MURAL 86

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FEIJOADA DO CACAU VOLTA A BRILHAR NA ILHA APÓS DOIS ANOS DE ESPERA UMA AVENTURA COM DARIO LINS NA PATAGÔNIA PARA ENCHER OS OLHOS COSTÃO DO SANTINHO COMPLETA 30 ANOS DE SUCESSO SEIS SENTIDOS QUE A ILHA DESPERTA COM SUAS IMPRESSÕES E SENSAÇÕES




INSTITUTO ILHA. BEM ESTAR EM PRIMEIRO LUGAR. Cuidar da saúde das pessoas é muito mais que diagnosticar e tratar, é acreditar que é possível aliar boa medicina com humanização.

• Gastroenterologia Clínica • Endoscopia Digestiva Alta • Colonoscopia • Retossigmoidoscopia • Balão Intragástrico • Cápsula Endoscópica • Teste de Hidrogênio Expirado • Teste de Calprotectina Fecal • Teste Nível Sêrico de Infliximabe • Tratamento para Doença de Crohn e para Colite Ulcerativa


Dr. Luciano Saporiti Resposável técnico CRM/SC 7152 Gastroenterologia RQE 3892 Endoscoía digestiva RQE 4017

Rua Menino Deus, 63 • Bloco A Sala 507 • Centro • Florianópolis • SC Z 48 3224.8808 • W 48 99176.9976


EDITORIAL

VIDA, ENERGIA, SAÚDE E ALEGRIA! É ISSO QUE QUEREMOS...

foto LAURA SACCHETTI

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E

aqui estamos nós, com uma edição mais do que especial para comemorar... Vida que se renova (a cada nova edição da Mural) e que segue! Isso vai ficar evidente quando você passear pelas páginas desta 86a edição, que foi preparada com muito carinho e alegria, enquanto acompanhávamos a mistura de felicidade e esperança que os anúncios de um “fim” das restrições trouxeram ao pós pandemia. E aí surge a pergunta: gostou da capa com o Kadu Almeida? Perguntamos isso porque a gente amou... Kadu é um parceiro antigo da Mural, daqueles que a gente encontrava pela noite da Ilha e sabia que sempre viria junto uma balada especial, uma conversa boa ou simplesmente aquele aceno que mostra que tudo está bem... E curtimos muito mostrar esse novo momento que ele vive, e também o lado família desse cara gente boa, profissional em tudo o que faz, lindo por dentro e por fora, que se transforma sempre que necessário... como a vida manda (ou recomenda!). Começamos a edição pelos 30 anos do Costão do Santinho, que dispensa apresentações e segue ficando cada vez melhor, sem perder a essência de seus pilares sólidos e valores imutáveis. Como a ideia é celebrar a vida sempre, preparamos uma seleção de fotos de uma festa pra lá de especial que voltou ao calendário – e mais do que isso, à rotina – da nossa Capital: a Feijoada do Cacau. Depois de dois anos sem conseguir reunir gente linda, animada e com energia para iluminar a Ilha, o mestre Cacau começou a planejar a 24a edição doevento – que tem lugar cativo no coração da gente – em uma cama de hospital. Nem parece, porque o que mais se viu por lá, foi saúde! Quando o assunto é comparar a Ilha a uma pessoa, explorando os cinco sentidos que têm intensidade diferenciada em cada um de nós, é preciso abrir espaço para aquele sentido a mais – o sexto – que tão bem mostra porque a nossa cidade desperta emoções. Abracemos as bruxas e sejamos felizes! E que tal uma volta à Maratona Cultural? Estava com saudades de encontrar a cultura em suas mais variadas formas ocupando espaços nas ruas, cantos e recantos de Floripa? Nós também... e por isso acompanhamos os três dias de intensas, variadas e entusiasmadas programações que reuniram de multidões (que o diga o Largo da Catedral) a grupos reduzidos, que nem por isso demonstraram disposição menor para festejar. Presença constante em nossas páginas, a ponte Hercílio Luz dividiu espaço com outra beleza criada pelo homem, para mostrar que nem só nossas belezas naturais estão aí para fazer história. Contemple a também bela ponte Anita Garibaldi! Aceite nosso convite e venha conhecer uma região pitoresca no Centro de Florianópolis, que se tornou um espaço característico dos sebos. A rua João Pinto é famosa, e os sebos que lá existem, também. Carlos Stegemann fala sobre o livro “Histórias que a bola esqueceu – a incrível trajetória o E.C. Metropol e de sua torcida”, escrito pelo

chargista e roteirista Zé Dassilva, que mergulhou no resgate da saga do clube de futebol criado na década de 1960, em Criciúma, e acabou se tornando uma lenda do futebol brasileiro. Pertinho da gente, logo ali, no Chile, Dario Lins nos apresenta um roteiro para lá de especial na Patagônia, e ao longo de oito dias descreve os desafios e dificuldades, curtindo neve e belas paisagens e encontrando pessoas vindas de todos os lugares. E ele deixou o aviso: ano que vem tem de novo! Encara? Mais sobre desafios? Nosso colunista radical, Dr. Formiga, não está em terras próximas, nem tampouco com condições de escrever sua matéria sempre especial, mas a Mural sem ele fica incompleta, então fizemos um resgate de suas contribuições nas nove edições de parceria. E que resgate... você vai conferir! Daniele Maia manda lá de Lisboa uma matéria muito legal, que mostra porque os pensamentos voam para lá de Marrakech! E ela contou também suas experiências hoteleiras na capital portuguesa, com destaque para o Vintage Hotel & Spa, que tem uma pegada retrô, com grande parte da sua decoração inspirada nos anos 50. E o Ike Gevaerd nos conta detalhes de uma rota cênica que tem o Sol da Meia Noite, muito bacalhau, a história e as tradições do povo viking e paisagens monumentais. Nosso time de colunistas, sempre atento e presente, está aí, trazendo informação e muita novidade, com a qualidade característica, seja falando de estética, saúde bucal ou nutrição. Ana Carolina Abreu, Laura Sacchetti, Roberta Ruiz e Mariana Barbato são referência em suas áreas de atuação, e estão aqui porque você merece o que há de melhor! Seja feliz lendo a Mural assim como ficamos felizes preparando esta edição. Fomos embalados pelas novidades, pelas boas notícias, pelo retorno das baladas em todas as casas do Grupo Novo Brasil (que fizemos questão de registrar) e pelas parcerias que nos fazem acreditar que – assim como nos ensina o Kadu Almeida – o melhor sempre está por vir. Boa leitura!



EXPEDIENTE

8 DIREÇÃO MARCO CEZAR EDITOR-CHEFE MARCO CEZAR

30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO É MESMO PARA COMEMORAR!

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FEIJOADA DO CACAU SIM, ELA VOLTOU!

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SENTIDOS DA ILHA A ILHA DE TODOS – E EM TODOS – OS SENTIDOS

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MARATONA CULTURAL UMA MARATONA PARA CELEBRAR A VIDA E VALORIZAR A CULTURA

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PASSAGEM NOSSAS LINDAS – E DIFERENTES – PONTES

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PAPO DE FOTOGRAFIA ÁLBUNS DE FAMÍLIA

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FOTOGRAFIA GRANDEANGULAR

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EXPOSIÇÃO ECOA

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RUA DOS SEBOS UMA VIA E MILHARES DE PALAVRAS

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PAIXÃO NACIONAL A LENDA DO METROPOL NARRADA POR ZÉ DASSILVA

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JORNALISTA RESPONSÁVEL MARCOS HEISE (MTb-SC 0932 JP) REPÓRTER ESPECIAL LU ZUÊ PLANEJAMENTO GRÁFICO AYRTON CRUZ COLABORARAM NESTA EDIÇÃO ADRIEL DOUGLAS ALEXANDRE SOCCI AMANDA VIZENTEINER ANA CAROLINA ABREU CAIO CEZAR CARLOS BORTOLOTTI CARLOS STEGEMANN CLÁUDIO BRANDÃO CRISTIANO PRIM DANIELE MAIA DARIO LINS EDUARDO VALENTE ELISA IMPERIAL GABY SILVA GIKA MARTINS GUILHERME SCHAEFER IKE GEVAERD LARISSA TRENTIN LAURA SACCHETTI LEANDRO AMARAL LEONARDO MORRONI LUÍS ROBERTO FORMIGA MANU D’ÉÇA MARIANA TREMEL BARBATO MONIQUE VANDRESEN MILTON OSTETTO NÉRI PEDROSO RAFAEL CENSI ROBERTA RUIZ SÉRGIO VIGNES TÓIA OLIVEIRA IMPRESSÃO Maxigráfica | Curitiba/PR As opiniões expressas pelos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, o posicionamento da Revista Mural.

5 muralmarcocezar.com.br 0 contato@muralmarcocezar.com.br 1 48 3025-1551


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ECO TRILHAS PARA ENCHER OS OLHOS E DAR ÁGUA NA BOCA

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FORMIGA RADICAL CAPÍTULOS DE UMA PARCERIA RADICAL

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PELO MUNDO LISBOA E MINHAS EXPERIÊNCIAS HOTELEIRAS LA MAISON ÁRABE

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ROTAS CÊNICAS ARQUIPÉLAGO DE LOFOTEN

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NUTRIÇÃO ENDOMETRIOSE ABÓBORA

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SAÚDE BUCAL PROTETOR BUCAL

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FISIOTERAPIA GESTANTE

ÍNDICE

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CAPA KADU ALMEIDA

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SAÚDE MELASMA VOCÊ SOFRE COM MANCHAS NA PELE?

LOCAÇÃO ESTUDIO BRANDÃO FOTOS MARCO CEZAR CABELOS E MAQUIAGEM EVANDRO ROSSI

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MURAL GNB OS MAIS BADALADOS DA CIDADE

STAFF CLAUDIO BRANDÃO LU ZUÊ LUCCA PERNA BONATTO LUANA SCREMIM

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30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

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É MESMO PARA COMEMORAR! Costão do Santinho completa 30 anos de sucesso e reafirma seus valores imutáveis texto LU ZUÊ fotos COSTÃO DO SANTINHO RESORT e LEONARDO MORRONI


Pilares sólidos sustentam uma história de sucesso Há três décadas, quando o Costão do Santinho começou sua trajetória, o empresário Fernando Marcondes de Mattos estabeleceu os cinco pilares institucionais que definiriam a essência do empreendimento, projetado e construído para oferecer uma estrutura hoteleira de alto padrão pioneira no País, integrada à natureza e à comunidade. Com base neles – Natureza, Gastronomia, Entretenimento, História & Cultura e Humanidade – os valores do Costão foram se consolidando, e ficam evidentes na arquitetura, no respeito aos recursos naturais, na preservação da cultura local e na nobreza do bem servir.

Evoluir, sim. Sem jamais esquecer os valores Esses valores têm sido não apenas vivenciados, mas também fortalecidos e transmitidos ao longo dos anos. E não poderia ser diferente! Afinal, valores são preceitos inerentes e inseparáveis das pessoas, norteando e justificando suas escolhas, decisões e ações. Justamente por isso, não devem ser esquecidos, mas sim respeitados e cultivados para que possam gerar bons resultados. Nesses 30 anos de atuação, o Costão do Santinho passou por modernizações e sempre teve presente a prática de inovações sem nunca, porém, se desviar da proposta inicial ou deixar de lado seus valores.

30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

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30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

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Responsabilidade Ecológica transparece no cuidado com o ambiente Total e perfeitamente integrado à natureza, o Costão do Santinho foi construído em um local ímpar, que reúne a beleza ao mesmo tempo contrastante e complementar das montanhas, da areia branca, das dunas, do mar, da lagoa... Dos cerca de 1 milhão de m² de área total do empreendimento, aproximadamente 750 mil m² são área de preservação permanente. Como desconsiderar ou minimizar a importância desses elementos no conjunto do Costão? Isso explica o compromisso básico e irrevogável que o resort sempre teve com a preservação ambiental e com a conservação das características naturais do local, valorizando cada detalhe e proporcionando aos hóspedes e moradores experiências lúdicas e integradas.

Respeitar e servir ao meio ambiente No Costão do Santinho a regra é simples: nada de absorver e aproveitar, mas sim de preservar e reutilizar. Essa máxima vem da consciência da responsabilidade que todos temos com o meio ambiente, e da certeza de que os impactos de nossa existência não podem prejudicá-lo. Por isso, a destinação adequada dos resíduos é regra no resort. No Costão do Santinho, de toda a água utilizada, cerca de 99% é tratada para reúso na rega dos jardins e limpeza de ambientes e calçadas. No caso dos resíduos sólidos, o que for reciclável é separado e os resíduos orgânicos são destinados à compostagem. Essa prática – que dá condições para o ressurgimento da vida e do alimento – vai ao encontro da proposta de “troca” no lugar de “exploração”.


30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

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Valorização e preservação da cultura A cultura e a história estão presentes no ambiente natural no resort e também nas construções. Definidas como um dos pilares do Costão do Santinho, são reconhecidas, valorizadas e preservadas nos detalhes, como por exemplo a escolha de uma das inscrições rupestres encontradas no costão como marca do empreendimento. Afinal, foi lá atrás, há cerca de 5 mil anos, que o Homem do Sambaqui registrou sua história nas pedras. Depois, vieram os índios Carijós e mais tarde, os açorianos. A seu modo e com manifestações específicas, cada um desses povos deixou lições que o tempo não pode apagar, e que o Costão do Santinho sempre teve como missão e compromisso preservar.

Memória preservada e eternizada O Costão do Santinho é perfeitamente integrado não apenas ao ambiente, mas também à comunidade local e à vida da Capital. Isso é consequência, em parte, do respeito e defesa da cultura de nossos antepassados, que se manifesta por meio dos costumes, do tratamento acolhedor, da música, culinária, folguedos e arquitetura. No momento de definir o projeto das vilas do resort, os reflexos da colonização açoriana falaram alto, e os arcos, pedras,

tijolos e janelas coloridas foram elementos pinçados pelos arquitetos para criar um ambiente único. Na gastronomia, idem: pratos de origem açoriana estão presentes nos cardápios, com uso também de produtos pesca artesanal – defendida e estimulada pelo Costão –, prática tradicional nas praias de Ingleses e Santinho. Assim, estão registradas e preservadas as memórias e tradições de povos passados.


30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

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Raízes sólidas e cada vez mais fortes Desde pequenos aprendemos que a melhor maneira de transmitir mensagens é por meio de estórias bem contadas e repletas de emoção. Por isso, além da história de nossos antepassados – que plantaram suas raízes por aqui –, as estórias que trazemos como bagagem particular nos conectam com o local e as pessoas, sejam elas família de sangue ou presentes da vida. Isso fortalece nossa sensação de pertencimento, e é assim que o Costão do Santinho planta sementes nos hóspedes e moradores, fazendo germinar e crescer o apego às tradições locais e suas manifestações.

Respeito pela diversidade A pluralidade de origens, culturas, crenças e gostos é o que nos trouxe até aqui, e o que forma as comunidades. Com o diferente, aprendemos e evoluímos. No Costão do Santinho, o respeito à diversidade é um valor muito forte, e se manifesta no tratamento afetuoso dispensado às pessoas,

independentemente de sua origem, idade, crenças e escolhas, sejam elas membros da equipe de colaboradores, hóspedes ou visitantes. Saber admirar as diferenças, sejam elas de estilos de vida, gostos, interesses pontuais e escolhas é fundamental. E nesse processo, respeito e afeto caminham juntos.


Responsabilidade Social Contribuir com a comunidade está no DNA do Costão do Santinho. Além de gerar empregos e movimentar diretamente a economia da região, o resort desenvolve uma série de ações voltadas à atenção e valorização dos moradores locais e da população em geral. Do incentivo à pesca artesanal – que é sustento de várias famílias – à abertura de seus espaços para a promoção de educação ambiental para estudantes, passando também pela tenção e benefícios direcionados aos familiares dos colaboradores, no que diz respeito à responsabilidade social, o Costão do Santinho aplica a mesma consciência que dedica à preservação ambiental, devolvendo à comunidade aquilo que recebe.

Para todos os gostos e estilos A pluralidade de opções de diversão e lazer disponibilizadas aos hóspedes e moradores, permite ao Costão do Santinho atender – e mais do que isso, agradar e encantar – famílias com diferentes formações, pessoas de diferentes idades, estilos e gostos, sem nunca se afastar do eixo central. É por meio das atividades esportivas radicais ou mais leves, que movimentam corpo e mente e geram bem-estar e alegria, que o Costão do Santinho cria experiências positivas, lembranças valiosas que permanecem na memória das pessoas, podendo ser revisitadas sempre que necessário.

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16 30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

Busca pelo ser integral Somos todos o resultado da união entre corpo, mente e espírito. O alcance do equilíbrio entre esses três eixos e a consequente conquista da satisfação pessoal nos torna o que se define como ser integral. Em doses certas e coordenadas, natureza, cultura, entretenimento e contatos humanos conseguem fazer essa mágica, e o Costão do Santinho reúne as condições de oferecer essa realidade. Há tempo e espaço para ação e movimento, para contemplação e reflexão, para tecnologia e evolução, retorno às raízes e preservação da memória.

Cuidar bem de todas as pessoas Receber e tratar bem, com afeto, acolhimento e respeito, é a premissa do atendimento de hóspedes, colaboradores, comunidade e visitantes ocasionais. Do morador que vive lá há quase três décadas, aos estudantes que recebem educação ambiental, dos hóspedes frequentes àqueles que chegam pela primeira vez, dos colaboradores antigos aos recém chegados, para todos o atendimento caloroso e afetuoso é como um dogma para o Costão do Santinho. E o retorno é certo, pois se sentir acolhido e respeitado é o desejo de qualquer pessoa.


30 ANOS DO COSTÃO DO SANTINHO

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Orgulho da história e disposição para muito mais Chega a ser fácil falar dos valores do Costão do Santinho a partir de uma conversa com o empresário Fernando Marcondes de Mattos – idealizador e fundador do resort. Desde o início do projeto, há mais de 30 anos, ele foi firme na definição dos pilares que sustentam esses valores. Orgulhoso da caminhada e da história construída, ele reafirma as propostas originais e anuncia fôlego e disposição para seguir adiante. “Seguimos trabalhando confiantes, inovando com ousadia para continuarmos figurando entre os principais resorts do Brasil. Continuaremos fortalecendo os pilares que nos trouxeram até aqui: a natureza e sustentabilidade, a humanidade, a nossa estrutura e inovação constante, a história e cultura locais, o entretenimento e a gastronomia”, finaliza o visionário manezinho da Ilha que fez questão de colocar Floripa no mapa do turismo de alto padrão mundial. Mas sem jamais se afastar da proposta inicial.


FLORIANÓPOLIS RUA LIBERATO BITTENCOURT, 1426A – ESTREITO (48) 3954-4646



CAPA

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LOOK ESPORTE CAMISA COLCCI CALÇA COLCCI ÓCULOS GIORGIO ARMANI


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LOOK CASUAL BLASER ARAMIS GRAVATA ARAMIS CAMISA LACOSTE JEANS CALVIN KLEIN ÓCULOS RAY-BAN


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E S O F R O M A T E M AMBULANTE LOOK COLCCI TÊNIS COLCCI TRICOT COLCCI JEANS COLCCI


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Com a dedicação e o entusiasmo de sempre viver seu melhor momento, o player Carlos Eduardo de Almeida Santos Filho deixou o Rio Grande do Sul, conheceu o mundo e se tornou uma referência na cena urbana de Florianópolis. Aqui, ele é o Kadu Almeida! texto LU ZUÊ fotos MARCO CEZAR

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im... Conhecido na cena florianopolitana como Kadu, Carlos Eduardo ainda nem era nascido quando o Raul Seixas lançou a canção Metamorfose Ambulante. A composição, hoje uma das músicas mais reconhecidas do rock nacional, é uma referência para Kadu quando analisa as inúmeras transformações e adaptações pelas quais passou em seus 46 anos de vida – melhor dizendo, 46 anos de evolução! “Desde cedo, sempre gostei de conviver com muitas pessoas, de frequentar os grandes centros urbanos. Sou um cosmopolita em constante mutação”, define-se. Criado na cidade de Rio Pardo (RS), onde viveu até os sete anos, Kadu se mudou para Porto Alegre e lá deu lugar ao sonho de se tornar um jogador de futebol profissional. Chegou a passar pelas divisões de base do Grêmio, um dos dois maiores clubes de futebol do Rio Grande do Sul. Mesmo apaixonado pelo esporte e dedicado nos treinamentos – “E olha que eu tinha chance!” –, o futebol ficou apenas como uma lembrança da adolescência, e aos 16 anos veio morar com a família em Florianópolis. Se olhando de fora cada mudança de cidade exigia uma adaptação na vida, hoje Kadu reconhece que tudo parecia uma preparação para o que estava por vir. Aos 17 anos, partiu para uma carreira de modelo internacional, passando por países como Itália, França, Grécia, Alemanha, Holanda, Suíça, México, entre outros. Numa época em que poucos profissionais brasileiros alcançavam projeção internacional, vivendo um ritmo intenso de trabalho, Kadu conheceu diversos países, aprendeu cinco idiomas diferentes, desfilou para importantes marcas, experimentou a vida de “celebridade” e descobriu um mundo que parecia muito distante para alguém nascido numa cidade do interior de um país latino-americano. “Passei dez anos me dedicando à carreira de modelo. E costumo chamar esse período de uma faculdade da vida. Foi uma experiência completa”, avalia. Em sua fase europeia, estabeleceu como base principal a Grécia, que o fascina pela influência ainda atual das tradições culturais, como a filosofia e a arquitetura: “Durante oito anos, sempre passei ao menos uma temporada em Atenas. A Grécia era como minha segunda pátria”.

LOOK CLÁSSICO TERNO ARAMIS CAMISA LACOSTE SAPATO ARAMIS GRAVATA ARAMIS ÓCULOS GIORGIO ARMANI


CAPA

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CATÁLOGOS, ANÚNCIOS, DESFILES... 10 ANOS DE UMA CARREIRA DE SUCESSO INTERNACIONAL EM RETRATOS


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Foco na família Aos 27 anos, voltou para Florianópolis. Em uma nova metamorfose – mais do que especial – o modelo transformou-se em “Pai”, e com o nascimento da filha Valentina, Kadu evoluiu para uma “nova” melhor versão de si mesmo. Era hora de focar na vida familiar e deixar a carreira internacional sem quaisquer arrependimentos. O trabalho como modelo havia lhe dado muito: possibilitou conhecer “pessoas fantásticas, lugares incríveis, cheiros e sabores que nem sequer imaginava. A vida, no entanto, era muito nômade. E chegou um momento que eu busquei algo menos ‘free style’, mais sólido e voltado para a família. De certa forma, foi uma volta às raízes, ao modo como eu fui criado. A ascendência italiana acabou influenciando”, reflete. No início, o universo da moda continuou a lhe fazer companhia na nova fase. Só que, então, mais ligado à produção e ao marketing. Atuou como preposto de uma marca de roupas dos Estados Unidos, participou da elaboração de catálogos e vivenciou outras experiências comerciais. Assim, um estalo inesperado lhe despertou para as vendas. “Assumi que eu era um bom vendedor – e de qualquer coisa – e fui para a área do entretenimento. Atuei na Temakeria Nomuro, no Le BarBaron e no Art’s Gastronomia e Música, que se tornaram referência de gastronomia e entretenimento em Florianópolis, e também participei de outros projetos, como bares e casas noturnas. No total, foram quinze anos atuando na área de entretenimento, cinco deles como uma espécie de Relações Públicas junto ao Grupo Novo Brasil, porque o meu foco sempre esteve nas pessoas, na construção de relações”, recorda. Nessa fase, Kadu ficou conhecido entre os amigos como o Rei da Noite, título que nunca negou: “O que é um rei da noite? No meu entendimento, não é apenas alguém que frequenta assiduamente as colunas sociais, mas sim quem tem habilidade e condições para criar uma relação sólida com as pessoas dos mais diferentes ambientes profissionais. Este know-how não existe apenas por frequentar festas mais badaladas. É bagagem de vida, com uma dose de visão de mundo e temperamento”.

LOOK COLCCI TRICOT COLCCI JEANS COLCCI


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A opção de acompanhar o crescimento dos filhos Em uma relação anterior, Kadu se tornou pai de Valentina, hoje com 18 anos – “Um orgulho! Aluna de Medicina, realizando sonhos e conquistando seu mundo!”. Agora, casado há quinze anos com a empresária Ângela Zill – para quem não economiza elogios –, repetiu a experiência e viu nascer seu segundo filho, Matheus, hoje com três anos. “A Ângela é uma pessoa muito especial, e se tornou uma grande parceira de vida e também nos negócios. Quando veio a vontade de termos um filho, a vida nos brindou com o Matheus e em seguida tivemos de lidar com a pandemia. Hoje, nesta nova fase, estou buscando de novo essa energia para a minha família”. Com uma trajetória tão cheia de mudanças, a família é um capítulo especial e constante na vida de Kadu. “Meus filhos são a melhor parte da minha vida. O nascimento de cada um deles corresponde a uma grande mudança, e sempre tive a mentalidade de que um filho tem que estar preparado para o mundo, para aprender e conquistar. Por isso, eu me cuido. Quero viver bastante para ver meus filhos crescerem, criarem suas próprias famílias, serem felizes... E quero acompanhar, aplaudir e comemorar junto com eles. Essa é a minha luta e o meu maior presente”, conta.

LOOK CLÁSSICO TERNO ARAMIS CAMISA LACOSTE GRAVATA ARAMIS

Explosão na pandemia A chegada da pandemia da Covid-19, em março de 2020, estabeleceu a situação para uma nova atuação. Sim, porque uma metamorfose ambulante nunca para no mesmo lugar. E tampouco um cosmopolita. Num primeiro momento, as dificuldades em manter os negócios no setor do entretenimento – um dos mais atingidos pela necessidade de evitar aglomerações e conter a propagação do vírus – foram impactantes. Mas na sequência, Kadu identificou a oportunidade de usar o conhecimento comercial acumulado anteriormente para atuar numa área nova: a construção civil. “Comecei ainda levando as operações de entretenimento paralelamente à minha atuação no mercado imobiliário. Mas este segundo cresceu muito, mesmo com os tantos problemas que a pandemia trouxe. Assim, mudei o foco e hoje eu sou um developer partner da construção civil junto às D’Campos, Almeida Campos e CDZ Almeida. Eu explodi na pandemia. Foi uma coisa muito louca: fui de zero a mil”, destaca.


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O melhor (sempre) está por vir A metamorfose pode ser entendida como um ser que se transforma em outro, mantendo sua essência. E nessas muitas metamorfoses vividas, Kadu ainda tem o mesmo entusiasmo, sensibilidade e empatia com o próximo de quando iniciou a vida profissional abrindo as portas do mundo. Pisciano “raiz” daqueles que confiam e abrem o coração, Kadu disse que sempre soube aproveitar as oportunidades que a vida lhe apresentou, e colocou em prática a habilidade de adaptação em todos os momentos. Quando recebeu a equipe da Revista Mural em seu escritório – onde está cercado de objetos que marcam momentos importantes de sua vida, e por isso, repletos de significados –, fez questão de finalizar o encontro com seu otimismo característico: “Não podemos ter medo das mudanças porque elas fazem parte do que somos. E eu sempre vou buscar evoluir. Não acredito que exista um ponto estático na vida, no qual não dá mais para ir adiante. De modo geral, ou você está subindo ou você está descendo. Então, eu pretendo subir até onde eu tiver energia e força. E a melhor versão de mim sempre será a atual. Hoje é esta, e daqui a cinco anos pode ser outra completamente diferente. O melhor sempre está por vir”, finaliza.

LOOK CASUAL BLASER ARAMIS GRAVATA ARAMIS CAMISA LACOSTE JEANS CALVIN KLEIN TÊNIS COLCCI


CAPA

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Não podemos ter medo das mudanças porque elas fazem parte do que somos. E eu sempre vou buscar evoluir.

LOOK COLCCI JAQUETA COLCCI CALÇA COLCCI



FEIJOADA DO CACAU

foto CARLOS BORTOLOTTI

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SIM, ELA VOLTOU!

Feijoada do Cacau volta a brilhar na Ilha após dois anos de espera fotos LAURA SACCHETTI e MARCO CEZAR

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oram dois anos esperando até o último momento na crença de que seria possível fazer acontecer... mas ficando na saudade. Finalmente, em 2022 – o ano que apresenta uma nova forma de vivermos a normalidade – a Feijoada do Cacau (festa que sempre escreveu um capítulo especial do Verão da Ilha) voltou... E numa data pra lá de significativa: 2 de abril, aniversário do Cacau Menezes. O dia não amanheceu bonito em Floripa. Teve até chuva... Mas energia é tudo, e de lá do P12, em Jurerê, veio uma muito forte que mudou a história. Não tinha como ser de outra forma: cerca de cinco mil pessoas diferentes (famosos, anônimos, jovens, nem tão jovens, gente daqui e de bem longe) reunidas, todas numa vibe única, com o símbolo da paz impresso nas camisetas brancas e sorrisos estampados nos rostos, conseguem fazer qualquer dia lindo. Houve espaço para homenagear o Berbigão do Boca (que também desperta saudades há dois anos), mostrando que a Ilha é democrática, respeita tradições e ama festas. Nos dias seguintes, em sua coluna no jornal Notícias do Dia, um Cacau emocionado, publicava fotos e mais fotos, e afirmava que foi uma celebração da vida, um momento de encontros e reencontros, que começou a ser organizado em uma cama de hospital, onde a incerteza (mais uma vez, ela!) reinava. E tudo deu certo. Aliás, MUITO certo! “Um aniversário desses nunca imaginei, mas não tem como esquecer”, confessou. E mesmo sem ter ido à festa, é possível perceber pelas fotos do Marco Cezar e da Laura Sacchetti (que mandaram muito bem!) a emoção, a energia e a alegria que fizeram dessa 24a edição, uma das melhores feijoadas de todos os tempos. Palavras do empresário Fernando Marcondes de Mattos: “Esta festa não é mais do Cacau. É de Florianópolis!”. Quem sabe, sabe... e a Mural assina em baixo.


FEIJOADA DO CACAU

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ALINE MOMBELI

LAURA PADARATZ E GUILHERME LEICAM

LOUIZIANE E TULLO CAVALLAZZI

ALINE VEIGA

MARYEVA OLIVEIRA

LICA PALUDO

GIANCARLO E JAQUELINE CASTELAN, JOEL MENEZES NIEBUHR E FERNANDA, CAMILA E ALESSANDRO ABREU

DÉIA BUSATTO

PATY KOERICH

MIRELA

PAULO NUNES, NANI MACHADO, LEANDRO, GIBÃO E LUJAN

MARIA ROCIO E CESAR ABREU

RENATO SÁ E FERNANDA BORNHAUSEN


FEIJOADA DO CACAU

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DECA MAGALHÃES

FERNANDA MORETTI

CRISTININHA E TUTU HOMEM DE MELLO foto CARLOS BORTOLOTTI

DJ MARI-ANNA

CACAU, BIBI E DJ ANÃO

TURMA DO KADU

SABRINA E DIOGO PITSICA

GIULIANA, LISA, MARIANA, DELI, ALINE E GISELA

ODILON TAYER, HELOISA, LUIZ FERNANDO E LÚCIA DE VINCENZI

PEDRO AKOS LITSEK, RENATO SÁ, WILFREDO GOMES E ZÉ NETO

TOPÁZIO NETO E CARLOS MOISÉS

JAMIL, MÁRCIA, MARIZE, ELIANE, FERNANDA E OMAIA

TURMA DO JURERÊ IN

GABRIELA, LAURA E TECO PADARATZ


FEIJOADA DO CACAU

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JOSÉ MATEUS E SILENE ROEHRIG

CINTIA E GEAN LOUREIRO

RITA CRUZ LIMA E MARCELO DIAS

foto CARLOS BORTOLOTTI

MIRINHA E VALÉRIO GOMES

TURMA DO BEBIGÃO DO BOCA

TURMA DO MANOEL

ANNA CHRIS, FERNANDO MARCONDES, JULIANA TEDESCO E FÁBIO LITZ

CIDADE NEGRA

GISELLA E LUÍS TEDESCO

SUZANA E SÁVIO

TURMA DO TONIETO

MÁRIO, JUDITH E MARCELLO PETRELLI

DANIEL ARAÚJO E CAROL PONTES

TURMA DA QUANTUN


SENTIDOS DA ILHA

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foto CAIO CEZAR

foto CARLOS BORTOLOTTI

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oi com a proposta de relacionar os sentidos humanos às impressões e sensações que a Ilha desperta e grava na memória dos manezinhos e visitantes, que surgiu a ideia de perguntar por aí – nas noites, baladas, e espaços totalmente democráticos, como nosso Mercado Público – e para as pessoas que vivem e amam nossa cidade, quais são as imagens, sons, cheiros, gostos e toques que a Ilha tem. E como sempre, a Ilha nos surpreende em todos os sentidos, e do som da banda Dazaranha (que ganhou de lavada a votação para a primeira lembrança que o sentido da audição desperta), ao toque da areia entre os dedos dos pés, as sesnações mexem com o nosso imaginário. As respostas, traduzidas de forma lúdica e poética por Carlos Damião, estão aí! Leia, imagine e sinta.

textos CARLOS DAMIÃO

foto CAIO CEZAR

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lorianópolis inspira poetas, amantes, fotógrafos, artistas, viajantes e aventureiros. A natureza generosa desafia à contemplação, estimula os sentidos, convida à vivência e a experiências lúdicas. A ilha-mulher, como definiram o cronista Sérgio da Costa Ramos e a poeta Maura de Senna Pereira, é um corpo geográfico em êxtase permanente, descolado de céu, mar, montanha e nuvem, que estimula as velas ao vento a um navegar constante, à procura da paisagem e da plena liberdade. A ilha viaja no tempo, nas asas das gaivotas, quero-queros, sabiás e bem-te-vis. A ilha redescobre Desterro e todos os seus sentidos. “Meu corpo é o teu imenso corpo de ilha e minha alma invade as tuas entranhas participando da tua febre criadora. Meu sangue é o rasgão líquido dos teus rios a linha nervosa das tuas cachoeiras a água matuta das tuas lagoas.” aura de Senna Pereira, fragmento de “Ilha e Mulher”, M in: Círculo Sexto, Rio de Janeiro: Simões Editora, 1959)


35 SENTIDOS DA ILHA

fotos MILTON OSTETTO

Visão A visão desconhece limites. Vai da velha ponte às montanhas, da Praça XV à Joaquina, das dunas às nuvens, do branco sobre branco ao verde/azul do oceano, do nascer do sol no Morro das Pedras ao pôr do sol em Cacupé, das pandorgas coloridas do Mocotó às pranchas que deslizam sobre as ondas da Mole. As moças e seus biquínis multicoloridos, seus seios, os barcos saindo à pesca na Lagoa e na Barra, a vida trançando lenta nas tramoias das rendeiras. A lua que sorri cheia de afetos na moldura das nuvens sobre o Maciço, iluminando as casas, convidando à poesia e à paixão. A visão não tem horizonte, nem obstáculos, é uma viagem sem limites, um encontro sem pressa, um instante sem pausa, um abraço do azul, um beijo da chuva, a vida que se traduz nos jardins floridos, na imensidão do mar e do céu, no encontro de cores e sensações.


foto CAIO CEZAR foto EDUARDO VALENTE

foto MARCO CEZAR

SENTIDOS DA ILHA

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foto AYRTON CRUZ

Audição

foto AYRTON CRUZ

foto AYRTON CRUZ

Os pássaros mandam sinais de que a natureza desperta cedo, de que a cidade moderna preserva as intensidades de sua beleza interior, apesar das sirenes, das buzinas. Quando chega o vento, seu uivo traz lembranças e vultos à aldeia; por vezes anuncia a chuva, por vezes anuncia o sol. O barulho da chuva convida a ouvir e sonhar, a despertar ou relaxar. Pelas ruas, as conversas e os risos das pessoas apressadas. Nos alto-falantes das lojas, as ofertas do dia, as novas maravilhas da tecnologia. Nas igrejas, o silêncio das orações, só o som dos passos, do Senhor. Na praça, os pássaros e o vento nas árvores, os namorados e os peregrinos da rua, cochichos e lamentos. Ao meiodia, a sinfonia dos sinos da Matriz, o alarido dos pombos, o tropel humano dos que saem à busca do almoço.


SENTIDOS DA ILHA foto LAURA SACCHETTI

foto TOCA DA GAROUPA/DIVULGAÇÃO

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foto LAURA SACCHETTI

Paladar

foto LAURA SACCHETTI

foto LAURA SACCHETTI

Do beijo salgado do teu mar que lambe generosamente o corpo das praias, dos peixes que enchem as redes, as canoas e as bancas do mercado, das ostras, camarões e mariscos, das frutas de época, as goiabas, as mangas, as bergamotas e as bananas. Os sabores da Ilha que inspiram pratos e alimentam com poesia a fome dos humanos e das aves.


foto MILTON OSTETTO

SENTIDOS DA ILHA

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foto MARCO CEZAR

Tato

foto MILTON OSTETTO

foto LAURA SACCHETTI

O trabalho, a luta diária, a correria... encerrar sempre com o pé na areia, sentindo os grãos entre os dedos! Na pesca, o sentido das redes, o contato com a água, as cordas do arrastão, o carinho com os peixes, a limpeza do barco... Tantas mãos que sentem vibrar o alimento vivo, mãos do trabalho, mãos que trabalham para preparar as carnes, que chegam a outras mãos, nas cozinhas. Nas mãos da rendeira, os bilros viajam no espaço da almofada, a toalha é um desenho, um mosaico de cores e rendas. O trabalho manual, a arte do tato, artesanato.


foto AYRTON CRUZ

SENTIDOS DA ILHA

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foto TARCÍSIO MATTOS

Olfato

foto AYRTON CRUZ

foto MARCO CEZAR

Os cheiros da ilha, de seus temperos, da maresia, das flores, da terra molhada, do café, e do vinho, e da cerveja, e do sexo. A ilha cheira a sexo, a sensualidade, ao encontro de vidas, ao êxtase dos corpos. Cheiros que viajam no vento, penetram portas e janelas, acendem desejos, misturam paixões, entrelaçam pernas e braços, num tempo de sensações que inspiram sonhos e acordam frescores.


Se os cinco sentidos significam a percepção humana diante de diferentes situações concretas, ele, o sexto sentido estimula percepções sobre o que parece imaginário, oculto, misterioso ou mágico. Na edição no 81 já falamos sobre o tal do sexto sentido, lembrando que Florianópolis já foi conhecida como a “Ilha das Bruxas”, por causa das lendas e expressões culturais milenares trazidas pelos imigrantes de origem luso-açoriana, e que por causa da resistência religiosa tradicional (católica), acabou se tornando a “Ilha da Magia”. Que o diga nosso estudioso da cultura local, o museólogo e artista Gelci José Coelho, o Peninha, que “abraça as bruxas” sem receio. O sexto sentido é a capacidade de sentir além do real, e está no misticismo que preservamos ao longo dos séculos, como as benzedeiras, as bruxas, as manifestações religiosas de todas as origens, em especial a católica (culto ao Divino) e a espírita de natureza afro-brasileira.

foto MARCO CEZAR foto GUILHERME SCHAEFER

E tem mais um... a Ilha desperta o sexto sentido

foto MARCO CEZAR

SENTIDOS DA ILHA

foto GUILHERME SCHAEFER

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foto GABY SILVA

MARATONA CULTURAL

foto LEANDRO AMARAL

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Movimento, cultura e tradição voltam (aos poucos) às ruas de Floripa texto LU ZUÊ fotos de divulgação ELISA IMPERIAL, GABY SILVA, LEANDRO AMARAL, MANU D’ÉÇA e TÓIA OLIVEIRA

foto TÓIA OLIVEIRA

UMA MARATONA PARA CELEBRAR A VIDA E VALORIZAR A CULTURA


foto TÓIA OLIVEIRA

foto GABY SILVA

foto TÓIA OLIVEIRA

foto MANU D’ÉÇA

MARATONA CULTURAL

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M

arço marcou o fim de um verão que vai deixar saudades, quando fomos cuidadosamente dando conta da ansiedade de encontrar bares, restaurantes e praias abertos, e vivenciando a liberação gradual das baladas e festas que sempre animaram a estação do Sol na nossa Floripa. A temporada da “normalidade controlada” começou com o aniversário da Capital, que comemorou seus 349 anos com aquele jeitinho de quem estava mais do que pronta (e ansiosa!) para voltar a viver uma estimulante e necessária vida ao ar livre. Tímida ainda e evitando incentivar a aglomeração de pessoas, a programação dava sinais do que viria pela frente, quando abril e o outono chegaram, de mãos dadas com as agendas culturais que tanto amamos, movimentando uma Florianópolis cada vez mais linda, viva e com os sentidos à flor da pele. Ver, ouvir, tocar, sentir cheiros e gostos... Tem forma melhor de se conhecer e celebrar a vida e nossa cidade? Após dois anos de silêncio e ausência, entre os dias 8 e 10 de abril, a Maratona Cultural de Florianópolis ressurgiu trazendo de forma presencial mais de 150 atrações que pipocaram em 42 pontos da Ilha. Foi a 8ª edição de um evento que trouxe um respiro de música, dança, teatro, exposições... de vida pulsante para as ruas da capital catarinense. O retorno, após um período de distanciamento e incertezas, não poderia ter sido melhor.


foto ELISA IMPERIAL

foto ELISA IMPERIAL

MARATONA CULTURAL

foto TÓIA OLIVEIRA

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Já no dia de abertura, os bons ventos sopravam de todos os lugares. De apresentações com inscrições prévias (e limitadas a 20 espectadores) no Teatro da Ubro, e exposições a céu aberto ou em galerias fechadas, a shows que lotaram os largos da Catedral e da Alfândega e também o Jurerê Open Shopping (as bandas Marelua e Dazaranha fizeram a alegria do público e botaram a galera para dançar no Norte da Ilha), havia programação para todos os gostos. A proposta foi clara: “Preparamos uma programação super democrática para proporcionar um final de semana de cultura e diversão tanto para os moradores quanto para os visitantes da nossa cidade. Era o que precisávamos para celebrar a vida e valorizar nossos artistas”, contou a presidente do Instituto Maratona Cultural, Paula Borges. Planejada para reunir, receber, agradar e encantar um público totalmente heterogêneo, diverso e plural, a Maratona Cultural literalmente se espalhou novamente por todos os cantos e recantos da cidade e ocupou os espaços públicos de forma criativa, permitindo que as pessoas tivessem acesso fácil ao que se cria aqui ou ao que vem de fora. Independentemente da origem, a cultura nas ruas tem aquele gostinho do resgate de viver em essência uma cidade. E bem sabemos o quanto Florianópolis combina com isso. A Ilha ferveu! Conta aí: há quanto tempo não se via o Largo da Catedral tão lotado e feliz? Que aquela noite de sexta nos lembre! Difícil listar a extensa programação que movimentou um final de semana que trouxe luz e vida para a cidade. Nas fotos que ilustram esta matéria, dá para ter uma ideia da diversidade de oportunidades que deixaram Floripa ainda mais linda e culturalmente ativa. Em que outro evento teríamos a chance de ver os tradicionais Boi de Mamão do Pantanal e Boi de Mamão de Jurerê se apresentando juntos? Foi a primeira vez que isso aconteceu...


foto ELISA IMPERIAL

E olha que esse presente fazia parte da Maratoninha Cultural, pensada para despertar e manter vivas na memória das crianças as tradições de nossa Ilha. Aliás, eles tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história de uma Florianópolis com 343 anos recém completados ao participar da caminhada cultural “Toda vida Reto” – da Praça XV à Ponte Hercílio Luz: 100 anos de história”, com o Guia Manezinho. As atrações musicais (que tiveram como destaque as apresentações nos palcos Tenho Mais Disco Que Amigos! (TMDQA!), na Escadaria do Rosário, e Rifferama, no bairro Saco Grande), foram encerradas com chave de ouro: no final da tarde de domingo o cortejo Fanfara da Ponte saiu do Museu Escola Catarinense (MESC) em direção à Escadaria do Rosário, e lá ficou até chegar a hora de dizer “Até breve!” para a próxima edição da Maratona. E que seja sempre assim!

foto ELISA IMPERIAL

foto ELISA IMPERIAL

foto TÓIA OLIVEIRA

MARATONA CULTURAL

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foto CARLOS BORTOLOTTI

PASSAGEM

foto CARLOS BORTOLOTTI

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NOSSAS LINDAS

– E DIFERENTES –

PONTES

foto EDUARDO VALENTE

Pontes Anita Garibaldi e Hercílio Luz: semelhantes na essência, diferentes no estilo


foto EDUARDO VALENTE

PASSAGEM

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texto LU ZUÊ fotos CARLOS BORTOLOTTI e EDUARDO VALENTE

S

anta Catarina é um estado reconhecido pela diversidade cultural, pelo espírito empreendedor de seu povo e pela força econômica que nos permitiu fechar o ano de 2021 com crescimento de 8,3% do Produto Interno Bruto (PIB), superando o percentual brasileiro e o de São Paulo (4,6% e 5,7% no ano, respectivamente). Mas, antes de mais nada, o que sempre chama a atenção é a inigualável e exuberante beleza natural, que grava na memória das pessoas imagens de praias, montanhas, florestas de Mata Atlântica, serras e planaltos. Por isso, quando se ouve a pergunta: “Santa Catarina tem belezas naturais?”, a resposta é uma só: “E como tem!”. Mas, curiosamente, foram “esculpidas” pelas mãos dos homens – com largo intervalo de tempo e também por isso diferenças de estilo construtivo – duas grandes estruturas que deixam o cenário catarinense ainda mais bonito, e cumprem a missão de facilitar deslocamentos, unir comunidades, e homenageiam dois grandes catarinenses que bem representam a força de nossa gente: as pontes Hercílio Luz (ex-governador que determinou a construção da primeira ligação entre a Ilha e o Continente) e Anita Garibaldi (lagunense ilustre, conhecida por sua participação na Revolução Farroupilha e no processo de unificação da Itália). Especial em sua beleza e história repleta de idas e vindas, a Hercílio Luz está sempre marcando presença aqui nas páginas da Mural. Também, não poderia ser diferente: somos fãs de carteirinha da “Ponte Velha”, que renovada por um longo e tumultuado processo de recuperação está mais linda do que nunca. Já a outra, a Anita Garibaldi, faz sua mais que merecida estreia, trazendo imagens que criam o belo e significativo contraste entre duas estruturas tão semelhantes em sua essência e ao mesmo tempo totalmente diferentes em seu estilo.

A eterna beleza da Hercílio Luz Com 96 anos que se completam no dia 13 de maio, a ponte Hercílio Luz é, sem dúvida alguma, ú-ni-ca. É a maior ponte suspensa do Brasil (são 74 metros de altura e 821 metros de extensão, com um vão pênsil de 339 metros) e a maior ponte pênsil sustentada por um sistema de barras de olhal ainda existente no mundo. Imponente, a Hercílio Luz foi inaugurada em 1926 (foram quase quatro anos de obras), e é considerada o cartão postal de Florianópolis. Aliás, não é exagero dizer é também um dos pontos turísticos mais lembrados do Estado. Reconhecida como um marco da engenharia, ela carrega com competência o título de monumento, e como personagem de destaque no desenvolvimento da cidade presenciou muitas histórias, fez parte de outras e acompanhou a passagem do tempo, com jeitinho de moderna para a época em que foi construída, e tombada como patrimônio histórico, artístico e arquitetônico em 1992. Por quase cinco décadas foi a única ligação entre a Ilha e o Continente, e só em 1975, quando a ponte Colombo Salles passou a lhe fazer companhia, é que ela teve uma “folguinha” no vai e vem dos carros. Em janeiro de 1982, após relatório de inspeção realizada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), a ponte foi interditada pela primeira vez. Seis anos depois foi liberada para tráfego de pedestres, bicicletas, motocicletas e veículos de tração animal, e em julho de 1991, nova interdição total. Recuperada, foi “devolvida” aos catarinenses no dia 30 de dezembro de 2019 com uma grande festa que reuniu quase 200 mil pessoas. Desde então, ela voltou a participar ativamente da vida das pessoas, e tornou-se personagem campeã de presença em fotos e vídeos. A ponte é linda! E as fotos comprovam.


Moderna, eficiente e estaiada Entregue para a população em julho de 2015, a ponte Anita Garibaldi é outro exemplo de cartão postal que a engenharia tornou possível em Santa Catarina. Construída sobre o canal de Laranjeiras, em Laguna (Sul do Estado), a estrutura foi projetada para pôr fim ao congestionamento que castigava moradores e quem viajava por aquela região da BR-101. Na época, com a rodovia federal duplicada, a travessia do canal seguia em pista simples, criando um gargalo com milhares de veículos que passavam por ali a cada dia. Há anos uma nova travessia era esperada, e em 2012 a construção teve início. Moderna, é a primeira ponte estaiada (ou atirantada) em curva do País. Esse nome diferente define um tipo de ponte suspensa por cabos, constituída de um ou dois mastros, de onde partem os cabos de sustentação. A “nossa” ponte estaiada é grande: tem 2.830 metros de extensão (400 metros no vão central com estais), dois mastros de sustentação com 63 metros de altura e 136 estacas escavadas. Tudo bem que em relação ao traçado original da rodovia, a distância é praticamente a mesma, mas as pistas duplicadas ampliaram a segurança e permitiram manter uma velocidade constante de 110 km/h num trecho antes bastante lento. Resultado: trânsito fluindo com tranquilidade. Vamos lembra que o trecho Sul da BR-101 é o principal corredor de acesso aos países do Cone Sul do Mercosul, e a principal ligação rodoviária entre São Paulo e Buenos Aires. Ou seja, a ponte Anita Garibaldi tem importância para o desenvolvimento econômico, para a indústria turística e – claro – trouxe um charme extra para o trecho. Se de dia a paisagem já ficou infinitamente mais bela, à noite a iluminação é um show à parte, com destaque para a parte central (onde ficam os mastros de onde saem os estais), que especialmente vistos à distância se destacam no escuro do céu como uma escultura futurista. O que nos resta dizer: bem-vinda às páginas da Mural, ponte Anita Garibaldi. E vida longa e plena!

fotos CARLOS BORTOLOTTI

PASSAGEM

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foto CAIO CEZAR

PAPO DE FOTOGRAFIA

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Quando a lembrança é mediada por fotografias, esses momentos íntimos, capturados pela câmera, são muitas vezes reimaginados e cultivados em narrativas do presente

ÁLBUNS DE FAMÍLIA


PAPO DE FOTOGRAFIA

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TODAS AS FOTOS ANTIGAS EM NEGATIVOS DE VIDRO

texto CLÁUDIO BRANDÃO

Q

uando o tempo separa gerações, as imagens permanecem como artefatos de histórias pessoais, congelados em álbuns e arquivos de família até que vivam novamente nas mentes de quem os vê como memórias. Sob a denominação de álbuns de fotografias podemos incluir um conjunto de memórias, composta sobretudo de fotografias nem sempre organizadas ou catalogadas. As caixas de sapato ainda são bastante populares para esta forma de colecionismo que, alguém já disse, é uma forma de memória externa que só buscamos eventualmente, como fazemos com os mais modernos HDs ou discos rígidos. As primeiras fotos de família foram produzidas em estúdio ainda nos primeiros anos do início da Fotografia (1839), quando os tempos de exposição permitiam apenas fixar a imagem de uma pessoa absolutamente imóvel. É possível notar nessas primeiras imagens que as crianças muitas vezes apareciam borradas, por não conseguir ficar muito tempo paradas.

Essas primeiras fotografias eram um privilégio das classes mais abastadas, e é a partir de 1899 que esse panorama é alterado, com o lançamento de uma câmera muito simples lançada pela Kodak. O mote da Kodak era: “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”. A ideia era que até as crianças seriam capazes de fotografar. O filme era revelado pelo próprio fabricante e entregue em tamanho “postal”, eficiente tanto para ver e mostrar quanto para guardar. Este fato amplia o público que passa a utilizar as imagens para constituir os álbuns de família e assim, com as fotografias, dor e luto eram atenuados, visto que os mortos “sobre viviam” naquelas caixas/álbuns de memórias. Tendo sido a prática mais difundida da fotografia desde o final do século XIX, a fotografia de família sempre chamou a atenção dos pesquisadores da área. Os estudiosos que trabalham com álbuns de família vêm principalmente da antropologia, mas os estudiosos das áreas de Estéticas, História da Arte, Fotografia e Estudos Culturais também abordam esse material.


PAPO DE FOTOGRAFIA

52 As fotografias de crianças, por exemplo: o próprio conceito de infância anda de mãos dadas com o desenvolvimento da fotografia, e alguns chegam a afirmar que foi em grande parte criado por ele. A fotografia congelou a infância no tempo, servindo a duas funções distintas. Primeiro, mostrou-os como parte de uma grande família feliz. E, claro, nos dias em que a taxa de mortalidade infantil era tragicamente alta, preservou sua memória como um seguro contra o pior. É extraordinário pensar que os álbuns de fotos existem há pouco mais de cem anos, e que agora podem desaparecer. Essas fotos oferecem vislumbres sobre a condição humana: é ela que

mostra a juventude, as narrativas pessoais, um casal envelhecendo, o tédio, a viagem, o companheirismo, a inocência, o orgulho. Os álbuns de fotos de família podem ser interpretados como formas de compreensão e aceitação da vida, ao mesmo tempo que documentam aspectos mais sociológicos do quotidiano, aos quais não temos acesso a partir de outras fontes históricas. Uma das ideias desta seção é compartilhar e incentivar a preservação das coleções de fotografias de família que muito podem contribuir com a história da capital catarinense, visto que mesmo quando não conhecemos os retratados, aprendemos sobre moda, decoração e hábitos de determinados períodos.


foto AYRTON CRUZ

Projeto planeja exposição de acervo Uma das primeiras coleções que estamos estudando é o acervo do Foto Brasil, que hoje está sob a guarda do fotógrafo Sérgio Vignes e parte dela já está digitalizada. A fotografia é antes de tudo um testemunho; quando se aponta a câmera para algum sujeito ou cena constrói-se um significado e conta-se uma história. Assim, ao publicar este acervo, pretendemos disponibilizar ao público, que por sua vez irá auxiliar na identificação dos retratados e contar um pouco da sua história. Esta é a ideia do Programa de Extensão Laboratório de Representação Fotográfica, do Centro de Artes (CEART) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Através de uma exposição e com a ajuda das redes sociais e da internet, pretendemos identificar, recolher e orientar interessados em preservar seus acervos familiares. Além disso, desejamos contar, por meio das fotografias, um pouco da história da capital catarinense. O projeto, mais do que recuperar e conservar este importante acervo, quer torná-lo público e estimular histórias que possam vir destas imagens. Os planos incluem uma exposição onde as pessoas possam identificar parentes e locais, contar histórias e lembrar de uma Florianópolis que já não existe. Além disso, o projeto vai viabilizar a consulta para interessados em fotografia e na memória cultural de Florianópolis. A proposta busca dar visibilidade ao projeto desde sua fase inicial, por meio de ações de comunicação como esta na Revista Mural.

SÉRGIO VIGNES

KODAK BROWNIE, NO BRASIL FICOU CONHECIDA COMO CAIXOTE OU CAIXÃO (1900). UMA DAS PRIMEIRAS CÂMERAS “POPULARES”

PAPO DE FOTOGRAFIA

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PAPO DE FOTOGRAFIA

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Como o mundo seria sombrio se não existissem Virgínias! texto MONIQUE VANDRESEN

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ualquer que seja o tópico, qualquer que seja a área de assunto, uma imagem conta uma história e tem uma história própria. O “método histórico” estabelece que pesquisadores comecem pensando no problema da própria imagem: ela é uma representação direta e precisa da realidade? Além disso, as atividades iniciais de pesquisa com imagem determinam uma descrição da imagem: o que ela mostra, quem mostra. Parte dessa exploração inclui a realização de “inferências” ou suposições. Imagino, por exemplo, que o nome desta menina seja Virgínia, em homenagem à menina de oito anos que escreveu uma carta ao jornal The New York Sun em 1897 perguntando se Papai Noel existia. Virgínia, aliás, era um nome comum para as meninas que nasciam entre 1940 e 1950: segundo dados do IBGE, o número de virgínias cresceu 93% no Brasil entre o início e o fim da década de 40. Suponho, embora a caixa de brinquedo embaixo da árvore me deixe em dúvida, que a foto é da primeira metade da década de 1950, que Virgínia festeje o Natal na casa dos avós. Creio que a foto que está em um porta-retrato sobre a cristaleira seja do casamento dos avós, na década de 1920. Vejo que na casa da avó de Virgínia há eletricidade, que uma gambiarra leva o fio do pisca-pisca até a tomada que fica trás de um rádio, e que há um relógio de mesa que talvez, junto com a caixa de brinquedos, ajude historiadores a localizar a foto no tempo. Me chama também a atenção o par de botinhas abaixo do presente, uma lousa para brincar de escolinha. Será que Virgínia virou professora? É a única criança nesta festa de família ou as outras saíram para brincar?

Todas essas conjecturas podem vir abaixo se, em um exame mais atento, consigamos verificar, como desconfio, que a caixa sob a árvore traz o logo que a marca de brinquedos Estrela usava antes de 1945. Mas e se a caixa de papel fosse o esconderijo dos enfeites de Natal desde que a mãe de Virgínia era criança, e não um presente daquele ano? E se o quadro da Última Ceia em relevo fosse comum nas casas brasileiras só depois da década de 60? Qualquer que seja o tópico, qualquer que seja a área de assunto, uma imagem conta uma história e tem uma história própria. O tipo de papel pode mostrar quando foi impressa, o carimbo do fotógrafo pode nos localizar no espaço, o melhor dos computadores pode nos mostrar com precisão o relógio, a lousa, o rádio e a caixa de papel. Mas só Virgínia sabe a história própria desta foto. Em um editorial de 21 de setembro de 1897, o The Sun, responde Virgínia, a menina que havia perguntado se Papai Noel existe: “Ah! Como o mundo seria sombrio se Papai Noel não existisse! Seria tão triste como se não existissem virgínias”. Também seria sombrio um mundo sem essas memórias, nem sempre nossas, e as histórias que com elas somos capazes de contar. w Este projeto é coordenado pelo professor Cláudio Brandão, com a participação da professora Monique Vandresen e da acadêmica Amanda Vizenteiner.



FOTOGRAFIA

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GRANDE ANGULAR Produção do fotógrafo Cristiano Prim se situa entre arte, imagem e história

A MENINA TORTA, NAS APRESENTAÇÕES DE TURMAS CEART/ UDESC, EM 2013


FOTOGRAFIA

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BAILARIANA MARIANA ROMAGNANI

texto NÉRI PEDROSO fotos CRISTIANO PRIM, GIKA MARTINS E NÉRI PEDROSO

N

foto GIKA MARTINS

ão basta só o talento para obter fotografias capazes de fazer história como documentos visuais que, de tão potentes, mudam paradigmas e atravessam o tempo. Algumas imagens mantêm relevância por séculos. Poucos são os profissionais desse universo que conseguem captar momentos e pontos muito precisos da realidade. Nos resultados alcançados pelo blumenauense Cristiano Prim, que vive e atua em Florianópolis, é possível identificar uma “escritura”, uma marca singular no registro de detalhes quase imperceptíveis do movimento e da cena.

Bastante conhecido no circuito cultural de Santa Catarina, Prim tem uma trajetória de mais de 20 anos quase que exclusivamente voltada à documentação de espetáculos de dança, de teatro e de shows musicais. Por meio do Edital Aldir Blanc Santa Catarina – 2021, na Escola Câmera Criativa, em Florianópolis, no começo de abril, ele ministrou a oficina teórico-prática “Atrás das Lentes Fotografia para Artes Cênicas – Movimento” em que desvendou um pouco do mistério da eficiência. Em encontros presenciais compartilhou conteúdo sobre a fotografia de palco tradicional e de rua, demonstrou como, num átimo, é possível captar desenhos de luz e formas de pessoas em movimento, algumas vezes em grande velocidade, como é o caso dos bailarinos. Mais do que talento, a produção fotográfica precisa ser entendida como um campo de conhecimento que exige domínio técnico e teórico. O arsenal de imagens deste profissional, além de elevar a fotografia ao estatuto de obra de arte, também aponta à construção documental de uma expressiva parte da história cultural de Santa Catarina. Como poucos, ele sabe que o poder das imagens atravessa questões poéticas, históricas, sociais, tecnológicas e econômicas. Acurado cronista visual, Prim precisa ser pensado como um artista fotografando artistas. Com essa postura, o artista fotógrafo registra companhias consagradas, como o Grupo Cena 11 Cia. de Dança, trajetórias solo, festivais, shows e mostras. Pela experiência no campo da fotografia cênica, as coreografias, performances e espetáculos ganham composições surpreendentes. Não se trata de um mero registrador de fatos e acontecimentos.


FOTOGRAFIA

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ANDERSON GONÇALVES EM PROJETO SKR, DO GRUPO CENA 11

Linguagem que se constrói no fugidio Singulares, suas imagens têm o vulto da significação, rompem com a representação pura e simples, instauram outras leituras, trazem o fulgor e a autonomia da criação artística. Mudam valores, o que também desloca a atuação para o campo da ação cultural, ou seja, alguém que contextualiza o que faz nas tessituras do social e do humano. Além de documentar, ensinar, criar autoestimas, a produção de Prim alarga sensibilidades porque oferece uma experiência estética. Seu arquivo, sob o ponto de vista da memória, é um patrimônio que o afirma como uma referência em Santa Catarina, reconhecida em 2020 por meio do prêmio de Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc/SC. Defensor da criação de uma linguagem própria, aconselha a fuga do senso estético padronizado, o olhar domesticado. “Tudo cada vez mais segue o formato padrão, cartesiano e militar. Há técnicas que devemos dominar, mas por uma questão de linguagem, porque é ela que estabelece o imediato reconhecimento da autoria de uma imagem, algo fundamental que também está relacionado ao necessário respeito do tempo e do espaço do que é e quem é fotografado. Momento único e mágico, você e o fotografado se reconhecem e se redescobrem. É uma troca.” A boa imagem se concretiza quando o fotógrafo, o músico, o ator, o bailarino ou qualquer pessoa, esquecem o nome próprio, quando todos estão mergulhados nos acontecimentos e tarefas. “Os bons disparos acontecem quando entramos numa dimensão

BAILARINA ALINE BLASIUS EM PROTOCOLO ELEFANTE, DO GRUPO CENA 11

de paridade de frequências.” Nesse sentido, segundo ele, ajuda a entender um pouco das técnicas dos atores, bailarinos e músicos. “As artes cênicas pedem ensaios e quanto mais preocupações os artistas têm com a qualidade das informações, quanto mais generosidade envolvida, mais fácil se torna o meu trabalho. O dedo dispara com mais leveza.” Assim, com essas concepções, o arquivo e a atuação de Cristiano Prim se expandem num campo sem fronteiras entre arte, imagem e história.

ATRIZ JOANA KRETZER BRANDENBURG EM O GIGANTE DA MONTANHA


FOTOGRAFIA

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Sobre Cristiano Prim Nasce em Blumenau em 1972. Artista e fotógrafo, licenciado em educação artística pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Especializado em retratar o movimento nas artes cênicas, tem uma trajetória reconhecida por uma produção que aponta questões poéticas evidenciadas na exposição “O Fotógrafo também Dança”, realizada no Floripa Shopping (2017) e na Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti (2016), em Florianópolis. Fotógrafo do teatro Ballhaus Naunynstraße, em Berlim/ Alemanha (2016), integra o Grupo Cena 11 Cia. de Dança, o mais importante grupo de dança contemporânea de Santa Catarina. Além de fotógrafo da companhia, também atuou como cenotécnico (1995-2014) e atualmente faz a sua documentação em foto e vídeo. Atende também as principais escolas de dança de Florianópolis, como Arte.Dança, Cenarium e Garagem da Dança. Registra os artistas Eduardo Fukushima e Michelle Moura no evento The Sky Is Already Falling – HAU, em Berlim e Düsseldorf, na Alemanha. No Brasil, documentou shows nacionais de Elza Soares, e trabalhou com João Bosco, Ney Matogrosso, Ivete Sangalo, Arnaldo Antunes e com o uruguaio Jorge Drexler, entre outros. O Festival Internacional de Música Contemporânea, Fita Floripa, Baila Floripa, Palco Giratório e Floripa TAP estão no seu currículo, além da coordenação fotográfica da Maratona Cultural de Florianópolis em 2011, 2012 e 2013. Desde a sua primeira edição em 2006, é o fotógrafo oficial do Festival Internacional de Dança Contemporânea – Múltipla Dança, o mais importante evento nessa singularidade no Sul do Brasil.

RENATO TURNES NO ESPETÁCULO HOMENS PINK foto NÉRI PEDROSO

OS GIGANTES DA MONTANHA, GRUPO GALPÃO


FOTOGRAFIA

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Os bons disparos acontecem quando entramos numa dimensão de paridade de frequências.

foto GIKA MARTINS

JÚLIA WEISS NA PEÇA TEATRAL HD HOJE DANÇA, CEART/UDESC


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EXPOSIÇÃO

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Artista e designer, Ana Terra Vignes discute com recortes e dobraduras os impactos da violência contra a mulher


EXPOSIÇÃO

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textos MONIQUE VANDRESEN fotos SÉRGIO VIGNES

Beleza pra quem? Que direito o outro tem sobre nossos corpos? A quem interessa a sua beleza?

De desenhos dobrados a instalações imensas, a arte em papel é milenar, mas continua a inspirar os artistas até hoje. Uma prática que sempre surpreende é o paper cutting. A técnica de cortes minuciosos em papel produz obras incríveis e em dimensões bastante variadas. Em Santa Catarina, o destaque nessa área é sem dúvida alguma a artista e designer Ana Terra Vignes e sua capacidade de transformar folhas de papel inteiras em obras, com trabalhos que abusam da tridimensionalidade. Quer esteja usando uma tesoura simples, estilete ou bisturi, Ana Terra nos mostra as infinitas possibilidades oferecidas pelo papel. O Projeto “Ecoa: Frases que Não se Esquece, Recortando a Dor”, em exposição desde o início de abril na plataforma Peopleartfactory, surgiu de uma vontade de criar iniciativas capazes de despertar a reflexão sobre violências desapercebidas no dia a dia. Ana Terra Vignes começou a coletar frases, muitas vezes brutais, que nem sempre são nomeadas como violência: “Vai sair assim?”, “Você só está mais inteligente porque eu te dou esta condição”, “Você está louca”. A ideia é mostrar, por meio da arte, que a violência contra a mulher alcança todas as idades, diversas classes sociais, raças, credos, níveis educacionais, profissões, e atinge mulheres urbanas e rurais.


EXPOSIÇÃO

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O projeto acabou sendo contemplado no edital da Lei Aldir Blanc de 2021. Executado com recursos do Governo Federal por meio da Fundação Catarinense da Cultura, Ecoa deve, em breve, circular pelo Estado como exposição individual. O trabalho de Ana Terra Vignes explora essas narrativas por meio de recorte de papel, utilizando a técnica paper cut. Ana é formada em Design de Moda pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), e até o início da pandemia se dedicava à Ana Terra Acessórios, marca de joalheria e acessórios criada em 2012. Essa habilidade para o que é meticuloso, fundamental na joalheria e no paper cut, também esteve presente em alguns trabalhos na área de restauro. No projeto que recuperou o Palácio Cruz e Sousa, por exemplo, foram três anos de destreza testada diariamente.

Amém Uma cruz e um confessionário representam também a opressão às mulheres no interior do matrimônio.


EXPOSIÇÃO

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Tradicionalmente, fazer arte cortando desenhos em papel é uma técnica presente em vários tempos históricos e em diversas regiões do globo. São lembradas especialmente as silhuetas de retratos da alta sociedade americana do século XIX e a tradição chinesa, que data do século VI. A técnica japonesa mon kiri – também conhecida como kirigami – envolve cortar e dobrar papel para criar formas tridimensionais. No México, o papel picado é usado em fileiras de faixas de papel cortadas e na construção de esculturas e enfeites que são pendurados para marcar feriados e outras ocasiões especiais. Na Polônia, os wycinanki apresentam padrões espelhados ou caleidoscópios de flores e pássaros. Em 2020, influenciada pela pandemia e a necessidade de recolhimento, Ana resolveu abrir uma outra frente e deixar um pouco de lado a área da joalheria. Não foi uma decisão fácil: apesar de ser uma empresa pequena, a Ana Terra Acessórios ainda tem mercado estabelecido. Em 2021, a artista/designer mergulhou de cabeça no bisturi e nos papéis, estudando técnicas e conceitos. Acabou vendendo algumas obras e recebendo encomendas. Nos cinco painéis expostos em Ecoa, “Solidão”, “Fragmentos da Maternidade”, “Ego”, “Amém” e “Beleza pra Quem?” ela entalha meticulosamente o papel até criar padrões esculpidos e desenhos em espiral. Duas das obras chegam a ter 10 camadas de papel. O olhar mais atento vai perceber ritmo e fluxo nas frases de 94 mulheres, que na exposição virtual também viram trilha sonora para a apresentação.

Solidão Estar sozinha não é de solidão. Solidão é o abandono dos afetos.


EXPOSIÇÃO

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A delicadeza das formas aproxima o observador de frases muitas vezes naturalizadas, mas que têm um impacto tão negativo em crianças, adolescentes e adultos quanto outras violências que fazem parte de um ambiente abusivo. Além de um refresco desta sociedade cada vez mais digitalizada e de um alerta para a questão da violência de gênero, a técnica estimula a possibilidade de trabalhar com as mãos. Nos planos, além de circular a exposição, está uma parceria com a artista plástica Paula Schlindwein.

Serviço

Acesse o link ou o QR Code ao lado https://url.gratis/fTNYZl Instagram da artista e do projeto @anaterravignes @projeto_ecoa

Fragmentos da maternidade Quando o patriarcado transforma o que deveria ser uma rede de apoio em uma trama violenta.



fotos AYRTON CRUZ

RUA DOS SEBOS

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No Centro de Florianópolis, a Rua João Pinto – e seus arredores – se tornou um espaço característico dos sebos


foto CARLOS BORTOLOTTI

RUA DOS SEBOS

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texto LU ZUÊ fotos MARCO CEZAR, CARLOS BORTOLOTTI, SÉRGIO VIGNES E AYRTON CRUZ

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foto AYRTON CRUZ

e um lado da Praça XV de Novembro, o gigante poeta Cruz e Sousa abre os olhos atento às movimentações da cidade. O mural Cisne Negro, de Rodrigo Rizo, dá o indício do que encontraremos do outro lado da mesma praça: uma porta aberta aos livros e à leitura. Ali, bem na área central da Capital. Com o trânsito de veículos limitado após a Rua João Pinto ser transformada em calçadão, a região – num raio de cerca de 200 metros que envolve também as ruas Saldanha Marinho, Vitor Meirelles e Tiradentes –, se tornou um lugar de comércio variado. Entretanto, um segmento em especial chama a atenção de bibliófilos e leitores ocasionais. Trata-se, evidentemente,

foto AYRTON CRUZ

dos sebos, lojas de livros usados que atraem consumidores tanto pelo preço mais acessível quanto pela quase infinita disponibilidade de gêneros e edições. Claro, também há espaços para revistas, gibis, discos de vinil, CDs e DVDs antigos, pôsteres e afins, mas o foco nos livros (principalmente naqueles de literatura) continua evidente. Em Florianópolis, o Sebos Ivete é o mais antigo em atividade, atendendo desde 1992 na João Pinto. Se por muitos anos a loja seguiu sendo a única do ramo na rua, a partir da virada do milênio o cenário foi mudando aos poucos. A internet ajudou a popularizar o comércio de livros e objetos usados em geral, o que propiciou um ambiente muito mais convidativo aos empresários. Na João Pinto funcionam quatro sebos, e para um público cativo afeito às palavras impressas, a via ganhou o título informal de Rua dos Sebos.


foto AYRTON CRUZ

RUA DOS SEBOS

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RUA JOÃO PINTO EM 2015

História, cultura e comércio

RUA JOÃO PINTO EM 1950

EM 1950

foto BANCO DE IMAGENS DA CASA DA MEMÓRIA DE FLORIANÓPOLIS

foto BANCO DE IMAGENS DA CASA DA MEMÓRIA DE FLORIANÓPOLIS

JOÃO PINTO DA LUZ, FOTO DO BOLETIM COMMERCIAL – REVISTA MENSAL DE INTERESSES ECONOMICOS E COMMERCIAES, EM JULHO DE 1921

João Pinto da Luz, o cidadão que dá nome à rua, nasceu na antiga Desterro em 1818. No século XIX foi deputado na Assembleia Legislativa Provincial de Santa Catarina por quatro vezes. Nesta “crônica urbana”, porém, entra como pauta principal o fato de João Pinto também ter sido um comerciante. Ao lado dos irmãos, José Maria da Luz e Jacinto José, apoiou a construção do Mercado Público de Desterro no exato local onde se encontra hoje, na já rebatizada Florianópolis. A Rua João Pinto se localiza na região Leste do bairro Centro, que passou por uma série de eventos diferentes ao longo dos últimos vinte anos. Indiscutivelmente, o mais traumático para o comércio das redondezas foi a inauguração, em 2003, do Terminal de Integração do Centro (Ticen), que transferiu o imenso fluxo diário de usuários do transporte coletivo para as proximidades do Mercado Público. Assim, o terminal Cidade de Florianópolis ficou com um público extremamente reduzido, o que interferiu diretamente no comércio próximo.


foto AYRTON CRUZ

foto AYRTON CRUZ

foto CARLOS BORTOLOTTI

RUA DOS SEBOS

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RUA JOÃO PINTO EM 1903

EM 1909

foto BANCO DE IMAGENS DA CASA DA MEMÓRIA DE FLORIANÓPOLIS

foto BANCO DE IMAGENS DA CASA DA MEMÓRIA DE FLORIANÓPOLIS

foto BANCO DE IMAGENS DA CASA DA MEMÓRIA DE FLORIANÓPOLIS

Após um período de certo abandono, a região Leste voltou aos holofotes com o Projeto Viva a Cidade. Realizado pela Prefeitura de Florianópolis em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), que até o início da pandemia o projeto era muito ativo no sentido de de revitalizar e humanizar o Centro Histórico, com ênfase na Praça Fernando Machado e nas ruas Antônio Luz, Nunes Machado, João Pinto, Tiradentes, Travessa Ratclif, Victor Meirelles e Saldanha Marinho. Originalmente com uma dinâmica programação cultural promovida aos sábados – bastante limitada em tempos de restrições à aglomeração de pessoas –, a Rua João Pinto, em especial, assumiu para si um caráter de um corredor das artes, com feiras ao ar livre e lojas destacando seus produtos antigos e usados, que, como um bom livro, estão cheios de histórias para contar. De onde estiver e a qualquer tempo, Cruz e Sousa sorri satisfeito com aquele pedacinho da cidade que respira cultura, livros e literatura.

EM 1980


fotos AYRTON CRUZ

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Ivete, a pioneira da João Pinto Quando ainda morava em Blumenau, Ivete Berri foi “estimulada” por um amigo, proprietário de um sebo, a abrir sua própria loja. “Ele conhecia meu amor pelos livros e pela leitura, e disse que me ensinaria tudo, me daria dicas, me mostraria os caminhos. Mas havia uma condição: não poderia ser em Blumenau! Eu teria que escolher outra cidade, e vim para Florianópolis”, lembra a alfarrabista. Ela conta que depois de pesquisar, não conseguia entender como não existiam sebos na Capital, especialmente naquela região, onde funcionava a Faculdade de Educação (Faed). Encontrou o endereço ideal – uma esquina da Rua João Pinto, próxima à Secretaria de Estado da Educação –, e lá está até hoje, conhecida por todos e cada vez mais apaixonada pelas preciosidades que tem na loja. E não são poucas. Entre as cerca de 20 mil obras que possui, cita uma réplica de um caderno de anotações de Leonardo da Vinci, um livro sobre Michelangelo, as revistas de fotonovelas que lia na adolescência e muitos gibis, tudo “muito bem organizado”, como faz questão de frisar. “Diferente do que muitas pessoas imaginam, os sebos não são lugares sujos, bagunçados, com amontoados de livros e revistas misturados. Mas o cliente de sebos sabe que precisa garimpar, olhar com calma, procurar”, conta Ivete, que tem clientes que frequentam a loja desde o início. “Alguns eram adolescentes quando começaram a vir, cresceram, casaram, tiveram filhos, e continuam vindo”, comemora Ivete, que tem prazer em trabalhar.

Se no início ela ficou apreensiva com a chegada de novos parceiros de ofício à região, hoje encara com muita naturalidade o que não considera concorrência, mas sim parceria, até porque normalmente as pessoas passam de loja em loja procurando o que desejam, e entre seus clientes estão também proprietários de outros sebos. Assim como todos, Ivete precisou se adaptar às mudanças impostas pelos decretos restritivos de enfrentamento à pandemia, que mudaram o cenário da cidade e as relações comerciais por quase dois anos. Mas ela nunca reclamou... pelo contrário: conta que por isso começou a vender também pelo Instagram. “E continuamos a vender muito. Na Itália, lá no início da pandemia, os primeiros comércios que abriram logo depois do lockdown foram as livrarias, porque as pessoas precisavam de leitura em casa. E vi isso acontecer aqui também: muitos jovens vieram até o sebo para comprar livros e revistas para os pais e avós passarem o tempo seguros dentro de casa, enquanto não podiam ainda andar por aí”, comenta.


foto AYRTON CRUZ

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foto SÉRGIO VIGNES

MARIANA E MARIA CLÁUDIA

foto AYRTON CRUZ

MARIA CLÁUDIA E TASSO CLÁUDIO SCHERER

“Desterrados” na Tiradentes Fotógrafo profissional, Tasso Cláudio Scherer morou desde pequeno na rua João Pinto, e sempre cultivou um grande amor pelos livros. “Meu sonho sempre foi ter um sebo no lado Leste do Centro Histórico de Floripa, tanto porque temos várias lojas ligadas a esse comércio por perto, quanto porque acredito que é necessário dar atenção a essa região que é tão linda e histórica. Foi com as obras de minha biblioteca particular que abri a Desterrados. Começamos a reforma do local em 2017, e abrimos a loja em 2018”, conta Tasso, que mantém um acervo de aproximadamente seis mil livros, entre eles a 3a edição impressa do “Grande Sertão – Veredas”, uma doação de uma cliente fiel e “muito amada”. A Desterrados é um sebo diferenciado. Trata-se de um espaço que reúne vários tipos de artes, como fotografias, trabalhos artesanais e manuais, e no segundo piso funciona um ateliê de cursos e minicursos, e oficinas. “Já tivemos cursos para criação de portfólio para fotógrafos e artistas, de encadernação, oficinas de cinema e até saraus literomusicais e até um curso de cerãmica – com aulas individuais – com o Marco Oliva”, acrescenta Tasso. Com o início da pandemia, Tasso passou a trabalhar de casa, cuidando das vendas on-line e da seleção de obras, e quem passou a “tocar” o negócio presencialmente foram as filhas Mariana e Maria Cláudia, de 24 e 19 anos, que assumiram as redes sociais e a administração do negócio. “Ele curtiu essa ideia de a gente levar o negócio. E nesse momento de volta à normalidade temos planos, como ampliar nossa grade de cursos, trabalhando com literatura/ redação, yoga e desenho... Além disso, realizar workshops e, quem sabe, abrir um café”, explica Maria Cláudia. “E em breve vamos lançar também um site para comercializar as fotos de nosso pai”, completa Mariana. E nós ficamos sempre ansiosos pelas novidades!


Curadoria cuidadosa para reunir acervo diferenciado Criada em 2007 pelo então estudante de Direito, Rodrigo Sarubbi, a Elemental Livros Usados já teve diferentes endereços e nomes antes de chegar à rua João Pinto. A trajetória começou no vizinho município de São José, e quando buscou sua morada na Ilha foi primeiro para a Galeria Comasa, pegando emprestado dela o nome. Segundo Sarubbi, a existência de muitos sebos na rua João Pinto – e em seus arredores – foi determinante para uma nova mudança, quando nasceu, então, a Elemental Livros Usados. “No início da faculdade eu precisava de um ganha-pão, e como frequentei sebos desde a infância, achei que seria algo que eu saberia fazer bem”. E como faz... Com um acervo de cerca de 10 mil itens entre livros, quadrinhos e material audiovisual, a Elemental oferece também aos clientes alguns itens colecionáveis, como os bonequinhos Funko, uma paixão pessoal. “Pago minhas contas, sou limpinho e a barba branca não me deixa mentir a idade, mas quando o assunto são esses bonequinhos cabeçudos volto a ter 10 anos”, conta. Mas Rodrigo faz questão de frisar que o foco mesmo são os livros. “Esses itens chamam atenção apenas das pessoas que curtem esse universo. Eu pessoalmente coleciono e resolvi oferecer parte do meu acervo para o público. É meio que um agrado!”, explica, acrescentando que, em seu entendimento, o grande diferencial da Elemental está na curadoria cuidadosa. “Tentamos ter os melhores livros, quadrinhos, CDs, DVDs e LPs usados da cidade, o que quero crer que em geral conseguimos”, complementa. Entre eles, destaca uma obra especial: Finnegans Wake, último romance do irlandês James Joyce, publicado em 1939. A obra foi escrita em Paris, levou 17 anos para ser concluída e é considerada um dos marcos da literatura experimental. “Temos aqui a obra completa, em cinco volumes. Coisa fina!”, opina.

ADRIANO CRIPPA

Ao longo desses 15 anos em que a loja existe, Sarubbi identificou características específicas nos clientes. A grande maioria é composta por frequentadores fiéis, mas mesmo entre eles existem aqueles que entram mudos, passeiam pelas prateleiras e saem calados. Outros, tornaram-se grandes amigos, e às vezes vão lá para conferir as novidades e, tão importante quanto, bater um bom papo. Por outro lado, ele é enfático quando aponta a característica essencial para ser proprietário de sebos: “Ler. Se possível, ler muito”. A pandemia trouxe desafios para todos, mas durante o período, a estratégia de Rodrigo Sarubbi para manter a loja em atividade foi “apertar o cinto” e seguir todos os protocolos sanitários, garantindo a segurança da equipe e dos clientes. No instagram (@Elemental_ livros_usados), um cuidado especial com a composição das fotos para divulgar os produtos, a maioria delas feita pela esposa, Gabriela. “Apesar de todas as mudanças que tivemos que impor à rotina, como nossas vendas não são muito volumosas, durante aquele período continuamos usando os Correios para as entregas. E foi interessante perceber que uma coisa não mudou: a relação entre nossas vendas online e presenciais seguiu sendo a mesma de antes. Cerca de 70% de nossos clientes preferem vir à loja”, conta. E quem não iria preferir? foto AYRTON CRUZ

RODRIGO SARUBBI

foto AYRTON CRUZ

foto MARCO CEZAR

RUA DOS SEBOS

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F I PONTADAAGULHA PONTADAAGULHACOSTELARIA.COM.BR SC-401

RIO TAVARES

ALVES DE BRITO BAL. CAMBORIÚ

0 costelariasc401@gmail.com Rodovia SC-401, 7626 Santo Antônio de Lisboa Florianópolis/SC | CEP 88050-000

0 costelariariotavares@gmail.com Rod. Dr. Antônio Luiz Moura Gonzaga, 3339 – Rio Tavares Florianópolis/SC | CEP 88048-301

0 costelariaalvesdebrito@gmail.com Rua Alves de Brito, 161 Centro Florianópolis/SC | CEP 88015-440

0 costelariapedrabranca@gmail.com Rua 51, 51 Centro Balneário Camboriú/SC | CEP 88333-675

1 48 3338-2850

1 48 3207-5015

1 48 3085-0655

1 47 3311-0410

TER-SEX: 11h30 às 23h SÁB-DOM: 11h30 às 17h

TER-SÁB: 11h30 às 22h DOM: 11h30 às 20h

TER: 11h30 às 16h | QUA-SÁB: 11h30 às 22h30 | DOM: 11h30 às 17h

TER-SEX: 11h30 às 23h SÁB-DOM: 11h30 às 17h


PAIXÃO NACIONAL

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A LENDA DO METROPOL NARRADA POR ZÉ DASSILVA ‘Histórias que a bola esqueceu’ tem prefácios de Ruy Castro e Juca Kfouri


PAIXÃO NACIONAL

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ENTRANDO EM CAMPO CONTRA O DEPORTIVO LA CORUÑA, NA ESPANHA

texto CARLOS STEGEMANN fotos ACERVO ZÉ DASSILVA

A

história do Metropol é o encontro do (bom) futebol com a sociologia. Um time amador que, reforçado para abafar uma greve de mineiros de carvão, acabou se tornando uma lenda do futebol brasileiro. O livro Histórias que a bola esqueceu – a incrível trajetória do E.C. Metropol e de sua torcida (Carbo Editora), do chargista e roteirista Zé Dassilva, resgata a saga deste clube que surgiu na década de 1960, em Criciúma, no sul de Santa Catarina – na época uma cidade de apenas 60 mil habitantes –, e vai até a Europa, em uma das maiores excursões de um time brasileiro pelo

VALDIR MARCA 2X1 SOBRE O CARLOS RENAUX (BRUSQUE)

exterior. A obra chega à sua terceira edição, ampliada e revisada, com prefácios de Ruy Castro e Juca Kfouri. “O Metropol gerou uma paixão coletiva que ficou acima dos conflitos trabalhistas, mudando a vida da cidade e contagiando outras torcidas de Santa Catarina”, considera Zé Dassilva. Em pouco menos de 10 anos, o clube alviverde foi cinco vezes campeão catarinense, venceu a Chave Sul da Taça Brasil por duas vezes, revelou jogadores para grandes times e ainda teria aplicado uma maldição de 20 anos sobre o Botafogo. Mais do que vitórias em campo, o time dos mineiros inaugurou uma era de profissionalismo no futebol, com práticas que ainda demorariam a ser adotadas por outros clubes do País.


PAIXÃO NACIONAL

78 E o clube ainda desperta paixões, mais de 50 anos após seu fim. Nos eventos de lançamento em Florianópolis e Criciúma, fãs de diferentes idades surgiram com camisetas históricas e itens colecionáveis. ‘Histórias que a bola esqueceu – a incrível trajetória do E.C. Metropol e de sua torcida’ tem um rico acervo de fotos e depoimentos da época gloriosa do Metropol, além da relação completa de ex-atletas, dirigentes e partidas disputadas. “Zé Dassilva investigou a saga do Metropol como se deve fazer: ouviu os protagonistas e coadjuvantes da história, alinhou as informações numa narrativa ágil e colorida e produziu um livro vivo, que respira com facilidade fora do contexto do futebol”, afirma o escritor Ruy Castro no prefácio.

GOLEIRO AGARRA NO ESTÁDIO ADOLFO KONDER, NA RUA BOCAIÚVA, EM FLORIANÓPOLIS

Sobre Zé Dassilva Natural de Criciúma, Zé Dassilva é autor, roteirista e chargista do Diário Catarinense desde 1998. Graduado em Jornalismo pela UFSC, com pós-graduação em cinema-documentário pela FGV/RJ. Escreveu séries e novelas que marcaram época na TV brasileira, como “Linha Direta”, “Sai de Baixo”, “Sob Nova Direção”, “Casseta & Planeta”, “Malhação” e “Império”, de Aguinaldo Silva, vencedora do Emmy International como melhor telenovela mundial em 2015. Para o SporTV, produziu charges animadas e codirigiu o documentário “As Donas da Bola” (2006). Participou em outros livros como ilustrador (incluindo A Ponte Sumiu!, de Carlos Stegemann, 2010) e lançou, em 2010, o Almanaque do Futebol Catarinense, escrito com Emerson Gasperin. Em 2014, produziu a obra bilíngue The Yellow Book (Toriba Editora), livro oficial dos 100 anos da Seleção Brasileira. Em 2021, recebeu o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Direitos Humanos e Anistia na categoria Arte, com charge publicada no Diário Catarinense. Mora no Rio de Janeiro desde 2000, mas torce pelo Criciúma Esporte Clube – e só pelo Criciúma!

O PADRE HUBERTO OENNING ABENÇOAVA, REZAVA E TORCIA PELO TIME CARVOEIRO

DITE DISCUTE COM A ARBITRAGEM. O DIRIGENTE DO CLUBE TAMBÉM ERA O SEU MAIOR TORCEDOR


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ECO TRILHAS

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PARA ENCHER OS OLHOS e dar água na boca Uma aventura pra lá de fantástica na Patagônia, no Chile, com Dario Lins textos LU ZUÊ e DARIO LINS fotos DARIO LINS

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om uma lista top de roteiros que permitem literalmente viajar pelas belas paisagens de nosso Estado, a Eco Trilhas Serra Catarinense fez uma parceria com a empresa Latitude.51 para disponibilizar destinos internacionais aos aventureiros apaixonados por trilhas. Entre as opções está a que nosso parceiro, Dario Lins, apresenta nesta edição da Mural, com um relato em primeira pessoa que deixa evidentes as sensações que brotam a cada novo dia e valoriza as descobertas que o roteiro proporciona: a trilha do Parque Nacional Torres del Paine (localizado na região da Patagônia, no Chile), que encanta pelas paisagens espetaculares, que mesclam de montanhas e pradarias a geleiras e icebergs. Difícil encontrar alguém que olhe para fotos desse lugar e não exclame: “Que lindo!”, e você vai

comprovar isso nas próximas páginas. Ocupando uma área com mais de 200 mil hectares, o parque já foi apontado por sites especializados em turismo como uma das maravilhas do mundo, e atrai mais de 160 mil visitantes a cada ano. Há trilhas com diferentes extensões e graus de dificuldade, indo da “básica”, com cerca de 20 km (que vai até a base das torres), ao complexo Circuito O+W, que chega perto dos 150 km de caminhada – que leva oito dias para ser concluído –, constituindo um dos trekkings mais espetaculares do mundo. E foi justamente esse que o Dario Lins fez, e compartilha agora com os leitores da Mural. Ah... e se realmente ficar com os olhos brilhando e água na boca, a Eco Trilhas Serra Catarinense vai levar um grupo para curtir essa experiência entre os dias 10 e 22 de janeiro de 2023. Tem mais informações no final da matéria! Mas agora, vamos viajar com o Dario?


ECO TRILHAS

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DIA 1. Trilha Las Torres/Serón No primeiro dia chegamos ao Parque Nacional Torres Del Paine e seguimos do hotel Las Torres para o camping Serón. O percurso de 13 km – bem tranquilo, com poucas subidas e muitas paisagens bonitas – foi vencido em 4 horas de caminhada. A passagem pelo bosque de de Ñirri é um encanto. No caminho há muitos pontos de água potável (água de degelo), que é uma delícia para saciar a sede durante a caminhada. Logo à frente avistamos picos nevados e o belíssimo rio Paine, que com sua cor azul turquesa serpenteia entre as montanhas e colinas do vale. Como tínhamos reservas feitas, ao chegar ao camping as barracas já estavam montadas e devidamente organizadas com isolantes térmicos e sacos de dormir. O dia é muito longo nesse período e anoiteceu depois das 22 horas. À noite, as temperaturas baixaram e percebemos que nevou no cume das montanhas que circundam o vale. Pela manhã o dia amanheceu com céu azul anil lindo, e iniciamos os preparativos para fazer o percurso do segundo dia.


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DIA 2. Trilha Campamento Serón/Refúgio Dickson À noite fez bastante frio. Chegou a nevar nos pontos mais altos em torno do Campamento Serón, mas o dia amanheceu com céu azul e clima agradável. Nos locais de camping e refúgio (Fantástico Sur), as refeições são servidas a partir de reserva, e é possível encontrar jantares, café da manhã e lanches deliciosos e fartos, o que é fundamental para encarar dias de longas caminhadas. Na segunda empreitada seriam 19 km de trilha até o Refúgio Dickson, com passagem pela guardería Coirón, o que deve render umas 6 horas de caminhada. A trilha iniciou pelo vale acompanhando o belo Rio Paine, que se misturava com o azul do céu. Porém, logo à frente encontramos uma subida curta, onde a ação de um venturi impulsionava ventos com mais de 100 km/h, o que quase nos impediu de avançar. Mas a experiência com ventos fortes aqui na Serra Catarinense nos ajudou a seguir em frente. Vencer a subida contra o vento foi recompensador: lá de cima avistamos do outro lado montanhas nevadas e o lindo lago Paine, com águas em tons de azul turquesa. Vencendo essa etapa o grupo seguiu até a guardería Coirón, onde é necessário apresentar as reservas para os guarda-parques,

e só então se tem autorização para continuar. Aproveitamos o local para fazer nosso lanche de trilha. Depois desse local a trilha ficou mais leve, lindos bosques de Lenga (Nothofagus pumilio) e arbustos de Calafate-da-patagônia (Berberisruscifolia) com frutos, bem como de murtilla (ugnimolinae). Delícias que o grupo degustava durante a trilha. Depois de uma caminhada prazerosa chegamos ao Refúgio Dickson, que conta também com área de camping. Como tínhamos reserva, ficamos no alojamento. Do alto avistamos o lindo vale e o lago Dickson, exuberante e adornado com picos nevados e com imponentes glaciares. Até aquele momento, foi uma das paisagens mais lindas do trekking. Lá encontramos ótimas camas, com quarto aquecido pela calefação da cozinha que fica abaixo, onde foram servidas refeições quentes e balanceadas. Local especial para sentar jogar conversa fora, além de degustar bons vinhos e a melhor Cerveza Autral Patagônia “Calafate”, que carrega o aroma intenso da frutinha Calafate. O relógio marcava 22h20min e ainda era dia. Mas já era hora de dormir, pois no terceiro dia a trilha que nos esperava era pesada: 12 km com subidas até chegar ao Campamento Los Perros.


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DIA 3. Trilha Refúgio Dickson/Campamento Los Perros Após uma revigorante noite de sono no Refúgio Dickson, tomamos um delicioso café da manhã (desayuno). Começamos a caminhada rumo ao Campamento Los Perros. Os tais 12 km seriam vencidos em 5 horas. Nos próximos dois dias teríamos trilhas com bastante altimetria, e já de início enfrentamos uma subida para acordar os músculos. Ao final, chegamos ao mirante que ainda mostrava toda beleza das montanhas e glaciares que circundam o lago Dickson, e então adentramos numa belíssima floresta com árvores gigantes de Lenga, onde encontramos uma fartura de frutinhas de calafate pelo caminho. Atravessamos diversas pontes de madeira sobre o belíssimo rio Los Perros, que se forma no glaciar com o mesmo nome. Um passo de cada vez e fomos subindo mais um pouco... para encontrar o glaciar Los Perros, com um lago verde esmeralda formado pelas águas do degelo do glaciar. Naquele momento tínhamos a certeza de que aquele era o local mais incrível por onde já havíamos passado. Após dedicar o tempo para registrar em

fotos aquela maravilha que se apresentava diante de nossos olhos, rumamos em direção à área de camping que estava menos de 1 km à nossa frente. Chegamos então ao Campamento Los Perros, que não conta com muita infraestrutura. Apenas encontramos as barracas The North Face já montadas e devidamente organizadas, com bons isolantes térmicos e excelentes sacos de dormir da mesa marca. Esse foi o máximo de conformo que tivemos em Los Perros, já que lá não se pode contar com o preparo das refeições e nem com um revigorante banho quente. Solução: cada um providenciar sua própria refeição. O tempo livre e a presença de luz que prolonga a sensação de dia foi o estímulo que o grupo precisava para voltar para o lago Los Perros para desfrutar mais da beleza do lugar. O Sol se pôs às 22h20min. Era hora de dormir, já que tínhamos que acordar às 5 horas para iniciar a longa e exaustante caminhada de 12 horas: tínhamos que vencer 24 km até o Refúgio Grey.


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DIA 4. Campamento Los Perros/Refúgio Gray Era madrugada quando levantamos e às 5 horas deixamos para trás o Campamento Los Perros. Lanterna de cabeça e pé na trilha. É assim que começa nossa caminhada, subindo um bosque de Lenga. Assim que saímos do bosque iniciamos a subida na parte de pedras da montanha, fazendo a passagem pela encosta rochosa; no caminho uma subida íngreme com seixos e pedras grandes dificultavam a caminhada. Assim foi até chegarmos ao Paso Gardner, de onde avistamos o gigante Glaciar Grey, imponente e majestoso à nossa frente. Uauuu!! Mais uma vez a certeza de que ali estava a visão mais impactante de todos os dias – e a mais bela também. O lugar nos mostra o quanto somos pequenos diante de tanta grandeza. Paramos um tempo para apreciar as paisagens e fazer fotos, e logo iniciamos a descida do Paso Gardner. Nesse trecho é preciso ter joelhos bem preparados, pois o que se tem adiante são mais 15 km de descida forte pela frente. Andamos mais de uma hora descendo a parte de pedras e então chegamos ao bosque novamente. A descida parecia não ter mais fim... Tínhamos que vencer uma altimetria de mais de mil

metros em 15 km de descida. Inúmeros lances de descida faziam parecer que não saíamos do lugar, e assim foi até chegarmos ao Campamento Paso, onde fizemos uma parada para lanche e registramos nossa passagem na guardería. Devidamente alimentados reiniciamos a trilha que margeava o Glaciar Grey. Logo à frente encontramos a primeira ponte suspensa sobre um caudaloso rio formado pelas águas de degelo. Um passo de cada vez para não balançar muito, e atravessamos uma pessoa por vez. Ufa! Passamos! Mal sabíamos que haveria mais duas ou três pontes como aquela. Após 10 horas de caminhada chegamos finalmente ao Refúgio Grey. Check-in feito, e finalmente (após dois dias!) tomamos um bom banho com ducha quente. Relaxar recebendo uma massagem revigorante da nossa querida amiga Naomi Namekata (72 anos), especializada em acupuntura e shiatsuterapia, foi um luxo. Agora era o momento de curtir, pois havíamos vencido a parte mais difícil do percurso. Brindamos a conquista com um bom vinho chileno.


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DIA 5. Refúgio Gray/Refúgio Paine Grande No quinto dia acordamos um pouco mais tarde. Iniciamos a trilha às 9 horas, pois o percurso até Paine Grande era de apenas 11 km, o que poderia ser feito em pouco mais de 4 horas de caminhada. Já saindo da área do Refúgio Grey avistamos os estragos da grande queimada de 2012, quando um turista acampou em área não permitida, fez uma fogueira e causou um acidente de grandes proporções. Ainda hoje encontramos florestas inteiras se recuperando muito devagar, e se alguém for pego acendendo fogueira no parque é multado em U$ 2,000.00 (dois mil dólares) e pode ser sentenciado a até 3 anos de cadeia. Mas mesmo assim a natureza resiste e a beleza do lindo lago Grey é impactante, com as montanhas nevadas emoldurando um belo quadro. Como esse trecho do Circuito O faz parte também do Circuito W, as trilhas estavam mais repletas de pessoas. Muitos fazem bate-volta, ou apenas uma parte dessa trilha. Chegam e retornam de barco.

Em todo percurso encontramos pessoas de diversas nacionalidades e aproveitamos para tomar o depoimento em algumas línguas para compor um filme que será feito pelo nosso amigo Anders Duarte, o mago dos vídeos. Como não é permitido o uso de drones no parque, todas as filmagens foram feitas do solo com uso de uma GoPro. Caminhamos todo o percurso ladeando o lago Grey até chegarmos em Paine Grande, onde avistamos mais um lago belíssimo de cor azul turquesa: o lago Pehoé. O refúgio fica às margens do lago, e então subimos numa encosta rochosa para termos uma visão mais ampla da beleza do lugar. Chegou a hora do jantar. De frente para o majestoso Cerro Paine Grande, imponente com seus 3.050 m de altitude, brindamos a conquista de mais um belo dia de trilha com um Pisco de Calafate (bebida típica do Chile).


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DIA 6. Refúgio Paine Grande/Refúgio Francês Acordamos bem cedo para ver o sol nascer sobre o Lago Pahoé, e magicamente ele pareceu tocar por frações de segundos nos Los Cuernos Del Paine (picos em formato de chifre). Tão logo nasceu, o sol se apagou e nuvens escuras cobriram o céu. Um indicativo de que teríamos um dia diferente e pegaríamos chuva pelo caminho. Começamos a caminhar antes das 8 horas, pois teríamos uma trilha longa pela frente: seriam 24 km para cumprir todo o percurso, incluindo o Campamento Italiano, Mirador Francês/Mirador Britânico e Refúgio Francês. Iniciamos a primeira subida e já avistamos o lago Skottsberg. Logo à frente, o majestoso Lago Nordernskjöld. Curioso é que cada lago em Torres Del Paine possui uma tonalidade diferente (azulturquesa, verde-esmeralda, verde-musgo, azul-céu, azul-ciano...) Mais alguns passos e sentimos as primeiras gotas de chuva chegando. Um pouco de vento, mas pouca chuva. E mesmo que aumentasse o volume da chuva, estávamos preparados: todos estavam vestidos com roupas impermeáveis, calças e anoraks. O céu continuou escuro, mas não demorou muito e a chuva cessou. Chegamos ao Campamento Italiano, que se encontra desativado. No local só tem a guardería, com guarda-parques que

prestam auxílio e informações para aqueles que desejam subir a montanha e fazer o ataque aos miradores francês e britânico. Assim sendo, seguindo orientações deixamos nossas mochilas cargueiras na frente da guardería do Italiano e subimos o Valle del Francês só com uma mochila de ataque. Muita subida pela frente, montanhas completamente cobertas de gelo pelo belo glaciar francês, que com estrondos implodia, liberando grande volume de água de degelo, formando assim belas cachoeiras e aumentando consideravelmente o volume de água dos rios. Chegamos no Mirador Francês e ficamos contemplando “el poder de la naturaleza”. Infelizmente as nuvens continuavam baixas, ameaçando chuva e comprometendo a visibilidade, o que nos desmotivou a continuar até o Mirador Británico. Do outro lado estava a imponente montanha Cuernos Del Paine, com seus granitos imponentes e majestosos que riscam os céus ao atingirem a altitude de 2.600m. Contemplando aquela vista e ao som dos estrondos do glaciar descemos até a guardería, pegamos nossas cargueiras e continuamos a caminhar até o Refúgio Francês, onde dormiríamos confortavelmente nos charmosos domos verdes.


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DIA 7. Refúgio Francês/Refúgio Torre Central Após a melhor noite de sono, acordamos revigorados e fomos tomar nosso desayuno (café da manhã) no Refúgio Francês. Eu aprecio muito um café com leite quente, e tive dificuldades para conseguir leite quente. Esse, aliás, era o segundo lugar que providenciava la leche caliente. Na primeira vez que pedi, o mesero (garçom) educadamente me disse “en Chile servimos leche fría” e educadamente respondi: “en Brasil, leche caliente”. Com aquele “jeitinho brasileiro” consegui que aquecessem o leite. Brincadeiras à parte, em todos os refúgios fomos muito bem atendidos. Fica a certeza: os chilenos são profissionais super educados. Nem parecia, mas já era hora de partir, pois teríamos 17 km pela frente até o Refúgio Torre Central. Nesse percurso, muitas pessoas cruzaram nosso caminho. Esse é o trecho mais frequentado. Ouvíamos o tempo todo “Hola, hola, que tal?”, que era a forma carinhosa como os chilenos nos cumprimentavam. Encontramos também poloneses, americanos, franceses, israelenses, neozelandeses, alemães... Todos com um sorriso no

rosto, deixando claro o prazer de poder estar ali e ver uma das maravilhas do mundo. Até chegarmos no Refúgio Torre Central, caminhamos o tempo todo margeando o belo lago Nordernskjöld, e com muita alegria vibramos muito ao alcançar o fim do Circuito O. Fizemos uma roda de Cerveza Austral e nos deliciamos com as melhores Calafate Ale e Torres Del Paine. Faltava agora apenas um dia para a conquista das Torres Del Paine. No caminho, encontramos uma chilena que nos mostrou fotos das torres sendo tocadas pelo sol e avisou: “Para ver esto hay que subir a la montaña a la una de la mañana!” (para ver isso vocês precisam subir a montanha a 1 hora da madrugada). Foi exatamente o que fizemos! Dormimos menos de 1 hora e quando deu meia noite acordamos, fizemos um lanche e seguimos para encarar os últimos 24 km de caminhada. Ver as torres douradas pelo sol seria algo mágico e não perderíamos de jeito algum aquele espetáculo da natureza!


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DIA 8. Refúgio Torre Central/Torres Del Paine Meia noite! O relógio despertou! Mal tínhamos deitado e já levantamos para iniciar o último dia de caminhada. O sonho de ver as torres douradas, tocadas pelo sol, nos fez enfrentar a madrugada toda subindo a montanha. Foram 12 km de muita subida, contra um vento forte e em uma trilha estreita, cujo nome já diz tudo: El Paso de Los Vientos. Em fila indiana, com lanternas de cabeça, os 13 integrantes do grupo concentraram as forças para cumprir a incrível jornada. Todos sabiam que a recompensa estava lá, no cume da montanha. Noite adentro fomos vencendo o percurso. Chegamos ao Refúgio Chileno e decidimos aguardar um pouco para então fazermos o ataque final às torres, chegar com o dia clareando, ver o espetáculo tão aguardado, fazer os registros de fotos e vídeos e descer em seguida. E assim foi. Após passarmos por um bosque de Lenga chegamos à parte rochosa da montanha. Muitas pedras gigantes e seixos de granito dificultavam a caminhada, e com cautela avançamos e chegamos no cume ao romper da aurora. Nos posicionamos nas encostas da rocha para nos protegermos do frio e ficamos aguardando o momento mágico. Não demorou muito, e o primeiro raio de sol tocou uma das torres e pintou a rocha de um amarelo ouro, que foi se espalhando pelas outras torres e por todo o paredão de granito. Que imagem surreal!

Após 8 dias de caminhada o objetivo máximo fora alcançado. Com muita vibração fizemos as últimas fotos daquele imponente monumento geológico e já retomamos o caminho de volta, pois, teríamos ainda 12 km de descida. Na montanha é assim: tudo que sobe desce e essa é a principal lição que aprendemos numa caminhada. O retorno foi a ocasião ideal para refletir sobre tudo que vimos e vivemos. Nos momentos em que estivemos em verdadeiro contato com a natureza, nos instantes em que sentimos nosso sangue correr com força em nossas veias, nas ocasiões em que achamos que não iríamos conseguir dar um passo a mais, e sem entender de onde vinha a nossa força, demos um passo atrás do outro até vencemos. O sentimento era o de que estávamos diferentes. Essa é a sensação e a magia da montanha: ela nos transforma, nos fortalece e nos faz crescer. Essa incrível jornada foi concluída por 13 notáveis. Agora vem a pergunta: Quer viver essa aventura? Entre os dias 10 e 22 de janeiro vamos repetir essa experiência com um grupo de aventureiros de sorte. Contatos com a Eco Trilhas Serra Catarinense. W +55 49 99801-6193 I @eco_trilhas_serra_catarinense I @latitude51


A S D E L Í C IA S DA I L HA N O M E L H O R LU G A R

C A NA L DA BA R R A

TERÇA A DOMINGO: 11 ÀS 18H C ONT AMO C OM UM SE S RV I Ç O E XC L D E L E U S I VO VA E VO C Ê T R A Z D L ANC E HA !

RUA L AU RI N D O JOSÉ DE SOUZ A , 291, FLORIA NÓP OLIS/ SC

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Uma retrospectiva do doutor Formiga

CAPÍTULOS DE UMA PARCERIA RADICAL


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texto LUÍS ROBERTO FORMIGA fotos FORMIGA

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apa da edição 75 da Mural, nosso inquieto e radical parceiro, o ousado Luis Roberto Moraes, – o doutor Formiga, marido e fã da Carol, e pai orgulhoso da Victória –, recebeu a equipe de reportagem para conversar sobre esportes radicais, estilo de vida, expectativas e projetos, e (naquele momento) o que considerava um grande desafio: o retorno ao exercício da Odontologia, 20 anos após ter deixado a profissão em segundo – ou terceiro, quarto... – plano. “Não tem nada mais difícil e desafiador do que voltar a ser dentista. Onda grande, pego qualquer uma, vou nos lugares mais radicais do mundo. Agora, voltar a ser um dentista atualizado e competente é um desafio. Fiquei quase 20 anos afastado e hoje estou melhor dentista do quando parei”, confidenciou Formiga na época. O “Currículo Extremo” (e muito extenso) que a matéria trouxe era um grande destaque, e já naquela edição chamava atenção a capacidade que o Formiga tem de motivar as pessoas a fazerem coisas legais e desafiadoras. Uma edição de ausência e já na seguinte, a de no 77, o Formiga voltava às páginas da Mural, a partir de então como colaborador, parceiro, amigo, escrevendo uma história com vários capítulos, sempre junto à natureza, trazendo imagens lindas e muita gente legal. Mas no momento da produção desta edição Formiga estava em Bali, focado na produção de um material especial que logo estará aqui na Mural. Mas e Mural sem Formiga, pode? Não...! Então a gente resolveu fazer um resgate de tudo o que ele já mostrou em nove edições, enquanto aguardamos ansiosamente pelo que vem por aí... Confira, fique imaginando o que podemos esperar no próximo número... ondas, montanhas, altos voos... uma coisa é certa: será sempre radical!


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Edição 77 | Snowboard logo ali, no Chile Nossa primeira viagem com Formiga foi para Corralco, cidade chilena onde aconteceu o 24o Campeonato Brasileiro de Snowboard. Pois é... se por aqui a neve é rara, os aficcionados pela prancha na neve dão um jeitinho de praticar o esporte, e de brinde têm a chance de curtir uma paisagem esplendorosa, que dos lugares mais altos nos apresenta vulcões por todos os lados, rios de lava endurecida e um horizonte sem fim. Daqueles que aproveita ao máximo as práticas esportivas, mas não deixa de se render à paisagens, no Parque Nacional das Araúcárias Milenares, Formiga passeou entre árvores com mais de 3 mil anos, subiu as encontas do vulcão Lonquimay e curtiu muita neve.

Edição 78 | O encanto do Foil board Para apresentar o esporte – que chegou ao Brasil trazido pelo campeão de F1, Ayrton Senna –, Formiga juntou um grupo de respeito: Everaldo “Pato” Teixeira, surfista de ondas grandes, Adrien Caradec, campeão de windsurfe e kitesurfe e fabricante desse equipamento, e Gustavo Martins, piloto de carros de corrida. Juntos, foram para a água e com o apoio do fotógrafo James Thisted, especializado em fotos aquáticas, colocaram em nossas páginas registros maravilhosos do esporte, praticado com equipamento composto de uma prancha, uma longa quilha, asa, fuselagem... a velocidade é surpreendente. “Fui atraído ao foil board pela sensação de voar na água, praticamente sem arrasto, e essa sensação me fez lembrar os pássaros que voam rasantes nas ondas do mar”, confidenciou Formiga.

Edição 79 | Voar é preciso... em qualquer canto do mundo Que tal na Austrália e no Japão? Pois foi lá, no outro lado do mundo, que Formiga experimentou sensações muito diferentes de um esporte velho conhecido dele: o voo de asa delta. Em Sidney, Formiga comemorou a oportunidade de conhecer alguns dos pilotos mais antigos do mundo, que apesar da idade se mantinham ativos no esporte, voando com frequência.

E no Japão – de onde vêm duas lembranças marcantes envolvendo o carioca Pepe Lopes, que na cidade de Beppu foi campeão do mundo de voo livre em 1981, e dois anos depois morreu por lá, ao tentar fazer um pouso forçado –, ele experimentou a sensação de voar perto do vulcão mais bonito e emblemático do planeta – o Monte Fuji.“Com certeza a energia do Monte Fuji me protegeu“, contou.


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Edição 80 | Voe Asa Floripa

foto RAFAEL CENSI

Olha que show a experiência: decolar de um barco, com uma hidro asa delta equipada com flutuadores e subir até 450 metros de altura. Depois, desconectar o cabo de reboque e planar suavemente ao sabor dos ventos, pousando suavemente na Lagoa da Conceição. “É uma experiência inesquecível”, definiu Formiga. Apresentando o projeto Voe Asa Floripa, Dr. Formiga explicou que muito mias do que participante de um voo panorâmico, cada passageiro era um aluno em instrução, fazendo da proposta uma escola de esportes. “Nosso projeto vai além de Florianópolis. Nossa ideia e proporcionar esporte, qualidade de vida e uma experiência inesquecível para as pessoas”, resforçou.

Edição 81 | Skate, skate, skate O esporte faz parte da vida de Formiga, e na edição 81 ele contou em detalhes a história do surgimento e consolidação da modalidade por aqui. “Ainda garoto vivi a emoção de vencer e de sair nas revistas como o primeiro campeão brasileiro na categoria Junior de skate em pista. Naquele evento decidi que esse seria meu objetivo de vida: viver

intensamente e ao lado do esporte.” E assim foi. Leo Kakinho, Rafael Bandarra, André Barros (pai do Sandro Barros, nosso medalhista de prata na estreia do esporte nas Olimpíadas de Tóquio)... personagens parceiros de uma história que mistura sol, sal, areia, rodinhas do skate. É como contou Formiga: “Do Rio Tavares para o mundo!”.


foto ALEXANDRE SOCCI

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Edição 82 | É Bonito demais Foi na edição 82 que acompanhado da mulher, Carol, Formiga nos levou para o Mato Grosso do Sul, mais precisamente para Bonito, cidade símbolo e referência mundial de sustentabilidade com a atividade de turismo ecológico. Beleza garantida, seja passeando a pé nas trilhas, de bike, de carro ou mergulhando nas águas cristalinas, flutuando rio abaixo ou explorando cavernas e grutas. Visibilidade infinita! E a emoção de encontrar a Anaconda? “Foi simplesmente fantástico estar lado a lado com ela. Como cinegrafista confesso que foi uma das imagens mais desafiadoras: filmar detalhes dessa cobra, e ver minha imagem refletida no globo ocular da Sucuri”. E teve voo... Na região de Corumbá, Formiga se surpreendeu com o Maciço do Urucum, uma imponente cadeia de montanhas com mais de 900 metros de altura. “A paisagem é avassaladora: de um lado o Pantanal sem fim, ambiente 100% selvagem, e do outro, as montanhas e a mineradora Vale do Rio Doce, extraindo o nobre minério de ferro”.


Edição 83 | Os bons ventos do Ceará Em plena pandemia, profissionais do turismo do Ceará deram demonstração de profissionalismo e competência na organização de eventos radicais: depois de organizar campeonatos mundiais de windsurfe, kitesurfe, skate, motocross freestyle, levaram para aquele Estado o primeiro evento internacional no mundo de kitefoil e wingfoil. Formiga foi para lá, e mostrou na Mural o desafio gigantesco de organizar um evento de grandes dimensões e restrito aos competidores. E claro, junto às lindas imagens, à oportunidade de compartilhar experiências e acompanhar a evolução do esporte, Formiga nos contou sobre a história da modalidade e dos eventos realizados, e também das pessoas envolvidas. E, claro, também por lá teve voo do nosso piloto radical.

Edição 84 | Das ilhas de lá para a Ilha daqui Para falar sobre a Canoa Polinésia nas páginas da edição 84, Formiga foi conversar com o multiesportista Paulo Gatti, 62 anos, que tem o remo e a canoa como objetos pessoais sagrados, e que representam seu estilo de vida. Em viagens ao Havaí, Gatti imergiu na filosofia do esporte. Lá, não somente técnica e força física são necessários para ser aceito nas comunidades praticantes, mas também a vibração, o olhar, a serenidade do forasteiro são analisados pelos remadores locais.

Por aqui, a Lagoa da Conceição é o paraíso também para quem rema, e adquirindo-se nível técnico, é possível chegar facilmente ao mar pelo Canal da Barra. Isso tudo torna Florianópolis mais perfeita ainda para a Canoa Polinésia. Na matéria, ficam evidentes a devoção de Gatti ao esporte, a relação com a equipe, com o equipamento e com o mar. E também a emoção do Formiga!

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Edição 85 | Expedição Jalapão: um voo pioneiro no Tocantins Na edição passada, Formiga confidenciou que a experiência de voar no território bruto apresentado na novela global “O outro lado do paraíso” o levou às lágrimas. “Mas não fui só eu!”, acrescentou. Um grupo de pilotos de asa topou encarar essa empreitada histórica e ultracasca-grossa, e segundo Formiga, o registro do primeiro voo de uma asa-delta sobre a Serra do Espírito Santo e as Dunas do Jalapão valeram os 7 mil km rodados em 25 dias de expedição. Sobrevoar as dunas, ver de cima as águas cristalinas correndo por entre a areia vermelha, as cores intensas da Serra do Espírito Santo contrastando com infinitos tons de verde da flora, o azul do céu profundo e o branco das nuvens, foi uma experiência ímpar que ele compartilhou em detalhes com a Mural. E nessa aventura, Dr. Formiga teve uma companhia especial: a filha, Victória, a quem dedicou o voo.

Depois de recordar, só nos resta esperar pela próxima aventura radical. Alguém duvida que vem coisa boa por aí?



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LISBOA E MINHAS EXPERIÊNCIAS HOTELEIRAS Uma bela surpresa na Capital de Portugal


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texto e fotos DANIELE MAIA @DMHLUXURY

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a minha última viagem a Lisboa fiz algumas descobertas bem bacanas na parte de hoteleira da cidade e aqui divido com vocês um pouco das minhas experiências e dicas. Conheci o mais novo hotel do grupo Bomporto, no bairro boêmio e super central Príncipe Real: o Vintage Hotel & Spa. Como seu nome sugere, o hotel tem uma pegada retrô, grande parte da sua decoração é inspirada nos anos 50. Para aqueles que ainda não conhecem Lisboa, deve-se saber que essa cidade é um dos lugares que você deve definitivamente colocar na sua lista. Pelo incrível encanto de seus bairros animados e coloridos, por seus monumentos, por seu artesanato tradicional, por seus parques tranquilos, por seus passeios pelo Tejo, pelos sorrisos de seus habitantes, por seus restaurantes com os deliciosos sabores locais, por seu fado etc. Eu sou apaixonada por Portugal e Lisboa, sinto-me realmente em casa nesse país! E ainda assim, visitar a cidade de Lisboa é desfrutar de todos esses pequenos prazeres ao mesmo tempo, falando português, desfrutando do bom tempo que faz quase todo o ano, e super importante, em plena segurança. Se consegui te convencer ou se deseja fazer mais uma viagem ao coração da cidade de Lisboa, super indico dois hotéis que tive a oportunidade de conhecer e também me hospedar. O The Vintage Hotel & Spa oferece muitas vantagens, incluindo sua localização estratégica, o que permite compreender perfeitamente a cidade e suas singularidades. Localizado no bairro do Príncipe Real, local tradicional dos edifícios do século XIX com fachadas coloridas, bares da moda, boutiques e galerias de arte, ele está também próximo à elegante Avenida da Liberdade, do Bairro Alto e também perto do popular bairro do Chiado, um lugar de lojas tradicionais e monumentos históricos. O bonde amarelo é uma verdadeira instituição em Lisboa, mas descobrir a cidade a pé é certamente a melhor maneira de vivê-la intensamente. Eu adoro!


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O próprio hotel oferece algumas experiências para você desfrutar: o terraço do café da manhã com um telhado verde, o V Rooftop Bar, que foi transformado em um verdadeiro oásis urbano com uma vista espetacular de Lisboa, um ambiente agradável e aconchegante para tomar um drinque e curtir um lindo pôr do sol. Curti bastante também a atmosfera vintage, onipresente das áreas comuns aos 56 quartos, incluindo três suítes no último andar, com lindas vistas sobre a cidade. Para aperfeiçoar o ambiente do hotel, que presta homenagem ao estilo glamuroso dos anos 50, o grupo hoteleiro colaborou com talentosos designers, artistas e artesãos locais para compor seu estilo tão marcante. O resultado é uma mistura de móveis vintage autênticos ou feitos sob medida, reproduções criadas para o hotel, e uma infinidade de pequenos detalhes e acessórios retrô. Os projetistas da decoração também se inspiraram nas cores das salas, com seu conforto contemporâneo, diferenciam-se por suas cores: azul lembrando as águas do Tejo e do oceano, verde escuro evocando o vizinho Jardim Botânico ou terracota, sugerindo os telhados das casas de Lisboa. O spa abriga salas de tratamento, uma sauna seca, uma sauna a vapor e uma pequena piscina coberta, em uma atmosfera relaxante de cobre e madeira, com uma proposta de cromoterapia. Um ambiente extremamente relaxante dentro do hotel. Desfrutei de uma massagem feita por mãos de fadas e aproveitei a piscina com a cromoterapia que acalma bastante... uma experiência sensacional. O Vintage Hotel & Spa é um hotel que super indico, principalmente pelo seu custo-benefício que vale muito a pena!

Para quem adora ficar no centro da cidade, perto das principais atrações e restaurantes e não quer perder tempo com o transporte, uma outra descoberta fabulosa que fiz foi o Lumiares Hotel & Spa. Quando cheguei ao hotel, imediatamente me apaixonei pelo seu visual super clean e elegante. Adorei os azulejos brilhantes em preto e branco no piso e a área de estar com lindos tapetes na parede... me senti numa foto de revista de decoração de interiores ou numa cena de cinema. Fui muito bem recebida por uma recepcionista sorridente e simpática, que atrás da recepção dourada me explicou tudo sobre o hotel e suas proximidades, e em seguida me acompanhou para um coquetel de boas vindas no sensacional rooftop do hotel, que se chama Lumi. Depois foi a hora de conhecer meu lindo apartamento lisboeta, que consistia em cinco áreas principais: a cozinha e a sala de estar, 2 quartos (1 suíte) e 2 banheiros. O hotel não tem quartos e sim studios, apartamentos ou lofts. Esse conceito é excepcional, pois você se sente no seu próprio apartamento em Lisboa. Fiquei encantada com a decoração do apartamento, clean, mas ao mesmo tempo com cores fortes, dando ao ambiente um toque contemporâneo, porém super aconchegante. A cozinha é bem funcional, toda branquinha e com os aparelhos da minha marca preferida: Smeg. O serviço do hotel oferece na diária uma geladeira cheia de refrigerantes, cervejas e água, assim como uma garrafa de vinho, espumante e os deliciosos pastéis de nata de boas-vindas.


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Os banheiros são todos equipados com os tradicionais produtos da marca portuguesa Benamôr, sempre atenta com o meio ambiente; os produtos são apresentados em forma de refil. A vista do apartamento – para os telhados de Lisboa – também é maravilhosa. Como o hotel está localizado bem no centro, as janelas são totalmente antirruídos. É só fechá-las que não se houve barulho algum. O grande problema do apartamento é não ter vontade de sair dele! Outro ponto alto do hotel é, sem dúvida, seu rooftop Lumi, onde é servido o delicioso café da manhã em forma de bufê e também diferentes ovos e deliciosos pancakes à la carte. O Lumi rooftop foi criado pelo chef Miguel Castro e Silva, e o restaurante serve diversos pratos, a partir de uma cozinha refinada que homenageia a gastronomia portuguesa. Uma vista deslumbrante para os telhados da cidade antiga, os mil reflexos do sol sobre o Tejo... definitivamente, um lugar que temos sempre vontade de voltar. Sobre a localização do hotel, não poderia ser melhor: você pode fazer muita coisa a pé, pois é bastante central. Na pacata rua Diário de Notícias, que fica ao lado da agitada São Pedro de Alcântara, este é o coração do famoso Bairro Alto. Pequenas lojas, paralelepípedos, calçadas estreitas, antigas fachadas, estes tradicionais palácios que parecem meio abandonados e dão a Lisboa seu charme singular. Um desses palácios, uma magnífica casa do século XVIII no número 142, foi salva do desaparecimento por um grupo hoteleiro: o Lumiares Hotel & Spa. Acho que ficou claro porque você não pode deixar de adicionar Lisboa na sua lista de viagens!


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LA MAISON ÁRABE História e paixão no coração de Marrakech


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texto e fotos DANIELE MAIA @DMHLUXURY

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onhecer a Maison Árabe em Marrakech foi vivenciar de perto o mais puro patrimônio da tradição e dos valores da cultura do país. Esse antigo riad, transformado em um hotel de luxo, está localizado no coração de Marrakech, não muito longe da famosa cadeia montanhosa Atlas. Charmoso, é cheio de histórias interessantes: foi aqui que nos anos 30 duas mulheres europeias, a Sra. Sébillon-Larochette, mãe e filha, decidiram montar um restaurante gastronômico servindo a cozinha marroquina na medina de Marrakech (medina significa a cidade antiga, o centro da cidade). Segredos culinários foram revelados aos gerentes do restaurante, que logo em seguida alcançou reputação internacional. Convidados importantes jantaram nesse local, então bastante conhecido e bem frequentado: Winston Churchill, Ernest Hemmingway, a rainha da Dinamarca, general de Gaulle, entre outros. Por alguma razão na época, o local acabou sendo fechado por cerca de quinze anos. Em 1994, o príncipe Fabrizio Ruspoli descobriu esse magnífico e lendário edifício e apaixonou-se; comprou-o e começou a renová-lo. Fabrizio Ruspoli tinha uma filosofia resumida em uma única palavra “viver”: “Viver é um termo universal que tem uma ressonância íntima dentro de cada um de nós”. O que é morar se não se conhecer a si mesmo? Não dizemos muitas vezes que um lugar possui energias positivas ou negativas? Fabrizio tinha essa preocupação e se questionava com a seguinte pergunta: estamos em harmonia com o espaço, os volumes e as formas entre os quais escolhemos viver e evoluir? Se habitamos em um lugar, o lugar também habita dentro de nós.


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Quatro anos após uma reforma, um pouco de expansão e muito trabalho, a Maison Árabe abriu suas portas em 1998. A casa tornou-se um hotel de luxo acolhedor. Hoje tem 27 quartos e suítes, cujos interiores são decorados com a tradição da arte marroquina: faianças, pinturas, trabalhos em madeira e, claro, os lindos jardins! A Maison Árabe é um hotel aconchegante, acolhedor, caloroso e com muito charme. Um dos seus pontos forte – depois da excelente gastronomia e localização – é seu spa. O menu do spa é variado e suas assinaturas especiais são as experiências no tradicional ritual Hammam. Aqui conto um pouco da minha experiência a dois: O acolhimento é personalizado e nos é dada uma explicação detalhada de cada etapa tratamento. Escolhemos o Fofait Royal; apresentam todos os produtos que vão utilizar (vale ressaltar que todos são naturais). O ritual do hammam no spa é projetado para atender duas pessoas em um ambiente a vapor e num bloco de mármore aquecido. A primeira etapa é revestir o corpo com sabão preto (o famoso savon noir), que tem não só um efeito de limpeza, mas também um efeito relaxante. Uma esfoliação é então aplicada em seguida com uma luva para remover a pele morta. Após essa esfoliação profunda o corpo é todo coberto por “ghassoul”, máscara de argila de origem vulcânica aromatizada com sete plantas da região. A etapa seguinte é uma massagem modeladora corporal com óleo de argan. O Hammam é uma purificação para a pele, mente e corpo, uma experiência realmente relaxante e ancestral na cultura árabe.


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Les Trois Saveurs A gastronomia do restaurante Les Trois Saveurs é deliciosa e tipicamente marroquina. Em seu terraço, num ambiente mágico em volta da piscina, é servido o jantar, com velas iluminadas em toda parte e música da região ao vivo. Outra experiência única do hotel é o delicioso café da manhã, que é servido também em volta da piscina, observando uma funcionária marroquina fazendo na hora os pães tradicionais e outras especiarias. Vale ressaltar aqui que o hotel possui cursos da culinária marroquina chamados Les Ateliers de Cuisine Jardins Privés. O hotel organiza também várias experiências na cidade.Uma delas é um passeio no souk com um guia local apresentando várias especialidades (savoir-faire) dos artesãos locais. Uma verdadeira imersão nessa cultura tão rica. E também indica as melhores lojas para compras. Um outro lugar incontornável em Marrakech é o restaurante Dar Rhizlane, localizado no bairro de Hivernage, a dez minutos de carro do centro. Dar Rhizlane é um templo da gastronomia marroquina, onde os grandes clássicos são revisitados e recriados! As apresentações ousadas têm toques sutis que trazem uma nova dimensão à arte culinária oriental. À noite, as diversas velas refletem sobre a superfície da linda piscina e a atmosfera é um sonho, como nas mil e uma noites...


ROTAS CÊNICAS

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ARQUIPÉLAGO DE LOFOTEN Uma Rota Cênica que nos apresenta o Sol da Meia Noite, muito bacalhau, a história e tradições dos vikings e paisagens monumentais Mapa de localização

SUPER FERRY DE BODO ATÉ MOSKENES Bodo, uma bela cidade também no Círculo Polar Ártico, foi o local que escolhi para fazer a travessia do mar da Noruegua até Moskenes/Lofoten. Foram cinco horas de viagem apreciando o Sol da Meia Noite.

texto e fotos IKE GEVAERD

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iajar é conhecer diferentes lugares, vivenciar novas experiências e aprendizados e criar lembranças que nos acompanharão ao longo da vida. E sempre achei que uma parte muito especial das viagens, está na oportunidade de compartilhar lembranças e impressões, ajudando a estimular a imaginação e despertar interesse por culturas e locais às vezes completamente diferentes daqueles com os quais estamos habituados. Assim é com as Ilhas Lofoten, localizadas no mar da Noruega, no Círculo Polar Ártico, e oferecem paisagens espetaculares, com montanhas exuberantes, fiordes, aves marinhas, praias belas e propícias para o surfe, além de bucólicas vilas de pescadores. O arquipélago é certificado como Destino Sustentável, um selo dado aos roteiros que buscam reduzir o impacto negativo do turismo e aumentar os impactos positivos, conforme o órgão oficial de turismo norueguês. Sem dúvidas, Lofoten proporciona experiências incríveis junto à natureza devido à beleza de suas paisagens, das trilhas com diferentes graus de dificuldade e dos locais especiais para pescar, esquiar, cavalgar e mergulhar, ou mesmo para degustar as especialidades da nova gastronomia escandinava. Prontos para conhecer?


ROTAS CÊNICAS

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VILA DE PESCADORES DE “A” – O INÍCIO DESTA ROTA CÊNICA O Torrfisk Museu (Museu do Bacalhau), localizado na vila de Pescadores de “A”, uma das mais antigas e preservadas da Noruega, é formado por edifícios originais como a casa de barcos, a fábrica de óleo de fígado de bacalhau e as cabanas de pescadores, dentre outras edificações do século XIX. Foi nesse local, às margens da rodovia E6, que iniciamos nossa viagem que cruzaria uma das ilhas do arquipélago.

MOSKENES Depois de cruzar o mar da Noruega, chegando ao pequeno porto tivemos uma bela visão do que nos esperava nos próximos dias dirigindo pelas estradas do arquipélago. Os picos íngremes que o cercam e os seus pequenos vilarejos de pescadores fazem de Moskenes um dos mais belos recantos da Noruega.


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HAMNOY PRESERVA AS TRADIÇÕES MUITAS GALERIAS DE ARTE Apesar de se localizar distante de tudo, muitas galerias de arte e artesanato podem ser encontradas em Lofoten. Artistas escandinavos escolheram a ilha para desenvolver suas habilidades. Na foto uma galeria na Vila de Reine.

Considerada a mais antiga vila de pescadores do arquipélago, o território apresenta uma beleza cênica diferenciada e praticamente intocada. Do seu pequeno porto partem diariamente pescadores em busca do Cod, peixe que conhecemos como bacalhau. Se desejar, é possível ao visitante se aventurar numa pescaria.

O MUSEU VIKING Um dos reinos do norte da Noruega estava localizado em Borg, onde hoje existe um museu onde foi reconstruído o ambiente da Era Viking. É possível conhecer muito da história dos vikings a partir de uma viagem no tempo de cerca de 1000 anos.

A ROTA CÊNICA DE LOFOTEN Mar, montanhas, praias e pequenas vilas de pescadores, fazem com que o trajeto de 230 km entre as vilas de “A” e Raffsundet se transformem em uma viagem inesquecível. Dedique no mínimo três dias para fazer esse percurso. Na foto, o parador de Akkarvikodden, uma das belas vistas do percurso.


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PAISAGENS MONUMENTAIS

PONTES QUE LIGAM ILHAS

A cada quilômetro percorrido o viajante se depara com paisagens de tirar o fôlego. As montanhas emolduram os fiordes que abrigam as casas dos moradores, que convivem com temperaturas amenas no verão e as belas luzes do inverno ártico.

Ao longo dos 230 km que cortam a rota cênica de Lofoten, é impressionante a qualidade arquitetônica das suas pontes e túneis, que além de dar segurança, lapidam a paisagem sem grandes interferências. Na foto, as pontes Fredvang, que ligam as ilhas de Moskenesoya e a vizinha Flakstadoya.

BACACALHAU DE LOFOTEM Secando ao sol, à moda antiga, pude observar cenas como a foto em diversos locais do trajeto. Eles são secos ao ar livre durante a primavera. Lofoten é um dos grandes produtores de bacalhau, o peixe desidratado, que ali também é produzido de forma industrial – ou seja, desidratado em tonéis com muito sal.

PRAIA DE RAMBERG Uma das diversas praias do arquipélago, com suas areias brancas e águas gélidas mesmo no verão. Muitas delas são especiais para o surfe, onde muitos corajosos surfam com as desafiadoras temperatura abaixo de zero.


ROTAS CÊNICAS

112 GASTRONOMIA ESCANDINAVA Além de seus restaurantes oferecerem comidas que eram servidas nos tempos dos vikings, alguns já oferecem pratos da nova gastronomia escandinava – saudável e deliciosa! Na foto, o prato à base de “CodFish” fresco, antes de se tornar bacalhau.

SVOLVAER, SOB O SOL DA MEIA NOITE Svolvaer é a principal cidade do arquipélago e parada obrigatória para todos os viajantes. Tem bons restaurantes e é ponto de partida para as mais diferentes atividades esportivas e recreativas da região. Na imagem, ao fundo à esquerda o edifício do Hotel Thon, ponto de partida para minha aventura pelas redondezas sob o sol da meia noite.

DEPOIMENTO DE VIAGEM Dirigindo pela Rota Cênica de Lofoten constatei que estradas não são apenas parte de uma viagem que nos levam de A até B da maneira mais rápida. Elas podem ser também um passeio agradável, quando podemos observar o belo do caminho, conhecer a história, apreciar o que de bom é oferecido durante o percurso. Enfim, desfrutar de suas atrações, que na maioria das vezes passam despercebidas aos desavisados.


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NUTRIÇÃO

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ENDOMETRIOSE Ou você tem ou você conhece alguém que tem. E o mais curioso neste assunto é que, mesmo sendo tão comum, muitas mulheres levam muito tempo para receber o diagnóstico textos ANA CAROLINA ABREU fotos DIVULGAÇÃO

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oje estima-se que uma em cada dez mulheres apresentam endometriose. Mas porque a nutricionista está falando sobre este assunto? Primeiro, porque hoje a endometriose já é considerada uma doença sistêmica e não apenas ginecológica. Vou tentar explicar um pouquinho sobre a forma como ela atua no organismo e porque a dieta e a suplementação podem ser tão importantes nestes casos. O diagnóstico muitas vezes pode demorar, pois nem sempre ela se manifesta na adolescência. Ainda temos o fato de que muitas mulheres iniciam algum tipo de hormônio (seja como anticoncepcional ou para inibir sintomas como cólicas e fluxos intensos) ainda na juventude. Somando-se a isso, também estão postergando a maternidade e, com isso, aumentam o número de ciclos menstruais. Mas para quem desconhece o assunto, vamos lá! A endometriose é uma doença onde há uma descamação ou crescimento do

endométrio fora do útero. É uma doença estrogênio-dependente e por vezes faz aderência em outros órgãos como o intestino, por isso pode causar tantas dores, inclusive durante a relação, no período pós-ovulatório/menstrual ou ao evacuar. Hoje o que se sabe é que pacientes que têm endometriose apresentam alterações no sistema imunológico. Geralmente há uma inflamação excessiva e o hiperestrogenismo também é uma característica presente. Mas são várias as teorias sobre as causas da endometriose. Por isso diagnosticar pode não ser tão simples, pois a sintomatologia de cada paciente pode ser diferente, e em muitos casos é necessária uma ressonância de pelve, ultrassom com preparo intestinal ou até videolaparoscopia. Alguns dos fatores que podem influenciar no aparecimento da endometriose estão relacionados ao estilo de vida, e aqui temos que considerar o excesso de peso, consumo de álcool, cafeína, exposição a toxinas ambientais, aditivos alimentares, uso de medicamentos, qualidade da dieta, estresse, falta de atividade física e rotina de sono. Não é à toa que diversos estudos demonstram um aumento de radicais livres nas mulheres com endometriose. Tudo que atua aumentando a produção de radicais livres pode influenciar diretamente no aumento do processo inflamatório, na progressão da doença e na dor. Muitas pacientes buscam o consultório por receberem o diagnóstico de infertilidade sem causa aparente (ISCA). E quando procuram a nutrição, muitas vezes já tentaram diversos tratamentos. O que muitas não sabem é que cerca de 45% dos casos de endometriose estão relacionados a uma reserva ovariana baixa, o que dificulta ainda mais as chances de engravidar.


Mas porque a nutrição é tão importante? Muitas vezes os alimentos que consumimos regularmente podem gerar processo inflamatórios, impedindo que o organismo funcione de forma plena. A permeabilidade intestinal é um dos fatores que contribuem para as alergias alimentares, e recuperar o intestino é fundamental para garantir um tratamento bem-sucedido. Estudos mostram que mulheres com endometriose têm mais disbiose intestinal e diminuição na produção de IL10 (interleucina que influencia na tolerância imunológica). Identificar os possíveis alimentos alergênicos e criar estratégias nutricionais para modular o intestino, pode diminuir o processo inflamatório e a dor. A retirada do glúten pode ser benéfica em casos de cólicas excessivas e dores crônicas. Diminuir a alimentos industrializados, alergênicos e a carne vermelha pode melhorar o quadro. Alimentos que aumentam a COX-2 podem piorar os sintomas, pois ela participa na síntese de prostaglandinas, que estão relacionadas ao aumento da dismenorreia (cólicas menstruais). Ovos e carne vermelha são exemplos. O consumo de fibras e fitoquímicos presentes nas frutas, vegetais, leguminosas e cereais podem melhorar a microbiota e consequentemente diminuir a inflamação e a recirculação do estrogênio, reduzindo a dor. A vitamina D também é um nutriente importante e deve ser avaliada, já que os níveis estão reduzidos na maioria das pacientes. As gorduras são fundamentais para uma produção hormonal adequada. As gorduras trans atrapalham e muito. Engana-se quem pensa que um pouquinho pode: estudos mostram que consumir biscoitos recheados, fast food e comidas congeladas frequentemente, já pioram o processo inflamatório e contribuem para a progressão da doença. Quanto às proteínas, preferir as proteínas vegetais e/ou proteínas magras. Há diversos estudos correlacionando o consumo de carne vermelha com a piora do quadro. Os contaminantes ambientais também são avaliados nos estudos: o contato com agrotóxicos e BPA (bisfenol A) pode agravar a doença. O bisfenol é apenas um dos inúmeros disruptores endócrinos – encontrado em embalagens plásticas – que afeta o equilíbrio de glândulas e hormônios, interfere na atividade estrogênica e tireoidiana.

Cofatores antioxidantes • • •

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O resveratrol tem um papel importante na redução da inflamação, por inibir a COX-2, também diminui a proliferação celular e o estresse oxidativo. O ômega 3 é outro nutriente importante, especialmente doses altas de EPA, por ser um potente anti-inflamatório. A melatonina tem se mostrado eficaz na redução da dor, especialmente durante a menstruação. Além disso, estudos comprovam sua eficácia no envelhecimento ovariano. Alimentos e suplementos com nutrientes como a vitamina C e E, selênio, Ácido alfa-lipóico, CoQ10, N-acetil-cisteína (NAC) devem ser incluídos sempre! Alimentos que melhoram a produção de glutationa, um poderoso antioxidante é fundamental. Alimentos fontes de cisteína como o brócolis, couve flor, repolho, rabanete devem ser incluídos na dieta.

Além da alimentação A prescrição de fitoterápicos também pode contribuir para a melhora do quadro. Dependendo da situação, os fitoterápicos podem auxiliar na produção hormonal (progesterona), recuperação do processo inflamatório e reequilíbrio do organismo, além da diminuição da dor. Seja na forma de tinturas, extratos secos ou chás, temos diversas plantas que contribuem para garantir uma melhor qualidade de vida e redução dos sintomas sem precisar depender apenas de hormônios e anti-inflamatórios. Algumas das opções que prescrevo: tanacetum parthenum, uncaria tomentosa, curcuma, pueraria mirifica, glycyrrhyza glabra e salix alba, tulsi, camelia sinensis (chás verde e branco) e tomilho, entre tantas. Além da fitoterapia, buscar equilíbrio na rotina, fazer higiene do sono e diminuir o estresse é fundamental. Do ponto de vista Ayurveda, a endometriose é uma doença gerada pelo acúmulo de “ama” (toxinas), e a principal forma de tratar seria desintoxicar o corpo, permitindo que ele tenha imunidade e força para limpar o que está acumulado. Ela é um desequilíbrio nos três doshas, mas principalmente de Kapha, pelo aumento do endométrio e acúmulo de células. Portanto, trabalhar a digestão do corpo e da mente contribui para o reequilíbrio. O que quis trazer aqui foi um alerta, pois vejo muitas mulheres que acreditam que a única forma de tratar é com hormônios ou até histerectomia. Sim, muitas vezes, dependendo do grau, medidas mais drásticas são necessárias. Mas compreender que nosso organismo é muito mais complexo e que podemos auxiliá-lo nessa resposta, principalmente buscando autoconhecimento e melhora na qualidade de vida, é fundamental. Fico muito feliz toda vez que recebo uma paciente nova, que em menos de dois meses já percebe redução das dores e melhora dos sintomas. Claro que é necessário esforço e dedicação, mas os benefícios compensam! Espero ter esclarecido um pouquinho pra vocês.

NUTRIÇÃO

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NUTRIÇÃO

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Rica em água e fibras, é aliada de qualquer cardápio saudável texto ANA CAROLINA ABREU fotos DIVULGAÇÃO

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h, como eu amo!! Se tem um alimento versátil e coringa, é a abóbora. São muitos os tipos de abóbora, mas as mais comuns são a cabotiá (ou japonesa), com a casca escura e mais dura, e a pescoço (ou menina), que tem a casca mais fina e é mais adocicada. E ambas são de sabor adocicado. O que vai influenciar na sua escolha é o tipo de receita que você quer preparar. Confesso que minha preferida é a cabotiá. Uma das melhores características dela, é que encontramos o ano inteiro e, como tem uma casca resistente, conseguimos achar em qualquer região do país. Ou seja, podemos modificar as formas de preparo e fazer receitas que combinam com cada estação do ano ou necessidades do corpo. E do ponto de vista nutricional, a abóbora é alimento essencial na lista de compras. É rica em carotenoides, importantes pelas características antioxidantes, anti-inflamatórias e melhora da imunidade. Por ser rica em água e fibras, é aliada de qualquer cardápio saudável. As sementes merecem um capítulo à parte, pois são riquíssimas em minerais como zinco, magnésio e ferro. Ainda possuem vitaminas do complexo B e triptofano. Ajudam na fertilidade e até como vermífugo. O bom é que dela nada se perde, as sementes são um excelente petisco tostadas ou em granolas salgadas. A polpa pode ser utilizada com a casca ou sem, e fica incrível assada, na forma de purês ou sopas e também em massas como pães ou bolos. Quer mais? Pelo Ayurveda é considerada um alimento doce, com energia refrescante e reação (efeito pós digestivo) doce, que ajuda a reequilibrar o VATA e acalmar o PITTA. Mas como todo alimento no Ayurveda, a forma de preparo e a combinação de especiarias pode torná-la terapêutica para todos os doshas. Com ghee e noz moscada, tem ação calmante e relaxante. Já em um KAPHA agravado, o ideal é consumir assada e com pimentas. Na hora de escolher prefira as de casca sem brilho – são as mais maduras. Se comprar inteira, pode manter fora da geladeira. E se quiser congelar, basta cortar em cubos, mesmo crua.

CURIOSIDADE: • Na Índia é considerada um alimento “auspicioso”. É oferecida em rituais (pujas), como forma de ativar formas divinas de consciência; também é pendurada na frente das casas para proteger de energias negativas. Se ela apodrece repentinamente é sinal de que absorveu as más energias e cumpriu seu papel.

Sopa de abóbora com tangerina, gengibre e manjericão Ingredientes • 1 abóbora japonesa (cabotiá) • 2 colheres de sopa de manteiga ghee (opções: óleo de coco ou azeite) • 2 litros de caldo de vegetais caseiro ou água • 1 pedacinho de gengibre • 350 ml suco de tangerina ou polpa de manga • folhas frescas de manjericão a gosto • sal a gosto • 2 dentes de alho Modo de preparo • Corte a abóbora em cubos. Numa panela, cozinhe a abóbora com o alho, o gengibre e a água, até a abóbora ficar macia. Bata tudo no liquidificador, adicionando o líquido aos poucos até alcançar a consistência desejada; se ainda sobrar líquido sem abóbora, dispense ou utilize para outra preparação. Adicione a manteiga ou azeite a gosto, o suco de tangerina, o sal e continue batendo. Quanto mais azeite colocar, mais aveludada a sopa ficará. Corrija o tempero ao seu gosto e sirva com folhas de manjericão por cima ou ao lado.



SAÚDE BUCAL

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Segurança e proteção nos esportes

PROTETOR BUCAL texto LAURA SACCHETTI (CRO-SC 12391) fotos BANCO DE IMAGENS/DIVULGAÇÃO

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rovavelmente você já viu lutadores, jogadores de basquete e atletas de altas performances usando protetores bucais, mas isso não precisa ser exclusividade para atletas profissionais. Afinal, ninguém quer fraturar um dente devido um impacto sofrido naquele jogo de final de semana. Os protetores bucais são aparelhos que se encaixam nos dentes a fim de protegê-los e também aos lábios durante impactos sofridos na boca. Por isso a importância de usá-los sempre que for participar de alguma atividade que tenha contato físico, choques, riscos de quedas como skate, patins, patinete, basquetebol, rúgbi, futebol... enfim, até mesmo em uma volta de bicicleta no parque. Normalmente os protetores são usados na arcada superior pela projeção dentária. Eles podem ser confeccionados pelo dentista, que vai moldar e fazer o protetor personalizado e individualizado, respeitando a anatomia do paciente, o que dará maior conforto e segurança na hora da atividade física.

Porém, podemos encontrar outros dois tipos de protetores: protetores moldáveis em água quente e os protetores comuns, não sendo os mais indicados em relação ao conforto e segurança. É importante ressaltar que os aparelhos devem ser trocados com certa frequência, pois com o passar do tempo vão se desgastando e perdendo a eficiência. E quando falamos de crianças ou adolescentes é necessário a troca devido à fase de desenvolvimento bucal e dental. LAURA SACCHETTI

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FISIOTERAPIA

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Você já ouviu falar em diástase? texto ROBERTA RUIZ foto DIVULGAÇÃO

Diástase abdominal

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esmo hoje com a internet, onde todo mundo tem fácil acesso a muitos conteúdos, percebo no consultório que, embora muito importante e relevante para a gestante, essa informação ainda não chegou a todas. Por isso, resolvi nesta edição dar uma atenção especial a este assunto. Vale lembrar que não é só gestante que apresenta a diástase. Muitos homens também têm, mas aqui vou focar nas nossas mamães. Por definição, diástase abdominal é o afastamento dos músculos e do tecido do conjuntivo do reto abdominal. Esse tecido conjuntivo que fica entre os feixes do músculo reto abdominal é chamado de linha alba, e graças a hormônios ela se torna mais flexível e permite o crescimento da barriga sem rasgar nenhum feixe muscular. Sim, a diástase abdominal na gestação é normal e saudável. Aquela barriga precisa de espaço para crescer. O problema acontece quando ela se torna instável ou passa do limite fisiológico de afastamento. Aí passa a ser um problema. A maioria que já ouviu falar, pensa geralmente na parte estética desse abdômen, mas este é somente um dos desafios. Vamos imaginar um cilindro hidráulico. Temos a parte de cima composta pelo nosso diafragma (principal músculo da respiração), embaixo pelo nosso assoalho pélvico, atrás pelos músculos paravertebrais e na frente pelos músculos abdominais. A função desse cilindro é manter a pressão dentro deste abdômen estável. Caso um desses componentes do cilindro esteja com problemas, todos os outros irão sofrer, mas, devido à posição ortostática

Normal

Diástase

Tipos de diástase


FISIOTERAPIA

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(em pé) a gravidade empurra tudo para baixo, e quem sofre mais é o assoalho pélvico. Então já começamos a entender aqui que diástase não é só uma disfunção estética, mas vai muito além. Sabe aquela dor chata na sua lombar, aquela incontinência que nada resolve? Pode ser uma diástase patológica. Agora você pode estar se perguntando: e se eu tiver uma diástase patológica? Bom, para avaliar sua diástase você deve passar por uma avaliação de um fisioterapeuta pélvico. Sim, alguém que consiga avaliar não só a sua diástase, mas todos os outros componentes desse cilindro. E lembre-se: um deles é seu assoalho pélvico. Caso seja detectada uma diástase patológica, a abordagem terapêutica é individualizada. Não existe protocolo padrão, pois o corpo é único e assim deve ser o tratamento. Então, fuja de protocolos prontos – aqueles que vivem aparecendo na sua timeline para você comprar. A diástase abdominal patológica vai muito além da estética; ela pode pré-dispor incontinência urinária, prolapso de órgãos pélvicos, lombalgia, dor nas costelas, dor abdominal, entre outros. Bom. Agora que você já sabe, lembre-se: prevenir é melhor que remediar, e exercícios físicos bem orientados previnem esse incômodo. Bora se cuidar?! PS: Não use cinta abdominal. NÃO previnem NEM trata! Mas aí já é assunto para outro encontro por aqui. Até a próxima edição!

saiba mais

Músculo Diafragma

Músculo abdominal

Músculo Paravertebral

Bacia

Assoalho pélvico

ROBERTA RUIZ Fisioterapeuta – Crefito 38.482. Pós-graduada pela USP em Fisioterapia Respiratória. Instrutora de Pilates pela Physio Pilates Polestar (USA). Pós-graduada em Fisioterapia Pélvica – Uroginecológica Funcional (Inspirar). Formação em RPG e Terapias Manuais-Maitland (AUS). Formação em podoposturologia (palmilhas posturais). Proprietária do Espaço Integrata – www.integratafisio.com.br. Integrata Pilates e Fisioterapia Pélvica F Rua Gravata, 75 – Campeche – Florianópolis/SC C @integratafisio 1 (48) 99140-1810 0 roruizfisio@gmail.com


SAÚDE

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Conheça todas as novidades para clarear as manchas que tanto incomodam

MELASMA

VOCÊ SOFRE COM MANCHAS NA PELE? texto DR.A MARIANA TREMEL BARBATO (CRM/SC: 10877/RQE: 6741) foto DIVULGAÇÃO

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s fatores que mais têm influência no aparecimento do melasma são o Sol e as mudanças hormonais. A partir do momento em que o problema aparece o tratamento terá que ser constante, uma vez que o melasma é crônico, e por mais que as manchas clareiem ou até mesmo desapareçam, elas podem recidivar. A procura de um dermatologista é fundamental, já que ele é quem vai definir o tratamento mais adequado, de acordo com o tipo de pele do paciente. A grande vantagem é que temos uma gama de tratamentos para ajudar a contornar o problema, que é muito frequente, atingindo mais de 40% das mulheres. Porém, os homens não estão livres. Geralmente, quando me deparo com uma paciente com melasma, percebo que a mesma já teve diversas tentativas frustradas de resolver o problema, mas sempre explico que os tratamentos mudaram e podemos ter um excelente resultado, até mesmo nas manchas mais antigas. Não adianta irritarmos e sensibilizarmos demais a pele para remover a mancha em poucas semanas, pois a chance de rebote do melasma é grande, e a recidiva pode ser ainda pior quando agredimos muito a epiderme. Prefiro o tratamento efetivo, devagar e sempre, com manutenção de procedimentos para que o resultado seja sustentado. O arsenal terapêutico e a escolha do tratamento devem ser individualizados. Temos à disposição tratamentos orais, cremes e tecnologias, e gosto muito de somar as opções para um melhor resultado:

1.Cápsulas orais: antioxidantes e fitoterápicos que agem como uma proteção solar oral são ótimos aliados para quem quer praticidade e quer manter o resultado de tratamento. O ácido tranexâmico oral também auxilia muito no clareamento, mas deve ter acompanhamento médico constante. Além disso, pacientes em tratamento hormonal ou com história pessoal ou familiar de trombose não devem utilizar essa medicação.

2. Cremes: Hidroquinona ainda é um excelente ativo, mas deve ser usada por tempo predeterminado. Além dela, ácido tranexâmico, thiamidol, ácido glicólico, alfa-arbutin, vitamina C, entre outros. 3. Tecnologias: Laser Q swiched (Spectra Laser Toning) aplicado semanal ou quinzenalmente auxilia na quebra do pigmento sem agredir a epiderme; microagulhamento com drug delivery (aplicamos substância clareadora logo após o procedimento), laser em picosegundos, entre outros. 4. Peelings também podem ser utilizados, mas sempre cuidando para não sensibilizar demais a pele para não ocorrer o temido efeito rebote. 5. Fotoproteção é indispensável para o sucesso do tratamento. Protetores com cor, alto fator de proteção UVA/UVB e luz visível são fundamentais. Então, quando o assunto for melasma, não desanime! A dermatologia está cheia de novidades e tratamentos cada vez mais confortáveis, ativos e mais seguros, e contamos com máquinas que nos proporcionam resultados muito mais satisfatórios e por período prolongado. Ah! E sempre destaco que pacientes que tratam melasma, estão conjuntamente tratando envelhecimento, já que os ativos também servem para tratamento de rugas. Tratar manchas é muito gratificante. Digo sempre que poder exibir a pele sem maquiagem, a pele real, é uma experiência libertadora! MARIANA TREMEL BARBATO Rua Ferreira Lima, 238, 6.o andar, Florianópolis Z (48) 3223-6891 W +55 48 99933-7000 I dramarianabarbato


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OS MAIS BADALADOS DA CIDADE Grupo Novo Brasil com toda a sofisticação que o verão mereceu fotos LARISSA TRENTIN e ADRIEL DOUGLAS

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s melhores momentos do verão 2022 bas casas do Grupo Novo Brasil. Durante o verão mais aguardado da história, o P12, Acqua, Donna, Ammo Beach e Milk Club – em Jurerê Internacional – e o Art’s Gastronomia e Música, no Centro de Florianópolis, apresentaram uma experiência que une gastronomia e música com exclusividade, sofisticação e lifestyle nos spots mais badalados da cidade.

LUIZA LAWISCH

ANITTA

GABRIELA MACHADO

LUCIANO SAPORITI

FERNANDA SOUZA VIEIRA


MURAL GNB

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LAIS YAMANAKA E ALEXIA NOVGORODECV

FRAN

LÍVIA DE MORAES

ANA CAROLINA OLIVEIRA

ANA KAROLINA KLEIN

ANA MOSCONI

DJ OWNBOSS E VICTOR GUERREIRO

MORGANA ZANLUCCHI

MILENA KNAPIK

ANDRESSA BARBOSA

JÚLIA ARAÚJO

SARA HARDEL E MARCELA KOZINSKI

FÁBIA CALAZANS

FRANCIELEI TEIXEIRA

PRISCILA FREITAS

MATHEUZINHO E TIERRY

HELOISA BORNAL

VALENTINA CONTE


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VICTORIA LANES

FERNANDA NAPOLEÃO

MONIQUE ALBUQUERQUE E CAIO FORNEROLI

REZENDE

SARA ZOMER

SOFIA ZOMER

LARISSA MACHADO

JULIANA SCHMIDT

GIOVANNA DE PIERI

MARINA SENA

BRUNO CAPELLA E DJ ARTHUR MOMM

MARI ANTONIOLI

GIBÃO

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