Portugal Post Abril 2013

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PORTUGAL POST 1993 : 20 ANOS : 2013

ANO XX • Nº 225 • Abril 2013 • Publicação mensal • 2.00 € Portugal Post Verlag, Burgholzstr. 43 • 44145 Dortmund • Tel.: 0231-83 90 289 • Telefax 0231- 8390351 • E Mail: correio@free.de • www. portugalpost.de • K 25853 •ISSN 0340-3718

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50 anos

A odisseia de quem chega à Alemanha e procura casa

Comunidade vai celebrar as suas bodas de ouro em 2014 // Pág. 8

Fado Telmo Pires apresentou novo álbum, “Fado Promessa”, em Lisboa // Pág. 5

//Pág. 3

Antes, em 2011, vivi durante dois meses numa residência de estudantes, na altura, considerada a “pior” de Bona. E era fácil perceber-se o porquê: por fora, um edifício alto, velho, de 11 andares; por dentro, desagradável, 29 quartos por piso, uma cozinha suja em cada um. O único ponto positivo da residência era ter uma casa de banho privada, tudo o resto era péssimo!

Foto cedida pela jovem Cristina Rocha Cardoso recentemente chagada à Alemanha

› Reportagem

Trabalhador esfaqueado em Berlim descreve momentos do ataque ao PP // Pág.7

Oxalá Crónica de Joaquim Nunes // Pág. 11

› Entrevista Giselle Ataíde, responsável do Escritório de Representação na Alemanha da CGD

“Os clientes acreditam em Portugal como destino para as suas poupanças” // Pág.14

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Escritório de Representação

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

PORTUGAL POST

Editorial Mário dos Santos

Agraciado com a Medalha da Liberdade e Democracia da Assembleia da República

Fundado em 1993 Director: Mário dos Santos Redação e Colaboradores Cristina Dangerfield-Vogt: Berlim Cristina Krippahl: Bona Joaquim Peito: Hanôver Correspondentes António Horta: Gelsenkirchen Elisabete Araújo: Euskirchen João Ferreira: Singen Jorge Martins Rita: Estugarda Manuel Abrantes: Weilheim-Teck Maria do Rosário Loures: Nuremberga Vitor Lima: Weinheim Colunistas Ana Cristina Silva: Lisboa António Justo: Kassel Carlos Gonçalves: Lisboa Glória Sousa: Bona Helena Ferro de Gouveia: Bona Joaquim Nunes: Offenbach José Eduardo: Frankfurt / M Luísa Coelho: Berlim Luísa Costa Hölzl: Munique Marco Bertoloso:  Colónia Paulo Pisco: Lisboa Salvador M. Riccardo: Teresa Soares: Nuremberga Multimédia: silva-com.de Tradução: Barbara Böer Alves Assuntos Sociais: José Gomes Rodrigues Consultório Jurídico: Catarina Tavares, Advogada Michaela Azevedo dos Santos, Advogada Miguel Krag, Advogado Fotógrafos: Fernando Soares Impressão: Portugal Post Verlag Redacção, Assinaturas Publicidade Burgholzstr. 43 • 44145 Dortmund Tel.: (0231) 83 90 289 • Fax: (0231) 83 90 351 www.portugalpost.de EMail: portugalpost@free.de www.facebook.com/portugalpostverlag Registo Legal: Portugal Post Verlag ISSN 0340-3718 PVS K 25853 Propriedade: Portugal Post Verlag Registo Comercial: HRA 13654 Os textos publicados na rubrica Opinião são da exclusiva responsabilidade de quem os assina e não veiculam qualquer posição do jornal PORTUGAL

Conselheiro Social: Uma necessidade urgente ataque a trabalhadores portugueses em Berlim veio colocar de novo a questão da necessidade de um Conselheiro Social na embaixada. Desde a saída do último Conselheiro, em 2005, o lugar ficou por preencher e os assuntos correntes ligados à área estão nas mãos de funcionários. A decisão em não recolocar um Conselheiro Social com estatuto de diplomata ou de técnico superior decorreu do argumento de que a comunidade não precisava desse cargo “porque os portugueses estavam integrados” e, como europeus com direitos iguais aos restantes cidadãos comunitários, não necessitavam de apoio social. Aliás, essa ideia também terá dado origem ao encerramento dos serviços sociais que a Caritas prestava aos portugueses. As consequências da crise em Portugal está atirar milhares de nacionais para a emigração. A Alemanha, que muitos portugueses pensam ser o pais da árvore das patacas, é também o destino de milhares de compatriotas, mormente jovens que não encontram em Portugal rumo nem futuro e que, em chegando aqui, “agarram-se” ao que encontram no intuito de iniciar uma nova vida. Nesta situação, as dificuldades dos novos emigrantes relacionadas com a língua, as diferenças culturais, o alojamento, a escola para os filhos e, em muitos casos, o emprego, são realidades bem presentes que fazem lembrar outros tempos. Contrariamente àquilo que se possa pensar, a nova emigração não é apenas composta de jovens licenciados. Há também muitos ex-operários, ex-emp-

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regados e ex- trabalhadores por conta própria que rumam até aqui. É neste contexto que as entidades portuguesas deveriam prestar uma maior atenção ao apoio social e jurídico, disponibilizando meios humanos e materiais em número suficiente, colocando na embaixada um técnico superior que conheça a comunidade, que domine perfeitamente o alemão, que conheça a Alemanha política, cultural e socialmente falando e, claro, que tenha uma experiência acumulada na prestação de serviços sociais em postos consulares.

Manuel Silva, ex-vice-cônsul em Osnabrück e actual gerente do consulado em Hamburgo, preenche todos os requisitos para ser o Conselheiro Social. Será talvez a pessoa mais bem preparada para ocupar o cargo. Não aproveitar esse, como se costuma agora dizer, “activo” é desperdiçar uma oportunidade de ter alguém na embaixada que defenda os interesses dos portugueses como, por exemplo, no caso dos trabalhadores atacados em Berlim que, para além das consequências físicas e psicológicas que estão a sofrer, podem ficar lesados nos seus direitos sociais. PUB Publicidade

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

Chegar à Alemanha

A odisseia de quem chega à Alemanha e procura casa Poderei apelidar de odisseia: um carrossel de peripécias, quase anedóticas, que muitas vezes dão tanta vontade de rir como de entrar em desespero. Procurar alojamento na Alemanha, ou pelo menos em Bona, é assim, um capítulo imprevisível, improvável, inigualável até.

Gloria Sousa, Bona Com muitos estudantes estrangeiros e várias organizações alemãs e internacionais, a cidade dá a impressão de que não há tecto para tanta gente! Por isso, a tarefa de alugar casa ou quarto é, normalmente, cansativa, difícil, por vezes stressante, pelo que é preciso uma pitada de sorte para se conseguir um bom espaço. Felizmente a minha dose de sorte chegou generosa. Sem necessidade de entrevista, sem mesmo ter visto previamente a casa ou os senhorios, consegui alugar uma modesta e aconchegante habitação, onde me sinto bem. Mas nem sempre é assim tão simples. Antes, em 2011, vivi durante dois meses numa residência de estudantes, na altura, considerada a “pior” de Bona. E era fácil perceber-se o porquê: por fora, um edifício alto, velho, de 11 andares; por dentro, desagradável, 29 quartos por piso, uma cozinha suja em cada um. O único ponto positivo da residência era ter uma casa de banho privada, tudo o resto era péssimo! A cozinha estava sempre numa lástima, com lixo, durante dias, em cima da banca. Como a minha situação era temporária, decidi alugar a loiça da residência, que se resumia a uma panela e uma frigideira enormes e pesadas, que nem cabiam no meu pequeno armário (e tinha de as levar sempre para o quarto). Ao início aquecia leite numa panela que daria para cozinhar para umas 12 pessoas; depois descobri que havia um microondas no 11º andar, onde ia, de mochila às costas, com a embalagem de leite, a chávena e os cereais, para poder tomar o pequeno-almoço. Tentei mudar, mas não era possível. Resignei-me àquela sorte onde apenas residiam estrangeiros, grande parte deles fora da Europa (dizia-se que aos estudantes alemães reservava-se me-

lhor sorte). A residência já não existe como tal, todos sabiam que seria para fechar em breve por causa do amianto no tecto (felizmente!). Na Alemanha, muitas pessoas optam por morar em habitações partilhadas, chamadas “Wohngemeinschaft” (WG). É o tipo de acomodação mais barato e, por isso, muito procurado. Quando as WG têm quartos livres, surgem anúncio na internet, com fotos e descrição. Os interessados enviam um email, para depois serem chamados para uma entrevista. Com a entrevista, os moradores da habitação pretendem conhecer um pouco melhor os candidatos ao quarto e seleccionar quem considerarem mais adequado. Ao mesmo tempo, o candidato tem a oportunidade de conhecer o espaço. E é principalmente nesta fase, da procura de casa, que surgem as histórias mais hilariantes. Muitas delas conheci bem de perto. Na casa onde vivo, tive a oportunidade de receber, em diferentes momentos, duas colegas. Ficaram temporariamente enquanto procuravam casa definitiva. Essa procura demorou, a cada uma delas, quase um mês. Vamos começar por M. Viu uma WG de raparigas, uma casa lindíssima, numa zona agradável da cidade e foi para a entrevista cheia de expectativas. Voltou desiludida. Não fora preciso ouvir o “não” para perceber que não seria aceite. Seis meses era pouco tempo para alugar, justificaram as raparigas da casa (apesar de sabe-

rem, previamente, que seria por esse período). Adoptando uma postura arrogante, entrevistaram M. transmitindo, entre linhas, que não dispunha do perfil esperado. Dias depois, M. foi ver uma outra casa, esta perto do seu local de trabalho. Na verdade, mal a conseguiu ver, tantas eram as caixas de cartão, empilhadas umas sobre as outras, em todos os compartimentos! Assim que percebeu que era suposto partilhar aquele

preenchida agenda de reformado. Para mal dos seus pecados, M., que não aceitou a boleia, chegou mesmo uns minutos atrasada! Esbaforido, o senhorio não disse que já não poderia levar M. a ver a casa, mas em vez disso levou-a à sua casa para ver fotografias na internet… como se M. já não as tivesse visto, precisamente na internet. Apesar de farta da impaciência do senhorio, M. não deu por mal empregue a ida a casa do stressado homem: ainda hoje comenta a foto que viu na sua casa, nada mais nada menos que o próprio cumprimentando Barack Obama! Já a entrar em desespero, M. encontrou um quarto para ficar e assinou contrato. Mas graças a um desentendimento, à última da hora, M. acabou por não se mudar. Digo graças porque a sua vida naquela casa iria ser complicada… A senhoria, toda ela, eram regras até de socialização. Enviou, previamente, uma lista imensa de regras de conduta, algumas bem elementares. Queria obrigar todos os moradores da casa, onde a própria vivia, a conviver, só assim se compreende um dos artigos das suas detalhadas leis: a cada fim-de-semana de manhã, todos juntos deveriam tomar o pequeno-almoço e aquele que faltasse à chamada seria incumbido de preparar um jantar aos restantes. Além desta gostei particularmente de uma outra regra: diz a senhora que, depois de se tomar banho, não se deve molhar o chão, e para que todos o consigam fazer aconselha a que limpem os pés ao sair do

...Gostei particularmente de uma outra regra: diz a senhora que, depois de se tomar banho, não se deve molhar o chão, e para que todos o consigam fazer aconselha a que limpem os pés ao sair do chuveiro! espaço encaixotado com um homem, desolado, de coração partido pela separação da namorada, saiu… com a certeza de que casa de cartão e de males de amor não seria para si! M. viu outra casa interessante na internet. O senhorio, homem maduro, vincado por manias mesquinhas, fazia questão de ir buscar M. ao local de trabalho para lhe mostrar a casa. Queria evitar assim a possibilidade de um maldito minuto de atraso, na sua

chuveiro! Outras casas houve em que M. se deparou com quartos sem mobília, a preços exorbitantes, ou disponíveis em datas incompatíveis… até encontrar um quarto numa casa onde moravam vários alemães. O anterior inquilino deixou-lhe a mobília. As pessoas partilhavam a casa, as regras, mas não a vida e o dia-a-dia. E as regras da vida em comunidade vão, por vezes, a pormenores cómicos: a certa altura, prevendo-se gripes e a maior necessidade de se limpar o nariz, foi recomendado que cada um utilizasse apenas os seus lenços de papel, de forma a não se gastar tanto papel higiénico, que é comprado por todos (inclusive pelos que não estavam constipados!). Este ano, M. parecia ver o filme repetir-se nas descrições de F., ao final do dia, depois de mais uma etapa na procura de alojamento. Por coincidência, foi também ver uma casa do mesmo senhorio, de meia idade e feitio repulsivo. Invadindo a casa sem prévio aviso, onde já morava uma outra rapariga asiática, o homem mostrou o quarto disponível, muito rapidamente, pois estava com pressa para ir ao supermercado! Pela expressão de F., o senhorio percebeu que o quarto não acolhia o seu agrado e disse algo como: “eu até tenho outro quarto para alugar e posso mostrar, mas é mais caro. E olhando para a sua cara, pode-se ver claramente que não tem dinheiro para o pagar!”. Desistindo do irremediável mau feitio e do quarto, F. continuou a busca. Visitou uma casa que parecia habitada por imigrantes clandestinos, tal era a cara de medo e estranheza com que os moradores, quase encolhidos, observavam a estranha invasora. Depois, F. foi ver a casa de um “artista”, conforme o próprio se apelidava. Com os seus 50 anos, o “artista”, que vivia com a sua namorada ucraniana com metade da idade, alugava nada mais que a dispensa da casa: um espaço minúsculo, ao lado na cozinha, sem janela. De tão insólitas, as histórias chegam a ser cómicas, para quem as escuta, mas desmotivadoras, por vezes, para quem procura casa! Mas quem procura, acha! E hoje, M. partilha comigo a mesma casa. E F. encontrou um quarto confortável, acolhedor e simpático, em casa de gente amiga, no centro da cidade. Tudo está bem quando acaba bem.


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Notícias

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

Portagens

Turistas queixam-se de cenário "terceiro-mundista" na fronteira no Algarve Acusações de estarem perante uma situação “caótica” e “terceiro-mundista” e promessas de não voltarem a Portugal, foi o que a agencias de notícias Lusa ouviu de turistas espanhóis que esperavam para pagar as portagens electrónicas na fronteira luso-espanhola no Algarve. Dezenas de veículos acumulam-se junto aos sistemas de compra de títulos para a antiga Scut (Sem Custos para o Utilizador) da Via do Infante (A22), na fronteira junto à Ponte Internacional do Guadiana, sendo visível o desagrado que a situação estava a causar junto dos muitos turistas que ali se juntavam, sobretudo espanhóis. Um deles era Miguel Báez, de Málaga (Espanha), que disse à agência Lusa não compreender a forma como Portugal está a tratar os turistas que procuram o país para passar férias. “É a pior forma de receber um turista. Não penso que haja uma maneira pior, porque vens para passar uns dias, a desfrutar, e não contas com uma hora aqui à es-

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pera. Não há informação, ninguém sabe nada e têm de ser as pessoas que estão nas filas a passar a informação uns aos outros”, disse este turista. Questionado sobre a utilidade do novo atendimento telefónico para turistas, instalado junto ao sistema de aquisição de títulos pela empresa responsável, a Estradas de Portugal, Miguel Baéz respondeu negativamente. “Não, absolutamente. Não há nenhum tipo de informação, nem a polícia sabe nada do assunto. Estamos a informar-nos uns aos outros. Como turistas, escolhemos este destino porque gostamos muito, viemos mais do que uma vez e sempre nos trataram muito bem. Viemos ajudar Portugal, mas também não queremos que nos tratem desta maneira”, lamentou. Questionado sobre um eventual regresso, Miguel Baéz disse que pretende voltar a Portugal, mas frisou que vai queixar-se no hotel e na polícia, porque “não parece uma maneira justa de tratar os visitantes”. Também Cármen Martinez, de Córdova, disse à Lusa que as longas filas de carros estrangeiros que se acumulavam junto ao posto de polícia da fronteira lhe pare-

ciam “terceiro-mundistas”. “Costumo viajar e isto não me aconteceu em nenhum lado. Já es-

tive várias vezes em Portugal, entrei e saí do país, não tive problema nenhum, mas o que

encontrei aqui parece-me muito mal. Se não tivesse já reserva feita no hotel, dava meia-volta”, disse esta turista espanhola, que estava há mais de uma hora parada para tentar comprar um título. Questionada sobre um eventual regresso, Carmén Martinez respondeu que “seguramente não” se a situação “não for solucionada como deve ser, como em Espanha e qualquer país europeu, onde põem as portagens e pagas quando passas”. “Vimos para descansar uns dias, deixar divisas no país, o que é importante. E se te deparas com isto, que te dá vontade de não voltar”, lamentou. Confrontada com esta situação, a Estradas de Portugal respondeu que "os sistemas colocados à disposição são suficientes", mas frisou que está a pôr o enfoque num sistema (Easy Toll), que representa “85% do total de adesões” e "é eficaz". A empresa referiu ainda que "conta neste momento com equipamentos capazes de dar resposta às necessidades dos clientes", com "simplicidade, facilidade de utilização”, com apoio de um centro de atendimento telefónico e "rapidez".

Bem-estar dos portugueses abaixo da média dos 36 países da OCDE O bem-estar da população portuguesa está abaixo da média dos 36 países analisados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de acordo com o primeiro estudo sobre o tema recentementedivulgado. Apesar de ter feito “progressos significativos” nos últimos anos para modernizar a economia e melhorar o nível de vida dos cidadãos, a crise financeira global “enfraqueceu este crescimento”, refere o estudo Por isso, Portugal tem apenas um “desempenho moderado” na maioria das medidas que levam ao bem-estar da população, ficando abaixo ou, quando muito, perto da média dos vários países. De acordo com o documento, denominado “Índice de Melhoria da Vida”, o bem-estar abaixo da média em Portugal deve-se, por um lado, ao facto de os portugueses ganharem menos que os europeus em geral. “O dinheiro, embora não compre felicidade, é um meio importante para melhorar o nível de vida”, admitem os analistas da OCDE, adiantando que os trabalhadores portugueses ganham

menos cerca de 3 mil euros anuais que a média (17,2 mil euros) dos países analisados. Ainda assim, adianta o estudo, existe “uma diferença considerável” entre os mais ricos e os mais pobres e Portugal, já que os 20% mais endinheirados ganham seis vezes mais do que os 20% mais pobres. Já em termos de emprego da população, o cenário é melhor, porque a taxa de empregados está em linha com a média da OCDE. Mais de 66% dos portugueses entre os 15 e os 64 anos têm trabalho, sendo que o horário de trabalho soma

1714 horas por ano, ou seja, ligeiramente menos que a média da OCDE, que atinge as 1749 horas. Outra das variantes analisadas no estudo é a educação, considerada um requisito muito importante para obter um emprego. De acordo com o índice, 30% dos adultos portugueses com idade entre os 25 e os 64 anos chegaram ao final do ensino secundário, o que fica muito abaixo da média de 74% registada na OCDE. Esta discrepância é mais evidente ainda quando o foco se vira para disciplinas como a literatura, a matemá-

tica ou as ciências. Também abaixo da média da OCDE fica o sentido de comunidade e participação cívica e política em Portugal. Para os analistas da OCDE, a participação em eleições é uma medida que demonstra confiança pública no Governo e no processo político, mas nos últimos sufrágios essa ida às urnas só foi feita por uma média de 64% dos portugueses, abaixo da média da OCDE, que chega aos 73 por cento. “Em geral, 71% das pessoas em Portugal dizem que têm mais experiências positivas num dia normal (sentem-se descansados, orgulhosos do que fizeram, alegres, entre outros sentimentos) do que negativas (dor, preocupação, tristeza, tédio), o que fica muito abaixo da média da OCDE”, conclui o estudo. A qualidade da água é o único dos pontos analisados em que Portugal está acima da média da OCDE, sendo que se mantém em linha em relação a outros dois fatores de bem-estar: a esperança média de vida – cerca de 80 anos – e o nível de poluição atmosférica.


Notícias

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

Propina para alunos de português no estrangeiro estabelecida em 100 euros A propina a pagar pelos alunos que frequentam o ensino de português no estrangeiro foi estabelecida em 100 euros, segundo portaria governamental, que estipula valores reduzidos para famílias com mais que um filho e para desempregados.

ria.

estabelece também o pagamento de uma taxa de certificação para os alunos que, não frequentando o EPE, se proponham „realizar autonomamente prova de certificação de nível de proficiência, no âmbito do Quadro de Referência parao Ensino do Português no Estrangeiro. O valor da taxa de certificação varia entre os 40 e os 100 euros conforme o nível de certificação pretendido, estando também previstas reduções para desempregados, familias com mais de um educando e famílias monoparentais. As propinas são pagas pela frequência dos cursos extracurriculares de língua e cultura portuguesas organizados pelo instituto Camões e pela frequência de cursos de língua e cultura portuguesas organizados por escolas privadas, associativas ou públicas, onde o Camões tenha colocado docentes e sejam reconhecidas com o Estatuto de Escola Associada. Governo e sindicatos de professores no estrangeiro negocia-

ram recentemente o novo Regime Jurídico do EPE, tendo como pano de fundo a contestação à decisão do executivo de cobrar uma propina aos filhos dos emigrantes. Prevista desde Março do ano passado e contestada por pais, professores, sindicatos e partidos da oposição, a propina só vai ser introduzida no ano letivo de 2013/2014 porque o executivo não aprovou em tempo útil a legislação necessária para poder cobrá-la antes. A rede do EPE inclui cursos de português integrados nos sistemas de ensino locais e cursos associativos e paralelos, assegurados pelo Estado português, em países como a Alemanha, Espanha, Andorra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Reino Unido, Suíça, África do Sul, Namíbia, Suazilândia e Zimbabué. Este ano lectivo, frequentam os cursos de Ensino de Português no Estrangeiro 57.212 alunos (56.191 em 2011/2012), distribuídos por 3.603 cursos (3.621 no ano anterior).

A propina, inicialmente anunciada como tendo um valor de 120 euros anuais, foi apresentada pelo Governo como uma forma de cobrir despesas com manuais escolares e com a certificação das aprendizagens, uma novidade do novo regime. “O pagamento da propina confere ao aluno o direito a receber do Camões, IP um manual adequado ao nível de língua que vai frequentar e fica automaticamente inscrito para a prova de certificação do nível de língua do curso em que frequenta“, refere a porta-

O diploma, assinado pelo ministro das Finanças, Vitor Gaspar, e pelo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, entrou em vigor no mês passado. A portaria prevê ainda a redução da propina para desempregados, famílias com mais de um filho inscrito na rede de Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) e escolas associadas. Quando os dois encarregados de educação estão desempregados a propina a pagar é de 20 euros/aluno e no caso de apenas um dos pais estar sem emprego o valor é de 60 euros/aluno. No caso de famílias com dois alunos, o valor a pagar desce para os 80 euros/aluno e com três a propina passa para 75 euros/aluno. Também as famílias monoparentais beneficiam de descontos, sendo a propina de 80 euros/aluno. Os alunos das escolas associadas pagam 60 euros. Além da propina, o diploma

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Telmo Pires vai apresentou novo álbum, “Fado Promessa”, em Lisboa

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O cantor Telmo Pires afirmou que o seu novo álbum, “Fado Promessa”, que apresentou no Teatro do Bairro, em Lisboa, reflecte as suas influências musicais e não se “ajusta a um modelo mais tradicionalista”. “Não cresci em Lisboa, vivi dez anos na Alemanha, logo o meu fado expressa essas influências, não se ajusta a um modelo mais tradicionalista”, disse o músico citado pela agencia Lusa. “Fado Promessa” é o terceiro álbum do intérprete, mas o primeiro “totalmente feito e produzido em Portugal”, disse Telmo Pires. O álbum começou a ser gravado em Outubro 2011, e conta com a participação dos músicos Fernando Silva, na guitarra portuguesa, Luís Pontes, na guitarra acústica, José Canha, no contrabaixo, e Davide Zaccaria, no violoncelo, na produção e na autoria dos arranjos musicais. Constituído por 10 temas, na maioria assinados por Telmo Pires, o cantor resgatou, do repertório de José Afonso, o poema de Luís de Camões, “Verdes são os campos”. “Este era um tema que eu gostava muito de cantar, daí o ter integrado nesta selecção, assim como dois temas do meu álbum anterior, ‘Sinal’,

o ‘Morena’ e ‘Reis e Rainhas’, que canto com arranjos novos”, disse o músico. Outro tema que fez questão de incluir no CD, editado pela germânica TraUmton Records, foi “A voz que

tenho”, um poema de Luís Ferreira Couto, que canta no Fado Esmeraldinha, de Júlio Proença. Além do Esmeraldinha, o CD inclui outras melodias tradicionais, designadamente o Fado Primavera, de Pedro Rodrigues, e o Fado Magala, atribuído a Raul Portela. Telmo Pires assina oito letras e cinco músicas, duas delas em parceria, designadamente “Reis e Rainhas”, com Maria Baptist, e “Sonho meu”, composto com Davide Zacaria. Outro tema que o intérprete destacou foi “Os navios”, com letra sua e música da canadiana Loreena McKennitt. Referindo-se a esta opção pelo fado, Telmo Pires afirmou que “era um sonho que acalentava há muito”. “No meu anterior álbum, demonstrei a vontade de uma aproximação à música portuguesa, integrei já ‘Maria Lisboa’ e ‘Ovelha negra’ e ‘Beco da Mouraria’”, disse. “Agora é esperar e ver como o público recebe o trabalho, entretanto, continuo a trabalhar entre Lisboa, onde me estabeleci há três anos, a Alemanha e o Luxemburgo”, disse. Ainda no tocante ao álbum, o músico sublinhou o trabalho do técnico de som António Pinheiro, que também gravou António Variações e os Madredeus.

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SPD alemão apresenta programa eleitoral com tónica na justiça social O Partido Social Democrata (SPD), principal partido da oposição na Alemanha, apresentou o seu programa eleitoral para as legislativas de Setembro e cuja principal tónica assenta no aumento da justiça social. No manifesto, que deverá ser formalmente aprovado pelo partido este mês, o principal candidato a derrubar o governo de coligação da chanceler alemã, Angela Merkel, nas eleições legislativas marcadas para 22 de Setembro, compromete-se com mais justiça social, o aumento da carga fiscal no escalão mais alto e com a introdução de um salário mínimo nacional. O SPD visa criar um „novo equilíbrio social“ na maior economia da Europa, já que o fosso entre ricos e pobres tem vindo a aumentar e porque também é necessária uma maior regulação dos mercados financeiros, apontou o líder do partido, Peer Steinbrueck, a quem coube a apresentação do manifesto. Em conferência de imprensa, o candidato do SPD às eleições legislativas de 2013 garantiu que o seu partido pretende introduzir, caso vença as legislativas, um „salário mínimo nacional e inscrito na lei de, pelo menos, 8,50 euros“ por hora. O governo de coligação liderada por Angela Merkel nomeara uma comissão formada por representantes das empresas e dos sindicatos para propor a introdução de uma remuneração mínima nos sectores não abrangidos pela contratação colectiva. A chanceler conservadora recusa, contudo, a introdução de um salário mínimo nacional único e inscrito na lei, reiterando que tal medida poderia destruir empregos e impedir a criação de novos postos de trabalho. O programa do SPD também refere a importância de uma maior regulamentação dos mercados financeiros. O partido social-democrata alemão compromete-se ainda a aumentar a carga fiscal no escalão mais alto. A taxa máxima de impostos abrange 49 por cento dos contribuintes alemães que ganham mais de 100.000 euros anuais ou de casais que juntos auferem rendimentos acima de 200.000 euros. A nível europeu, o SPD enfatiza a criação de um „governo económico comum“ e defende que a Comissão Europeia deve ser eleita pelo Parlamento Europeu. „O SPD quer governar porque a CDU, CSU e FDP não sabem fazêlo“, concluiu o manifesto, referindose a coligação governamental formada pelo partido de Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), a sua versão bávara, a União Social Cristã (CSU), e os liberais do FDP. A mais recente sondagem publicada na quinta-feira dá 40 por cento das intenções de voto à CDU de Merkel e 26 por cento ao Partido Social Democrata (SPD).


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Opinião

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

Opinião Paulo Pisco*

De novo o drama da emigração A revista Der Spiegel fez recentemente a sua capa com uma reportagem sobre a emigração dos jovens diplomados do sul da Europa, que deixam os seus países em crise para irem dinamizar a economia alemã.

E, como não podia deixar de ser, lá estavam também os portugueses. Portugueses de rosto alegre, enquanto os que ficam em Portugal andam cabisbaixos por causa do desemprego, da precariedade laboral e da asfixia fiscal. Não devia ser assim. O primeiro direito de cada pessoa é o de ficar no seu país, tal como o dever de qualquer Governo é procurar por todos os meios fixar os seus cidadãos, para assim aproveitar o seu entusiasmo e energia criadora para gerar desenvolvimento e riqueza. Contrariar estes princípios básicos, é frustrar a luta do país e das famílias ao longo de gerações para dar aos jovens uma formação académica e profissional sólida, precisamente para os arrancar aos trabalhos duros e mal pagos que conhecemos no passado e que originaram grandes fluxos migratórios, com alguma carga dramática, sobretudo nas décadas de 60 e 70. Sucessivas gerações lutaram para interromper os fluxos migratórios e poderem construir um país normal, em que as pessoas seriam livres na sua decisão de ficar no país ou de partir. Mas a verdade é que assistimos hoje à

violência de um Governo que incita os portugueses a deixar o país e fá-lo de forma descaradamente aberta, com vários ministros, secretários de Estado e até o próprio Primeiro-Ministro a fazerem esse tipo de apelos. Foi o que recentemente voltou a acontecer quando Passos Coelho esteve em Paris, em Janeiro passado, e disse que “a emigração não poderia ser considerada um estigma”. A verdade é que se criou em Portugal um sentimento de descrença e de falta de confiança no futuro tão grande que, infelizmente, não há quem não ponha a possibilidade de emigrar, mesmo aqueles que têm uma profissão estável. A maior parte dos estudantes, sete em cada dez, pensa abandonar o país após o fim do curso, tal como confirma um estudo que as associações académicas divulgaram em Agosto passado. Por outro lado, a OCDE, também num estudo recente, refere Portugal como sendo um país com uma fuga de diplomados bastante elevada, a rondar os 20 por cento. Temos hoje a geração mais qualificada de sempre, precisamente devido a esse esforço e vontade de

emancipação coletiva da nossa sociedade. E conseguimos o objetivo de formar portugueses com grande qualidade em múltiplas áreas, da saúde às engenharias, da arquitetura às ciências. O grande problema, é não encontrarem espaço nem reconhecimento em Portugal para fazerem as suas carreiras e daí tirarem a satisfação pessoal que um dia idealizaram. Daí estarmos hoje confrontados com uma emigração altamente qualificada, que deixa o país disposta a fazer a primeira coisa que lhe apareça à frente, o que representa uma imensa frustração do ponto de vista pessoal. No Boletim Económico do Outono, o Banco de Portugal alertava precisamente para este problema, referindo que o grande aumento dos fluxos migratórios, sobretudo de diplomados, podia pôr em causa o nosso desenvolvimento a médio prazo. O país está a ficar exaurido dos seus melhores recursos. Os salários baixos, a precariedade e o elevadíssimo nível de impostos roubaram ao país a sua atratividade. O empobrecimento generalizado está a deixar de rastos uma nação inteira, perante a frieza e insensibi-

lidade da maioria PSD-PP. Paradoxalmente, quando seria mais importante que houvesse um aumento dos recursos do Estado para acompanhar os fluxos migratórios, de forma a proporcionar um melhor atendimento consular, mais oferta de cursos no ensino do português no estrangeiro, melhor apoio para o movimento associativo, maior atenção para os casos sociais que aumentam em período de crise, de que o caso recente dos sete portugueses esfaqueados perto de Berlim é bem demonstrativo, aquilo que o Governo faz é desinvestir em toda a linha, numa inaceitável desconsideração para com todos os portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro. Ainda recentemente, o Presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, disse que, “se houve 700 mil milhões de euros para estabilizar os bancos, devemos pelo menos ter tanto dinheiro para estabilizar a geração jovem. E se a geração mais jovem está a perder a esperança, então a União Europeia está em perigo real”. Um alerta que deveria ser levado muito a sério em Portugal. *Deputado do PS eleito pelas Comunidades

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Comunidades

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Sete trabalhadores portugueses da construção civil agredidos em Berlim Sete portugueses que trabalham na construção civil nos arredores de Berlim, na Alemanha, foram agredidos no passado dia 8 de Março por um grupo de desconhecidos. Os sete trabalhadores portugueses da construção civil com idades com-

preendidas entre os 36 e os 55 anos voltavam a casa quando pelas 19h30 foram espancados e esfaqueados por um grupo de desconhecidos. Os trabalhadores portugueses foram imediatamente transportados a um hospital, tendo cinco recebido

alta no mesmo dia. Entretanto, os dois portugueses feridos que se encontrava internados regressaram já a Portugal. A polícia de investigação criminal alemã ainda está a tentar apurar as identidades dos atacantes, que, segundo testemunhas no local, actuaram num grupo composto por

dez a dezassete homens e de forma “premeditada“. “Nada indica que exista uma motivação racial“, afirmou um porta-voz da policia, adiantando que as autoridades alemãs estão a concentrar as suas investigações no local da obra onde trabalham os sete

portugueses. “É essa a pista que estamos a seguir“, afirmou o mesmo porta-voz, quando questionado sobre se o ataque contra os portugueses poderá ter alguma coisa a ver com uma briga ou desentendimento na obra, como fora referido pela imprensa alemã.

O Portugal Post foi falar com Ivan. “O que quero é justiça, recuperar a saúde e voltar a trabalhar – de preferência, em Portugal” - afirmou o português que esteve dois dias nos cuidados intensivos depois de ser esfaqueado gravemente por desconhecidos em Adlershof, Berlim. Ivan (nome fictício) foi o português, originário de um país do Leste da Europa, que encontrámos no dia dia 15 de Março, num hospital de Berlim. Fomos dar um passeio, para ele apanhar ar e fumar um cigarro. Vimos como se vestiu com dificuldade, nove facadas no torso, nas pernas, no pé, umas manchas negras, e, quando se virava para retirar o anorak do cabide, aquela cicatriz enorme na nuca, com nove pontos. Fez cara de bravo “já estive pior! Nem sei como vim cá parar. Ainda telefonei à minha esposa no Dia da Mulher e disse-lhe que ia ser hospitalizado, mas que não era nada de grave. Depois levaramme para os cuidados intensivos, o telefone ficou sem bateria, não a pude mais contactar”. Foi a preocupação da sua companheira que telefonou para os hospitais de Berlim que terá despertado a atenção da comunicação social portuguesa. Partiu do Norte de Portugal de carrinha com os seus companheiros (uns dezanove portugueses) no dia 4 de Março. Destino: Berlim e o trabalho num estaleiro no centro da cidade. Chegaram a Adlershof no dia 6,

à noite, à casa onde iriam ficar alojados. Fizeram compras e jantaram. Ivan vive há mais de dez anos em Portugal e tem passaporte português. Fala muito bem português, para além do russo e do polaco, e fala também o espanhol e “percebe umas trinta palavras de alemão”. Trabalhou pela primeira vez no dia 7 de Março. Apercebeu-se que havia muitas nacionalidades diferentes no estaleiro das obras, incluindo outros grupos de portugueses, do que virá a ser o maior centro comercial de Berlim. Segundo dia de trabalho: duas carrinhas avariam-se, e têm de viajar por turnos para o trabalho, de manhã muito cedo. “Na Alemanha começase a trabalhar cedo. Às sete da manhã já estávamos na obra”. Trabalharam até cerca das 18h no dia 8 de Março. Voltaram para o alojamento directamente do trabalho, saíram das duas carrinhas, entraram no recinto. Quando se dirigiam para o edifício, Ivan olhou por cima do ombro e viu um companheiro caído, perto do portão da entrada.”Era o mais velho de todos nós, já com uns cinquenta anos”. Depois passou-se tudo muito depressa: socos, pontapés, gritos de ajuda, e portugueses gritando, “fujam”, a correr para salvar a pele. Ivan ouviu barulho, correu pela escada exterior e entre o segundo e o terceiro piso sentiu dores e achou-se no chão com alguém por trás a esfaqueá-lo repetidamente, sentiu as mãos

Foto: Cortesia BZ

Trabalhador esfaqueado descreve momentos do ataque ao PP

pegajosas (o que depois percebeu ser sangue), e sem poder virar a cabeça para o agressor sentiu uma pancada forte na cabeça que o fez perder os sentidos (pensa ter sido um daqueles anéis de metal ou mesmo uma matraca). Segundo ele, não se ouviram vozes, o ataque foi surdo e mudo, no escuro, e foi impossível descortinar os agressores. Por esta razão, apesar dos seus conhecimentos linguísticos ele não se pode aperceber pela língua da origem dos agressores. Ivan prestou declarações à polícia com um intérprete de russo. “Foram sessenta páginas de informações que tive de assinar no fim, depois de falar muito tempo”. Em Portugal foi vítima de algumas burlas, trabalhou aqui e ali, umas vezes não lhe pagaram. Ivan tem o

curso técnico de serralheiro e soldador e expressa-se bem e com um raciocínio claro. Foi subcontratado por uma empresa de Barcelos, assinou um contrato de trabalho por seis meses. Não lhe foi dada uma cópia. E depois, juntamente com os seus colegas, viajou de carrinha durante dois dias para Berlim, para trabalhar numa das maiores obras, senão a maior, da construção civil na cidade neste momento. Uma obra de prestígio no local onde abriram os grandes armazéns Wertheim no fim do séc. xix, propriedade de uma família judia, perseguida e desapossada dos seus bens durante o período hitleriano Quando foi erigido o Muro de Berlim, a Leipziger Platz, onde se situa a obra, ficava do lado Leste da cidade; entre esta praça e a Potsdamer Platz, era terra de nin-

guém, a temida Faixa da Morte; paralelamente e para Oeste, seguia-se mais um Muro de Berlim. A Leipziger Platz situa-se hoje no centro da Berlim unificada e é um exemplo de arquitectura moderna, voltou a ser um “hub” da cidade. E foram trabalhadores como Ivan que construíram o que é hoje conhecido por Potsdamer Platz, designação lata do bairro, e que é um símbolo da Berlim da nova era. Este português por escolha, preocupa-se com o seu futuro e o da sua família e, acima de tudo, disse: “quero voltar a ter saúde, voltar a trabalhar, de preferência em Portugal, onde aprendi português com um homem muito velhinho de 1,50m de altura!”

separação entre ocidentais e autóctones. Por falar em xenofobia. Mas estas atitudes condenáveis têm uma razão de ser. Com uma certa justificação, os meios de comunicação social partem do princípio que o espectador/ouvinte/leitor/usuário médio se interessa mais pela vizinha que caiu do escadote e partiu o braço, do que pelas quase nove milhões de pessoas que morrem de fome anualmente, das quais a maioria, diga-se de passagem, crianças. A nossa capacidade de empatia é muito limitada e reservada aos poucos com os quais nos identificamos. Muita gente não vê a televisão e o jornal como uma fonte de informação, mas de titilação, De modo que esta estratégia de

venda dos meios de comunicação acaba por dizer também muito sobre quem consome o produto. Ela destina-se a quem não procura informação, mas apenas pretende satisfazer uma avidez pelo sensacionalismo e pela catástrofe. É o equivalente às pessoas que vão em excursão, de máquina fotográfica na mão, para ver a devastação causada por cheias ou os escombros de algum acidente mais espectacular. E como o mote da imprensa, rádio e televisão em Portugal é, cada vez mais, “vale tudo, desde que venda”, nada mudará se os consumidores não protestarem, desligando a televisão e a rádio, e cancelando as assinaturas. É só querermos.

Cristina Dangerfield-Vogt, Berlim

Comentário

“Mas há portugueses envolvidos?”

Cristina Krippahl

Segundo as estatísticas da polícia da capital alemã, em 2011 registaram-se em Berlim cera de 45000 casos de agressão física na via pública, dos quais 4000 considerados graves. É nesta última categoria que cai também a agressão sofrida em Março por trabalhadores portugueses da construção civil, atacados à navalhada por desco-

nhecidos – pelo menos à hora da escrita deste texto. Mas os números também deixam claro que, infelizmente, a ocorrência deste tipo de violência não é invulgar. Seria interessante analisar os porquês e tecer comparações, por exemplo, com uma cidade como Lisboa. Ou, tendo em conta a nova emigração portuguesa, pesquisar se Berlim é uma cidade de alto risco. Mas, evidentemente, não foi isso que interessou os média portugueses. Um trabalho de pesquisa aturada dá trabalho. “Sensacionalizar” uma ocorrência, apenas porque envolve portugueses, é muito mais fácil. Sobretudo se for uma oportunidade para ir ao encontro de todos os clichés que vigoram em

Portugal sobre a Alemanha, não esquecendo as devidas insinuações de xenofobia. É verdade que o interesse mórbido e prioritário dos meios de comunicação em saber “se há portugueses envolvidos”, pergunta que já me foi colocada inúmeras vezes pelos seus representantes quando se regista um acidente espalhafatoso ou uma catástrofe humana na Alemanha, não é prerrogativa portuguesa. Também na Alemanha não há notícia sobre um terramoto no Haiti ou um acidente nuclear no Japão, na qual não sejam contabilizadas as vítimas alemãs à parte do resto, como se fossem mais importantes. Onde a ocorrência é longínqua, muitas vezes faz-se também a


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Serviço

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“50 Anos – Comunidade Portuguesa na Alemanha”

A propósito do “curso“ para Dirigentes Associativos

Comunidade vai celebrar as suas bodas de ouro em 2014

O “curso” da polémica

No passado dia 9 de Março realizou-se, na cidade de Neuss, o primeiro encontro de membros da Comunidade Portuguesa com o objectivo de discutir um modelo organizativo com vista às celebrações dos 50 anos de presença portuguesa na Alemanha. Participaram no encontro os responsáveis da federação de associações (FAPA), três Conselheiros das Comunidades (CCP) e Manuel Correia da Silva, em representação do embaixador de Portugal em Berlim. A ideia da criação de um grupo organizador surgiu nas redes sociais. Nelson Rodrigues, um ex-conselheiro das Comunidades Portuguesas, teve a iniciativa de criar um grupo no “facebook”, ao qual se juntaram algumas pessoas interessadas em participar na organização da iniciativa. A ideia depois de gerar uma certa euforia nas redes sociais, deu origem a alguns desentendimentos entre os membros do grupo, o que colocou em causa a sua continuidade. Apesar disso, conseguiu-se organizar um primeiro encontro entre alguns membros do grupo iniciador, ao qual se juntaram os conselheiros Alfredo Stoffel, Alfredo Cardoso e Fernando Genro, bem como os elementos da FAPA, Vitor Estradas e

Oscar Pais; alguns dirigentes associativos, bancários, empresários e outros membros da comunidade portuguesa. Em representação do embaixador de Portugal em Berlim esteve presente Manuel Silva, o então Chefe de Chancelaria do Consulado-Geral em Hamburgo e seu actual gerente. A escolha de Manuel Silva para representar o embaixador deveu-se sem dúvida à capacidade organizativa demonstrada em importantes eventos ligados à comunidade e ao prestigio e conhecimento que goza no seio da comunidade lusa neste país. Para além disso, refira-se a excelente reputação que Manuel Silva tem junto das autoridades alemãs. Na reunião de Neuss, coube a José Gomes Rodrigues coordenar os trabalhos e a Alfredo Stoffel informar sobre os contactos anteriormente mantidos com a Embaixada de Portugal em Berlim. Assim, acordou-se dividir a organização em quatro grupos, um por cada área consular (Berlim, Hamburgo, Düsseldorf e Estugarda), contando cada uma com um representante do respectivo Consulado, a FAPA, o CCP. Procurou-se ainda alargar a iniciativa a outros agentes da comunidade como o jornal Portugal Post e todas as pessoas que queiram participar activamente na

organização dos eventos nas diversas áreas. A Embaixada de Portugal, a FAPA, o CCP e o Portugal Post farão parte da Comissão Coordenadora, a qual contará com (até) 3 membros de cada grupo organizador das quatro áreas consulares. Foi também decidido dar a maior divulgação à organização, de modo a permitir que qualquer português ou portuguesa tenha a possibilidade de se tornar membro dos respectivos grupos organizadores. No final, Manuel Silva não só elogiou a forma como decorreu a reunião, como também se referiu à necessidade de “valorizar mais o caminho, leia-se a capacidade organizativa da Comunidade Portuguesa, do que os próprios eventos”, pois – segundo o mesmo – entende ser uma “oportunidade única para unir as colectividades, fortalecer o CCP e a FAPA, e também a ligação Consulado-Comunidade”. O grupo ficou de preparar o envio de uma circular a anunciar o início dos trabalhos preparativos e os contactos a quem a Comunidade Portuguesa se deve dirigir para fazer parte dos grupos organizadores dos eventos que terão lugar em 2014, por ocasião dos “50 Anos – Comunidade Portuguesa na Alemanha”.

Comunistas portugueses na Alemanha

“As permanência consulares estão a ser bem acolhidas” Os militantes do Partido Comunista na Alemanha reuniram-se no passado mês de Março, em Hilden. Num comunicado enviado à nossa redacção, o Organismo de Direção Nacional (ODN) do Partido Comunista Português na Alemanha debruçou-se sobre a situação politica em Portugal, chamando a atenção para “o aumento generalizado da precariedade e da pobreza, ao aumento da emigração, a uma forte recessão da economia e à perda da soberania nacional”. “O ODN apoia e é solidário com a luta que os nossos compatriotas estão a travar em Portugal, contra a politica deste governo, condena as políticas lesivas dos interesses da comunidade e apela a que esta participe nas diversas acções de contestação e exigência de uma mudança de política e da demissão deste Governo que não respeita a Constituição da República“. Na reunião, o ODN alertou para a situação “a instabilidade do Ensino do Português no Estrangeiro (EPE)”. O PCP é da opinião que o governo PSDCDS “com a sua política economi-

cista está a destruir sistematicamente tudo o que foi construído durante anos. A “propina” é mais uma afronta contra as comunidades. O ODN apela à união dos nossos compatriotas contra esta injustiça e que apoie ao máximo a divulgação da petição “ Contra a propina de 120 euros e pela manutenção do EPE nas Comunidades Portuguesas”; neste momento a petição circula on-line”, referem O PC insurge-se mais uma vez, contra o encerramento dos vice-consulados de Frankfurt-am-Main e Osnabrück, “prejudicando assim as comunidades locais e os funcionários consulares”. “O MNE não consegui apresentar dados convincentes que sustentem a decisão tomada (segundo os dados do MNE, p.ex. o Vice-Consulado de Osnabrück era um dos mais eficientes...), diz o comunicado. Sobre as Permanências Consulares, O PC refere “que estão a ser bem recebidas nos locais onde são feitas. No entanto há que salientar que o saldo (relação receita-despesa) ainda não é conhecido o que pode pôr em causa muitas das mesmas. As Permanências Consulares são feitas à custa dos funcionários consu-

lares e do serviço nos Consulados-Gerais”. Também o associativismo mereceu também uma reflexão atenta, “uma vez que o movimento continua em dificuldades e sem soluções a vista”. O PC diz que “o governo deveria dar mais atenção a este problema e assumir as associações como uma mais valia para a nossa língua e a Pátria e também como parceiros económicos, uma vez que elas são a maior fonte de divulgação de Portugal e fortes consumidores dos nossos produtos”. Os comunistas também contestam a realização de curso mundial de formação de dirigentes associativos da diáspora, organizado e patrocinado pela Secretaria de Estado das Comunidades, “que foi organizado às escondidas e sem um critério de seleção de participantes, inclusive, tendo sido confirmados já vários casos de que a escolha dos participantes foi feita no seio da organização do PSD, talvez para pagar favores políticos. Pelo programa que foi feito publico, o que era para ser um curos de formação, mais pareceu uma viagem turística entre Lisboa e Viseu, tudo à conta do contribuinte”.

José Gosmes Rodrigues

os dias 24 a 28 de fevereiro de 2013 realizou-se um curso para dirigentes associativos da diáspora que contou com a presença do Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário. Foi um evento organizado pela Confraria dos Saberes e Sabores da Beira – Grão Vasco, com o Alto Patrocínio do Gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, com apoio do Secretário de Estado da Juventude e Desporto, das Câmaras Municipais de Viseu e Sintra, da INATEL, Pousada da Juventude, Hotel Príncipe Perfeito, entre outros. Estiveram presentes dirigentes da Alemanha, França, Suíça, Luxemburgo e Reino Unido da Europa. Deslocaram-se de fora da Europa dirigentes da Argentina, Brasil, E.U.A., Venezuela, Uruguai, Canadá, África do Sul e Macau. Pretendeu-se neste fórum de trabalho a partilha de diferentes experiências dos dirigentes associativos. Procurou-se que os participantes tivessem acesso a um conjunto de informações sobre programas de ação, organização e gestão associativa, candidaturas, legislação, parcerias, entre outros. Houve ainda um espaço de reflexão prática que incluía a visita a diversas associações portuguesas de forma a conhecerem realidades concretas do trabalho associativo. Pretendeu-se ainda conhecer o trabalho que as autarquias realizam com as associações. Este curso teve o objectivo de criar nos dirigentes associativos uma motivação acrescida, assim como trazer ideias e projetos novos para as respectivas associações. O moderno anfiteatro do edifício do Instituto da Juventude, às portas de Fontelo, acolheu o encontro. Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu e o Dr. José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, deram as boas vindas aos presentes. A apresentação do projecto da Confraria Saberes e Sabores da Beira – Grão Vasco teve um lugar de destaque neste evento, assim como a apresentação dos projectos de outras associações de solidariedade do Concelho. Os trabalhos incluíram ainda um programa cultural e musical. O correspondente do PP estava na cidade e decidiu acompanhar este importante evento. Um dos objectivos implícitos do encontro era fazer do trabalho destes dirigentes associativos uma espécie de embaixada económica nos respectivos países com programas de acção que se poderiam adaptar às diferentes realidades. Viseu é para o efeito uma cidade modelo para o associati-

N

vismo. Centenas de associações proliferam e têm um papel preponderante nas mais diversas ações sócias-educativas e desportivas. Talvez por isso, a cidade está entre as dez melhores cidades no espaço europeu. Houve alguma polémica associada à organização deste encontro internacional da diáspora, nomeadamente quanto à selecção dos participantes e à escolha das cidades anfitriãs por serem autarquias ligadas ao PSD. A questão de uma certa falta de transparência na selecção dos participantes terá ensombrado, em parte, o evento. Por exemplo, tanto a FAPA, única Federação de Associações Portuguesas na Alemanha, como o Conselho da Comunidade na Alemanha foram simplesmente ignoradas. Os dois participantes da Alemanha teriam sido convidados pelo responsável partidário do PSD da Alemanha e por um dos organizadores do evento. Este facto originou diversas críticas, tendo em conta que os custos da organização saíram do bolso dos contribuintes. Para evitar estas controvérsias, teria sido melhor definir um perfil dos dirigentes associativos e proceder à selecção dos candidatos de acordo com esse perfil pré-definido. Além disso, a realidade associativa da Europa difere em muito dos países do continente americano. Talvez tivesse sido melhor limitar a participação de dirigentes a apenas um dos continentes. No que respeita ao caso alemão, uma ideia possível seria pensar numa parceria com as entidades públicas ou privadas alemãs, até mesmo com eventual participação de fundos financeiros europeus, que apoiasse o movimento associativo. Um encontro com estes custos deve naturalmente atingir os objectivos a que se propôs. Esperamos que não se verifique o ditado alemão “ausser Spesen nicht gewesen” ou seja, além dos gastos, nada de efectivo resulte. Apesar de toda a controvérsia, desejamos o mais amplo sucesso a todos os dirigentes associativos da diáspora. Por último, um apelo aos organizadores da iniciativa: O povo português, que, apesar de pobre e digno, abriu-vos os braços de forma acolhedora, como sempre o soube fazer. Ficamos à espera que vocês saldem a factura. Congratulamos os participantes e desejamos que olhem mais além das cores partidárias. Fiquem fiéis a vós mesmos e honrai os nossos patrícios de quem fazemos parte integrante, com o vosso portuguesismo que tão intensamente haveis experimentado. Nem todos os que se confessam próximos dos ideais do PSD se espelham na metodologia deste evento e, ainda bem, só assim caminharemos com qualidade e servindo com puro altruísmo o povo!“


Comunidades

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Ao encontro de outras culturas

10 anos de intercâmbio escolar entre a Europaschule Köln e a Escola Básica 2,3 de Vila das Aves A falta de compreensão e o desconhecimento mútuo entre a Alemanha e Portugal, que tanto tem dificultado o entendimento entre estes dois países numa época de crise, não é uma fatalidade. Há dez anos que a Europaschule Köln e a Escola Básica (EB) 2,3 de Vila das Aves, se empenham no intercâmbio de jovens alunos portugueses e alemães, reconhecidamente um dos instrumentos mais eficientes para fomentar as relações bilaterais. No ano em que se celebra o décimo aniversário deste programa, a Europaschule na cidade de Colónia recebeu, de 28 de Fevereiro a 5 de Março, seis alunos e dois professores portugueses da EB 2,3 de Vila das Aves, no norte de Portugal. Para assinalar a data, a escola alemã organizou uma pequena cerimónia, que contou com a presença da presidente da Câmara da cidade alemã,Angela Spizig, assim como da professora Fátima Silva, em representação da cônsul portuguesa de Düsseldorf, ausente por motivos de saúde. Numa curta alocução, a diretora do estabelecimento de ensino, Dagmar Naegele, realçou que o Português Língua Não Materna consta do currículo da Europaschule Köln há cerca de 18 anos.

Jovens alunos portugueses e alemães da Europaschule Köln e da Escola Básica (EB) 2,3 de Vila das Aves, Esta esta língua europeia aprendese aqui do 5° até ao 10° ano, e os cursos têm um número constante de alunos que varia entre os 12 a 18 jovens de diferentes nacionalidades. O intercâmbio com alunos portugueses é parte integrante do programa escolar. A geminação, que resulta do empenho dos professores de ambas as escolas, começou com a professora Carolina Machado e é hoje continuado pelos docentes

Paulo Costa e Sónia Emiliano por parte da escola portuguesa e com a professora Margarida Neves Richmann, por parte da escola alemã. Entretanto, já tiraram proveito desta parceria 220 alunos alunos portugueses e alemães. Os representantes oficiais presentes, alemães e portugueses, foram unânimes em considerar que este tipo de actividade escolar é uma forma de ligação e de aproximação entre culturas diferentes.

50 anos - Portugueses na Alemanha

Mexidas no consulado em Hamburgo

Manuel Correia da Silva assume a gerência interina do Consulado Manuel Correia da Silva assume a gerência interina do Consulado-Geral de Portugal em Hamburgo e António Alves de Carvalho a Embaixada de Portugal no Uruguai Com a saída de António Alves de Carvalho, Cônsul-Geral de Portugal em Hamburgo, com destino ao Uruguai, onde de futuro irá chefiar a Embaixada de Portugal, o ex-titular do Vice-Consulado de Portugal em Osnabrück e atual Chefe de Chancelaria e Contabilidade do Consulado-Geral de Portugal em Hamburgo, Manuel Correia da Silva, passou a assumir a gerência do Consulado Geral em Hamburgo. O exercício de funções do último Cônsul-Geral mereceu, sobretudo pela comunidade residente na antiga área consular, muitos elogios, quer pelo trabalho prestado junto de importantes decisores na cidade livre e hanseática de Hamburgo, quer por parte

da Comunidade Portuguesa. As alterações de funcionamento da Chancelaria do Consulado em Hamburgo, posto consular que passou a servir também os estados Baixa-Saxónia e Bremen, há muitos meses que se faziam notar. Assim, à semel-

Menos vulgar é encontrar todos os alunos de acordo com os professores e outros adultos. E a importância desta experiência para combater preconceitos reflecte-se claramente no comentários: “Adorei a Alemanha!”, disse a Clara, e acrescentou: “Eu achava que não ia gostar da comida, mas adorei mesmo. A família é muito simpática e com um ótimo sentido de humor”. As crianças ficaram hospedadas em

casa de alunos do curso de português da Europaschule, que, por seu lado, serão recebidos em Portugal, para onde nove jovens se deslocarão em Maio. Onde deverão conhecer um mundo novo, como aconteceu com os alunos portuguesas, que se maravilharam com muitas facetas desconhecidas do país do qual, até à data, só conheciam os rudimentos da língua. Como diz o Sandro: “Achei muito interessante, porque fomos ver sítios históricos como a Catedral. O que eu mais gostei foi do Museu do Desporto, porque eu gosto muito de desporto e lá havia a história toda do desporto. Achei muito divertido e animado!”. Animada e divertida foi também a celebração dos dez anos de intercâmbio: os jovens alemães que aprendem português enquadraram a cerimónia com canções e poesias. Os alunos do 10°ano, que visitaram Portugal há dois anos, fizeram uma apresentação em português e alemão sobre a forma como o intercâmbio os influenciou pessoalmente e culturalmente, e, claro, como avançou os seus conhecimentos da língua portuguesa. Uma geração que, talvez, num futuro próximo, esteja mais apta do que a presente a construir a Europa de todos.

hança do que aconteceu no ViceConsulado em Osnabrück, aquele Consulado-Geral passou a ter um portal (www.consulado-hamburgo.de) e e um cartão-de-visita, através do qual divulgam o link do portal, o horário de funcionamento e as coordenadas do Consulado-Geral. A desburocratização e a reorganização do ConsuladoGeral em Hamburgo não passaram despercebidas e também já colhem fruto, pois há quem afirme que o Consulado em Hamburgo nunca atingira anteriormente um grau tão elevado de satisfação por parte da Comunidade. A excelente relação ente o Cônsul-Geral e o Chefe de Chancelaria, terão proporcionado que Manuel Correia da Silva confirmasse o que o caracterizou durante o tempo que geriu a representação consular na cidade de Osnabrück, posto consular que o atual governo mandou encerrar em finais de Fevereiro de 2012.

Motivos para festejar: sim ou não? Em busca de uma vida melhor O meu depoimento é claro. Não tenho 50 anos de emigrante na Alemanha, mas sim 41 anos! Como é natural vim para ter uma vida melhor. Cheguei à Alemanha em 1972 e minha determinação era ficar até quando eu desejasse. E foi exactamente o que aconteceu! Durante estes 41 anos visito o meu pais de origem duas vezes por ano, e resido temporariamente entre Portugal e a Alemanha. Nunca morri de saudades pelo meu torrão natal. Para mim, a minha terra é onde eu e minha família podemos levar uma vida digna! O nacionalismo nunca dominou a minha visão e o meu objectivo na vida! A migração remonta até ao patriarca Jacó, pai da nação de Israel. Por causa de uma fome em Canaa, Jacó e sua família de quase 70 membros mudaram-se para o Egipto . Os tempos mudaram muito desde aquele ano de 1972 quando vim para a Alemanha. Mas neste meu depoimento posso constatar que o êxodo de imigrantes nos últimos anos continua aumentando. Isto é a prova evidente que os governos humanos não conseguiram até hoje dar condições dignas de vida aos seus súbditos! José Valgode residente em Witten


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Sociedade

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Legado Judaico: quando o exílio se torna pátria Lisboa foi um porto de esperança para os refugiados judeus e perseguidos políticos durante a Segunda Guerra Mundial. E a sala de espera para continuar viagem rumo aos Estados Unidos, ao Brasil, à Palestina. os milhares de refugiados judeus que passaram por Lisboa, poucos ficaram. Para estes o porto de trânsito, por diversas razões tornou-se porto de destino fazendo do exílio pátria. É o caso de Ruth Arons. Nos anos quarenta Lisboa estava cheia de refugiados. Músicos, artistas, escritores e intelectuais como o pintor Marc Chagall, ou escritores Thomas Mann ou Hans Sahl. Muitos deles deixaram testemunho da sua passagem por Lisboa em romances, cartas ou livros de memórias. Hans Sahl, um dos maiores escritores de língua alemã do século XX, descrevia assim Lisboa. „No porto de Lisboa estavam atracados navios que já não levantavam ferro, ou raramente o faziam. Nos cafés viam-se refugiados de todos os países à espera de um visto e procurando ser ouvidos nas mais desvairadas línguas. Sentíamonos em liberdade...Havia que comer, podíamos ir ao barbeiro e até à manicure. Abraços em tabernas cheias de fumo, junto ao porto, a amigos que tinham conseguido escapar. Brindavase à América e todos combinavam ir juntos, assim que chegassem, ver o novo filme de Chaplin, o grande ditador, que acabava de estrear em Nova Iorque. Se nos Estados Unidos em 1940, data em que estreou o filme se parodiava Hitler, a Europa, com a invasão da Polónia pela Alemanha nazi a 1 de Setembro de 1939, mergulhava no caos e no horror da guerra. Recuemos no tempo. Com a chegada ao poder de Adolf Hitler, em 1933, os judeus foram alvo de uma propaganda anti-semita virulenta. Sendo excluídos económica, social e politicamente e mais tarde forçados a abandonar a Alemanha. Houve alguns que pressentindo o perigo saíram do país nos primeiros anos da década de trinta. A família Arons fê-lo.

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Partida para um país desconhecido A pequena fotografia a preto e branco que segura nas suas mãos data de 1935 e mostra Ruth Arons aos 13 anos, e sua irmã Ellen, com 10 anos, sentadas no banco traseiro de um descapotável, rumo ao ainda desconhecido Portugal. „ Em 1936 os meus pais decidiram que iriam imigrar. Primeiro fomos para Suíça e então os meus contaram-nos que iríamos para Portugal. Viemos de carro devagar por Paris, por Espanha até chegarmos a Portugal“, recorda a activa senhora de 90 anos. Confessa-nos ainda que quando o carro partiu ficou „aliviada e ansiosa ao mesmo tempo“. Ruth Arons recebeu-nos num prédio do elegante bairro de Amoreiras, em Lisboa. E as memórias vão e flutuando durante a conversa.

Ruth Arons fala um português perfeito, cheio de metáforas. Mas não esqueceu a língua materna o alemão e será em alemão que conversaremos. Na sala de estar da sua casa, há um armário cheio de livros: literatura clássica alemã, uma enciclopédia Brockhaus, obras de filosofia e política e o livro de cozinha da avó. Até hoje Ruth Arons sente o aroma e o sabor dos pratos que sua avó cozinhava. O livro, um dos objectos trazidos da Alemanha que Ruth Arons conserva com mais carinho, chegou a Lisboa juntamente com os móveis e bens da família, antes que a própria avó Arons deixasse o país, o que aconteceu depois da Noite de Cristal de 9 de Novembro de 1938, noite em que foram destruídas Sinagogas, quebradas montras das lojas judaicas e milhares de judeus um pouco por toda a Alemanha foram levados para campos de concentração. Ruth Arons é descendente de uma abastada e culta família berlinense. Na capital alemã, no bairro de Neu Köln, existe ainda hoje uma rua Arons dedicada ao seu tio avô Leo Arons, um inventor, professor universitário de Física e militante do Partido Social Democrata. Feliz por poder deixar a Alemanha Ruth recorda-se bem, Adolf Hitler havia tomado o poder há apenas dois meses, quando, no dia 1 de abril de 1933, uma ação de propaganda levou a um boicote, em toda a Alemanha, às lojas que pertenciam aos judeus, aos consultórios de médicos judeus e aos escritórios de advogados judeus. „O meu pai Albert era advogado“, contanos e „foi proibido de exercer a profissão. A atmosfera naquela época era terrivelmente tensa“. Ela tinha apenas 11 anos e não compreendia o que tudo aquilo significava, mas sentia, como recorda hoje, um mal-estar difuso, uma sensação de ameaça. No mundo infantil as coisas também mudavam: „Frequentávamos naquele tempo uma escola pública no bairro Charlottenburg, em Berlim“, conta. „Os nossos pais nos tiraramnos de lá por causa da discriminação e colocaram-nos numa outra escola. Os católicos pareciam-nos mais cordiais, mas era um engano: as meninas não judias recebiam em casa a proibição de manter contacto com as colegas judias. Quando saí da Alemanha, fiquei muito feliz“, recorda Arons. O seu pai percebeu cedo os rumos que as coisas tomariam. Ele leu „Mein Kampf“, (A Minha Luta), o livro de Hitler, e levou-o muito a sério. Em seguida resolveu deixar a Alemanha com mulher e filhos enquanto isso ainda era possível. A vida na Avenida da Liberdade A cidade à beira do Tejo era na-

quela época uma cidade pequena no sul da Europa. Na década de trinta apenas cerca 600 refugiados viviam ali à espera de um visto para continuar viagem. A grande onda de milhares de perseguidos viria quatro anos mais tarde, com a ocupação da França pelos alemães. No Jardim das Amoreiras, situado em frente à casa de Ruth Arons, marcamos encontro com Irene Pimentel, historiadora e autora do livro „ Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra“. Ela fala-nos deste período: „Na década de trinta chegaram muito pouco gente, porque muito refugiados políticos ou judeus exilaram-se ali à volta em países democráticos, mas houve um outro que chegou a Portugal naquela altura era muito fácil encontrar emprego e era fácil inclusive ter a nacionalidade ou obter o visto de residência“. A família Arons, que intregra a primeira leva de judeus a chegar a Portugal, morou de início, e simbolicamente, numa pensão da Avenida da Liberdade. „Não sabíamos nada sobre Portugal, só conhecíamos vinho do Porto, cortiça e sardinhas no óleo,

As colegas, com quem aprendiam português, eram simpáticas, recorda Ruth Arons. E nem podiam imaginar que, na Alemanha, crianças desta idade poderiam ser perseguidas e discriminadas. Paraíso triste Nos anos quarenta Lisboa ficaria cheia de refugiados judeus e perseguidos políticos, entre estes muitos artistas, músicos, escritores e intelectuais. A imagem da cidade mudava a cada dia. E Lisboa transformava-se em uma metrópole em ebulição, permeada por culturas e idiomas estrangeiros. Uma cidade na qual os caminhos se cruzavam e destinos eram definidos; onde refugiados, espiões e a polícia política se encontravam, seja na Pastelaria Suíça ou no Café Nicola, no Bar Famous ou fora da cidade, no Palácio Estoril. Tradições diferentes e hábitos estranhos acabaram se disseminando pela cidade. Ruth Arons recorda: „Lisboa era uma cidade pequena e, de repente, chegaram todos aqueles refugiados. Eles ficavam sentados na Esplanada, tomando café e comendo

Alberto Arons de Carvalho, Fundador e dirigente do Partido Socialista, descendente de refugiados judeus que se instalaram em Portugal nada mais. É claro que não falávamos uma palavra de português“, conta Arons. A Lisboa pacífica, iluminada e impregnada de música recebia os refugiados vindos da Alemanha de maneira cordial. O escritor alemão Alfred Döblin, falecido em 1957, disse na altura da sua chegada a Lisboa: „ sim foi com luz, risos e música que Lisboa nos recebeu. A divertida música das ruas durou horas e nós ouvia-mo-la da janela do nosso Hotel. Mas que mundo, mas que mundo. Inacreditável“ Os portugueses eram prestativos e não havia obstáculos de ordem burocrática. Ruth e sua irmã Ellen frequentavam a escola francesa – isso facilitava a adaptação, pois elas já tinham tido aulas de francês em Berlim.

tortinhas de creme. As mulheres iam sozinhas aos cafés e fumavam. Isso tudo era para os moradores da cidade uma imagem inusitada“. A vida da maioria dos refugiados em Lisboa e arredores era, a partir de 1940, tudo menos cheia de glamour: a luta pela mera sobrevivência sugava todas as forças. Era preciso organizar moradia e sustento. E Portugal era, para a maioria dos refugiados, apenas uma estação intermediária, uma espécie de sala de espera, pois a maioria dos que chegava até ali queria seguir viagem pelo Atlântico, procurando desesperadamente por passagens de navio, bilhetes e documentos de viagem. A comunidade judaica e o Joint Distribution Committee ajudavam, embora os recursos muitas vezes não fossem suficientes.

De uma ditadura à outra A partir de 1942, os sucessos da Wehrmacht pareciam trazer a guerra para mais perto: „De todos os lados chegavam informações desencorajadoras“, lembra Arons. O rádio ficava ligado ininterruptamente. E as notícias adquiriam um significado existencial: era o medo básico dos refugiados de perderem a oportunidade de sair. O medo de serem triturados pela máquina militar dos nazis ou se tornarem vítimas da Gestapo, que operava também em Portugual. A família Arons pouco sabia a respeito do que acontecia de factto na Alemanha nazi ou nos países europeus ocupados. Auschwitz e Dachau, com seus crimes hediondos cometidos contra os judeus europeus, eram assuntos que só mais tarde abalariam e indignariam a família. E Ruth Arons nunca quis voltar a viver na Alemanha. Até hoje interroga-se: „Onde estava Deus, quando todo esse horror aconteceu?“. Mais tarde, estudaria na Universidade de Lisboa. Depois da guerra casar-se-ia com um colega de Faculdade e obteve a cidadania portuguesa. Ruth Arons participou no movimento de resistência ao regime de António de Oliveira Salazar, o ditador conservador-autoritário, que praticou durante a Segunda Guerra uma subtil política de neutralidade, sem estar 100% do lado dos aliados, mas também sem se aliar aos nazis alemães. Ruptura democrática Em 1973, Portugal era a mais antiga ditadura da Europa. E, de repente, as voltas que a história dá ficavam visíveis: Alberto Arons de Carvalho, filho de Ruth Arons, fundava junto com o político exilado e futuro primeiro-ministro do país, Mário Soares, o Partido Socialista: e isso exatamente em Bad Münstereifel, na Alemanha. Com apoio dos social-democratas alemães, cujo líder na época era o exchanceler federal Willy Brandt. Um ano mais tarde, eclodia a Revolução dos Cravos, trazendo a Portugal um processo de democratização. Ruth Arons sempre esteve do lado dos revolucionários e democratas. E em breve ela viria a ocupar também um cargo: a de primeira presidente da Junta eleita de São Mamede, um bairro de Lisboa. Hoje ela vê a Alemanha com sentimentos ambíguos: uma Alemanha que para ela se tornou estranha. „Portugal é meu país. Amo Lisboa e gosto muito de viver aqui. Moro nesta rua há 50 anos, conheço todo mundo“, diz ela. A Alemanha faz parte de um passado há muito deixado para trás.

Helena Ferro de Gouveia Cortesia DW


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Crónica Por Joaquim Nunes

Oxalá Fui ver o filme „comboio nocturno para Lisboa“. Lisboa, como cenário, é quem mais ganha com o filme. A cidade, na beleza do xadrez dos seus telhados, na luz que lhe invade as ruas e escadarias, no pitoresco dos eléctricos que a atravessam da „Graça“ aos „Prazeres“, nos cacilheiros que cruzam a beleza do Tejo. Quem vê o filme, ganha vontade de ir conhecer a cidade, se ainda a não conhece. E quem já a conhece não vai perder a primeira oportunidade de voltar lá. Oxalá possam os passageiros do “Comboio nocturno para Lisboa“ descobrir também a outra Lisboa, a Lisboa do povo, com lixo e com pobres pelas ruas... oxalá saibam entrar no ritmo de vida de todas esses milhares de pessoas que habitam os dormitórios da periferia e diariamente se apertam nos transportes públicos, sem o romantismo do eléctrico 28, correndo de casa para o trabalho, do trabalho para casa... Para além desta bela colecção de imagens de Lisboa, que fará inveja a todos os bons coleccionadores de postais ilustrados, o filme em boa

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parte desilude. Como muitas vezes desiludem as filmagens de grandes livros, de grandes romances. Penso que o livro de Pascal Mercier é um desses livros difíceis de transpor para o cinema, que mais não seja pela abundância das páginas de conteúdo filosófico. O livro dos pensamentos de Amadeu, a fazer-me lembrar o Livro de Desassossego de Fernando Pessoa, encontrou mesmo assim o seu espaço em citações ou na parábola de vida daquele velho combatente da resistência a viver num lar de terceira idade lá „na margem sul“ do Tejo. O que mais insatisfeito me deixou foi a abordagem da história do fascismo português e da „gestação“ lenta do 25 de Abril. A brutalidade da PIDE e dos seus métodos de tortura aparece. Mas não aparece o drama de todo um povo reprimido, a viver tantos anos num clima de medo, propositadamente privado do acesso à cultura, sem formação escolar, defraudado da sua história, isolado do resto do mundo, a sangrar lentamente numa guerra colonial em várias frentes. É verdade que esses temas não aparecem já no livro de Pascal Mercier.

Mas o 25 de Abril, que não foi preparado por dois ou três heróis da resistência, mas por muitos anos de luta de uma oposição que se foi organizando a ponto de penetrar nas estruturas militares, sem que a Pide/DGS o pudesse impedir, poderia ter no filme um tratamento mais largo e mais exacto. A oposição ao regime fascista tinha nome, teve muitas vítimas mas

não morreu com Amadeu, nem caiu na frustração do farmacêutico alcoólico, mas venceu, tornou-se regime. E o 25 de Abril foi fruto de uma luta de todo um movimento, de uma oposição organizada, de partidos na clandestinidade, e não plano idealista de „resistentes“ isolados. Vem aí mais um aniversário do 25 de Abril. Para o ano, será o 40º. Que fizemos do 25 de Abril? Quem é que reconhece na actual política portuguesa os ideais de Abril? Que memória guardamos dele? O que é que sabem do 25 de Abril os jovens e as crianças de Portugal? Que conhecimento e que imagem têm dele os portugueses na emigração? Será que o apreciam e justamente valorizam, ou apenas o difamam, atribuindo-lhe as culpas de tudo o que está acontecer na actual crise? Parece-me significativo que, quando menos se esperava, o Povo nas últimas semanas lembrou-se do “Grândola Vila Morena” para protestar contra as actuais políticas de combate á crise. E vai daí canta-se o

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“Grândola”, para manifestar oposição e desagrado. Num comentário de um conceituado jornal diário, um cronista denunciava essas intervenções de protesto com o “Grândola... terra da fraternidade”, garantindo que não eram acções espontâneas do povo, mas formas organizadas de oposição política. Apetece-me responder: ainda bem! A política será tanto mais eficaz quanto mais ela levar as pessoas a organizarse e a sair à rua. Com anedotas e enxovalhamento dos políticos no “facebook“ não se vai longe! Voltemos ao filme „Comboio nocturno para Lisboa“. Um estrangeiro vem a Lisboa à procura do autor de um livrinho cujos pensamentos desassossegam. Descobre a dimensão e a história política do pensador que o escreveu e a sua ligação com o 25 de Abril. Mas o autor do livrinho está morto. E os seus colegas, um está num lar de terceira idade, e recusa a comunicação com as novas gerações, outro refugia-se no álcool, e uma terceira mudou-se para Espanha... Provocação ou difamação? Quero crer que é uma boa provocação que nos é feita a todos nós. PUB


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Livros e Autores

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Camilo Castelo Branco e Amor de Perdição (1825/1890)

Falo-vos hoje de “Amor de Perdição” alo-vos hoje de “Amor de Perdição”, obra emblemática do Romantismo português que conjuga, ao mesmo tempo no espírito dos leitores, os amores infelizes dos protagonistas Teresa e Simão dentro da obra e do seu autor Camilo Castelo Branco e Ana Plácido na vida real. E também se baseia ainda, explicitamente, no caso verídico de Simão Botelho, tio do autor. Este entrelaçar de factos reais comprovados e ficcionais romanceados confere ao texto uma verosimilhança absurda que cativou o leitor do momento e continua a atrair o dos nossos tempos. Nesta novela passional escrita num ápice, em quinze dias do ano de 1861, em que Camilo e Ana Plácido estiveram encarcerados na Prisão da Relação do Porto acusados de adultério, e publicado um ano mais tarde, o autor procura em primeiro lugar, como motivo exterior à trama, chamar a atenção para a injustiça da sua prisão. Em seguida, servir-nos uma novela passional que nos transporta para um clima psicológico em que dominam as desgraças amorosas, os destinos cruéis, as vinganças terríveis e os orgulhos que matam e destroem. E por fim, dar-nos um texto que os-

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cila entre o exagero do trágico romanesco e o irónico das situações paralelas relatadas, e onde a paródia sobre o casamento contrasta com a tragicidade do tema principal. Esta novela sentimental servida por um enredo simples e altamente trágico é o lugar onde ocorre uma narração rápida, despida de acontecimentos de segundo plano e tiradas filosóficas. Onde a exaltação do lirismo passional corre para um desenlace trágico. Os amores contrariados pelas respectivas famílias, que não se suportam, de dois jovens da mesma classe social - Teresa e Simão - são o cerne da trama. Apresenta um ponto de vista de crítica social, próximo do realismo, onde são abordados os temas caros ao autor (ao de leve como convém numa novela sentimental), tais como os casamentos de conveniência, a apologia da fidalguia de carácter e não de linhagem, os desvarios da vida monástica, os podres das relações matrimoniais, as provocações dos incontroláveis filhos de família. E onde as qualidades morais são acentuadas, a nobreza do amor verdadeiro, o valor da palavra dada, a amizade, a honra, o amor platónico, a constância do amor, a renúncia, etc.

Apresentando um profundo conhecimento da técnica novelística, Camilo deixou-nos uma obra onde, entre vários artifícios, podemos apreciar a criação de uma estrutura binária da narrativa. Ela desenvolve-se, por um lado, em ações dramáticas motivadas por um amor idealizado e alimentado à distância. Ações velozes e eficazes, sustentadas por diálogos curtos e de linguagem coloquial. E, por outro lado, entremeadas pela transcrição de cartas, que fazendo parar a ação, sobre ela se debruçam. As cartas são os momentos em que a trama ganha fôlego e os protagonistas dão asas à expressão dos seus sentimentos, comentando a sua situação e dando-se a conhecer. Fecham os protagonistas ao mundo dos outros e abrem-nos sobre a sua própria subjectividade. Dão-lhes uma dimensão eterna e épica e são um artifício mobilizador da acção que, ao permitir descansar do ritmo, informam sobre as emoções em que ele se embrulha. Oferece-nos, também, a génese de um triângulo singular -Teresa, Simão e Mariana - perdidos nos seus próprios sentimentos. Este triângulo afasta este texto de modelos duais já concebidos e do triângulo composto por dois homens e uma mulher, tão

caro ao romantismo. As personagens são quase planas, descritas fisicamente com o mínimo de pormenores e dadas a conhecer a partir das suas atuações, marcadamente rígidas e sem sofreram alteração durante toda a narrativa. A revolta, a obstinação, o desespero e o inconformismo são as marcas que as suas ações imprimem. Camilo utiliza uma linguagem coloquial para o seu tempo, despida de adjectivações, substantivada e centrada na importância do verbo, nas frases curtas, exclamativas. Apresenta um diálogo com o leitor, ou melhor com a leitora, que predispõe à intimidade e opera a intrusão do autor na narração dos factos, perturbando o espírito romanesco com notas de roda pé e hipertextos. Esta obra está estruturada em 20 curtos capítulos e serve-se de um narrador omnisciente, que sabe tudo sobre as personagens que acompanha. Estamos perante uma narração de tempo cronológico e linear que começa no ano de 1779 e vai até 1807, e um espaço que se vai fechando sobre os protagonistas que o habitam, num crescendo de impossibilidades físicas. Só na morte os dois alcançarão um espaço aberto, símbolo da liberdade conquistada pelo seu amor imortal. Morrer por amor

era um tema próprio do ultra-romantismo que provocava nos leitores, maioritariamente femininos, a catarse. A novela sentimental propiciava ao leitor, de longe, a observação da dimensão da tragédia amorosa, mas que dela o resguardava. Este texto, reeditado muitas vezes, conheceu numerosas traduções e a modernidade da sua ação narrativa e do seu ritmo vertiginoso fez com que fosse retomado pelo cinema. Em 1914 pelo realizador brasileiro Francisco Santos, em 1917 pelo também brasileiro José Viana, em 1921 por Georges Pallu (sempre em versão muda). Em 1943 por António Lopes Ribeiro, em 1979 por Manoel de Oliveira a que se associou uma série televisiva e, em 2008, por Mário Barroso. Em 1965 foi adaptado pela TV Cultura no Brasil em forma de telenovela e sempre sob a mesma denominação de “Amor de Perdição”. Esta novela, que também foi adaptada ao teatro, à ópera, logo em 1907 e ao bailado, moldando-se a tantos formatos e a tantas épocas, é uma obra de referência na literatura de língua portuguesa. Luísa Coelho, Berlim PUB

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Economia & Negócios

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Entrevista a Giselle Ataíde, responsável do Escritório de Representação na Alemanha da CGD

“Os clientes continuam a acreditar em Portugal como destino para as suas poupanças” dos clientes com maior capacidade de aforro, pela aquisição de imóveis em Portugal para investimento – procurando tirar partido de alguma baixa dos preços do imobiliário, como é sabido. A CGD oferece aliás condições privilegiadas de financiamento para imóveis próprios e empreendimentos financiados pela CGD, que poderão ser uma opção de interesse para os que procuram boas oportunidades. O site da CGD apresenta, por outro lado, de várias opções de pesquisa que permitem aos nossos clientes analisarem os imóveis disponíveis em função de critérios ajustados aos seus interesses. E, é claro, a Caixa dispõe de um conjunto de interlocutores especializados neste sector, que poderão prestar todos os esclarecimentos, o que pode ser efectuado à distancia ou “no terreno”.

O significativo aumento das remessas da Alemanha para Portugal que se tem vindo a registar foi o mote para uma entrevista que solicitamos à responsável pelo escritório em Berlim do banco público. Aproveitamos a entrevista para faöar do banco, da chegada de novos portugueses e da actividade empresarial lusa neste pais. Esta é a primeira de uma série de entrevistas que queremos fazer aos bancos portugueses com interesses nesta comunidade. Desde há algum tempo para cá o Banco de Portugal tem anunciado um aumento de remessas dos portugueses no mundo. Entre os países que registaram maior crescimento em 2012 está a Alemanha com 172,9 milhões. Em seu entender a que se deve esta subida? Como sabe, num contexto de moeda única e com o estabelecimento de regras europeias para as transferências (SEPA), o próprio controle estatístico dos montantes expedidos é menos fácil. E as razões para o crescimento das remessas não estão suficientemente estudadas, pelo que apenas podemos colocar algumas hipóteses explicativas dessa evolução. Claro que, no caso da Alemanha, sabemos que um número significativo de portugueses tem vindo a atingir a idade da reforma e muitas pensões são enviadas para Portugal, onde esses reformados passaram a residir, pelo menos durante parte do ano. Por outro lado, admitimos que haja movimentos que correspondem a apoios a familiares, num contexto de dificuldades económicas que o país atravessa. Mas sobretudo, e para além da chegada de novos emigrantes à Alemanha, podemos estimar que os clientes continuam a poupar e a acreditar em Portugal como destino para as suas poupanças. Apesar da crise da dívida soberana, a solidez da banca portuguesa, e nomeadamente da CGD, nunca esteve em causa, e esse aumento das remessas parece indicar que os clientes residentes no estrangeiro também não tem tido dúvidas a esse respeito.

A chegada de novos compatriotas à Alemanha (mais 7,7% de emigrantes em relação a 2011) devido à situação de crise no país tem “aguçado” a imaginação da banca, ou seja, da CGD para reforçar a sua presença na Alemanha? A Caixa Geral de Depósitos tem acompanhado com interesse todas as informações sobre a vinda de novos grupos de Portugueses para a Alemanha e o Escritório tem sido contactado por clientes recém-chegados, quer em Berlim quer nas outras cidades onde estamos presentes. Temos tido conhecimento também de iniciativas de entidades Alemãs que se deslocam a Portugal, apresentando condições atrativas para profissionais qualificados. Ao que soubemos, o próprio Instituto de Emprego, em cooperação com serviço público de emprego da Alemanha, desenvolve atualmente um conjunto de sessões em Portugal, no sentido de informar e aconselhar profissionais portugueses interessados em trabalhar na Alemanha em áreas que vão da Saúde, Engenharias e Tecnologias de Informação, até à Hotelaria e a Profissões Técnicas muito diversas. Há várias razoes que poderão explicar o atual interesse pela Alemanha. O ensino universitário tem-se internacionalizado, criando mobilidade e oferecendo aos estudantes o conhecimento da cultura de outros países e oportunidades. Por seu lado, a solidez e sofisticação da economia alemã oferecem perspetivas para a mão de obra qualificada, especializada e mesmo académica. Natural-

mente, as dificuldades que Portugal atravessa em termos de emprego, levam muitos portugueses a procurar alternativas no exterior. Mas, especialmente no caso de Berlim, têm também chegado jovens atraídos pela cultura e pelas artes na Alemanha. A principal função do Escritório junto dos recém-chegados é apoiá-los com informação de utilidade numa perspetiva de residente na Alemanha, e disponibilizando meios para a gestão cómoda e fácil das suas necessidades financeiras do dia-a-dia, incluindo os cartões de débito e de crédito, mas também dando continuidade à sua relação com a Caixa Geral de Depósitos, enquanto banco de poupança. Assim, encaminhamos para a nossa Sede todas a operações de que os clientes necessitam, assegurando uma resposta muito rápida, e por outro lado, proporcionamos o estabelecimento de um contrato de banca à distancia que permite aos clientes trabalharem directamente com a CGD Portugal. . Sente que os Portugueses emigrantes neste país estão receptivos a formas de investimento em Portugal? De modo geral, sim. Claro que os clientes estão interessados em conseguir as melhores opções. E se se sentem bem acompanhados pelo seu banco português, estão abertos a analisar as alternativas oferecidas. Atualmente as taxas de juro para depósitos a prazo e de poupança até são mais competitivas em Portugal, especialmente as que asseguram liquidez. Por outro lado, nota-se algum interesse

A pergunta anterior implica fazer-lhe outra: Em seu entender, existe na Alemanha alguma rede de empresários lusos sobre a qual deve merecer a atenção da banca? Como sabemos, a VPU/ Federação dos Empresários portugueses na Alemanha tem feito um grande esforço para apoiar empresários e empresas portuguesas na Alemanha. Existem micro- e pequenas empresas na área dos serviços e da restauração e algumas empresas um pouco maiores, especialmente na área de importação. Desde a sua criação, as empresas criadas na Alemanha contam com o seu banco alemão que é o banco de proximidade, capaz de oferecer um serviço bancário abrangente. Até à data, os bancos portugueses não tem uma atividade operacional na Alemanha e por isso não têm condições de oferecer o serviço de retalho de que essas empresas necessitam. A grande dispersão das empresas referidas constitui também uma dificuldade no estabelecimento de soluções interessantes neste sector. Quanto às empresas portuguesas que vem de Portugal para se instalar na Alemanha já têm uma relação privilegiada com um banco em Portugal. Tendo em conta a posição da CGD no mercado nacional, muitas dessas empresas são também clientes da CGD, e o Escritório não pode deixar de ser o interlocutor privilegiado de contacto dessas Empresas com a CGD-Portugal. De que forma é que a CGD está presente neste pais e em que áreas de produtos financeiros se dedica? A CGD está presente na Alemanha através de um Escritório de Representação que serve de interlocutor do grupo Caixa para solicitações de natureza vária, dando a resposta e/ ou o devido encaminhamento para Portugal e para outras estruturas do grupo, presente em 23 países, incluindo em todos os países de língua

portuguesa. A sua vocação principal é o apoio aos clientes particulares. O Escritório está situado em BERLIM e dispõe ainda de um posto complementar em STUTTGART e de mais três atendimentos semanais, em FRANKFURT, COLÓNIA e HAMBURGO. Esta presença multipolar nas 5 principais cidades de concentração da comunidade portuguesa, visa ir ao encontro dos nossos clientes, oferecendo uma possibilidade de atendimento presencial e de relacionamento pessoal, aos que valorizam essa opção. Devo dizer que estamos satisfeitos por ter apostado nas cidades de Berlim e Stuttgart, onde atualmente mais notamos a afluência de recém-chegados. Paralelamente, tem havido uma adesão progressiva dos clientes às novas tecnologias e, nomeadamente, ao serviço gratuito de Banca telefónica e de Banca online CAIXADIRETA, não só por parte dos mais jovens, o que permite uma gestão cómoda sem sair de casa. E através do serviço Caixadireta Internacional os clientes contam com gestores dedicados e sem custos pois a chamada é paga pela CGD. Num país tao grande como a Alemanha e em que a comunidade está dispersa e pouco concentrada não é possível assegurar um atendimento em todas as localidades de presença de portugueses. Mas sentimos que os clientes valorizam a presença da Caixa em 5 cidades, com localizações adequadas e com um horário conhecido e semanal – que o Portugal Post nos tem ajudado a divulgar. Avaliando a actual oferta de serviços, não perspectivamos o alargamento da presença física. Os serviços mais procurados são os associados à gestão do dia-a-dia (como os cartões de débito e de crédito, e a adesão à banca telefónica ou online) e às opções de aforro. Há interesse quer por depósitos a prazo (prazos de 3, 6 e 12 meses ou plurianuais) quer por depósitos-poupança (acessíveis a partir de € 100 e que podem ser reforçados e mobilizados em qualquer momento, inclusivamente através da banca telefónica ou online). Honrando a preferência de grande número de portugueses residentes fora de Portugal, a CGD tem-se empenhado numa oferta específica para os Residentes no Estrangeiro, que inclui quer uma oferta permanente quer ofertas especiais nos principais períodos do ano, como agora a Oferta da Páscoa com depósitos para os prazos de 3, 6 e 12 meses que aliam taxas competitivas com liquidez total. Toda a informação sobre estes produtos, como aliás sobre toda a oferta para Residentes no Estrangeiro, está disponível no site da Caixa, com um destaque específico. De referir, o Serviço CaixaFamília da CGD que tem atraído a atenção de muitos clientes pois oferece uma remuneração especial para as poupanças de vários membros da família: os pais e os avós tem aproveitado a oportunidade para oferecer aos seus filhos e netos uma conta poupança com uma Caderneta – suporte tradicional das contas na CGD. Mário dos Santos


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PR Com 2 por cento consegue a sua própria casa

A flexibilidade é um trunfo

Foto: Gonçalo Silva

Portugal na ITB 2013

Turismo de Portugal vende-se na Alemanha Cristina DangerfieldVogt, em berlim

Portugal esteve novamente presente em mais uma edição da maior feira internacional do sector do turismo ao nível mundial (ITB), que se realiza anualmente em Berlim, e teve lugar de 6 a 9 de Março. Segundo dados dos organizadores, a ITB contou com um total de 10 086 expositores de 188 países e 113 mil visitantes comerciais vindos de todo o mundo. No certame estiveram presentes a Chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente da Indonésia, Susilo Yudhoyono, país parceiro da ITB 2013, assim como mais de cem Ministros e Subsecretários de diversos países que, com as suas visitas neste certame, procuraram obter resultados positivos para o turismo nos respectivos países. O recentemente nomeado Secretário de Estado para o Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, visitou os expositores portugueses acompanhado do Embaixador de Portugal em Berlim, Luís de Almeida Sampaio. Adolfo Nunes reuniu com o seu homólogo alemão durante a manhã do dia 6 de Março para falar de assuntos relacionados com o turismo. Estiveram ainda presentes no evento Carlos Lourenço, director geral da TAP na Alemanha e Áustria, Pedro Macedo Leão, director da AICEP, os responsáveis do Turismo de Portugal na Alemanha e

os representantes das empresas do sector do turismo em Portugal, como hotéis, agências de incoming e outras, que vieram a Berlim apresentar os seus produtos. Os operadores alemães, que visitaram esta feira, incluirão nos seus pacotes turísticos os mais atraentes e vantajosos produtos que venderão ao cliente final. A disposição dos expositores portugueses foi semelhante à do ano passado, talvez com mais incidência nas ilhas, e ocupou o espaço dos anos anteriores, ou seja, uma área de cerca de mil metros quadrados com 55 expositores do sector. Segundo os organizadores, o balanço do número de visitantes teria sido superior ao do ano anterior. Destacou-se a presença do turismo alternativo português que, com treze empresas reunidas numa só organização, a World Adventure, se apresentou globalmente neste certame. Segundo o seu responsável, os passeios pedestres ou de bicicleta, aventura activa, turismo cultural são um leque de ofertas que foram bem aceites e que têm registado “um balanço muito positivo juntos dos operadores de um mercado exigente como o alemão”. Afirmou ainda que “os preferidos são os percursos pedestres e de bicicleta, por exemplo de Lisboa a Santiago de Compostela, no que foi uma aposta diferente do muito concorrido circuito da Europa para Santiago”. Nos Açores, no âmbito do turismo activo, um operador alemão introduziu, em 2012, as e-bikes, bicicletas eléctricas, um meio de locomoção que se adapta bem às características do terreno acidentado da re-

gião. Tivemos a oportunidade de conversar com Carlos Lourenço, apesar do seu preenchidíssimo calendário de reuniões. Segundo nos disse o responsável da TAP, no mercado alemão e austríaco registou-se “um aumento de compras de 25% a 30% em 2012. A boa relação qualidade e preço, que oferecemos, reflectiu-se muito positivamente na percentagem de ocupação dos nossos voos”. Revelou também que, de 26 de Março a 30 de Outubro, a TAP passaria a ter voos diários entre Berlim-Schönefeld e Lisboa e entre Düsseldorf e Lisboa. António Teixeira do Turismo de Portugal afirmou que, segundo dados do Turismo de Portugal, o nosso país recebeu cerca de oitocentos e vinte mil turistas alemães em 2012, havendo a registar um crescimento de 9,9% relativamente ao ano anterior, sendo, por ordem decrescente, o Algarve, Lisboa e a Madeira os destinos turísticos preferidos. Grande destaque foi dado aos cartazes publicitários do filme “Night Train to Lisbon” (Comboio Nocturno para Lisboa – vide in Portugal Post de Março) numa aposta de publicidade internacional para aumentar a apetência turística da capital. A European Consumers Choice, uma organização não-lucrativa, sediada em Bruxelas, votou recentemente as Top Ten Destinations 2013. Istambul alcançou o primeiro lugar, logo seguida de Lisboa, por escassos votos de diferença. Em 2010, Lisboa tinha sido a número “um” dos melhores dez destinos europeus.

O contrato de poupança-habitação assegura taxas de juro baixas Taxas de juros para empréstimo interessantes de certeza: o potencial de poupança-habitação não está de forma alguma esgotado A poupança-habitação pertence às formas de poupança mais apreciadas na Alemanha – independentemente do fato de planear já “as suas quatro paredes” ou ainda não. Os habitantes da República Federal da Alemanha têm, na totalidade, 30 milhões de contratos de poupança-habitação. Na fase atual de taxas de juro baixas, a vantagem principal da poupançahabitação reside na taxa de juro baixa, garantida, para o empréstimo Eckfried Lodzik, Conselho Dide poupança-habitação. “Precisaretivo da BKM – Bausparmente, atendendo ao fato de que uma kasse Mainz. mudança de taxa de juros se poderá verificar, faz hoje muito sentido a celebração de um contrato de poupança-habitação” acentua Eckfried Lodzik, Conselho Diretivo da BKM – Bausparkasse Mainz. Quem só quiser adquirir uma casa daqui a sete, cinco ou dez anos, poderá deste modo assegurar-se, a longo prazo, as taxas de juro historicamente baixas, podendo fazer cálculos com confiança. Sondagem: A grande maioria espera subidas das taxas de juro para financiamento A maior parte dos alemães está efetivamente convencida de que o nível de juros baixo não será de longa duração. De acordo com uma sondagem atual, levada a cabo para a BKM, 74 por cento dos inquiridos contam com uma subida de juros. Por este motivo, para 77 por cento dos inquiridos, a segurança, no que respeita a taxas de juro para financiamentos, é muito importante. Mais de metade dos entrevistados opina que a celebração de um contrato de poupança-habitação é uma boa possibilidade de enfrentar uma eventual subida de juros. E, para 53 por cento, a poupança-habitação constitui adicionalmente uma alternativa competitiva, relativamente à caderneta de poupança. A flexibilidade é um trunfo O leque de produtos das Caixas de poupança-habitação foi expandido, de acordo com as necessidades existentes, e as tarifas foram tornadas mais flexíveis. Da BKM, por exemplo, há três possibilidades, no âmbito da nova tarifa de poupança-habitação „maxLine“. A variante de poupança aforrador destina-se a clientes que procuram um investimento de capital com um forte rendimento. Através da taxa de juros atrativa, para ativos, de até três por cento, esta torna-se também interessante para “Azubis” (aprendizes) e para gente em princípio de carreira. Os mesmos podem adicionalmente aplicar as suas prestações mensais pagas pelo empregador com vista à formação de património (vermögenswirksame Leistungen). As tarifas de financiamento prestam-se para proprietários potenciais que queiram utilizar a taxa de juros baixa, atual, para amortizações futuras. Com a primeira variante, é acordada uma taxa de juros fixa para empréstimo, abaixo de três por cento. No âmbito da segunda variante, até é mesmo possível obter-se uma taxa de juros competitiva para empréstimo, abaixo de dois por cento, se o proprietário potencial se decidir por uma amortização rápida e substancial. Informações em: www.bkm.de. Apoio por parte do Estado (djd). O Estado apoia a poupança-habitação através de prémios de poupança-habitação (Wohnungsbauprämie) e bónus de poupança dos empregados (Arbeitnehmersparzulage). Para alem disso, existem prestações mensais pagas pelo empregador com vista à formação de património (vermögenswirksame Leistungen), que podem ser aplicados em contratos de poupança-habitação. Desde 2008 que existem também empréstimos e contratos de poupança-habitação especiais denominados “Riester”, fomentados pelo Estado. Um contrato de poupança-habitação não pode ser apenas aplicado a uma casa nova, mas também a medidas de modernização, remodelação e poupança de energia. A experiência tem mostrado que, no que respeita às propriedades já existentes, são sempre necessárias medidas para manutenção das mesmas, para cujo financiamento o contrato de poupança-habitação seria o ideal. Informações em: www.bkm.de


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Consultório

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

Miguel Krag, Advogado Portugal Haus Büschstr.7 20354 Hamburgo Leopoldstr. 10 44147 Dortmund Telf.: 040 - 20 90 52 74

O consultório jurídico tem a colaboração permanente dos advogados Catarina Tavares, Lisboa, Michaela Ferreira dos Santos, Bona e Miguel Krag, Hamburgo

Michaela Ferreira dos Santos, Advogada Theodor-Heuss-Ring 23, 50668 Köln 0221 - 95 14 73 0

Testamentos: Regras aplicáveis ao registo de testamentos em Portugal Michaela Azevedo dos Santos, Advogada

Quais são as principais formas de testamentos em Portugal? ÓTestamento autêntico (ou « testamento público »), lavrado por um notário. ÓTestamento fechado, escrito pelo testador ou por um terceiro. Este deve ser submetido à aprovação do notário. ÓTestamento internacional, assinado perante duas testemunhas e um notário. Por que razão deve inscrever o seu testamento? Ó O notário deve inscrever os testamentos dos quais tem conhecimento no registo testamentário gerido pelo Ministério da Justiça. Com efeito, um testamento não encontrado equivale a um testamento não existente. É por este

motivo que a inscrição do testamento no registo é obrigatória. Deste modo, o testador terá a certeza de que as suas últimas vontades serão encontradas e, assim respeitadas, após o seu falecimento. Quem pode efetuar a inscrição ? Ó O notário procede à inscrição dos testamentos. Com efeito, todas as formas de testamentos necessitam da intervenção do notário, quer seja para lavrar o documento ou para o aprovar. Não é o conteúdo do testamento que consta no registo, mas as informações que permitirão encontrá-lo. Quem guarda o testamento ? Ó O notário está encarregue de guardar os testamentos autênticos, internacionais e os testamentos fechados que o testador lhe confiou. As pessoas mais próximas do

testador podem consultar o registo em vida do mesmo ? ÓNão, a existência do testamento e o seu conteúdo permanecerão secretos durante toda a vida do testador. Quanto custa a inscrição de um testamento ? ÓA inscrição de um testamento é gratuita. Quem pode consultar o registo testamentário? ÓApós o falecimento do testador, as pessoas mais próximas do falecido poderão consultar pessoalmente o registo dos testamentos ou fazê-lo por intermédio de um profissional de direito (notário, juiz, advogado). Esta indagação não é obrigatória. Porém, é aconselhada de modo a garantir o respeito das últimas vontades do testador.

É obrigatório o fornecimento de uma certidão de óbito ? Ó Sim, as pessoas mais próximas do falecido deverão fornecer uma certidão de óbito para poderem efetuar uma procura. Esta medida permite garantir que a existência do testamento se mantém totalmente secreta durante a vida do

testador. È cidadão português residente na Alemanha e já pensou em escrever o Seu testamento? Então tenha em conta todos os preceitos notariais e consulte um advogado especializado no direito sucessório português!

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O PORTUGAL POST

Caro/a Leitor/a: Se é assinante, avise-nos se mudou ou vai mudar de residência

Os cães e gatos que entram em Portugal provenientes de outros estados membros da União Europeia estão sujeitos à apresentação de um passaporte, emitido por um veterinário habilitado pela autoridade competente que, para além da indicação de dados que permitam conhecer o nome e endereço do proprietário: ateste que o animal se encontra identificado mediante um microchip ou uma tatuagem claramente legível (permitida apenas até 3-7-2011) ; comprove uma vacinação/revacinação anti-rábica válida, efectuada quando o animal tinha pelo menos 3 meses de idade, segundo as recomendações do laboratório de fabrico, com uma vacina inactivada de, pelo menos, uma unidade antigénica por dose (norma OMS). É permitida a entrada em Portugal de cães, gatos e furões até aos 3 meses de idade e ainda sem uma vacinação anti-rábica válida: desde que acompanhem a mãe de que ainda dependam, devendo estar a viajar a coberto de um passaporte ; no entanto, os animais provenientes da Irlanda, Malta, Suécia e Reino Unido, podem viajar sem ser acompanhados pela mãe, desde que a coberto de um passaporte e tenham permanecido no local de origem desde o nascimento.


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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

José Gomes Rodrigues rodrigues@live.de

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Feriados e trabalho remunerado • Rendas de casa em atraso: que fazer? • Usar ou não usar o telemóvel no lugar de trabalho, a questão • Doença dum filho menor e situação laboral

FERIADOS E TRABALHO REMUnERADO Boa tarde colaboradores do Portugal Post, Sou vossa assinante já há alguns anos e sei que vocês esclarecem muitas dúvidas. Sem querer incomodar muito gostaria de saber se me podem ajudar nalgumas questões. Eu trabalho numa firma de “diestleitungen” mais propriamente repositora de mercados. Ganho ao mês um ordenado fixo. Gostava de saber se os feriados têm que ser pagos quando nós não trabalhamos no dia do feriado mas temos que fazer o trabalho do dia do feriado no outro dia acabando por fazer mais horas e quantas horas por lei temos que trabalhar por semana. Até agora, nas nossas folhas de vencimento, vinha a dizer quantos dias tínhamos de férias. A partir de Janeiro deste ano, deixou de vir isso. Será legal? As baixas médicas, que anteriormente eram inscritas na mesma folha de vencimento, também não constam na folha, isso também está de acordo com as leis vigentes? Desculpem estar a incomodá-los com isto, mas gostaria de ter uma opinião antes de consultar um advogado. Agradeço que me respondam por email, mas poderão colocar duma forma anónima no PP. Muito obrigado.. leitora devidamente identificada Obrigado antes de mais pelo seu interesse e pela leitura assídua do nosso e seu jornal. Gostaríamos, não só de a esclarecer convenientemente, mas participar nesta luta, através da imprensa contra as decisões que, infelizmente, estão a ser tomadas em detrimento dos trabalhadores, roubando-lhe a dignidade. O homem parece que é medido simplesmente pela capacidade de produção e este esforço, além de ser mal pago, é marcado pela incerteza do futuro. O que a empresa está a fazer, exigindo que o pagamento dos feriados por lei sejam recompensados através de um horário mais sobrecarregado, é simplesmente ilegal. Estes feriados são para descansar e nada mais. O que ela faz é completamente o contrário do espírito da lei. Estando de baixa médica nos feriados, o patrão deve igualmente pagar

este subsídio doença durante este tempo. Se o feriado calhar a um dia em que se receberia um substituto ou um suplemento ao ordenado, por trabalho reduzido, (“Kurzarbeit”), o mesmo este deve ser liquidado. O Tribunal Federal do Trabalho decidiu que a continuação do pagamento dos salários durante as férias ou em feriados por lei tem um carácter obrigatório. Mesmo que entre o patrão e o empregado haja um acordo em contrário, este é simplesmente ilegal e, em consequência, inválido. Sobre a inclusão das férias ou dos dias de baixa na folha mensal, tenho a dizer-lhe e, depois de me ter informado convenientemente, que estas informações, que até há pouco eram inseridas na sua folha mensal do ordenado, não estão reguladas por qualquer lei. Contra tal procedimento nada haveria a opor, apesar do processo anterior ser mais transparente e útil para todos, empresa e trabalhadores. Na esperança de a ter elucidado convenientemente, nos despedimos contando sempre com a sua preferência na sua leitura mensal.

REnDAS DE CASO ATRASO: QUE FAZER?

EM

Caríssimo Sr. José Rodrigues, Assistente Social Actualmente estamos numa situação financeira difícil. Trabalhamos numa empresa de serviços que emprestam o pessoal para outras empresas (Leihfirmen). Muitas vezes os nossos ordenados com o abono de família, pois temos dois filhos que frequentam ainda a escola, mal dá para viver. Temos de fazer muita ginástica para poder chegar ao fim do mês sem dívidas. O mês passado, por diversos motivos, não conseguimos pagar a renda de casa. Temos, por isso, esse mês de renda de casa em atraso. Será que o senhorio nos poderá pôr fora de casa despejando-nos e metendo uma acção de despejo no tribunal? leitora devidamente identificada Esta é, infelizmente, uma situação que tem batido à porta de muito boa gente. É uma das consequências das medidas de redução dos custos de trabalho, que tem abalado, infeliz-

mente, muitos operários e não só. Mas vamos ao vosso caso concreto que poderá servir de exemplo para outros compatriotas e amigos. Desde que o atraso da renda da casa não ultrapasse os dois meses, não poderão ses despejados. Para o evitar, não demorem muito tempo, esperando passivamente que o senhorio vos bata à porta. Procurem com ele o diálogo franco e esclarecedor. Coloquem-lhe na mesa, com toda a sinceridade, a vossa situação financeira. Ofereçam-lhe uma solução possível e previsível de saldar essa dívida. Uma solução poderia constituir pagar o atrasado em prestações mensais. Uma outra possibilidade seria fazer um pequeno crédito no valor da dívida junto do seu banco. Se alguém cair no desemprego ou estiver desempregado, procurem recorrer ao Instituto de Desemprego ou ao à secção de apoio social da câmara que vos aconselhará como sair desse impasse. Se as entradas financeiras da família forem inferiores à ajuda social ao desemprego, então recorram, quanto antes, ao mesmo instituto para que vos possa pagar a diferença. Ainda seria possível requerer ajuda à renda de casa na câmara da sua residência, se os ordenados não condizem com a tabela social em vigor para uma família da dimensão da vossa. O processo jurídico até ao despejo da casa é muito longo por parte do senhorio. Este deve recorrer antes de mais aos tribunais e obter dele uma sentença ou um título que lhe daria o direito de o fazer. Antes de ser determinado o despejo, as autoridades sociais oficiais entrarão em contacto convosco e procurarão, entre todos, encontrar uma solução.

USAR OU nÃO USAR O TELEMÓVEL nO LUGAR DE TRABALHO Caríssimos do PP, Obrigado pelas informações tão úteis que tem sido emanada por este jornal. Estamos muito gratos e desejamos que continuem neste esforço elucidativo. Tenho comprado o jornal mensalmente na estação de comboios por onde passo. Venho hoje e pela primeira vez, pedir-vos um conselho ou uma opinião, já que

a vossa opinião às vezes tem para mim servido de orientação segura. O meu chefe proibiu-nos o uso do telemóvel privado durante o horário de trabalho. Antes não havia qualquer problema, mas, dum momento para outro, mudou completamente. É legal o que ele ordenou? Leitor devidamente identificada Caríssimo amigo, as suas palavras são um incentivo positivo a continuar a trilhar este caminho de serviço à comunidade. Mais uma vez a nossa sentida gratidão. Claro que o seu chefe pode fazê-lo. Isto é simplesmente para evitar abusos, falta de concentração no trabalho e perdas de tempo. Havendo uma comunicação urgente por parte dos familiares o contacto pode ser facilitado igualmente pelo telefone fixo por eles ou por outros. Durante a pausa ninguém poderá limitar os seus telefonemas privados através do seu celular. Continue a preferir-nos na sua leitura e procure incentivar outros compatriotas a fazer o mesmo. Só assim podemos continuar com o necessário entusiasmo a servir a comunidade.

DOEnÇA DUM FILHO MEnOR E SITUAÇÃO LABORAL Exmos senhores, O meu filho de 11 anos teve um acidente e foi obrigado a ficar, por algum tempo, em casa em convalescença. Como não tínhamos ninguém para tomar conta dele, decidi eu, como mãe, ficar em casa sem sequer ser remunerada. O meu patrão depois de alguns dias despediu-me. Legalmente poderia ter feito isso? Nada fizemos contra a rescisão do contrato de trabalho. Podemos fazer algo ainda contra essa medida, apesar de terem já passado alguns meses? leitora devidamente identificada Despedi-la por cuidar do seu filho doente parece-nos ilegal, não sendo permitido, em principio, esse procedimento por parte da empresa. A sua decisão humanitária e maternal é, dentro de algumas condições, possível e compreensível. Havendo crianças menores de 12 anos a necessitarem de cuidados, por motivos

de doença, pode um progenitor ficar em casa para o cuidar. Isto, caso não haja uma outra possibilidade. Durante este tempo em que se desliga voluntariamente do trabalho para esse efeito, o patrão não fica obrigado a pagar-lhe qualquer ordenado. Geralmente, havendo essa alternativa, este deveria estar regulado no contrato de trabalho ou nos acordos tarifários. Convém mencionar que, dentro de determinadas condições, as Caixas de Doença poderão assumir uma compensação diária. É o assim chamado subsidio de doença por cuidar dos filhos. Este subsidio pode atingir os 90% do ordenado liquido normal e regular. Os dias remunerados a que se tem direito a permanecer em casa para este efeito são, no máximo 10 dias úteis por criança e por progenitor. Sendo duas crianças, o direito é de 20 dias repartidos pelos dois pais e, havendo mais filhos, este número aumentará para vinte e cinco. Havendo só um progenitor estes dias redobram. Sobre o outro pedido de informação à rescisão do contrato de trabalho por parte do empregador, infelizmente, nada poderá fazer contra essa acção. O prazo legal para interpor uma acção junto do tribunal de trabalho contra o despedimento, já há muito que terá caducado. Após ter recebido ou ter tido conhecimento da rescisão da relação laboral, tem 24 dias úteis para interpor uma acção no tribunal. Os sábados contam também para perfazer esse prazo, ou seja, quatro semanas no total. Os dias de baixa contam também para o efeito, só não contam, se acaso se possa comprovar a incapacidade de se deslocar ao tribunal, ou incapacidade de delegar alguém provido duma procuração sua. Deveria então ter requerido, dentro desse prazo, a anulação da rescisão do contrato de trabalho e ter requerido, ao mesmo tempo, a devida reintegração na empresa.

Gostaria de colocar as suas questões a José Gomes Rodrigues? Faça-o por email:

rodrigues@live.de


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As Fogueiras da Inquisição

Aprenda a Viver Sem Stress

Ana Cristina Silva Preço: 25,99

Páginas: 100 Preço: 18,99 Quanto mais tempo da sua vida é que está disposto a desperdiçar? Quanto mais tempo da sua vida está disposto a continuar a sofrer? Quanto da sua vida está disposto a finalmente reivindicar hoje? Quanto mais tempo vai deixar que os outros mandem nas suas escolhas? E, se reivindicar a sua vida, acha que fica a dever alguma coisa aos outros?

 Quando você cede ao stress, você não está ser você mesmo. Quando você cede ao stress, você passa ao lado da vida, da sua vida. Você vive em permanente sobrevivência. E quem sobrevive, sofre. E quem sofre, vive em stress. . "Aprenda a Viver Sem Stress" é um livro que o ajuda a reencontrar-se.

Cartas Vermelhas de Ana Cristina Silva

A história de uma militante comunista que se apaixona por um inspector da PIDE Preço: € 25,99 Nascida em Cabo Verde de família branca e abastada, Carol nunca se resignou à miséria das ilhas. E, movida pelo sonho de construir uma sociedade mais justa, ingressou ainda jovem no Partido Comunista. Não se importando de usar a beleza como arma ideológica, abraçou a luta revolucionária, apaixonou-se por um camarada e ficou grávida pouco antes de ser presa. Foi a sua mãe quem tratou de Helena nos primeiros tempos, mas, depois de libertada, Carol levoua para Moscovo.. Aí, o contacto com as purgas estalinistas não chegou para abalar as suas convicções, mas o clima de denúncia e traição catapultou-a para o cenário da Guerra Civil espanhola, obrigando-a a deixar Helena para trás; e, apesar de ter escapado aos fuzilamentos franquistas, a eclosão da Segunda Guerra Mundial impediu Carol de voltar à União Soviética para ir buscar a criança. Será apenas vinte anos mais tarde que mãe e filha se reencontrarão em Berlim, mas a frieza e o ressentimento de Helena farão com que, na viagem de regresso a Lisboa, Carol decida escrever um romance autobiográfico com o qual a filha possa, se não perdoar-lhe, pelo menos compreender as circunstâncias do abandono, a clandestinidade, a prisão, a guerra, a espionagem e o inconcebível casamento com um inspector da polícia política. Inspirado na vida de Carolina Loff da Fonseca, este romance extremamente empolgante vai muito além dos factos, confirmando Ana Cristina Silva como uma das mais dotadas autoras de romance psicológico em Portugal.

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O Último Cabalista de Lisboa Richard Zimler Preço: 15,50 Em Abril de 1506, durante as celebrações da Páscoa, cerca de dois mil cristãos-novos foram mortos num progrom em Lisboa e os seus corpos queimados no Rossio, O Último Cabalista de Lisboa, best-seller em onze países, incluindo os Estados Unidos da América, Inglaterra, Itália, Brasil e Portugal, é um extraordinário romance histórico tendo como pano de fundo os eventos verídicos desse mês de Abril de 1506.

Memória das Minhas Putas Tristes Gabriel García Márquez Preço: 13,50 As Fogueiras da Inquisição é um romance histórico de grande beleza literária, que se desenrola ao longo do século XVI, uma época profundamente conturbada para sefarditas e cristãosnovos em Portugal. É neste cenário de denúncia e medo que acompanhamos três gerações de uma família judaica portuguesa, desde o reinado de D. Manuel I à dinastia filipina. Sara de Leão, protagonista e neta desta família, está presa num calabouço exíguo, em Évora, acusada de práticas judaizantes. Para se evadir da penosa situação em que se encontra, Sara refugia-se no passado e recorda a avó, Ester Baltasar, que lhe transmitiu a história e a doutrina do seu povo. Temos assim oportunidade de ficar a conhecer esta extraordinária saga familiar, num misto ficcional e histórico que nos prende, irremediavelmente, nas teias do seu imenso fascínio.

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«No ano dos meus noventa anos quis oferecer a mim mesmo uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei-me de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar os seus bons clientes quando tinha uma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma das suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza dos meus princípios. A moral também é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, tu verás.»

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Endereços Úteis Embaixada de Portugal Zimmerstr.56 10117 Berlin

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Tel: 0211/13878-12;13 Consulado-Geral de Portugal em Estugarda Königstr.20 70173 Stuttgart

Tel. 0711/2273974 Conselho das Comunidades Portuguesas: Alfredo Cardoso, Telelefone: 0172- 53 520 47 AlfredoCardoso@web.de

Alfredo Stoffel Telefone: 0170 24 60 130 Alfredo.Stoffel@gmx.de José Eduardo, Telefone: 06196 - 82049 jeduardo@gmx.de Maria da Piedade Frias Telefone: 0711/8889895 piedadefrias@gmail.com Fernando Genro Telefone: 0151- 15775156 fernandogenro@hotmail.com AICEP Portugal Zimmerstr.56 - 10117 Berlim Tel.: 030 254106-0 Federação de Empresários Portugueses (VPU) Postfach 10 27 11 50467 Köln Tel.: +49. 221 789 52 412 E-Mail: info@vpu.org Federação das Associações Portuguesas na Alemanha (FAPA) www.fapa-online.de Postfach 10 01 05 D-42801 Remscheid

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Consulado-Geral de Portugal em Hamburgo Alteração no funcionamento das permanência consulares O Consulado-Geral de Portugal em Hamburgo informa a Comunidade Portuguesa que as permanências consulares a realizar nas cidades de Osnabrück, Nordhorn, Bremerhaven e Cuxhaven passam a ter lugar por marcação. A enorme afluência às permanências consulares organizadas durante os últimos 10 meses, a elevadíssima média de tempo de espera por parte dos nossos nacionais, bem como a qualidade do serviço prestado em prol da Comunidade Portuguesa, justifi-

cam esta alteração. Face ao exposto, muito agradecemos que contactem este ConsuladoGeral, sempre que pretendam recorrer aos serviços prestados nas permanências consulares, a fim de lhe ser indicado o dia e a hora de atendimento personalizado. O calendário das permanências consulares encontra-se publicado no portal deste Consulado-Geral (www.consulado-hamburgo.de). Para obter uma marcação contacte-nos por correio eletrónico

(geral@cgham.dgaccp.pt) ou por telefone (040 – 355 34 84). nova Permanência Consular em Bonn!! A primeira será no dia 7.05.2013 e terá lugar na Associação Lusitânia de Bonn, Löwenburgstr. 75 em Bonn. Horário de atendimento: 09:00-13:00 e 13:30-15:30. Marcação obrigatória através do tel: 0211-1387825 ou por e-mail: marcacao-permanencia@cgdus.dgaccp.pt

Noite de Música Portuguesa em Offenbach No próximo dia 26 de Abril, sextafeira, a comunidade católica portuguesa de Offenbach vai organizar um serão musical, que, pelas suas dimensões, bem merece o título de extraordinário: um serão de música portuguesa com a TUnA DE COnTABILIDADE DO PORTO. Serão cerca de 30 estudantes / músicos em palco (!) , para um espectáculo de qualidade típico das Tunas, enquanto formações musicais caracterizdas pela predominância dos intrumentos de corda. As tunas, fortemente enraizadas no meios estudantis, mantêm a sua ligação com a cultura popular, evitando a tentação

de música de elite ou académica. A Tuna de Contabilidade do Porto, fará uma digressão na Europa, com 3 concertos (25.04. na Suiça; 26.04., na Alemanha , Offenbach, e 27.04, em Albi, sul de França) Aqui fica o convite: venha até Of-

Caro/a Leitor/a: Se é assinante, avise-nos se mudou ou vai mudar de residência

fenbach, na sexta-feira, 26 de Abril (20.00 h) para uma noite de música portuguesa. Local: Mariensaal, Offenbach, Krafstr. 19. Info: offenbach@portugiesische-gemeinde.de ou pelo telefone: 069 845740.

Praxis nova em neuss Actuação do grupo Praxis Nova. Local: Igreja Católica de Christus König, Berliner Platz, pelas 20h30 No fim haverá convivio com comes e bebes na Biblioteca da Igreja. Organizacao APN Neuss


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Passar o Tempo

Amizades e Afins SENHORA na casa dos 60 anos, charmosa , activa, meiga, educada, saudável não quer viver só, procura senhor apresentável, educado, com bom carácter que não queira viver só. Para assuntos sérios. Perto de Estugarda. Contactar: 0151 21 688525

Rir Um alentejano é contratado para pintar uma estrada. O chefe explica-lhe como fazer o seu trabalho: - Pegas nesta trincha e tens aqui este balde de tinta. Só tens que molhar a trincha no balde, pintas uma linha no centro da estrada, assim, e tornas a molhar a trincha na tinta para continuares a pintar. O alentejano começa então a trabalhar. No primeiro dia, o alentejano pintou 3 quilómetros de estrada. No segundo dia, 2 quilómetros. No terceiro dia, 500 metros. E todos os dias o alentejano pintava menos um bocado, até ao dia em que já só pintou 2 metros. Diz-lhe o patrão: - Então? Como é? Andas a mandriar? Porque é que cada vez pintas menos? - Ora essa, patrão... É que o balde está cada vez mais longe!

poesias de amor e de outros sentires Dois... Apenas dois. Dois seres... Dois objetos patéticos. Cursos paralelos Frente a frente... ...Sempre... ...A se olharem... Pensar talvez: “Paralelos que se encontram no infinito... ”No entanto sós por enquanto. Eternamente dois apenas. Pablo Neruda

PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013

Saúde e Bem estar

Receitas Culinárias

Dor de Cabeça, enxaqueca, cefaleia

Borrego Recheado

SINTOMAS: as dores de cabeça podem apresentar-se de várias maneiras: 1. Na enxaqueca a dor geralmente se apresenta em apenas um lado da cabeça. 2. Na cefaleia tensional pode apresentar-se de forma generalizada, atingindo a área dos olhos, da fronte e da nuca. 3. Dor de cabeça na área frontal ocasionada por sinusite (ver sinusite). 4. Dor de cabeça ocasionada por febre alta (temperatura acima de 38ºC). 5. Dor de cabeça por inflamação das artérias temporais (ver arteriosclerose e aneurisma). 6. Dor de cabeça produzida por uma reacção alérgica, a qual ataca as áreas das mucosas internas e externas, como ao redor dos olhos. Neste manual só serão analisados os dois primeiros tipos de dor de cabeça: a enxaqueca e a cefaleia tensional. CAUSAS: As causas da cefaleia tensional e da enxaqueca são de dois tipos principais: 1) Stress e má postura 2) Alimentação incorrecta a) O stress e a má postura tensionam os músculos do pescoço e das costas, deslocando as vértebras de seus lugares, ocasionando subluxações. ENXAQUECA: neste caso, as vértebras desviadas devido à tensão muscular comprimem os vasos do pescoço que irrigam a cabeça de sangue, produzindo-se uma dilatação desses vasos que irrigam os nervos que lhe estão circundando, ocasionando a dor. Geralmente isso acontece só de um lado da cabeça. CEFALEIA TENSIONAL, as vértebras desviadas pela tensão muscular irritam os nervos do pescoço, provocando uma contracção nos músculos da cabeça, os quais por sua vez irritam os nervos que enervam esses músculos, produzindo a dor. TRATAMENTO: Para controlar o stress, principal produtor de dor de cabeça, veja o tema „stress“. Oitenta por cento das dores de cabeça são produzidas por tensão e por stress. Para eliminar este tipo de dor, recomenda-se aprender a detectar o momento em que se iniciam os primeiros sintomas da dor. Isso se deve porque depois de ter uma contrariedade, recomenda-se que se detecte, imediatamente, o início da dor, parar o que está fazendo e relaxar profundamente. Para isto faça o seguinte: respire fundo, tensione todos os músculos do corpo e logo relaxe-os, em cada vez que expirar o ar. Realize isto três vezes e imagine que se encontra em um lugar agradável. Permaneça respirando profundamente e relaxando por vários minutos, até que se sinta tranquilo. Além disso, tome logo um analgésico simples, fazendo com que a dor desapareça. Deve-se procurar dormir bem e numa cama com um bom colchão, preferencialmente, e , descansar adequadamente. Além disso, manter uma atitude mental positiva e manejar adequadamente as preocupações para evitar o stress e a tensão emocional.

Ingredientes: 1 perna de borrego com cerca de 1,750 kg 100 gr de peito de frango 80 gr de bacon 50 gr de vitela 1 couve lombarda 4 ovos Pimenta em grão e sal q.b. Vinho branco Margarina 0,5 dl de natas Batata palha Receita: Pique o frango, o bacon e a vitela. Misture com um ovo. Tempere com sal e pimenta acabada de moer. Limpe e desosse a perna de borrego e, com uma faca afiada, abra-a ao meio sem separar as duas partes. Espalhe a carne picada por toda a superfície. Enrole e ate. Tempere com pimenta moída e regue com vinho branco, deixando a marinar durante cerca de 2 horas. Limpe a couve, separe as folhas, lave-as e ferva por uns instantes em água temperada com sal. Escorra. Retire a carne depois de marinada e pincele-a uniformentemente com margarina. Leve ao forno até ficar macia. Nessa altura, envolva-a nas folhas da couve. Bata os 3 ovos com um pouco de sal e natas. Derreta 2 colheres sopa de margarina numa frigideira grande e faça uma omolete fina e muito larga. Cubra a carne com essa omolete e leve de novo ao forno, até dourar. Sirva com batata palha. Bom apetite

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Números em Síntese O número de desempregados na Alemanha situa-se nos 2,92 milhões.

A taxa de desemprego: 6,9%.

Consulte o seu médico Fonte: Saúde e bem estar

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Vidas

PORTUGAL POS Nº 225 • Abril 2013

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Um encontro feliz Caros Senhores, Hoje pensei ser a minha vez de escrever para aí e contar um pouco da minha vida que não faz mal nenhum divulgar por que são coisas absolutamente normais. Estou aqui vai para seis anos. Vim de Portugal numa altura em que fiquei desempregado numa idade bastante difícil para arranjar emprego. Todas as pessoas sabem em que estado está o nosso país. Infelizmente não é a primeira vez que o nosso Portugal não dá condições para que as pessoas possam viver minimamente decentes. Já foram tantas as vezes em que os portugueses foram obrigados a abandonar a sua terra para encontrar modo de vida noutros lugares. Há décadas e décadas que andamos nisto. A sina de Portugal e dos portugueses é serem os pobres dos mais pobres da Europa e nem por pertencermos ao clube do Euro deixamos de ser um país diferente. Mas não é de politica e de crises que quero aqui escrever.

Quando cá cheguei vinha com uma ideia precisa: arranjar trabalho e preparar as condições para que um dia mais tarde pudesse voltar para Portugal com um pé de meia. Era isto que eu pensava. Comecei a trabalhar num restaurante a fazer serviços de servente: limpar, lavar loiça e outros trabalhos miúdos. Saía sempre muito tarde porque tinha de deixar a cozinha limpa para o outro dia. O facto de trabalhar nesse restaurante um brasileiro facilitava-me as coisas, pois as ordens que eu recebia eram quase todas por seu intermédio. A minha vida não era uma pêra doce. Não ganhava bem nem mal: ao fim do mês levava para casa cerca de 800 €. Como quase não gastava nada em comida, era mais ou menos bom. Pagava por um pequeno apartamento cerca de 200 Euros. Trabalhava muitas horas e quase não saía de casa. A minha vida consistia apenas a estar no restaurante e tentar cair nas boas graças do chefe

para subir de posto. Juntava alguns euros e fazia uma vida muito recatada. O que mais me afligia era a solidão. Era nesses momentos em que as saudades dos meus pais, família e amigos em Portugal mais apertava. Como não sabia (e ainda não sei) falar alemão não tinha vida social. Quando saía, dava umas voltas por um jardim e pela cidade e voltava para casa. Um dia fui convidado por um colega turco para ir jantar a sua casa no nosso dia de folga. Achei o convite de uma generosidade muito grande e aceitei.Lá fui. Bati à porta e depareime com um ambiente de verdadeiro lar; com muita gente a sorrir e a falar numa atmosfera de muito calor humano. O meu colega fez-me sinal para tirar os sapatos e para entrar para a parte de uma sala onde estavam apenas homens sentados num tapete no chão à volta de comezaimas e de uma espécie de samovar. Alguns fumavam cachimbo de água e todos sorriram para mim quando entrei e me sentei

Por: Paulo Freixinho

r Palavras cruzadas

ali como se estivesse numa tribo. Às vezes apareciam algumas mulheres que traziam coisas para comer e água para o chá . Reparei então que as mulheres estavam numa outra sala também à volta de iguarias turcas. Havia muitas crianças que corriam e brincavam pela sala, dando àquela casa um toque de paz e de alegria. Todos falavam turco e eu claro que não percebia nada. De vez em quando, um ou outro fazia-me sinal para eu comer e eu comia. Estava ali, e mesmo sem perceber nada, sentiame bem naquele ambiente acolhedor e quente. Pela primeira vez, desde que tinha chegado à Alemanha, senti-me acolhido de braços aberto e aceite; senti-me quase feliz. O Kaya – o meu colega de trabalho – levantou-se e levou-me a ver as assoalhadas da sua casa. Decorada de modo oriental com quadros escritos com alusões ao Corão, a casa era muito arejada, esmerada, com todas as coisas colocadas numa ordem quase exagerada. Apresentou os seus filhos e chamou a sua mulher que me cumprimentou depois das apresentações, dizendo em alemão que eu era bem-vindo. A seguir, lá voltou para o grupo de mulheres que, com os seus lenços na cabeça e também sentadas no chão, falavam e riam. Tal como numa família portuguesa, o ruído da TV ecoava na casa. O aparelho transmitia canções tradicionais turcas quase ininterruptamente. Por momentos senti inveja daquela família assim tão unida, feliz e normal. Veio mais comer para a mesa, ou seja, para o chão e continua-

mos a petiscar como se não comêssemos há anos. Tudo era bom e saboroso. Quando terminavam umas iguarias apareciam outras como vindas sabe-se lá de onde. Só mais tarde vim a perceber o sentido daquele prolongado e faustoso jantar: era o último dia do Ramadão e, portanto, um dia de festa, assim como o nosso Natal. Tornei-me amigo daquela família. Era o meu conforto nos dias de solidão. Eu já lá ia amiúde e era sempre bem acolhido. Foi neste ambiente, e através destes meus novos meus amigos, que conheci a minha actual mulher que também tem a nacionalidade turca. Foi assim graças ao destino que me levou àquela família turca que conheci a mulher que nunca me arrependerei de ter conhecido e com a qual sou casado e muito feliz. Muitos de vocês perguntarão como poderei ter casado com uma pessoa de religião diferente da nossa. A razão é simples: tolerância e respeito que temos por ambos. O nosso casamento foi, primeiro, realizado na Turquia de modo muito tradicional e religioso e depois fomos a Portugal e casámos na igreja da minha terra e digo-vos que foi uma grande festa! A família da minha mulher não compreendia a minha e viceversa, mas lá se entendiam e festejavam a bom festejar. Hoje vivemos felizes. Temos dois filhos que sabem português e turco. São adeptos de clubes de futebol portugueses e turcos e aquilo em casa já quase se tornou uma associação de amizade luso-turca. A. Ribeiro PUB

Receba o PORTUGAL POST em sua casa por apenas 22,45 € /ano HORIZOnTAIS: 1 – Cidade alemã onde foram atacados sete trabalhadores portugueses. Pequena argola com que se enfeitam os dedos. 2 - Naquele lugar. Víscera dupla. Cólera. 3 - Magnete natural. Traçar. 4 - Contracção de "a" com "o". Vazia. Pedra circular e rotativa de moinho ou de lagar. 5 - Cabo onde se prendem os papa-figos e as velas para as segurar do lado donde sopra o vento (Náut.). Produz som. 6 - Corrigir. Emancipado. 7 - Ave corredora sul-americana. Limalha. 8 – Parte do navio entre a popa e o mastro. Altar. Antes de Cristo (abrev.). 9 - Fazer saber. De cabelo castanho muito claro (pop.). 10 - Mulher celibatária (pop.). Anuência. Ruído. 11 - Equívoco. Observação. VERTICAIS: 1 - Reentrância da costa, de forma aproximadamente circular, cujas dimensões se encontram entre as da enseada e as do golfo. Acabamento. 2 - Antiga armadura para a cabeça. Preposição que indica lugar. Regressar. 3 - Espécie de albufeira. Estragar-se. 4 - Título. Tens a natureza de. 5 - Seguir até. Pároco de aldeia. Elas. 6 - Espreitar. Dar à luz filhos. 7 - Terceira nota musical. Gostar muito de. A mim. 8 - Samário (s.q.). Lavrar. 9 - Capital do Chipre. Serve-se de. 10 - Época. Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de ovo. Ave de rapina. 11 - Deixar escapar. Da mesma forma que.

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PORTUGAL POST Nº 225 • Abril 2013 TRADUÇÕES PORTUGUÊS ALEMÃO

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Última • Nº 225 • Abril 2013

Indignai-vos! O isolamento, a deterioração das condições económicas e a falta de perspectivas em relação a um novo emprego, tudo isso comporta sérios riscos para a saúde mental dos indivíduos desempregados.

Ana Cristina Silva, Lisboa

E

xiste um milhão de desempregados em Portugal. Um em cada cinco portugueses está sem trabalho. Os números são assustadores, revelam uma sociedade em acelerado desmembramento, o que se traduz numa clara ameaça à coesão social. Os números não têm, contudo, o poder de mostrar o sofrimento das pessoas que deixaram de ter

trabalho. Um milhão de desempregados transforma-se numa fila gigantesca de pessoas que nos discursos dos organismos governamentais aparecem fundidas numa única entidade. Como se, por detrás dos números, não existisse, para cada pessoa, uma história de angústia. A questão não passa apenas pela perda de rendimento, mas também pela desesperança em relação ao futuro. Os números não deixam ver os dias vazios dos desempregados que são forçados a ir de quinze em quinze dias ao centro de emprego para demonstrarem que efectuam uma busca activa de empregos que não existem. Sobretudo não desvendam a tristeza ou a raiva dos seus olhos. Neste contexto de perda de rendimento e de terrível carência económica que abrange muitas vezes os bens mais básicos, são muitas vezes os pais reformados e familiares emigrados que constituem a única rede de suporte, substituindo-se às funções sociais do estado. Freud dizia que a felicidade

está associada ao trabalho e ao amor. O trabalho regula a estrutura dos dias, está ligado à partilha de experiências e contactos sociais, define o estatuto e a identidade pessoal e promove um sentimento de segurança. O isolamento, a deterioração das condições económicas e a falta de perspectivas em relação a um novo emprego, tudo isso comporta sérios riscos para a saúde mental dos indivíduos desempregados. O desemprego gera insatisfação com a vida, baixa auto-estima, vergonha, stress generalizado, discórdias familiares, ansiedade, depressão, abuso de substâncias, e em situações extremas pode conduzir ao suicídio. Para aqueles que tem mais de 40 anos e para quem o desemprego acarreta um processo de perda de identidade e de desespero, actos de violência contra si próprios parecem ser por vezes a única solução. É de referir que, neste contexto de crise, Portugal é já o terceiro país da Europa em que a taxa de suicídios é mais elevada

O desemprego afecta não apenas o individuo desempregado, mas todo o agregado familiar. Os casais desentendem-se, os conflitos aumentam de acordo com o ditado “em casa que não há pão todos ralham e ninguém tem razão”. As crianças assistem a cenas de violência ou a episódios de depressão dos pais e sofrem. Há casos em que os pais procuram disfarçar as suas angústias junto dos filhos com o humor. É exemplo disso, aquela história, divulgada na comunicação social, de uma mãe que costumava dizer à filha que “havia sopa e arroz com o que havia”. A criança ria-se e dizia que já sabia o que era o jantar: “Arroz com o que há”. Até que um dia a mãe deixou transparecer a sua ansiedade e, perante comentário da filha, não se conteve e disse: “Qualquer dia, o jantar é arroz com o que não há.” Mesmo em situações que os pais tentam simular alguma serenidade, as suas angústias manifestam-se de forma involuntária no olhar, nos

gestos e no tom de voz e em expressões verbais. Em muitos outros casos, o sofrimento do desemprego traduz-se em alcoolismo, aumento da violência sobre o conjugue ou sobre a criança. As crianças reflectem as emoções dos adultos como se fossem uma espécie de espelho invertido e têm tendência a partilo. A instabilidade emocional dos pais tem consequências no comportamento infantil e no rendimento escolar. Agressividade, depressão infantil, insucesso escolar são algumas das consequências possíveis. Estudos revelam que a perda de emprego dos pais aumenta em 15% a probabilidade de uma criança repetir o ano. Portugal passou a ser um país regido por valores economicistas, onde existem crianças com fome e onde é cada vez mais difícil ser-se feliz. Contra este estado de coisas têm de haver mais respostas do que a indignação. Mas, pelo menos, indignai-vos. PUB


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