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Carros no cinema

Carros na telona

roberto Carlos a 300 km Por Hora

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Dificilmente veremos o filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora nas telonas novamente, mas ele já foi um dos campeões de bilheteria entre os títulos nacionais no início dos anos 70. Pudera, o rei Roberto Carlos estava em um momento de grande popularidade, na época, e seu gosto pelos automóveis, que era conhecido por seu público mais fiel, ajudaram o filme ser o mais assistido do ano de 1971.

Mesmo aqueles que já não curtiam o cantor nessa fase, em que ele estava trocando o gênero Jovem Guarda para o romântico, o filme agradou vários públicos, em especial àquele que curtia corridas de automóveis. Isso mesmo sendo uma inocente ficção, já que, para os entendidos da competição, nem naquele tempo as situações apresentadas seriam factíveis.

Atualmente o filme do Roberto se tornou cult, tanto pelas músicas como pelos carros, e pode ser assistido nos canais fechados de televisão.

Gurgel Ipanema QT, dirigido pela personagem da atriz Libânia Almeida, um dos destaques automobilísticos do filme

Da trilogia de Roberto Carlos, A 300 km Por Hora foi o último, de 1971, e é, sem qualquer dúvida, o melhor deles. Os dois primeiros, Em Ritmo de Aventura, de 1969, e O Diamante Cor-De-Rosa, de 1970, eram mais veículos de promoção do cantor do que filmes sérios. Mas são boas diversões, principalmente para os seus fãs.

Roberto Carlos a 300 km Por Hora tem um bom enredo e uma certa magia, principalmente visto mais de 50 anos depois, pois resgata os ambientes e as atitudes características daquela época.

Para nós, amantes de carros, o ambiente a ser lembrado é mesmo o Autódromo de Interlagos, cru e maravilhoso, acabado de sair de uma reforma que durou dois anos. O filme mostra os boxes em novo local (antes eles ficavam na subida do Café, bem ao lado da pista) e as primeiras arquibancadas, ainda inacabadas.

A mocinha do filme, Libânia Almeida, com sua Honda CB 350 customizada, e no sonho de Roberto Carlos

Roberto Carlos não era ator e isso pode ser comprovado nos dois filmes anteriores, mas podemos considerar a sua atuação como muito boa, em A 300 km Por Hora, vivendo um mecânico pobre e tímido que sonha ser um piloto de corridas.

Além da pista, relembramos alguns locais da época, como a revendedora de motocicletas Motonasa e a concessionária Chrysler Ibirapuera Veículos. De uma saiu a motocicleta da mocinha do filme, uma Honda CB 350 com equipamentos que se usavam na época, como um guidão bem alto e um enorme e cromado “santo antônio”, e da outra todos os carros da Chrysler, que acabava de assumir a produção da Simca e usou o filme como plataforma de divulgação dos seus Dodge Dart e Charger. Até os caminhões que aparecem no filme são Dodge.

A motocicleta era pilotada pela atriz Libânia Almeida, talvez a pior atuação de todo o filme, no papel de Luciana, a namorada do piloto. É por ela que Lalo, o personagem de Roberto Carlos, se apaixona.

Erasmo Carlos também está muito bem no papel de Pedro Navalha, bem mais à vontade do que Roberto. Até mesmo a bonequinha Cristina Martinez, no papel da Neusa, namorada do Erasmo, estava muito bem em frente às câmeras.

Esse tipo de chamada geralmente ficava nos saguões dos cinemas, para anúncio a espectadores de outros filmes

Um grande trunfo do filme é a presença de atores consagrados como Otelo Zeloni, em seu último filme, Flávio Miglaccio e o engraçado Mario Benvenutti, em muitas cenas importantes. E também Raul Cortez, como o patrão/piloto, canastrão como sempre foi (mas com boa atuação), Reginaldo Faria e Walter Foster. Joberte dos Santos, locutor oficial de Interlagos, na época, também está no filme, interpretando a si mesmo.

Quem tem menos de 40 anos provavelmente nunca tinha ouvido falar nesses nomes, mas os mais “antigos” certamente lembrarão deles com carinho.

Alguns carros do filme: Gurget QT, da Luciana, e o Dodge Charge R/T “roubado” do personagem de Reginaldo Faria

Estou bancando aqui o crítico de cinema, comentando o trabalho dos atores, mas o assunto principal nesta nova seção da revista é mesmo falar sobre os automóveis do filme. Dois Dodges são usados, o Charger R/T que Roberto Carlos “rouba” de Reginaldo Faria para treinar em Interlagos (que, estranhamente, está sempre vazio e disponível), e o Dodge Dart de Raul Cortez. O carro de corridas de seu personagem, o piloto Rodolfo Lara, é um protótipo Lola/Avallone, também com motor Chrysler. Dois jipes da Gurgel são usados no filme, um Ipanema QT, que tempos depois evoluiria para o Xavante e o X-12, o veículo de maior sucesso da marca brasileira, e o estranho e quase desconhecido Bugato. Uma curiosidade interessante, de cunho pessoal, é que os dois jipes Gurgel passaram um bom tempo na garagem da minha casa e eu acabei rodando bastante com eles. Por isso, o Bugato não é desconhecido para mim, mas sempre foi estranho. O motor traseiro ficava à mostra, em algumas unidades, parcialmente

Duas cenas de contos de fadas, no final do filme: Roberto com o Gurgel Ipanema QT e Erasmo com o Gurgel Bugato

coberto, em outras e com uma tampa removível, no caso daquele que ficou na minha casa (o mesmo que Erasmo Carlos passeia no bosque, no final do filme).

Já o Gurgel QT era mais comum, chegando a disputar a preferência entre os buggies, em alta naquela época. Desse jipinho, jamais poderia me esquecer da porta, que abria para baixo por meio de uma alavanca interna. A versão militar tinha as famosas pás encaixadas nas duas laterais do veículo.

As cenas da corrida foram filmadas no ano anterior, na Copa Brasil, e intercaladas com cenas que simulam a disputa de Roberto Carlos, com o Avallone A11, e o Tite Catapani, interpretando um piloto inglês, no Lola T-210 amarela.

O próprio Antônio Carlos Avallone interpreta o piloto italiano Antonioni, pilotando um Lola T-70, em cenas até engraçadas. O mesmo carro, só que pintado de outra cor, também aparece nas cenas da corrida, pilotado por Wilson Fittipaldi, mas isso acontece porque ele participou da corrida verdadeira no ano anterior e foi repintado para as cenas do filme.

Cena final da corrida: Roberto Carlos disputa com Tite Catapani, que interpreta um piloto inglês

Roberto Carlos com o diretor do filme, Roberto Farias, e Antônio Carlos Avallone, interpretando o piloto italiano

Muitos pilotos que correram na Copa Brasil de 1970 estão no filme, como Emerson Fittipaldi, que venceu a prova com um Lola T-210, Norman Casari, com um Lola T-70 e Jayme Silva, com um Fúria/FNM. A prova tinha ainda Toninho da Mata com um Alfa Romeo P33, Camillo Christófaro e sua carretera, Eduardo Celidônio e seu Snob’s Corvair, Salvatore Amato com seu protótipo Amato-Ford e Anísio Campos com um AC-Porsche. Para quem ainda não viu, vale a pena assistir ao filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora, seja pela diversão ou simplesmente para rever todas essas memórias. l