Portugal Post Março 2013

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PORTUGAL POST 1993 : 20 ANOS : 2013

ANO XX • Nº 224 • Março 2013 • Publicação mensal • 2.00 € Portugal Post Verlag, Burgholzstr. 43 • 44145 Dortmund • Tel.: 0231-83 90 289 • Telefax 0231- 8390351 • E Mail: correio@free.de • www. portugalpost.de • K 25853 •ISSN 0340-3718

Filme Comboio Nocturno para Lisboa

NESTA EDIÇÃO

Remessas Emigrantes na Alemanha mandam mais dinheiro para Portugal // Pág. 3

Exclusivo Actor Jeremy Irons fala ao PP O filme “Comboio Nocturno para Lisboa” de Bille August estreou mundialmente na 63ª edição da Berlinale. Estiveram presentes o realizador e os actores Jeremy Irons, Bruno Ganz, Jack Huston, Charlotte Rampling e Martina Gedeck. O filme foi quase todo rodado em Lisboa e é uma adaptação do best-seller, “O Comboio Nocturno para Lisboa” de Pascal Mercier. A estreia está marcada para o dia 7 de Março nos cinemas de Berlim. //Págs. 14 e 15 Na Foto: A jornalista Cristina Dangerfiel-Vogt posa na companhia de Jeremy Irons num encontro no Hotel de Rome, em Belim, durante o qual o actor concede uma entrevista em exclusivo ao PORTUGAL POST . Foto PP

Carta aberta ao ministro Paulo Portas Professores de Língua e Cultura Portuguesas da área consular de Estugarda exigem a demissão de José Cesário // Pág. 10

Berlim – Portugal na Fruit Logística 2013

//Pág. 27

Serviço

8 de Março Dia Internacional da Mulher Entrevista a Manuela Aguiar Reformas e outros rendimentos: O que fica livre do fisco // Págs. 20 e 21

// Págs 18 e 19

Exclusivo Texto da escritora Ana Cristina Silva sobre a violência doméstica // Pág. 28 Pintura de Neusa Sobrinho Amtsfeld, Mannheim

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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

PORTUGAL POST

Editorial Mário dos Santos

Agraciado com a Medalha da Liberdade e Democracia da Assembleia da República

Fundado em 1993 Director: Mário dos Santos Redação e Colaboradores Cristina Dangerfield-Vogt: Berlim Cristina Krippahl: Bona Joaquim Peito: Hanôver Correspondentes António Horta: Gelsenkirchen Elisabete Araújo: Euskirchen João Ferreira: Singen Jorge Martins Rita: Estugarda Manuel Abrantes: Weilheim-Teck Maria do Rosário Loures: Nuremberga Vitor Lima: Weinheim Colunistas Ana Cristina Silva: Lisboa António Justo: Kassel Carlos Gonçalves: Lisboa Glória de Sousa: Bona Helena Ferro de Gouveia: Bona Joaquim Nunes: Offenbach José Eduardo: Frankfurt / M Luísa Coelho: Berlim Luísa Costa Hölzl: Munique Marco Bertoloso:  Colónia Paulo Pisco: Lisboa Salvador M. Riccardo: Teresa Soares: Nuremberga Multimédia: Silva- Com.de Tradução: Barbara Böer Alves Assuntos Sociais: José Gomes Rodrigues Consultório Jurídico: Catarina Tavares, Advogada Michaela Azevedo dos Santos, Advogada Miguel Krag, Advogado Fotógrafos: Fernando Soares Impressão: Portugal Post Verlag Redacção, Assinaturas Publicidade Burgholzstr. 43 • 44145 Dortmund Tel.: (0231) 83 90 289 • Fax: (0231) 83 90 351 www.portugalpost.de EMail: portugalpost@free.de www.facebook.com/portugalpostverlag Registo Legal: Portugal Post Verlag ISSN 0340-3718 PVS K 25853 Propriedade: Portugal Post Verlag Registo Comercial: HRA 13654 Os textos publicados na rubrica Opinião são da exclusiva responsabilidade de quem os assina e não veiculam qualquer posição do jornal PORTUGAL

50 anos - Festejar sem discriminar

E

m 2014 a comunidade evocará a passagem dos 50 anos da chegada dos primeiros portugueses à Alemanha. Será, certamente, um momento que deve merecer uma ou outra iniciativa para lembrar um período que marca e marcou a presença da comunidade lusa neste país. É, pois, neste contexto que alguns portugueses estão a tentar a organizar através das redes sociais um grupo que pretende promover uma iniciativa que tem como objectivo levar a cabo algumas realizações para celebrar a data. Parte assim da chamada sociedade civil uma iniciativa que deve, em pricípio, merecer o apoio de todos aqueles que não desejam deixar passar em branco esta data. Para já o grupo, cuja visibilidade passa apenas por um fórum restrito no Facebook, está a convocar uma reunião de onde, assim deseja o principal iniciador, deve sair o chamado “núcleo duro” que desejará levar a bom termo a iniciativa. De modo a poder contribuir de forma construtiva, pensamos que a iniciativa deveria sair para lá das fronteiras do Facebook deixando de ser um grupo fechado nas redes sociais. Deve promover a adesão da “verdadeira” sociedade civil, ou seja, ter no seu grupo as organizações associativas, sociais, culturais, politicas , diplomáticas e religiosas numa mesa redonda que discuta e dê formas a uma única estrutura que abranja toda a Alemanha. Parece-nos que isto não é o que está acontecer. Numa linguagem assim mais popular, aquele/s que estão a convocar algumas pessoas para uma reunião a acontecer no próximo dia 9 em Neuss estão a pôr “o carro à frente dos bois” e a dar como certas algumas iniciativas concretas

sem a discussão necessária. Uma das ideias refere-se à colocação de uma placa ou estátua (?) na estacão de Colónia para evocar a chegada do milionésimo “Gastarbeiter” – o português Armando Rodrigues. A ideia de uma tal iniciativa deveria ser colocada à discussão pública e não cozinhada apenas por duas ou três pessoas num fórum que está vedada à discussão pública. A realização de qualquer evento para “celebrar” os 50 anos de presença portuguesa na Alemanha diz respeito a toda a comunidade e, por tal, deveria partir de uma organização legitimada, coesa e in-

teligente. Nesta “organização” que parte do Facebook, o que nos ressalta à vista é a ausência das estruturas existentes da comunidade: alguns membros do CCP estão completamente fora da discussão, bem como o movimento associativo, as comissões de pais; os professores, as escolas, etc.. Mesmo assim, achamos que a iniciativa, apesar de tudo, tem pés para andar podendo constituir o ponto de partida para a criação de uma estrutura aberta a todos os que nela desejam participar sem protagonismos ou discriminações de qualquer ordem. PUB Publicidade

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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Remessas de emigrantes disparam para 2,75 mil milhões de euros em 2012 ÓAs remessas da Alemanha, terceira maior origem entre os países europeus, escalaram de 113,4 milhões de euros para 172,9 milhões, Angola, Espanha, Alemanha, Itália e Holanda registaram os maiores aumentos nas remessas de emigrantes portugueses, que em 2012 atingiram o valor mais alto da última década.

De acordo com os dados divulgados pelo Banco de Portugal, as remessas de emigrantes cresceram 13 por cento no ano passado, para 2,75 mil milhões de euros, máximo desde 2002, enquanto as remessas de imigrantes em Portugal voltaram a cair, na ordem de 10 por cento no ano passado, para 525,5 milhões de euros. Em 2012, os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) foram o grupo que registou um maior aumento, de 155,3 milhões de euros para 278,7 milhões de euros. Esta variação é quase totalmente explicada pelo crescimento de 83 por cento nas remessas de Angola, que atingiram os 270,7 milhões de euros no ano passado, face a 147,3 milhões em 2011. O valor das remessas angolanas é quase o triplo do registado em 2009, quando estava um pouco acima de 103 milhões de

Dados de Outubro 2011 a Outubro 2012

euros. Neste grupo, Moçambique foi a segunda maior origem de remessas, mas com apenas cinco milhões de euros, e Cabo Verde o terceiro, tendo registado uma quebra no ano passado. Mais de metade deste valor continua a chegar de emigrantes em países da União Europeia, cerca de 1,51 mil milhões de euros, e deste valor mais de metade chega por sua vez de França,

um quarto do total mensal, com 846,1 milhões de euros, que voltou a registar uma quebra, em contracorrente. As remessas da Alemanha, terceira maior origem entre os países europeus, escalaram de 113,4 milhões de euros para 172,9 milhões, enquanto de Espanha, outro destino da emigração recente portuguesa, foram enviados para o país de origem 129,9 milhões de euros, muito acima dos 88,4 mil-

hões do ano anterior. Outros destinos tradicionais de emigração, como os Estados Unidos e a Suíça, segunda maior origem de remessas, com 697,3 milhões de euros, registaram ligeiros aumentos. Mais acentuados foram os aumentos em destinos não-tradicionais, como a Itália, que quase duplicou de 13,3 milhões para 20 milhões de euros, ou a Holanda, que registou um aumento de 27,1

milhões de euros para 45,5 milhões. Quanto às remessas de imigrantes em Portugal, destacam-se as quebras para o Brasil, de 277,6 milhões de euros para 225,6 milhões de euros. A seguir ao Brasil, o segundo maior destino das remessas continuam a ser os países da União Europeia, com mais de 91 milhões de euros, registando uma quebra ligeira em relação ao ano anterior. Os PALOP registaram um aumento, de 36,9 milhões de euros para 41,9 milhões de euros, recuperando depois de duas quebras sucessivas em 2010 e 2011. Quase todos os países de origem dos imigrantes em Portugal registaram aumentos de remessas, com destaque para Angola, de 12,9 milhões de euros para 15,4 milhões de euros, tornando-se o maior emissor ao superar Cabo Verde (14 milhões de euros). Também Moçambique registou um expressivo aumento, de 5,66 milhões de euros para 8,75 milhões de euros, tal como São Tomé e Príncipe, de 770 mil euros para 1,25 milhões de euros. A excepção foi a Guiné-Bissau, que registou uma quebra para quase metade em relação a 2011 2,45 milhões de euros.

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Notícias

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Maioria propõe criação de grupo de trabalho para o ensino de português no estrangeiro

José Cesário:

Os deputados da maioria na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas querem criar um grupo de trabalho sobre o ensino de português no estrangeiro para monitorizar a implementação da política do Governo nesta área. A proposta de criação do grupo de trabalho apresentada, entre outros, pelos deputados Carlos Gonçalves e Mónica Ferro, do PSD, e Hélder Amaral, do CDS-PP. „A Assembleia da República é um bom lugar para tratar das questões da língua, particularmente no que respeita ao Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) que mereceu da parte do actual Governo uma reforma”., disse Carlos Gonçalves, deputado do PSD eleito pelo círculo da Europa. Para o parlamentar, a reforma, que se traduz na aprovação do Regime Jurídico do EPE, é “uma tentativa clara de valorizar e melhorar qualitativamente a aposta” neste tipo de ensino. O deputado lembrou a importância da língua para a política externa portuguesa e o potencial económico de um idioma falado por cerca de 254 milhões de pessoas e que é língua de trabalho de várias organizações internacionais. Nesse contexto, Carlos Gonçalves considerou „fundamental que o parlamento acompanhe e possa dar o seu contributo para uma boa execução dos diplomas aprovados“. Questionado sobre a contestação dos emigrantes à reforma do ensino promovida pelo Governo PSD/CDSPP e que prevê a introdução de uma propina a pagar pelos pais dos alunos, Carlos Gonçalves desvalorizou as crí-

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, pediu a dirigentes associativos da diáspora portuguesa oriundos de 13 países que ajudem Portugal no esforço de internacionalização que está a ser feito. “Ainda que tenham outra nacionalidade, não deixam de ser portugueses e podem representarnos melhor do que ninguém. São os embaixadores de Portugal”, considerou José Cesário, ao intervir numa sessão na Câmara de Viseu, no âmbito do “Curso mundial de dirigentes associativos da diáspora”, organizado pela Confraria dos Saberes e Sabores da Beira – Grão Vasco. Ao aludir à presença de portugueses no mundo, José Cesário referiu que, em países como o Brasil, Venezuela, Estados Unidos e França, “o número de descendentes é incalculável”, o que se traduz num “potencial extraordinário” para Portugal, devido ao trabalho que desenvolvem nas comunidades onde estão inseridos. O curso, que com acções em Viseu e Lisboa, reuniu dirigentes associativos da diáspora portuguesa para partilhar as experiências das associações a que pertencem e também para conhecerem a realidade em que trabalham as associações portuguesas. Bruno Marques lamentou que na

ticas, considerando „que não traduzem a opinião das comunidades portuguesas“. „Existe claramente uma preocupação em alguns sítios pela propina, mas como ainda não foi implementada no seu todo ainda não foi motivo de discussão, mas não me parece que por aí haja problema“, disse, considerado que o valor a pagar será „mais um contributo do que uma propina“. O deputado sublinhou que o valor a pagar pelos pais „será sempre inferior a 120 euros“ e incluirá o manual escolar, a emissão dos diplomas e a formação de professores. Confrontado com os receios de professores e sindicatos de que o pagamento da propina possa desincentivar a inscrição dos filhos dos emigrantes nos cursos de português, Carlos Gonçalves disse não acreditar nessa possibilidade. „Há hoje, sobretudo em países com forte integração, um regresso à vontade de os pais poderem proporcionar aos filhos o ensino da língua portuguesa, há também comunidades novas a chegar e não me parece que o valor que está em causa venha a impedir“ as inscrições, disse.

A propina introduzida pelo Governo, cujo valor ainda não está definido formalmente, mas inicialmente anunciado como de 120 euros anuais, é apresentada pelo executivo como uma forma de cobrir despesas com manuais escolares e com a certificação das aprendizagens, uma novidade do novo regime. Prevista desde Março do ano passado e contestada por pais, professores e sindicatos, a propina só vai ser introduzida no ano lectivo de 2013/2014 porque o executivo não aprovou em tempo útil a legislação necessária para poder cobrá-la antes. A rede do EPE inclui cursos de português integrados nos sistemas de ensino locais e cursos associativos e paralelos, assegurados pelo Estado português, em países como a Alemanha, Espanha, Andorra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Reino Unido, Suíça, África do Sul, Namíbia, Suazilândia e Zimbabué. Este ano lecivo, frequentam os cursos de Ensino de Português no Estrangeiro 57.212 alunos (56.191 em 2011/2012), distribuídos por 3.603 cursos (3.621 no ano anterior).

Dirigentes associativos da diáspora são “embaixadores de Portugal”

cidade onde reside, em Zermatt, na Suíça, a associação de que faz parte – e que gere a escola portuguesa - tenha dificuldades em conseguir apoios. Contou que a cidade tem cerca de seis mil habitantes, dos quais 2.500 são portugueses, mas as dificuldades de integração “ainda são enormes” e “há muita necessidade a ser colmatada”. Paulo Silva, que vive na Alemanha, disse que a segunda geração de portugueses está mais integrada, porque domina melhor a língua, e defendeu que os portugueses devem adaptar-se às tradições alemãs mas também mostrar a cultura portuguesa.

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Comunidades de emigrantes em vários países mais do que duplicaram em 2012 Algumas comunidades portuguesas em países como a Suíça ou o Luxemburgo duplicaram no último ano, segundo a Obra Católica das Migrações, que no fim de semana promove, em Fátima, uma reflexão sobre „a nova versão da emigração a salto“. „É muito difícil quantificar os números da emigração, mas os ecos que recebemos é que muitas comunidades duplicaram o número. Uma das coisas que nos permite ver isso é o número de crianças na catequese. De Janeiro a Novembro de 2012, numa das comunidades da Suíça triplicou o número de frequentadores na eucaristia, o que significa um grande aumento“, disse à agência Lusa o director da Obra Católica das Migrações (OCM), frei Francisco Sales. O responsável aponta ainda o caso do Luxemburgo onde o aumento do número de novos alunos portugue-

ses permite estimar uma media de cinco a seis mil famílias emigradas só no ano passado. Apesar destes números, Francisco Sales adianta que os alertas da Igreja para os casos de emigrantes a viverem situações de miséria na Suíça depois de terem partido sem trabalho certo levaram a uma redução destas situações, que, segundo disse, surgem agora apenas pontualmente. „Parece que os portugueses acordaram e não se lançaram na aventura como tinha sido até agora“, disse. Foi neste contexto que cerca de 60 representantes das missões católicas portuguesas no estrangeiro e especialistas em fluxos migratórios se reuniram, no Santuário de Fátima, para debater as formas de acompanhamento e as estratégias de resposta da Igreja Católica a esta realidade. „A ideia foi fazermos um pouco a comparação desta situação de nova emigração, deste grande fluxo, com a

emigração dos anos 1960 e 1970, a emigração de ‘ir a salto’. Hoje chamamos-lhe uma nova versão do ‘ir a salto’ porque é uma emigração não programada, em que as pessoas decidem emigrar muito rapidamente devido à necessidade em que se encontram“, disse Francisco Sales. Inspirado na frase de Bento XVI „antes do direito a emigrar há que reafirmar o direito a não emigrar, isto é, a ter condições para permanecer na própria terra“, o encontro decorreu sobre o tema „Entre o direito a e a não emigrar“, remetendo para o debate político e mediático em torno de alegados apelos à emigração por parte das autoridades portuguesas. „Os portugueses e, se calhar, o mundo actual, não tem muito garantido o direito a não emigrar. Para as pessoas terem direito a não emigrar e a construir a vida na terra onde nasceram, é preciso que o Estado e as autoridades lhe dêem as condições

necessárias para construir a vida com o mínimo de dignidade e, neste momento, devido à conjuntura, esta realidade não está garantida“, disse. Francisco Sales admite que a emigração pode ser um „caminho fácil“ para resolver problemas imediatos, mas não tem dúvidas de que a longo prazo compromete a reconstrução do país. „As pessoas mais responsáveis pelos destinos políticos do nosso país vêem-se a braços com um situação herdada do passado e que não é fácil de enfrentar e, muitas vezes, escolhem o caminho mais fácil. Se as pessoas forem procurar trabalho e fazer a vida noutro sítio facilita e resolve muitos problemas”, disse. “O problema está no futuro e na forma de reconstruir toda a situação social, política e económica para garantir um estilo de vida que seja digna da nossa história como Nação“, concluiu.


Nacional & Comunidades

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Sindicato de Professores no Estrangeiro pede demissão de José Cesário

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Dirigente do FDP, Alexander Álvaro, gravemente ferido após acidente na A1

O Sindicato de Professores no Estrangeiro pediu a demissão do secretário de Estado das Comunidades, considerando que José Cesário „insultou“ e „humilhou“ os professores, ao afirmar que há docentes que desconhecem a actual realidade do ensino.

„Um político que se permite questionar a qualidade dos professores que ainda este ano foram colocados após um processo de concurso, que (…) agride moral e profissionalmente os professores…. Pensamos que o melhor caminho que o secretário de Estado tem é a saída”, disse Carlos Pato, secretário-geral do Sindicato dos Professores no Estrangeiro (SPE), afecto à Federação Nacional de Professores (Fenprof). “É uma agressão gratuita e humilhante para os professores“, sublinhou. O sindicalista remetia para declarações do secretário de Estado das Comunidades numa entrevista ao jornal português „Gazeta Lusófona“, publicado na Suíça, em que José Cesário afirmava que „há professores que ainda não sabem trabalhar com os níveis linguísticos do Quadro Europeu de Línguas. Têm de aprender, são professores que estão fora do país há muitos anos e estão desenquadrados, desligados da actual realidade do ensino“. Carlos Pato contesta as declarações de José Cesário, considerando que o governante veio, com estas declarações, „espezinhar“ e „amesquinhar todo um trabalho feito com base na qualidade e no profissionalismo“. O secretário-geral do SPE expli-

José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portugueses cou que para os professores de português no estrangeiro o Quadro Europeu de Língua é apenas uma referência e que os docentes trabalham com um quadro de referência para o ensino da língua portuguesa, que é o QuaREPE. Carlos Pato considera que, com estas declarações, José Cesário „manifesta um certo desconhecimento“ em questões como as mudanças ou a certificação, questionando-se sobre quem é que „efectivamente está desfasado do sistema e desconhece a transformação em curso“. O secretário-geral do SPE considerou ainda importante que o secretário de Estado diga „quais são os desenquadramentos que detecta e (… ) qual é a realidade de ensino (que os professores desconhecem), a de Portugal ou a do estrangeiro?“. Mas, para Carlos Pato, o mais

grave foi o secretário de Estado ter dito: “não podemos ter professores a ensinar sem saber o que é ensino“. „Isto é grave. Então o instituto Camões coloca professores (…) que não sabem o que é ensino?“, questionou. Contactado pela agência Lusa, o secretário de Estado das Comunidade não quis comentar a tomada de posição do SPE. Governo e sindicatos de professores no estrangeiro negociaram recentemente o novo Regime Jurídico do EPE, tendo como pano de fundo a contestação à decisão do executivo de cobrar uma propina aos filhos dos emigrantes. A propina, cujo valor ainda não está definido formalmente, mas inicialmente anunciado como de 120 euros anuais, é apresentada pelo Governo como uma forma de cobrir despesas com manuais escolares e com

a certificação das aprendizagens, uma novidade do novo regime. Prevista desde Março do ano passado e contestada por pais, professores e sindicatos, a propina só vai ser introduzida no ano lectivo de 2013/2014 porque o executivo não aprovou em tempo útil a legislação necessária para poder cobrá-la antes. A rede do EPE inclui cursos de português integrados nos sistemas de ensino locais e cursos associativos e paralelos, assegurados pelo Estado português, em países como a Alemanha, Espanha, Andorra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Reino Unido, Suíça, África do Sul, Namíbia, Suazilândia e Zimbabué. Este ano lectivo, frequentam os cursos de Ensino de Português no Estrangeiro 57.212 alunos (56.191 em 2011/2012), distribuídos por 3.603 cursos (3.621 no ano anterior).

O vice-presidente do Parlamento Europeu, Alexander Álvaro, de descendência portuguesa da, ficou seriamente ferido depois de ter sofrido um acidente de carro a A1 (Autoestrada 1) no oeste da Alemanha na noite de 23 de Fevereiro último. A notícia foi divulgada pelas agências , citando um portavoz do partido liberal FDP. Nascido em 26 de Maio de 1975, Bonn-Bad Godesberg, Alexander Álvaro, de 37 anos, é membro do Partido Liberal Democrata (FDP), da Alemanha. "Foi um acidente horrível. Em nome do Parlamento Europeu, eu desejo a Álvaro uma rápida e total recuperação", afirmou em nota o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.

strangedoras“, os proprietários que já não tenham condições para cuidar dos burros, macho ou mulas, poderão alertar os responsáveis pelo CAB, que fazem a recolha e procedem ao tratamento dos animais. „É preciso ter em consciência que um burro pode viver cerca de 35 anos. Durante este período de tempo, os animais precisam de ser cuidados, valorizando-se assim o bem-estar animal“, disse o também veterinário. O CAB é subsidiado pela organização britânica sem fins lucrativos The Donkey Sanctuary, que trabalha há mais de 40 anos para a proteção do

gado asinino e muar por todo o mundo. The Donkey Sanctuary tem sedes em Inglaterra, Itália e Chipre, bem como centros operativos em outros países europeus como Roménia, Grécia, França e Portugal - Centro de Acolhimento do Burro. Além do apoio concedido pela organização The Donkey Sanctuary, o trabalho é também supervisado pela Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino e financiado por doações do público, que pode ter um papel ativo e diversificado na manutenção do centro.

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Voluntários transmontanos criam centro de acolhimento para burros Um grupo de voluntários criou o primeiro Centro de Acolhimento do Burro (CAB) da região transmontana, que tem com objectivo garantir o bem-estar de animais de raça asinina e muar. Esta espécie de lar para a terceira idade destinado a burros, mulas, machos e cavalos encontra-se na aldeia de Pena Branca, no concelho de Miranda do Douro, e está aberto aos visitantes durante todo o ano. Segundo Miguel Nóvoa, um dos promotores do CAB, a ideia passa por melhorar as condições de vida de burros e mulas que se encontrem doentes ou velhos, que estejam sujeitos a maus-tratos ou em situação de abandono, ou cujos proprietários tenham ficado impossibilitados de continuar a cuidar os animais por motivos financeiros ou de saúde. „Com o objectivo de revalorizar os animais resgatados que ainda apre-

sentem boa saúde física e mental, pusemos em execução um programa de custódia, que reintegra esses animais em novos lares assegurando, simultaneamente, todos os cuidados veterinários necessários“, acrescentou. Por outro lado, os voluntários, depois de recuperem os animais necessitados, desenvolvem um conjunto de actividades assistidas por asininos, como asinomediação ou asinoterapia, destinada a crianças com necessidades especiais. Promovem igualmente visitas terapêuticas para pessoas idosas das comunidades locais. „Há vezes em que os animais são abandonados e vagueiam pelas estradas e outros caminhos, tornando-os num perigo para quem neles circula, ou, algumas vezes, são presos a árvores em locais ermos, onde acabam por morreu e criam situações que prejudiquem a saúde pública“, frisou. No sentido de evitar „mais con-


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Opinião

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Opinião Carlos Gonçalves*

Permanências Consulares: Portugal mais próximo das suas Comunidades! rede diplomática e consular portuguesa mereceu na última década diversas alterações levadas a cabo por vários Governos numa perspectiva de adaptar a oferta da representação externa portuguesa à realidade das nossas Comunidades e aos interesses da nossa política externa. As alterações que foram introduzidas na rede tiveram também impacto na Alemanha com o encerramento, nos últimos anos, de várias estruturas, o que mereceu algumas considerações negativas das nossas comunidades que receavam um enfraquecimento da sua ligação com Portugal face à ausência de um apoio administrativo e consular. Quando em 2006 se avançou com uma reforma consular, que encerrou 28 estruturas no Mundo, o Governo da altura, apresentou como grande alternativa o projecto do Consulado Virtual que acabou por se traduzir, para além dos custos para o erário público, num enorme fracasso. Isso mesmo é ainda hoje visível através dos equipamentos

A

que estão espalhados por vários consulados e associações que não tiveram qualquer utilidade para além do factor decorativo, isto como é evidente, sem contar com aqueles que nunca saíram dos caixotes. Face ao insucesso do Consulado Virtual foi com enorme cepticismo que as comunidades portuguesas

meses desde a sua apresentação no Seminário Diplomático de janeiro de 2012, é possível verificar o enorme sucesso desta iniciativa e as grandes expectativas que está a criar nas comunidades que se encontram mais afastadas dos nossos Consulados. Com efeito, segundo números apresentados pelo Governo, na pas-

De facto, na Alemanha estão já a funcionar permanências consulares em Meschede, Bremerhaven, Minden, Münster, Kaiserslautern, Mainz, Munique, Nuremberga, Offenbach, Frankfurt, Singen, Osnabrück, Nordhorn e Cuxhaven.

acolheram o programa de Permanências Consulares que o actual Governo apresentou como uma nova forma de levar os serviços consulares junto dos cidadãos e, dessa forma, fortalecer a resposta às suas necessidades e consolidar a sua ligação com o nosso país. Passados que foram cerca de 12

sada semana na Assembleia da República, já estão a funcionar 129 permanências consulares, sendo muitos os núcleos de comunidades portuguesas no Mundo que solicitam a extensão dessa rede às suas áreas. O Consulado, os seus funcionários e através deles os serviços ad-

ministrativos portugueses vão, através das Permanências Consulares, a muitos locais onde nunca tinham chegado. Apesar desta rede poder ainda evoluir, ela já traduz na Europa e muito particularmente na Alemanha, uma dimensão que permite cobrir de forma clara os eventuais prejuízos dos encerramentos que tiveram de ser efectuados. De facto, na Alemanha estão já a funcionar permanências consulares em Meschede, Bremerhaven, Minde, Münster, Kaiserslautern, Mainz, Munique, Nuremberga, Offenbach, Frankfurt, Singen, Osnabrück, Nordhorn e Cuxhaven. Como é possível verificar, por esta já extensa lista de locais onde decorrem permanências, a oferta hoje em termos geográficos está muito mais adaptada à realidade da comunidade portuguesa e traduz uma nova forma de relação entre os consulados e os seus utentes que, como referi há dias na Comissão de Negócios Estrangeiros, é hoje reconhecida como um caso de sucesso por vários parceiros da União Europeia que, como nós, têm as suas Diásporas espalhadas por ou-

tros países. O programa das Permanências Consulares é, para mim, a maior iniciativa já levada a efeito por um Governo no sentido de dar resposta aos problemas dos cidadãos portugueses residentes no estrangeiro. Se a política e o seu objecto é resolver os problemas das pessoas, então esta forma de levar o consulado junto dos utentes, é a melhor via para alcançar esse desígnio na área da política para as comunidades. Para mim esta é a melhor forma de restituir confiança às Comunidades Portuguesas no seu país. Elas, uma vez mais, através do aumento de remessas e do investimento em Portugal, demonstraram a sua solidariedade histórica. Como tal, é necessário ter políticas que lhes façam sentir que Portugal continua a contar com eles. As Permanências não resolvem tudo, são apenas um instrumento para ligar a Diáspora a Portugal, mas são um sinal claro de um País que se deve entender como repartido pelo Mundo e que deve ver nas suas Comunidades o seu prolongamento natural.

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Comunidades

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Opinião Maria Teresa Duarte Soarres* O SPCL esclarece

A “propina” do Ensino do Português no Estrangeiro A já muito discutida e discutível “propina”, a ser imposta, segundo o Secretário de Estado das Comunidades e o CICL (antigo Insituto Camões), aos alunos que frequentam os cursos de Língua e Cultura Portuguesas em regime paralelo não tem apenas fundamento em necessidades económicas. À criação e implementação da mesma assistem também a vontade política do SECP, Dr. José Cesário, em grangear apoiantes no círculo de emigração fora da Europa, mais exatamente nos Estados Unidos e Canadá, e a cada vez mais clara falta de direção vocacional de parte do CICL em manter os cursos de Português para os luso-descendentes no estrangeiro. Em todo este processo, que decorre desde há cerca de um ano, quando a “propina” foi pela primeira vez anunciada, tendo sido alvo de fortes críticas por parte de sindicatos, comissões de pais, grupos parlamentares, etc, têm-se vindo a registar contradições cada vez mais gritantes, tornadas ainda mais evidentes pela falta de argumentação lógica das entidades responsáveis. Assim, e segundo essas mesmas entidades, é justo aplicar a “propina” nos países da Europa porque nos Estados Unidos os pais dos alunos pagam as aulas de Português dos filhos, existindo assim uma desigualdade, que, supostamente, vai ser agora corrigida. A verdade é que a desigualdade vai continuar, dado que serão apenas os alunos do ensino paralelo a pagar a “propina”,os que frequentam o ensino integrado ficarão isentos. Isto significa que no Luxemburgo 50 % dos alunos terão de pagar, se quiserem continuar a frequentar os cursos de Língua e Cultura Portuguesas.A outra metade continuará a auferir de ensino gratuito. Em Espanha, práticamente a “propina” não terá efeito, pois cerca de 90 % dos cursos estão integrados no horário escolar normal. Na Suiça, o pagamento será a 100% porque os poucos cursos integrados no horário, existentes em Zurique, vão ser extintos pelas entidades escolares locais, devido “ à falta de interesse e cooperação da entidade portuguesa”, segundo as mesmas

alegaram. Na Alemanha, a proporção é semelhante à da Suiça, visto existirem cursos integrados apenas em Hamburgo. A França apresenta a situação mais problemática, com cursos integrados no horário, cursos integrados no currículo e cerca de 60 % dos cursos em ensino paralelo, a funcionar principalmente nas áreas fora de Paris, que serão os mais atingidos. Portanto, a questão da “igualdade” não se põe. A propina, a ser aplicada, causará ainda uma maior desigualdade entre alunos e países. E retomando a questão dos cursos de Português nos EUA, é totalmente desconhecido a que entidades os pais pagam, em que regime funcionam os cursos, e qual o montante dos pagamentos. Portanto o argumento de que nos EUA o ensino do Português é pago pelos pais, devendo o mesmo acontecer na Europa, é extremamente fraco e necessita de fundamento, visto que atualmente a única certeza sobre o assunto é que nos EUA não pagam ao CICL, como os alunos da Europa vão pagar. Totalmente injusto e incompreensível é o facto de serem apenas os alu-

nos do ensino paralelo a serem atingidos pelo pagamento da “propina”, pois é exatamente nesses cursos que se verificam as piores e mais precárias condições de ensino, com os alunos aglomerados em grupos muito heterogéneos,com 4 e mais níveis diferentes lecionados conjuntamente, em que muitas vezes o professor é obrigado a ter dentro da sala alunos do 1° e do 7° ou 8° anos de escolaridade. Isto acontece porque, segundo as diretrizes do CICL, um grupo de 20 alunos, que pode ir do ensino básico ao secundário, tem direito a apenas 3 horas letivas semanais. E são exatamente estes alunos que para assistir às aulas têm de se deslocar a uma escola, muitas vezes distante, na parte da tarde do dia da semana em que têm aula de Português, depois do horário escolar nor-

mal, para ter, no melhor dos casos, 90 minutos de aula,conjuntamente com colegas dos mais diferentes níveis escolares e etários. Muito contraditoriamente,serão esses alunos, de todo disprivilegiados, cujos pais vão ter de pagar a “propina” para que os filhos possam continuar a assistir às aulas de Língua e Cultura Portuguesas. Portanto, aqueles com más condições de ensino,nos cursos paralelos, têm de pagar. Aqueles que assistem às aulas de Portguês dentro do horário escolar normal e em classes homogéneas, nos cursos integrados,têm direito a ensino gratuito. Onde está aqui a tão apregoada “igualdade”? Mas então por que razão não é imposta “propina” aos alunos do ensino integrado?Seria justo, dado que até funciona em melhores condições. O sr. SECP , que ora alega que os professores que lecionam nesses cursos não são pagos por Portugal, o que não é verdade, todos os professores são remunerados pelo CICL, ora alega que o ensino integrado é frequentado também por alunos de que não têm a nacionalidade portuguesa,não po-

dendo por isso o Governo Português requerer pagamento dos mesmos, ignora deliberadamente que o ensino paralelo é também frequentado por alunos de outras nacionalidades que não a portuguesa. Farão exceção para esses? Seria também injusto, pois nesse caso a conclusão seria que os alunos estrangeiros vão ter direito a aulas de Português gratuitas enquanto os portugueses terão de as pagar. O problema de fundo é realmente outro. Dado que todos os cursos, sem exceção, funcionam em salas de escolas estatais, cedidas gratuitamente,temem os instauradores da “propina” atritos com as entidades escolares locais, caso estas venham a saber que o ensino é pago. Como no caso do ensino paralelo o contacto com diretores de escola, etc, é muito menor, esperam que o facto passe des-

percebido e não hesitam em sacrificar esses alunos. . Quanto à certificação e ao também tão falado QuaREPE, unicamente aplicáveis aos alunos do ensino paralelo, não passam de pretextos. O QuaREPE, Quadro de Referência para o Ensino Português no Estrangeiro, nada mais é de que um novo meio de avaliação e certificação dos alunos, que nenhuma vantagem trará à deficiente qualidade pedagógica que os cursos têm atualmente. Não é por um aluno passar a estar no nível A1 ou B1 em vez de ter notas de 1 a 5 que as condições de ensino-aprendizagem melhorarão. Possivelmente irão ainda ficar piores, pois com menos alunos, após a “propina” os cursos terão forçosamente um caráter misto mais acentuado No respeitante à certificação, ao que parece incluída no montante da “propina”, não será reconhecida pelas escolas que os alunos frequentam dada ser feita em níveis que não existem em nenhum sistema escolar europeu. E, além disso, não é necessária anualmente, visto que o QuaREPE determina serem necessários 2 ou até 3 anos para que um aluno possa passar de nível, mas a “propina” será paga em plano anual . Portanto, é lícito perguntar quais serão as vantagens, para os alunos, da referida certificação, além da transformação dos cursos “sobreviventes” em minicentros de línguas, uma política de ensino que muito agrada ao CICL e para a qual este instituto se encontra mais vocacionado que para cursos dirigidos a crianças e jovens. E para finalizar, quais serão então as consequências da “propina”? Tendo em vista toda a constelação de factos exposta, serão as usuais para o EPE: redução do atual número de cursos, aumento de professores desempregados e número fortemente crescente de alunos sem aulas. Resta fazer notar que, numa altura em que a emigração portuguesa para o estrangeiro cresce diariamente, com níveis só comparáveis aos dos anos 60, seria de refletir não sobre a diminuição e restrição de cursos de Língua e Cultura Portuguesas, mas sim sobre um investimento positivo nesse campo, possibilitanto, em regime de igualdade total, o acesso gratuito aos mesmos a todas as crianças e jovens portugueses no estrangeiro. * Secretária- Geral Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas

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Mais de 50 mil portugueses trabalham na Alemanha A Agência Federal do Emprego (AFE) da Alemanha revelou que, em 2012, havia concretamente 56.958 emigrantes a trabalhar no mercado germânico, o que representa um crescimento de 7,7% em relação a 2011. Os patrões alemães têm dado preferência a emigrantes provenientes do sul da Europa: Portugal, Espanha, Itália e Grécia. E têm procurado nos últimos anos profissionais qualificados para trabalharem, sobretudo, no poderoso mercado industrial. Segundo a agência, tem-se multiplicado o número de engenheiros formados nestes países meridionais, empregados nas indústrias e empresas alemãs. No entanto, são também recorrentes os casos de emigrantes que acabam a trabalhar nos cerca de sete milhões de empregos considerados mal remunerados. Além dos 56 mil portugueses, há ainda 253 mil italianos, 123 mil gregos e 49 mil espanhóis registados por este instituto estatal a trabalhar em 2012 na maior potência europeia. Oriundos da Península Ibérica, são pelo menos 100 mil.

Alemanha precisa de 3.000 enfermeiros para hospitais e clínicas A saúde pública na Alemanha precisa de pelo menos 3.000 enfermeiros para cobrir as suas necessidades de pessoal nos hospitais e clínicas, segundo dados do Instituto Alemão de Centros Hospitalares, avançou a agência Lusa. Cada hospital ou clínica na Alemanha tem, em média, uma falta de 5,6 postos de trabalho, segundo dados deste organismo.?Os centros hospitalares com mais de 600 camas são os que apresentam maiores dificuldades, com mais de metade (53,1%) a enfrentar problemas sérios para cobrir as suas necessidades. ?Nas clínicas e hospitais com 50 a 200 camas, cerca de 40% (37,9%) têm um grave défice de enfermeiros, enquanto nos centros com 300 até 599 camas, 29,2% estão afectados por este problema. ?Cerca de 40% dos hospitais revelam problemas em cobrir as escalas de trabalho com pessoal, uma percentagem que, em 2009, era de 16,2%, assinala o estudo, segundo o qual 280 mil pessoas têm emprego neste sector.


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Serviço

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Nova Presidência da Associação Luso-Hanseática

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Associação Luso-Hanseática vai de vento em poupa

Informação Consular

Passaporte Electrónico A Associação Luso-Hanseática, ou seja Portugiesisch-Hanseatische Gesellschaft, com sede em Hamburgo, a “cidade mais portuguesa da Alemanha”, conta com mais de 300 sócios. Desde a sua fundação, em agosto de 1996, tem-se empenhado, com êxito, no intercâmbio cultural entre as nossas duas nações. Nova prova disso, as semanas culturais em janeiro e fevereiro com duas exposições, dois concertos, várias conferências e serões literários e uma prova de vinhos. Todos os eventos registaram uma grande afluência por parte do público, entre eles, muitos residentes portugueses. Por mais informações, clique na página na internet www.phg-hh.de. De permeio, houve a Assembleia Geral da praxe, que, desta vez, se viu na obrigação de eleger uma nova gerência. Como sucessor de Maralde Meyer-Minnemann, conceituada tradutora de literatura (António Lobo Antunes, Paulo Coelho, entre outros) e atual nomeada pelo Prémio da Feira do Livro em Leipzig, foi eleito, como novo diretor, Dr. Peter Koj. É uma cara bastante conhecida em círculos lusófonos, porque, depois do seu regresso de Lisboa, onde tinha lecionado na Escola Alemã de Lisboa

Passaporte Comum – Passaporte Electrónico Português

( da esq.) Dr. Peter Koj, Antje Griem e Thomas Kemmann (tesoureiro). Foto: AHL (1976 – 1983), se tem empenhado, em várias áreas, na divulgação da língua e cultura portuguesas, na cidade hanseática. Os seus méritos viram-se reconhecidos pela Fundação Casa da Cultura de Língua Portuguesa da Universidade do Porto, que o galhardeou com o seu Prémio em 1996.

O cargo como vice-presidente da Associação Luso-Hanseática que Peter Koj tem mantido desde a fundação da ALH /PHG, será preenchido, desde então, por Antje Griem, que já foi presidente entre 2009 e 2012. Sente-se responsável sobretudo por jovens portugueses que aparecem em cada vez mais maiores números em

Hamburgo para tentarem a sua sorte. Esta secção da ALH/PHG chama-se doravante “Cardume lusitano”, nome muito condizente com a situação daquele grupo de jovens que, sem fazer parte da própria tripulação da embarcação luso-hanseática, pelo menos acompanham-na nas águas do rio Elba.

Celebrações dos 40 anos da Missão Católica de Ulm

Consulado-Geral de Portugal em Estugarda informa

Vai ter lugar no próximo dia 3 de Março a celebração dos 40 anos da fundação da Missão Católica Portuguesa de Ulm.

Na sequência dos trabalhos necessários à mudança de instalações do centro de dados da rede consular em Lisboa, não será possível aos Consulados aceder às diversas aplicações informáticas, nomeadamente, do Cartão de Cidadão, do Passaporte Electrónico Português, do Registo Civil (SIRIC), bem como do Recenseamento Eleitoral, nas seguintes datas do corrente ano:

Fundada a 1 de Dezembro de 1972, foi seu primeiro sacerdote o Padre João Soares que esteve ao seu serviço até 1999, ano em que abandonou a Missao por motivo da sua avançada idade e falta de saúde, tendo-se reformado para ir residr para o Convento Franciscano da Luz, em Lisboa, onde veio a falecer. Passaram ainda, pela nossa Missão como sacerdotes o Padre Loris Favero, ,e que também era encarregado da Missão de Munique. O Padre Marquiano Petez e o Padre Leonir Nunes, que é neste momento sacerdote na Missão Portuguesa de Estugarda. O Padre Ivo Lisaki é o actual responsável pela Missão em em Ulm. Estes dois últimos pertencem à Ordem dos Saletinos,do Brasil e trouxeram à nossa Missão um maior desenvolvimento e muitas actividades, como um Boletim informativo, que é publicado, pelo menos, seis vezes por ano. A nossa Missão tem,ainda, um Conselho Pastoral, criado no ano 2000, pelo Padre Loris Favero,e representa as sete comunidades que fazem parte da Missão de Ulm,a saber: Ulm, Bad Urach, Weilheim - Teck, Kirscheim-Teck, Reutlingen,Wangen e Ravensburg.

Atendimento limitado em Fevereiro e Março de 2013

08 de Março (sexta-feira), 11 de Março (segunda-feira) e 12 de Março (terça-feira). Face ao exposto, apela-se à boa compreensão de todos os utentes e solicita-se que evitem deslocar-se ao

O PROGRAMA Missa Solene na Igreja de Santa Maria de Söflingen, pelas 9,30, presidida pelo Domkapitular Karrer, da Diocese de Rottemburg-Stuttgart, Decano de Ulm-Ehingen Hambücher,e varios sacerdotes. Estaráo presentes o Cônsul-Geral de Portugal em Estugarda e outras individualidades. No final. almoço de convívio e tarde recreativa. Maria do Céu Campos

Consulado nas referidas datas para tratar de assuntos relacionados com pedidos e entregas de cartão de cidadão, requerimento de passaportes electrónicos, emissão de certidões, registos de nascimento, processos de casamento, registo de óbito e recenseamento eleitoral. Nas referidas datas verifica-se uma paragem total da rede informática consular, que impossibilita a utilização das respectivas aplicações informáticas nos postos consulares. Para esclarecimentos adicionais sobre o assunto, é favor contactar este posto através do e-mail ou do telefone a seguir indicados: mail@cgstg.dgaccp.pt, 0711 / 22739-6.

Portugueses na Alemanha – 50 anos Reunião em Neuss Foi nas redes sociais que nasceu uma iniciativa que pretende organizar as “celebrações” da chegada dos primeiros portugueses à Alemanha nos anos 60. O grupo, que se denomina “2014- 50 anos de Comunidade Portuguesa”, tem já marcada uma reunião para o dia 9 de Março, na cidade de Neuss, em que participarão, segundo uma nota difundida através do Facebook, cerca “quarenta personalidades” de diversas áreas da comunidade. Tanto quanto o PP pôde apurar, a embaixada estará representada no encontro através de Manuel da Silva, ex-vice-cônsul em Osnabrück.

O passaporte é um documento de viagem individual, o qual permite ao seu titular a entrada e saída do território nacional, bem como do território de outros Estados que o reconheçam para esse efeito. Nas nossas páginas apresentamos uma síntese dos pontos mais significativos para os portugueses residentes na República Federal da Alemanha. Se pretender requerer um Passaporte Comum, o qual reveste a forma de Passaporte Electrónico Português deverá comparecer no Vice-Consulado munido dos seguintes documentos: ► Bilhete de Identidade ou Cartão de Cidadão válido; ► Passaporte anterior, se possuir (caducado ou válido) Se pretender saber mais acerca do Passaporte Electrónico Português aceda a: www.pep.pt

A presença da comunidade portuguesa na Alemanha vai em 2014 completar 50 anos. Tudo aconteceu em 1964 quando os governos português e alemão assinaram um acordo de recrutamento de mão-de-obra. A ideia era trazer trabalhadores dos países do sul numa altura em que a Alemanha “explodia” economicamente. Depois, quando não precisos, deveriam voltar a casa. Mais tarde isso verificou-se não funcionar. As pessoas lançaram raízes neste país. Quando as autoridades deste país constataram que as pessoas não podiam voltar como vieram disseram: Mandamos vir trabalhadores e, afinal, vieram pessoas. Na altura, era preciso muita força de braços. Depois de utilizados e gastos deveriam voltar à procedência. A partir desta edição e até Maio de 2014, o PORTUGAL POST vai passar a publicar pequenos textos de opinião de leitores que têm como objectivo evocar os 50 anos de presença lusa neste país. Se o leitor quer opinar sobre esta efeméride, escreva-nos para correio@free.de O seu depoimento é importante! Nota: os depoimentos não deverão ultrapassar as 100 palavras

Depoimento na página

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Comunidades

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União Desportiva Portuguesa de Mainz

Secretário de Estado entrega a primeira Mini-Biblioteca na Europa O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas José Cesário cumpriu no passado dia 14 de Fevereiro uma promessa feita no ano de 2012 à União Desportiva Portuguesa da cidade de Mainz (UDP-Mainz, Marias Corações de Portugal) e entregou, pessoalmente, uma Mini-Biblioteca composta por 98 volumes para aquela Associação que assim tornou-se a primeira da Europa a recebê-la.

A cerimonia teve lugar na sede da Associação e contou com a presença para além de José Cesário, do Cônsul de Estugarda, José Carlos Arsénio e Abílio Ferreira, ex-ViceCônsul de Frankfurt . A Mini-Biblioteca faz parte do projecto de leitura recentemente anunciado pelo primeiro ministro Pedro Passos Coelho em Paris e é o resultado de uma parceria entre a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesa e no Instituto Camões que, ao logo deste ano entregarão um total de 719 idênticas a diversas Associações de várias Comunidades portuguesas em todo o mundo. Em meados de Janeiro, 5 delas já foram entregues no Canadá e Estados Unidos. As autoridades foram recepcionadas por Maria do Céu, Andreia Coelho, Alcina Barros, Leta Braz, Adoa Coelho, Idalete e Carlos Saraiva do Clube 8 de Dezembro da cidade de Wiesbaden, Patrícia Ferreira, Bruno Miguel Ferreira, Carlos Ramalho e Natan Rocha e em

nome da sua pequena comitiva, José Cesário agradeceu a cordial recepção e manifestou o desejo que aqueles livros fossem de grande valia para todos os associados no sentido de que através da leitura ampliassem os seus conhecimentos da Língua Portuguesa e desfrutassem de bons momentos de convívio. “ O esforço conjunto do Instituto Camões e da minha Secretaria foi a pensar exactamente nisso. Com esses livros fazemos a divul-

gação de novos autores e esperamos com isso manter sempre aberto o canal de comunicação. O momento que Portugal atravessa não é fácil mas peço que me mantenham informado sobre as necessidades e planos da Associação”, disse. E foi em nome da Associação que Andreia Coelho, agradeceu e informou os presentes dos planos futuros da UDP-Mainz no sentido de promover mensalmente num dia de domingo sessões de leitura com

a presença de um professor de literatura, conseguir uma parceria com Câmaras, Juntas de Freguesia e Inatel para proporcionar aos “ seniores” viagens a Portugal a preços acessíveis em época baixa e o de criarem um infantário para que as crianças fiquem amparadas enquanto os pais trabalham e ali possam aprender a falar português além de prosseguirem com os seus grupos de dança e teatro que já fazem parte das suas actividades.

Aspecto do momento da entrega da biblioteca. José Cesário à direita, seguida da Maria Kosemund e do CônsulGeral de Portugal em Estugarda. Foto: UDP

GENTE Liza da Costa, uma cantora e compositora luso-descendente nascida na Alemanha em 1968, continua com a sua carreira e não pára de dar de espectáculos em toda a Alemanha para promover os seus trabalhos discográficos. Iniciando a sua carreira de cantora em 1996, Liza Costa não mais parará de progredir até se tornar numa das vozes mais conhecidas da música alemã. Possuidora de vários prémios e autora de catorze trabalhos discográficos, esta artista luso-descendente iniciou recentemente uma nova fase da sua carreira ao seguir caminhos musicais com influências do Jazz e do samba sempre acompanhada pela sua banda de nome Bossa Nova Hotel.

Ao Cônsul de Estugarda A UDP-Mainz expôs a vontade de iniciativas conjuntas para as cidades de Mainz e Wiesbaden comemorarem , em 2014, os 50 anos da Emigração Portuguesa na Alemanha sendo uma delas a colocação de uma lápide comemorativa numa das cidades referidas e que o Dia das Comunidades neste ano seja comemorado com dignidade em alguma das cidades da área consular de Estugarda. O diplomata depois de ouvi-las atentamente manifestou interesse em contactar com artistas e intelectuais dessa região para definirem o que poderá ser feito. As Permanências Consulares que já acontecem há um ano, foram incrementadas e serão quinzenais até o próximo mês de Março devido aos muitos pedidos nesse sentido. Concluindo as horas de boa disposição, o evento prosseguiu com um jantar oferecido depois do qual José Cesário reiterou o apreço que tem por aquela Associação que conta com “ mulheres dinâmicas, dispostas a aprender e sem papas na língua” e que neste momento que Portugal atravessa a “ palavra de ordem, é tentar” . No próximo mês de Maio, numa Gala em Londres, a União Desportiva Portuguesa receberá um prémio atribuído pelo jornal “ As Notícias” do Reino Unido pelo trabalho que tem desenvolvido junto à sua Comunidade.

50 anos - Portugueses na Alemanha

Motivos para festejar: sim ou não? “Estou um pouco confuso se esta será realmente uma data para comemorar ou festejar, tendo em conta que (talvez a maioria desconheça) na altura só eram admitidos neste país trabalhadores 100% saudáveis. Antes de rumarem a terras germânicas, os candidatos tinham que se submeter a um exame perante uma junta médica - cárie dentária ou a falta de dois ou três dentes era motivo suficiente para chumbarem o desejo de emigrar. Os poucos que regressaram a Portugal e os que por cá ficaram foram na maioria pessoas marcadas pelo duro trabalho, muitas das vezes prejudicial à saúde. No entanto, à custa desse muito trabalho e violando a saúde conseguiram na maior parte construir um pequeno reino, do qual a segunda e a terceira geração está a usufruir. Será esta uma data comemorável? Pode ser. Mas nós, os filhos e os netos, temos hoje um nível de vida melhor do que aqueles que há 50 anos para cá Antonio Horta vieram.”


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Carta Aberta

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Professores de Língua e Cultura Portuguesas da área consular de Estugarda exigem a demissão de José Cesário

Carta Aberta ao Ministro Paulo Portas “Permite-se o Ex.mo Sr. SECP ofender os professores, apresentando-os como “desenquadrados, desligados da realidade actual do ensino”e “a ensinar sem saber o que é o ensino”

Ex.mo Sr. Ministro dos Negoócios Estrangeiros Dr. Paulo Portas Os professores de Língua e Cultura Portuguesas da área consular de Estugarda, reunidos a 22 de fevereiro de 2013 em Estugarda, Alemanha, vêm por este meio protestar junto de V. Exa relativamente às declarações feitas recentemente na imprensa pelo Ex.mo Sr. Secretário das Comunidades Portugesas, Dr. José Cesário, sobre o EPE e os seus professores, declarações essas que consideramos extremamente ofensivas à nossa dignidade pessoal e profissional. Além de apresentar como “inovações” no sistema de Ensino Português no Estrangeiro (EPE) elementos como programas, certificação de aprendizagens e formação de professores, todos eles existentes durante os 35 anos de existência do sistema, anteriormente à tutela do Camões, I.P, circunstância que coloca a introdução da taxa de frequência como a única inovação real no EPE, permite-se ainda o Ex.mo Sr. SECP ofender os professores, apresentando-os como “desenquadrados, desligados da realidade actual do ensino”e “a ensinar sem saber o que é o ensino”. Ex.mo Sr. Ministro, não é lícito que uma personagem com o perfil político do Sr. SECP faça semelhante tipo de declarações coram publico, utilizando como base para defender os seus propósitos políticos afirmações de caráter falseado , sob pena de pôr em perigo a credibilidade do processo empreendido desde há cerca de um ano pelo Camões, I. P. e pela SECP ,que tem como objetivo a introdução de uma taxa de frequência a ser paga pelos encarregados de educação dos alunos do EPE que frequentam os cursos de Língua e Cultura Portuguesas no sistema paralelo. No respeitante à supracitada taxa temos desde já a constatar as consequências negativas da mesma para os nossos cursos, ainda antes da sua introdução,

pois o tomar conhecimento dessa intenção foi lamentavelmente causa do abandono dos cursos por parte de um número significativo de alunos. Este procedimento não tem como origem a falta de interesse dos pais ou dos alunos nos cursos de LCP, mas sim a degradação progressiva da qualidade de ensino nestes desde o início da tutela do Camões, I. P., tutela esta caraterizada por rígidos princípios economicistas, que mais parecem ter por alvo a extinção deste ensino que a propagação do mesmo. Alunos sem aulas durante mais de seis meses consecutivos, devido a não ter lugar substituição de professores, alunos lecionados em grupos demasiadamente heterogéneos, com 4 e 5 níveis etários e de escolaridade aglomerados, com insuficientes 60 ou 90 minutos de aula um único dia por se-

Ministro Paulo Portas

mana, são, infelizmente, realidades que em nada contribuem para tornar atraente a frequência dos cursos. Estas de todo insatisfatórias condições, desmotivantes para alunos e professores, não serão de modo algum melhoradas ou colmatadas por uma certificação espúria , desenquadrada dos sistemas escolares dos países de acolhimento e apenas com utilidade para os alunos em vias de terminar a escolaridade, como tenta fazer crer o Sr. SECP, que continuamente apresenta a referida certificação como um meio infalível para melhorar a qualidade do ensino e justificar a taxa de frequência. Para terminar, desejamos ainda exprimir a nossa indignação pelo facto de a já referida taxa ser apenas destinada aos alunos do

sistema paralelo, exatamente aqueles que têm pior qualidade de ensino, pois, além de terem de se deslocar à escola onde funcionam os cursos, muitas vezes distante, são sempre lecionados em grupos heterogéneos. Os alunos do ensino integrado, cujas aulas de LCP têm lugar na escola que frequentam, dentro do horário escolar normal, em grupos homogéneos e com um número superior de horas letivas semanais, ficarão isentos do pagamento. Trata-se de uma injustiça patente , mais ainda se for levado em conta que todos os professores, em ambas as modalidades,são remunerados pelo Estado Português. Ex.mo Sr. Ministro, a taxa de frequência, apresentada pelo Sr. SECP como uma “ pequena con-

tribuição” de parte das comunidades, é inaceitável, não só por o EPE se encontrar enquadrado juridicamente no sistema português de escola pública,portanto gratuita,mas também devido a ser visto pelos cidadãos portugueses nas comunidades como uma pequena retribuição, ou expressão de reconhecimento do Estado Português, visto estes continuarem a investir e a enviar altas somas para o país que ainda consideram como a sua Pátria. Os afetos não são transacionáveis, e a língua que veicula esses afetos muito menos. Estugarda, Alemanha, 22 de fevereiro de 2013 Com os nossos mais respeitosos cumprimentos Os professores de Língua e Cultura Portuguesas


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Crónica Por Joaquim Nunes Livros novos para a emigração:

Incentivo à leitura? Lê-se pouco na emigração. Mas arrisco dizer que, no geral, não é por falta de livros. Na maior parte das comunidades e associações existe já uma biblioteca de língua portuguesa, mais ou menos bem apetrechada de colecções de livros, que ali estão a apanhar pó. Através das páginas no facebook do Dr. José Cesário (Secretário de Estado para as Comunidades Portuguesas) e do deputado Carlos Gonçalves (ambos PSD) fiquei a saber que o governo português está a distribuir às associações da “diáspora” portuguesa “bibliotecas”, ou, melhor, uma selecção de livros, numa iniciativa inte-

grada no programa “incentivo à leitura”. Aplauso! Tudo o que vier incentivar a leitura é bom. Na emigração, lê-se tão pouco ! Saídos de Portugal, “só para trabalhar e não para mais nada”, os emigrantes nunca tiveram tempo para ler… Depois, a televisão portuguesa que, nos últimos anos, invadiu via satélite cada sala de estar ou cada cozinha, absorve as poucas horas que restam e que, apesar do cansaço, podiam ser dedicadas à leitura. Lê-se pouco na emigração. Mas arrisco dizer que, no geral, não é por falta de livros. Na maior parte das comunidades e associações existe já uma biblioteca de língua portuguesa, mais ou menos bem apetrechada de colecções de livros, que ali estão a apanhar pó, porque ninguém os requer, ninguém os pede emprestados, a quase ninguém interessam. É verdade que essas bibliotecas estarão desactualizadas: está lá o Camões, mas falta lá o José Rodrigues dos Santos; está lá o Eça de Queiroz e o Camilo, mas faltam os livros do José Saramago ou do Lobo Antunes. E é ver-

dade que o Camões e o Eça de Queiroz aos mais novos fazem lembrar a escola e a leitura “forçada” e sem prazer, e dizem pouco aos mais velhos… Livros são sempre bem-vindos ! E se este programa de apoio à leitura por parte do governo levar os responsáveis das associações e dos clubes portugueses a fantasiar um pouco sobre formas de motivar os mais novos e os mais velhos a levar livros emprestados para ler em casa… então a iniciativa do governo já estará a dar os seus frutos. Porque não criar (nas comunidades e associações) círculos de literatura portuguesa, porque não uns serões literários, em que se possa ler em conjunto pedaços de boa escrita, algumas páginas de bons livros na esperança de que eles criem o apetite para a leitura?! Só a leitura dá sentido ao livro. Mesmo que fosse só por razões eleitorais, uma medida como esta merece o nosso apoio. “Oferecer” livros portugueses às comunidades: a língua portuguesa agradece. Com anos e anos no estrangeiro, a língua portuguesa (mesmo para nós que ainda a

temos como língua materna) vai-se tornando num “português de trazer por casa”, muito reduzido quantitativamente no seu vocabulário, e, quantas vezes, exposto aos assaltos linguísticos da língua estrangeira, numa mistura de palavras que a todo custo devíamos evitar. “A minha pátria é a língua portuguesa” (Fernando Pessoa). Ler, escrever, cultivar a língua, cuidar de uma certa qualidade linguística é preservar a nossa própria identidade ! E, já agora, uma sugestão! Em tempos, o Governo Português pagava o porte do correio de assinaturas para o estrangeiro das revistas e jornais portugueses. Medidas de poupança, muito anteriores às da actual crise, levaram o governo a acabar com o “porte pago”. Que pena ! O semanário ou a revista, por serem em si de leitura mais fácil que um livro, e pela sua actualidade, despertariam em muitos o hábito de ler, mantinham-nos em contacto vivo com a língua portuguesa, enriqueciam o nosso vocabulário quotidiano, protegiam-nos contra a erosão de anos e anos de vida no estrangeiro. Porque não voltar ao

porte pago, ao menos para as assinaturas de jornais e revistas que as associações fizessem? Os livros estão a ser oferecidos às associações e clubes. Não sei que tipo de livros estão incluídos nessa “biblioteca-brinde”. Não teria sido melhor que o governo se informasse antes junto de todas as associações e comunidades sobre o estado das suas bibliotecas, do uso que elas têm ou podem vir a ter e da actualização que elas eventualmente possam precisar? É que pode bem acontecer que muitas associações e clubes de portugueses já só o são de nome. Na sede de muitas delas, funciona apenas um bar ou um restaurante, em regime de concessão a um “particular”. Muitas delas já não têm uma direcção eleita nem actividades associativas. Muitas são associações sem sócios, mas este é outro tema, quem sabe para uma futura crónica. O bar está aberto, vai-se lá beber um copo ou a um baile. E os livros estão por lá, cumprindo uma missão a que de modo nenhum estavam destinados, mas que é a que lhes resta: apanhar o pó que ninguém limpa... PUB

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Quanto mais tempo da sua vida é que está disposto a desperdiçar? Quanto mais tempo da sua vida está disposto a continuar a sofrer? Quanto da sua vida está disposto a finalmente reivindicar hoje? Quanto mais tempo vai deixar que os outros mandem nas suas escolhas? E, se reivindicar a sua vida, acha que fica a dever alguma coisa aos outros?

 Quando você cede ao stress, você não está ser você mesmo. Quando você cede ao stress, você passa ao lado da vida, da sua vida. Você vive em permanente sobrevivência. E quem sobrevive, sofre. E quem sofre, vive em stress.

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Sociedade

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Queremos salvar o planeta? O progresso tecnológico e a corrida cega às matérias-primas estão a empurrar o nosso planeta para o precipício da autodestruição Salvador M. Ricardo

em 2013 a industrialização, o progresso tecnológico e a corrida cega às matérias-primas estão a empurrar o nosso planeta para o precipício da autodestruição. O indivíduo já não parece ser capaz de encontrar a felicidade e o desemprego ameaça as novas gerações. À primeira vista, a entrada no século XXI sob a égide do individualismo e de um sistema financeiro irresponsável e imoral não parece estar a produzir bons resultados. O sucesso de objectos tecnológicos cujos nomes começam por “I” (Eu): iPod, iPhone, iPad e a publicação dos detalhes mais íntimos das suas vidas nas redes sociais como o Facebook, mostram que todos estão preocupados ape-

E

nas com a sua própria pessoa, a sua realização, a sua felicidade pessoal e que afinal todos estão apaixonados por si próprios – bem-vindos ao século do narcisismo! Reconheço que pode ser tentador adquirir um iPhone que acumula as funções de um telefone, de um computador, de uma televisão, de uma lanterna, de uma máquina fotográfica, de uma consola de jogos, de um jornal, de um aparelho de navegação GPS. Quando todos os objectos tiverem sido absorvidos por um ecrã, será a vez de serem absorvidos pelo nosso corpo. Vamos entrar no domínio da biónica, com a inclusão nos nossos corpos de implantes, próteses e máquinas que substituem membros, e prometem novas funciona-

lidades. No futuro os designers serão em simultâneo personal trainers de ginásio, nutricionistas e coach, porque os produtos a desenvolver no futuro serão os nossos corpos e as nossas mentes. As nossas fábricas estão programadas para produzir matéria e parecem não saber produzir outra coisa. Quando o petróleo acabar daqui a 30 anos, o resultado vai ser catastrófico para o bem-estar da população mundial, que parece estar concentrada apenas na corrida aos bens materiais. Provavelmente ainda vamos a tempo de corrigir a trajectória, onde todos contribuam para um mundo melhor, sem que isso implique o abandono das cidades e que todos se dediquem ao trabalho no campo.

Tal como um tóxico dependente que consumiu drogas em excesso, também todos os que no futuro consumirem em demasia produtos tecnológicos vão ser obrigados a curas de desintoxicação. O regresso a um consumo ético-responsável e a uma atitude que respeita mais a natureza parecem inevitáveis. Na Alemanha uma parte da sociedade já procura seguir este novo rumo de “Lifestyles of Health and Sustainability”(estilos de vida saudáveis e sustentáveis) a quem os publicitários atribuíram a designação de “LOHAS” e que dão preferência a férias ao ar livre na natureza, ao consumo de produtos Bio e de comida “slow food” por oposição ao “fast food”. A relação dos alemães com a

natureza é muito profunda. A floresta é alvo de um culto muito particular: -“O kühler Wald, wo rauchst du, in dem mein Liebchen geht?” do poeta Clemens Brentano que o compositor Brahms levou para o mundo musical. Os alemães encontram na natureza uma espécie de felicidade, uma relação simples, que lhes permite escapar ao lado sério da vida e a uma hipercivilização que regula em demasia as suas vidas. De forma a recuperar a natureza para o interior das suas casas, a natureza dentro de casa é a grande tendência de decoração de interiores este ano – plantas, peles e madeira estão em alta. A paixão pela natureza vai estar reflectida tanto na decoração como nos acessórios.

Aprender

Sie ou Du : quando usar o tratamento formal ou íntimo na Alemanha? Antigamente, a regra era clara: não se usava a forma de tratamento informal „Du“ para falar com estranhos. Hoje em dia, essa norma é menos rígida, o que não torna a situação mais fácil. Na Alemanha, as boas maneiras têm um nome: barão Adolph Knigge. Ele escreveu, nos fins do século XVIII, a obra “Über den Umgang mit Menschen” (Sobre a forma de tratar as pessoas), ou, coloquialmente „o Knigge“. É um equivoco afirmar-se que se tratar de um manual de regras de etiqueta, porque na realidade, o livro é, antes de mais, um tratado sociológico. Seja como for, até hoje o “Knigge” é considerado „a“ referência no que diz respeito a formas de tratamento na língua alemã. Hans-Michael Klein, presidente da Sociedade Knigge da Alemanha, dá palestras a respeito de normas de conduta no país, das quais fazem parte os ensinamentos sobre o uso correcto do formal “Sie” (o senhor / a senhora) e do tratamento íntimo “Du” (tu). O especialista diferencia estes dois sectores distintos da vida. Afirma: „Para cada uma destas fórmulas de tratamento, há regras absolutamente diferenciadas; na vida privada, o mais velho é quem propõe o uso do “Du” ao mais jovem. Não importa se se trata de homens ou mul-

heres.“ “Na vida profissional, continua Klein, “não é importante a idade, mas sim a posição de cada um na hierarquia da empresa. É sempre o chefe ou “chefa” quem oferece ao funcionário – independentemente de ser mais velho ou mais novo – o “Du.“ Quando duas pessoas de mesmo grau hierárquico se encontram – por exemplo, dois chefes de departamento – aquele com mais tempo de empresa é quem dá o passo em direcção a um tratamento informal”, explica Klein. Alguns casos especiais Essas são as regras tradicionais, mas há exceções e casos especiais. Entre os jovens, por exemplo, o uso de” Du” está amplamente disseminado, não importa se o interlocutor é ou não uma pessoa conhecida. Há ainda os casos especiais. Por exemplo, o chamado “Hamburger Du”, ou seja, o „tu hamburguês“. A denominação em si já confunde, pois trata de combinar o tratamento formal (Sie) com o nome da pessoa. O resultado é algo como: „Markus, o senhor poderia, por favor...“. Tradicionalmente, essa forma combinada de tratamento é usada em casos de „relações sociais assimétricas“, ou seja, quando o superior chama seu funcionário. „Assimétricas“ porque o chefe está acima na hierarquia profissional e porque o tratamento pelo prenome só funciona numa direcção, pois não é boa ideia

o funcionário fazer o mesmo ao se dirigir ao superior. Os bávaros, famosos por suas peculiaridades, também fazem um uso singular da forma de tratamento “Du”: em Munique, a capital da Baviera, costuma-se utilizar o oposto do „tu hamburguês“, o que significa, no caso, chamar a pessoa de “Du,” mas usar a forma em combinação com o nome de família do interlocutor: „Schmidt, tu podes dar um pulinho aqui?“. Em analogia a esse „Münchener Du“, há também o „tu de caixa de supermercado“, empregado em situações muito específicas. Como quando a funcionária quer saber o preço de uma mercadoria e berra para a colega do outro lado da loja: „Senhora Meier, sabes o preço da pêra?“. Outro uso especial é o „Genossen Du“, usado entre correligionários do Partido Social Democrata, para mar-

car que se trata de „camaradas“, todos iguais entre si e unidos pelas mesmas convicções políticas. Nestas modalidades de tratamento, existe por vezes algumas armadilhas Por exemplo, o tratamento informal em momento de descontração pode não prosseguir no dia seguinte. Porém, as verdadeiras armadilhas não estão propriamente no uso correto do “Sie” (o senhor /a senhora) e do “Du” (tu, você), mas nos momentos em que se deixa de usar um e se passa a usar o outro. O especialista em etiqueta, Klein cita três dos piores equívocos possíveis. O primeiro: durante uma festa descontraída da empresa, o chefe passa a usar o “Du” com o funcionário. Mas, o que fazer no dia seguinte no trabalho? O superior ainda vai se lembrar da fórmula de tratamento do dia anterior?

Klein recomenda: „O melhor é evitar uma forma de tratamento direta, optando por frases indirectas, por exemplo: “Não queríamos falar do tema tal hoje?’“. Desta forma, os funcionários têm que esperar até que o superior reaja, aconselha Klein, segundo o qual é um „interdito“ lembrar ao chefe que na noite anterior ele havia introduzido o tratamento mais informal. Outra coisa a ser evitada: „Um funcionário mais velho nunca deve começar a tratar o chefe, mais novo, por “tu’“, alerta Klein. A iniciativa tem sempre que partir do superior, independentemente da idade. A terceira regra, neste contexto, é jamais recusar de maneira ríspida a forma de tratamento mais íntima. Caso isso seja feito, é necessário agir de forma que o interlocutor mantenha sua dignidade. Klein recomenda: „Diga, neste caso: ‘Fico muito feliz com a oferta de poder de tratá-lo por “tu “e com o apreço a mim destinado, mas gostaria de conhecê-lo melhor antes antes de passarmos para essa forma de tratamento mais intimo“. Klein aconselha de forma geral aos participantes de seus seminários um princípio válido para todas as situações: reagir sempre da maneira mais adequada, sem chamar a atenção pela inconveniência. Uma regra universal, fácil de ser apreendida e que pode ser aplicada não só à questão „Du ou Sie?“. Birgit Görtz Cortesia DW, Revisão PP


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Livros e Autores

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Viajar a Sul com Pepetela Luísa Coelho, Berlim

er a obra de Pepetela (1941) é empreender uma viagem pelas origens do povo angolano. As tramas que reinventa a partir de personalidades e acontecimentos buscados na História pré-colonial, colonial e pós-colonial ajudam a construir uma identidade angolana através da reflexão que a narração e as observações facultam. A capacidade narrativa e o domínio preciso e erudito com que Pepetela manipula a língua portuguesa coloca-o na primeira fila dos grandes escritores contemporâneos. A sul. O sombreiro, a obra de que vos falo, é um romance histórico, e também de aventuras, estruturado em 27 capítulos. Nele podemos observar uma alternância de narradores. Surge, por vezes, na primeira pessoa evidenciando a opinião da personagem. Outras vezes, em terceira pessoa dando a conhecer a opinião de um narrador omnisciente. E ainda, algumas vezes, existem pequenas intervenções do autor fora do texto, colocando-nos na época em que lemos, alargando as informações recebidas e tornando-nos cúmplices da narrativa. É uma obra constituída por três núcleos narrativos autónomos que habitam a mesma época, de fins do séc.

L

Pepetela. Foto: Carol Reis XVI a princípios do século XVII, e caminham pelo mesmo espaço, de Luanda a Benguela com a metrópole em pano de fundo. No fim, coincidem, debaixo do Sombreiro, o morro que aconchega a baía de Benguela, criando apenas uma trama e fazendo o discurso convergir para a unidade. O primeiro narrador Simão de Oliveira, vigário de Benguela, introduz-nos Manuel Cerveira Pereira, por ele detestado e cuja expressão de abertura dá o tom à narrativa. Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela, é um filho da puta.(p.7). Ora é ele o narrador seguinte. Governador de Luanda primeiro, e explorador das terras de Benguela, depois. O terceiro narrador é o mestiço Carlos Rocha, provável descendente de Diogo Cão, como na origem mítica, todos os mestiços angolanos. Os dois

últimos narradores personagens formam a dupla que seguindo o mesmo caminho, por vias diferentes, nos embarcam nas peripécias de um tempo histórico de aventuras mil. Cada uma destas três figuras narradoras representa um poder dentro do espaço colonial e metropolitano: o da igreja católica, o da aristocracia, Portugal vivia sob a ocupação espanhola e o dos mestiços, resultado do cruzamento entre os brancos exploradores ou degredados e as negras africanas. Os naturais da terra não têm voz, se são escravos comprados e vendidos como “peças”, dentro e fora do território pelos seus pares e pelos europeus. Mas atuam se pertencem aos grupos de poder, chefes de tribos e reinos. Neste último grupo destacamse os jagas, os bárbaros. Um grupo de

guerreiros, mais ou menos nómadas, de várias etnias, educados para a guerra. Não cultivavam as terras e viviam do assalto, da morte com fins antropofágicos, e do rapto de mulheres e crianças de outras tribos. Numa estória com as suas regras próprias, de ocupantes e ocupados, os jagas semeavam o caos. O romance está recheado de informações sobre os costumes das várias etnias que ocupavam o território. Reconta-nos como viviam, se alimentavam, se deslocavam, as relações parentais que existiam, os jogos e as relações de poder entre os diversos reinos. Relata-nos como o poder europeu era executado na colónia, exercendo uma autoridade que permitia, aos poderes da igreja e aos aristocratas, a acumulação de uma imensa riqueza.

O fundo histórico evidência personalidades reais que na trama se apreciam como personagens tipo: Andrew Batwell, marinheiro inglês preso pelos portugueses no Brasil, desterrado em Angola foge da prisão e vive 16 meses refém dos jagas; Manuel Cerveira Pereira, governador e capitão-general de Luanda, de 1603/06 e de 1615/17; o rei jaga Imbele Kalandula; a Rainha Ginga; o tendala Mossungo e outras figuras históricas reinventadas na ficção. De início, o leitor depara-se com um texto recheado de personagens pouco diferenciadas, de nomes estranhos, que tem dificuldade em individualizar e exige um esforço suplementar de atenção. Passado esse desconforto, a aventura dos dois protagonistas, o governador e o mestiço, a quantidade de informações interessantes sobre a tradição e a vivência daquela época, o olhar isento do autor sobre o passado faz-nos navegar na história e perceber que o pretexto pela busca do lugar onde se encontra o túmulo de Diogo Cão é uma viagem por um passado desconhecido que ajudamos a reinventar.

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Sociedade & Cultura

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

PORTUGAL POST na Berlinale

Estreia Mundial do filme “O Comboio Nocturno para Lisboa” em Berlim O filme Night Train to Lisbon de Bille August estreou mundialmente na 63ª edição da Berlinale. Estiveram presentes o Presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, o Embaixador de Portugal em Berlim, Luís de Almeida Sampaio, o realizador e alguns dos actores. Jeremy Irons, Bruno Ganz, Jack Huston, Charlotte Rampling, Martina Gedeck, entre outros, são o elenco europeu de luxo deste filme, não esquecendo a participação dos actores portugueses Nicolau Breyner e Beatriz Batarda. O filme foi quase todo rodado em Lisboa e é uma adaptação do best-seller,“O Comboio Nocturno para Lisboa” de Pascal Mercier. O filme estreia nos cinemas de Berlim no dia 7 de Março. Cristina Dangerfiel-Vogt, Berlim

sualmente mais fortes (Raimund/Mariana e Amadeu/Estefânia) enquanto suprime um outro, fundindo-o neste último (Maria João/Amadeu). O recurso ao voice-over para as tiradas filosóficas de Amadeu, separa o tempo presente de Raimundo do tempo passado de Amadeu: da ditadura, de Salazar, da PIDE, do Tarrafal, da tortura. No livro Amadeu morre em 73, no filme o seu funeral é no dia da revolução de Abril – o que provocará mais associações e lembranças à audiência. O livro de Amadeu é o leitmotiv, o fio condutor, deste filme. Raimund descobre o livro, Um Ouri-

O

ves das Palavras, em sítios diferentes, no livro e no filme. Este foi o meio escolhido pelo realizador para reduzir e arredondar o início da história, isto é, lançar os dados da intriga, para a seguir nos ir desvendando o puzzle desta história, por camadas, enriquecendo-o visualmente e conferindo-lhe um passo mais rápido. No filme, o fim é formalmente diferente da obra do filósofo, mas prevalece na sua essência o carácter indefinido do futuro do protagonista e narrador Raimund (Gregorius). Night Train to Lisbon é também um passar de bilhetes postais da Lisboa antiga, estilo Viewmas-

ter interactiva. Uma Lisboa em sépia numa perspectiva do passado e uma Lisboa colorida pelos olhos de um turista; Lisboa vista por um estrangeiro, numa perspectiva camusiana, o que poderá criar estranheza aos lisboetas porque se poderão sentir estranhos na sua própria cidade. Mas é também uma Lisboa que apaixona e a que a voz de Maria de Carvalho e o som do Trio Fado em pano de fundo, em algumas cenas, traz ao público a melodia da língua portuguesa tão presente na obra de Mercier – no que foi, sem qualquer dúvida, um pormenor bem pensando por Bille August.

no Hotel de Rome em Berlim

À conversa com os principais protagonistas do filme “Comboio Nocturno para Lisboa” BILLE AUGUST

RECENSÃO - O FILME Night Train to Lisbon gerou muitas expectativas. Não apenas por ser uma adaptação de um romance filosófico difícil mas, e sobretudo, pelo nome do realizador que lhe aceitou o desafio e também pelo elenco de actores europeus escolhido. Sem dúvida que é uma boa adaptação ao cinema e uma interpretação bem conseguida das ideias filosóficas que constroem o livro. Porém, haverá quem possa sentir alguma irritação face à interpretação pouco ortodoxa e livre de Bille August. Embora o realizador não siga o enredo do livro passo a passo, ele consegue transmitir bem ao público as complexas ideias filosóficas presentes na obra de Mercier. O realizador usou de uma arrojada liberdade artística:

fez uma interpretação muito pessoal da obra e acelerou o ritmo da jornada, conseguindo, desta forma, criar um filme mais acessível ao público. Mas a irritação inicial passará ao fazer-se uma leitura aprofundada do livro “Nachtzug nach Lissabon”. Bille August conseguiu transmitir magistralmente para a tela o ambiente de mistério e as questões filosóficas que Raimund e Amadeu contemplam nas suas vidas: as suas reflexões sobre Deus, a vida, a jornada e a partida existencial de ambos, em diferentes tempos históricos. O realizador arrisca o balanço entre a obra literária e o filme quando ousadamente acrescenta episódios inexistentes no livro: a portuguesa que reaparece como neta do Carniceiro de Lisboa, Mendes, ou relacionamentos que passam a ser mais definidos e vi-

Bille August não é um estranho no mundo da adaptação de obras literárias ao cinema. Foi o realizador de “The House of Spirits” e “Fräulein Smillas Gespürr für Schnee” entre muitos outros filmes que realizou. A musicalidade da língua portuguesa está muito presente no livro. Contudo neste filme ela quase desaparece porque “por razões de financiamento da produção escolheu-se o inglês” – disse-nos o realizador. “Para compensar decidi que os actores falariam com sotaque português”. “É difícil transpor para filme a mistura de questões filosóficas e a profunda narrativa da história.” Por isso Bille teve que decidir sobre “o tipo de filme, qual é a

jornada e o que é a história, e excluir o supérfluo. O filme é sobre algo que falta na vida de Raimund. É sobre pessoas que vivem paixões e fazem citações filosóficas que reflectem as suas vidas.” “ A literatura é muito mais intelectual do que o cinema, que é um meio de expressão mais emocional, e o que fizemos foi procurar citações do livro que reflectissem a vida de Raimund em determinadas cenas. O voice-over foi o meio que encontrámos de reflectir a vida interior das personagens e de fazer avançar a história, senão teríamos que parar e dividir o filme em duas partes.” Sobre a escolha dos actores disse sentir que “havia uma certa química entre Jeremy e Martina e a audiência queria o Jim”. Jack Huston “é um actor de cenas históricas que consegue convencer que um rapaz daquela idade podia escrever daquela forma”. “Devido à crise há muitos edifícios abandonados. Filmámos a escola num edifício colonial abandonado”. No livro a história de amor entre Raimund e

Mariana é apenas sugerida mas “no filme ela serve para mostrar como ele se abre emocionalmente e Mariana é quem pode mostrar que ele ainda está vivo”. Bille adora a língua portuguesa mas “o problema foi que não podíamos financiar o filme em português. Vi vários filmes portugueses sobre a revolução, que eram bons filmes, mas que nunca foram vistos fora de Portugal. Por isso, pensei que se fizéssemos o filme em inglês isso abriria o mundo a Portugal, e penso que Portugal merece isso mesmo!”

JEREMY IRONS

“Não uso gravata” disse Jeremy


Sociedade & Cultura

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

aparecendo no seu kaftan maoísta. Gostou de voltar a trabalhar com Bille August, de quem é amigo. Diz que ele é um realizador que sabe o que quer, calmo e concentrado, muito sensível e amigável e que não gosta de trabalhar em ambiente tenso. Quanto a Raimund “ele não é particularmente atraente. É um homem que se acha maçador, esvaziado por um casamento infeliz. A sua mulher disse-lhe que ele é maçador, enfim, ele parece mesmo maçador! Em Raimund tudo é pequeno. É uma pessoa normal, sem carisma e foi isso que tentei criar. É difícil - quando se é alto e ainda se tem cabelo! Eu nunca me escolheria como Raimund. Teria procurado alguém que esteja a perder o cabelo e seja barrigudo!” É difícil dissociar Jeremy das personagens de outros filmes, como em the Lieutenant’s Woman, The House of Spirits, Damage. Raimund é muito mais fraco no livro do que Jeremy no filme. “As ideias filosóficas do livro são interessantes, mas não se

pode fazer um filme apenas sobre ideias filosóficas. O ambiente do livro está bem transposto para o filme. Mas livros e filmes são animais diferentes”. Jeremy sublinhou ainda que muitas vezes “os livros falam aos nossos pensamentos do subconsciente que não verbalizámos”. Raimund joga xadrez consigo próprio num cúmulo de solidão - uma imagem poderosa logo no início do filme. O actor nunca se ligou a um livro como Raimund. “Mas eu parto no comboio nocturno sempre que faço um filme. Comecei no teatro porque queria viver fora da lei, das regras. Queria ser cigano, trabalhar no circo ou no teatro. O meu primeiro trabalho no teatro foi uma aventura, nunca tinha feito teatro, mas gostei e fiquei. Mas nunca fiz como Raimund, criar uma nova personagem. Quem faz isso na vida real? Mas muitos o quererão!” “Raimund é definitivamente suíço, não poderia ser mais distanciado do Portugal revolucionário. Aborrecido e seguro, um país em

que nunca houve uma revolução e não participou nas duas grandes guerras.” Jeremy Irons esteve em Lisboa para as filmagens do filme The House of Spirits e naquela altura apenas dera um salto a uma discoteca no centro da cidade. Desta vez viveu no Palácio da Bela Guarda no Castelo. “Fui confrontado por uma Lisboa diferente: a das colinas, dos eléctricos, das fachadas deterioradas, das pequenas pessoas idosas a viver em casas degradadas e dos mercados e dos pequenos restaurantes. Foi maravilhoso, muito mais romântico e apaixonei-me pela cidade, seriamente.” Jeremy é também um activista pelo meio ambiente. Participou recentemente no filme Trash. “ “Lixo é um problema que nos afecta a todos. Há mais plástico no mar do que plâncton e por isso temos que mudar os nossos hábitos. As pessoas vão ver Trash porque eu estou no filme. Sinto que é um dever contribuir para a mudança de atitudes no mundo, mais

do que contar histórias que podem ser agradáveis para as pessoas individualmente mas que não vão mudar nada no mundo!” JACK HUSTON

Jack Huston foi Amadeu e por isso nunca contracena com Jeremy Irons – “andámos sempre desencontrados em épocas diferentes do mesmo filme”. Jack é um actor jovem, com um palmarés considerável, e que começou no teatro como é de tradição em Inglaterra. Contou-nos como foi falar com o sotaque de

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uma cultura que desconhecia totalmente. “Quando se pensa no sotaque não se consegue trabalhar, tem que se ganhar confiança na fala da personagem que se vai interpretar e só depois começar a rodar”. Para ele foi um desafio fazer Amadeu, entrar-lhe na pele. “Gostei muito da obra, especialmente da personagem Amadeu porque ele é um filósofo e um pensador. E nós próprios começamos a reflectir sobre as mesmas questões. Ele é um revolucionário do espírito. A sua revolução era a de Deus e da vida.” Amadeu é diferente de Jack mas ele admira-lhe o carácter, a sua sensibilidade e humanidade. “Ele pensa e filosofa sobre grandes temas da vida”. Mas Jack diz que não teria salvo a vida de Mendes, o agente da PIDE no filme. “Amadeu foi coerente com o seu dever de médico de salvar vidas. Isso é algo de incrível e difícil e foi interessante entrar nessa pele.” Diz ter sido um projecto maravilhoso. “Por vezes foi difícil porque as pessoas tinham ideias fixas sobre a personagem.” Huston vem de uma família de actores e realizadores. “Tenho orgulho na minha família, mas consegui fazer um nome por mim próprio”. Diz ser um nómada e que é um pouco de todo o mundo. “Gosto muito de ler. O meu avô (Walter Huston) dizia que cada filme que fazia era uma adaptação de um livro e dizia-me para eu ler, ler muito.”

Na Foto: A jornalista Cristina Dangerfiel-Vogt posa na companhia de Jeremy Irons num encontro no Hotel de Rome, em Belim, durante o qual o actor concede uma entrevista em exclusivo ao PORTUGAL POST . Foto PP


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Sociedade

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Única fábrica de sinos em Portugal regista a história de “todas as freguesias do país” Na rua da Cidade do Porto, em Braga, trabalha-se há mais de 80 anos no fabrico de sinos, numa empresa familiar que é a única do ramo em Portugal e que já produziu para todas as paróquias do país.

Para Arlindo Jerónimo, sócio-gerente e filho do fundador Serafim da Silva, “o sino é um instrumento musical e, como tal, tem de ter uma nota devidamente afinada”. É por isso que continua a supervisionar a fundição dos maiores “instrumentos”, a poucos metros das temperaturas de 1.040 graus, necessárias para fundir o bronze. A empresa, criada em 1932 e que actualmente emprega 40 trabalhadores, fabrica “entre 220 e 230 sinos por ano”, trabalhando sobretudo para o mercado interno, mas exportando também “alguma coisa para Espanha, França, América Latina e para os países de expressão portuguesa”, disse Arlindo Jerónimo, depois de acompanhar a fundição de um sino de carrilhão. “Fazemos sobretudo sinos para igrejas, mas também para edifícios

Arlindo Jerónimo, sócio-gerente da A Serafim da Silva Jerónimo & Filhos, Lta. públicos, como câmaras municipais ou escolas”, explicou, lamentando que em Portugal não haja “muitos sinos conhecidos”. Arlindo Jerónimo recordou , de entre os milhares de sinos que já produziu, o fabrico dos do convento de Mafra, para além do restauro dos sinos do Palácio da Ajuda e da Basílica da Estrela, ambos em Lisboa. “Usamos a argila para fabricar a

parte interior do sino. Depois, construímos o que chamamos de falso sino, onde é colocado todo o alto-relevo em cera. Vem, depois, a terceira forma, que será a parte exterior do sino”, explicou. “Quando as duas primeiras formas estão prontas, retiramos a terceira, partimos a do meio que é o falso sino, voltamos a colocar a terceira na primeira e preenchemos o

espaço que sobra com o bronze, que é uma liga de 78 por cento de cobre e 22 por cento de estanho”, sublinhou o fabricante, para concluir que “este é o processo normal de uma fundição de sinos.” Segundo o herdeiro de A Serafim da Silva Jerónimo & Filhos, Lta., a empresa produz para “todas as freguesias do país”, prestando assistência aos “milhares de relógios e sinos” que

existem em todo o território nacional. “O sino funciona como um coro de cinco vozes: se está afinado, é um coro perfeito, se não, é um coro desafinado”, afirmou Arlindo Jerónimo, referindo que até já cedeu alguns sinos para a orquestra da Gulbenkian. Depois de mais de oitenta anos enquanto único fabricante destes instrumentos em Portugal, a empresa acabou por saturar o próprio mercado, pela que reagiu à quebra do negócio com o fabrico de relógios computadorizados, órgãos de igreja ou restauro dos milhares de sinos que badalam por todo o país. O processo de fabrico é já milenar, revela Arlindo Jerónimo. “Já antes de Cristo se faziam sinos com este processo, que sofreu apenas alguns melhoramentos. Não dá para fazer muito mais, na medida em que é uma peça artesanal que tem que ser feita com muito cuidado e atenção”. “E depois tem todo aquele rendilhado ou imagens dos santos padroeiros das freguesias para que são feitos. Cada sino representa a história da paróquia para que é feito. De facto, também é uma peça que fica para o registo daquela freguesia”, disse. Lusa, tetxto e foto PUB

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Sociedade

PORTUGAL POSTNº 224 • Março 2013

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Emigrantes desesperados à procura do futuro

A União Europeia exporta a pobreza para a periferia e furta-lhe a mão-de-obra A Alemanha precisa dum contingente de 400.000 imigrantes por ano para equilibrar a o défice demográfico. O problema da diminuição da população alemã com os consequentes problemas para o pagamento de reformas futuras, segurança social equilibrada e pagamento das dívidas, anteriormente prognosticado por cientistas, já não mete medo devido à crescente imigração para a RFA. António Justo, Kassel

À Imigração precária segue-se a Procura da Imigração qualificada A Alemanha que nos anos 60 precisava de trabalhadores desqualificados para dar resposta ao milagre económico alemão necessita hoje de mão-de-obra qualificada para as novas apostas no futuro. Outrora, com a imigração carente provocou a concorrência a nível de classe operária nacional e estrangeira, conseguindo iniciar assim um nivelamento do operariado pela base. Foi a fase da concorrência entre as camadas baixas da sociedade. Disciplinou a classe obreira para o combate económico iniciado com a globalização. Actualmente procura-se disciplinar e dominar a camada social média. A luta passou a dar-se entre a camada média alemã com os seus técnicos e a classe média estrangeira, imigrantes especialistas internacionais. Assim a Alemanha consegue manter-se como o lugar privilegiado da tecnologia e do desenvolvimento, assegurando assim para a Europa a vanguarda do progresso tecnológico e económico. A crise do Sul da EU beneficia os povos mais ricos que, por sua vez, desestabiliza os estados da periferia. Exercita neles possíveis cenários de conflitos laborais e sociais de gerações vindouras dos actuais países fortes. Portugal é o país que exporta mão-de-obra mais qualificada deixando assim um buraco de menor produção no país. Estes emigrantes são altamente motivados e contribuem, pelo seu perfil biológico e currículo para o incremento do nível social alemão (países fortes) e consequentemente para o empobrecimento do nível social português/ da periferia. Geralmente emigram os melhores, com maior espírito criativo e de mobilidade. A Alemanha absorve 400.000 imigrantes por ano A Alemanha precisa dum contingente de 400.000 imigrantes por ano para equilibrar a o défice demográfico. O problema da diminuição da população alemã com os consequentes problemas para o pagamento de reformas futuras, segurança social equilibrada e pagamento das dívidas,

anteriormente prognosticado por cientistas, já não mete medo devido à crescente imigração para a RFA. A crise do Sul beneficia os povos mais ricos para onde emigram. Segundo relata a revista “manager magazine” 1/2013 alemã conta-se, pelo menos, com um aumento de 2,2 milhões de habitantes na Alemanha até 2017, e, perante a “tristeza de depressão do sul da Europa”, a afluência podia até aumentar. Este ano a imigração para a Alemanha já atingiu os 400.000; isto corresponde a duas cidades médias por ano.

Erro crasso dos Governos do Sul Em 2011 emigraram 44 mil portugueses. Portugal e os países da periferia ficam com as dívidas, com a sangria da sua juventude qualificada, com as pessoas idosas a manter e com um operariado não confrontado com a concorrência operária (entre firmas) mas sim com o receio entre emprego e desemprego. No século passado estados nacionais compensavam a sangria, provocada pela emigração, com uma maior natalidade e com as remessas dos emigrados. Nessa altura as potências europeias viam no incremento da imigração uma espécie de apoio ao desenvolvimento económico dos países pobres considerando as remessas como crédito para estes países poderem pagar as suas encomendas. Hoje esta seria uma conta errada tanto para os estados credores como para os devedores. A situação dos países devedores é tal que para poderem alimentar o povo e evitar revoltas sociais terão de exigir uma nova ordem económica na Zona Euro. Dado os países fortes serem os beneficiados desta zona teria de ser criado um instrumente equilibrador das diferentes regiões económicas. Os países economicamente fortes teriam de efectuar uma transferência solidária de dinheiros para as regiões mais fracas. Além disso na Alemanha unida há o “imposto de solidariedade” que cada empregado paga para que a zona da antiga Alemanha socialista (DDR) consiga atingir o mesmo nível de vida da antiga parte ocidental da Alemanha (BRD). Esta contribuição de solidariedade corresponde a 5% dos impostos que se pagam. Pelo que se observa os nossos po-

líticos deixam-se enganar hoje com as remessas dos emigrantes como ontem com os apoios da EU. A mão-de-obra especializada é a melhor ‘matériaprima’ dum país moderno. Portugal, conjuntamente com os países da periferia, repete hoje o mesmo erro que cometeu com a política de fomento da União Europeia limitando-se a dar resposta às imposições do grande capital internacional. Os governos tornaram-se nos servidores do capital internacional aplicando apenas as suas directrizes estruturais. Há porém uma grande diferença entre as pequenas economias e as economias dos estados potências. Estes têm as políticas aferidas às suas elites financeiras enquanto os estados pequenos não têm elites financeiras capazes de estratégia política para concorrer a nível internacional. A EU implementou a construção das infraestruturas da periferia com avultados apoios financeiros, créditos e investimentos a fundos perdidos. As grandes multinacionais europeias em parcerias com os seus estados através da política da EU, conseguiram assim aproveitar-se dos fundos europeus fazendo investimentos nos respectivos países. Passados poucos anos as firmas abandonaram os países levando com elas os lucros para os investirem na competição das firmas a nível global (China, etc.). Provocaram a ruína das firmas autóctones rudimentares e deixaram as economias nacionais destruídas e consumidores exigentes. A colaboração dos Estados fortes com as suas empresas no investimento do desenvolvimento tecnológico faz destes estados os lugares privilegiados na renovação tecnológica, a única estratégia capaz de manter a supremacia sobre os países emergentes. A Alemanha é a nação da EU mais preparada e vocacionada para dar resposta ao desafio do futuro. A criação do euro não passa duma tentativa estratégica e capitalista para disciplinar a política, os estados e o operariado.

Remessas de 2.254,580 milhões de Euros para Portugal em 2012 O maior aumento de remessas dos emigrantes em relação a 2011 foi o da Alemanha que passou de 92,1 milhões para 142,7 milhões €; na França diminuiu de 749,8 milhões € para

712,9 milhões €. Segundo as estatísticas do Banco de Portugal as remessas dos emigrantes portugueses para Portugal atingiram, nos primeiros dez meses de 2012, os 2.254,580 milhões de Euros. Isto são os números oficiais porque há muito outro dinheiro que se leva directamente para Portugal. Os países de maior envio foram: França 718,934 milhões €, Suíça 540,870 milhões € (230mil portugueses), Angola 219,072 milhões € (100.000 port.), Alemanha 142,732 milhões € (92 mil port.), EUA 113,922 milhões €, Reino Unido 107,708 milhões (84 mil portugueses). Espanha 105,595 milhões € (146 mil port.), Luxemburgo 62,464 milhões €; Bélgica 42,057 milhões €, Canadá 39,370 milhões €. Numa era em que os estados nacionais se dissolvem, a europeização se alarga e a instabilidade económica aumenta e os emigrados não se sentirão a aumentar remessas para zonas instáveis. Já hoje, muita dos emigrantes da velha geração, que se encontra reformada, não se sente motivada a regressar e chega mesmo a lamentar o não ter investido atempadamente na nação de residência em vez de o ter feito na nação mãe. Isto nota-se principalmente nas mulheres. A nova geração de emigrantes fará uma aplicação mais racional que emocional das suas poupanças. Prevendo-se isto urge uma nova política nacional e europeia. A actual política da EU revelarse-á catastrófica para o sul. Enquanto o sul sofre a Alemanha (e países centrais) esfrega as mãos de contente. Os imigrantes provenientes da periferia europeia são bem-vindos porque são trabalhadores qualificados e não causam os problemas de guetos que os imigrantes muçulmanos criam. Para agora chegam os imigrantes da periferia e têm a vantagem de serem mais qualificados; por isso se reserva para mais tarde o fomento da angariação os emigrantes da África do Norte, Ásia, etc. Assim não se precisa de prover a uma política de família responsável. Em 2012 a Alemanha deu trabalho a 25.000 especialistas imigrados provindos de Espanha, Portugal e Grécia. As firmas recrutam o pessoal de forma objectivada procurando engenheiros nos ramos de engenharia de

construção e engenharia elétrica. Recrutam os melhores absolventes das faculdades estrangeiras, tal como sempre fizeram os americanos. Principalmente o sudoeste alemão aponta para o futuro apostando na imigração qualificada. Há agências especializadas no recrutamento de engenheiros e profissões qualificadas. A união do mercado europeu favorece os seus epicentros da economia. Assim podem com os imigrados manter as indústrias no país não precisando de fundar sucursais nas periferias. Muitos médicos e engenheiros emigram também devido à atracção da estabilidade social alemã. Um aspecto interessante de algumas firmas pequenas alemãs é o facto de se preocuparem também com o bemestar familiar do empregado, apoiando-o, por vezes, no sentido de encontrar lugar de trabalho também para a namorada. Para a nova geração de emigrantes é muito importante a estabilidade.

EU actualmente ao serviço do grande capital A União Europeia (EU), desde o início, desenvolveu uma estratégia de fortalecimento das suas elites financeiras através do fomento da EU e da criação do Euro para elas poderem fazer frente às elites financeiras americanas e mundiais. As nações fortes da Europa elaboram as suas políticas com base em prognoses e programas económicos científicas a longo prazo. Assim asseguram o bem-estar dos seus cidadãos dando resposta adequada aos problemas do seu futuro económico. As nações mais débeis, porque não têm grandes elites económicas, limitam-se a reagir às macropolíticas sem pensar nos verdadeiros objectivos a elas subjacentes. Nos anos oitenta e noventa a Alemanha seguiu uma política de fortalecer as grandes empresas nacionais para estarem preparadas para o combate económico da globalização; essa política revelou-se nacionalmente inteligente por dar resposta ao grande problema da concorrência com os países emergentes e a fortaleza da sua indústria atrair imigrantes técnicos que compensam a falta de mão-de-obra devida à baixa natalidade (o grande problema do futuro).


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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Manuela Aguiar, ex-secretária de Estado das Comunidades

“A emigração têm feito parte da minha vida ao longo dos últimos 25 anos” Manuela Aguiar é uma personalidade conhecida das comunidades devido à sua acção enquanto governante à frente da Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas por diversos anos e, por mais duma década, deputada eleita pelo circulo da Europa nas listas do PSD. Após deixar a política partidária, Manuela Aguiar entregou-se a causas como Feminismo e Direitos Humanos e Migrações sem nunca esquecer as questões das comunidades portuguesas no mundo que ela conhece tão bem, sendo também uma das fundadoras da Associação Mulher Migrante no Mundo? Aproveitando a sua estadia na Alemanha, nos dias 14 e 15 de Dezembro passado, onde esteve em Mainz e Wiesbaden, acompanhada por Rita Gomes e Graça Guedes, vindas também de Portugal, tendo como anfitriões a Associação “Marias, Corações de Portugal”, sediada na UDP de Mainz, o PP não quis perder a oportunidade para falar com Manuela Aguiar Dez anos depois do 1ª Encontro, em 1995, realizámos um novo Encontro Mundial, com mais de 300 participantes, muitos vindos dos cinco continentes e, a partir daí, estabelecemos uma rede de núcleos e representações, que está em crescimento. E temos „ associações irmãs“ na Argentina, já com um longo e excelente percurso, sobretudo no domínio social, e na Venezuela, esta constituída há poucos meses, em Novembro de 2012. O ano passado foi um período de grande expansão, na América do Sul e na Europa. O movimento estáse a iniciar na Inglaterra - as „Lusófonas de Londres“Acredito nas virtualidades do chamado „congressismo“ - debates, colóquios, grandes encontros internacionais, sobretudo quando servem para apresentação de estudos e teses científicas, para partilha de experiências, quando dão uma visão comparatista dos problemas e das soluções, e quando são seguidos de institucionalização, base de futuras acções com a imprescindível continuidade. Nem sempre se consegue. Nós levamos a „mensagem“, mas quando a obra surge o mérito vai para quem trabalha em concreto nessa comunidade, nesse projecto, de forma totalmente autónoma ou em colaboração connosco. Entrevista conduzida por José Gomes Rodrigues (Com Maria do Céu Campos) ue objectivos persegue a Associação Mulher Migrante no Mundo? Costumo dizer que esta associação, criada em 1993, tem uma história maior do que a que começou com a sua própria vida, porque quase todos os fundadores estiveram ligados, em 1985, á realização do 1º Encontro Mundial de Mulheres Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo - uma iniciativa que, por sinal, tornou Portugal um país pioneiro na audição das mulheres emigrantes com o objectivo de promover a sua participação mais activa na vida cívica e politica. Uma das recomendações do 1º Encontro Mundial foi a criação de uma instituição que pudesse congregar as mulheres na luta pela igualdade, através das fronteiras. Como esse passo não fora ainda dado deci-

Q

dimos nós, 8 anos depois, constituir a Mulher Migrante, Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade“ (AEMM). A designação da Associação é um pouco longa, mas chama a atenção para as 3 vertentes em que trabalhamos, tanto em favor das estrangeiras em Portugal como das portuguesas emigradas. Uma grande parte da nossa actividade está, assim, centrada no País. A AEMM tem sido, internamente reconhecida com a eleição, por larga margem de votos, para Comissão Municipal de Interculturalidade e Cidadania (Lisboa) e para o Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade É associada do Alto comissariado para para a Imigração (ACIDI), colabora com outras associações, com Universidades, Escolas e Câmaras Municipais.

Como profunda conhecedora da situação da mulher na emigração, pelos seus aturados e profundos estudos, secundados pelo interesse sempre manifestados, que diferenças e semelhanças encontra entre a Mulher emigrante na Europa e na América? emigração têm feito parte da minha vida ao longo dos últimos 25 anos. É um domínio que me interessa pessoalmente, humanamente, muito para além de cargos políticos que exerci no passado, cada vez mais distante. Não pretendo ser uma autoridade na matéria, mas reconheço que tenho observado, acompanhado e procurado agir em favor da melhoria do estatuto de direitos e da abertura efectiva à participação igualitária dos emigrantes, sem esquecer as mulheres. Vejo a emigração, ao contrário do que se previa e dizia, como uma via de emancipação das mulheres, por-

que, em geral, lhes dá acesso ao homens a assumirem crescentemente mundo do trabalho, e, com isso, autoa parentalidade, as obrigações no lar nomia e uma boa integração na nova e as mulheres a intervirem, como cisociedade, que acaba por influenciar dadãs e profissionais, fora de casa, poderosamente a integração de toda a onde estavam tradicionalmente „emfamília. Na Europa essa é, de facto, a paredadas“. regra. Nos EUA e no Canadá, tamEu adiro ao adjectivo que usou: bém. Por isso, nesta parte do mapa equilíbrio salutar! O equilíbrio é semdas nossas migrações há mais semelpre salutar. Permite a cada um escolhanças do que diferenças, no que reher o seu caminho, sem a barreira dos speita à situação das portuguesas. preconceitos, que predeterminavam Nos outros continentes há mais as funções de cada sexo. É no pluramulheres que se mantêm nas funções lismo de opiniões, de sensibilidades e tradicionais. Quanto mais elevado é o de culturas, no qual se engloba a comrendimento ou estatuto do marido, ponente de género e geração, que a mais isso tende a democracia caminha acontecer, mas prae se aprofunda. Por ticamente só na 1ª isso, para acelerar o geração. As jovens Há no associativismo ritmo das transformaenveredam, quase ções, no campo da lugar para uma maior política, sempre detodas, por carreiras intervenção feminina, fendi o sistema de profissionais, para orgulho de suas quotas para chegar à em outros moldes, mães. No que reem outros patamares. paridade, com base na speita ao percurso presunção realista da Estar na cozinha, asse- igualdade de capacifeminino no nosso associativo, os obs- gurando uma das prin- dades entre os sexos. táculos têm sido cipais fontes de receita Como costumo enormes, embora dizer, „à sueca“! Os das colectividades, haja progressos, resultados estão à manter „a casa em aqui e ali, mas não vista, tanto na Suécia ordem“, como acon- e outros países nórdiainda genericatece na sua própria mente. Este é um cos, como no sul da dos dados de facto casa, é certamente im- Europa, com a que explica a subportante. Mas porque Espanha à frente. A sistência do associarecente introdução de não poderão também quotas para mulheres tivismo feminino e que justifica a ne- pertencer às direcções? e homens na adminiscessidade do seu tração de empresas crescimento. Pessoalmente, penso privadas, em países pioneiros, como que o equilíbrio de género no diria Noruega ou o Canadá, traduziu-se gismo associativismo é o ideal, a meta em ganhos enormes de produtividade final. e de lucros. Mostram-no os números, Nós, na AEMM, temos como objectivamente. E não creio que membros de pleno direito mulheres e sejam frutos de uma superioridade fehomens, que, lado a lado, lutam pelas minina, mas sim da conjugação criamesmas causas. As questões de gétiva de modos diversos de ver e de nero respeitam a todos e todos devem actuar de homens e mulheres. contribuir para sociedades mais jusÉ o efeito do equilíbrio salutar, tas, mais inclusivas e, por isso, tamque a AEMM tanto se empenha em bém mais eficazes e até mais felizes... promover em clubes e associações.

Sabemos que o papel da mulher seja na família, no trabalho e na sociedade em geral, tem sofrido enormes alterações na história. Pode dizer-nos algo sobre a temática? como pode a mulher encontrar um equilíbrio salutar? Dr. Manuela Aguiar: A ideia da igualdade de género faz hoje um percurso triunfante em sociedades democráticas, mas não podemos esquecer que é coisa muito recente - décadas, menos de um século - e que, em grandes regiões do mapa-mundi, persistem situações de verdadeira escravatura das mulheres. A revolução democrática passa pelo interior da família, que agora assume o seu governo em dialogo de marido e mulher, iguais em direitos e em poder de decisão. Famílias mais dialogantes também em relação aos filhos. Com os

A sua visita relâmpago à associação “Marias de Portugal” de Mainz/Wiesbaden surtiram os efeitos desejados? Quais foram os critérios escolhidos para essa visita concreta? Ao longo dos anos, fizemos várias visitas semelhantes, quase sempre preparadas com antecedência, mas concentradas no tempo de estadia, que é sempre breve. A forma como decorrem, o número e qualidade das intervenções podem ser um bom presságio, mas o mais importante é o dia seguinte. É a sequência! Temos essa experiência vivida desde os „Encontros para a cidadania“, que levamos a cabo em vários continentes e países, entre 2005 e 2009, com o apoio muito directo do Secretário de Estado António Braga. Uma forma de parceria que prosseguimos com o Dr José Cesário. Devemos-lhe o estímulo


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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Manuela Aguiar, ex-secretária de Estado das Comunidades

“Sem Mulheres, não há reforma no associativismo“ e o apoio para a realização do Encontro Mundial de Mulheres da Diáspora em Novembro de 2011. A partir daí, a convite de participantes desse Encontro, relançamos iniciativas de mobilização das mulheres das comunidades, para maior intervenção, com desenvolvimento de projectos, como o das universidades seniores (ou academias e tertúlias de convívio para os mais idosos), ou a recolha de narrativas de vida, que são meio insubstituíveis de fazer a própria história da emigração no nosso tempo. Ultimamente, temos posto o acento também no domínio cultural, na defesa da língua, nas artes plásticas, na escrita - aquele em que as mulheres são já iguais aos homens. Há que realçar esse facto, para que sirva de estímulo a outras mulheres. Foi o que procuramos fazer em 2012 em diversas comunidades, em algumas já com resultados visíveis. Noutras, caso da Alemanha, que foi a última do ano, é cedo para fazer o balanço. Foi através da Maria do Céu Campos, uma das mais activas participantes no Encontro Mundial de 2011 e a nossa principal interlocutora na Alemanha, que obtivemos o contacto de Maria Kosemund e das outras organizadoras das reuniões de Mainz e Wiesbaden. Acredito que tentarão concretizar as principais propostas aí apresentadas. E queremos continuar o trabalho noutras regiões, com outras comunidades. Como vê o papel concreto da mulher no associativismo na Alemanha? Será que haverá ainda um espaço especifico para a sua atuação? se sim como? A meu ver, na Alemanha, como um pouco por todo o lado, há no associativismo lugar para uma maior intervenção feminina, em outros moldes, em outros patamares. Estar na cozinha, assegurando uma das principais fontes de receita das colectividades, manter „a casa em ordem“, como acontece na sua própria casa, é certamente importante. Mas porque não poderão também pertencer às direcções? Aí poderão inovar, tornar as sedes mais atraentes para os jovens, que tendem a afastarse, para os mais velhos (que lá poderiam, como em algumas já acontece, ter o seu „centro de dia“, a sua „universidade sênior“, a sua margem de intervenção), para as próprias mulheres, para acolher os emigrantes que estão a chegar... Hoje, em muitas regiões do mundo, fala-se de decadência do associativismo, da dificuldade de encontrarem dirigentes. Dar lugar às mulheres duplica o campo de recrutamento e pode trazer interessantes propostas, num novo relacionamento de género e geração. Acredito que isso aumentará a convívios e os dinamismos sociais, que pode igualmente ser favorecido por esquemas mais informais de organi-

zação, como grupos de reflexão e de intervenção social, círculos culturais, literários, musicais, simples tertúlias de amigos, vindos dessas „minorias“ mais marginalizadas, se souberem atraí-las à sede das associações. Na nossa mais recente publicação, uma revista que tem por título“Entre Por-

no percurso migratório individual. Como nós amamos Mãe e Pai a 100%, também podemos amar duas culturas e dois países a 100%. Acredito que as Portuguesas da Alemanha serão sempre portuguesas e espero que se sintam, também, alemãs, correspondendo à vontade da Alemanha

tugal e que nós lembramos, recentemente, numa sucessão de colóquios, no Teatro da Trindade, em Lisboa, no Guarani, no Porto, em bibliotecas, em escolas, com publicações, cujo lançamento é ocasião para novos debates. Isso tem acontecido no país, de norte a sul, e é nosso propósito estender a

cresceu numa família de várias cores políticas, desde monárquicos a socialistas. Apesar das profundas divergências políticas no seio da sua família, o respeito e a amizade sempre imperavam. Foi o político Mota Pinto, ao formar um governo de iniciativa presidencial, nos anos 78/79, que a convidou para o seu projeto governativo. Foi e é admiradora e seguidora dos ideais políticos e congruentes de Sá Carneiro com quem nutriu uma sincera amizade. Foi Secretária de Estado do Trabalho. A Social Democracia Sueca sempre a orientou nas suas decisões. O que conta não é, em primeira linha, a subjugação partidária de projetos, mas sim o serviço e o benefício humano dos mesmos. Entrou no PSD simplesmente por coerência política. O seu trato afável e frontal granjeou-lhe muitos amigos, mesmo junto dos seus oponentes políticos. As suas propostas mereceram o apoio e o consenso majoritário incluindo o dos seus opositores partidários, no parlamento. Era a seriedade e a importância com que as apresentava. Mais tarde foi Secretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas por diversos anos e, por mais duma década, deputada eleita pelo circulo da Europa. Educada num colégio das irmãs Doroteias sabe dar o devido valor a quem se dedica às causas humanitárias na Migração, sejam Missões Católicas, Caritas, Associações criativas e de solidariedade sócio-cultural. Consegue apreciar o bom trabalho isenta do colorido partidário, ao ponto de se expressar, deste modo, numa intervenção do FB:“a política não pode ser politiquice”.

A Dra. Maria Manuela Aguiar

tuguesas num mundo sem fronteiras“, entrevistámos o Dr. José Cesário e fizemos manchete com esta sua declaração „sem Mulheres, não há reforma no associativismo“. É verdade e é bom que os governantes o reconheçam. A Alemanha é um pais que, no concerto europeu, está a dar uma grande importância e a fazer um esforço à integração da população estrangeira na sociedade, como definiria, neste contexto, a ligação das mulheres a Portugal? A história da emigração portuguesa mostra que os laços de ligação ao País não se perdem com o enraizamento noutras sociedades. Pelo menos no que respeita às primeiras gerações. E, às vezes, também até nas gerações seguintes, muito por mérito e influência das Mães e das Avós, que ensinam aos jovens a sua língua e a afeição à sua cultura. Os governos não conseguem alterar isto! Sabemos bem que não só a Alemanha, mas quase todos os países europeus de imigração desenvolvem, mais ou menos abertamente, políticas de pura assimilação dos estrangeiros, ao contrário do que acontece nas Américas, em países construídos por gente de todas as origens e, por isso, conscientes de uma identidade nacional feita de diversidade étnica e cultural. Ao longo da minha vida na política lutei sempre pela dupla nacionalidade, dentro e fora do país, na Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa, na qual fui representante de Portugal durante 13 anos. Considero que dupla nacionalidade corresponde à dupla ligação genuína, sentida a duas Pátrias, unidas

de as tratar como tal. E ainda bem ainda bem que superou a tese dos imigrantes como „trabalhadores convidados“. Que projectos concretos para a Mulher Migrante gostaria de implantar na Alemanha e como? Financiamentos, espaços disponíveis e com que cooperadores/as? Gostaríamos de contribuir para um melhor conhecimento do papel das portuguesas na sociedade alemã, para um movimento de cooperação entre elas e de poder dar testemunho dessa realidade nas nossas publicações, divulgando-a junto das nossas associadas em outros países. De ser um elo de ligação entre as Portuguesas da Alemanha e as Portuguesas com quem já cooperamos noutras latitudes. Referirei alguns dos projectos que lançamos para cumprir as recomendações do Encontro Mundial de 2011: as Academias Seniores de Artes e Saberes (ASAS), a recolha de histórias de vida, de que já falei, o levantamento da situação das mulheres no dirigismo associativo, o acompanhamento da nova emigração, com estudos, estatísticas, abordagem dos seus problemas, enfoque nas suas realizações, debate sobre as duplas pertenças e a capacidade muito feminina de preservar o património cultural (as mulheres guardiãs da cultura e promotoras de integração, como disse), e ligado a este aspecto, a preservação da memória, a homenagem a mulheres excepcionais, que foram forçadas ao exílio, como Maria Lamas e Maria Archer, jornalistas, escritoras, que dedicaram a vida à luta pelos direitos da mulher, e pela liberdade e democracia para Por-

iniciativa às comunidades, destacando exemplos da emigração do passado para pensar a do futuro. Há muito mais a fazer, na linha das propostas feitas pelas Emigrantes no congresso de 2011! Pergunta-me como resolvemos a questão de encon-

trar locais para as nossas reuniões. Em regra, contamos com outras instituições que nos abrem as portas, em salas de associações, anfiteatros de municípios ou universidades, bibliotecas públicas e Embaixadas e consulados que nos têm apoiado de forma extraordinária, sempre que pedimos a sua mediação. Nós como imprensa presente na Alemanha, como podemos ser úteis para realizar este seu sonho? Um jornal prestigiado, um jornal que vive no centro das comunidades portuguesas e lhes dá voz, é, evidentemente, um interlocutor esplêndido! Queremos contribuir para as transformações de mentalidades, atitudes e a imprensa é instrumento fundamental para atingir esses fins, para promover a mudança de opiniões, o combate aos preconceitos. Estou a lembrar-me de uma série de debates que realizámos, há alguns anos, nos EUA e no Canadá sobre „acção e representação das mulheres nos media“ - e em que foi bem destacado o papel dos jornalistas e dos jornais nos avanços registrados na forma de ver e reconhecer as emigrantes. Em nome da AEMM agradeço esta oferta de cooperação e, desde já, manifesto o nosso desejo de corresponder. À Maria do Céu Campos e ao José Rodrigues já os consideramos aliados para muitas futuras ações. Publicidade oferecida


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Consultório

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

José Gomes Rodrigues rodrigues@live.de

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Pensões, outros rendimentos paralelos e o fisco Caríssimos amigos e companheiros do Portugal Post Os meus mais respeitosos cumprimentos. Já há alguns anos que nos encontramos reformados. Sempre paguei para as finanças! Será que também terei de descontar para ao fisco como reformado, apesar das nossas reformas e dos poucos Euros a juros que possuímos no banco? Indique-nos como devemos fazer e se mesmo somos obrigados a tal. Desde já os nossos agradecimentos e aproveito para vos desejar muita vida pois soube que haveis festejado os 20 anos de existência e sempre a informar os compatriotas. Obrigado! leitor devidamente identificado Nós também agradecemos as suas tão simpáticas palavras. Sempre foi o nosso lema, servir o melhor possível os nossos leitores. A informação social e jurídica constituiu sempre uma preocupação nossa. A. Conselhos úteis sobre o tema em forma de perguntas Mais de um milhão de cidadãos

na Alemanha entram anualmente para a merecida pensão. Inicia então uma nova vida, vida diferente. São muitas as perguntas que surgem e a necessitar de diversificadas respostas, umas mais urgentes que outras. Estas incidem, na sua maioria, na segurança financeira e procuram-se respostas adequadas para evitar conflitos com as finanças. Vamos tentar levantar o véu e responder às perguntas que mais poderão surgir e preocupar os compatriotas neste Outono da vida.

seu pagamento. A Lei de finanças para os pensionistas entrou em vigor em Janeiro de 2005. Neste ano só 50% das pensões estavam sujeitos ao pagamento do fisco. Anualmente e gradualmente vai aumentando essa quantia a ter sempre em conta para a sua liquidação. Com calma, apesar de parecer difícil, verá que é fácil compreender este tema.

2. Afinal, a pensão não está isenta de contribuições fiscais?

A partir desta data, todos as reformas estão anualmente sujeitas a contribuições fiscais, mas somente parcialmente. Cada ano de pensão aumenta a quantia sujeita ao fisco conforme a seguinte tabela : e, deste modo, se diminui anualmente em 2% as até se atingir 100%, se acaso não houver futuramente nova alteração a esta lei do fisco sobre pensões.

Infelizmente não, apesar de correr no meio de muita boa gente a informação contrária. Claro que muitos pensionistas não necessitam de pagar qualquer soma para as finanças. É que à reforma podem ser deduzidas várias quantias o que pode diminuir, em muito casos, a fatia para o pagamento ao fisco. Gradualmente vão aumentando em número os reformados que obrigatoriamente estão sujeitos ao

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3. Afinal, o que é que se alterou a partir de Janeiro de 2005?

De forma alguma. As finanças podem, sem grandes problemas, e a cada altura, averiguaram as suas fontes de rendimentos. Desde 2006 as finanças têm acesso à caixa de reformas, a outras caixas sociais, aos seguros privados e outros. Estas instancias tem o dever de informar as finanças locais sobre todas as alterações e movi-

Ano de inicio da reforma “ “ „ „ „ „ „ „ „

4. Não haverá uma maneira de se escapar a este dever?

5. Afinal são todos os reformados obrigados a declarar os rendimentos? Tal e qual! Só quem demonstrar que os seus rendimentos não ultrapassem a quantia base isenta de impostos, que é o Rendimento

2005 pensão isenta de contribuições fiscais: 2006 “ 2007 „ 2008 „ 2009 „ 2010 „ 2011 „ 2012 „ 2013 „ 2014 „

mentos. Isto significa que estas estão à espera que o pensionista faça e apresente a declaração escrita dos seus rendimentos. Se isto não acontecer ela tomará então a iniciativa de exigir que o faça dando os prazos legais para o fazer. Claro que, além de ser obrigado a devolver os valores em dividas, pode ser-lhe aplicado uma

O consultório jurídico tem a colaboração permanente dos advogados Catarina Tavares, Lisboa, Michaela Ferreira dos Santos, Bona e Miguel Krag, Hamburgo

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multa adequada.

50% 52% 54% 56% 58% 60% 62% 64% 66% 68%

Mínimo Grantido (Existenzminimum). Então sim ficará livre de pagar impostos. Esta quantia é atualmente e a partir de 2013 de 8130 € para pessoas singulares os ou de 16.260 € para o casal por ano. 6. Acha mesmo que as finanças têm conhecimento

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Atestado médico já no primeiro dia de baixa? Miguel Krag, Advogado

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Caro/a Leitor/a: Se é assinante, avise-nos se mudou ou vai mudar de residência

Sempre que o trabalhador adoecer por um período superior a três dias, terá de apresentar um atestado médico ao seu empregador. Deverá entrega-lo o mais tardar até ao quarto dia de baixa. É o que está previsto na lei sobre a continuação do pagamento de ordenados. Porém, e se o empregador exigir o atestado logo no primeiro dia em que se adoece? Em princípio, e nos termos do § 5, frase 3 da lei mencionada, o mesmo poderá exigir tal atestado mais cedo. Até agora, punha-se a questão de saber até que ponto esta decisão do empregador dependeria de determinados pressupostos. Não estava claro, em especial, se essa exigência se devia a comportamentos anteriores do trabalhador. Foi sobre esta questão que o Tribunal Federal de Trabalho pronunciou uma sentença a 14-11-2012 (processo número 5 AZR 886/11). A acção foi movida por uma trabalhadora, cujo empregador exigia que, de futuro, a mesma apresentasse um atestado médico logo no primeiro dia de baixa. O tribunal decidiu a favor do empregador, podendo este exigir o atestado logo no primeiro dia, sem ter de apresentar qualquer razão especial. Portanto, essa exigência não tem subjacente qualquer suspeita em relação ao comportamento do trabalhador. Assim, todos os trabalhadores poderão ser, em princípio, obrigados a entregar ao seu empregador um atestado médico logo no primeiro dia em que adoecem.


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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

• Reformas e outros rendimentos • O que fica livre do fisco • Últimas novidades sobre o tema • Haverá possibilidades de se isentar do fisco? da quantia da nossa pensão? Para todos os cidadãos cuja pensão ultrapasse a quantia base reconhecida, como assinalámos anteriormente. Mesmo para os que ainda trabalharam algum tempo no ano em que receberam a pensão ou que o seu cônjuge continue a trabalhar ou se, com a reforma normal, recebe ainda uma pensão da empresa. Procurem então declarar e quanto antes, pois a empresa, como referimos, é obrigada desde este ano de 2013 a declarar os rendimentos do trabalho, via Internet a uma central de dados à qual as finanças tem acesso. 7. Existe uma formula a partir de quando devo pagar imposto! Sim, claro que existe. Após achar a percentagem da reforma que está sujeita a impostos, retira a esta soma 2000 € que estão, na generalidade, isentos e que correspondem aos descontos para a caixa de doenças, despesas gerais e gastos excepcionais. Se o resultado achado for mais de 8.005 € então estará sujeito a pagar impostos. 8. Será que esta regra se pode aplicar a todos os pensionistas? A formula acima indicada só resulta quando só se usufrui de um reforma legal e por idade. Se se recebe, além da reforma normal, uma pensão da empresa ou que se possua outra fonte de rendimentos, então a quantia base aumenta consideravelmente e com este aumento a carga de impostos aumentam também. Não perca tempo então, vá às finanças entregar o seu impresso de cabeça levantada! 9. Mas, afinal, uma parte da pensão fica isenta de impostos? Claro que sim, mas conforme a tabela que publicámos neste artigo,

a isenção recai anualmente alterando cada ano a sua percentagem. Este ano a isenção é de 66% sobre a sua pensão por idade. Se num determinado ano estava isento de impostos, num dos anos seguintes poder a ser obrigado a pagar. 10. São prevenidos os interessados para a declaração de rendimentos? De forma alguma, só se estiver em falta. Cada pensionista deve, por ele mesmo, procurar cumprir com os seus deveres junto das finanças. 11. Quais os rendimentos sujeitos a impostos, alem da pensão? 11.1 São os seguintes os rendimentos que estão sujeitos a impostos, tendo em conta a natureza das pensões que a lei contempla (por idade, por invalidez ou por viuvez); reforma da empresa, dividendos de um seguro de vida, do fundo de pensões, pensão de Riester ou Rürüp, indemnizações, pensões de incapacidade profissional ou de acidentes, receitas de um trabalho complementar (mais de €450 ), rendimentos dum trabalho por conta própria, Honorários, juros, rendimentos imobiliários, entre outros 11.2 Rendimentos não sujeitos a impostos: Além de poucos, estes não atingem muitos compatriotas, a saber: reforma de acidentes de trabalho, pagas geralmente pelas cooperativas profissionais (BG), pensões de guerra, grandes pensões de invalidez, pensões de desagravo (Widergutmachungsrenten) além do ordenado dum possível trabalho complementar (minijobs) que é de 450 € desde Janeiro de 2013. 12. Quais os gastos que podem

atenuar o pagamento de impostos? Geralmente para esta redução de impostos são tidos em conta as mesmas cláusulas que regulam os ordenados de quem trabalha. Os mais importantes gastos sujeitos a isenção de impostos são: Quotização para os seguros de doenças e cuidados intensivos, quotização para o seguro de acidentes ou contra terceiros, ajudas financeiras para ONGs, desde que devidamente reconhecidas. Os seguros de propriedades não contam. Os custos de ordem excepcional como sejam pagamento de lar, custos adicionais com a saúde como pagamento complementar do hospital ou com casas de saúde, só são consideradas se ultrapassam os 2% das receitas financeiras. Os custos de ajuda a familiares carentes e a cargo, desde que sejam obrigatórios por lei, seja aqui seja do pais de origem, são também levados em conta. Tanto os impostos para a igreja como para instituições de caridade e de solidariedade social amenizam também o soma de pagamento de impostos. B) Exemplos que podem esclarecedores

pelas finanças como também isentos, de cerca de 2.000 €, a quantia sujeita ao fisco será de 8.416. Desta forma a sua reforma irá estar sujeita a pagar imposto, já que o Rendimento Mínimo Garantido (Existenzminimum) se viver só, é de 8.004 €. Se vivesse com o cônjuge e este não tivesse outros rendimentos de alguma ordem, então ficaria isento totalmente do fisco, já que o “Existenzminimum” era para o casal de 16.008 €. Para 2012 a quantia então livre de impostos seria de 6.384, 12 €. (64% da reforma) A reforma foi, incluindo o aumento desse ano, de 16.983, 12 €. que subtraído à isenção daria a inda quantia de 10.869, 12 € sobre a qual recai os impostos. Se retirarmos a essa quantia os 2.000 € que as finanças aceitam isentes de impostos, como no caso anterior, terá o sr. Marcolino de pagar ao fisco o correspondente ao rendimento de 8.599 €. Como no ano anterior o RMG é de 8.004 e se a a esposa não tivesse rendimento, estaria totalmente isente. Poderíamos multiplicar os exemplos, mas cada caso tem de ter uma solução diferente.

1. Exemplo simplificado

C) Notícia da última hora a ter em conta urgentemente

O Sr. Marcolino entrou para a reforma em Janeiro de 2011 com uma pensão mensal de 1.400 €. Em 2012 a reforma foi-lhe aumentada em 2,18%. Vamos achar a quantia sobre a qual cairá o pagamento ao fisco para os dois anos. Vamos primeiramente achar essa quantia para 2011 e depois para 2012: (12 meses x 1.400 € = 16.800 €. A quantia não sujeita ao fisco é de 6.384 €, (para esse ano é de 62% da pensão mensal)). A quantia sujeita ao fisco = 10.416 €, ou seja, a diferença entre as duas. Se lhe retirarmos os gastos reconhecidos

Há poucos dias, alguns jornais diários de maior tiragem, alertaram os reformados para que declarassem, os seus rendimentos e quanto antes, junto das finanças. Tudo dá a entender que estas estariam na eminência de contactar todos os presumíveis infractores. Não só serão obrigados a devolver os débitos atrasados desde 2005, como ser-lhes-ia aplicado, a estas somas, juros de mora. A facilidade com que têm, desde Janeiro do presente ano, de aceder às informações sobre os rendimentos, através duma rede central de dados, veio a acelerar este processo.

1. Que fazer no caso de serem contactados? a. Apresentar então a declaração de rendimentos, sem preocupações. Para tal, podem pedir a ajuda dos técnicos de impostos. Esta obrigatoriedade existe também para os que, de qualquer forma, teriam requerido, a seu tempo, a isenção da apresentação de declaração de impostos, porque naquela altura, em 2005, teriam preenchido as condições necessárias que os isentavam do pagamento de impostos, mas hije já não se sabe e é necessário ser revista (Nichtveranlagungsbescheinigung). b. Ao mesmo tempo é aconselhável apresentarem, por escrito, o pedido de isenção de juros para anos atrasados, indicando como razão a confiança geral que foi depositada mutuamente (Vertrauensschutz). c. No futuro, após entrarem na reforma, é aconselhável informarem-se junto das finanças se os seus rendimentos estão sujeitos ou não ao fisco. Havendo outros rendimentos suplementares é aconselhável então, requerer anualmente a declaração de impostos.

Haverá dúvidas sobre o tema? Havendo-as, queiram enviá-las para o nosso colaborador da página social, Sr. José Rodrigues, através do seguinte endereço eletrónico: rodrigues@live.de indicando-lhe o vosso contacto telefónico, preferivelmente fixo. Deste modo a informação poderá ser mais rápida e mais de acordo com o seu caso especifico e concreto.


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Nascida em Cabo Verde de família branca e abastada, Carol nunca se resignou à miséria das ilhas. E, movida pelo sonho de construir uma sociedade mais justa, ingressou ainda jovem no Partido Comunista. Não se importando de usar a beleza como arma ideológica, abraçou a luta revolucionária, apaixonou-se por um camarada e ficou grávida pouco antes de ser presa. Foi a sua mãe quem tratou de Helena nos primeiros tempos, mas, depois de libertada, Carol levou-a para Moscovo.. Aí, o contacto com as purgas estalinistas não chegou para abalar as suas convicções, mas o clima de denúncia e traição catapultou-a para o cenário da Guerra Civil espanhola, obrigando-a a deixar Helena para trás; e, apesar de ter escapado aos fuzilamentos franquistas, a eclosão da Segunda Guerra Mundial impediu Carol de voltar à União Soviética para ir buscar a criança. Será apenas vinte anos mais tarde que mãe e filha se reencontrarão em Berlim, mas a frieza e o ressentimento de Helena farão com que, na viagem de regresso a Lisboa, Carol decida escrever um romance autobiográfico com o qual a filha possa, se não perdoar-lhe, pelo menos compreender as circunstâncias do abandono, a clandestinidade, a prisão, a guerra, a espionagem e o inconcebível casamento com um inspector da polícia política. Inspirado na vida de Carolina Loff da Fonseca, este romance extremamente empolgante vai muito além dos factos, confirmando Ana Cristina Silva como uma das mais dotadas autoras de romance psicológico em Portugal.

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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

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Federação de Empresários Portugueses (VPU) Postfach 10 27 11 50467 Köln Tel.: +49. 221 789 52 412 E-Mail: info@vpu.org Federação das Associações Portuguesas na Alemanha (FAPA) www.fapa-online.de Postfach 10 01 05 D-42801 Remscheid

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Por se revelar de interesse público, damos aqui a conhecer o plano das permanências consulares (serviços consulares itinerantes) das áreas consulares de Estugarda, Dusseldorf e Hamburgo.Recorda-se os leitores que os utentes

deste serviço podem tratar de assuntos, tais como: Cartão do Cidadão, Passaporte, etc.. Antes de se deslocarem, os utentes terão de fazer a marcação com antecedência junto do consulado da sua área de residência.

ÁREA CONSULAR DE ESTUGARDA Nuremberga: Datas: . • 5.03. • 2.04. • 7.05. • 4.06 • 23.07 • 6.08. • 2.09 • 11.0.5 • 3.12 Local: Missão Católica Portuguesa, Hersbrucker Str. 41, 90480 Nürnberg

ÁREA CONSULAR DE DUSSELDORF Minden: Datas: 14.03.• 02.05. • 11.07. • 12.09. • 14.11. Local: Centro Português de Minden, Memelstr. 6, 32423 Minden

Offenbach Datas: 1 + 19. 03 • 5 + 16. 04 • 3 + 21.05 • 7 + 18..06 • 5 + 16.07 • 2 + 20.08 • 6 + 17.09 • 4 + 15.10 • 8 + 19.11 • 6 + 17. 12 Local: Missão Católica Portuguesa, Marienstr. 38, 63069 Offenbach Singen Datas: • 12.03 • 9.04 • 14.05 • 11.06 • 9.07 • 13. 08 • 10.09 • 8.10 • 12.11 • 10.12 Local: Rathaus / Câmara Municipal, Hohgarten 2, 78224 Singen Mainz: Datas: 8 + 26.03 • 12 + 23. 04 • 10 + 28.05 • 14 + 25.06 • 12 + 23.07 • 9 + 27.08 • 13 + 24.09 • 11 + 22.10 • 15 + 26.11 • 13 + 23.12 Local: União Desportiva Portuguesa e.V., Mombacher Str. 38, 55122 Mainz Kaiserslautern Datas: 15.03 • 19.04 • 17.05 • 21.06 • 19.07 • 16.08 • 20.09 • 18.10 • 22.11 • 20.12 Local: Associação Portuguesa de Desportos, Pariser Str. 117, 67655 Kaiserslautern Munique Datas: 22.03 • 26.04 • 24.05 • 28. 06 • 26.07 • 23.08 • 27.09 • 25.10 • 29.11 • 30.12 Local: Missão Católica Portuguesa, Landsberger Str. 39, 80339 München Horário de cada permanência: entre as 10h00 e as 15h00

Meschede: Datas: 21.03. • 16.05. • 18.07. • 19.09. • 21.11. Local: Associação Portuguesa de Meschede, Hennestr. 12, 59872 Meschede Münster Datas: 26.03. • 23.04. • 28.05. • 25.06. • 23.07. • 27.08. • 24.09. • 22.10. • 26.11. • 17.12. Local: Missão Católica Portuguesa, Beelertstiege 3, 48143 Münster Horário de todas as permanências: 10h00 – 13h00 e 13h30 às 15h30 Marcacão obrigatória: Telefone: 0211 – 138 78 25 ÁREA CONSULAR DE HAMBURGO: Bremerhaven: Datas: 04.03.• 22.04.• 27.05. Local: Moliceiro Grill (Markttreff), Neumarktstr. 12, Cuxhaven Datas: 23.03.• 04.05.• 15.06. Local: Centro Cultural Português, Präsident-Herwigstr. 33-34, Nordhorn Datas: 06.04.•18.05. Local: Centro Português de Nordhorn, Heideweg 13, Nordhorn Osnabrück Datas: 15.02.• 01.03.• 22.03.• 05.04.13 19.04.• 03.05.• 24.05.• 07.06.• 21.06. Local: Centro Português de Osnabrück, Bünderstr. 6, 49084 Osnabrück Horário de todas as permanências: 10h00 às 15h00


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Passar o Tempo

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

Amizades e Afins

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Depressão nervosa

Bacalhau à ze do Pipo

A depressão é um estado no qual a pessoa tem a sensação de que tudo é horrível e sem esperança. OS SINTOMAS da depressão nervosa são: esgotamento, perda de vitalidade, insónia, perda de apetite, perda de esperança. CAUSAS: a depressão apresenta?se de duas maneiras: a) Depressão reactiva: quando é produzida como uma reacção da pessoa diante a perda de um ente querido ou perda de um negócio. b) Depressão orgânica ou endógena: é produzida por uma mudança química interna no corpo e no cérebro, tais como as mudanças hormonais, sobretudo nas mulheres durante a menstruação ou menopausa. Isso bem pode acontecer pela falta do mineral lítio no cérebro ou pelo aproveitamento inadequado da serotonina (substância química encarregada da transmissão do impulso nervoso entre os neurónios). TRATAMENTO: A atitude positiva que a pessoa toma para enfrentar os insucessos de sua vida é muito importante, já que se esta pessoa se deixa levar por seus pensamentos negativos, de impotência, de fracasso, de tristeza e de apatia, ela mesma faz o bloqueio e cria condições negativas que a impedirão de ver uma saída adequada para o seu problema. Por esta razão se deve manter sempre atitudes e pensamentos positivos, já que fazendo assim se criará internamente condições adequadas que permitam sair do estado depressivo. Uma pessoa com depressão deverá esforçar-se para ver as circunstâncias positivas que se apresentam para sair do seu problema, por isso ela deve permanecer sempre alegre a alerta. A alegria é principalmente uma atitude mental que depende secundariamente de factores externos. Devemos fazer esforços para nos manter sempre alegres independente das circunstâncias adversas do momento. É importante aceitar o que não tem remédio e sobre essas bases começar a construir um novo futuro, dando-nos conta que a única coisa que realmente possuímos é o presente, por isso qualquer esforço pessoal diário que realizarmos nos trará um futuro melhor. Para aliviar qualquer dos tipos de depressão, muitos nutrientes são importantes, já que fortalecem o cérebro e ajudam a produção dos neurotransmissores químicos mencionados: lítio e serotonina (porque influem bastante na formação do equilíbrio emocional da pessoas). O aminoácido Triptofano que se encontra no Aloé Vera em 30 ppm é o responsável pela produção da serotonina no cérebro e cuja falta no organismo produz a depressão orgânica ou endógena. Outro aminoácido necessário para manter o equilíbrio mental durante os estados de stress é a Tirosina, contida também no Aloé Vera em 14 ppm.

1 colher (chá) de mostarda 600 g de bacalhau demolhado l kg de batatas pimenta em grão leite meio gordo, q.b. 3 cebolas brancas ➢2 colheres de manteiga azeite fino farinha de trigo para envolver o bacalhau ½ chávena de maionese sal q.b.

Rir

Um sujeito vai a passar a ponte 25 de Abril quando é mandado parar pela GNR. O guarda diz-lhe, na presença de repórteres: - Muitos parabéns! O senhor acaba de se tornar o milésimo condutor a atravessar a ponte! E acaba de ganhar um prémio de 1,000 euros! Tem alguma ideia do que vai fazer com o dinheiro? - Bem, quer dizer... Talvez tirar a carta de condução... - O quê? O senhor não tem carta? Diz a mulher, no banco do passageiro: - Não ligue, senhor guarda! Ele está bêbedo e não sabe o que diz! Diz o guarda: - Bêbedo? Diz a sogra no banco de trás: - Eu bem disse que isto de andar de carro roubado nos ia trazer chatices...

poesias de amor e de outros sentires Mas há a vida Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.

Clarice Lispector

Além das recomendações anteriores, ingerir: VITAMINAS: Complexo B (B1, B3, B5, B6, B12), C, Colina e Niacina MINERAIS: Cálcio, Magnésio, Cromo e Lítio 1‐ Sumo de Aloé Vera (120 ml por dia). 2‐ Geleia Real (3 comprimidos de 250 mg). 3‐ Pólen de abelha (4 comprimidos) (contém lítio) 4‐ Ginseng (4 comprimidos) ‐ contra o stress. 5‐ Mistura proteica (batido) com fibra 6‐ Busque ajuda psicológica de um profissional As doses recomendadas são para pessoas de 70 quilos. Se a pessoa pesar menos reduza as doses proporcionalmente. Comece tomando os produtos lentamente e aumente a quantidade paulatinamente até chegar à dose recomendada de 3 a 8 dias. Consulte o seu médico. Fonte: Saúde e Bem Estar

Coza o bacalhau em leite durante 3 minutos. Coe o leite por um passador fino e reserve. Limpe o bacalhau das peles e espinhas mais fáceis de retirar e divida-o em pedaços. Com as batatas cozidas e passadas a puré, dê-lhe espessura juntando a manteiga e o leite que reservou. Tempere com sal. Corte as cebolas às rodelas e refogue ligeiramente em bastante azeite. Retire a cebola com uma escumadeira e, na gordura, frite o bacalhau passado por farinha. Num pirex untado, espalhe metade do puré. Cubra com o bacalhau e regue com a maionese. Disponha as rodelas de cebola e, à volta, enfeite a seu gosto com rosetas do puré que sobrou. Leve ao forno para aquecer e tostar.

Açorda à Alentejana 1 molho de coentros (ou metade coentros, metade poejos); 3 dentes de alho; 1 colher de sopa de sal grosso; 1 decilitro de azeite; 1,5L de água a ferver; 300g de pão de 2ª duro; 4 ovos; azeitonas pretas. Esmague os coentros num almofariz com os dentes de alho e o sal grosso, até obter uma pasta, e deite-a numa terrina, regando com o azeite e escaldando com a água a ferver. Mexa, junte o pão cortado em fatias e os ovos previamente escalfados. Sirva com azeitonas.

Números em Síntese Dívida pública portuguesa total até ao fim de outubro de 2012:

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Vidas

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

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Emigrar no desespero e encontrar a solidariedade Caros amigos do PORTUGAL POST, Leio com toda a atenção e interesse todas as histórias que algumas pessoas contam quando para aí escrevem. Algumas são mais comoventes do que outras. Há também histórias que me parecem assim um pouco fora da realidade. Mas a gente não sabe o que acontece por esse mundo fora, não é verdade? O que quero contar é um detalhe da minha aventura quando decidi vir para a Alemanha e que partilhar aqui por ser uma experiência que pode valer de aviso para outros. Peço apenas que, se for necessário, corrijam o que deve ser corrigido se acharem

bem publicar este meu escrito. Vim para a Alemanha há cerca de dois anos. Deixei a minha família em Portugal e vim para aqui tentar modo de vida, já que em Portugal eu estava no desemprego após ter trabalhado cerca de vinte anos numa empresa que encerrou para se deslocar para Marrocos. Em Portugal a crise não deixava nem deixa ainda hoje lugar para a esperança dos desempregados. Quando cá cheguei pensava que ia encontrar “um mar de rosas”. Em Portugal falava-se da Alemanha como uma terra com muito trabalho e bons ordenados, desde que nos sujeitasse-mos a qualquer coisa.

Seriam umas onze horas quando cheguei a uma estação de uma cidade onde morava (pensava eu) um meu conhecido que me tinha prometido ajudar nos primeiros tempos de estadia aqui. Cheguei, como disse, à estacão e, conforme o combinado, o meu conhecido não estava à minha espera. Achei normal o atraso e, sinceramente, não fiquei deveras preocupado, só que o tempo ia passando e ... amigo, nada! Dinheiro não tinha muito. Alemão ou outra língua não falava e comecei a ficar muito preocupado. Após duas horas e tal de estar ali a secar à porta da estação, comecei a maldizer tudo: a minha vida, a minha situação o meu con-

Por: Paulo Freixinho

r Palavras cruzadas

Receba PORTUGAL POST em sua casa por apenas 22,45 € /ano HORIZONTAIS: 1 - A face interna e côncava da mão. Dar pios. 2 - Entrar em folias. Pequeno mamífero roedor. 3 - Interjeição designativa de afirmação. Completo. Alumínio (s.q.). 4 - Murmúrio de vozes. Limalha. 5 - Suspiro. Anuência. Atmosfera. 6 - Joseph (...), o Papa que surpreendeu o mundo ao anunciar a sua renúncia. 7 - Partícula apassivante. Satélite natural da Terra. Preposição que indica lugar. 8 - Lisa. Porção de líquido bebido de uma só vez. 9 - A tua pessoa. Dar som ou tom forte. Um certo. 10 - Queima. Primeira redacção de um documento ou de qualquer escrito. 11 - Produzir som. Essência odorífera. VERTICAIS: 1 - Na parte exterior. Capazes (fem.). 2 - Sujar e contaminar o ambiente com produtos resultantes da actividade humana. Português. 3 - A outra vida. Pega. Sociedade Anónima (abrev.). 4 – Cinquenta e um em numeração romana. Exibir com aparato. 5 - Igreja principal de uma localidade. Contracção de „a“ com „o“. 6 - Argola. Dez vezes cem. Mulher que cria uma criança alheia. 7 - Contracção da prep. “de” com o pron. dem. “a”. Alimentar. 8 - Difundir. Contracção de „em“ com „o“. 9 – Avançava. Centésima parte do hectare. Nome de peixe. 10 - Cingir. Corrida de embarcações. 11 - Ir rodando. Peça metálica, espiralada, helicoidal, dotada de elasticidade.

hecido, o meu país, os governantes em Portugal e sei lá o que mais! Reparei que tinha cometido um erro: tinha vindo sem ter o número de telefone e a morada desse meu conhecido, confiando que ele me esperaria à porta da estação. Passadas algumas horas depois de estar ali, comecei a perder toda a esperança. Pensei então telefonar para casa em Portugal e pedir que eles tentassem saber do paradeiro ou do contacto do meu conhecido. Telefonei, pedi para me telefonarem de volta para o telemóvel e, depois de contar a situação, lá se conseguiram a morada do meu conhecido. Nisto já seriam aí umas quatro horas da manhã. Pedi, então, a um táxi que me levasse à morada que me tinham dado. Chegado à rua, procurámos o número (que seria o 16). Só que havia um problema: o número 16 existia na verdade mas era uma coisa que se parecia com uma oficina de reparação de automóveis naquele altura completamente às escuras. Sem saber o que fazer – até porque o sitio era num descampado – voltei para a estação e ali fiquei cansado e com fome a passar pelas brasas. Entretanto, a estação ia tomando o ritmo diário com a chegada e a partidas dos comboios que movimentavam milhares de pessoas. A minha situação era de uma tristeza absoluta, por um lado, e, por outro, de uma grande impotência perante a situação. Não sabia mesmo que fazer nem sabia para onde ir. Nem sequer tinha bilhete de volta. Fui de novo à tal morada e lá ninguém conhecia esse meu compatriota. Desesperei. Passei a ficar e a dormir na estação durante a alguns dias. Deambulava por ali na desesperada tentativa de ouvir falar a minha língua e encontrar, quem sabe, algum português que me pudesse valer naquela situação. O dinheiro tinha acabado e comecei a vegetar. Dirigia-me a todos os cantos da estacão também para encontrar de comer nos cestos do lixo. Passava horas no quiosque dos jornais e foi aí que encontrei o vosso Jornal. Estive ali uma semana. Foi então que pensei telefonar a uma empresa que fazia anúncio no Portugal Post. Contei a minha si-

tuação ao dono desse empresa que se prestou a ajudar-me. Depois de consultar no mapa vi que ele distava a mais de trezentos quilómetros. Tentei um outro que me disse para ir ao consulado em Frankfurt que seriam aí uns cento e tal quilómetros... Não tinha sorte. Deambulei pela cidade. A minha figura já devia meter dó, tal era o modo como as pessoas já me olhavam. Um dia pus-me à porta do quiosque de jornais a ver se alguém comprava o Portugal Post. Dito e feito. Vi uma senhora aí dos cinquenta que, para além do jornal, comprou a revista Maria. Não perdi tempo. Dirigi-me à senhora com muito trato e urbanidade e contei-lhe a minha situação. Logo aí, ela convidoume para uma espécie de pastelaria e disse-me para comprar sandes para comer. Foi o que fiz, agradecendo-lhe muito. A senhora – que nunca mais a esquecerei – levou-me para sua casa. Ela vivia só num apartamento pequeno e simples. Fez-me uma refeição quente e, enquanto isso, disse que podia utilizar o duche. Ofereceu-me o sofá para eu passar as noites até encontrar modo de vida. Ela foi de uma generosidade a toda a prova. De manhã, quando ela ia trabalhar, deixava-me a sua casa ao meu cuidado e, por respeito, eu saia quase todo o dia. Soube por ela que não muito longe existia uma associação de portugueses que abria ao fim-de-semana. Vi que ali poderia estar a solução da minha precária situação. Logo no fimde-semana a seguir fomos no seu carro à associação e aí contactei muitos compatriotas, sendo que um deles disse-me que a empresa de limpezas onde trabalhava precisa de empregados. Foi assim que saí daquela terrível situação. Hoje estou bem, ou seja, muito melhor. Consegui o elementar para arrancar com a minha vida aqui e, talvez, arranjar uma situação mais estável. Para isso, visito todas as noites um curso de alemão gratuito onde ganharei as bases para construir aqui um futuro. De resto só tenho de agradecer a existência do Portugal Post que me ajudou a encontrar a senhora que me ajudou e por quem tenho uma estima muito grande.

SOLUÇÃO: HORIZONTAIS: 1 - Palma. Piar. 2 - Foliar. Rato. 3 - Olé. Todo. Al. 4 - Rumor. Apara. 5 - Ai. Sim. Ar. 6 - Ratzinger. 7 - Se. Lua. Em. 8 - Plana. Trago. 9 - Tu. Toar. Tal. 10 - Assa. Minuta. 11 - Soar. Aroma. VERTICAIS: 1 - Fora. Aptas. 2 - Poluir. Luso. 3 - Além. Asa. SA. 4 - LI. Ostentar. 5 - Matriz. Ao. 6 - Aro. Mil. Ama. 7 - Da. Nutrir. 8 - Propagar. No. 9 - Ia. Are. Atum. 10 - Atar. Regata. 11 - Rolar. Mola.


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PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

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Economia & Negócios

PORTUGAL POST Nº 224 • Março 2013

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Berlim – Portugal na Fruit Logística 2013 A Portugal Fresh voltou a estar presente na Fruit Logística 2013, o maior certame do sector hortofrutícola a nível mundial. No stand colectivo da Portugal Fresh estiveram dezanove empresas portuguesas cujo objectivo consistiu em reforçar a imagem de Portugal como produtor, consolidar os acordos de parceria já existentes e procurar novas oportunidades em mercados que remunerem vantajosamente os nossos produtos. Estiveram também presentes outras empresas portuguesas com stands individuais. O novo Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agro-alimentar, Nuno Vieira e Brito, visitou a feira, acompanhado do Embai-

xador de Portugal em Berlim, Luís de Almeida Sampaio, e trocou impressões com os expositores presentes no certame sobre os produtos específicos apresentados. Mais tarde reuniu com o Presidente da Associação Alemã de Comércio de Frutas para discutir assuntos relevantes à exportação portuguesa. Nuno Vieira e Brito disse ao Portugal Post que Portugal aposta na diferenciação dos produtos em contra-ciclo, e na qualidade, segurança e higiene dos mesmos, o que é garantido através de controlos rigorosos. “Apostamos também na especificidade dos produtos, como por exemplo a pera rocha, o agrião de água, a batata-doce, entre outros”. Afirmou que

temos de repensar as estruturas alimentares com parceria de outras entidades, nomeadamente das próprias empresas. Sublinhou ainda que devemos continuar a apostar na exportação, ultrapassar as eventuais barreiras existentes e procurar facilitar o processo. “Estamos longe da auto-suficiência. É preciso fomentar as exportações e reduzir as importações no sector”. O PP falou com um dos expositores que apresentava a Pera Rocha do Oeste, um tipo de pêra portuguesa com denominação de origem protegida “DOP”, produzida principalmente na orla marítima desde Sintra até Leiria. “É um produto específico de Portugal, sem concorrente internacional, PUB

Fruit Logistica 2013 em Berlim, Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito. Foto: Gonçalo Silva e com uma excelente capacidade de conservação. Os principais mercados de destino são a Inglaterra e o Brasil” - afirmou.A Alemanha é o maior importador europeu de frutas e hortícolas. Porém Portugal é apenas um pequeno fornecedor da Alemanha no sector, ocupando o 42º lugar no ranking com uma quota de 0,18% em 2010. Porém foi o 3º maior fornecedor de framboesa, o 7º de batata, o 8º de cenoura e o 9º de pêra/maçã em 2011, segundo dados fornecidos pela aicep Portugal Global. Portugal tem procurado expandir as suas exportações para fora da Europa, exportando para alguns países africanos, para o Brasil e Índia (embora haja que ultrapassar fenómenos proteccionistas) e mesmo para a Arábia Saudita, este último interessado nas

nossas laranjas algarvias. A multiplicação dos acordos de livre comércio entre a UE e vários países terceiros, nomeadamente com países do Mediterrâneo, está a gerar polémica e receios de concorrência mais barata ou mesmo incumprimento das medidas protectoras do comércio europeu em vigor. Mas em contrapartida, os países europeus exportam para esses países. Por exemplo, o comércio entre Marrocos e Portugal está a crescer. O leite, os lacticínios em geral, ovos e mel são exportados para aquele país, assim como a nossa pêra rocha. Por sua vez Portugal importa peixe, crustáceos e moluscos daquele país do Magrebe. Vejamos como funcionam estas cadeias de alimentos: uma empresa portuguesa vende laranjas à fábrica

de sumos BIM (turca) em Marrocos. Os sumos são depois vendidos em todo o Médio Oriente; ou vende ao Tesco (britânico) ou ao Lidl ou ao Aldi (alemães) que têm os seus próprios embaladores. E, assim, as frutas e os legumes frescos portugueses passeiam pelo mundo. Portugal, como país pequeno que é, não pode competir em quantidade e, por isso, aposta na qualidade, na segurança, na higiene, na especificidade dos seus produtos e procura nichos de mercado e, sobretudo, pensa global. A participação do nosso país em feiras internacionais do sector é importante para criar novos contactos e parcerias comerciais e aumentar a notoriedade da fruta e hortícolas portugueses. Cristina Dangerfield-Vogt, Berlim

Deputado Carlos Gonçalves: “AICEP tem que estar mais atenta ao mundo empresarial das comunidades” O deputado do PSD eleito pelo círculo da Europa, Carlos Alberto Gonçalves, considerou que a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) “tem que estar mais atenta ao mundo empresarial das comunidades”. “A AICEP tem que estar mais atenta ao mundo empresarial das comunidades. Temos uma rede im-

portante de empresários, numa comunidade bastante significativa em termos numéricos. Se fôssemos ver qual o contributo das comunidades para as exportações, éramos capazes de chegar a números muito interessantes, nomeadamente no que respeita a bens alimentares”, afirmou o deputado. Para o social-democrata, “as comunidades são o parceiro ideal para divul-

gar Portugal e o que de melhor o país tem”. O potencial destes milhões de pessoas que estão fora do país, disse, “é enorme” e, defendeu, “tem que ser aproveitado”. Carlos Alberto Gonçalves lembrou ainda que “existem portugueses no exterior a trabalhar nas áreas da inovação e em lugares de destaque”, considerando que “isso também tem que ser aproveitado”.


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Última • Nº 224 • Março 2013 Violência doméstica

Será que “quando mais me bates mais gosto de ti”? A violência é desencadeada por motivos cada vez mais triviais, sendo exercida por meio de ataques físicos, mas também por modalidades psicológicas.

Ana Cristina Silva, Lisboa

A

s mulheres espancadas têm o medo colado aos pensamentos e o vazio preso ao olhar. São mulheres que vivem em prisão domiciliária, encarceradas no terror, sem que ninguém organize manifestações por elas. Num mês e meio foram apresentadas 800 queixas de violência doméstica só nos distritos de Lisboa e Porto e 35 mulheres foram mortas por violência doméstica no ano transacto. Estes números deveriam levar-nos a reflectir sobre as razões porque muitas destas mulheres permanecem paralisadas ao lado do agressor, sem sequer apresentarem queixa. As relações íntimas implicam

expectativas implícitas de que de as pessoas se irão mutuamente apoiar. O amor comporta, por inerência, sentimentos de segurança. Por isso, quando acontecem os primeiros episódios de violência, estes são habitualmente interpretados como incidentes. Esta versão dos acontecimentos é reforçada pelos pedidos de perdão e pelas repetidas declarações de amor do agressor. Para muitas mulheres, o comportamento do marido é tão dissonante com a sua anterior história relacional que elas negam a sua relevância. De episódica, a violência passa a sistemática e o marido começa a associar os seus comportamentos agressivos às atitudes dela. O agressor justificase pela necessidade de a calar, de a punir por não saber cozinhar, por não mostrar respeito, por não ela não estar sexualmente disponível, etc. A violência é desencadeada por motivos cada vez mais triviais, sendo exercida por meio de ataques físicos, mas também por modalidades de agressão psicológicas. Essas formas da agressão incluem a desvalorização da mulher, o controle sobre o que ela faz, a proibi-

ção de se relacionar com outras pessoas, inclusive da família, acusações de infidelidade, intimidações e insultos. Na sua necessidade de demonstrar poder e superioridade, o agressor olha para a mulher como um objecto, negando a sua subjectividade. Cada episódio de agressão desencadeia nas mulheres agredidas sentimentos de choque e confusão. A violência prolongada conduz as vítimas a uma desesperança aprendida que diminui gradualmente a sua capacidade para pensarem cla-

ramente, conceberem formas alternativas de vida e controlarem o que lhes acontece. Como resultado, muitas delas entram em depressão e convencem-se de que a tentativa de abandonar o agressor só desencadeará vinganças ainda piores. A sua impotência é reforçada pelo medo das represálias do marido, pelo sentimento de vergonha e de solidão com que lidam com estas situações. O desespero e a incapacidade para reagir são uma consequência inevitável como acontece sempre com aqueles seres cuja dignidade vai

sendo continuamente destroçada. Compreender a extrema vulnerabilidade psicológica destas mulheres, que vivem diariamente um nível de stress não muito diferente do das vítimas de tortura, é fundamental para lhes proporcionar ajuda. Só assim será possível interromper o ciclo de violência e de submissão a que estão sujeitas. Desde há alguns anos que a violência doméstica é crime público em Portugal, como aliás acontece na Alemanha. A diminuição de casos desta natureza passa também por pôr em causa uma certa mentalidade colectiva que se reflecte em ditados populares como por exemplo “ entre marido e mulher não metas a colher” ou “quando mais me bates mais gosto de ti”. A história de cada mulher espancada comporta uma luta esgotante para sobreviver. O seu olhar vai-se apagando para tudo que não seja o seu medo. O desespero é tão intenso que não vê maneira de alcançar a salvação. Cabe a cada um de nós que conheça um caso desta natureza dar o seu contributo para que a história mude de rumo. PUB


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