de antigos hóspedes", conclui. Novembro de 2013 Chams Business 39


hotéis

Seja bem-vindo e sinta-se em casa Rede hoteleira brasileira se prepara para a Copa do Mundo e para o que vem depois.

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A rede hoteleira no Brasil conta com mais de 460 mil leitos e a expectativa é que esse montante cresça em mais 26 mil novos quartos até 2015. De acordo com as empresas que operam a maioria dos hotéis, esse crescimento não está ancorado exclusivamente na Copa do Mundo de 2014, mas faz parte de um planejamento que analisa o volume de hóspedes que o Brasil vem recebendo nos últimos anos.


“A hotelaria está em expansão e há espaço para crescermos mais, tanto em número de leitos quanto em espaços para eventos”

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Só nas 12 cidades-sede, segundo o Ministério do Turismo, existem 5.510 meios de hospedagem (entre hotéis, pousadas, pensões, albergues e apart-hotéis), com 254.205 quartos. Até a Copa do Mundo, haverá aumento de mais de 19 mil quartos. A Fifa exige que as cidades-sede tenham unidades habitacionais para, ao menos, 30% da capacidade do estádio, e, em todos os casos, o percentual deve ser atingido até a realização do evento. Hoje, de acordo com os operadores de hotéis, o Brasil possui bons estabelecimentos, já preparados para receber turistas, e não só na Copa. A rede está apta a atender desde os mais abastados, que se hospedam em hotéis cinco estrelas, de padrão internacional de luxo e conforto, até turistas que procuram uma estadia mais barata, mas com conforto e comodidade. E isso não só nas cidades-sede. Segundo Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels e conhecida como a grande dama da hotelaria brasileira, hoje, há muitas cidades que estão se desenvolvendo, recebendo empresas e indústrias, e ainda não tem a estrutura adequada para receber os executivos ou, até mesmo, promover eventos para estas

Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels

pessoas. Também não se pode esquecer que, com a ascensão da classe média, o País passou a ter grande número de novos turistas. “A hotelaria está em expansão e há espaço para crescermos mais, tanto em número de leitos quanto em espaços para eventos”, afirma. Atualmente, a Blue Tree administra 23 hotéis, distribuídos por 18 cidades de Norte a Sul do País: Búzios (RJ), Caxias do Sul (RS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC), Fortaleza (CE), Goiânia (GO),

Joinville (SC), Lins (SP), Londrina (PR), Macaé (RJ), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Verde (GO), Santo André (SP), São José dos Campos (SP), São Paulo (SP) e Teresina (PI). “Todas elas são muito importantes no cenário nacional e internacional quando falamos de viajantes de negócios, que é o foco da Blue Tree”, explica Chieko. Para ela, o Brasil tem grande potencial no turismo, de maneira geral, e no segmento de negócios, de forma mais específica. Temos muitos atrativos, e a visão do turista em relação ao País vem mudando continuamente. Conforme a executiva, a partir da crise mundial e do avanço econômico brasileiro, conseguimos ganhar mais credibilidade em todos os sentidos, inclusive no setor de turismo. O Brasil se tornou um importante destino para empresários que desejam prospectar novos negócios e também local para sediar grandes eventos internacionais. Além disso, por sua grande extensão territorial, é rico em belezas naturais e tem grande diversidade cultural, o que ajuda a atrair turistas em busca de diferentes experiências, sejam elas relacionadas a negócios, ecoturismo, praias ou cultura, por exemplo. Já no que se refere à Copa

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hotéis

“Temos totais condições de concorrer com destinos como Caribe, Havaí, sul da França. Há muito o que se fazer e crescer”

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do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016, a visibilidade será ainda maior. No entanto, não se pode negar que há muitas melhorias a serem feitas para recepcionarmos os turistas — e elas são essenciais para que a visão do mundo sobre nós seja positiva. Em sua análise, há uma necessidade de mais instituições que formem profissionais com competência e paixão pelo que fazem e para elevar continuamente o padrão da indústria. Só assim o Brasil se destacará no competitivo mercado internacional. “Outro ponto importante é a união do setor com as diversas áreas de economia, como o varejo, governo, associações de classe, como táxis, empresas de lazer e entretenimento, restaurantes etc., que formam o setor de turismo. Juntos, todos podem trabalhar estratégias de promoção para os destinos, como faz Cingapura”, defende. Chieko informa que a rede, que possui 12 hotéis em sete das 12 cidades-sede, está muito entusiasmada com o evento. Eles assinaram contrato com a Match, empresa contratada pela Fifa, por meio do qual parte dos apartamentos dos seus hotéis está reservada para jogadores, comissões e turistas em geral durante a realização da Copa. No que se refere ao que fica depois de um grande evento como esse, ela destaca a profissionalização da hotelaria em todas as suas vertentes, maior visibilidade internacional e os ganhos em infraestrutura para o País. “Não podemos perder de vista que, quanto maior a ação pré-evento, maiores serão os ganhos pós-evento. De todo modo, está em cada um de nós formar este legado.”

Annie Morrissey, vice-presidente de Marketing e Vendas da Atlantica Hotels International

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Paixão pelo Brasil, mas com profissionalismo Uma paixão pelo Brasil, levada ao negócio. Dessa forma, Annie Morrissey, vice-presidente de Marketing e Vendas da Atlantica Hotels International, inglesa com espírito totalmente brasileiro, entende que o Brasil pode, sim, concorrer com os principais destinos de verão do mundo, como o Caribe. E essa análise é totalmente profissional, sem qualquer ufanismo pela terra que adotou. De acordo com ela, o grande dificultador desse cenário ser mais positivo é que o Brasil ainda não entendeu o turismo de lazer da mesma forma que já entendeu o corporativo. “Temos totais condições de concorrer com destinos como Caribe, Havaí, sul da França. Há muito o que se fazer e crescer. Sou otimista e acredito que eventos como a Copa do Mundo ajudarão a mudar esse cenário”, assegura. Para ela, um dos maiores legados da Copa será colocar o Brasil definitivamente como destino, e todo o trabalho do Governo e da iniciativa privada deve ser focado no turista e na melhor experiência que ele pode ter quando


Diminuindo distâncias Estudo Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem, do MTur feito com 2 mil residentes de sete capitais, do universo dos que pretendem viajar

53% 26,8% 68,7% destino Brasil

U

23,3% destino exterior

m ponto comum une operadores de turismo e governo: o Brasil ainda é visto como um destino distante, mas isso pode se reverter. Muito tem sido feito, e a Copa do Mundo deve ser o grande divisor de águas, para que esse quadro mude e o País comece a receber cada vez mais turistas estrangeiros. Mas há outro problema, que nos afeta diretamente: para nós, o Brasil é caro. Mesmo com uma economia mais saudável e com maiores facilidades de crédito e acesso a facilidades, como passagens aéreas e pacotes mais atraentes, o volume de turistas ainda não cresce como se esperava. Apesar disso, de acordo com o Ministério do Turismo, os destinos turísticos nacionais superam os internacionais na preferência dos brasileiros que pretendem viajar até julho deste ano. No estudo Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem, do MTur, realizada em janeiro de 2013, com 2 mil residentes de sete capitais, do universo dos que pretendem viajar, 68,7% apontaram como destino cidades brasileiras. Outros 23,3% disseram que vão visitar outros países. O avião foi apontado como o meio de transporte escolhido por 53%, seguido do automóvel, com 26,8%. Para a Decolar.com, maior agência de viagens on-line da América Latina, o problema da distância é mais um estigma do que uma realidade. Alípio Camanzano, diretor da empresa, acredita que a falta de informação

dos turistas estrangeiros seja o maior problema.“Ainda sofremos com estereótipos internacionais que limitam nossa grande e rica variedade de destinos a poucas cidades com atrativos limitados. Não somos apenas o país do carnaval, de mulheres com biquínis minúsculos. Isso é, inclusive, um sinal de desrespeito com nosso País e população”, defende. Segundo ele, é possível, sim, atrair os turistas estrangeiros, mesmo fora de grandes eventos. Em relação à América do Sul, por exemplo, é preciso resgatar a personalidade latino-americana do brasileiro. Importante, de acordo com ele, é divulgar mais o Brasil para os nossos ‘hermanos’. Como diretor da Decolar. com, ele faz parte de um grande grupo, presente em 20 países da região, divulgando-os intensamente entre si. Em relação aos países mais distantes, é necessário insistir, intensificar e ampliar ao máximo a divulgação dos destinos brasileiros e as diversas atividades turísticas que se tem por aqui. Falando do ponto de vista das agências, grandes geradoras desse turismo, ele acredita que todos tem papel importante na divulgação do País.“A todo instante, estamos lembrando que viajar é uma delícia e que existem milhares de destinos no Brasil e no exterior para se conhecer. Assim, acabamos estimulando todo o setor”.

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estiver aqui para o torneio. E, claro, ficar com a melhor impressão possível para querer voltar. Annie acredita que a maioria das cidades-sede estão aptas para receber os turistas e, de maneira geral, a oferta é suficiente para atender a demanda. “As cidades que podem ter, hoje, dificuldades estão se ajustando ou terão de fazê-lo”, garante. A Atlantica Hotels é a operadora do Brasil melhor colocada na lista das 300 maiores redes do mundo, segundo a revista Hotels, de Chicago (EUA), ocupando a 89ª ocupação. No mundo, administra 11 bandeiras em diferentes padrões. Com sede em São Paulo e empreendimentos em 41 cidades brasileiras, possui mais de 12 mil apartamentos em mais de 75 hotéis, nas categorias Econômico, MidClass, Superior, Luxo e Resorts. A executiva acredita que investir no turismo e na hotelaria brasileiros tem potencial. “Investidores, de maneira geral, pensam em retorno e apostam no futuro, na melhoria de um sistema. Investir em hotéis no Brasil é retorno garantido, de médio a longo-prazo”. Ela acredita em um círculo virtuoso para o setor: o público que vem para a Copa ou grandes eventos substitui o hóspede normal. Assim que acaba, o público normal volta e é acrescido com novos turistas que conheceram o País por meio desses eventos. “A Copa do Mundo será o grande cartão de visitas do Brasil para o mundo. Será nossa oportunidade de reforçarmos que somos um povo acolhedor e que esta terra 44 Chams Business Novembro de 2013

tem atrativos o ano inteiro. O boca a boca será fundamental para retermos e ganharmos mais turistas. Os resultados e as perspectivas são altamente positivos”, afiança Annie. O Brasil é logo ali A distância depende de ponto de vista. Essa é a análise de Fanck Pruvost, diretor de Operações do Grupo Accor para a América Latina. Segundo ele, essa questão de

trabalho”, diz Pruvost. Líder mundial em operação hoteleira e líder de mercado na Europa, a Accor está presente em 93 países. Na América Latina são 224 hotéis em 11 países. O amplo portfólio das marcas hoteleiras da Accor na América Latina — Sofitel, Pullman, MGallery, Grand Mercure, Novotel, Mercure, Adagio, Ibis, Ibis Styles e Ibis Budget — oferece uma oferta variada, do

“Temos totais condições de concorrer com destinos como Caribe, Havaí, sul da França. Há muito o que se fazer e crescer” (Alípio Camanzano, diretor da Decolar.com)

distância pode ser relevante para os países asiáticos e europeus, mas é irrelevante para turistas das Américas. “Eu diria que tudo depende de conexões aéreas e, em um futuro próximo e com a Copa do Mundo, isso está para ser resolvido”, garante. A Accor vê a Copa como um potencial e vem investindo nisso. Seus funcionários estão sendo treinados para atender os turistas. Não que eles estejam sendo preparados em função do evento, mas o evento está acelerando algumas mudanças, como a decoração de alguns hotéis, seja no hall de entrada, seja nos quartos. “É bom que se lembre que, depois da Copa, tudo volta ao normal e vamos continuar a fazer nosso

luxo ao econômico. Até 2015, somente no Brasil, a rede pretende ter entre 240 e 250 hotéis operando e cerca de 300 em toda América Latina. “O desenvolvimento da Accor e da Ibis não está ligado à Copa e aos jogos olímpicos, mas ao potencial do Brasil. Foi uma estratégia planejada há 15 anos, quando nem se pensava nesses eventos no Brasil. A chegada deles, no máximo, pode antecipar alguma estratégia, como a abertura de algum hotel, mas não mudar”, adianta. Para ele, o grande legado que a Copa deixará será infraestrutura, mas principalmente mudar a imagem do Brasil, que será um destino importante para o turismo de lazer e de negócios.



e n t r e v i s ta

Felipe Moraes

A alma do neg贸cio

茅 aparecer sempre

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Um dos nomes mais conhecidos da publicidade brasileira, Roberto Duailibi, d谩 a receita para quem quer crescer em seu neg贸cio.


Roberto Duailibi

“Todo o investimento de publicidade em um grande evento está ligado à audiência e ao envolvimento do público. No caso da Copa, por exemplo, se o país pelo qual se torce não vai em frente, o torcedor perde o interesse e isso para a marca não tem preço. Há risco, mas ainda assim vale a pena”.

“Uma empresa ou produto, independentemente do tamanho, deve ter como certo o investimento em propaganda e publicidade. Isso vale para grandes corporações, como para pequenos negócios. A colônia, por exemplo, deve ter isso em mente: investir em comunicação é fundamental. Esse ‘pé atrás’ tem muito da história do comércio, do passado, em que os antigos donos de negócios preferiam esconder balanços, lucros, a mostrar que estavam bem e chamando clientes”. Esse conselho é dado por Roberto Duailibi, um dos maiores nomes da publicidade brasileira. O fundador da DPZ, uma das mais premiadas agências publicitárias do País. Ele vai além disso e dá um recado direto a empresas da comunidade árabe e, com toda propriedade, pois ele mesmo é um descendente. Segundo o publicitário, a colônia precisa receber mensagens de que é importante investir em publicidade, seja uma pequena empresa, seja uma grande corporação. “É preciso investir em comunicação como um todo. As pessoas precisam ser sistemáticas e essa ideia deve fazer parte do trabalho de direção de qualquer companhia”, ensina. Para ele, a conta é simples: a publicidade deve representar de 1,5% a 5% do faturamento de uma empresa, independentemente da época. Aumentou o faturamento, aumenta a verba. Isso tem de ser sagrado, de acordo com a sua experiência — que não é pouca. O legado é o crescimento contínuo.

Ele também recomenda que esse filão seja entregue sempre a profissionais que vão saber administrar a verba. “Essa é a primeira noção: a publicidade é parte da vida de uma empresa. É preciso criar uma verba específica e ser sistemático com isso”, afirma Duailibi. O publicitário cita o passado para tentar justificar essa cultura da maioria das organizações. Conforme ele, antigamente eram exclusivamente os donos das empresas que cuidavam das entradas e saídas de recursos e eles é quem decidiam onde e como investir, o que geralmente era feito no estoque de novos produtos, principalmente se era um comércio. Eles não pensavam em abrir novas frentes ou mesmo mostrar ao público em geral seus diferenciais. “Era mais comum que escondessem isso, com receio de alta tributação e impostos sobre seu movimento e lucro. O cenário mudou, mas o costume já estava arraigado. É preciso mudar e as novas gerações já começam a perceber isso”, destaca. Ganhando com grandes e pequenos eventos Com a competência de mais de 50 anos de atuação no segmento, Roberto Duailibi falou também dos grandes eventos que o Brasil sediará em 2014 e 2016, Copa do Mundo e Olimpíadas, respectivamente, e como usar a publicidade a favor. Segundo ele, é possível ganhar, sim, com grandes eventos, mesmo não sendo um patrocinador

oficial. E não só esportivos como esses, mas musicais, eventos menores de negócios, culturais, pequenas competições etc. Publicidade e eventos podem e devem andar juntos. E isso pode ser como organizador, patrocinador e cotista, entre outras formas. “Esses eventos geram mídia e público, a marca ganha exposição e a exposição faz com que ela seja lembrada, e essa lembrança é forte na hora da compra”, resume. “É lógico que Copa e Olimpíadas serão o top da publicidade, mas outros eventos virão por eles e pelo esporte, que sempre é uma excelente vitrine para qualquer marca. No Brasil, por exemplo, até mesmo em razão do clima, há muita coisa para se fazer, seja outdoor ou indoor.” Ele cita outras possibilidades interessantes, mais periféricas e que não demandam verbas vultosas. Levar a informação mais longe, a um público sem muito acesso a ela seria uma delas. Esse tipo de atuação gera benefícios incomensuráveis a uma empresa, produto ou marca. Para quem tem verba suficiente, associar uma marca a um grande evento tem vantagens que valem o investimento, mas também tem seus riscos. “Todo o investimento de publicidade em um grande evento está ligado à audiência e ao envolvimento do público. No caso da Copa, por exemplo, se o país pelo qual se torce não vai em frente, o torcedor perde o interesse e isso para a marca não tem preço. Novembro de 2013 Chams Business 47


e n t r e v i s ta

Há risco, mas ainda assim vale a pena. Quanto mais longe se vai, maior pode ser o retorno. A audiência nesse tipo de evento é absurda, incomparável com a mídia no dia a dia”, vaticina. Publicidade é a regra Para empresas e marcas que não tem possibilidade de associar o nome à Copa, há outras formas mais em conta, conforme a verba. Se ela quer estar associada ao futebol, há a possibilidade de patrocínio de um time pequeno. Estar associado a um time local, próximo de sua área de atuação, sede ou fábrica tem seu retorno. Nesses casos, segundo Duailibi, as pessoas se identificam tanto com a marca que patrocina o seu time ou de sua cidade que compram mais seus produtos ou serviços. “Mesmo que tenham torcedores contrários, os resultados são mais positivos que negativos”. As empresas cresceram e a decisão não está somente em uma única mão. Para o bem ou para o mal, isso foi um caminho lógico. Mas, de acordo com ele, mesmo que a decisão não seja mais do fundador ou somente do ‘dono’, apostar em publicidade é uma regra. “As marcas já não tem mais donos e a administração das empresas está cada vez mais profissional, descentralizada. Antigamente, lidávamos diretamente com os proprietários, que tinham o poder de decisão, que não pensavam no Ebtida [sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização], mas na imagem que a marca passava. O valor agregado não era financeiro. Hoje quem decide se vai investir em publicidade pensa no tipo de retorno financeiro que isso trará, somente isso”, compara. Por fim, ele ensina que há muitas maneiras de se chegar ao público — seja uma grande empresa, seja uma pequena — basta achar a bre48 Chams Business Novembro de 2013

cha certa e trabalhar para isso. No caso de grandes eventos, é muito melhor se associar, pois o retorno é maior. O legado de se participar de um grande ou pequeno evento é muito grande e segue depois que ele acaba. “Investir sempre é a melhor receita. Se há mais verba, investe-se mais e por mais tempo. O importante é manter e crescer sempre que puder. Não há segredo”, conclui Roberto Duailibi.

Uma biblioteca de família

R

oberto Duailibi não é só um apaixonado pela publicidade. Ele também é um entusiasta da história de sua família. Há anos, ele estuda as suas origens com o objetivo de resgatar a história e deixála viva para as futuras gerações. E não só da família Duailibi, mas de muitas outras famílias árabes. Durante décadas mostrou-se um colecionador de livros e ‘causos’, uma paixão que foi levada tão a sério que foi colocada em prática. Em 1997 ele criou o Centro de Estudos FamilyD, que não só resgata a trajetória dos Duailibi, com fotos e documentos, mas estuda a imigração árabe para o Brasil e a história do Líbano. Para isso, conta com uma equipe composta por historiadores, pesquisadores, jornalistas, entre outros profissionais. Mas esse trabalho veio bem antes, em 1980, como um projeto pessoal. No Centro são desenvolvidas pesquisas referentes não só à história da sua família, mas também a assuntos decorrentes do tema, como movimentos migratórios, preservação da memória e cultura do Líbano, exposições em parcerias com museus e outras instituições de pesquisa e universidades. Na biblioteca, segundo o site do Centro www.familyd.net, há mais de 1,3 mil obras. Há também milhares de fotos e um acervo de setenta esculturas, entre outras peças, que permitem viajar pela história do Oriente. Dos antigos egípcios, passando pela Pedra da Roseta, até peças em bronze do Orientalismo Austríaco, cada peça nos conta uma história. Também é possível fazer pesquisas de diversos temas históricos. Para a preservação da memória familiar entre as novas gerações de parentes D, é desenvolvido o Projeto Jovens. Em visitas monitoradas, os jovens tem acesso ao acervo bibliográfico e recebem informações sobre as origens da família, o trabalho de pesquisa já desenvolvido, além do contato com os relatos orais transmitidos de geração para geração. A sede do Centro de Estudos FamilyD está localizada no bairro do Morumbi, em São Paulo, e é aberta à visitação, com hora marcada, pelo e-mail atendimento@familyd.net ou pelo telefone (11) 3079.4564.




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