Especial CEMIG - 60 anos

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SUPLEMENTO ESPECIAL

PENSAR PRA FRENTE FAZER PRO MUNDO

60 ANOS

ESTADO DE MINAS

ARQUIVO CEMIG/RONALDO GUIMARÃES

DOMI NGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012

Vitrine Iluminada

S

inônimo maior de desenvolvimento, a energia acumula muitos outros significados. Mas um em especial – qualidade de vida – traduz exatamente o sentido primordial da existência de uma empresa como a Companhia Energética de Minas Gerais. Ao completar seis décadas, a Cemig comemora um percurso que trouxe bem-estar a milhões de mineiros e que também ilustra a história do Brasil. Criada pelo desenvolvimentista Juscelino Kubitschek, quando o país dava seus primeiros grandes passos rumo à industrialização, a Cemig, nascida Centrais Elétricas de Minas Gerais, foi feroz na construção de hidrelétricas, produzindo a energia imprescindível para

atrair grandes indústrias para o estado desde a década de 1950 – Manesmann, Daiwa, Alcoa, Usiminas, Açominas, Fiat e outras da cadeia produtiva. Na década de 1960, a Cemig estudou, de ponta a ponta, os rios de Minas, para identificar o potencial hidráulico e melhor planejar a localização de suas usinas, definindo, já naquele momento, seu perfil de produtora de conhecimento. No ano de seu sexagésimo aniversário, a Cemig persegue os mais elevados níveis de eficiência energética e modernas práticas corporativas, está incluída no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, negocia ações nas bolsas de valores de Nova York e Madri, além de São Paulo, e alcançou o posto de maior empresa de energia elétrica da América Latina.


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SUPLEMENTO ESPECIAL ● ESTADO DE MINAS

PENSAR PRA FRENTE FAZER PRO MUNDO

60 ANOS

1950/No último ano de seu mandato, o governador Milton Campos apresenta o Plano de Eletrificação, base para a criação da Cemig

DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012

EMPRESA Desde sua criação, a Cemig investiu na construção de usinas que deram ao estado base para a industrialização. Neste século, consolida sua intenção de crescer em todos os segmentos do setor

1951/Juscelino Kubitschek assume o governo de MG e inicia a estruturação do setor energético. Em 22 de fevereiro, ele redige bilhete no qual aborda a criação da Cemig

1952/É fundada a Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A. A Usina Hidrelétrica de Gafanhoto é incorporada à Cemig

1955/São inauguradas por JK as duas primeiras usinas hidrelétricas construídas pela estatal:Tronqueiras (foto) e Itutinga

1956/Entra em operação a Usina de Salto Grande, em Braúnas, no Leste de Minas, com potência instalada de 102MW, nos rios Santo Antônio e Guanhães

Palavra do presidente

DJALMA BASTOS DE MORAIS

PRESIDENTE DA CEMIG

Um bilhete, composto por quatro folhas manuscritas, tem um lugar de honra no edifício sede da Cemig, em Belo Horizonte. Foi a partir desses pedaços de papel, hoje emoldurados, que começou a história de 60 anos da empresa, uma história que já atravessou as barreiras do continente americano e deu a volta ao mundo na forma de papéis, títulos e ações, avaliados em bilhões de dólares e negociados em bolsas de valores do Brasil, América do Norte e Europa. No dia 22 de fevereiro de 1951, Juscelino Kubitschek, então governador de Minas Gerais, escreveu, com sua letra de médico, um bilhete a seu secretário de Obras, José Esteves Rodrigues, sobre os planos que desejava pôr em prática para “estabelecer uma holding que controle as atividades das diversas centrais elétricas” que estavam sendo construídas no estado. Quando esse bilhete foi redigido, de próprio punho, por JK, o risco das trevas que pairavam sobre o mundo tinha sido afastado pela vitória dos aliados na 2ª Guerra Mundial e o horizonte da redemocratização se abria para o país. Porém, grande parte dos mineiros ainda vivia na escuridão. A energia elétrica ainda era insuficiente para atrair indústrias para o estado. Era mais do que urgente, portanto, resolver o problema do abastecimento de energia elétrica, que emperrava o desenvolvimento de Minas Gerais e o bem-estar da população. Criada em maio do ano seguinte, a Cemig construiu usinas e linhas de transmissão, incorporou companhias regionais de eletricidade. Vencidos os obstáculos que emperravam o desenvolvimento, Minas Gerais pôde aproveitar o crescimento da economia brasileira na década de 1970 e novas usinas – Volta Grande, São Simão e Igarapé – foram construídas. Nos anos 80, havia energia de sobra e a Cemig pôde viver um novo ciclo de expansão e modernização da distribuição. O principal movimento da Cemig no mercado acionário, para aumentar a liquidez de seus papéis, começou no início da década de 1990, com o governador Hélio Garcia.

O marco desse movimento foi o lançamento, em 1993, do programa de american depositary receipt (ADR), títulos negociáveis nos Estados Unidos, que significou o acesso a um mercado bastante ampliado frente àquele que a Cemig estava acostumada a trabalhar. Atualmente, as ações da empresa são comercializadas nas bolsas de Nova York e Madri (Latibex) e, há 12 anos, fazem parte do Índice de Sustentabilidade Dow Jones, que relaciona papéis de um seleto grupo de empresas de todo o mundo cujas práticas no que diz respeito ao meio ambiente, crescimento sustentável e sustentabilidade social são plenamente comprovadas e reconhecidas. No século 21, dentro do novo contexto de consolidação do setor elétrico brasileiro, a Cemig saiu na frente do processo e começou a adquirir novos ativos, já sem as restrições geográficas definidas no modelo anterior. Com isso, a empresa passou a competir em outros estados, demonstrando na prática sua visão de longo prazo do setor elétrico. Nessa linha de ação, a Cemig adquiriu, nos últimos anos, o controle da Usina Hidrelétrica de Rosal, na divisa entre o estado do Rio e o Espírito Santo, e participações na Light, empresa centenária de distribuição do Rio de Janeiro e símbolo da eletricidade no país, e em linhas de transmissão localizadas em várias regiões do Brasil, reunidas sob a Taesa e a TBE. Hoje, a Cemig é a maior distribuidora, a terceira maior geradora e segunda maior transmissora do país, dentro da sua estratégia de crescer nesses três setores com o objetivo de equilibrar o risco inerente a cada um deles. Sessenta anos depois, não nos afastamos da filosofia que foi estabelecida no bilhete de JK, lá atrás: a Cemig hoje é uma holding com participações importantes em outras empresas, cuja finalidade é gerar, transmitir e distribuir energia. Estamos presentes em 23 estados brasileiros, temos acionistas em 44 países, mas a Cemig continua sendo uma empresa com raízes em Minas e orgulho do povo mineiro.

Criada para congregar o setor energético, na época muito pulverizado com diferentes empresas em atuação, a Cemig nasceu em 1952, como Centrais Elétricas de Minas Gerais, com a visão desenvolvimentista do então governador Juscelino Kubitschek

Nascida para

transformar FOTOS: ARQUIVO CEMIG

É bem verdade que Juscelino Kubitschek implementou as mudanças que dariam fôlego à economia mineira, mas foi ainda no governo de Milton Campos (1947–1951) que o setor de energia elétrica ganhou um programa específico: o Plano de Eletrificação de Minas Gerais, que propunha a formação de uma holding, de economia mista, que seria responsável pela execução dos projetos. Coube então ao sucessor de Campos tornar realidade as diretrizes do plano. Nascia assim, em 22 de maio de 1952, a Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A., primeira empresa estatal de energia fundada no Brasil. Em bilhete escrito em fevereiro de 1951 e entregue ao secretário estadual de Viação e Obras Públicas, José Esteves Rodrigues, o recém-empossado governador Juscelino Kubitschek expressou a necessidade de criação de uma holding capaz de coordenar todos os serviços de energia elétrica executados pelo estado. As poucas linhas entraram para a história por resumirem o início de um enredo que culminaria na criação da Centrais Elétricas de Minas Gerais, rebatizada, anos mais tarde, Companhia Energética de Minas Gerais, a sólida Cemig, que, ao completar 60 anos, confirma sua vocação como agente indutor do desenvolvimento socioeconômico. A Cemig manteve suas raízes em Minas Gerais, mas ganhou o mundo, com ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Nova York e Madri. São 114 mil acionistas em 44 países. A empresa é referência na economia global, ocupando, desde abril, o posto de maior empresa do setordeenergiaelétricadaAméricaLatina por valor de mercado. Sua diversidade de

O Sílvio Barbosa e o Júlio vão lhe falar sobre os planos que desejo pôr em execução no setor de energia elétrica. Para facilitar-lhe a organização e darlhe o caráter comercial que possibilite entendimentos com firmas financiadoras, precisamos estabelecer um ‘holding’ que controle as atividades gerais das diversas centrais elétricas que pretendemos construir. Peço combinar com eles e assentar, em definitivo, as medidas. Grato

■ Juscelino Kubitschek, ex-governador de Minas Gerais e ex- presidente do Brasil

atuação é traduzida pelos investimentos no segmento de distribuição de gás natural (Gasmig), telecomunicações (Cemig Telecom), eficiência energética (Efficientia) e participação em empresas de transmissão de energia elétrica (TBE e Taesa). Em 2006, adquiriu participação na Light, que atende o Rio de Janeiro e outras cidades fluminenses. Ocupa, ainda, a posição de maior comercializadora brasileira, sendo responsável pelo atendimento de 25% do mercado de consumidores livres.

ENERGIA COMO GUIA Desde as Centrais Elétricas idealizadas por Juscelino Kubitschek, foram muitas as mudanças até a Cemig se tornar uma holding com mais de 100 empresas e consórcios. Baseado no binômio energia e transporte, o pro-

grama de governo de JK expôs sua determinação em transformar a economia mineira – à época predominantemente associada à atividade agropecuária – por meio da expansão do setor elétrico. Antes de JK, os anos de 1940 haviam registrado um tímido crescimento industrial, limitado à fragilidade da infraestrutura energética, pulverizada por mais de 300 usinas pelo estado. Mesmo tendo inaugurado a primeira hidrelétrica da América do Sul, a Usina de Marmelos, em Juiz de Fora (Zona da Mata), ao longo dos anos Minas Gerais havia perdido posição para o Rio de Janeiro e São Paulo, que passaram a concentrar os maiores empreendimentos instalados no país. No início da década de 1940, os dois estados representavam 23% e 50%, respectivamente, da potência instalada de 1 milhão

O manuscrito de JK demonstrava a intenção do então governador de construir a Cemig. Em 1955, ele próprio (foto ao lado) inaugura a Usina Hidrelétrica de Itutinga no Sul de Minas, mesmo ano em que Tronqueiras entrou em operação

de quilowatts no Brasil, enquanto Minas Gerais detinha apenas 10%.

CENTRAIS ELÉTRICAS Uma das tentativas de superar o atraso mineiro foi a entrada em operação, em 1946, da Usina Hidrelétrica de Gafanhoto, a primeira grande obra do setor no estado. Além de permitir a estruturação de um grande polo industrial na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a nova usina marcou a intervenção do governo no segmento de energia elétrica, até então de domínio e de responsabilidade quase exclusiva de grandes investidores estrangeiros, já que o poder público não se interessava por investimentos na área e a iniciativa privada nacional não dispunha de capital suficiente para tanto.

Fábrica de usinas Aumentar a capacidade geradora de energia do estado era a preocupação inicial da então Centrais Elétricas de Minas Gerais. Portanto, nada mais certeiro do que aproveitar o potencial hidráulico regional para incentivar o desenvolvimento industrial e iluminar as cidades. Conhecida como “fábrica de usinas”, ainda não faziam parte dos planos da empresa a transmissão e distribuição de energia. Mas quatro anos depois da posse de Juscelino Kubitschek como governador, em 1955 foram inauguradas as duas primeiras usinas hidrelétricas construídas pela Cemig: Tronqueiras, no Rio Tronqueiras, em Coroaci (Vale do Rio Doce), e Itutinga, no Rio Grande, entre os municípios de Itutinga e Nazareno (Sul de Minas). No ano seguinte foi a vez da Usina Hidrelétrica de Salto Grande, nos rios Santo Antônio e Guanhães, em Braúnas, também no Vale do Rio Doce.


SUPLEMENTO ESPECIAL ● ESTADO DE MINAS

DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012

PENSAR PRA FRENTE FAZER PRO MUNDO

60 ANOS

1962/Inauguração da Usina Hidrelétrica de Três Marias.Oprojetovisava,alémdegerarenergia,promover o desenvolvimento noVale do São Francisco

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A HISTÓRIA Ao ampliar sua atuação, a Cemig ganhou dimensão nacional, se uniu a outras empresas e extrapolou sua experiência para mercados consumidores fora do país, realizando também projetos no Chile

1963/Início de estudos aprofundados sobre o potencial hidrelétrico mineiro, com a formação do consórcio Canambra, com técnicos canadenses, norte-americanos e brasileiros

1973/Cemig assume a distribuição de energia em Belo Horizonte, ao incorporar a Companhia Força e Luz de Minas Gerais

1976/Empresa chega a 1 milhão de consumidores e alcança 445 sedes municipais atendidas

1978/Inauguraçãodamaiorhidrelétricadaempresa:aUsinade São Simão, na divisa de Minas com Goiás.Também inaugurada a Estação de Hidrobiologia e Piscicultura deVolta Grande

Diversificação

consolida a estrutura FOTOS: ARQUIVO CEMIG

Ao assumir a Presidência da República, em 1956, o ex-governador Juscelino Kubitschek estendeu ao Brasil sua experiência de sucesso no governo mineiro, com amplo investimento em infraestrutura de energia e transporte. Se nos anos de 1950 a principal meta da criação da Centrais Elétricas de Minas Gerais, a Cemig, foi resolver a escassez de energia no estado, na década de 1960 o cenário já era bem diferente. Com o setor industrial estimulado e potencial instalado de energia suficiente para atuar no desenvolvimento de novos mercados consumidores, a Cemig começou a ampliar os benefícios da eletrificação a um maior número de localidades mineiras. Várias companhias regionais e municipais foram incorporadas à holding. A evolução dos grandes projetos hidrelétricos e a consolidação da empresa ao longo dos anos influenciaram na criação, em 1968, do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais, atual Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (Indi). Em seis anos deexistência, ainstituiçãojáhaviaatraído 179 projetos indústrias para o estado, refletindoaforçadainfraestruturaenergética já naquele período.

NOVADIMENSÃO Osanossepassaramea

percepção dominante no cenário nacional atual era a de que era necessário diversificaramatrizenergéticadoestado,oque abriu novos campos de atuação para a Cemig. Em 1983, as fontes alternativas, como eólica, solar, biomassa e gás natural, entraramnocampodepesquisasdasCentraisElétricas.Foiessanovadimensãoque justificou a transformação da empresa em Companhia Energética de Minas Gerais, em 1984, pela Lei Estadual 8.655. Dois anos depois, a Gasmig foi fundada, sob controle da Cemig, dedicada a explorar, produzir, armazenar e distribuir gás natural e seus subprodutos e derivados. O empreendimento foi o prenúncio do perfil assumindo nos anos 1990. Foi nessa década que a Cemig decidiuexpandirseucapitalfinanceiro,com ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Em 2002, a empresa passou a negociar ações na Bolsa de Madri.

A Usina Hidrelétrica de Três Marias foi um marco na presença da Cemig em grandes obras, com projeto tecnológico inovador e ampliação do atendimento no estado Em 1994, a Cemig construiu a Usina Eólica do Morro do Camelinho, em Gouveia, no Vale do Jequitinhonha, a primeira interligada à rede de eletricidade do país. Dois anos depois, o investimento em tecnologia de ponta foi na transmissão de dados, voz, som, imagem e acesso à internet através de rede de fibra ótica, serviços reunidos atualmente na Cemig Telecom. Entre 1999 e 2006, a Cemig deu início à implantação e inaugurou as usinas de Porto Estrela, Funil, Aimórés, Queimado, Irapé, Capim Branco 1 e 2, em diversas regiões de Minas Gerais, incluindo o Noroeste e o Vale do Jequitinhonha, que ainda não possuíam aproveitamentos hidrelétricos de grande porte. Nesse período, mais de 1.000MW de potência instalada foram acrescentados ao parque gerador da empresa.

PRESENÇA AMPLIADA Nos anos 2000, a Cemig iniciou o processo de desverticalização e, em 2005, tornou-se uma holding, com duas subsidiárias integrais: Cemig Distribuição e Cemig Geração e Transmissão. Em 2009, concluiu as operações de aquisição de participação na Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. (Taesa) – antiga Ter-

na Participações – e ampliou a presença na Transmissoras Brasileiras de Energia (TBE), da qual já fazia parte desde 2006. Com essa movimentação, a Cemig se consolidou como a segunda maior empresa de transmissão do país, totalizando mais de 10 mil quilômetros de linhas de transmissão. A empresa é responsável também pela gestão da maior rede de distribuição de energia elétrica da América do Sul e ocupa a terceira posição entre as maiores geradoras do país – possui 70 usinas (64 hidrelétricas, três termelétricas e três eólicas), em operação por meio de suas subsidiárias integrais, controladas e coligadas de geração. A capacidade instalada total é de 7.038MW. Além de 23 estados brasileiros, a Cemig atua também fora do país, no Chile, com a Linha de Transmissão Charrúa – Nueva Temuco, em operação desde 2010. A linha de transmissão de 205 quilômetros é resultado de parceria em consórcio com a empresa de infraestrutura Alusa. No final do século 20, a estatal foi incluída pela primeira vez no Índice Dow Jones de Sustentabilidade e o reconhecimento às suas ações nesse âmbito se repetiu por 11 vezes.

São Simão, na divisa de Goiás com Minas Gerais, é a maior usina hidrelétrica da Cemig, com capacidade de 1,7 milhão de quilowatts

Grandes obras reforçam perfil inovador Grandes empreendimentos marcaram a história da Cemig. Um dos maiores foi a construção da Usina Hidrelétrica de Três Marias na década de 1960, na época uma das cinco maiores usinas do mundo. Na Região Central de Minas, erguido com técnicas inovadoras de construção de barragens e com equipamentos até então desconhecidos no país, o primeiro reservatório de uso múltiplo do Brasil trouxe um conjunto de benefícios para todo o Vale do São Francisco: além de prover energia, garantia navegabilidade ao rio e protegia a região contra as cheias. Na década seguinte, quando o país vivia o chamado milagre econômico e precisava atender uma crescente demanda por energia, a Cemig reforçou os projetos de construção de grandes usinas e inaugurou, em 1978, São Simão, sua maior hidrelétrica, com capacidade atual de 1,7 milhão de quilowatts. Sozinha, a hidrelétrica é 17 vezes maior que a potência instalada em Minas na década de 1940. Quatro anos depois, era a vez de inaugurar a Usina Hidrelétrica de Emborcação, no Triângulo, segunda maior da Cemig, com capacidade instalada de 1.192 mil quilowatts, e vital para o sistema elétrico do país. Juntas, São Simão e Emborcação triplicaram a capacidade da empresa. Nos anos 1990, a Cemig tornou-se pioneira na construção de

hidrelétricas em parceria com a iniciativa privada. Para a construção da Usina Hidrelétrica de Igarapava, em operação desde 1998, no Triângulo, foi formado o pr imeiro consórcio brasileiro para produção de energia, unindo a força realizadora de uma estatal com a de empresas privadas. Após Igarapava, vieram outras usinas construídas nesse modelo, como a de Porto Estrela, no Vale do Aço; a de Queimado, no Noroeste do estado; de Funil, no Sul de Minas; e de Aimorés, no Leste de Minas. Nessa década, a Cemig inaugurou também a sua terceira maior usina, a de Nova Ponte, às margens do Rio Araguari e com capacidade de geração de 510 mil quilowatts. Inaugurada em 1994, Nova Ponte foi a primeira usina brasileira construída de forma a cumprir todos os requisitos de proteção ambiental previstos na legislação. Em 2011, a Cemig, em parceria com a Light, concluiu a aquisição estratégica de partic ipação na Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a maior atualmente em construção em todo o mundo. A companhia participa também do consórcio vencedor do leilão para a construção e operação da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, que já entrou em funcionamento e que será a sexta maior do Brasil em potência instalada, quando estiver terminada.

DEPOIMENTOS ‘‘Hoje, como verdadeira empresa âncora do desenvolvimento de Minas, a Cemig cumpre a importante missão de apoiar a indústria mecânica e eletroeletrônica do estado, fazendo das empresas desses setores fornecedores preferenciais de bens e serviços que utiliza em suas usinas – esse é um trabalho fundamental e que precisa aumentar cada vez mais.” ■ Olavo Machado, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)

TULIO SANTOS/EM/D.A PRESS.

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS.

“A Cemig foi criada com o objetivo de garantir o suprimento de energia elétrica no estado. Posso afirmar que a preocupação da empresa em oferecer energia de qualidade é um dos fatores preponderantes para a decisão dos investidores que têm optado pelo nosso estado, assim como para o aumento da produção das empresas aqui instaladas. Como presidente do Conselho da Cemig, destaco a evolução da empresa, que já alcançou a posição de maior grupo integrado de energia elétrica da América Latina por valor de mercado.” ■ Dorothea Werneck, secretáriadeDesenvolvimentoEconômicodeMinasGerais


CEMIG 60 ANOS. RGIA E N E E D M A IS C E R P Ó S SONHOS Um sonho a caminho de virar energia: assim nasceu a Cemig, uma empresa do . E D A Governo de Minas. Os planos de Juscelino Kubitschek para o setor de energia elétrica PARA VIRAR REALID

eram grandes, por isso a empresa já nasceu moderna, com as melhores técnicas e

tecnologias, com o olhar voltado para o futuro. Em 2012, completamos 60 anos de história e somos a maior empresa em valor de mercado do Brasil e da América Latina no setor de energia elétrica. Somos uma empresa sustentável, eleita em todas as edições do Índice Down Jones de Sustentabilidade. Promovemos programas com políticas sustentáveis para comunidades carentes e em favor do meio ambiente. Valorizamos o capital humano e incentivamos o esporte e a cultura no Estado, tudo isso pensando no futuro de Minas e da nossa empresa. Queremos ir ainda mais longe e, para realizar esse sonho, contamos com a energia de todos os mineiros.

w w w. c e m i g . c o m . b r


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PENSAR PRA FRENTE FAZER PRO MUNDO

60 ANOS

1982/A Usina Hidrelétrica de Emborcação (foto), a segunda maior da Cemig, é inaugurada. Juntas, Emborcação e São Simão triplicam a capacidade de geração da empresa

DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012

CRESCIMENTO Mudança de estratégia em momento de dificuldade fez com que a Cemig optasse pelo mercado investidor, ganhando fôlego para grandes projetos que transformaram o seu perfil

1983/NoVale do Rio Doce, é criada a Estação Ambiental de Peti, para preservação de espécies. A empresa investe em fontes energéticas alternativas

1984/A inauguração da sede da Cemig, no Santo Agostinho(BH),éacompanhadadatrocadenome da Cemig para Companhia Energética de MG

1986/A decisão de investir em fontes alternativas de- 1990/Início da expansão do capital finansemboca na inauguração da Gasmig no governo Hélio ceiro. As ações passam a ser negociadas na Garcia (foto), empresa de distribuição de gás natural Bolsa deValores de NovaYork

Empresa de

grande valor FOTOS: ARQUIVO CEMIG

Um dos principais vetores de consolidação do setor elétrico brasileiro, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) é a maior fornecedora de energia do país para clientes livres, com 25% do mercado nacional, e consumidores em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, entre outros estados. Com mais de 100 mil acionistas espalhados mundo afora e ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Nova York e Madri, os resultados da empresa não surpreendem. Nos últimos nove anos, o valor de mercado da Cemig subiu vertiginosamente, passando de R$ 7,4 bilhões em 2003 para R$ 31,8 bilhões no balanço do 2º trimestre deste ano, um crescimento de 328%. A trajetória revela uma empresa que soube se adequar aos novos tempos. Há mais de 20 anos, quando a dívida brasileira chegou ao seu ponto mais crítico e precisou ser renegociada, com o corte do acesso das empresas estatais ao crédito, a Cemig mudou sua estratégia. Isso foi necessário para que a empresa pudesse continuar com um programa de crescimento e expansão, conta o diretor de Finanças e Relações com Investidores, Luiz Fernando Rolla. “Na busca de alternativas, a melhor possibilidade sem restrições estava no mercado investidor. A lógica desse mercado foi estudada e a Cemig passou a apresentar perspectivas para o futuro”, diz ele.

vendido ações por deficiência, em função de lucro insuficiente, e o governo estaria em dificuldade para atender a comunidade. A experiência anterior com financiamentos de instituições como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ajudou a remodelagem que permitiu a sobrevivência com louvor. Em 1993, a Cemig lançou as suas primeiras ADRs (american depository receipt) de primeira linha, um certificado negociável emitido por um banco dos Estados Unidos, na Bolsa de Nova York. Naquele mesmo ano, o Estado mineiro vendeu com sucesso eurobônus com opção de venda de ações da Cemig, criando o marco zero de uma empresa que até então era somente uma estatal. Em novembro de 2001, foi a primeira empresa a ser listada na Bolsa de Nova York depois da reabertura do pregão após o atentado de 11 de setembro. Em 2003, o Plano Diretor estabeleceu ritmo de crescimento acelerado para a Cemig, que se consolidou como empresa integrada com parte dos ativos em geração, distribuição, transmissão e gás natural (com a Gasmig). As operações de telecomunicações receberam fibras óticas, numa evolução constante, resultado de planejamento de longo prazo, com crescimento de geração de caixa e de valor de mercado.

SOBREVIVÊNCIA Hoje, 22% das

PLANEJAMENTO “O papel da Cemig no mercado de capitais é relevante diante do trabalho feito de longo prazo, com o cuidado de levar informações com clareza para os investidores”, diz o presidente do Instituto Mineiro de Mercado de Capitais, Paulo Ângelo Carvalho de Souza, sócio da Consultoria & Gestão de

ações são do Estado de Minas Gerais (que tem o poder de veto), 14% do Grupo Andrade Gutierrez e o restante espalhado em 44 países, incluindo o Brasil. Se essa estratégia de mercado não tivesse sido adotada, acredita Rolla, a Cemig teria sido absorvida por outras empresas,

Negócios Parrconsult. A relação com o mercado foi construída ao longo do tempo, desde que a empresa lançou debêntures para mudar o perfil da dívida de curto para longo prazo. O resultado disso, Souza exemplifica: “Se uma jovem mãe decidisse aplicar R$ 100 em ações da Cemig desde os pr imeiros meses da gestação, reaplicando os dividendos, aos 21 anos o seu filho teria US$ 50 mil (cerca de R$ 135 mil) para completar estudos no exterior ou iniciar a vida profissional”.

GOVERNANÇA Ter o maior valor de

mercado no setor de energia elétrica se explica pela estrutura de negócios, que implica em baixos riscos e garantia, porque a Cemig vende energia para consumidores de primeira linha, como grandes grupos industriais. Conta também a qualidade alta de crédito, fluxo de caixa estável, atuando em geração e transmissão e distribuição (com a aquisição da fluminense Light), com empresas com ativos em todo o país. Hoje a Cemig está em primeiro lugar em distribuição, segundo em transmissão e terceiro em geração em relação às outras empresas do setor no país. “Apesar de continuar a ser uma estatal, a Cemig mantém práticas de governança corporativas, difíceis de encontrar até mesmo em empresas do setor privado. Ela preenche quesitos e cumpre obrigações grandiosas para mostrar ao mercado o que está fazendo”, assinala Rolla, emendando: “O grupo Cemig é um exemplo de sucesso de uma empresa mineira e estatal que se tornou conhecida internacionalmente pela eficiência, credibilidade e valor”.

Marca diz tudo

Ações da Cemig são negociadas nas bolsas de valores de Nova York, Madri e São Paulo

Com a decisão da Cemig de se tornar uma empresa integrada, a partir da geração, transmissão e distribuição de energia, surgiu uma pergunta: seria necessário alterar a marca que fazia alusão direta ao controlador acionária, o estado de Minas Gerais? Afinal, quando as mudanças de estratégia de gestão começaram a ocorrer, eram apenas cinco empresas no grupo, mas a meta era superar em muito esse número. A partir dessa pergunta, relata o diretor de Relações Institucionais e Comunicação Luiz Henrique Michalick, um estudo da marca foi realizado, em 2004, pela Jaime Troiano & Associados. A conclusão: ela era importante

demais para ser mudada e, portanto, não deveria ser descolada dos novos negócios. Criada em 1985, marca da Cemig conquistou o público e foi recebendo, ao longo dos tempos, pequenas intervenções gráficas. Em 1999, ganhou um toque de cor amarela no pequeno traço do meio da letra “e”, como um pingo de ouro no verde das demais letras, o que agregou imediatamente a conotação de “nacional”. Também foi inserida a frase “A melhor energia do Brasil”. Para aferir a percepção de marca com os diversos públicos, observa Michalick, dois pontos são fundamentais: o respeito do público externo

Com práticas de governança corporativa, a Cemig se tornou uma empresa eficiente e com destaque na América Latina (consumidores, fornecedores, parceiros etc) em relação ao atendimento e à prestação de serviço, e a postura do público interno, de valorização do trabalho, da empresa e de sua marca. A importância da marca pesa em várias circunstâncias, como quando a empresa decide adquirir ativos ou quando se torna necessária uma licença ambiental. Também por isso, a valoração da marca é parte integrada à construção financeira do grupo. Desde 2006, o valor é incluído no Relatório Administrativo, divulgado com o balanço. De acordo com a metodologia utilizada, as marcas representam entre 5% e 6% do valor de mercado de uma empresa.

DEPOIMENTOS ‘‘Comumagestãoprofissionaleadedicaçãoexemplardosseus trabalhadoresecolaboradores,aCemigdeuumsaltoformidávelnos últimos10anos.Oqueeraumgrupode10empresaséhojeformado por114sociedades,15consórcioseumfundodeparticipações,com atuaçãoem23estadosbrasileirosenoChile.Emtodosessesanos,o governodeMinasmanteveintactososcompromissosdaempresa comodesenvolvimento.Osavançossãoprovadequeumaempresa controladapeloEstadopodesereficiente,transparente,responsável, gerarresultadoecumprir funçãosocial.” ■ Aécio Neves (PSDB), senadorporMinasGerais

JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS.

MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS.

‘‘Durante seus 60 anos, a Cemig construiu uma trajetória de protagonismo e sucesso. Suas ações na área cultural do estado só reforçam a preocupação dessa grande empresa com o povo mineiro. Em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, a Cemig investe em grandes projetos que tantos benefícios trazem à cultura, por meio do Filme em Minas e do Cemig Cultural. Outro grande empreendimento financiado é o Centro de Arte Popular – Cemig, uma das mais novas atrações do Circuito Cultural Praça da Liberdade.” ■ Eliane Parreiras, secretáriadeEstadodeCulturadeMinasGerais


SUPLEMENTO ESPECIAL ● ESTADO DE MINAS

DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012

PENSAR PRA FRENTE FAZER PRO MUNDO

60 ANOS

1994/Inauguração da Usina Eólica do Morro do Camelinho, em Gouveia, o primeiro empreendimento da empresa nessa área

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MERCADO O marco regulatório de 2002 do setor energético brasileiro deu à Cemig possibilidades sem precedentes detransformaçãoaocriaroportunidadesdenegóciosepermitiraaberturadasfronteirasmercadológicas

1998/Investimento em novas tecnologias resulta na fundação da Empresa de Infovias S.A., atual CemigTelecom

2005/A empresa é organizada como holding, com duas subsidiárias integrais: Cemig Distribuição e Cemig Geração eTransmissão

2006/Aquisição de participação na Light, no Rio de Janeiro, e da empresa de transmissãoTBE

2007/A Cemig é eleita, pelo Índice Dow Jones, líder mundial em sustentabilidade do supersetor de utilities, que engloba as empresas prestadoras de serviço de energia elétrica, distribuição de gás, saneamento e outros serviços de utilidade pública

Ousadia e força no DNA FOTOS: ARQUIVO CEMIG

O que ambicionam 10 entre 10 empresas de qualquer parte do mundo – crescer, obter e distribuir lu c r o, s e r a d m i r a d a p o r s e u s empregados e reconhecida pelo mercado e pela sociedade – a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) alcançou ao longo dos 60 anos que comemora. Mas mudanças de gestão e estrutura na última década e, sobretudo, a partir de 2010, colocaram a Cemig em uma vitrine iluminada que desperta atenção e curiosidade. Embora a determinação de Juscelino Kubitschek ao criar a empresa, em 1952, explique o ponto de partida para a atual notoriedade da Cemig, fatos a partir da reestruturação do setor, como mais recentemente o marco regulatório nacional de 2002, reforçam a dimensão contemporânea da empresa. Eficiente como estatal no papel de gerar, transmitir e distribuir energia em Minas Gerais, a Cemig passou de empresa única e verticalizada a holding de negócios em áreas distintas. O que no começo parecia mero cumprimento de uma obrigação como concessionária deu à companhia a oportunidade de crescer, com investimento em ativos em cada uma de suas áreas de negócios. Parte das mudanças recentes veio com o plano diretor, editado em 2005 com metas a serem alcançadas até 2035. Revisto a cada cinco anos e ajustado anualmente, o plano previa que a Cemig seria a segunda maior empresa do setor energético do Brasil em 2020, intenção que se cumpriu no primeiro bimestre de 2012. De acordo com o vice-presidente, Arlindo Porto, permanecer como líder é o grande desafio. “Para isso nossa primeira meta é atender com qualidade de forma a ser respeitada pelo mercado e pelo consumidor, buscando sempre a modernização e níveis elevados de eficiência”, diz. Hoje a Cemig ocupa o topo do ranking, em valor de mercado e em número

Em 2012 foi cumprida a meta de ser a maior do Brasil em energia elétrica. Quase 8 milhões de clientes recebem luz da Cemig de consumidores (7,6 milhões), não só no país, mas na América Latina. No negócio distribuição, sua estrutura física a qualifica como a maior do Hemisfério Sul. São 494 mil quilômetros de linhas de transmissão, equivalente a 12 vezes a volta ao redor da Terra. Os números do segundo trimestre de 2012 indicam que o volume de energia elétrica comercializado para os consumidores finais na área de concessão cresceu 4,91% em relação ao mesmo período de 2011. O resultado é consequência do constante aumento na carteira de clientes Cemig, em média 230 mil por ano. O lucro líquido consolidado atingiu R$ 604 milhões, 16% maior do que no mesmo período do ano passado. Segundo Porto, o fato de a Cemig estar listada no Índice Dow Jones de Sustentabilidade nos últimos 12 anos

chama a atenção de acionistas ao redor do mundo – 114 mil, espalhados por 44 países – e isso foi um dos fatores determinantes para a antecipação do cumprimento da meta de crescimento. “Tivemos um desempenho acima da média”, revela.

CRESCER É A ORDEM Uma das deter-

minações do Plano Diretor é participar de outros empreendimentos lucrativos do segmento de energia – elétricas e de petróleo e gás. As aquisições de ativos e participações somaram R$ 3 bilhões em investimentos nos últimos cinco anos: a compra da Ligth (distribuidora, no Rio de Janeiro), TBE (grupo de cinco concessionárias de transmissão), Rosal (usina hidrelétrica no Espírito Santo); Taesa (empresa de transmissão), além de três plantas eólicas no Ceará.

Em outubro de 2011, mais um passo na estratégia de crescimento foi dado. Com a Light, subsidiária da qual detém 27,8%, a Cemig comprou 9,77% do capital da Norte Energia, empresa construtora da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, a segunda maior do Brasil, atrás apenas da binacional Itaipu, e a maior em construção no mundo. A operação acrescentará 818 megawatts (MW) no parque gerador da Cemig, além de 280MW no da Light. A Cemig tem ainda uma participação de 49% da Transchile Charrúa Transmisión S.A. na sua primeira incursão em empreendimentos fora do território brasileiro, acrescentando 205 quilômetros de linhas de transmissão em sua rede. Para promover sinergia com as empresas adquiridas é preciso um grande esforço, que inclui a incorpo-

ração da cultura Cemig pelas que agora pertencem à holding. A qualificação do corpo técnico é prioridade. “Temos uma cultura forte, voltada para o conhecimento e um programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D) focado em tecnologia. Acompanhamos o que existe de mais avançado no mundo e investimos na formação profissional”, afirma o diretor de Distribuição e Comercialização, José Carlos de Mattos. Para Paulo Sérgio Machado Ribeiro, subsecretário de Estado de Política Mineral e Energética (órgão ao qual a Cemig está subordinada), o grande segredo da empresa é ser estatal com espírito de gestão privada. “Ela equilibra o desenvolvimento econômico com o sustentável e ainda concilia suas atividades com os interesses do estado”, diz.

Estratégia cultural

Ações na área de cultura enfatizam o compromisso da Cemig com as comunidades

AnovacaradaCemigtambémévisível quando o assunto é patrocínio cultural, social e esportivo, importantes indicadores do investimento social privado. A dedicação a mais de 4 mil projetos (70% contínuos e 30% acrescentados a cada ano) na última década mostra que agir com foco em sustentabilidade é fator preponderante na estratégia de grandes empresas. “É uma maneira moderna de relacionamentocomomeioemqueaempresa vive, e não apenas com seu negócio”, avalia Cecília Bhering, analista da Superintendência de Comunicação Empresarial.

Desde sua criação, a Cemig incentivou a cultura no estado, por meio da boa vontade de seus gestores. Mas, agora, a iniciativa tem a clara intenção de garantir a boa reputação da empresa e que suas ações repercutam positivamente. “Investir nessas áreas, além de estratégico, impacta financeiramente”, completa Cecília. Por causa desse posicionamento, o planejamento cultural da Cemig avalia e escolhe os projetos que pretende apoiar levando em conta aqueles que têm política de continuidade, observando criterio-

DEPOIMENTO JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS.

‘‘A criação da Cemig, por inspiração do presidente Juscelino Kubitschek, foi um marco no desenvolvimento socioeconômico de Minas Gerais, ao suprir uma das maiores carências observadas à época, a falta de energia elétrica para atender os projetos da industrialização. Nesses 60 anos, a Companhia Elétrica se agigantou, conquistando não apenas o Brasil, mas levando sua expertise também ao exterior, se tornando a holding de que todos nós nos orgulhamos. Para Minas Gerais, Cemig e desenvolvimento são termos indissociáveis.” ■ Governador Antonio Anastasia

samente a cadeia produtiva que abrangem. “No caso da produção de um filme, por exemplo, não é só audiovisual que conta, mas a movimentação do turismo, alimentação, hospedagem”, exemplifica. O patrocínio da Cemig permite a manutenção de diversos equipamentos culturais no estado, entre os quais a Fundação Artística, Palácio das Artes, Inhotim, Museu de Artes e Ofícios, Museu do Oratório, Biblioteca Pública e Centro de Arte Popular do Circuito Cultural da Praça da Liberdade.


SUPLEMENTO ESPECIAL ● ESTADO DE MINAS

CLERIS MUNIZ

PENSAR PRA FRENTE FAZER PRO MUNDO

2008/A Cemig participa do consórcio vencedor do leilão para a construção da Usina Santo Antônio, em Rondônia

60 ANOS

DOMINGO, 2 DE SETEMBRO DE 2012

ENTREVISTA Com experiências distintas na presidência da Cemig, João Camilo Penna e Guy Vilella são personagens de uma história que, mesmo recheada com grandes dificuldades, colheu o sucesso

2009/A Cemig compra a Terna (atual Taesa), holding de transmissão de eletricidade, controlada pela italiana Terna SpA, por R$ 2,33 bilhões. Adquire também participação em parques eólicos

FOTOS: ARQUIVO CEMIG

8

2011/Incluída no Índice Dow Jones de Sustentabilidade 2011–2012, a Cemig completa 12 anos consecutivos no índice, como a única empresa do setor elétrico da América Latina a integrar o índice durante esse período

2011/A empresa atende 7 milhões de consumidores. São 18 milhões de pessoas com energia elétrica

2012/Cemig comemora 60 anos, em 22 de maio, como a maior empresa do setor elétrico do Brasil

Profissionalismo

com paixão

Dedicados ao setor energético ao longo de décadas, os engenheiros João Camilo Penna e Guy Vilella foram presidentes da Cemig em fases muito distintas, moldadas pelo cenário econômico, político e social que se refletia na empresa. Ambos deram grande contribuição para a consolidação e história da maior companhia de energia do país. O ex-ministro da Indústria e Comércio João Camilo Penna, 86 anos, presidiu a Cemig de 1967 a 1975, quando a empresa tinha como missão impor seu papel de indutora de desenvolvimento do estado, enfrentando para isso um modelo institucional nacional que limitava o setor. Guy Vilella, 79 anos, esteve à frente das principais decisões da estatal por um ano, entre 1985 e 1986, e viu com orgulho a empresa, onde trabalhou desde quando estagiário, criar condições para ganhar o mundo. Ambos integram o Conselho de Administração da Cemig e, dessa forma, por força do ofício e do amor dedicado à empresa, continuam participando ativamente do destino dela. Com grande vitalidade e memória invejável, os expresidentes lembram nesta entrevista fatos que marcaram a gestão da companhia e que, em muitos aspectos, explicam o seu presente.

muito bem-sucedida. Outras empresas similares estagnaram, não cresceram. Depois da criação da Cemig, nunca uma indústria deixou de se instalar em Minas Gerais por falta de energia elétrica.

Qual foi o sentimento que ficou por terem ocupado posição tão importante na empresa? J.C.P. – Sinto um orgulho humilde, por assim dizer. Fui o primeiro engenheiro da Cemig, foi uma honra trabalhar lá. G.V. – Comecei a carreria de engenheiro como estagiário e nunca imaginei que pudesse chegar, relativamente rápido, a postos tão altos. Foi um enorme susto quando fui chamado para ser presidente, assim como antes, quando me tornei diretor. Senti-me um privilegiado, porque os principais engenheiros da Cemig eram estrangeiros. Imagino que a diretoria resolveu prestigiar mais os brasileiros ao indicá-los para ocupar esses cargos.

maior e que Minas crescesse para a Cemig também crescer. Nessa ocasião, foicriadooInstitutodeDesenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Indi), que deu uma grande contribuição para a expansão do estado. A Fiat veio para cá muito provavelmente por causa dos estudos do Indi.

E o que mais marcou a gestão dos senhores? J.C.P. – Na Cemig havia uma luta surda entre geração e distribuição. De um lado, diziam que a empresa não precisava gerar energia, porque poderia comprá-la de outras empresas. De outro, o pensamento era que se a Cemig não gerasse energia, perderia o controle da situação. A luta interna cresceu, e a turma da geração ganhou. O senhor estava de que lado? J.C.P. – Da turma da geração, sem dúvidas. Eu tinha certa obsessão por geração.

Quais foram os maiores desafios na presidência da Cemig?

O tempo e a história comprovaram que foi um caminho acertado...

G.V. – Eu tive duas grandes

J.C.P. – Eu acho que sim, tanto que hoje a

preocupações. A primeira era conviver com a tarifa equalizada (regime pelo

Cemig foi parar na Amazônia. A companhia queria trabalhar com

esbarrar em várias dificuldades, finalmente montamos um pacote com recursos do Banco Mundial e colocamos as obras civis em concorrência internacional. Quem ganhou foi a italiana Impregilo. Os intrigantes de plantão diziam que a empresa era ligada à Fiat e que ganhar São Simão era condição para a montadora se instalar aqui. Essa é uma absoluta falsidade. Os empreiteiros nacionais ficaram furiosos, houve protestos, mas não havia outra solução. São Simão foi feita no prazo. Foi um grande sucesso.

G.V. – Embora tenha sido muito antes do meuperíodocomopresidente,eudestaco a contratação pela Cemig do famoso Canambra (consórcio canadenseamericano-brasileiro), que, com recursos da Organização das Nações Unidas (ONU), fez um levantamento de todo o potencial hidráulico do Centro-Sul do Brasil. Um trabalho extremamente inteligente, realizado de 1961 a 1966, que foi expandido para todo o país. Ametadeseramaiordosetorelétricono Brasil em 2020 foi cumprida neste ano. Que desafios a Cemig deve enfrentar para se manter nesse patamar? J.C.P. – A Cemig teve humildade suficiente para não se julgar capaz de

Gerais e, sozinha, cuidava de geração, transmissão e distribuição. Hoje, a legislação é diferente e permite que a energia da Cemig Distribuição seja adquirida num leilão nacional e, ao mesmo tempo, compre energia fora da Cemig Geração. De qualquer forma, a empresa tem se saído tão bem nesse novo modelo que uma parcela significativa de seu lucro é proveniente dessa comercialização de energia em grandes blocos.

J.C.P. – Curioso é que os grandes consumidores de energia do Brasil inteiro compram da Cemig. Como foi nos períodos em que os senhores foram presidentes, lidar com a interferênciapolíticanumaestatalmista? J.C.P. – A Cemig era muito respeitada pelos governadores. Eles não a temiam forte; eles lhe deram força. Por isso ela pôde crescer com certa liberdade de ação e assumir responsabilidades. Desde o mandato de Israel Pinheiro (1966–1971), um grande desenvolvimentista, os governadores sempre ajudaram a Cemig. G.V. – Quando eu tinha qualquer dificuldade na Cemig, pedia um encontro com o governador Hélio Garcia. Ele sempre compreendeu e me

GLADYSTON RODRIGUES/EM D.A PRESS – 21/08/2012

A Cemig era muito respeitada pelos governadores. Eles não a temiam forte; eles lhe deram força

Depois da Cemig, nunca uma indústria deixou de se instalar em Minas por falta de energia elétrica

João Camilo Penna ■

■ Guy Vilella

João Camilo Penna e Guy Vilella se encontram para um bate-papo sobre o que motivou e empolgou a vida profissional dos dois: a Cemig

O que é a Cemig para os senhores? JOAO CAMILO PENNA – A empresa não é um evento. É um processo que se iniciou com sua criação e que segue até hoje. A Cemig tem personalidade e estilo próprios, com uma seriedade no trato da coisa pública pouco vista no Brasil. Mineiro às vezes é modesto, tímido, acha que o outro é melhor do que ele. Mas a Cemig nunca colocou um teto para ela mesma e sempre pensou grande. E, pelo jeito, nunca vai ter esse teto. GUY VILELLA – O resultado desse

pensar grande é que a Cemig é hoje a maior empresa de energia elétrica do país. Mantém o seu modelo original de empresa de economia mista, negocia com grande sucesso ações no pregão da Bolsa de Valores de Nova York. A Cemig foi além das fronteiras de Minas e do Brasil, é uma empresa

qual as concessionárias lucrativas eram obrigadas a contribuir com parte do lucro para outras, deficitárias), que estava no seu auge. Doía o coração saber que precisávamos expandir, mas tínhamos que transferir recursos para outros estados, para empresas ineficientes. A segunda dificuldade foi manter a qualidade (de gestão) impressa na Cemig por seus fundadores. Meu grande empenho foi atuar para deixar ao meu sucessor a empresa pelo menos nas mesmas condições em que eu a havia recebido.

J.C.P. – Para mim não foi difícil, não.

Sucedi Mário Bhering, que saiu da Cemig para assumir a Presidência da Eletrobras. Contei muito com o apoio dele, que, como homem da Cemig, fez muito por ela de dentro da Eletrobras. Naquela ocasião, a Cemig era uma empresa de área, ou seja, operava no mercado de Minas Gerais e havia certa restrição à sua expansão.Eranecessárioterummercado

geração, mas não tinha concessões para isso. Depois de muita luta, o ministro de Minas e Energia da época (1964–1967), Mauro Thibau, ex- diretor da Cemig, concedeu a área de construção da Usina Hidrelétrica de São Simão, no Pontal do Triângulo.

G.V. – Foi como uma consolação pelo fato de a Cemig ter perdido Marimbondo (hidrelétrica pertencente a Furnas, cuja concessão havia sido pleiteada pela Cemig). J.C.P. – Na ocasião, houve muita ironia

em torno desse assunto. Diziam que o Mauro tinha dado São Simão porque a Cemig não daria conta de construir e perderia a concessão, que seria passada a outra empresa. Isso não era verdade, porque o Mauro não fazia esse tipo de jogo. Mas é fato que São Simão custou o valor do patrimônio da Cemig na época. Começamos uma das obras mais importantes que tive de conduzir. Após

resolver sozinha todos os seus problemas, especialmente gargalos internos que reduzem sua eficiência. Empenhada em corrigir suas falhas, contratou a consultoria Mckinsey, para rever procedimentos, analisar pontos fracos e fortes e indicar o que deve ser melhorado. Esse trabalho deve gerar um resultado muito importante.

G.V. – O grande desafio da Cemig é

continuar sendo competente e séria. Para isso, tem que ter no quadro de pessoal profissionais que tenham essa visão e que os acionistas e os donos trabalhem para que a empresa continue dessa forma.

O que foi preponderante para que a Cemig chegasse aonde chegou? Mudou a Cemig ou mudou o mercado? G.V. – Basicamente, foi a mudança do modelo institucional. A Cemig era uma empresa restrita ao mercado de Minas

atendeu na medida e no tempo certo que precisávamos. O atual governador Antonio Anastasia é um entusiasta e está fazendo um trabalho benfeito, acompanhado por nós do conselho. A Cemig trabalha dentro dos princípios do governo dele.

A Cemig fez parte da vida dos senhores por longo tempo. O que explica esse apego pelo setor elétrico? J.C.P. – Eu tenho amor pelo setor

elétrico, está no meu DNA. E amor não vem da razão, vem de inclinação, é do inconsciente.

G.V. – Considero um privilégio de Deus ter me formado na área profissional que abracei. Eu vivia a Cemig, e isso se estendeu para minha vida em família, pois nos fins de semana, feriados, férias, eu estava sempre com a empresa na cabeça. A Cemig é, sem dúvida nenhuma, uma paixão muito forte.


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