Revista - O Semeador Internacional - Ed. Setembro Revista O Semeador Internacional da Federação E

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FUNDADA EM 12 DE JULHO DE 1936

SETEMBRO DE 2015 Nº 911

O SEMEADOR Internacional ÓRGÃO DA FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO FUNDADO EM 1º DE MARÇO DE 1944

www.feesp.org.br

| e-mail: redacao@feesp.org.br

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R$ 6,50

Agende-se para a maior Festa Espírita do Brasil

Festa Beneficente

11ª de Rua Típica Francesa Dia 18 de outubro das 10h às 20h

Show o dia todo com renomados artistas

Em Homenagem a Allan Kardec Barracas de comidas típicas:

Cassoulet, Quiche Lorraine, Petit Gateau e mais de 10 tipos!!! “Vamos divulgar o Espiritismo através do evento em homenagem a Allan Kardec, no próximo dia 18 de outubro.” Zulmira Hassesian - Presidente da FEESP


Sumário

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Editorial

Conhece-se a árvore pelos seus frutos Programação de Palestras Públicas

Palestras públicas na FEESP João Demétrio Loricchio

A passagem Paulo Oliveira

Instruções finais - quando atenderes a um desses pequeninos é a mim que atendes Roberto Vilmar Quaresma

Mediunidade Umberto Fabbri

Sinal dos tempos Roberto Watanabe

O sentido da vida Albertina Veigas

Educação superprotetora Psicografia

Bezerra de Menezes Especial

Liberta e gentil pátria amada, Brasil! Fatima Luísa Giro

Yvonne A. Pereira - Médium e a família espiritual

Alceu Nunes

Provas da existência do Cristo

EXPEDIENTE Revista bimestral Assinatura anual: R$ 36,00 Fundado em 1º de março de 1944, por Marta Cajado de Oliveira (Diretora Responsável 1896/1989); Pedro Camargo “Vinícius” (Diretor Gerente - 1878/1966) e Cmte. Edgard Armond (Diretor Secretário - 1894/1982). Conselho Editorial Silvia Cristina Stars de Carvalho Puglia, Antônio Bartolomeu Cruzera, Fátima Luisa Giro, Paulo Sergio de Oliveira. Editor: Altamirando Dantas de Assis Carneiro (MTb 13.704) As opiniões manifestadas em artigos assinados, bem como nos livros anunciados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, obrigatoriamente, o pensamento da Revista O Semeador Internacional, de seu Conselho Editorial ou da FEESP. Redação: Rua Maria Paula, 140, 3º Andar, Bela Vista, São Paulo – SP, CEP 01319-000 – Tel.: (11) 3115-5544 - Ramal 224 Administração: Rua Maria Paula, 140 – Edifício Allan Kardec, 8º Andar, Bela Vista, São Paulo – SP, CEP 01319-000 – Tel.: (11) 3115-5544 – Fax.: (11) 31042344. Portal: www.feesp.org.br E-mail: redacao@feesp.org.br Registrado de acordo com os artigos 136-131 do Decreto Federal 4.853 de 1939. CNPJ 61.669.966/0014-25 – Inscrição Estadual: 114.816.133.117 Assistência Social da FEESP: Casa Transitória Fabiano de Cristo, Av. Condessa Elizabeth de Robiano, 454, Belenzinho, São Paulo – SP, Tel.: (11) 2797-2990 Casa do Caminho, Av. Moisés Maimonides, 40, Vila Progresso, Itaquera, São Paulo – SP, Tel.: (11) 2052-5711 Sede Santo Amaro: Rua Santo Amaro, 370, Bela Vista, São Paulo – SP, Tel.: 3107-2023 Centro de Convívio Infanto-Juvenil D. Maria Francisca Marcondes Guimarães – Rua França, 145, B. Bosque dos Eucaliptos, São José dos Campos – SP Diretoria Executiva: Presidente: Zulmira Hassesian Vice Presidente: João Baptista do Valle Diretor da Área de Assistência e Serviço Social: Eli de Andrade Diretora da Área de Ensino: Irene Barbara Chaves Diretora da Área de Assistência Espiritual: Alice Lopes de Paula Diretora da Área de Divulgação: Silvia Cristina Stars de Carvalho Puglia Diretora da Área de Infância, Juventude e Mocidade: Vera Lúcia Leite Diretora da Área Financeira: Guiomar Cisotto Bonfanti Diretora da Área Federativa: Nancy César Campos Raymundo Presidente do Conselho Deliberativo: Afonso Moreira Junior Editoração: TUTTO (11) 2468-3384 Impressão: Gráfica Brasil (11) 3266-4554


Editorial

Conhece-se a árvore pelos seus frutos

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o mês de setembro, homenageamos o magnânimo feespiano, Paulo Alves Godoy com esta sua reflexão sobre o Evangelho no livro O Evangelho de Redenção, de sua autoria. A árvore boa Não foi em vão que Jesus Cristo abordou essa interessante passagem evangélica sobre a árvore boa que dá bons frutos e a árvore má que dá frutos maus. É incontável a quantidade de Espíritos benfeitores que tão largos benefícios vêm prestando ao povo, através dos seus ensinamentos verdadeiramente edificantes. Eles são os zelosos mentores espirituais que velam pela “Árvore do Evangelho” que, no dizer do Espírito de Humberto de Campos, “Jesus transplantou para terras do Brasil”. Através desses ensinamentos construtivos, o povo tem sido beneficiado com o bafejar alentador que guia as criaturas que se acham perdidas no labirinto do erro, do orgulho e do vício. A árvore boa, para poder dar bons frutos, necessita da seiva da vida e no solo bendito do País onde vivemos ela encontrou ambiente propício para se expandir; por isso, o povo que habita o grande coração geográfico, que é o Brasil, está predestinado a assimilar, com maior proficuidade, os sagrados legados dos Evangelhos de Jesus; essa é a razão pela qual os ensinamentos espíritas recrudescem cada vez mais no país que teve a glória de ter como filho a figura magistral do “Médico dos Pobres”, Dr. Bezerra de Menezes. Cada povo da Terra, tem a sua missão específica; uns são mais refratários do que outros, no que concerne às coisas de ordem espiritual. O Espiritismo no Brasil é compreendido com maior amplitude sob o seu aspecto religioso e pela palavra universal da caridade, ao passo que em alguns outros países ele é, com preferência, objeto de estudos científicos. Também, na Terra, cada nação tem a sua propensão peculiar, o que, logicamente, a torna apta a desempenhar determinadas tarefas, seja no campo das conquistas materiais, seja naquele que se refere às coisas de ordem moral e espiritual. Não podemos aquilatar bem qual seja a posição das nações do mundo. Contudo, nos baseando nos ensinamentos dos Espíritos, chegamos à conclusão de que o Brasil, que recebeu em seu solo o transplante glorioso da “Árvore do Evangelho”, cujo povo nutre sentimentos de caridade, de tolerância, de amor e de outras tantas virtudes, está fadado a contribuir, sensivelmente, para uma Nova Era de ressurgimento na vida deste nosso planeta de expiação e de provas.

Silvia Cristina Puglia Diretora da Área de Divulgação

Biografia:

Nascido em São Paulo, no dia 22 de setembro de 1914, casado, pai de três filhos, PAULO ALVES GODOY foi jornalista, escritor e militante do Espiritismo. É autor de quatorze livros editados pela Federação Espírita do Estado de São Paulo. Durante cerca de 18 anos, escreveu crônicas espíritas para diversos jornais e mais de 200 biografias de Espíritas de vários países, publicando grande número delas nos jornais “Unificação” e “O Semeador”. Em 1984, foi Diretor da Área de Divulgação da FEESP. Colaborou ativamente na equipe encarregada de elaborar livros de estudo para os cursos da área de Ensino (1989-1991). Paulo Alves Godoy foi um profundo conhecedor das escrituras sagradas, um trabalhador incansável da causa espírita, levando ao público com amor, dedicação e trabalho o esclarecimento do Evangelho à Luz da Doutrina Espírita. Diante desse grandioso trabalho prestado ao movimento espírita, a FEESP homenageia e oferece seus agradecimentos a este “Seareiro de Jesus”.

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PALESTRAS PÚBLICAS E EVENTOS FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ENTIDADE FEDERATIVA E ORIENTADORA DO ESPIRITISMO ESTADUAL

SETEMBRO / 2015 NOTA: Devido à reforma do Salão Bezerra de Menezes da Sede Central, as palestras dos dias 06 e 13 foram transferidas para a Sub sede SANTO AMARO

06/09 10h

TEMA: MEDIUNIDADE DE PROVAS DE YVONNE PEREIRA PALESTRANTE: Alexandra Strama ATRAÇÃO MUSICAL: Leandro Gomes e Sandra Carvalhaes

13/09 10h

TEMA: O BEM, O MAL E A LEI DE DEUS PALESTRANTE: Marcos Antonio Galindo ATRAÇÃO MUSICAL: Denise Manzo e Isis Biazioli

19/09 18h

FILME: 12 HOMENS E UMA SENTENÇA

20/09 10h

TEMA: DESENCARNE COLETIVO E REENCARNAÇÃO PALESTRANTE: Flávia Ribeiro Borges Manzano ATRAÇÃO MUSICAL: Denise Manzo e Leandro Gomes

domingo SUB SEDE SANTO AMARO

domingo SUB SEDE SANTO AMARO

sábado

domingo

26/09 18h30 sábado

Comentários após o filme com Celisa Maria Germano Entrada: 1Kg de alimento não perecível Auditório Bezerra de Menezes

ESPETÁCULO TEATRAL ENCONTROS IMPOSSÍVEIS

COM RENATO PRIETO e VICTOR MEIRELES Texto de Rodrigo Fonseca | Direção de Gustavo Gelmini

27/09 10h domingo

TEMA: BENÇÃO, MALDIÇÃO E PACTO PALESTRANTE: Umberto Fabri ATRAÇÃO MUSICAL: Orquestra e Coral Carlos Gomes 5


A PASSAGEM

A A

preocupação com a sobrevivência além-túmulo, sempre foi grande no ser humano e somente com a chegada da Doutrina Espírita, recebeu-se conhecimentos importantes para uma passagem, deste mundo físico, para o extrafísico, sem dissabores e surpresas. Toda dificuldade que se encontra nesse trânsito, de um plano para outro, esta vinculado nas raízes das tradições, das culturas e nas crendices que se criaram. São fatos irreais e que não foram combatidos, como se devia, pelos ensinos religiosos, até então. Em geral, não se teme a morte em si, mas o momento de transição que ocorre. Esse temor existe em razão do estado, ainda pouco evoluído, dos Espíritos vinculados a este planeta terra. Identicamente à Ciência que, estuda pesquisa e anuncia fatos materiais comprovados, a Doutrina Espírita vem, nesses tempos chegados, ou nesses tempos de renovação, revelar os caminhos seguros para esse trânsito. Ensina os Espíritos Superiores que o caminho para o túmulo inicia-se logo no primeiro dia do berço, e que nessa caminhada precisa-se tomar consciência, através de estudos esclarecedores, de onde se vem, o que se está fazendo aqui e para onde se vai após a “morte” do corpo material. O espiritualista, ou seja, aquele que crê na vida espiritual, em continuação a esta existência material, em contraposição ao materialismo, outrora chamado por paganismo, não estão isentos das apreensões e, por vezes, aos dissabores da passagem desta para outra vida. Mesmo no meio espírita existe a preocupação sobre a morte, pois se indaga: - Se já tivemos inúmeras reencarnações, obviamente já morremos com o corpo físico mais denso, outras inúmeras vezes, então, por que ainda existe o medo da morte? A resposta encontra-se na necessidade da atuação do Princípio da Conservação, ainda importante na evolução terrestre e nos desencarnes dolorosos do passado. Razão que ainda fica a indagação: Sofre-se ou não nessa Passagem? Até atualidade, apesar dos dois mil anos de cristianismo, os diversos segmentos das Igrejas, não apresentaram qualquer esclarecimento sobre esse momento e, tampouco, a própria ciência materialista, com raras exceções das pesquisas realizadas de Experiências de Qua6

se Morte - EQM. Na realidade, desconhecem e não admitem a complexidade da existência do Homem Integral, expressão essa usada pelo Espírito de Joanna de Ângelis, referente ao Corpo Físico, Corpo Espiritual e o Espírito. A chave para abrir a porta desse conhecimento está, justamente, no estudo desses dois corpos básicos: o físico que fazemos uso hoje e o espiritual que faremos uso amanhã com o desencarne. Juntamente com esses dois corpos básicos, com influência em ambos, atua o chamado Fluido Perispiritual, termo usado por Kardec, que movimenta a vitalidade, termo esse usado pela medicina ou, ainda Fluido Vital, usado pelos ocultistas, ou Duplo Etérico, pelos esotéricos. Mas, como atua esse fluido? Dizemos no Espiritismo que o Corpo Eespiritual ou o Perispírito é um corpo semi-material, isto é, constituído de parte de energias de matéria mais densa, advinda de nosso plano e, parte de energia mais rarefeita, conquistas de existências pretéritas. Assim, entende-se que o desprendimento do Espírito para a Passagem, ou Passamento, para outro plano menos denso, vai depender muito da Vitalidade existente nesse fluido, quando desse processo. Allan Kardec elucida que, “a passagem somente será completa e absoluta, quando não mais reste um único átomo do liame perispiritual, ligado a uma só molécula do corpo mais denso”. É nesse liame ou nesse nexo onde atua, intermediando os dois, o fluido vital. Quanto mais fluido vital preso ao Perispírito, mais este fica preso ao corpo físico, razão que André Luiz transcreve: “Nem todos que morrem, desencarnam”. Na morte natural, pela extinção das “forças vitais”, através da velhice ou até mesmo pela enfermidade prolongada, o Perispírito desprende-se dentro de uma forma natural, por se esgotarem essas energias. Por outro lado, nos desencarnes por acidente violento ou em homicídio ou em suicídio, onde esse “tônus vital” não foi desgastado pelo percurso da vida material, dificulta ao extremo o desenlace do perispírito. Do exposto, entende-se que a Vitalidade, ou Duplo Etérico, trata-se de uma energia que não possui vivência própria e é imprescindível para a saúde do corpo


físico, desintegrando-se com o desprendimento total do Espírito, o qual poderá ser rápido ou muito lento, dependendo da evolução espiritual e dos fatos que levaram ao desencarne. Esse é o mecanismo da passagem. Entretanto, todos esses fatos poderão ser atenuados ou agravados, dependendo do grau de pureza ou desmaterialização do Espírito. Dessa forma, a resposta sobre o sofrimento desse momento sublime, ainda tenebroso para a maioria, está no saber como desvincular do Perispírito o Fluido Vital. Destarte, o último alento quase nunca é doloroso, uma vez que ocorre em momento de inconsciência, o mesmo ocorrendo com o nascimento, que nunca temos consciência. Bem, aí entra os ensinos da Boa Nova, que nos traz conhecimento e condutas para esse fim, que devem

ser praticadas durante a caminhada terrestre. Mas, como? Jesus, responde: Sedes perfeitos. Kardec assevera: “Instrui-vos” e terá a Fé Raciocinada. Jesus, ainda acrescenta: Ama ao teu próximo como a ti mesmo”. Kardec, também, recomenda: “Amai-vos”. Portanto, os ensinos morais como a prática da caridade e o perdão com o próximo, são condutas imprescindíveis para desvincular-se das energias do egoísmo e do ódio, das paixões e dos ciúmes, dos vícios e dos rancores. Finalizando, Kardec indaga o Espírito de Verdade, na questão 961, a respeito dessa Passagem: - No momento da morte, qual é o sentimento que domina a maioria dos Homens? Tendo como resposta o seguinte: A dúvida, para os céticos, descrentes de tudo; o medo, para os culpados e a esperança, para os homens de bem.

João Demétrio Loricchio foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP de 2014. É expositor, palestrante e articulista espírita de revista e jornais.

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INSTRUÇÕES FINAIS

Quando atenderes a um desses pequeninos é a mim que atendes “(...) Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e Se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: entendeis o que vos tenho feito?” (João 13:12)

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emontando à cena da última ceia de Jesus com Seus discípulos vamos encontrá-los celebrando a festividade que comemorava a fuga do povo hebreu do Egito. Era um momento de aconchego com Jesus, em que reinavam a confiança e a tranquilidade, estando, a maioria deles, felizes naquele instante em que se dedicavam ao convívio com o Mestre, pois podiam ouvi-Lo e compartilhar de Sua presença calorosa. Prevendo os fatos dolorosos que se seguiriam àquela festividade, no intuito de deixar mais uma lição, não só para aqueles que desfrutavam de Sua companhia naquele momento, mas também para a posteridade, Jesus levantou-Se e retirou Sua capa, cingindo-Se com uma toalha, como era típico dos serviçais das casas nobres da época, e começou a lavar os pés dos discípulos, fato que gerou surpresa, diante do não entendimento do significado daquela atitude. Pedro chegou mesmo a afirmar que jamais permitiria que o Mestre lhe lavasse os pés, pois, para ele, isso era inadmissível. Jesus, no entanto, responde: “se eu não te lavar, não terás parte comigo”. Diante dessa afirmativa, dita com tanta ênfase e autoridade, Pedro permite que aquele ato se concretizasse, de acordo com a vontade do Mestre.

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Voltando, em seguida ao seu lugar Jesus continuou Sua exemplificação, e ofereceu a todos o pão e o vinho, para que todos se alimentassem, completando a ação com as belíssimas palavras: “Fazei isso em memória de mim”. - Lucas 22:19 Muito significativa é a resposta de Jesus a Pedro, pois esta indicava que, para se ter parte com o Mestre, deve o verdadeiro discípulo aceitar as situações que se lhe apresentarem durante sua vida, por mais absurdas que possam parecer. Porém, o homem que só consegue raciocinar as coisas do Céu através das coisas da Terra, logo materializou o ensinamento em um ato simbólico, buscando simplificar e possibilitar a sua prática, imaginando, dessa forma, poder ter parte com Jesus, pelo simples cumprimento de uma formalidade. A pergunta feita por Jesus continua vibrando: “Entendeis o que vos tenho feito?” Na faixa de evolução em que nos encontramos, o ser humano necessita ainda representar o ensino do Mestre em algo palpável, para que possa ser realizado sem maior dificuldade. Mas, a simbologia do ato transcende quaisquer ações materialistas, exigindo-nos maior grau de raciocínio e entendimento: Jesus é um Mestre de ação. Usava a palavra para comunicar, no entanto agia sempre em consonância com Sua fala, demonstrando, pelo exem-


Pintura de Sibeaster - Lava Pés - Catedral de Montreal

plo, aquilo que ensinava. Dessa maneira, devemos sempre procurar a significação maior, mais ampla, nos menores atos praticados por Ele, para encontrarmos o verdadeiro ensinamento. Nessa passagem há a exemplificação da necessidade do servir, reforçando o mandamento que todo cristão deve ter como lema: “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” - João 13:34. Porquanto, ser um servidor é corresponder ao padrão que Jesus indicou para Seus seguidores: “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.” - João 13:34, ensino profundo que deve ser observado por todos, indistintamente... O Divino Mestre deixa como exemplificação máxima a humildade, indicando-nos que essa deve ser a opção do verdadeiro cristão, que será reconhecido por sua capacidade de desprendimento. Deixa, às vésperas do encerramento de Sua missão ter-

rena, a mensagem do servir àqueles que nos rodeiam, pois todos somos irmãos em Cristo. Esse ensino assume, no entanto, maior significância para o espírita convicto, pois está devidamente esclarecido sobre o mundo espiritual, devendo essa sua capacidade de servir estender-se além dos limites do mundo corpóreo. No entanto, o exercício da humildade é uma tarefa muito difícil, como bem o sabemos, pois nosso orgulho grita com voz insidiosa para buscarmos primeiramente aos próprios interesses, em detrimento do auxílio ao nosso próximo. Ainda, a maioria de nós tem muito mais o desejo de ser servido. Queremos ser recompensados e receber as pompas a que acreditamos ter direito. Consequentemente, ousamos colocar Jesus, e Seus mensageiros, na posição de nossos serviçais, exigindo que nos atendam em todos os nossos desejos, por mais mesquinhos que estes possam ser, constituindo-se essa atitude,

em essência, uma total subversão de Seu ensinamento. Após ter sofrido o doloroso peso da ignorância humana, Jesus ressurge resplendente, primeiro a Maria de Magdala, e, no mesmo dia, segundo relata-nos o Evangelho de Lucas (24:13), aparece a dois de Seus discípulos no caminho de Emaús. Estes não O reconheceram de imediato. Conversaram por todo o caminho, contando estes, ao peregrino estranho, o que ocorrera em Jerusalém naqueles dias, e o Mestre, ensinando-lhes uma vez mais, relembrava-os de tudo que já havia sido previsto a respeito da vinda do Messias, citando Moisés e os profetas. O reconhecimento só aconteceu quando os viajantes, já assentados à mesa da refeição, percebem a presença do Mestre, quando Este, ao repartir o pão, serve-o aos companheiros de viagem. Gostaríamos de reforçar que Jesus só foi reconhecido quando serviu aos discípulos. O SEMEADOR 9 Internacional


Será que reconhecemos o Cristo quando se apresenta em nossas vidas?! Ele está ao nosso lado verdadeiramente, através de Seus ensinos, mas com frequência, não O reconhecemos. Revela-se o Divino Amigo em nossas vidas, toda vez que temos a oportunidade de lavar os pés de nosso próximo, ou seja, atender aos necessitados, amparar o que está desiludido, orientar aqueles que andam pelas trevas do erro e do desespero. Qual os discípulos da cena imorredoura de Emaús, não enxergamos o Cristo, pois estamos enceguecidos pelo nosso orgulho e vaidade, pelo egoísmo que nos impede de reconhecê-lO nos necessitados que se aproximam de nós. Nossa visão está turvada pelos intensos apelos da nossa inferioridade espiritual, que nos impede de perceber que nunca estamos sozinhos, e que as

dificuldades do caminho nada mais são do que oportunidades para o exercício do mandamento que Jesus nos deixou: “amai o vosso próximo como a vós mesmos”. Praticar a caridade é o melhor meio de servirmos ao nosso próximo, pois esta é o amor vivido e verdadeiro; amor que não cobra e não espera recompensa... O verdadeiro amor apenas dá e compreende as dificuldades do outro até para, eventualmente, poder receber. Paulo de Tarso, o apóstolo dos gentios, conclama-nos: “sede meus imitadores, como também eu, de Cristo.” - Coríntios I 11:1. Imitar o Cristo significa não se restringir a atos mecânicos, mas sim, fundamentalmente, exercitar o amor sincero no serviço àqueles que compartilham o nosso caminho. Somente assim seremos reconhecidos por Jesus como Seus verdadeiros seguidores. “Fazei isso em memória de mim!”

Paulo Oliveira Articulista de jornais e revistas espíritas e trabalhador da FEESP

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MEDIUNIDADE

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ediunidade não é matéria de promoção, tampouco para ser usada em prol das satisfações do ego. Mediunidade é faculdade nobilíssima, e sua utilização deve se prestar para ajudar o Espírito a alcançar melhores momentos íntimos, assim como, colaborar com o outro para desvencilhar-se de emaranhados espirituais, doando-lhe alternativas para orientar-se por caminhos acertados. Presta-se a mediunidade, quando movida pela verdade, para fertilizar o ambiente interior do Espírito, iluminando-lhe os arquivos benignos e elevando-os para a caminhada ser consumida com compreensão real da vida, e clareando seus propósitos para que passe a melhor visualizar as realizações as quais se destine, analisando-as, sempre, fora do contexto material para que possa assumir as veracidades solicitadas pelas ocorrências, já que nada, absolutamente nada, acontece por acaso, e jamais tem sua gênese no mundo físico denso. Mediunidade é instrumento facilitador e capacitador para o aprimoramento moral do Espírito. Permite-lhe alcances que jamais aconteceriam pelos tramites materiais, pois todas as suas sensibilidades estão centradas no Espírito; foram constituídas biologicamente para que as manifestasse sobre a crosta, dando ao portador

a oportunidade de crescimento anímico; podemos afirmar que o epicentro de todas as faculdades mediúnicas localiza-se no âmago do Espírito. É ele o imortal; é ele o portador de todas as qualidades possíveis da razão consciente e inconsciente. A mediunidade, conforme o avanço dos tempos no mundo, vai se tornando cada vez mais usual e sem descargas acentuadas de manifestações corporais visíveis. O fato se dá pelos esclarecimentos que os Espíritos encarnados e desencarnados vão obtendo, e pelos novos conhecimentos que aportam as civilizações. Ontem, gestos, movimentações bruscas e manipulações exageradas; hoje, naturalidade, equilíbrio e a energia do silêncio impulsionam a mediunidade com Jesus. Enquanto permaneciam grandes descrenças, a incredulidade para ser desfeita necessitava registrar fatos materiais contundentes; todavia, com o avanço dos tempos, o entendimento e a credibilidade cresceram, os Espíritos foram reciclados, dispensando, desta forma, as exacerbadas movimentações materiais provocadas pelos médiuns nas tarefas mediúnicas das Casas Espíritas; embora em outras religiões, como a Católica e a Protestante, a mediunidade, ainda, se apresenta mais gesticulosa devido às necessidades presentes e atuais dessas comunidades.

Ficha Técnica

Apresente o Flyer na Bilheteria e pague R$ 30,00 11 O SEMEADOR Internacional


A mediunidade do terceiro milênio acontece pelos caminhos da moderação; isto é, ela se processa pelas vias naturais sem quaisquer artificialidades, como o ar que é respirado. Não há qualquer necessidade de demonstrações espetaculosas; onde essas ações ainda se propagam o estudo e a disciplina estão à espera de serem absorvidos e sedimentados. No livro Na Estrada com Jesus o Amigo espiritual traduz a seguinte recomendação: “Não admitas que a tua ignorância te afaste das oportunidades abençoadas, as quais já fazes jus pelo teu desempenho no transcorrer da vida. Aclara o discernimento com os conteúdos do Evangelho, com as obras da Codificação Espírita, e te predisponhas a recepcionar os arranjos que são enviados do Alto. Pois, en-

quanto negas, por desconhecimento ou necessidades duvidosas, as mensagens oportunas e benfazejas, outras absorves por se encontrarem dentro do teu padrão vibratório, levando-te a complicações e fazendo com que teus passos tropecem nas curvas do caminho. Erga-te diante da luz dos dias atuais absorvendo as etapas finais que aí estão, disseminadas através das mensagens dos portadores do Senhor. Elas, com a tua anuência, poderão iluminar e clarear os minutos que percorres, permitindo-te alcançar voos mais singelos e construtivos, não só por te esclarecerem, mas, também, porque contêm as energias daqueles que conhecem todos os degraus que precisas subir. Lança-te ao favor mediúnico que Deus te concedeu, faça dele uma magnânima escada para subires mais um lance a cada dia da existência.” Enfatizando e mais energia adicionando as recomendações do Irmão espiritual, algumas palavras de Alexandre em Missionários da Luz Luz: “O homem vive esquecido de que Jesus ensinou a virtude como esporte da Alma, e nem sempre se recorda de que, no problema do aprimoramento interior, não se trata de retificar a sombra da substância e sim a substância em si mesma.” Silenciemo-nos para profundas reflexões...

Roberto Vilmar Quaresma foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP de 2011 e 2014. É expositor, palestrante e articulista espírita de revista e jornais


SINAL DOS TEMPOS

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“O céu e a Terra passarão, mas a Minhas palavras não hão de passar.”

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uando Jesus passou pelo planeta, os tempos de mudança estavam chegados. Até então, o ser humano vivia uma existência baseada no medo, não somente do seu próprio semelhante, como também de um Deus ou deuses que ele não entendia. Geralmente, o que vinha da divindade não era muito melhor do que ele poderia receber e dar para o seu semelhante. O castigo estava reservado pela sua simples originação e com certeza, o melhor seria não permitir que a ira divina focasse a sua existência e de sua família. Com Jesus, a vida se ilumina no relacionamento com a divindade através do próximo. Não se preocupou o Divino Seareiro com as questões de forma em relação a Deus e sim alterou definitivamente o conteúdo, eliminando a posição de uma divindade cruel e perseguidora para as questões do amor de um Pai. Em seus ensinamentos, mostra-nos com clareza que o Senhor ama a todas as suas criaturas, quando diz: E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Estava revogada a lei de Talião, do olho por olho e do dente por dente, para a lei definitiva do amor, realidade da criação expressando-se gradativamente na criatura. E de fato, as palavras de Jesus, apesar das distorções pelos interesses imediatistas, ocorridas nas diversas fases do caminhar da humanidade, não passaram, porque a verdade de natureza divina, só poderá ser ampliada, porém, nunca ocultada. Com a Doutrina Espírita, através do trabalho hercúleo do Codificador, revive a simplicidade e profundidade os ensinos do Cristo, cumprindo a Sua promessa que o Consolador nos prepararia em definitivo para a mudança. Mudança esta, alicerçada nos aspectos do amor a nós como criaturas divinas e ao semelhante, nosso próximo e nosso irmão. Chegou o tempo e com

Pintura de Walter Rame - In Remembrance of Me - Church History Musseum

ele a oportunidade de expressar as nossas potencialidades interiores represadas por longo período pelo desconhecimento de nós mesmos, através do manto de um egoísmo feroz. O momento sinaliza a necessidade de mudança quebrando as amarras do homem velho, tendo no Evangelho a direção de nossas existências, construindo um mundo melhor para nós e para os nossos semelhantes. As palavras de Jesus nunca poderão passar, porque estão intrínsecas em nosso íntimo, fazendo parte de nossa origem, por serem elas a verdade da qual fazemos parte. Conscientes que nos encontramos a respeito de nossa origem divina, permitamos que os nossos valores calçados no amor, faça a grande diferença em nossa vida, e desta maneira, influenciemos positivamente aqueles que de nós se aproximarem.

Umberto Fabbri foi conferencista dos Congressos Espíritas 2008, 2011 e 2014. É escritor, expositor, palestrante e articulista espírita de revistas e jornais.

13 O SEMEADOR Internacional


O SENTIDO DA VIDA

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ivemos num mundo em que a velocidade das mudanças é cada vez maior; as informações atravessam o planeta de forma quase instantânea e, por isso, somos virtualmente bombardeados por uma avalanche de estímulos sensoriais que nos deixam atordoados. As ondas sucessivas de crises de natureza política, econômica e social contribuem para tal desorientação, pois nos colocam frente a desafios constantes. Face a tal contexto, nos esforçamos de todas as formas para seguir adiante, buscando manter um nível mínimo de serenidade, ameaçados que estamos a todo momento pelo stress da vida contemporânea. O perigo de tal comportamento é que ele nos induz a viver dentro do chamado “piloto automático”, sem que atentemos para o objetivo maior da existência, ou seja, sem que pensemos no sentido da vida que levamos. Os que assim vivem, formam um primeiro grupo de pessoas, aquelas que se deixam levar pela vida, enclausuradas que estão em seus problemas e dilemas pessoais, sem consciência de qualquer propósito maior para as suas existências. Não há necessariamente demérito em viver desta forma, pois, alguns de fato lutam por sua sobrevivência e nem sempre encontram tempo para reflexões ponderadas sobre a vida, haja vista o drama dos refugiados de guerra, dos que fogem da miséria e da fome,

dos que enfrentam violências inauditas, dos que lutam por um emprego digno, e tantos outros que sofrem as agruras da vida, e tudo isso em pleno século XXI! Num segundo grupo de pessoas, encontramos as que duvidam que haja algum sentido na vida: são os amargurados, desesperançados, atribulados por terríveis aflições, enfim, aqueles mergulhados em profunda depressão, e que até mesmo se negam a viver. Olhando de fora, nos questionamos como chegaram a tal situação e porque não reagem, mas, se nos colocarmos em seus lugares, certamente nos perguntaríamos se seria possível afinal encontrar algum sentido na vida. E a resposta é sim, é possível encontrar sentido, mesmo nas condições mais extremas. O exemplo de tal situação extrema nos é relatado pelo psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997) que, em seu livro Em busca de sentido, nos relata a terrível experiência de viver como prisioneiro num campo de concentração nazista, sujeito a trabalhos forçados, fome, frio e violência. Ele nos conta que, certa noite, depois de um dia extenuante e após cearem uma sopa aguada e um pedaço de pão, todos se encontravam extremamente cansados e desanimados quando, para piorar, acaba-se a luz, aumentando o desespero de muitos que lá se encontravam. É então que, sem saber de onde surgira tal força e inspiração, ele enceta um discurso em meio ao frio e


a escuridão, incentivando os companheiros de infortúnio a olhar o futuro com esperança e a lembrarem dos momentos felizes do passado, algo que ninguém lhes poderia subtrair. Exortava os colegas a encarar a vida em sua inteireza, inclusive com o sofrimento, mas sem jamais olvidar que ela tem um sentido, sempre! Após acenderem-se as luzes, notou que muitos vinham, em lágrimas, agradecer-lhe as palavras de conforto e incentivo: haviam encontrado forças para seguir adiante, à espera de dias melhores. Na realidade, Frankl já observara anteriormente que, a par das violências sofridas, a diferença entre morrer e viver dependia, em boa medida, da esperança que os prisioneiros abrigavam em seu íntimo: os que nada mais aguardavam do futuro, morriam por doença ou suicídio, mas aqueles que, por exemplo, alimentavam a esperança de rever um ente querido, resistiam o mais que podiam às condições abjetas a que estavam submetidos. Há ainda um terceiro grupo de pessoas: são aquelas que até vislumbram um sentido para as suas vidas, mas que o associam aos interesses da existência mundana e, assim, buscam, numa postura francamente egocêntrica, somente os prazeres, as riquezas ou as honras. A questão que se coloca é: Será que tais objetivos constituem bens legítimos que propiciam um sentido autêntico para as nossas vidas? A resposta é não, segundo Spinoza, pensador holandês do século XVII. Para ele, quando nos apegamos aos prazeres, já não podemos nos ocupar de mais nada e seus excessos resultam em doenças e até mesmo na morte. No que se refere às riquezas, quanto mais acu-

mulamos, mais queremos ter, e se a perdemos, sobrevém uma enorme frustração; isso sem contar os perigos advindos da parte daqueles que a cobiçam. Finalmente, para conseguir honras e prestígio, somos constrangidos a viver do modo como vivem os outros, buscando o que eles buscam e fugindo do que fogem, embora isso não nos garanta o apreço deles, que podem nos voltar as costas de um momento para outro, à busca de novas referências e de novos ídolos. Por isso já dizia o Mestre: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças o consomem. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem” (Mt 6:19-20). Vemos, assim, que as pessoas pertencentes a cada um dos três grupos, supra referidos, não têm noção do sentido autêntico da vida, pois aquelas do grupo dos atribulados o ignoram, as dos desesperançados duvidam da sua existência e as dos egocêntricos se equivocam a seu respeito. A questão que então fica é: Qual é afinal o sentido da vida? Aristóteles, pensador grego do século IV a.C., dizia que o sentido da vida de cada ser humano, ou seja, a sua finalidade, é a felicidade. E segundo ele, felicidade consiste na plena realização de nossas capacidades. Ora, realizar de forma plena tais capacidades pressupõe que nós já as temos em nós, como potencialidades a serem desenvolvidas. E aqui se torna oportuno recordar aquela pequena parábola de Jesus, que diz: “O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo” (Mt, 13:44). E qual não será a nossa ale-

gria ao constatarmos que tal tesouro sequer precisa ser comprado, pois se encontra em nosso próprio íntimo, centelhas divinas que somos (O Livro dos Espíritos, Q.613), criados à semelhança do Pai Criador? Vemos, assim, que a rota para a felicidade reside fundamentalmente em nós mesmos. Nesse sentido, o Espírito Hammed assevera: “O maior sentido de nossa encarnação é a conscientização da riqueza de nosso mundo interior. Somos essências divinas em busca da perfeição, cujo caminho é o autodescobrimento” (As Dores da Alma, pág. 135). E aqui temos, enfim, o quarto grupo de pessoas, aquelas que são conscientes, isto é, que têm plena ciência do sentido da vida em seu caráter autêntico. Mas resta ainda uma questão: Como atingir a felicidade? Segundo Aristóteles, o meio para se conseguir a felicidade é a virtude. Dela falam todas as religiões, embora nenhuma a tenha expressado de maneira tão sublime quanto o meigo Rabi da Galileia trazendo-nos a lei de amor, mensagem que hoje retorna através do Espiritismo, o Consolador Prometido, que vem esclarecer os pontos obscuros dos ensinamentos do Mestre, dado o nosso pouco entendimento à época e, além disso, nos traz a lei da caridade, que nada mais é do que o amor em ação. E que é afinal a virtude? Uma boa definição é aquela que nos traz Ney Prieto Peres: “Virtude é a disposição firme e constante para a prática do bem” (Manual Prático do Espírita, Cap. 24). É importante, contudo, destacar que não basta saber o que é a virtude, pois o mais importante é praticá-la. Nesse sentido, vale a pena relembrar a resposta que Kardec recebeu, quando perguntou qual era a mais meritória das virtudes: “Há O SEMEADOR 15 Internacional


virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das tendências; mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção” (O Livro dos Espíritos, Q.893). E será que teríamos assegurado o gozo da felicidade, se praticarmos a virtude? A princípio, não há como responder de forma afirmativa a essa questão, pelo menos no estado evolutivo em que todos nos encontramos, pois, como dizer-se feliz, quando pessoas há que sofrem ao nosso lado as mais variadas agruras? Não é por menos que o Espírito François Madeleine nos relembra aquela frase do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo” (O Evangelho Segundo O Espiritismo, Cap. V.20). Podemos, porém, desfrutar da paz de espírito, que nos advém da consciência do dever retamente cumprido. Aqui vale lembrar a resposta que recebeu Kardec, ao perguntar pela medida comum de felicidade: “Para a vida material, a posse do necessário; para a vida moral,

a consciência pura e a fé no futuro” (O Livro dos Espíritos, Q.922). Que possamos, assim, compreender que a vida, seja qual for a circunstância em que nos encontremos, sempre tem um sentido. Todavia, não basta saber isso, pois também é necessário darmos um sentido às nossas próprias vidas, agindo como o homem de bem de que nos fala Kardec: “aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII.3). Somente assim caminharemos rumo à felicidade, encontrando aquele tesouro interior de que nos fala Jesus, isto é, a centelha divina que todos somos, sabendo apreciar o seu devido valor; daí então compreendermos, em toda a sua amplitude, aquela frase do Mestre que diz: “Porque onde está o teu tesouro, aí também está teu coração” (Mt 6:21).

Roberto Watanabe é expositor da Área de Ensino da Federação Espírita do Estado de São Paulo.

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EDUCAÇÃO SUPERPROTETORA “Eduquem as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. Pitágoras”.

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educação superprotetora é muito comum na contemporaneidade, por vários fatores; pais que trabalham; mãe ou pai que cria o filho sozinho, geração livre, etc. Na atualidade é comum o casal trabalhar, o que causa uma culpa interna inconsciente, por ficar muito tempo longe dos filhos. Pais que cuidam dos filhos sozinhos, a mãe, por exemplo, acaba superprotegendo o filho pela carência, por ter que trabalhar fora e não dar a devida atenção aos mesmos. A qualidade da presença é importante, mas o excesso sem qualidade pode ser até prejudicial por sufocar os filhos. Alguns prejuízos na superproteção: - Filhos inseguros e mimados, adultos infantilizados; - Dificuldades de controlar os filhos, de impor limites, regras, etc. - Filhos ditam as ordens: filmes, restaurantes, viagens, diversão, etc.; É comum na atualidade filhos de mais de trinta anos serem tratados como adolescentes. Eles terão dificuldade de lidar com as perdas e com as adversidades da vida, porque não foram ensinados por causa da superproteção. Quando o animal de estimação morre, os pais compram outro imediatamente, algum membro da família morre, a mesma coisa, (vovô foi viajar). No passado os velórios eram feitos em casa, as crianças participavam e enfrentavam a dor da perda. O mesmo acontece com as adversidades da vida. O professor chama atenção, os pais defendem os filhos. Uma briga com o amiguinho, os pais tomam satisfação com os pais do amigo. No dia seguinte eles estão brincando, e os pais de ambos, em uma situação constrangedora. A criança precisa aprender a se defender das adversidades da vida, a lidar com os conflitos, com as perdas, etc. Uma educação superprotetora, os filhos no futuro terão dificuldades em receber ordens, de serem contrariados, de trabalharem em equipe, na maioria das vezes são pessoas reativas, que não sabem gerir seus conflitos,

porque os pais sempre resolveram tudo por eles. Dificuldades nos relacionamentos, por não saberem ouvir não. Um casal, um teve uma educação castradora, e o outro superprotetora, não saberão gerir os conflitos conjugais, um pela falta de amor e o outro pelo excesso de mimos. O excesso de presentes é muito prejudicial, porque não saberão valorizar o dinheiro. E, quando os pais passarem por dificuldades? O importante e a presença de qualidade, o presente é no natal, aniversário, dia das crianças. O excesso de mimos faz uma criança sempre querer 17 O SEMEADOR Internacional


mais e mais, quando chegar à adolescência, (atualmente mais cedo) irão querer o tênis de marca, o celular igual do amigo, a calça de marca, etc. Se não forem atendidos se revoltam, porque sempre os pais encheram de presentes e mimos. A mesada precisa ser administrada, gastou além da conta, fica sem. Os pais modelam os filhos - Para Jean Piaget, os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais na convivência diária. - Anomia (crianças de 0 a 5 anos) a moral não se coloca como as normas de conduta, apenas as necessidades básicas. As regras são obedecidas pelo hábito. A criança não tem consciência do certo ou errado. - Heteronomia (crianças de 5 a 9, 10 anos) A criança aprende o que certo é o cumprimento da regra, não aceita o que é diferente do que aprendeu. - Autonomia: O indivíduo aprende o que é legitimo. A autonomia determina o respeito a regras, de acordo com os acordos mútuos, sendo a última fase do desenvolvimento da moral. - O processo acontece por organização interna denominada de assimilação e acomodação na aprendizagem. - A criança aprende com os exemplos

dos pais, cuidadores, avós, professores, meio social, escola, mídia, etc. - Se ela recebe exemplos negativos, agressões verbais ou físicas, ela assimila como certo, principalmente na fase da anomia e heteronomia. A Reencarnação se completa aos sete anos de idade (André Luiz – Missionários da Luz – Francisco C.Xavier) - De 0 a 6 meses de vida, o espírito fundamenta o seu “eu” e forma a base da sua personalidade. - Entre 6 meses e 4 anos de vida, o espírito já começa a ter a consciência de sua nova vida atual. - De 4 a 7 anos de idade, começam a estabelecer as hierarquias, o julgamento de valores. - Aos 7 anos o sistema orgânico (corpo) já está totalmente ligado ao espírito. (Dra. Anete Guimarães) - Aos pais cabe verificar: boas e más tendências do passado; - Evangelizar para imortalidade; O lar é um reencontro de almas Afetos e desafetos do passado, para fazermos o caminho do amor e do perdão. A parentela corporal e a parentela espiritual - Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. - Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir. (ESE, cap.XIV, item 8)

Albertina Veigas Expositora e palestrante da FEESP


Mensagem psicografada “Filhos amados. A palavra crise vem sendo pronunciada constantemente por meus irmãos na Ter ra. De fato, o momento é de crise inegável nos ma is variados campos da atividade humana. Mas nad a se encontra fora do controle do Pai que nos ama, e se Ele permite a existência de turbulências é para que possamos extrair as lições para nosso amadureci mento. Na crise econômica, aprendamos a viver com mais simplicidade. Na crise da solidão aprendamos a ser mais solidários. Na crise ética, tenhamos posturas mais justas. Na crise do preconceito, aprendamos a resp eitar mais os irmãos que pensam diferentes de nós . Na crise espiritual, fiquemos mais perto de Deus pela fé e oração. Na crise do ressentimento, perdoemos um pouco mais. Na crise da saúde, guardemos mais equilíbrio em nossas atitudes. Na crise do amor, deixemos o nosso coração falar mais alto do que o egoísmo. Momento de crise é momento de um passo adi ante. Retroceder, rebelar ou estacionar nunca. A crise pede avanço. E se a crise chegou para cada um de nós, é hora de levantar, mudar e seguir em frente na construção de um novo tempo de amor e paz.” Bezerra de Menezes Mensagem recebida por José Carlos De Lucca, em 15/08/2015 19 O SEMEADOR Internacional


LIBERTA E GENTIL PÁTRIA AMADA, BRASIL!

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Paulo Oliveira

á 193 anos, D. Pedro I, Príncipe Regente do Reino do Brasil, no dia 7 de Setembro, proclamava a definitiva separação de Portugal, bradando o conhecido “Independência ou morte” às margens do riacho Ipiranga, localizado na então província de São Paulo. A história oficial de nosso país registra o fato como sendo o resultado de um movimento do desejo do povo brasileiro, bem como da influência decisiva de figuras representativas de então, entre as quais se destaca a de José Bonifácio de Andrade e Silva, cognominado de o Patriarca da Independência. No entanto, não podemos deixar de considerar que a fundação do Brasil já fora desenhada pelo amoroso comando de Jesus Cristo, conforme nos conta Humberto de Campos, no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, psicografado por Francisco C. Xavier: “Mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama então Jesus: — Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal.” (Grifo nosso) A condução dos países, e o Brasil não é exceção, é feita por Espíritos Angélicos responsáveis pelo seu processo de desenvolvimento. Nessa linha, nossa terra bendita tem como seu principal responsável e coordenador o Espírito Ismael, que recebeu a incumbência de cuidar da criação e evolução de nosso país, utilizando-se para isso uma imensa legião de trabalhadores atentos e dispostos a cumprir com o objetivo maior que é transformar o nosso país na Pátria do Evangelho. No tocante ao processo de independência brasileira não foi diferente. Ismael intensificou os esforços para que ideias libertárias, oriundas das Europa e da América do Norte, pudessem fazer eco no coração e na mente do Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara, futuro imperador do Brasil. Este fato é de fundamental importância para todos nós, pois vemos que os acontecimentos a que estamos sujeitos não se dão pura e simplesmente por acaso, ou por falta de controle. Muito ao contrário, estamos sempre amparados pelos Espíritos Superiores que coordenam 20

esta pátria, que deve ser a fonte da fraternidade e do amor junto a todos os povos da Terra. Nada se passa sem que a vigilância desses Orientadores Divinos, e de suas falanges de trabalhadores, esteja atenta ao desenvolvimento do país, e de seu povo. No entanto, necessitam da colaboração e do comprometimento dos que estão no plano físico, e que sujeitos às interferências dos próprios interesses e das vaidades pessoais, atraindo frequentemente Espíritos ignorantes, agem ou buscam agir de forma a impedir que se efetive o crescimento do povo e da nação brasileira como um todo. De nada adiantaria termos mudanças fundamentais na estrutura de poder do país se os brasileiros não possuem ainda as condições para exercer a abnegação e a fraternidade consoantes os ensinos de Jesus, em seu Evangelho de luz e amor. Ismael assevera em determinado momento, ainda nos referindo ao livro de Humberto de Campos, que “precisamos articular todos os movimentos dentro da ordem construtiva, a fim de que não se percam as finalidades do nosso trabalho. O problema da liberdade é sempre uma questão delicada para todas as criaturas, porque todos os direitos adquiridos se fazem acompanhar de uma série de obrigações que lhes são correlatas. Cumpre considerar que toda elevação requer a plena consciência do dever a cumprir; daí a delicadeza da nossa missão, no sentido de repartir as responsabilidades. Precisamos difundir a educação individual e coletiva, dentro das nossas possibilidades, formando os espíritos antes das obras.” (grifos nossos) O processo da Independência do Brasil era irreversível, e todos já o pressentiam, no entanto o esforço de Ismael, e de seus colaboradores, era “levar a efeito a separação das duas pátrias com o mínimo de lutas, sem manchar a nossa bandeira de redenção e de paz com o pungente espetáculo das lutas fratricidas.” Notamos nos relatos do livro que Ismael menciona que D. Pedro, “individualmente considerado, não reapresentava o tipo ideal”, necessário à realização dos projetos Divinos sob sua incumbência; representava ele, porém o poder e autoridade instituídos, sendo então influenciado para as necessárias medidas na condução do objetivo maior que era a independência de nossa pátria. Com isso, procurou Ismael “evitar os desvarios criminosos de


uma guerra civil”. (grifo nosso) Todos nós vivemos momentos tormentosos em nosso país e, diante dessas dificuldades, é natural que surjam ideias radicais e intervencionistas para buscar a modificação do quadro vivenciado. Para nós, espíritas atentos ao Evangelho de Jesus, a nossa contribuição é de tentar neutralizar pensamentos e palavras conflituosos que possam estimular qualquer possibilidade de confronto. É nossa obrigação, conforme orientam os Espíritos Superiores, vibrar e agir para que haja paz e entendimento, buscando incialmente a implantação da paz em nosso próprio coração. Portanto, queridos leitores, que possamos, na proximidade da comemoração do dia nacional de nossa pátria amada Brasil, afirmarmos nossa disposição para o trabalho para Jesus e com Jesus, auxiliando, conforme a condição de cada um, na instalação da real Pátria do Evangelho em solo brasileiro. E encerrando, vamos parafrasear o nosso querido anjo protetor Ismael quando ao final da reunião na qual deliberara a efetiva ação da libertação de nosso país, diz ele a todos: - “Agora, todos nós que aqui nos reunimos, no sagrado Colégio de Piratininga, elevemos a Deus o nosso coração em prece, pelo bem do Brasil.”. Que possamos fazer o mesmo e elevar a Deus uma prece contrita e sincera por esse nosso torrão querido que abre suas portas para recebernos, a cada um, em nosso processo de aprimoramento espiritual.

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YVONNE A. PEREIRA - MÉDIUM E A FAMÍLIA ESPIRITUAL

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médium Yvonne do Amaral Pereira, nasceu a 24 de dezembro de 1906 município de Valença, Estado do Rio de Janeiro, hoje cidade de Rio das Flores, e desencarnou em 19 de março de 1984. É uma das personalidades mais importantes da história do Espiritismo no Brasil, portadora de uma mediunidade extraordinária, desde os vinte e nove dias de vida necessitou aprender a lidar com seu psiquismo, e as presenças espirituais em sua vida. Enfrentou a doença e os estados psíquicos perturbadores provocados pelas potencialidades anímicas e mediúnicas que lhe caracterizavam, atravessando toda a infância e a juventude em meio a interferências de desencarnados e recordações de sua encarnação anterior, que lhe provocavam tormentos, às vezes, insuportáveis. Assumira na espiritualidade sua tarefa mediúnica, e ao chegar aos caminhos terrestres entregou-se à Doutrina Espírita. Dedicou-se como poucos à causa do bem, exercendo com nobreza e abnegação que são própria aos Espíritos disciplinados, decididos a levar adiante os compromissos edificantes. Em seu livro Memória de um Suicida devassando as dimensões espirituais, revela ao mundo o sofrimento atroz que se instala na vida de quem opta pela fuga dolorosa mediante o suicídio. Sendo ela própria uma ex-suicida, a recepção mediúnica do livro constituiulhe, de certa forma, um sacrifício, porque ela fora obrigada a rever cenas de situações que havia vivenciado na erraticidade. No entanto, a obra tornou-se uma advertência de valor inestimável para os viajantes da vida física. Muitos dos quais certamente devem a esse livro o fato de terem-se afastado das consequências devastadores do autoextermínio. A própria médium Yvonne afirma que a publicação do livro não agradou aos Espíritos vampirizadores que no mundo espiritual exploram seres suicidas em regiões inferiores. Um dia estava saindo de casa e, ao abrir a porta, sentiu duas mãos vigorosas empurrando-lhe pelas costas. Sem conseguir se apoiar foi ao chão de forma desajeitada e quebrou o braço com o qual psicografou o livro. Ao olhar para cima, viu um Espírito com fisionomia retorcida e com o ar de ódio que disse-lhe: “Isso é para você aprender a não receber esse tipo de livro, que prejudica os nossos planos de dominação dos seres miseráveis que nós exploramos!”. Então entendeu o porquê da queda e do braço fraturado. Ela desejava casar-se construir uma família, o que não estava no seu programa espiritual porque na existência anterior houvera se suicidado por causa de uma tragédia

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familiar desencadeada por ela mesma em Portugal, no século XIX. Na ocasião, a morte prematura da sua filha de quase sete anos e o falecimento do seu marido trouxeram-lhe uma dor insuportável, uma vez que ela havia cometido o adultério que destruiu o próprio lar e precipitou as duas desencarnações. Dominada pelo remorso, a jovem portuguesa atirou-se na águas do Rio Tejo, morrendo afogada e experimentando todas as sensações angustiantes da imersão e da decomposição do cadáver. Ela trazia na memória espiritual as recordações desses episódios com lucidez impressionante, que incrementavam a sua dificuldade em permanecer com o psiquismo equilibrado para trabalhar na mediunidade. Sua infância e sua juventude foram assinaladas por sofrimentos inenarráveis, por causa da mente conturbada pelas lembranças amargas, que somente o Espiritismo conseguiu explicar para que obtivesse algum alívio já na fase adulta. Fatos tratados em seu livro Recordações da Mediunidade. Mas ela possuía amores que desejavam seu progresso espiritual, exemplo disso foi Charles, um Espírito protetor que havia sido seu pai por mais de uma encarnação, inclusive naquela existência em solo português, advertiu-a para o fato de que a solidão deveria ser o seu caminho na Terra, provação necessária para que aprendesse que o remorso pelos danos provocados à sua família jamais poderia justificar o desespero a que viesse a entregar-se, culminando com o gesto insano de tirar a própria vida. Por isso, nesta encarnação no Brasil, a nobre trabalhadora do Bem precisa aprender o respeito à vida por meio da renúncia e da entrega total ao amor fraterno. Certo dia, contrariando as orientações dos seus guias espirituais, Yvonne começou a estreitar laços afetivos com um rapaz. A aparente amizade foi-se dilatando até o ponto em que o jovem a convidou para um jantar, e assistir a um filme no cinema. Em dado momento após o jantar, Yvonne ficou surpresa com a presença do amigo espiritual Charles, e iniciou o dialogo psíquico, o rapaz do convite estranhou o fato de que ela não o seguiu, atravessando a porta para entrar na sala de projeção. Charles informa a Yvonne, que os Espíritos que se comprometeram com ela para o trabalho da mediunidade, para a tarefa de aprimoramento, e de renúncia que assumiste estão todos aqui. -- Portanto, quero dizer-te que teu compromisso de trabalho está finalizado, e aqui mesmo iremos despedirnos, caso continue com este ato impensado. A Médium se despede do amigo alegando que havia se esquecido


de uma costura a ser entregue urgente. Em o livro Recordações da Mediunidade, obra mediúnica orientada pelo Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, há relatos que durante a infância da Médium ela não reconhece como seu, o pai consanguíneo da atual vida física. Ela se recorda de outro pai, com outras vestes, a tal ponto de certa feita receber umas boas palmadas por não aceitá-lo como pai. Precisou ir morar com sua avó paterna até aos 11 anos de idade, pois a mãe de Yvonne não dispunha de cuidados especiais para tratar o psiquismo desequilibrado da filha. Durante toda a sua infância e parte da juventude, Yvonne registrara a presença de um Espírito que nutria por ela um grande amor. Ela o chamava Roberto de Canejas, nome que possuíra na sua última reencarnação. Quando nasceu em França e foi morar em Portugal, casando-se com ela. Esse espírito era exatamente o marido a quem havia traído, gerando a consciência de culpa e o desespero que culminaram no suicídio doloroso a que me referi. Em dado momento, deixa de visitá-la pois iria reencarnar. Reencarna, agora como o jovem esperantista com o qual Yvonne se correspondia, pois retornara ao corpo físico em terras distantes, o que não lhe permitia uma aproximação mais pronunciada do antigo afeto a quem não deveria vincular-se na atual existência, a benefício de ambos. Ocorre que o sentimento costuma trair-nos, precipitando-nos em situações

não programadas que podem comprometer os nossos melhores esforços de sublimação e de resgate. O afeto que se desenvolvia pela correspondência entre ambos era incontrolável. Yvonne foi advertida por Charles, informando-a de que não poderia encontrá-lo, visto tratarse precisamente do antigo esposo em nova roupagem corporal. Yvonne tentou sem sucesso dissuadir o amigo estrangeiro de realizar tal viagem ao estado do Rio de Janeiro para visitá-la, apresentando mil alegações como empecilhos que deveriam desestimulá-lo. Nada obstante, o jovem esperantista veio ao Brasil, procurando Yvonne no endereço que constava nas cartas recebidas. Ela se recusou em atendê-lo com o coração partido. A família informa ao pretendente que Yvonne viajara. Ele retorna para seu lar distante, muito triste. Um dia a médium recebe notícias do desencarne dele. Divaldo Pereira em seu livro, informa que desenvolvia certa feita uma palestra sobre a mediunidade e mencionava a vida de Yvonne, referindo-se à sua história secular ao lado de Roberto de Canalejas, e os dois se apresentaram à sua visão mediúnica, portadores de rara beleza Espiritual. Uma emoção peculiar invadiu-lhe o coração ao vê-los juntos, porque a cena era verdadeiramente comovedora. Estava de mãos dadas, mais apaixonados do que nunca e muito felizes por se unirem novamente, revivendo em seus corações os laços de amor que prosseguem revigorantes além do tempo. Deixou um legado composto por obras psicografadas da mais alta qualidade. Além disso, o seu amor às pessoas simples e aos Espíritos em sofrimento dão testemunho de que o compromisso espiritual assumido por ela foi honrado com todos os méritos possíveis, transformando-a em uma personalidade veneranda e atribuindo-lhe a condição de autêntica cristã, que conseguiu o mediunato.

Fátima Luísa Giro foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP 2011 e 2014. É expositora, escritora, palestrante e articulista espírita de revista e jornais.

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PROVAS DA EXISTÊNCIA DO CRISTO

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clima durante esse mês é temperado, uma mistura de inverno e verão. É a época em que as árvores que perderam as folhas no inverno ganham nova folhagem, quando cresce a grama e as flores desabrocham. A Primavera é também a época da morte e “ressurreição” do Messias esperado pelos hebreus. Aliás, Quaresma é uma antiga palavra inglesa que significa “Primavera” associada com o domingo de Páscoa, no hemisfério norte. Por isso, nosso assunto este mês de Setembro, é justamente louvar Jesus e a sua palavra, como foi transmitida pelo Codificador. Para começar, vamos citar os textos que falaram de Jesus na Antiguidade e os que a bondade de Deus preservou na Bíblia. Jesus viveu e ensinou em um lugar remoto, na periferia do Império romano. Sua vida teve curta duração, e o que se sabia dela permaneceu escondido para a maior parte de seus conterrâneos, porque ele não deixou nada por escrito. O que se pode afirmar a respeito do Jesus histórico depende, principalmente, dos Evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e também de João que refletem a imagem de sua fé em Jesus. Mas, entre as fontes não cristãs, destaca-se • o que diz o historiador Tacitus, da época de Nero, o imperador que provocou o incêndio de Roma e pôs a culpa nos assim chamados “cristãos”, que já eram odiados pelo povo. Tacitus escreve, explicando: “O nome “cristãos” é derivado de Cristo, que foi executado pelo procurador Pôncio Pilatos durante o reinado de Tiberius.” Tacitus não fala de Jesus, mas de Cristo (que é originalmente, o título religioso para “Messias”), Como se vê, o trecho só fornece provas da crucificação de Jesus como fundador de um movimento religioso e esclarece a opinião geral sobre aquele movimento considerado supersticioso em Roma. • Plínio, o Jovem, governador da Ásia Menor, em sua carta ao imperador Trajano (c. 111 D.C.) descreve os cristãos como adeptos de uma superstição crua e selvagem, e que cantavam hinos a Cristo “como se ele fosse um deus”. Mas nada é mencionado sobre sua vida terrena. • Outro historiador romano, Suetonius, narra em sua Vida do Imperador Claudius que Claudius expulsou os judeus, que estavam, por instigação de “Crestus”, causando contínuas perturbações, em Roma. Isso pode se 24

referir aos tumultos provocados pelos judeus de Roma com a divulgação do cristianismo entre eles, como lemos em Atos, 18:2, que conta a ordem de Cláudio para que todos os judeus saíssem de Roma. • Por fim, no Talmud, um compêndio da lei judaica, demonstrando conhecimento da tradição cristã, a figura de Jesus aparece nesses escritos assim: Esse Jesus (em hebraico, Yeshu) fez mágicas, ridicularizou os sábios, seduzia e incitava o povo, juntou cinco discípulos, e foi crucificado na noite de Páscoa. Assim, essas narrativas independentes provam que, até nos tempos antigos, nem mesmo os opositores do cristianismo jamais duvidaram da existência de Jesus, como tem ocorrido em várias épocas. Mas o mais espantoso documento continua sendo o que escreveu o profeta Isaías – também na longínqua antiguidade, mais de 700 anos Antes de Cristo. Isaías, geralmente considerado como o maior de todos os profetas bíblicos, teria nascido em Jerusalém por volta do ano 760 a.C., sendo homem de muita cultura. A sua mediunidade profética revelou-se por volta do ano 742 a.C. No antigo testamento, encontramos a seguinte profecia no Livro de Isaías, capítulo 53 – versículos de 1 a 12: “O povo diz: “Quem poderia crer naquilo que acabamos de ouvir? Quem diria que o Senhor Deus estava agindo? Pois o Senhor quis que o seu criado aparecesse como uma plantinha que brota e vai crescendo em terra seca. Ele não era bonito nem simpático, nem tinha nenhuma beleza que chamasse a nossa atenção ou que nos agradasse. Foi rejeitado e desprezado por todos e suportou dores e sofrimentos sem fim. Era como alguém que não queremos ver; nós nem mesmo olhávamos para ele e o desprezávamos. No entanto, era o nosso sofrimento que ele estava carregando, era a nossa dor que ele estava suportando. E nós pensávamos que era por causa das suas próprias culpas que Deus o estava castigando, que Deus o estava maltratando e ferindo. Em vez disso, ele estava sofrendo por nossos pecados, estava sendo castigado por causa das nossas maldades. Nós fomos curados pelo castigo que ele sofreu e estamos curados pelos ferimentos que ele recebeu. Todos nós éramos como ovelhas que se haviam perdido; cada um de nós seguia o seu próprio caminho. Mas o Senhor castigou o seu criado e fez que ele sofresse o castigo que nós merecíamos. Ele foi maltratado, mas aguentou tudo humildemente e não disse uma só palavra. Ficou calado como um cordeiro que vai ser morto, como uma ovelha quando cortam a sua lã. Foi preso, condenado e levado para ser morto, e ninguém se


Pintura Mediúnica da FEESP. Médium Alberto Augusto Goi. Tela pintada durante o programa de TV da FEESP UM Sentido para Sua Vida #77

importou com o que ia acontecer com ele. Foi expulso do mundo dos vivos, foi morto por causa dos pecados do nosso povo. Foi sepultado ao lado de criminosos, embora nunca tivesse cometido crime nenhum nem tivesse dito uma só mentira. O Senhor Deus diz “Eu quis maltratá-lo, quis fazê-lo sofrer. Ele ofereceu a sua vida como sacrifício para tirar o pecado e por isso terá uma vida longa e verá os seus descendentes. Ele fará com que o meu plano dê certo. Depois de tanto sofrimento, ele será feliz; por causa da sua dedicação, ele ficará inteiramente satisfeito. O meu servo não tem pecado mas sofrerá o castigo que muitos merecem e assim os pecados deles serão perdoados. Por isso, eu lhe darei um lugar de honra e ele receberá a sua recompensa junto com os grandes e os poderosos. Pois ele deu a sua própria vida mas foi tratado como se fosse um criminoso. Ele levou a culpa dos tudo, limitando-se, com respeito a muipecados de muitos e orou pedindo que eles tos pontos, a lançar o gérmen de verdades fossem perdoados.” que, segundo ele próprio declarou, ainda não podiam ser compreendidas. Falou de Assim, Allan Kardec explicou tudo, mas em termos mais ou menos sua existência dessa profecia, no O bentendidos. Para ser compreendido o sigEvangelho Segundo o Espiritismo, nificado oculto de algumas palavras suas, no Cap. 1 – Não vim destruir a Lei seria necessário que novas idéias e novos – O Cristo: conhecimentos trouxessem a chave, quando o espírito humano houvesse alcançado um “O papel de Jesus não foi o de um sim- certo grau de maturidade e a Ciência tinha ples legislador moralista, tendo por única ainda de contribuir poderosamente para o autoridade a sua palavra. desenvolvimento dessas idéias.” Precisava cumprir as profecias que o anunciaram, a autoridade lhe vinha da É o que estamos começando a natureza excepcional do seu Espírito e da conhecer, porque o nosso atraso é sua missão divina. Ele viera ensinar aos bem grande. E esse atraso é comhomens que a verdadeira vida não é a que provado facilmente quando ainda transcorre na Terra e sim a que será vivida neste século, entre as “novidades” no Reino dos Céus para a realização dos da nossa época alguns têm tomado a destinos humanos. Entretanto, não disse liberdade de alterar a principal men-

sagem de Jesus, a que ele classificou de toda a lei e os profetas: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Amar o próximo faz parte da nossa natureza, mas, antes de amar o próximo falamos em amar a nós mesmos ou ao próximo mais próximo para facilitar o cumprimento da ordem de Jesus neste planeta ainda no início do seu desenvolvimento, embora isso não tenha base alguma nas palavras de Jesus e, menos ainda, no lema do Espiritismo, “Fora da Caridade não há salvação.” O amor a si mesmo é recomendado pela Bíblia? Na verdade, o amor a si mesmo pode ser reconhecido pela Bíblia como verdadeiro e existente. Mas não é recomendado pela Bíblia. Esse esclarecimento, além de ser kardecista, é encontrado nas comunicações de Emmanuel, André Luiz, Irmão X, Chico Xavier e muitos outros Espíritos em suas comunicações. E acrescentamos, respeitosamente, além desses, o nome de Cairbar Schutel, nascido em Setembro de 1868, que nos deixou inúmeros exemplos desse amor imparcial, um exemplo a ser seguido por todos nós. Ele é conhecido ainda hoje, entre os espíritas como o Bandeirante do Espiritismo. Cairbar de Souza 25 O SEMEADOR Internacional


Schutel foi um dos maiores vultos do Espiritismo brasileiro. Tornou-se incansável propagador da Doutrina Espírita, conseguindo realizar uma obra das mais admiráveis, revelando uma atividade sem par e uma fé inquebrantável com o lema “Fora da Caridade não há Salvação”, pois sua preocupação em ajudar os pobres, mesmo desconhecidos, ganhou o auxílio de Espíritos evoluídos que o incentivaram a vários projetos. A 15 de julho de 1905 fundou o “Grupo Espírita Amantes da Pobreza” (atual Centro Espírita O Clarim), que, entre muitas atividades, anos depois, também revelou ao mundo mais uma obra de Allan Kardec – “Viagem Espírita em 1862”. No mês seguinte, fundou o jornal espírita “O Clarim” em formato pequeno, que logo se ampliou, atingindo, no século XXI, a tiragem de 10.000 exemplares. Em 1912, era conhecido como o “Pai dos Pobres de Matão” tendo fundado um pequeno hospital de caridade, para atender aos doentes pobres. Dois anos mais tarde, em 1914, começou a visitar os presos na Cadeia Pública de Matão, onde era chamado sempre que algum detento era acometido de surto psicótico. Dentro dessa linha, em 1917 estendeu as visitas aos detidos na Cadeia de Araraquara, onde até proferia palestras. A 15 de fevereiro de 1925, fundou com o auxílio moral e material de um amigo, Luiz Carlos de Oliveira Borges, a Revista Internacional de Espiritismo, publicação mensal dedicada aos estudos dos fenômenos anímicos e espíritas. Sabia ser amigo dos que viviam à margem da vida. Sempre feliz no seu receituário, transformou-se em autêntico Médico dos pobres e Pai da Pobreza de Matão, pois receita26

Cairbar Schutel

va e dava gratuitamente os remédios. Sua residência tornou-se numa espécie de Casa dos Pobres, saindo dali diariamente muita gente carregando embrulhos de mantimentos, roupas e até lenha. O sentimento de amor ao próximo, fosse quem fosse, tinha em Cairbar um modelo digno de ser imitado. Atos de desprendimento e de renúncia eram coisas comuns para ele. No período de 19 de agosto de 1936 a 2 de maio de 1937 proferiu, aos domingos, as conhecidas quinze “Conferências Radiofônicas”, através da Rádio Cultura PRD – 4, de Araraquara, publicadas em livro também no mês de setembro de 1937. Mas, após curta enfermidade, faleceu vítima de um aneurisma cerebral, desencarnando na cidade de Matão, Estado de São Paulo, no dia 30 de Janeiro de 1938. Foi recebida uma comunicação sua através do médium Urbano de Assis Xavier. Ele próprio sugeriu a seguinte frase para o seu túmulo: “Vivi, vivo e viverei porque sou imortal”.

Alceu Nunes foi conferencista do Congresso Espírita da FEESP 2011. É expositor, escritor, palestrante e articulista espírita de revista e jornais.


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