O Semeador - Ed. Maio e Junho de 2016

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FUNDADA EM 12 DE JULHO DE 1936

MAIO|JUNHO DE 2016 Nº 914

O SEMEADOR Internacional ÓRGÃO DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO FUNDADO EM 1º DE MARÇO DE 1944

www.feesp.org.br

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R$ 6,50

Crianças das creches da FEESP em São José dos Campos recebem, na Páscoa, chocolates e brinquedos que foram angariados na Sede Central

Págs. 21 a 24


Sumário

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Editorial

A parte que nos cabe na crise

EXPEDIENTE Revista bimestral Assinatura anual: R$ 36,00 Fundado em 1º de março de 1944, por Marta Cajado de Oliveira (Diretora Responsável 1896/1989); Pedro Camargo “Vinícius” (Diretor Gerente - 1878/1966) e Cmte. Edgard Armond (Diretor Secretário - 1894/1982).

Programação de Palestras Públicas

Conselho Editorial Silvia Cristina Stars de Carvalho Puglia, Fátima Luisa Giro, Paulo Sergio de Oliveira.

João Demétrio Loricchio

Editor: Altamirando Dantas de Assis Carneiro (MTb 13.704) As opiniões manifestadas em artigos assinados, bem como nos livros anunciados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, obrigatoriamente, o pensamento da Revista O Semeador Internacional, de seu Conselho Editorial ou da FEESP.

Palestras públicas na FEESP A disciplina do pensamento Leda Maria Flaborea

Moeda de troca Paulo Oliveira

A verdadeira videira Roberto Vilmar Quaresma

Não basta simbolizar-se Umberto Fabbri

Renovar-se Entrevista

Com Vera Regina Braga Roberto Watanabe

Consciência e evolução Especial

Entrega de chocolates e presentes na creche da FEESP de São José dos Campos

25 Homenagem às Mães Psicografia

FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO CNPJ 61.669.966/0014-25 Rua Maria Paula, 140, Bela Vista, CEP 01319000, São Paulo - SP Tel.: (11) 3106-1619, 3106-5964, 3106-1200, 3106-5579, 3107-5279, 3107-1276, 31055879, 3115-5544 Fax.: (11) 3107-5544 Portal: www.feesp.org.br Email: feesp@feesp.org.br Diretoria Executiva: Presidente Zulmira da Conceição Chaves Hassesian presidente@feesp.org.br Vice-Presidente João Baptista do Valle vicepresidente@feesp.org.br Diretora da Área de Assistência Social Nancy Cesar Campos Raymundo social@feesp.org.br Diretora Área de Ensino Fátima Luisa Giro ensino@feesp.org.br Diretora Área Espiritual Vera Cristina Marques de Oliveira Millano espiritual@feesp.org.br Diretora Área de Divulgação Silvia Cristina Stars de Carvalho Puglia divulgacao@feesp.org.br Diretora Área Infância, Juventude e Mocidade Vera Lúcia Leite infanciamocidade@feesp.org.br Diretora Área Financeira Guiomar Cisotto Bonfanti financeiro@feesp.org.br Diretora Área Federativa Regina Helena Tuma Carlim federativa@feesp.org.br Assistência Social da FEESP Casa Transitória Fabiano de Cristo CNPJ: 61.669.966/0002-91 Av. Condessa Elizabeth de Robiano, 454, Belenzinho, São Paulo – SP, Tel.: (11) 2797-2999 Sede Santo Amaro: Rua Santo Amaro, 370, Bela Vista, São Paulo – SP, Tel.: (11) 3107-2023 Casa do Caminho, Av. Moisés Maimonides, 40, Vila Progresso, Itaquera, São Paulo – SP, Tel.: (11) 2052-5711 Centro de Convívio Infanto-Juvenil D. Maria Francisca Marcondes Guimarães – Rua Franca, 145, B. Bosque dos Eucaliptos, São José dos Campos – SP (12) 3916-3981 Editoração: TUTTO (11) 2468-3384 Impressão: Gráfica Brasil (11) 3266-4554


Editorial

A parte que nos cabe nesta crise

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pensamento não é uma abstração. A energia mental tem força e direção, interfere na qualidade do ambiente e na sensação de bem ou mal estar das pessoas. O sentimento que embala um pensamento lhe afere maior ou menor poder de irradiação. Quanto mais intensa e sincera for uma emoção, maior o seu alcance. Pensamento e sentimento são, portanto, forças da natureza que por invigilância - ou ignorância - malbaratamos todos os dias. Distraídos e dispersos, abrimos mão do comando mental e seguimos o fluxo. O resultado disso não é nada bom. O que se convencionou chamar de movimento de manada (essa correria irrefletida não se sabe muito bem pra onde) tem origem justamente nessa perda da autonomia, quando reproduzimos os pensamentos dos outros, nos espelhamos nos sentimentos dos outros, e a vida segue desprovida de sentido e verdade. É possível filtrar pensamentos e emoções. Oxigenar a mente, serenar o coração. Investir tempo e energia na direção do equilíbrio, da serenidade, da lucidez. Isso requer alguma disciplina, mas é perfeitamente possível onde haja VONTADE! Prece, meditação, leituras e músicas inspiradoras, boas companhias, bons papos, tudo isso entra no pacote. Engana-se quem acha que esses cuidados geram alienação, fuga ou afastamento da realidade. Na verdade, dá-se o contrário: uma mente serena percebe com maior clareza o que vai à volta, não se precipita em movimentos exasperados nem se atormenta com facilidade. Tão importante quanto o mecanismo “autolimpante” de um forno, o antivírus de um computador, ou o olhar atento de um jardineiro que remove com atenção e cuidado as ervas daninhas do jardim, precisamos cuidar todos os dias dessa dupla dinâmica que resume a nossa existência: a mente e o coração. A crise lá fora não vai mudar por causa desse movimento solitário. Mas a sua resposta à crise será outra. Ter opinião sobre as coisas é ótimo, melhor ainda é manifestá-la sem prejudicar o seu fígado, sem se indispor com a pessoa amada, sem eleger como inimigo quem pensa diferente de você. De uma forma ou de outra o mundo seguirá em frente. As crises se sucederão em diferentes ordens de grandeza, no plano pessoal ou coletivo. A grande questão é: como você deseja passar por tudo isso?

Silvia Cristina Puglia Diretora da Área de Divulgação Recolhido à prisão de Robben Island, onde cumpriu pena de trabalhos forçados por 27 anos, Nelson Mandela superou o pesadelo do cárcere repetindo como um mantra o seguinte trecho do poema “Invictus”, do britânico William Ernest Henley: “Não importa o quão estreito seja o portão e quão repleta de castigos seja a sentença, eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma” Mandela mobilizou preciosos recursos mentais e emocionais para superar o ódio e o desejo de vingança, resistir ao massacre do corpo físico e da esperança, para viver a glória de conduzir o processo que resultou na implosão do regime racista do apartheid na África do Sul. Sejamos donos do nosso destino. Capitães da nossa alma. Há um futuro auspicioso pela frente. FONTE: Facebook JornalistaAndreTrigueiro https://t.co/ mdhIrnfRqd Os editores da revista O Semeador Internacional, comungam os mesmos ideais espíritas do eminente escritor espírita e jornalista André Trigueiro.

André Trigueiro Jornalista, palestrante e escritor espírita Conferencista dos Congressos Espíritas de 2011 e 2014

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A DISCIPLINA DO PENSAMENTO

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Física Quântica, ciência que estuda o movimento dos átomos e partículas subatômicas, mudou a visão absoluta da Física Clássica, onde predominava o Determinismo, hoje, adentrou a Tese da Incerteza que rege o microcosmo. As partículas microscópicas se comportam de maneira “imprevisível” e são encaradas como “ondas de possibilidades”, ou seja, podem estar ali, aqui e acolá, como também, um elétron pode influenciar outro elétron à distância. De tal modo, pode-se dizer que o Espírito encarnado, ou desencarnado, age de conformidade com os elétrons, influenciando pelo pensamento, outros Espíritos, a qualquer distância e onde estiverem. Os cientistas, em laboratório, conseguem fazer com que os átomos interajam e se comuniquem entre si, observando que estes se comportam de forma interligada, independendo da distância e do espaço entre as partículas. Esta teoria foi batizada por Albert Einstein como “Ação Fantasmagórica à Distância” que deu suporte à ideia da “Sincronicidade”, ou seja, de que não há coincidências e que tudo no Universo está ligado. O átomo possui em seu núcleo as partes subatômicas: nêutron, próton e elétron, sendo que este último se move constantemente, porém, ao ser observado por instrumento, ou pensamento, ele para em certo ponto, demonstrando que recebeu uma interferência no seu rumo. Com base nesses fatos apurados pela Física, e com a certeza de que essas energias são manipuladas

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pela vontade e pensamento, conclui-se que o pensamento pode mudar rumo de certos acontecimentos, não se efetivando. Assim, não existe um destino absoluto, mas tão somente relativo. No livro, A Ciência do Sucesso, sua autora, a psicóloga Susan Anne Taylor, nos diz que: “A Física Quântica dá a você o controle sobre o seu futuro, permitindo que você altere a direção do seu destino”. Assim, além da Ciência e da Doutrina Espírita, a Psicologia também confirma essa possibilidade. A maioria não tem conhecimento da força do pensamento e a própria Ciência diz que nós não usamos nem 10% do poder do pensamento, por desconhecermos seu mecanismo. Razão pela qual, alguns indivíduos ainda se utilizam de amuletos, talismãs e velas para fixarem seus pedidos na busca do que desejam. Dessa forma, não é a flama da vela que irá contatar o Espírito, ou levar luz ao mesmo, mas sim, os fluidos (ou energias) que foram acionados pelo pensamento que o atingirão, esteja ele onde estiver. O mesmo acontece com os “santinhos” distribuídos para os seguidores de diversas religiões. Não são esses papeizinhos que irão proteger seu portador, mas sim conexão que se estabelece ao lembrar-se dos mesmos, no bolso ou na carteira, gerará o pensamento que através do campo vibratório da espiritualidade irá contatar tal “santo”, ou melhor, tal Espírito de luz. A Doutrina Espírita ensina que a fé deve ser raciocinada, ou seja, que deve existir a união da fé e da razão, trazendo conhecimentos e informações que a Ciência


deve confirmar. A própria igreja católica, pelo grande papa João Paulo II, determinou em sua encíclica do ano 1998, cujo tema é Fides et Ratio, essa mesma união, algo que o Espiritismo vem ensinado há mais de 158 anos. Todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, têm seu potencial advindo do pensamento, o qual é o veículo das emanações do corpo mental, que não é um corpo semelhante ao nosso, mas um campo mental mais rarefeito e mais próximo ao Espírito. Essa potencialidade é muito mais eficaz nos desencarnados por ser o veículo de comunicação dos mesmos, enquanto que, nos encarnados, por falta de habitualidade em seu uso e finalidade, são somente relativos os resultados. Destarte, unindo-se a vontade e o pensamento, ganha-se forças prodigiosas que dispõem de potência criadora em formas e imagens. São forças plásticas e organizadoras, denominadas por Ideoplastia, princípio que, pelo pensamento, os Espíritos desencarnados podem moldar suas fisionomias espirituais, além de projetarem imagens e até materializar formas. Por outro lado, nos encarnados, tudo que se deseja ou se pede pelo pensamento, primeiramente, ocorre a emolduração na espiritualidade, criando as “formas pensamentos”, através das energias que dão formas ao pedido, depois se concretizam materialmente. O pintor, o escultor, o cientista, o escritor, antecipadamente, modulam em suas mentes os seus ideais de produzirem ou construírem algo, antes de concretizarem materialmente. Desses apanhados, evidencia-se que todos os pedidos atingirão seus objetivos, que tanto podem ser para o bem, como para o mal, como tam-

bém, todo pensamento efetivado recebe o retorno respectivo. Usado para o bem, retorno de energias positivas: harmonia, felicidade, saúde; usado para o mal, retorno de energias negativas: desequilíbrio, infelicidade e enfermidade. Desse modo, fica evidente que temos de vigiar nossos pensamentos, porque no Universo tudo são “movimento e energia” e, esses ensinos, vieram das Boas Novas do Cristo e a Doutrina Espírita traz luz para tal entendimento. Resumindo, temos que ter autocontrole do pensamento (eliminar maus pensamentos, críticas e julgamentos): sempre pensamentos eleva• dos (trocar pensamento mal para pensamento no bem e preces constantes) • a vontade e o pensamento direcionados, pois constroem “formas-pensamento” de tudo que se deseja produzir (faz agir as vibrações sobre as partículas físicas) Finalizando, lembramos: o Homem é sempre aquilo que pensa e que tem no coração e, Jesus, já dizia: O que sai da boca procede do coração e contamina o Homem... (Mateus 15:18). E a sabedoria do Buda, acrescentou: O que somos hoje resulta do que pensamos ontem. O que pensamos hoje é o que seremos amanhã. Nossa vida é um produto do pensamento.

João Demétrio Loricchio foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP de 2008, 2011 e 2014. É expositor, palestrante, escritor e articulista espírita de revista e jornais.

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MOEDA DE TROCA Vontade firme, eis a chave que movimenta tudo!

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“Dai antes esmola do que tiverdes”. – Jesus (Lucas, 11:41.)

inda que as oportunidades de crescimento espiritual que emanam da Misericórdia do Pai Supremo, nos cerquem a existência; ainda que o amparo e a inspiração se façam presentes sobre nossas cabeças, procurando nos conduzir com segurança por caminhos pedregosos, se não colocamos em ação as energias que possuímos como seres da Criação, na busca desse progresso, permanecemos e permaneceremos engessados no tempo e no espaço, até que tenhamos aprendido a fazer a nossa parte no processo que tem em nós – isso mesmo, nós! – como únicos agentes do nosso destino. Vontade!... Vontade firme, eis a chave que movimenta tudo que esteja dentro e fora de nós, a partir de nós mesmos na eterna busca. Em qualquer situação, a vontade será sempre a moeda de troca. Vale dizer que costumamos exigir do outro o que ele não tem para dar. E quem disse que temos o que o outro precisa? O que cada um tem para dar – nós e o outro – seja pouco ou muito, será computado na nossa conta particular ante a contabilidade divina. A execução da mínima tarefa deve estar eivada de amor para fazer sentido, e se não encontramos retribuição espiritual imediata, aguardemos, porque Deus acompanha todos os nossos passos. Feliz daquele que consegue separar um pouquinho do que tem em benefício do seu semelhante. Não estamos falando – o que parece ser o mais simples – do bem material. Destacamos o dar de si próprio. O bem é sempre bem não importando de onde venha. Mas o mal é sempre mal, independentemente da máscara que tenha. Ainda que as dádivas materiais sejam benditas fontes para suprimirem as exigências exteriores, as doações do espírito atuam no íntimo de quem sofre, atenuando dores, dissipando trevas alojadas na alma. “Dolorosa a tortura da fome, terrível a calamidade moral”, lembra o benfeitor espiritual Emmanuel, através da bendita psicografia de Francisco Cândido Xavier na obra Estude e Viva. Doar o pão ou estender mãos fraternas exigem vontade real do doador de ajudar o próximo. Isso fica 8

claro quando lemos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo 13, item 11: “Oh, se pudéssemos compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vestir um irmão!” Por essa razão o Excelso Amigo não se cansa de nos convidar à prática do amor. Nenhum Espírito pode adentrar nos mundos felizes, conquistando a felicidade plena, enquanto não estiver puro. Qualquer nódoa de imperfeição moral será barreira para essa conquista. É trabalho árduo, longo, intransferível por ser individual. Ninguém pode realizá-lo por nós, mas se o caminho é difícil, a recompensa da chegada vale qualquer esforço. Todavia, ainda que seja uma tarefa solitária, pois íntima, contamos com recursos benditos que emanam da fonte inesgotável do Amor Divino, que nos dá a reencarnação, a bondade de amigos espirituais e encarnados, a nos assistirem nas escolhas acertadas que fazemos, a nos orientarem a retomar caminhos quando necessário, para não nos perdermos nos labirintos das ilusões e vãs fantasias. E assim como recebemos tantas benesses, que já conseguimos entender e colocar em prática, para nosso benefício, também é imprescindível espalhá-las ao nosso redor, dedicando-nos, no limite das nossas forças, ao crescimento e elevação daqueles que estão junto de nós, porque, em verdade, esse amor que irradiamos ao nosso redor, é a maior dádiva que poderemos contabilizar nas nossas existências.

Leda Maria Flaborea é Pedagoga, expositora da Área de Assistência Espiritual da Feesp.


MATRÍCULAS ABERTAS CURSO O QUE É O ESPIRITISMO?


A VERDADEIRA VIDEIRA “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.” (João 15:1)

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odas as vezes que temos a oportunidade de estudar as palavras de Jesus, devemos prestar bastante atenção às possibilidades de análise que as mesmas podem nos oferecer, uma vez que Jesus, em sua condição de Espírito puro, possui a síntese por excelência. Sua capacidade de comunicação transcende infinitamente nossa condição humana, e para compreendê-la precisamos estar atentos, e nos esforçarmos no sentido de buscar a real essência de seus ensinamentos. A passagem registrada por João, citada acima, traz-nos esse desafio. Frase simples e objetiva, cujo conteúdo de análise, no entanto, é extremamente profundo e interessante para o nosso crescimento espiritual. A primeira coisa que devemos compreender é por que Jesus utiliza-se da figura da videira. Como é do conhecimento geral, “a videira é um arbusto com gavinhas, conhecido desde os tempos remotos no Egito. Requer bastante cuidado; seu fruto, a uva, tanto pode ser doce como azeda. A vinha – terreno plantado com diversas videiras - podia ser a única fonte de sobrevivência de um campesino israelita.”1 Nota-se, portanto, que a videira é fonte de vida para aqueles que se alimentam de seu fruto. Quando Jesus se coloca, metaforicamente, como uma videira, está a representar, nessa imagem, que Ele é o alimento para a Vida Eterna, ou o alimento para o Espírito imortal. Porém, Jesus não se limitou a afirmar que era a Videira, se não também acrescentou a palavra “verdadeira”, indicando que seus ensinamentos são o 10

“bom alimento” – uvas doces – simbolizando assim ser a verdadeira fonte da vida para toda a humanidade. Ao afirmar que ele é Videira Verdadeira, podemos entender que também existem outros tipos de videiras que não são verdadeiras, que oferecem alimento falso àqueles que delas se alimentarem. Estamos, em nossa caminhada evolutiva, sempre buscando o alimento superior trazido por Jesus, porém sem nos desviarmos completamente do alimento produzido pelas videiras falsas da vaidade, do orgulho e do egoísmo. Ao longo dos milênios a humanidade busca incansavelmente encontrar a paz, porém alimentando a guerra, disputas e separações. Quer a saúde física alimentando o ódio e o rancor, mágoa e tristeza profundas, sentimentos negativos que se refletirão na constituição física do próprio corpo material, causando-lhe desequilíbrios e até a morte. Sai em busca do convívio fraterno com irmãos do caminho que também, por sua vez, almejam o mesmo fim, e, no entanto, basta que estejamos juntos para optarmos pelo alimento da usura, da posse desmedida, do roubo, da intolerância e da violência, que surgem intransigentes a nos exigir como consequência a estagnação e o afastamento do bom caminho que nos leva a Deus. Como podemos nos alimentar com os frutos da Verdadeira Videira, santa e pura, para em seguida arrastar a própria palavra para o lodaçal da crítica, da injúria, da calúnia e da dissenção? Devemos observar, no entanto, o que acontece com


as ramas que se desligam da videira, pois que ao perder a energia que as alimentava, vai aos poucos fenecendo e acabam por perecer. Simbolicamente, sucede algo parecido para aqueles que decidem afastar-se voluntariamente da Verdadeira Videira, para buscar a saciedade dos impulsos ligados mais pelos instintos do que pelos sentimentos elevados, tornando-se galhos desconectados do amor divino que o Pai de Misericórdia nos oferece incessantemente. Esta reflexão faz-se necessária, a cada um de nós, pois é esperado que exercitemos, na prática, os ensinos do Mestre da Luz, os quais devem ser sempre o nosso maior objetivo e missão, a fim de que possamos permanecer conectados a essa fonte divina de alimento espiritual. Seguindo, porém, na análise do versículo mencionado, vemos que Jesus também coloca a questão em perspectiva. Ele é de fato a Videira Verdadeira, ou seja, a Verdadeira Vida, no entanto, coloca-se de forma humilde nas mãos de Deus, afirmando que só este é o Lavrador Divino, o Pomicultor de almas. Indica, portanto, que estamos todos submetidos à Vontade de Deus, e que devemos ser dóceis e resignados em relação à ação cuidadora desse Pai Amoroso e Justo, atento às nossas necessidades de crescimento, para que também, por nossa vez, possamos produzir frutos doces que alimentarão a muitos que deles quiserem se servir. Para tanto, além da adubação e da rega necessárias, é importante encaremos a poda resignadamente, por mais difícil que esta seja, pois é recurso fundamental para o burilamento de nós mesmos, além da enxertia, representada pela assimilação de ideias renovadoras, que atuarão na melhoria da qualidade de nossa

produção individual. Assim, podemos perceber, mesmo que minimamente, a profundidade das palavras de Jesus expressando sua bondade e carinho para com todos os seus irmãos menores, demonstrando em sua fala, e exemplificações, que somente existe um proprietário de tudo que é Deus e que a nós é possível participar desse banquete luminoso de vida, desde que o desejemos. Muitas vezes encontramos pessoas em nossa vida, irmãos nossos em Cristo Jesus, que se encontram apáticos, desesperançados ou completamente imersos na busca da satisfação momentânea dos desejos da personalidade ainda inferior, presas ao visgo perigoso do foco somente no presente momento, esquecendo-se de que há uma vida maior e verdadeira após esta experiência que passamos na matéria. Dessa forma, chafurdam-se na busca do atendimento aos prazeres oferecidos pelas ilusões do mundo, onde tantos se perdem nos labirintos da drogadição, em todas as suas modalidades lícitas e ilícitas, pois já não encontram prazer na própria vida. Como pequenos seguidores do Mestre, estamos aprendendo a ser videiras produtivas na Seara bendita de Jesus, por meio do enfrentamento dos desafios do autoconhecimento e da própria melhoria íntima. É uma tarefa árdua para o nosso patamar evolutivo, atidos mais às demandas do mundo – servindo a Mamom2 – do que à Vontade de Deus. Porém, à medida que caminharmos seguros e persistentes em direção a Deus, pelos caminhos estabelecidos por Jesus, sentiremos o bem verdadeiro desabrochar no âmago de nossos Espíritos, tornando-nos, por nossa vez, ramas vivas e conectadas com o tronco principal que é Jesus, buscando auxiliar o alcance do grande objetivo que é a perfeição diante de Deus.

1- Definição de videira http:// www.dicionarioinformal.com.br/ 2- “Não podeis servir a Deus e a Mamom.” Jesus. (Lucas 16:13)

Paulo Oliveira Articulista de jornais e revistas espíritas e trabalhador da FEESP

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NÃO BASTA SIMBOLIZAR-SE

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aminhar nem sempre é seguir em frente, existem aqueles que caminham e nunca saem do lugar que há tempos se encontram; são esses os portadores de um mesmo objetivo, que após traçada a meta permanecem a ela circunscritos sem quaisquer alterações; isto é, não percebem que o tempo caminha no espaço, e as necessidades de adequações aos movimentos são imprescindíveis, para alcançar hoje, o ontem planejado. Esqueceram que as águas que correm nos rios são sempre as mesmas, mas, renovadas pela Natureza; ontem elas circularam arrastando sujidades, hoje elas retornam em forma de chuvas, totalmente requalificadas no espaço do tempo. Nunca, em momento algum, os quadros do dia serão os mesmos no dia seguinte. Aqueles que se realizam com ideias cristalizadas são personagens que usam das suas “boas intenções”, para outros aprisionarem em suas teias mentais obsoletas. Assim se mostram, e se dizem senhores de bons princípios; porém, como não os desenvolveram, estão ultrapassados pelos pendores dos tempos modernos; situação que ignoram porque não dispensaram o egotismo e a acomodação, zona de conforto na qual se deleitam; deixaram os parâmetros da inteligência estagnados, porque pararam de refletir e, como consequência, seus discernimentos somente são adequados ao pretérito. Conhecer a Doutrina dos Espíritos é para qualquer Es-

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pírito condição muitíssimo importante, para ordenar-se ascendentemente na vida; contudo, não basta conhecê-la e abandonar suas condições progressiva e progressista na qual ela se estabelece, caminha e cresce a cada dia, especialmente nas mentes das Almas que trabalham em prol de horas mais felizes. Se hoje estamos aptos a pesquisar e comentar os textos espíritas, o Espiritismo, para amanhã mantermos o mesmo desempenho é necessário manter o espaço do tempo com atualizações, a fim de proclamarmos novos conhecimentos. Porquanto, a própria existência, a cada instante, nos mostra novidades que se manifestam por meio de novas revelações concedidas por Deus, e enviadas por Jesus. Não basta simbolizar-se como seguidor da Doutrina dos Espíritos, simplesmente por conhecê-la, sem enquadrar-se em seus tópicos. Espírita é aquele que, necessariamente, para assim se garantir atualiza-se continuamente, jamais esquece que ao raiar de um novo dia, ao despontar do sol, novas mensagens precisam ser vistas e revistas. Eis o motivo pelo qual Allan Kardec na introdução de O Livro dos Espíritos, no item VIII, assinalou a seguinte recomendação: “O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá.” Ou seja: - Um estudo sério é um estudo contínuo; quando o indivíduo deixa de assim executar está se enganando, sua pobre percepção o está iludindo. O óbvio aí se apresenta, pois ninguém poderá dizer-


se conhecedor de algo que apenas o examinou em tempos idos, esquecendo que as horas percorreram os dias e as noites dos tempos sucessivos, e o progresso não se deitou no espaço das horas. Todos os espíritas que se tornaram inoperantes, no que diz respeito às revelações expostas pelos Espíritos responsáveis pela dirigibilidade do Espiritismo na Terra, e decidiram assumir suas atividades pelos seus discernimentos sedimentados em uma lógica obtida sem maiores estudos e pesquisas dos acontecimentos hodiernos, e sem verificar os desmembramentos iluminados da Doutrina, garantem-se obsoletos, sem créditos e sem estruturas mentais para interpretar, eficazmente, as condições observadas no mundo atual, no agora. E mais, trabalham em prejuízo daquilo a que se propõem, e ainda impulsionam irmãos induzindo-os a serem seguidores de verbalizações fora das verdades da época. Isto é, aqueles que os ouvem recebem estímulos com iluminação deficiente, dificultando-os a terem uma real percepção dos acontecimentos hodiernos. Assumirão, com certeza, o ônus do comportamento inadequado e descompromissado. Isto porque, la-

çam sobre mentes despreparadas os seus desalinhos, contribuindo com direcionamentos impróprios, e promovendo situações conturbadoras nos ambientes em que se movimentam, gerando cargas deletérias que o atingem, como a todos a eles ligados, fomentando desajustes e potencializando o conjunto de mediocridades que temos visto no mundo, em particular no movimento espírita. Recomendação bem clara e objetiva está apontada em O Livro dos Médiuns – Allan Kardec, capítulo XXVII, item 301 / 4, vejamos: “Estudai, comparai, aprofundai. Temos dito incessantemente que o conhecimento da verdade só se obtém a esse preço. Como quereis chegar à verdade, interpretando tudo segundo as vossas ideias acanhadas, que tomais por grandes ideias?” Toda a atenção, no dia a dia, deve ser dada a Doutrina dos Espíritos, como os responsáveis dão à precisão das horas. Ela é progressiva e progressista, como já frisado no texto; progressiva porque acompanha a evolução dos tempos, e progressista porque estimula e viabiliza progresso. Eis que Jesus deixou o alerta: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (João 5:17) Por quê? O que Jesus recomendou? Reflitamos!

Roberto Vilmar Quaresma foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP de 2008, 2011 e 2014. É expositor, escritor, palestrante e articulista espírita de revista e jornais

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RENOVAR-SE

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ara os judeus na Páscoa, ou Pessach comemora-se a libertação do povo hebreu do cativeiro egípcio. Já para a igreja católica, a Páscoa está inserida na semana santa, estabelecida por um decreto no concílio de Nicéia no ano de 325. Na quinta feira santa é celebrada a última ceia de Jesus e a cerimônia do lava-pés, na sexta feira santa temos a crucificação de Jesus e no domingo de Páscoa celebra-se sua ressurreição, e primeira aparição aos seus discípulos. No hemisfério norte a celebração se dava no fim do inverno e início da primavera. Quando apareciam os animais no campo com seus filhotes, era para este povo a época da fertilidade e elegeram o coelho como representação da Páscoa. O ovo seria também um de seus símbolos por expressar o início da vida. Vários povos presenteavam os amigos com ovos para desejar-lhes uma passagem para uma vida feliz. Respeitando todas as crenças e entendimentos no tocante a esta comemoração podemos observar um ponto em comum: a renovação, a mudança, a transformação. E este não poderia ser um tema mais oportuno. O mundo pede mudanças urgentes; na economia, na política, nas questões humanitárias, no respeito ao ecossistema, no comportamento humano. Todavia ainda não compreendemos que somente serão possíveis todas estas transformações coletivas, a partir de mudanças individuais e íntimas. Ninguém em sã consciência poderá almejar mudar o mundo, mas é perfeitamente cabível ambicionar mudar a si próprio e esta mudança acabará por se refletir no todo. Cada ser humano é uma peça importante neste universo infinito de pensamentos, atitudes, palavras e sentimentos, e a melhoria que desejamos ver no mundo deve se iniciar por uma auto-observação e posterior processo de reformulação comportamental, visando o progresso individual na construção de valores morais e éticos pertinentes ao progresso que ansiamos. Muitas vezes, a ética, que tanto reclamos não existir no comportamento de nossos semelhantes, também é falha em nosso modo de agir. Quantas pessoas ainda tentam levar vantagem de alguma forma em detrimento do direito alheio? Quantos simplesmente não se importam com a dor do outro, com a fome, a injustiça social, a poluição? É preciso que trabalhemos na educação do ser, construindo e exemplificando os valores morais adequados a um país justo, próspero e digno. Em um barco onde cada um reme para seu próprio lado, 14

sem um destino estipulado, não sairá do lugar. Os objetivos sociais, que beneficiam a todos, devem ser o foco para a edificação do planeta ideal, onde as diferenças sociais, a miséria, a ignorância e a injustiça não mais existam. Com certeza o mundo já progrediu muito, mas ainda temos um bom caminho a percorrer. Que tal começar agora? Uma grande jornada se faz passo a passo. A transformação de nossos atos se dará aos poucos, isto não acontece de uma hora para outra, mas conscientes e motivados pelo resultado final, poderemos vencer os obstáculos do caminho nos renovando, transformando a vida em uma experiência mais feliz e produtiva para nós e para todos que conosco caminham nesta estrada chamada vida. Mude suas atitudes para transformar os resultados!

Umberto Fabbri foi conferencista dos Congressos Espíritas 2008, 2011 e 2014. É escritor, expositor, palestrante e articulista espírita de revistas e jornais.


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Entrevista no programa de TV da FEESP “Um Sentido Para Sua Vida” com Vera Regina Braga sobre o tema JUSTIÇA

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presentamos aos nossos leitores o conteúdo de uma das entrevistas concedidas ao programa Um Sentido Para sua Vida, da Federação Espírita do Estado de São Paulo, apresentado por Silvia Cristina Puglia, diretora da Área de Divulgação da FEESP. Nessa ocasião foi entrevistada a advogada criminalista, Vera Regina de Braga que é professora Mestre em Direito Penal pela USP (Universidade de São Paulo) e, atualmente, dirige o Curso “O que é o Espiritismo?”, na Área de Ensino da FEESP, a qual abordou o tema justiça de maneira bastante interessante, enfatizando o posicionamento dos espíritas diante do momento atual por que passa o nosso país e mundo. Silvia Cristina Puglia – Com tantos movimentos populares pedindo justiça, como podemos nos posicionar como espíritas? Vera Braga – Os movimentos populares pedindo justiça, já estão trazendo certa mágoa do povo. E a justiça é independente desse sentimento popular. Esse sentimento de justiça, de mágoa, de que as coisas não estão caminhando do jeito que deveriam caminhar, está na responsabilidade de cada um. Quando falamos da forma global, dá a impressão de que justiça é um presente que recebemos. Não! A justiça é um trabalho cotidiano, diuturno, que compete a cada elemento que constitui o povo, e cada povo precisa procurar a justiça começando por si mesmo. Igual àquela forma de pensar em “amar o próximo como a si mesmo”, é preciso introjetar este conceito, para depois querer receber do coletivo, a justiça. Ela não é um presente, não é um dom. Não se pede justiça, se luta por ela. Silvia – Então ela é um trabalho de evolução não só da sociedade, mas também de cada indivíduo? Vera - Sim. Ela é um trabalho de evolução, pois se nós colocarmos uma justiça que não deflui (deriva) da maturidade do povo, ela se torna uma injustiça, afetando a evolução do coletivo. Vamos lembrar também, que quando estávamos lá atrás, ainda no “Brasil Império”, nós trazíamos uma indumentária especial, para nós e para nossos filhos, para vermos os enforcamentos nas praças públicas. Era um dia de festa. Isto há cerca de 16

duzentos anos, não de mil anos. Isso evoluiu. Hoje nenhum de nós levaria a família para participar de um espetáculo grotesco destes aos olhos da nossa maturidade. As coisas mudam. Silvia – Vemos na mídia pessoas sendo executadas em alguns países. Sabemos que hoje a tecnologia está muito avançada e podemos assistir tudo on -line. O que você diria, neste momento de transição do mundo, sobre acontecer coisas tão diferentes de um país para o outro? Vera – Vamos separar isso em duas facetas. Quando nós nos constrangemos diante desses espetáculos horrendos da execução pública, é muito bom, pois nos traz aquele sentimento mais purificado e elevado, então, já constatamos em nós uma evolução. Mas, à luz daquela legislação que educa seus cidadãos para respeitar aquela lei, estão apenas cumprindo a justiça na modalidade deles. Claro que são aqueles que não estão de acordo com outro tipo de lei, as sociais e humanas. Mas mesmo assim, quando essa lei se cumpre é justiça, embora muitas vezes nós não concordemos, pois já temos outro grau de evolução. O Brasil é o país do amor, o país da compreensão, é o país que tenta se modificar, mas às vezes nos falta uma solidez de conhecimento e por isso fazemos movimentos nas ruas quebrando patrimônio público, que vem do nosso próprio bolso. São verbas menores que vão diminuir a oferta e qualidade da saúde, da educação, do saneamento básico, porque vamos ter que recompor os muros da Câmara Municipal, da Prefeitura, mesmo as doenças que poderiam ser erradicadas, temos que providenciar vacinação em massa, medicamentos, tudo isso se torna um problema porque não cuidamos do nosso patrimônio que é um bem comum. Silvia – Muitas pessoas dizem que o que é feito hoje no Brasil é uma injustiça, pois pagamos altos impostos e a saúde, por exemplo, está muito precária. O que você diria neste caso em que a população coloca toda culpa no governo? Vera – Nós precisamos pensar na justiça, como o resultado da consciência, da educação. É preciso que o país se eduque. Cada um dos brasileiros deve educar-se


para que a justiça para todos seja feita de uma forma mais igualitária, a qual se constitui num dos princípios da justiça, ou seja, a igualdade de tratamento, o que não significa necessariamente que todos venham a receber os resultados da mesma forma, mas sim que todos tenham as mesmas oportunidades. O que eu posso falar é que o dinheiro público, quando mal canalizado, traz ao indivíduo que o administra, uma responsabilidade muito séria à luz das múltiplas encarnações que necessariamente terão. Temos que pensar que tudo isso só será modificado quando pudermos dizer que somos um povo educado. O que é um povo educado? É um povo que se respeita, que sabe escolher os seus representantes. É um povo que vota de forma consciente, que respeita a fila, que não

passa na frente do outro no elevador, que joga lixo na lixeira etc. Um povo que pode ter um benefício maior em todos os setores maiores na vida. Silvia – Por que nós temos que ser justos? Vera - Porque é a única forma que nós temos de trazer a igualdade para todos. Só existe uma coisa que é superior à justiça, que é a misericórdia. Mas a misericórdia é só a Divina. Aquela que jamais se ofende que jamais se entristece ou muda sua conduta. Porque Deus se manifesta através de leis. Por Sua Misericórdia, organiza tudo em leis universais. Nós deturpamos essas leis. Ainda fazemos leis que não são produtos da maturidade. Apenas vamos conseguir uma justiça estatal, quando soubermos escolher representantes que elaborem leis mais dignas para

o nosso país. Para isso precisamos de cultura, estudo, aprendizado etc. Silvia – Porque precisamos perdoar as pessoas que são injustas conosco? Vera – Em primeiro lugar, quando perdoamos, nós nos desvencilhamos daquela ideia fixa em torno de uma causa que nos entristeceu, nos magoou, nos rebaixou, nos trouxe tantos dissabores. A pessoa que nos causou tudo isso, geralmente está desligada do fato. Ela não está convivendo com a nossa mágoa ou a nossa dor. Portanto, até por inteligência nós devemos perdoar. Olhando de uma forma mais profunda, diante da maturidade que a Doutrina Espírita nos propõe, é importante que perdoemos para galgarmos um patamar vibracional mais alto, mais livre, no qual podemos atingir esferas 17 O SEMEADOR Internacional


mais equilibradas e que nos trazem um maior bem-estar interior. Silvia – Existe a Justiça Divina no caso da reencarnação? Vera – A reencarnação é a forma pela qual nós podemos sentir a Justiça Divina, que faz com que todos nós percorramos os caminhos que não percorremos tão bem anteriormente, mas agora com outra visão. Isso aconteceu na educação na década de 60; podemos lembrar que os preceitos da educação nas escolas eram o de liberdade. Depois aquilo foi se ajustando, apesar de passarmos por um tempo de turbulência, nós fomos ajustando. Talvez essa reivindicação popular de justiça seja um desses momentos em que dizemos: “Estamos insatisfeitos, não sabemos o que fazer.” Mas estamos buscando. Esperamos que essas multidões que vão

às ruas, deixem de depredar, mas o movimento em si é legítimo e de união. Precisamos nos transformar, e transformar nada mais é do que a aplicação da maturidade que todos nós podemos ter, mudando a nossa concepção das coisas. Vemos que a Doutrina nos traz uma outra forma de encarar a vida, por exemplo, as pessoas que sofrem por praticarem atos ilícitos percebem pouco a pouco, maneiras de irem se modificando e amadurecendo, através das reencarnações.

ponsabilidade, mas ainda escolhemos o amigo ou aquela figura que nos agrada, quando na verdade tínhamos que escolher aquele que é competente. Precisamos aprender o que é o poder legislativo. Aqui na FEESP, por exemplo, no curso “O que é o Espiritismo”, estamos preocupados em trazer a informação de que tudo o que nós fazemos aqui, está no estatuto, inclusive o regimento do curso está à disposição de qualquer um que o queira ler. Com isso fazemos com que as pessoas conheçam a importância Silvia – Existe uma grande di- da lei. Com Deus vemos a miseriferença entre a Justiça Divina e a córdia, que nos dá além do que nós justiça humana? temos direito. Essa é a grande beleVera – A justiça humana é aquela za do Divino, que nos dá possibilique é legislada pela lei do país que dades, aguardando que nós acordedeve ser o produto da vontade de mos para agir de forma mais justa, seu povo. Nós precisamos lembrar portanto a Justiça Divina é miserique estamos preocupados em es- cordiosa, expressa na Lei de Amor colher um representante com res- que Jesus nos ensinou.

SÁBADOS, ÀS 16 H. RÁDIO BOA NOVA 1450 AM COM ALEXANDRA STRAMA 18


CONSCIÊNCIA E EVOLUÇÃO

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uando pensamos em consciência, costumamos associá-la ao aspecto moral de nossas vidas, o que não deixa de ser verdade, mas não cobre toda a acepção da palavra, que é bem mais ampla do que isso. Iniciemos então pela sua definição e pelas várias situações em que ela se encontra presente. Consciência representa um estado de atenção da mente e, em princípio, requer que estejamos em estado de vigília, isto é, despertos. Nesse sentido, dizemos que estamos conscientes das pessoas e coisas que estão próximas a nós e, numa perspectiva mais ampla, do mundo que nos cerca; em suma, é a consciência do que está fora de nós, do que se encontra no exterior. Mas temos também consciência de nossa existência, isto é, de nós mesmos como indivíduos inseridos nesse mundo. É dessa forma que percebemos o nosso corpo e as sensações a ele associadas, assim como, nossa mente com todo o seu cabedal de pensamentos, afetos, experiências e conhecimentos; em outras palavras, é a consciência de nossa individualidade, que é única e que se distingue de todos os demais seres. É interessante observar que não estamos conscientes, a todo momento, do nosso cabedal de experiências e conhecimentos adquiridos, pois a maior parte deles permanece armazenada na memória e são resgatados somente à medida de nossas necessidades. Enquanto não são requisitados, tais elementos permanecem abaixo do limiar da consciência, ou seja, naquilo que Sigmund Freud (18561939), fundador da psicanálise, chamou de inconsciente. Segundo Freud, grande parte de nossa mente é formada pelo inconsciente, sendo que apenas uma pequena parte constitui a consciência. Se imaginarmos a mente ou psique como um grande iceberg, a consciência seria a ínfima parte que aflora acima da linha d’água, sendo a maior parte, que permanece debaixo d’água, constituída pelo inconsciente. A Doutrina Espírita nos ensina que boa parte desses elementos inconscientes é formada pelas vivências em encarnações anteriores, que são obstruídas pelo véu do esquecimento a cada nova encarnação (Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, item 11). Isso significa que somos um grande enigma para nós mesmos, o que justifica aquela célebre máxima citada por Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo! ”. Vejamos agora a gênese da consciência, segundo a concepção freudiana. Ao nascer, o bebê é pura inconsciência, pois não tem percepção de si mesmo e nem das pessoas e coisas que o cercam. Gradativamente, ele desenvolve

uma vaga noção das coisas ao seu redor, mas não consegue discernir praticamente nada. Depois, percebe coisas distintas, tais como um seio que o alimenta, um rosto que lhe sorri, uma voz que lhe fala e mãos que o acalentam, sem atinar que se trata da mesma pessoa; somente mais tarde os reconhecerá como pertencentes à sua mãe. E a formação da consciência, ou o que Freud chama de ego, se realiza pela diferenciação entre o eu e o não-eu. Por exemplo, de início, o bebê não percebe a diferença entre ele e o seio que o alimenta, pois, para ele, é como se fossem a mesma coisa. Mas, ao sentir fome, o bebê percebe que o seio que o alimenta não está sempre à sua disposição no exato momento em que dele necessita, e daí percebe que o seio faz parte do não-eu. Por outro lado, ao sentir uma dor de barriga, o bebê deseja que ela se vá por uma simples ação de sua vontade, mas percebe que isso não é possível, e assim se dá conta que sua barriguinha faz parte do eu. É por isso que Freud diz que o ego é corporal, ou seja, que a consciência se forma a partir da relação do bebê com o seu próprio corpo. Isso terá consequências importantes, pois, a identificação com o corpo faz com que busquemos tudo aquilo que nos causa prazer e evitemos o que nos causa dor, e aí temos a raiz daquilo que, de modo geral, chamamos de instintos e paixões, que serão a base do egoísmo, o qual tem o condão de nos manter num nível evolutivo inferior. Mas, felizmente, temos, por outro lado, o importante processo da educação por parte de pais, cuidadores e professores, através do qual a criança aprende a conter seus impulsos primários, a compartilhar os folguedos com seus amiguinhos e a apreender valores e normas de conduta. Todos esses elementos constituem aquilo que chamamos de instância moral da consciência, que permite ao indivíduo ingressar no convívio social de forma produtiva e harmoniosa. O Espiritismo nos ensina que, a par da ação dos educadores, essa instância moral faz parte de nossa essência espiritual, pois a lei de Deus, base de todas as leis morais, está escrita em nossa consciência (O Livro dos Espíritos, questão 621). Aqui vemos a origem do clássico conflito interior que a muitos assola: o conflito entre a carne e o espírito, onde temos, de um lado, a licenciosidade de instintos e paixões, e de outro, o firme governo da razão moralmente esclarecida. É este conflito primordial que faz o apóstolo Paulo reconhecer a enorme limitação da condição humana e nos faz escutar o clamor que emerge do fundo de sua alma: ‘Deleito-me na lei de Deus, no ínti19 O SEMEADOR Internacional


mo de meu ser. Sinto, porém, nos meus membros outra lei, que luta contra a lei do meu espírito e me prende à lei do pecado, que está nos meus membros. Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que acarreta a morte? ’ (Rom 28: 22-23). E surge então a grande questão: Como fazer para resolver tal conflito íntimo? O ensinamento moral nos alerta que optar de forma exclusiva pelos prazeres do corpo, sem nenhum limite, só nos traz males e padecimentos. Estes são os chamados tormentos voluntários, isto é, aqueles que buscamos pela nossa própria incúria, como nos atesta o Espírito Fénelon, ao se referir ao homem passional: ‘Em vez de buscar a paz do coração, única felicidade verdadeira neste mundo, ele procura com avidez tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo’ (Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. V, item 23). Mas, por outro lado, optar de forma cega pelos valores do espírito, com total desprezo pelo corpo, também não é a solução. Nesse sentido, constata Herculano Pires que a ênfase excessiva nos valores espirituais resulta na obstrução da evolução do indivíduo, pois não é mais do que uma forma de egoísmo, expressa na ambição pelo divino (O Ser e a Serenidade, Cap. VIII). Aquele que adota tal posição acaba por se tornar um indivíduo ‘moralista’ que, por se crer livre das amarras da vida corporal, se concede a si mesmo o direito de infligir lições de moral a outrem. E isso nos lembra daquela célebre admoestação de Jesus: ‘Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que vos assemelhais a sepulcros caiados, que por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossadas e podridão’ (Mt 23;27). Para encontrarmos a solução do conflito, vamos recorrer ao pensa20

mento de Pedro Abelardo (10791142), um dos grandes pensadores medievais. Em sua obra ‘Conhecete a ti mesmo’, Abelardo nos ensina que a debilidade da natureza humana a expõe a tentações variadas, tais como a concupiscência da carne ou o desejo por um prato saboroso. Porém, a falta, ou o que ele chama de pecado, se encontra no nosso consentimento, e nós consentimos com a coisa ilícita quando não nos retraímos ante sua execução ou quando estamos dispostos a realizá-la, sempre que a ocasião se apresente. O que Abelardo quer dizer é que, como seres encarnados, estamos naturalmente sujeitos às tentações da carne, mas como seres racionais, somos responsáveis por consentir com essas tentações. Assim, a falta está sempre no Espírito e não no corpo. Por isso, já nos dizia Kardec: ‘A carne só é fraca porque o Espírito é fraco. A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer nunca sobre o Espírito que é o ser pensante e de vontade própria’ (O Céu e Inferno, 1ª Parte, Cap. VII). É necessário, portanto, que transcendamos a nossa personalidade, a se expressar na presente existência transitória, e tenhamos plena consciência de nossa individualidade como Espíritos imortais, cujas existências na carne são meios necessários para a nossa evolução rumo ao Plano Maior. E enquanto estamos na carne, busquemos manifestar o necessário equilíbrio, cultivando os valores que elevam o Espírito, mas também assegurando ao corpo um funcionamento saudável e harmonioso. É o que nos recomenda o Espírito Georges, quando diz: ‘Amai, pois, a vossa alma, mas cuidai também do corpo, instrumento da alma’ (Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XVII, item 11).

Roberto Watanabe é expositor da Área de Ensino da Federação Espírita do Estado de São Paulo.


Crianças das creches da FEESP em São José dos Campos, recebem na Páscoa, chocolates e brinquedos que foram angariados na Sede Central


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23 O SEMEADOR Internacional


vamos brincar!!!

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Homenagem às Mães Ó, doce mãe De ternura e bondade Busco em teus braços O amparo do tempo em que a dor passava Quando em tuas mãos eu a deixava Ó, doce mãe, de infinita luz Que traz no coração a imensa benção Ainda, nos dias mais sombrios Sinto que amparais meu coração Em teus braços, cheios de amor Eu encosto meu olhar de menina No meu peito se acaba a dor E tua luz, clara, me ilumina Ó, doce mãe Sinto no teu abraço o aconchego E sei que ainda sou tão pequena Diante de teu imenso amor Que me envolve em luz e me tira Desse momento de dor Sua figura suave Que caminha, leve como uma pluma Meu coração sente sua falta De doce mãe, que me abraça E me conta histórias de esperança Que ainda mesmo aqui Sou uma eterna criança Seu olhar doce e sereno Buscando sempre me consolar Num abraço tão amoroso Vamos juntas, caminhar E o perfume das flores Que nos envolve, nesse amor

E nos acalma o coração Nos livrando da dor Como posso fazer Para perto de ti permanecer Numa eterna esperança E junto do teu peito me acalentar? Como sempre, a tua criança Mãe, doce amor e luz Ficarei sempre ao teu lado Como a figura de Jesus Eu era só alegria, de menina, de criança Que não sabia nada da vida Que não tinha mais esperança Mas tudo foi ficando calmo Um silêncio, buscando a paz Eu sentia que naquele momento Eu estava feliz demais O SEMEADOR 25 Internacional



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