Revista Mais Contexto - 7

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REVISTA

MAIS CONTEXTO EDIÇÃO 07

MODOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS


Passamos décadas sem perceber que o poder de mudar o mundo está em nossas mãos e é cada vez mais convincente que as atitudes que temos são capazes de influenciar diretamente no universo como um todo: o meio ambiente é o reflexo do que fazemos e os resultados não demoram a chegar. A iniciativa de reformar o nosso estilo de vida é a válvula de escape para um cenário cada vez mais preocupante e que, por instantes, parece não ter solução. Quando paramos para repensar as ações que tomamos e que estão relacionadas a aspectos como alimentação, saúde e lazer, por exemplo, podemos enxergar que sempre existem alternativas sustentáveis e que fazer delas uma prioridade é o primeiro passo para a mudança. Há sempre uma nova maneira de se alimentar melhor, de consumir menos e de ocupar o meio em que vivemos pensando em como recompensá-lo com atitudes conscientes que, inclusive, aumentam nossa expectativa de vida e tornam a nossa rotina mais leve. Seja na educação, na agricultura, no setor do trabalho ou na simples roda de conversa, é preciso ter voz para compartilhar dicas e soluções que, quando adotadas em conjunto, tomam força e mudam o futuro de pouquinho em pouquinho. Pensando nisso, a sétima edição da Revista Mais Contexto traz a temática “Modos de vida sustentáveis” e te convida a mergulhar num contexto que envolve artigo de opinião, resenha, reportagens e até mesmo dicas para a produção de produtos sustentáveis como forma de consumir pensando no amanhã. Vamos conferir? Juliana Melo Diretora de Reportagem


Direção de diagramação: Clarissa Martins Diagramadores: Adele Vieira; Andressa Carvalho; David Rodrigues; Isabela Ferreira; João Paulo; Karla Fontes; Leandro Pereira; Lourdes Morante; Maria Gabriela; Marcos Henrique; Williany BSouza Direção de fotografia: Marcel Andrade Fotógrafos: Evandro Santos; Pedro Neto; Junio Tavares; Luara Pereira; Wesley Pereira; Ana Lúcia

EXPEDIENTE

Universidade Federal de Sergipe Campus Professor José Aloísio de Campos Av. Marechal Rondon, s/n, São Crisóvão, SE Orientação: Prof. Dra. Michele Becker Projeto gráfico/Layout: Matheus Brito Capa e ilustrações: Arianne Macena, Rose Bonifácio, Vinícius Deda Menezes (MEDEVI) Direção de reportagem: Juliana Melo Repórteres: Aline Wilma; Anneli Rodrigues; Carlos Vitor; Carluz Lima; Gonçalo de Oliveira; Labely Conselho; Matheus do Carmo; Tailane Noronha; Tainah Quintela

7ª EDIÇÃO

A Revista Mais Contexto é um produto laboratorial desenvolvido na disciplina de Laboratório em Jornalismo Impresso II, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O conteúdo veiculado é produzido pelos alunos e serve como pré-requisito parcial para conclusão da referida disciplina. Freepik 3 SUMÁRIO MAIS CONTEXTO


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U

M Á R O

MAIS CONTEXTO SUMÁRIO 4

I


6 NASCE UM AMIGO DA NATUREZA 14 A HARMONIA E O EQUILÍBRIO DO SER HUMANO COM O CAMPO 16 SEM CARTEIRINHA E COPO PRÓPRIO, NÃO COME 19 COLETOR MENSTRUAL E O UNIVERSO FEMININO 20 SUSTENTÁVEL FRANCISCO (OU QUASE ISSO) 22 PANC 32 O RETORNO DA VIDA E DAS CORES ATRAVÉS DA SINTROPIA

REDES SOCIAIS ESTIMULAM MUDANÇAS DE HÁBITO 36 BIKE ANJO: SEGUINDO O CURSO DAS GRANDES CIDADES 38

TINHA GOSTO DE PERFUME 40

VOCÊ LIMPA COM O QUÊ? 42 POLUIÇÃO DE RIOS E SEUS IMPACTOS NOS MANGUEZAIS 44 MUDA O MUNDO 46 DE FÉRIAS? 49


Nasce um

amigo

da

natureza

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL INFANTIL COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE MUDANÇAS DE HÁBITOS Por Labely Rairai | labelyrai@gmail.com

A

infância é um solo fértil. Mãos na terra, olhos atentos e curiosos. Uma sementinha, água, luz e muito cuidado com a natureza. Para participação em todo ciclo da vida, desde o plantar até o colher, é preciso paciência e os nutrientes necessários para que a semente possa germinar e dar bons frutos. Despertar a consciência acerca das questões ambientais na infância, incentivando mudanças de comportamentos e estilo de vida desde a primeira fase da vida também é assim, como plantar a sementinha da responsabilidade e esperar que ela faça brotar novos hábitos. É assim que nasce um amigo da natureza, afinal, podemos sim plantar um “pé de chocolate” ou até dois, pois no coração da natureza sempre cabe mais um e seja de qual espécie for, cada canto vivo faz toda a diferença.

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É durante a infância que estamos mais propensos a inúmeras experiências de descobertas. A educação desempenha um papel fundamental no processo de desenvolvimento dessa fase. Através dela é possível o contato com atividades que possibilitam a aprendizagem de conceitos e valores, bem como o desenvolvimento cognitivo e emocional, sendo uma ferramenta única de construção do ser. É deste modo que observamos a importância da inserção da educação ambiental como estratégia no processo de ensino infantil, sendo essencial desde a fase inicial, em que a criança começa a se reconhecer enquanto ser social. Instituída pela Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº. 9.795/1997), a Educação Ambiental é um instrumento de sensibilização. Além de atrativo e envolvente, o ensino inserido no cotidiano de escolas de Educação Infantil – assim como projetos voltados para a conscientização acerca das questões ambientais ainda na infância –, possibilita a utilização de práticas pedagógicas lúdicas que são alternativas ao ensino tradicional, proporcionando uma didática prazerosa e eficiente na aprendizagem infantil, além de uma maior absorção, o que tem gerado resultados satisfatórios. O contato com essas experiências são determinantes no que diz respeito à aprendizagem de valores e conceitos relacionados à conscientização ambiental, promovendo o desenvolvimento da percepção de responsabilidade enquanto ser social e estimulando a adoção de hábitos sustentáveis, bem como a formação de características comportamentais que acompanham o indivíduo durante toda a vida.

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Labely Rairai e Wesley Pereira

Projeto Coração da Natureza Na Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Professora Áurea Melo Zamor, localizada no Conjunto habitacional Orlando Dantas, em Aracaju, coordenação e professores se mobilizaram na construção de uma escola mais verde, e tanto as crianças como a comunidade abraçaram a ideia. De sementinha em sementinha as práticas educacionais voltadas para as questões ambientais passaram a ser cada vez mais frequentes e hoje fazem parte do projeto político-pedagógico da instituição, o que tem gerado bons frutos, literalmente. Dentre as ações constantemente realizadas estão projetos de conscientização quanto ao uso da água e o plantio de mudas frutíferas dentro da própria escola, dando vida a áreas antes inutilizáveis – o que pode ser facilmente observado por quem visita a instituição de ensino. Para a diretora da EMEI, Isabella Santana, o despertar da consciência de preservação deve acontecer desde cedo e a fase da infância é o melhor momento para isso, visto que, as crianças tendem a possuir facilidade em aprender – absorvendo, reproduzindo e compartilhando conhecimento, o que é fundamental. E é exatamente essa a intenção da instituição. “A educação ambiental na escola é de extrema importância. É a partir daqui que eles vão retirar todo o conhecimento, encantamento e sentimento de cuidar que eles devem ter pela natureza. É essencial que eles entendam isso desde cedo, essa base aqui é tudo. A gente planta uma sementinha ali”, ressalta Isabella.

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“Como plantar um pé de chocolate?”

“Se o caju vem do cajueiro, a manga da mangueira e o abacate do abacateiro, o chocolate, de onde vem?”. Questionamento que em algum momento de nossas vidas todos nós fizemos. E foram essas e outras dúvidas das crianças em sala de aula que despertaram na professora Sandra Maria Xavier a necessidade de levar para os pequenos práticas que pudessem proporcioná-los a interação com o meio ambiente. O projeto Coração da Natureza nasceu de uma experiência que tinha como objetivo inicial resgatar a prática popular nordestina de plantar milho e feijão durante as épocas chuvosas do ano. Foi então que a professora percebeu que os alunos não sabiam de onde vinham os alimentos que consumiam – desconheciam todo o processo de produção existente até o alimento chegar à mesa. Com força de vontade e muita criatividade, Sandra expandiu um projeto de sala de aula para toda a escola e comunidade – iniciativa que hoje faz parte do projeto político-pedagógico da instituição.

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De 2009 para cá, não parou mais. Utilizando materiais recicláveis como caixas de leite transformadas em vasos para plantas, os alunos cultivam feijão, milho, girassol, além das experiências de plantio no solo. Mangabeira, aceroleira, cajueiro, goiabeira e até um abacateiro para a boneca Emília – porque o Ipê Amarelo é a árvore do Saci, o que deixou a Emília um pouco enciumada –, e claro, um pé de cacau, foram ocupando e dando vida a espaços antes cobertos por capim.

Ilustração: Williany BSouza

“Nós sempre estamos plantando. É importante compreender que a criança precisa do contato com a natureza para que possa entender a importância dela na nossa vida. Isso é indispensável para o desenvolvimento cognitivo e emocional. Assim, nós desenvolvemos valores de responsabilidade, do cuidar. Hoje ensinamos a cuidar de uma planta. Amanhã, quem aprende a cuidar de uma planta, pode cuidar de pessoas”, afirma a educadora que trabalha com educação infantil há 12 anos.

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Ascom/Canto Vivo

Instituto Canto Vivo Reflorestar. Plantar árvores na cidade, no interior, onde pudesse plantar. Era esse o objetivo de Sr. Albino há 15 anos atrás. Mas, como plantar árvores se as pessoas não entendem porque precisamos plantá-las? Foi desse questionamento que nasceu a ideia do Instituto Canto Vivo. A partir da necessidade de conscientização através da educação ambiental que o projeto se concretizou. E foi na educação de base que Albino Neto e Cristiane Nogueira, ativistas ambientais e idealizadores do projeto, viram um solo fértil para plantar a ideia da responsabilidade com a natureza, já que encontraram muita resistência por parte dos adultos. Além da distribuição de sementes para o reflorestamento e a realização de projetos educacionais e ambientais tanto em Sergipe quanto em outros estados, o instituto realiza palestras, ações e campanhas de conscientização em escolas de educação infantil, e os resultados têm sido muito satisfatórios. “A gente faz o trabalho na raiz, afinal, é ela que sustenta a planta”, explica Albino. Segundo Cristiane, a educação ambiental é fundamental para promover mudanças de conceitos, pois sabemos que a tarefa de desconstruir ideias não é fácil. E a melhor fase para isso é durante a infância, afinal é nela em que a crianças estão abertas às informações, e aproveitar a receptividade e alegria delas para ensinar coisas boas é indispensável. “Ministrei muitas palestras em escolas, falando sobre o meio ambiente, sobre a necessidade de cuidar do nosso planeta, da nossa casa. Falei muitas vezes em salas cheias de crianças barulhentas que paravam para me ouvir quando eu pegava o microfone. ‘Estou chamando vocês para a responsabilidade, porque nós temos um compromisso com a nossa casa, o planeta, temos que cuidar dele. Precisamos fazer nossa parte’. Fiz muito isso, não me arrependo e quero fazer muito mais. A educação de base é muito gratificante”, evidencia. Para Cristiane, o mais importante é o espírito de equipe, usado muitas vezes para driblar algumas dificuldades. “Às vezes nós só tínhamos dez árvores para plantar na área da escola e 50 crianças para fazer isso. Era uma loucura porque todas querem ser pais e mães daquelas árvores, todas querem ajudar no plantio. Muitas vezes só dava tempo da criança chegar com um punhado de areia. Daí ela olhava para mim e dizia, ‘tia, mas eu plantei, né?’, e eu respondia, ‘plantou sim, ela também é sua’”.

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Agricultura familiar .. a harmonia e equilĂ­brio do ser humano com o campo Tailane Noronha | tainoronha@hotmail.com

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Evandro Santos

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início de uma tarde chuvosa de inverno no Curralinho, no interior do Sergipe. O cheiro da terra molhada lá fora se mistura aos aromas da cozinha da família do Carmo, fogão a lenha e rede na varanda, entre labaredas e sorrisos o almoço carinhosamente vai sendo preparado. É nesse clima de aconchego familiar que sou recebida pela família de agricultoras do Carmo, mãe e filhas se dividem nas tarefas da terra onde vivem e tiram seu sustento. Assim como a família do Carmo, inúmeras famílias sobrevivem dessa relação profunda com a terra. A agricultura familiar corresponde a cerca de 70% dos alimentos consumidos em todo país, sendo essa a principal responsável pelo alimento que chega às mesas das famílias brasileiras. O pequeno agricultor tem um papel importante na cadeia produtiva que abastece o mercado: feijão, mandioca e milho são alguns dos alimentos que têm forte presença na produção da agricultura familiar. O milho carinhosamente cozido pelas mãos da dona Josefa Maria, 89, a “voinha”, é produzido e colhido na própria plantação. Na propriedade, além do milho, feijão e fava, a família cria aves e bovinos. Todo processo de produção é orgânico e manual, o que garante o fornecimento de alimentos orgânicos saudáveis com mais sabor e maior durabilidade, sem o uso dos agrotóxicos.

A preparação do doce de coco é feita cuidadosamente e com muito amor.

Os cuidados com a alimentação e criação das aves poedeiras, criadas soltas, são de Maria das Dores, 49, a “Sick”. Todos os dias ela coleta cerca de 50 ovos orgânicos entre brancos e vermelhos que são vendidos para clientes fixos em Lagarto e Salvador. A alimentação das aves é totalmente orgânica e é feita com farelos de coco, milho e farinha de mandioca. A divisão de tarefas fica a critério daquilo que cada uma mais gosta. A união da família faz tudo caminhar em perfeita harmonia. Exemplo valioso da harmonia e equilíbrio do ser humano com o campo, onde a produção familiar não é apenas uma fonte de renda e sim um jeito simples de viver e ser feliz. Esse tipo de produção tende a crescer cada vez mais e, em sua maioria, provém de grupos familiares que tiram da terra seu sustento, preservando o solo fértil, proporcionando a sobrevivência da sua família e fortalecendo a harmonia do homem com a terra. Dessa forma, ao consumir esses alimentos, cuja produção vem majoritariamente da agricultura familiar, o consumidor contribui a diminuir a desigualdade colaborando para uma sociedade que oportunize os pequenos agricultores.

Evandro Santos

Evandro Santos

Voinha orgulhosamente me mostra a plantação de couve verdinha que ela mesma plantou e conta que logo cedo pega a enxada para cuidar das hortaliças. Sorridente, me mostra o tamanho da folha da couve plantada apenas com o amor e, logo, se prontifica a partilhar da sua produção.

daquilo que produzem. As encomendas já têm destino certo e são levadas por ela mesma a Lagarto para clientes fiéis a sua produção.

Ao assumir essa postura mais responsável, os resultados surgem não só na saúde humana, mas também no meio ambiente, como o sistema de manejo é mínimo, a produção assegura a estrutura e a fertilidade dos solos, evitando a degradação e promovendo a restauração da biodiversidade local. A junção desses fatores contribui para que a agricultura orgânica proporcione a sustentabilidade da agricultura familiar, aumentando a propensão dos ecossistemas nos quais esses alimentos são produzidos.

O doce sendo preparado por Dona Maria de Fátima no fogo a lenha.

O doce de coco retirado na hora, feito pelas mãos da dona Maria de Fátima, 60, a “Fatinha”, fazia qualquer um se lambuzar só em olhar. Talentosa no que faz, Fatinha se divide entre o cuidado com o capim dos animais, a produção de biscoitos e doces feitos com muito carinho

Dona Maria de Fátima, sorridente, fazendo o doce de coco. 15 ECONOMIA MAIS CONTEXTO


Campanha Resun Sustentável Objetivo: sem carteirinha e copo próprio, não come. Fotos e texto: Junio Tavares, Luara Pereira, Marcel Andrade, Pedro Neto

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campanha “Resun Sustentável” surgiu como um trabalho da disciplina de Introdução à administração, lecionada pela professora Flávia Pacheco do Departamento de Secretariado Executivo. A turma foi dividida em grupos, e cada equipe ficou responsável por uma ação. Segundo a aluna de Secretariado Executivo, Luciana Marques, 26, líder do grupo responsável pela campanha, em uma das aulas, a professora convidou o Movimento Socioambiental Aracaju Lixo Zero, que realizou uma palestra conscientizando os alunos sobre questões ambientais. A partir dessa aula, o grupo desenvolveu a ideia da campanha e recebeu apoio de Lázaro Sandro de Jesus, servidor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) no Departamento de Secretariado Executivo e um dos fundadores do Aracaju Lixo Zero. Com a decisão sobre a temática do trabalho, os integrantes do grupo foram atrás de dados que revelassem a quantidade diária de copos descartáveis utilizados no Restaurante Universitário (Resun). “Nos foi passado que o Resun usava em média sete mil copos por dia e que aqui no estado não havia empresas que reciclassem. Nem nos estados vizinhos”,

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um questionário com três perguntas e levaram a campo, conseguindo entrevistar mil e duzentos discentes. A aluna líder do grupo ressalta a importância do professor de estatística, Eduardo José, que segundo ela, foi primordial na etapa de levantamento de dados. Eles entrevistaram também os funcionários terceirizado do Resun e o diretor responsável pela parte externa. Luciana informa que o grupo não enfrentou dificuldades em contatar os entrevistados, os quais foram bastante receptivos à ideia.

comenta a aluna. A partir da escolha do tema, o grupo traçou um plano para o projeto. Primeiramente, buscou-se atualizar os dados, e verificar se a informação repassada de que sete mil copos são usados diariamente no resun era verídica. Após comprovar os dados, os alunos criaram

O questionário respondido pelos mil e duzentos alunos da UFS continha três perguntas. A primeira questionava se eles tinham conhecimento se os copos do Resun eram reciclados, a segundo questionava o tempo que leva para decomposição dos recipientes e a terceira se eles adotariam a prática de levar o próprio copo de casa. Após responderem o questionário, muitos alunos ficaram impressionados quando souberam que os descartáveis utilizados no Resun não eram reciclados. Nas entrevistas, constatou-se que 2,5% dos alunos já levavam seus próprios copos.


O plano inicial do grupo era simplesmente entregar o trabalho da disciplina até o dia 30, mas no decorrer dos dias, os alunos responsáveis pela campanha descobriram que já existiam outros discentes na universidade que trabalhavam com o mesmo objetivo. Alunos de administração, biologia, engenharia ambiental e engenharia de pesca, além dos integrantes do Movimento Aracaju Lixo Zero, que também trabalham com o mesmo intuito. Após criarem um grupo no Whatsapp, os alunos se reuniram e debateram

também sobre as licitações feitas pelos Departamentos da universidade a cada seis meses, as quais demandam uma grande quantidade de copos descartáveis. Com isso, um dos objetivos futuros da campanha é levar uma proposta para o Reitor, e para a pessoa responsável pelas licitações da UFS, mostrando os dados da pesquisa realizada com os mil e duzentos alunos da universidade, além de dados de outras instituições que já aderem a essa prática.

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Durante a campanha, os materiais usados, como os cartazes e as faixas, foram reutilizados. Os alunos coletaram caixas de papelão, banners, e faixas que já existiam e que iam pro lixo. Utilizando o verso, eles escreveram mensagens sobre as quantidades diárias de copos usados, dos danos causados à saúde e principalmente informando que os descartáveis não eram reciclados. Posterior a isso, os discentes conversaram com a nutricionista do Resun, Romilda, e recolheram no final do expediente da janta, aproximadamente dois mil copos, que foram empilhados e expostos no resun. A campanha realizada se dividiu entre dois momentos: alguns dias os alunos apresentaram os impactos do uso de descartáveis e em outros foram apresentadas as alternativas de uso. Os estudantes também receberam apoio da Diretoria de Tecnologia da Informação (DTI), que criou um vídeo mostrando os impactos do uso de copos descartáveis. O curta foi exposto no restaurante da universidade, e informou que em dez meses, é gasto em média um milhão e meio de copos apenas no Resun. Durante a campanha, outra questão enfatizada foi a importância de usar tampas de potes para o descanso da sobremesa, prática que evita o uso de guardanapos. Já nos primeiros dias da campanha, o grupo criou uma conta no Instagram e os números impressionaram, 120 seguidores em um dia. Para Luciana Marques, os integrantes do trabalho perceberam a receptividade dos alunos, quando eles começaram a perguntar e tirar dúvidas. Ela ainda comenta que os alunos precisam priorizar o uso do copo próprio. “Se nós conseguirmos chegar ao objetivo final, que é eliminar o uso de copos de plástico, o aluno vai ter que dar prioridade ao copo reutilizável, da mesma forma que ele dá prioridade levando a carteirinha”. Além dos alunos, muitos professores e alguns servidores parabenizaram a iniciativa e aderiram à campanha.

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Coletor menstrual e o universo feminino E

m 2016, participei de um evento em referência ao dia internacional da mulher, com foco em assuntos relacionados ao universo feminino. Fui apresentada a vários assuntos voltados ao autoconhecimento, cuidados vaginais, além de várias trocas com outras mulheres de idades distintas e um dos assuntos que despertou minha curiosidade foi o coletor vaginal. Lembro de ser questionada da minha relação com a lua (referência ao período menstrual) e fiz um desabafo de como era desconfortável sangrar: o odor desagradável e a sensação de nojo sempre que ia fazer a troca do absorvente.

Contei também que tinha suspendido a menstruação com o uso contínuo da pílula anticoncepcional. Depois do desabafo, fui bombardeada com informações sobre a importância do sangrar e de formas alternativas ao uso do absorvente e a partir desse dia fui buscando conhecimento sobre cuidados com o meu feminino.Fui envolvida em assuntos como yoga e meditação, focando em posturas que despertam a sexualidade; banhos vaginais com ervas e chás de limpeza. Logo após o evento, fiz a compra do coletor num site indicado na oficina de autocuidado vaginais, comecei a usar no ciclo de maio de 2016 e depois disso a minha relação com a

menstruação foi transformada. Quanto ao uso do coletor as melhorias foram significativas, em vários aspectos, mas primeiramente na questão financeira: o coletor, já com frete, ficou no preço de R$65,00, sendo que o coletor tem uma vida útil de 10 anos (120 meses), saindo com um custo mensal de menos de 60 centavos. Já o custo mensal do absorvente era de R$ 8,00, ou seja, uma grande economia. Na questão ambiental, eu usava em média 16 unidades de absorventes por mês e, contabilizando os 27 meses que passei a usar coletor, deixei de usar 432 absorventes. Imagine o impacto que minha mudança de hábito causou na diminuição da geração de lixo no planeta Terra e imagine também se outras mulheres aderissem a essa prática. No aspecto da vida prática, as melhoras vão desde a usar biquínis tranquilamente no período menstrual, não ficar preocupada se o absorvente vazou e até mesmo se sujou a calça. No aspecto íntimo, acabou o cheiro ruim – confirmando que meu sangue não fede - passei a tocar meu corpo, sentir meu cheiro, preparar banhos e chás de cuidados íntimos. Enfim, recomendo outras mulheres a experimentar, principalmente, como forma de descobrir novos cuidados com o próprio corpo.

Ilustração: Rose Bonifácio

Encerrando, deixo o trecho de uma música que gosto: “E um homem não me define, minha casa não me define, minha carne não me define, eu sou meu próprio lar...”

Por Clara Letícia, 24 anos, leonina, feminista e de esquerda.

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Adriana, filha do meio, não sabia mais quais argumentos usar para fazer o pai caminhar mais, ou quem sabe pedalar um pouco, se não quisesse demorar tanto no percurso. Eram quatro bicicletas dentro de casa, mas apenas uma tinha visto o camarada Francisco de perto. Uma vez. Logo depois de comprada. E só! Exercícios ele fazia na academia do condomínio; a qualidade de vida era abençoada por uma alimentação saudável, tempo para a família, viagens, etc... Talvez um modo de vida mais sustentável e a preocupação com a natureza pudessem amolecer um pouco o coração motorizado do Francisco. “Já contribuí pra aquele Greenpeace umas três vezes, até!”, argumentou. Não fazia caso. Não tinha jeito. E por falar em proteção ao meio ambiente, certo dia parte da família foi a uma dessas lanchonetes de uma grande rede de fast food. Sim, mas só iam de vez em quando. Favor não pensar que aquele modo de vida era o comum da família, ora essa! Quando o mais novo lhe trouxe a bandeja com o seu pedido, reparou que não havia canudo junto ao copo. Como beberia seu refrigerante?! “Fabinho, o rapaz esqueceu de colocar o canudo. Pega lá um pro seu pai, por favor...” E depois de toda a explicação do caçula sobre as novas orientações que alguns estabelecimentos comerciais estavam seguindo para ajudar a natureza, os animais, a fauna, a flora e etc, etc e mais um etc... O Franciscão não hesitou “Certo! É justo. Mas vocês três ficam sem, o meu não fará diferença. Pega lá, filho.” “Mas, pai!” “Estou com sede, criatura! Da próxima vez eu deixo, prometo.” De fato, que dificuldade seria beber um refrigerante da mesma forma que bebe água todo santo dia! Complicado, muito complicado. Deixa pra próxima. Separar o lixo era outro caso interessante que o fazia se justificar da forma mais sintética possível: sumiram com a caixa coletora que havia na praça. Paciência. Para outras questões, era até um entusiasta. O próprio caso do canudo lhe trazia admiração. Controlava o consumo de enlatados e de recipientes de vidro. E, como saúde é fundamental, adorava

comer frutas. E adorava ainda mais a praticidade das que já vinham cortadas e embaladas nos potes. É. Quase tira uma boa nota. Nos finais de semana, costumava deixar o carro no lava jato. Mas o novo possante não iria, jamais, ao menos por enquanto, ficar nas mãos de outra pessoa. A lavagem só poderia ser feita por ele. E fazia como muito gosto e dedicação durante umas duas horas, mais ou menos... Haja água escorrendo pela mangueira. “Tem que ser completa. Tem que ficar sempre novinho, assim.”, explicava. Em sua defesa, contam que o próprio banho não era tão demorado, apesar de o chuveiro elétrico estar sempre ligado na posição número dois, pelo menos. Mas ele estava mudando a sua consciência ambiental para melhor. A última do Francisco foi querer montar uma pequena horta em sua própria casa. “Será uma terapia, quando eu me aposentar”. Afinal, será ótimo poder plantar, cuidar, colher e comer a própria comida. Ou, parte dela. Não é uma cena que possa imaginar, partindo do grande Chico, que sempre gostou de facilidade na hora de comer. No entanto, há de se dar um crédito. O local para a sua mini horta já estava até reservado no jardim da casa. Aliás, sua esposa Suzana não tinha gostado da ideia de dividir o espaço das suas lindas plantas decorativas com os pés de alface, cenoura, coentro, salsa, cebola, cebolinha, alho e afins. “Sei que é por uma boa causa, mas vai apertar o jardim todo.” E já fazia tempo que não nos víamos, quando me convidou para um café da manhã em sua casa, semana passada. “Não se atrase. Temos muita coisa para conversar.” Chegando cinco minutos antes da hora marcada, não o encontrei em casa. Mas antes que eu pudesse perguntar sobre o paradeiro do distinto senhor, o próprio entrou pela garagem e saltou do lindo carro, como um raio. “Meu amigo, chegou cedo! Vamos comer! O pão acabou de sair, está quentinho! Quer café? Comprei uma máquina automática. Sabe aquelas de cápsulas?...”

HOTEL

PADARIA PÃO AZEDO

BANCO

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P A N C T E X T O: WESLEY PEREIRA FOTOGRAFIA:

WESLEY PEREIRA, ANA LÚCIA ANDRADE E EVANDRO SANTOS

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C

riado pelo biólogo Valdely Knupp, o termo PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais – tornou-se um neologismo bastante em voga atualmente, em razão do aproveitamento cada vez mais freqüente de vegetais anteriormente considerados matos ou ervas-daninhas por cozinheiros consagrados. Além de serem opções bastante originais para pratos refinados (conforme se perceberá nas fotos as seguir), as PANC também possuem propriedades nutritivas e profiláticas bastante relevantes. Dentre as PANC atualmente catalogadas, destacamos algumas iguarias facilmente encontradas no Estado de Sergipe.

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URTIGA 24 GASTRONOMIA MAIS CONTEXTO

Também conhecida como cansanção, esta planta comumente associada a irritações de pele, após lavadas e refogadas, podem ser ingredientes deliciosos de sopas e farofas, sendo bastante ricas em ferro e pro‑teínas vegetais, com um sabor que lembra bastante o espinafre.


GASTRONOMIA MAIS CONTEXTO 25 GASTRONOMIA 25


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Nativa do semiárido nordestino, esta fruta silvestre é bem mais resistente às pragas naturais e aos efeitos do sol que o maracujá comum e se diferencia daquele por possuir uma aparência mais rústica e um sabor um pouco mais azedo.

Porém, é o ingrediente ideal para uma deliciosa mousse ou na produção de geléias. Ajuda no combate ao mau colesterol e, da mesma maneira que o maracujá comum, é um poderoso calmante natural.

MARACUJÁ-DO-MATO

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Típica do Nordeste brasileiro, esta árvore possui frutos amarronzados que servem como ingredientes para uma batida alcoólica muito apreciada. Os frutos de murici pertence à mesma família das acerolas e, como tal, são riquíssimos em Vitamina C.

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MURICI

Além de serem benéficos à circulação e ajudarem no tratamento de resfriados, os frutos de murici possuem propriedades intrínsecas que ajudam na formação de norepinefrina, hormônio que ajuda na manutenção do bom humor de seus consumidores. 29 GASTRONOMIA MAIS CONTEXTO


BELDROEGA

MAIS CONTEXTO GASTRONOMIA 30


Popularmente conhecida como onze-horas, é abundante em vários terrenos e realmente considerada mato. Entretanto, é rica em ômega-3 e vitaminas A, B e C, sendo indicada para tratamentos de diarréia e hemorróidas. Apesar de seu sabor ácido e bastante salgado, por conta de sua mucilagem, a beldroega fica bem, tanto crua quanto cozida, em saladas e sopas.

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Marcel Andrade

O paraíso é um lugar em que você está acolhido, você tem sua função e é feliz se puder cumprir sua função. (Ernst Götsch)

AGROFLORESTAS O retorno da vida e das cores através da sintropia Tainah Quintela | tainahquintela@hotmail.com

“É

um processo de troca, aprendizado, amorosidade e doação por um propósito. um estilo de vida.” A afirmação é da analista Geovania Manos, que atua no setor de Avaliação e Prospecção de Tecnologias da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), referindo-se aos sistemas agroflorestais sintrópicos (SAFs), que dispensam o uso de agrotóxicos na produção de alimentos. Simultaneamente às atividades que desenvolve na instituição, Geovania se engajou num “projeto de vida”, como ela mesma denomina, particular: fazer da agricultura sintrópica uma alternativa viável a diversas famílias sergipanas, por meio de uma iniciativa antiga e eficaz: os mutirões. A analista é uma das incentivadoras da rede Agroflorestando-SE, que conta com cerca de 30 participantes e já contabiliza dez encontros de sucesso.

denominação, por si só, bastaria, não fosse a visível relevância de um fator ímpar no contexto já citado por aqui: a harmonia, a sintropia das coisas. Opondo-se ao conceito de entropia, que esclarece as desordens de um sistema e a degradação da energia, a sintropia refere-se ao diálogo pacífico de todas as coisas que compõem a natureza e sua relação com os modos de vida da humanidade. Essa é a ideia dos SAFs.

Mas antes de contar a história dessa iniciativa de pessoas trabalhando em conjunto – e voluntariamente – por autonomia alimentar com saúde, vamos entender o que é a agricultura sintrópica. Estamos falando de um modelo de produção de alimentos à base de processos naturais, que permitem uma agricultura voltada para o bem estar das pessoas; um modelo que visa restabelecer o equilíbrio entre natureza e ser humano. Numa mesma área, é possível produzir hortaliças, frutas, leguminosas e madeira, por exemplo, ao tempo em que um solo visivelmente degradado e dado como “morto” é regenerado. E no início desse processo de recuperação, o plantio de árvores que crescem rápido é fundamental para a produção de material orgânico que retornará, em parte, para o solo.

A sistematização desses sistemas agroflorestais foi proposta pelo agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch, que veio ao Brasil na década de 1980 e se instalou na Bahia, na Fazenda Fugidos da Terra Seca. Na época, eram 500 hectares de terra tornada improdutiva devido às práticas de corte de madeira, excessivos ciclos de cultivo de mandioca (monocultura), formação de pastagens etc. Através de experimentos em sistemas agroflorestais sucessionais, caracterizados por diferentes combinações de espécies florestais e alimentos,

É daí, dessa necessidade da utilização de linhas de árvores (espécies florestais) entre uma área e outra da plantação de alimentos, que surge o termo “agrofloresta”. Essa

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Marcel Andrade

solo pode até estar coberto o tempo todo, mas é pobre por conta da ausência de troca de nutrientes e presença de produtos químicos. Os SAFs proporcionam uma autonomia “impressionante”, garante.

A rede Agroflorestando-SE hoje conta com 30 participantes e já contabiliza dez mutirões.

Ernst alcançou alta produtividade: alimentou sua família, garantiu sua renda e, o melhor de tudo, trouxe a Mata Atlântica de volta à vida. Agora, essas terras férteis e vivas são a “Fazenda Olhos d’Água”, com cerca de 14 nascentes ressurgidas onde antes era só desgaste. Não é utopia, mas um resultado real, que se pode alcançar por meio de ações coerentes e disciplinadas. Em Sergipe, já há exemplos de experiências que deram certo e seguem gerando resultados positivos. Solos extremamente improdutivos que, ao passarem por processos especiais, intensivos e orgânicos de recuperação, retomaram sua fertilidade. E não existe receita para a implantação de agroflorestas, pois cada solo aceita determinadas combinações de plantios, e estes, por sua vez, exigem formas específicas de manejo. Mas, segundo Edmar Siqueira, pesquisador da Embrapa, nada é impossível quando se tem boa vontade. Ele cultiva alimentos via agricultura sintrópica há cerca de 20 anos no quintal de sua casa. “A natureza é complexa. Não é complicada, mas é complexa. Ernst fala de três princípios: diversidade, cobertura do solo e relações ecofisiológicas das espécies florestais. É uma floresta de alimentos que tem como prioridade produzir alimentos desde o primeiro momento, e nunca para de

produzir. É cíclico, com um solo enriquecido pelo volume de biomassa orgânica que vem das árvores e do que foi plantado. Ao fazer o plantio com espécies ricas em nutrientes, começa imediatamente a recuperação do solo e os micro-organismos começam a voltar”, esclarece. Na monocultura, diz o pesquisador, o

Para Edmar, o maior indício de que os SAFs estão dando certo é o interesse dos jovens pela proposta. E quando se entende os princípios envolvidos, é possível questionar o porquê de não haver uma divulgação maciça das agroflorestas como uma alternativa à monocultura e ao uso de insumos químicos, que agridem os solos e se apresentam como uma ameaça à saúde humana. Um exemplo que o pesquisador utilizou para esclarecer a importância de entender o princípio das relações ecofisiológicas das espécies, foi de um jovem que queria produzir brócolis, mas sofria com a invasão de pulgões, comuns a esse tipo de plantação. Quando ele estudou as possíveis interações que poderiam haver e inseriu também o plantio de coentro no mesmo espaço, seguindo o princípio da diversidade, os pulgões não apareceram mais. “Era a natureza dizendo que o manejo anterior estava equivocado”, explica Edmar.

Seja voluntário esporádico ou fixo, a contribuição é super importante. Plantar tudo junto é sintropia: todas as plantas se ajudando, criando um microambiente, imitando a natureza. Isso só funciona com muita gente fazendo ao mesmo tempo, num mutirão. (Geovania Manos)

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Os sistemas agroflorestais dispensam insumos químicos. Neles, a solidariedade impera. É aí que voltamos ao grupo, animado por Geovania e Fernando Jasmim, que aposentou-se após muitos anos de carreira em um órgão público, tendo então começado um SAF em sua própria casa. Fernando foi um dos primeiros incentivadores para a formação da rede Agroflorestando-SE-, e hoje, está engajado nos mutirões de implantação de agricultura sintrópica, em propriedades que, por ora, visam produzir alimentos para o consumo familiar. A atividade mais recente da rede é no Lar Esmeralda, associação socioassistencial que, sem fins lucrativos, oferece suporte a famílias carentes do Povoado Recreio dos Passarinhos, no município de São Cristóvão.

Nos SAFs, é fundamental sempre pensar em como a natureza trabalha dentro daquele contexto. Todas as plantas e animais – a formiga, inclusive, que é chamada de “praga” – vivem em harmonia. É mais ou menos isso que um sistema agroflorestal tenta “imitar”, diz a veterinária Mariana Monteiro, também participante da rede Agroflorestando-SE. Ao cobrir o solo, um dos princípios do Ernst mencionados pelo Edmar, é possível manter a umidade, estimulando a vida dos microorganismos e a criação de uma biodiversidade. É essa harmonia que dispensa o agrotóxico.

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A instituição concedeu um terreno para que o mutirão, liderado pela rede Agroflorestando-SE, implantasse um sistema de agricultura sintrópica voltado para a produção de alimentos que serão consumidos pelas crianças que lá estudam e se alimentam diariamente. “É um terreno compactado, de piçarra mesmo, mas com o tempo e os cuidados certos, ele vai melhorar”, destaca Fernando, enquanto explica aos companheiros de mutirão como serão as atividades do dia.

“Já fizemos cinco linhas de árvores, com cinco canteiros que receberão as hortaliças. Vamos pensar juntos nesses consórcios (combinações). É a parte mais complicada: raciocinar quando cada hortaliça nasce, as árvores que gostam de sombra [...] Enfim, a sucessão”, frisa. A função das linhas de árvores mencionada por Fernando é, como Edmar explicou, lançar matéria orgânica no sistema. Essas árvores vão crescer e, com as podas, será possível cobrir novamente o solo, nutrindo-o num ciclo. Com o tempo, o volume de matéria orgânica, as camadas se sobrepondo e as podas, o terreno não precisa de nenhuma outra contribuição que não seja oriunda da própria natureza; do lugar.

Os SAFs dispensam o uso de insumos químicos e a biomassa orgânica enriquece o solo.

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“O legal do SAF é que você está sempre colhendo. Não tem o problema das entressafras”, pontua Mariana. E por que não pensar a agricultura sintrópica em larga escala? Mariana explica que já existem experiências no Brasil neste sentido (como a Fazenda da Toca, em São Paulo, e o Sítio Semente, em Brasília), mas é preciso ainda muito estudo para tentar trazer a máquina dessa forma amigável: sem destruir os terrenos, sem compactar o solo. Os sistemas agroflorestais sucessionais em larga escala exigem mão de obra especializada, para que o princípio das relações com a natureza, ou seja, do manejo mesmo, seja respeitado. Seguindo uma lógica, um conjunto de processos naturais que abre mão de agrotóxicos está produzindo e tem resultado direto na recuperação e conservação da natureza. É seguramente uma alternativa viável às agressivas monoculturas – e uma resposta à independência alimentar.

As cores vão voltando Ronaldo Carmelo, voluntário nos mutirões da rede Agroflorestando-SE e de outros grupos, não esconde a satisfação de acompanhar os progressos. “Já acompanhei um ‘antes e depois’ num sítio aqui em São Cristóvão. O terreno era pior do que este, e a gente já vê a transformação do lugar. Hoje, aqui, não vemos nada: inseto, abelha, planta... Não tem vida ainda. Mas com o tempo, vamos presenciando o desenvolvimento da planta, as cores voltando, flores, até mais pássaros. É o ecossistema voltando pro lugar. Nós vivemos em meio à monocultura tradicional, que acaba com o meio ambiente e dá veneno às pessoas. O consumo de veneno é absurdo no Brasil, mas tem solução”, destaca. Para a voluntária Dulce, que pesquisou por conta própria sobre os SAFs, tudo isso é apaixonante. “Você está dando continuidade, sendo um otimizador da natureza e reproduzindo o que já existe. Tenho uma pequena propriedade familiar


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Morador do próprio Recreio dos Passarinhos, Firmino Júnior se sentiu atraído pelo propósito da rede e não hesitou: ofereceu-se como voluntário. Ele tem dois filhos e sobrinhos que são acolhidos pelo Lar Esmeralda. “Estou aqui por amor a eles. Às crianças. Porque hoje em dia estão tendo muitas doenças através desses alimentos cheios de químicas e hormônios. Por amor, para ver elas saudáveis e ocupando a mente para sair desse mundo de marginalidade. Isso conscientiza elas. Vão aprender e vão passando de pai para filho, de geração em geração”, reflete o jovem. Em meio a tantos prós, os contras se apresentam de forma velada: na comodidade de manter como negócio uma (mono)cultura que vem dando financeiramente certo. Muitos, porém, vão se unindo a Ernst, tentando mostrar que é mais barato trabalhar junto com a natureza do que contra ela. Pois da forma que o ser humano vem agindo com o planeta, diz o pesquisador, está em constante conflito com o ecossistema. Afinal, sua relação não deveria ser de exploração, mas de enriquecimento com o meio ambiente. Entretanto, pessoas como Dulce passam o tipo de confiança que se faz necessária: há esperança; já tem gente sabendo; e é possível alcançarmos essa (re)conciliação da humanidade.

Com o tempo, vamos presenciando o desenvolvimento da planta, as cores voltando, flores, até mais pássaros. É o ecossistema voltando pro lugar. Nós vivemos em meio à monocultura tradicional, que acaba com o meio ambiente e dá veneno às pessoas. O consumo de veneno é absurdo no Brasil, mas tem solução. (Ronaldo Carmelo)

Independente de governo, podemos fazer a nossa parte. Você pode fazer política em ação. E agrofloresta é mutirão, é política em ação. Temos que procurar a independência alimentar do nosso Brasil. Está no começo, mas já tem gente sabendo o que é”, comemorou. O eixo da agricultura sintrópica em Sergipe tem sido a coletividade, os mutirões. Cada pessoa que participa e se encanta pela proposta é um potencial animador que, possivelmente, levará a ideia adiante. “É uma corrente do bem. Seja voluntário esporádico ou fixo, a contribuição é super importante. Plantar tudo junto é sintropia: todas as plantas se ajudando, criando um microambiente, imitando a natureza. Isso só funciona com muita gente fazendo ao mesmo tempo, num mutirão. Entrei na rede de pesquisa de agroecologia da Embrapa após minha primeira experiência com agrofloresta e pensei: tem um caminho”, contou Geovania.

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na Bahia e, quando tiver oportunidade, vou levar esses conhecimentos para lá.

E o mutirão dessa história não foi composto somente por voluntários da cidade e membros do Lar Esmeralda.

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Redes sociais estimulam mudanças de hábito

A

s redes sociais foram transformadas em palcos para manifestações sustentáveis. Influenciadores digitais com diferentes ideais adotaram ambientes virtuais para impactar leitores introduzindo temas que abordam as consequências que diversas atitudes humanas podem causar ao meio ambiente, principalmente no que diz respeito ao atual e lamentável cenário de poluição pelo qual estamos passando. Assim como demonstram diversos ativistas ambientais, hábitos comuns, como o de usar canudos de plásticos, causam consequências tão sérias a ponto de, por exemplo, comprometer a biodiversidade do planeta. De acordo com a Organização das Nações Unidas, são necessários no mínimo 450 anos para que uma garrafa de plástico

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Imagem: Freepik

Juliana Melo | juliiana.melo@hotmail.com

possa se decompor e consiga desaparecer do meio ambiente. Inúmeras pesquisas demonstram o risco do plástico para os próximos anos e indicam, inclusive, que, se continuarmos com o consumo desenfreado, em 2050 teremos mais plásticos que peixes nos oceanos. Um dado alarmante, que tem incentivado a produção de produtos sustentáveis como mudanças de hábitos para solucionar a problemática da poluição, seja por meio de fotos impactantes, campanhas ou divulgações de modo geral. Embora a poluição plástica seja uma situação que requer força de vontade de vários lados e que, certamente, trará resultados a longo prazo, adotar mudanças de hábitos é uma iniciativa poderosa e que pode virar um estilo de vida, assim como vem acontecendo com diversos influenciadores digitais.


Menos 1 Lixo Idealizado pela ativista Fe Cortez, o movimento foi iniciado em janeiro de 2015, com o desafio pessoal de produzir menos lixo e provar que atitudes conjuntas são capazes de construir um mundo mais sustentável. A partir daí, ela adotou um copo de metal com o intuito de contabilizar a quantidade de copos de plástico que evitaria e, ao final do desafio, economizando mais de 1000 copos, decidiu criar um copo personalizado para que outras pessoas pudessem praticar a mesma iniciativa. “Acreditamos que, em qualquer segmento, o principal caminho rumo a uma vida mais sustentável é a redução do consumo e falamos sobre isso em todos os nossos textos. Nosso objetivo é ser um facilitador nessa diminuição da produção de lixo. A grande sacada é jogar menos coisa fora. Meu clique foi entender que a grande questão é produzir menos um lixo. Unzinho, um simples lixo a menos, faz uma grande diferença a mais. Imagina se todos os habitantes do Rio de Janeiro jogassem menos uma garrafa PET por dia no lixo. Seriam mais de

1,5 toneladas a menos de plástico descartado naquele dia”, explica. Com alto reconhecimento nas redes sociais, principalmente no Instagram, o copo é revendido em diversos estados e conta também com a opção das vendas online para aqueles que não possuem revendedores onde moram. O conteúdo do movimento prioriza a educação ambiental e demonstra, de forma interativa, diversas outras opções para quem deseja ter uma vida sustentável. O copo da Menos 1 Lixo é um objeto personalizado que representa a importância da atitude de recusar plásticos, preferindo a adoção de um copo para utilizá-lo nas diversas vezes em que precisar beber algo. Desse modo, a simples iniciativa de abrir mão do plástico, pensando numa solução para tal, causa o mesmo resultado e reduz a situação da poluição, motivando, inclusive, outras pessoas a fazerem o mesmo.

Segundo dados da Greenpeace, estima-se que cada ser humano produz, em média, um quilo de lixo por dia e mais da metade dele poderia ir para a reciclagem, que é uma das principais vertentes que o Aracaju Lixo Zero tem ressaltado no estado de Sergipe. Composto por três pessoas recémformadas no curso de Saneamento Ambiental, o movimento tem exercido um papel importante para as pessoas que estão dispostas a aderir hábitos sustentáveis, pensando num mundo onde cada resíduo seja descartado da forma correta. Disponibilizando um mapa, na página que administram no instagram, instruindo o descarte correto dos resíduos para os habitantes da cidade, o grupo tem apresentado e discutido temas relevantes que envolvem desde a orientação de produtos que podem ser reciclados a palestras sobre atitudes necessárias para viver numa “cidade lixo zero”, como denominam. Lázaro Sandro é um dos membros do grupo e afirma que o objetivo principal de cada ação que desenvolvem em conjunto tem sido “a necessidade de engajar a população e entidades públicas e privadas para redução da geração de lixo, reutilização e reciclagem de materiais, promovendo o desenvolvimento sustentável da cidade”. Ainda em Aracaju, a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) é uma Organização sem fins lucrativos que trabalha há 28 anos em prol da conservação marinha por meio de resgate e reabilitação de aves e mamíferos, além de desenvolver atividades de educação ambiental em determinadas áreas no litoral nordestino. Recentemente, a Instituição passou a revender canudos reutilizáveis em aço inox e a iniciativa chamou a atenção da população, principalmente por se tratar de um produto que dificilmente é encontrado na região. A ideia surgiu de uma campanha de conscientização que enfatizava exatamente a necessidade de repensar nossas atitudes enquanto há tempo, levando em consideração que os impactos no meio ambiente têm aumentado

Ilustração: Pedro Neto

Conscientização e educação ambiental

significativamente. A FMA participa frequentemente de eventos e ações que são desenvolvidas para propagar conhecimentos ambientais e, nestas oportunidades, os produtos sustentáveis são expostos e apresentados junto aos seus objetivos. Ricardo Araújo é diretor de Desenvolvimento Institucional e ressalta que recusar canudos não resolve as agressões do plástico, mas simboliza uma luta. “Existe um problema e levantar a bandeira da não utilização do canudo descartável plástico repensa todo um ciclo. Esta atitude repensa a necessidade da utilização de um canudo, a utilização do copo plástico e de outros itens descartáveis e até mesmo suas existências. É uma ação simbólica, mas baseada na prática nítida da incidência estúpida de plásticos descartáveis nos oceanos”, afirma ele. Entre diferentes espaços virtuais, ações e discursos, as mudanças de hábitos estão sendo reconhecidas e, principalmente, espalhadas. Para reverter um quadro tão preocupante é preciso priorizar o meio ambiente e entender que toda e qualquer atitude que viermos a ter, em relação aos resíduos que acumulamos e consumimos, é algo que irá afetá-lo diretamente. Repensar as nossas atitudes pensando na conservação do meio ambiente é uma decisão fundamental para que, através de ações coletivas, possamos consumir cada vez menos, com a esperança de viver num mundo mais limpo.

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Bike Anjo: seguindo o curso das grandes cidades Gonçalo Oliveira | goncalodeon@gmail.com

César Barreto ajudando uma participante do “Bike Anjo” no parque da sementeira.

P

assar horas parado no trânsito e ficar preso em congestionamentos, não é mais possível no cotidiano apressado da população brasileira. E essa é uma das principais motivações para que os moradores de centros urbanos passem a utilizar a bicicleta como o seu meio de transporte. Segundo a pesquisa Perfil do Ciclista Brasileiro, realizada pela ONG Transporte Ativo em parceria com o Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB – UFRJ), 42,9% da população considera “rapidez e praticidade” o principal motivo para adotar a “magrela” como modo de locomoção. Em seguida, vem saúde (24,2%) e custo (19,6%). Investir no uso de bicicletas não significa abrir mão de outras formas de transporte, mas de integrá-las a esses modais, com impacto positivo para todo o sistema de trânsito. Segundo Warner Wonk, consultor em mobilidade urbana sustentável e fundador da iFluxo, uma empresa de consultoria e engenharia de mobilidade urbana que tem como parte de sua missão melhorar e integrar o Transporte Público e o Transporte Não Motorizado, 50% das viagens que fazemos são de curta distância, de um a três quilômetros. Por exemplo: ir

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à padaria, ao supermercado, à academia. O Brasil possui cerca de 70 milhões de bicicletas e aumentou a busca por bikes para pedalar nas cidades, segundo dados da pesquisa “O uso de bicicletas no Brasil: Qual o melhor modelo de incentivo?”, fruto de parceria da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (ABRACICLO) com a Rosenberg Associados. Além disso, o estudo ressalta a economia óbvia que é pedalar: enquanto o custo da locomoção de carro à gasolina é de R$0,73 por quilômetro, de bike, o ciclista investe cerca de R$0,12 na mesma distância. A primeira vista, essa diferença pode parecer insignificante, mas basta aumentar um pouco esse cálculo para que se possa perceber o real valor dessa economia. Por exemplo, percorrendo uma distância de 100 quilômetros num carro, será necessário o investimento de R$73,00. Enquanto em sua bicicleta, o ciclista precisará de apenas R$12,00 para fazer o mesmo percurso. Ou seja, uma economia de R$61,00. A bicicleta é comprovadamente o veículo mais utilizado em todo o mundo, seja devido ao seu baixo custo ou a facilidade

de se locomover com ela pelas cidades, entre muitos outros motivos. Além de ser um veículo não poluente, ou seja, que não emite gases como o CO², responsáveis pelo Efeito Estufa. Aqui em Sergipe, mais especificamente em Aracaju, já existem algumas iniciativas que tem por objetivo disseminar o uso da bicicleta, seja como meio de transporte ou apenas lazer. Como exemplo de uma dessas iniciativas, temos a Bike Anjo, uma rede de ciclistas apaixonados pela bicicleta que promove, mobiliza e ajuda pessoas a começarem a utilizar esse veículo nas cidades. O projeto surgiu em novembro de 2010, na cidade de São Paulo, a partir da “Bicicletada”, com um blog muito simples e um formulário para as pessoas solicitarem ajuda de um(a) “bike anjo”. Atualmente, o Bike Anjo conta com uma rede de voluntários espalhados por cerca de 250 cidades do Brasil. E já está presente em mais de 30 países, como: Equador, França, Estados Unidos, Austrália e Portugal. A iniciativa foi trazida para cá em setembro de 2012, por integrantes da ONG Ciclo Urbano, uma associação fundada em setembro de 2007 e que tem por finalidade promover à utilização da bicicleta,


Pedro Neto

como também o uso de outras formas de locomoção e transporte a propulsão humana, com integração ao transporte público motorizado, fiscalizando-o e propondo melhorias em sua qualidade e eficiência na cidade de Aracaju. Foram eles os responsáveis por começarem a desenvolver as atividades da Bike Anjo aqui. César Ricardo, 28 anos, Gerente de Projetos, atualmente é articulador de projetos e de mobilização da Rede Bike Anjo Nacional. Segundo ele, não existe uma liderança, uma única pessoa à frente do projeto. Qualquer um pode se voluntariar. “Aqui em Sergipe, eu sou voluntário como qualquer outro, que todo domingo está aqui conectando e chamando as pessoas pra vir pras EBAS (Escolas Bike Anjo) e pras atividades.” Ele também conta como conheceu a iniciativa. “Depois que eu me associei a Ciclo Urbano, me apaixonei pela Bike Anjo e ajudo a tocar o projeto desde então”.

Pedro Neto

Aqui em Aracaju, as atividades da Bike Anjo acontecem sempre no último domingo de cada mês, a partir das 15h, no Parque Augusto Franco (Sementeira) e são sempre divulgadas nas redes sociais, tanto Instagram quanto Facebook. E caso seja preciso antecipar ou adiar alguma atividade, os avisos também são dados por meio dessas redes. “Ficamos das 15h até quando o último aluno quiser ir embora. Mas, normalmente, encerramos às 18h”, diz César, aos risos. Ainda segundo ele, as atividades normalmente são realizadas com o apoio de 7 a 10 voluntários, que utilizam suas bicicletas para ensinar as outras pessoas, mas que também contam com 4 bicicletas do próprio projeto. “Se você é um ciclista experiente e quer ajudar qualquer outra pessoa, entra em contato com a gente, vem pra cá, a gente toma uma água e começa a ensinar a galera”, convida César.

Dona Rosilda, 60 anos, Assistente Social do INSS.

Seu Reginaldo, autônomo.

Ele também conta que a maioria das pessoas que os procuram para aprender a andar de bicicleta e ter esse primeiro contato são mulheres, entre dos 40 a 60 anos, as quais relatam que quando eram jovens/meninas, os pais não as deixavam andar de bicicleta. Outra parte do público é de pessoas que sofreram traumas por caírem e que, por isso, acabaram desistindo de aprender a pedalar. Sendo assim, 90% da procura é de mulheres e apenas 10% são de homens.

eu quero que outras pessoas tenham a mesma oportunidade que eu tive”, diz. Dona Rosilda também conta que na sua infância, não podia andar de bicicleta porque os pais não permitiam, falando que era brinquedo pra menino. “Por isso, quando surgiu a Bike Anjo, foi que eu vi a oportunidade de realizar esse sonho de criança, o de aprender a andar de bicicleta”, diz.

Uma dessas mulheres é a Dona Rosilda, de 60 anos, e Assistente Social do INSS. Ela conta que conheceu a Bike Anjo através do site, desde o começo comparece a todas as atividades, e já está prestes a se tornar uma “bike anjo”. “Já estou cheia de planos, pra ser no futuro uma das integrantes do projeto. Porque assim como eu aprendi,

Durante a tarde de atividades da Bike Anjo, encontramos o Seu Reginaldo, autônomo e apoiador do projeto. “Sou o Bike Anjo que não ensina o pessoal a pedalar, mas os mantém hidratados”, diz, aos risos. Seu Reginaldo conta que está em todas as atividades que o pessoal da Bike Anjo realiza, dando esse suporte. “Eu faço um preço especial pra eles, no geladinho e na água”.

Nesse mês, o Bike Anjo Sergipe completa 6 anos de existência. Nada mais sugestivo, já que setembro é tido como o mês da mobilidade, onde é comemorado o Dia Mundial sem Carro (22). Por isso, várias atividades serão desenvolvidas pela cidade de Aracaju, em razão dessas comemorações. Além da EBA (Escola Bike Anjo) tradicional, haverá um pedal no dia 16, feito em parceria com o Lucas Aribé, do Aracaju Acessível. E também a “Entre Todos”, uma EBA especial que será realizada na Orla de Atalaia, no dia 23. Para ficar por dentro de toda a programação, basta acessar as redes sociais da Bike Anjo Sergipe (Instagram e Facebook) e o site do Aracaju Acessível (aracajuacessivel.com.br). 39 MOBILIDADE URBANA MAIS CONTEXTO


Brasil de Fato

Matheus Fernando | mathewsfernando007@gmail.com

J

á se imaginou preparando aquela moqueca, feita com bastante tempero, mas ao levar a primeira garfada à boca sente um gosto de perfume ao invés de condimentos? Logicamente acharia estranho, pararia de comer e, até mesmo, jogaria fora o alimento. Essa é a realidade de vários barcarenses que tiveram suas vidas mudadas após a contaminação do rio no qual tiravam o seu sustento. O documentário Tinha Gosto de Perfume: Barcarena e os Crimes Ambientais Impunes, narra a realidade cotidiana de cerca de 99 mil moradores da cidade de Barcarena, localizada a nordeste de Belém, no Pará, que há mais de 15 anos sofrem impactos de uma grave crise humanitária ocasionada pela indústria norueguesa que produz alumínio através da mineração da bauxita. O curta-metragem tem duração de aproximadamente 15 minutos e foram realizadas mais de 20 entrevistas com pesquisas de especialistas, moradores, e da empresa envolvida. Ao todo foram mais de 25 horas de gravações e cinco dias convivendo com moradores de Barcarena. Dentre os anos de 2003 e 2018 foram registrados cerca de 20 acidentes ambientais que suscitaram a contaminação da terra, ar e águas de Barcarena. Segundo estudos da Comissão de Direitos Humanos da Alepa (Assembleia Legislativa do Pará), isso significa que há contaminação grave a cada nove meses. O episódio mais recente aconteceu em fevereiro deste ano quando a multinacional norueguesa Hydro Alunorte transbordou, e derramou material tóxico na bacia do municipio. A chuva acabou contaminando os rios, igarapés, poços e nascentes de

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Barcarena. O contato direto com esses locais pode gerar diversos problemas de saúde, como doenças de pele, alergias e problemas respiratórios. Além disso, a perda da diversidade é um impacto muito alarmante para a comunidade já que a principal atividade de muitos moradores é a pesca nos rios e igarapés que, outrora, não estavam contaminados. A atividade pesqueira teve que ser encerrada devido ao desaparecimento dos peixes na bacia do rio Murucupi, que possui 7km de extensão e 20 afluentes. Uma das poucas atividades econômicas restantes foi a coleta de material reciclado, que ironicamente fica próximo a Hydro Alunorte. O curta consegue ser plural, é evidente a presença da fala de todos os lados, seja a comunidade que foi afetada pelos danos ambientais, ou a empresa que foi responsável pela contaminação. A edição do documentário é bem concisa, consegue de forma simples integrar todos elementos. As mais de 25 horas de filmagens foram sintetizadas em 15 minutos que ficaram concisas. O uso de animação apresentou informações massivas de uma forma mais leve. No entanto, alguns termos eram rebuscados ou específicos o que tornou a compreensão um pouco difícil para Título

um espectador mais leigo. A discussão levantada pelo documentário é de suma importância e não é um caso isolado ou exclusivo de Barcarena, os desastres ambientais causados por indústrias multinacionais já não são novidades. Há pouco tempo a fatalidade de Mariana chocou o Brasil, e o mundo, devido aos danos causados. O ocorrido assemelha-se com o que aconteceu em Barcarena, o que difere é a falta de protagonismo e divulgação na mídia, como ocorre com muitos desastres que acabam não ganhando o destaque necessário. A empresa norueguesa segue impune, afirma que gerou empregos para a comunidade, e que disponibilizou assistência médica. Porém, os danos causados são permanentes e afetará toda uma geração de moradores. O documentário está disponível no youtube e foi exibido no dia 05 de julho, na Casa do Baixo Augusta (rua Rego Freitas, 533, República – São Paulo/SP). Logo após a exibição, houve uma mesa de debate sobre meio ambiente com Karina Martins, coordenadora do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), e Gilberto Cervinski, dirigente nacional do Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB). O filme foi dirigido por Marcelo Cruz e Juca Guimarães.

Ficha técnica completa

Título

Tinha Gosto de Perfume: Barcarena e os crimes ambientais impunes (Original)

Ano produção

2018

Dirigido por

Juca Guimarães; Marcelo Cruz

Estreia

2018 ( Mundial ) Outras datas

Duração

15 minutos

Classificação

Livre

Gênero

Documentário

Roteirista

Juca Guimarães

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VOCÊ LIMPA

Diagramação: Clarissa Martins Colaboração: Arianne Macena Texto: Clarissa Martins Imagens: freepik.com Receita: @umanosemlixo

Sabão em pó, em barra, amaciante, água sanitária, desinfetante, detergente. Estes são alguns dos produtos utilizados diariamente pelas pessoas para higienização, seja dos ambientes ou de seus pertences. A variação de preços dos produtos de limpeza foi de 0,17% entre março e abril deste ano, chegando a representar um gasto médio de 93 reais no orçamento mensal das famílias. A pesquisa foi divulgada em maio e feita pela Coordenação do Curso de Adminstração da rede de ensino Doctum Vila Velha, no estado do Espírito Santo.

Além dos altos preços, os produtos de limpeza são nocíveis ao meio ambiente, por trazerem em suas composições substâncias químicas como tripolifosfato, fosfatos e tensoativos petroquímicos. Ao entrar em contato com a água essas substâncias geram mudanças no ecossistema, sejam matando as bactérias naturalmente presentes no ambiente ou impedindo que o oxigênio atmosférico se dissolva na água. Essas mudanças têm como consequência uma alta nas taxas de mortalidade dos seres ali existentes, que acabam asfixiados.

Segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, dos 184 rios e corpos d’água monitorados por ela, 51 estão indisponíveis para qualquer uso. Porém as consequências surgem antes mesmo do descarte. Durante a utilização desses produtos, os compostos químicos presentes podem causar danos à saúde humana. Peles mais sensíveis ficam suscetíveis a alergias, irritações e ressecamento. A mistura indevida dos produtos pode ser trágica, como o resultado da reação química entre sabão em pó, água sanitária e amoníaco, que consiste em uma fumaça tóxica.

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COM O QUÊ? Considerando todos esses fatores, indivíduos e empresas surgem com contrapropostas ao mercado, fabricando produtos a partir de elementos completamente naturais. Esse foi o caso da blogueira Cristal Muniz, do blog Um ano sem lixo. Ela testou uma receita de sabão líquido natural cujo uso vai além da lavagem de roupas, podendo substituir amaciantes, detergentes e desinfetantes. A equipe da Revista Mais Contexto testou e aprovou! Quer testar também? Segue a receita abaixo.

VOCÊ VAI PRECISAR DE: - 3 litros de água - 1 barra de sabão de coco (cerca de 200g) - 50 ml de álcool (70%, 90% ou 46%) - 3 colheres de sopa de bicarbonato de sódio - 5 a 10 ml de óleo essencial da sua escolha (opcional, para cheirinho) COMO FAZER: - Coloque a água para ferver. Enquanto isso, rale o sabão. - Quando a água estiver fervendo, coloque o sabão e mexa devagar até dissolver tudo. Desligue o fogo. - Coloque o álcool, o bicarbonato de sódio e deixe a mistura amornar. - Se você quiser usar o óleo essencial, espere a mistura esfriar um pouco, senão o óleo vai evaporar. - Deixe descansar por uma hora e distribua nos recipientes de sua escolha. 43 CULTURA MAIS CONTEXTO


Poluição de rios e seus impactos nos manguezais Djalmir Andrade

Anneli Rodrigues | annelirodrigues@gmail.com

O lixo despejado nos mares e rios transforma o nosso meio ambiente e o nosso bem estar, afetando não só a vida marinha, mas também as nossas vidas.

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poluição dos rios e mares vai além do que imaginamos. Ela não só afeta a qualidade da água, dos peixes e das plantas, mas todo um ecossistema. Assim, é importante tanto a preservação, quanto a proteção para que tenhamos melhor qualidade de vida e, consequentemente, um meio ambiente ecologicamente equilibrado. No entanto, para que isso aconteça, é preciso que alguns desafios sejam urgentemente superados, principalmente para quem sabe de sua importância, já que este serve como fonte de sobrevivência.

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Segundo Jeonizia Vieira Dias, 48, integrante do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), na região de Muculunduba, na cidade de Estância/SE, conviver com a poluição desses ambientes é muito ruim, pois acaba afetando os manguezais e, por conseguinte, as comunidades que sobrevivem de tudo que o rio e o mar oferecem. “Em nossa cidade temos uma empresa do ramo da cervejaria que derrama os dejetos nos nossos rios sem nenhum tratamento. Essa prática criminosa acaba matando os mariscos, e quando não mata deixa um o

gosto horrível, tornando os mariscos impróprios para o consumo e prejudicando também nossa fonte de renda”. Outro fato apontado por Jeonízia diz respeito as tartarugas que estão morrendo por engolirem sacolas plásticas ao serem confundidas com água viva. Diante dessa realidade, ela, juntamente com outras companheiras, desenvolve um trabalho de conscientização no sentido da conservação da limpeza dos rios no local onde vive.


Anjos do Rio

Para a bióloga e doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Sindiany Caduda dos Santos, que entre 2012 e 2016 desenvolveu pesquisas ligadas aos manguezais do complexo estuarino Real Piauí Fundo, localizado entre Estância, Itaporanga e Indiaroba, o manguezal nasce do encontro do rio com o mar e tem inúmeras funções ecológicas e sociais.

Evandro Santos

Amanda Santos, estudante do sétimo período de Ecologia da UFS, que integra o projeto SOS Mata Atlântica - que visa a conservação desse bioma - afirma que

o petróleo são contaminados. Ela pontua também que é importante conservar o meio ambiente, começando em casa e por meio de projetos de iniciativa dentro das escolas através de pequenos gestos, como ensinar a criança a plantar, bem como a reutilizar alguns produtos, como copos descartáveis e canudos, por exemplo. Uma educação ambiental que nos torne cidadãos conscientes.

dentro desse projeto há uma unidade menor chamada “Observando os Rios” – uma rede de monitoramento, onde ela, e outros voluntários desenvolvem testes para avaliar a qualidade dos rios. Dessa maneira, ela concluiu que os dejetos que são jogados nos rios e mares vão refletir na qualidade total do meio ambiente, “pois para se ter água, precisamos ter mata ciliar, não tendo, o rio será assoreado, o que acarretará na morte dos peixes e de toda uma cadeia ecossistêmica”, comenta. Amanda explica também que um outro problema que os rios e mares enfrentam é o derramamento de petróleo, que traz consequências gravíssimas, sobretudo, porque ele não dissolve na água, e mata principalmente os peixes, já que esses respiram através das brânquias e ao ingerir

A especialista relata também que em Aracaju, conforme dados disponibilizados pela DESO, apenas 40% dos esgotos são tratados. Os outros 60% que não são tratados caem diretamente nos rios e cai exatamente no primeiro ambiente que se dá na posição entre a terra e o mar, que é o manguezal. Logo “se não tem esgoto tratado, tem-se a saúde dos rios comprometida, consequentemente dos mares e de todo sistema ambiental aquático. Pois é nessa dinâmica de maré, que varia duas vezes ao dia, que os manguezais conseguem se renovar, mas, se a quantidade de poluentes e contaminantes sobre os manguezais for consideravelmente alta, a capacidade de resiliência desses ambientes diminui, assim como é real a possibilidade de redução da biodiversidade”, pontua a bióloga.

Enquanto muitos não se dão conta dos prejuízos enormes que a Poluição dos Rios e Mares traz para a população e para todo o ecossistema. A quem se interesse e sensibilize pela causa, a exemplo de Evandro Santos Prudente, 72, mentor do Anjos do Rio - um projeto que surgiu a partir do momento que saiu para pescar e encontrou uma tartaruga engasgada devido um saco plástico. Diante da situação presenciada resolveu então, formar um grupo composto de amigos, família, pescadores e voluntários tendo em vista a limpeza do Rio Vaza Barris. A ação inclui às áreas dos bairros Robalo, São José, Areia Branca e Mosqueiro em Aracaju/ SE. “Porém o maior perigo está na comunidade do povoado São José, que embora tenhamos feito todo processo de orientação e conscientização, a cada visita ainda deparamos com enormes quantidades de lixo, até vasos sanitários e sofá encontramos constantemente”, afirma Evandro. Djalmir Andrade, 47, é um dos voluntários que faz parte do projeto e relata uma de suas experiências durante uma das saídas: “A quantidade de lixo que as pessoas descartam dentro dos rios e mares são muito grandes. Quando a maré está enchendo ou secando, esses resíduos são empurrados para dentro dos manguezais, que acabam se enganchando e ficando presos entre galhos e raízes, atrapalhando assim sua respiração. Uma certa vez cheguei a ver uma área de aproximadamente de 200 m², onde a vegetação estava toda seca, por conta dessa poluição. Após retirarem cerca de 5 canoas de lixo dessa região, com cinco meses depois, a vegetação já estava bastante renovada, com folhas novas”, relembra Djalmir. Djalmir Andrade

A realidade não é diferente para sua filha Cristiane Vieira Dias, 29, que também é marisqueira e que sobrevive tanto dos mariscos, quanto das biojoias - objetos que são fabricados a partir de materiais que são retirados da maré. Para Cristiane, o rio é vida; e quando alguém o polui, afeta não só os peixes, mas tudo que é retirado dele para sobreviver. A quantidade de venenos colocados para embebedar os camarões, segundo Cristiane, chega a durar uma semana ou um mês, resultando na falta da produção para o consumo. Sem contar ainda que tudo na maré tem sua época e, ainda segundo ela, quando os rios são poluídos toda a sua atividade fica prejudicada.

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Wesley Pereira

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UDA O UNDO

Por Aline Wilma | alinewilma@hotmail.com

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om o desenvolvimento do processo de urbanização no Brasil, crescem as discussões sobre como manter o equilíbrio do meio ambiente diante da concentração de áreas construídas, edificações, pavimentação asfáltica do solo e as áreas industriais. Uma das soluções indicadas é que haja a implementação, manutenção e preservação de áreas verdes nesses lugares. Segundo o artigo 8º, § 1º, da Resolução CONAMA Nº 369/2006, área verde é “o espaço de domínio público que desempenhe função ecológica, paisagística e recreativa, propiciando a melhoria da qualidade estética, funcional e ambiental da cidade, sendo dotado de vegetação e espaços livres de impermeabilização”. Na tentativa de contribuir para que ocorra a conservação desses espaços, surgem diversos coletivos de plantio no Brasil. Em Sergipe, quem segue essas diretrizes é o Coletivo Muda o Mundo (MOM). O Coletivo Muda o Mundo promove ações de plantio de árvores com espécies de matas nativas e frutíferas, em Aracaju, capital de Sergipe. O projeto de ativismo ecológico foi iniciado em janeiro de 2017, idealizado por um grupo de amigos que já realizavam atividades de plantio individualmente, após notarem a necessidade de preservar e criar espaços verdes na cidade.

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Ilustrações: Freepik

O MOM é formado por um grupo de voluntários que acreditam na importância da arborização em áreas urbanas e nos benefícios da conexão entre a natureza e a comunidade. Os integrantes constroem e autogerem o coletivo e se dispõem a realizar atividades que envolvam a divulgação, a execução do plantio, educação ambiental e captação de recursos. Eles realizam um revezamento durante as atividades, de acordo com suas disponibilidades. São cerca de três a quatro voluntários por ação.


Para uma das fundadoras do coletivo, a estudante Alana Ayonore, trabalhar nesse projeto a faz sentir que está contribuindo para a formação das gerações futuras. “O que nós realmente queremos é chegar nas periferias, nas comunidades carentes, nas escolas e fazer esses trabalhos. Ao menos conscientizar, que nós não precisamos degradar a natureza para continuar sobrevivendo na Terra.” Ela também fala da importância desse trabalho para o meio ambiente. “Na verdade a gente precisa viver na terra, e não sobreviver. Se a gente continuar fazendo esses pequenos atos que parecem nada, mas que se transformam num desmatamento, numa poluição, nós também nos prejudicamos, porque envolve todo o planeta. Assim, o principal fator que mais me preocupa é a natureza. E em segundo plano é quem habita na natureza, que somos nós”.

Wesley Pereira

As regiões onde as atividades do coletivo vão ser realizadas são escolhidas após estudo dos espaços possíveis para alocação das mudas, tanto de mata nativa quanto frutíferas, e de locais dispostos a receber o coletivo para desempenhar atividades de educação ambiental. Um dos objetivos do MOM é desenvolver seu trabalho em escolas de Sergipe, para conscientizar crianças, jovens e seus familiares sobre a importância da arborização da cidade.

No dia 14 de julho de 2018, o coletivo Muda o Mundo realizou a primeira atividade em uma escola. Após uma visita prévia, alguns voluntários do grupo participaram da reunião de pais da Escola Municipal Papa João Paulo II, localizada no bairro Santa Maria, na Zona de Expansão de Aracaju. Na reunião foi discutida a importância da conscientização ambiental, além de explicações sobre as árvores e suas funções, as árvores e o meio urbano, a saúde do solo, e as árvores exóticas e seus malefícios. O coletivo também doou alguns mudas de Ipê Branco e Cajá para incentivar o plantio na área. O coletivo MOM foi convidado por um grupo formado por 12 jovens estudantes do ensino médio, que buscam defender o meio ambiente e os animais por meio de ações, intitulados “Amigos da Natureza”, da escola localizada ao lado, o Centro de Excelência Vitória de Santa Maria. O estudante Luan Caio Andrade Mota, de 16 anos, líder do grupo, conheceu o coletivo pelas redes sociais e se interessou pelo seu trabalho, ele propôs ao coletivo que visitassem a escola.

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Após essa visita, o coletivo MOM retornou ao local, na manhã, do dia 02 de agosto, para realizar o plantio de seis mudas de árvore nativas na escola, com a contribuição e envolvimento dos alunos do quinto e sexto ano, tendo em cerca de 25 alunos por turma. Participaram desta ação, os voluntários: a estudante Alana Ayonore, a bombeira militar Stella Pina, o terapeuta holístico Werbson Alves, a estudante Renata Mourão e o estudante Erivelton Cunha, todos explanaram contentamento e mostraram boa vontade durante as atividades, apesar do calor. A atividade teve início no pátio da escola com algumas explicações para todas as turmas da escola sobre a importância de preservar o meio ambiente, a vida das árvores, o oxigênio, os animais, a relação com o lixo, a poluição dos solos e das águas, entre outros assuntos. Em seguida, todas as crianças escreveram em pedaços de papel o que desejavam para o crescimento da muda que iriam ajudar a plantar. Depois, os alunos, supervisionados por suas professoras, foram para o local específico onde iria ocorrer o plantio da muda de cada turma. Nos buracos cavados pelos voluntários do coletivo, as crianças muito empolgadas em participar da atividade, plantaram as mudas. Elas puderam pegar e sentir com suas mãos a terra preta, o húmus de minhoca e o pó de coco, o que gerou diversas reações. Bem como, receberam explicações sobre cada um desses elementos ao passo que os distribuíam nos buracos, depois acrescentaram os papéis com seus desejos para a futura árvore que ajudaram a plantar. Todos os alunos se comprometeram a cuidar das mudas em crescimento. O MOM também já atuou no plantio de árvores de Mata Atlântica, com raízes que crescem verticalmente - um Resedá, uma Aroeira, um Ipê Branco e uma Sibipiruna - na Coroa do Meio. Em fevereiro de 2018, também promoveram uma oficina gratuita de germinação de sementes que tinha como foco o cuidado com a semente e a forma de germinar cada espécie, a exposição ao sol, a quantidade de água necessária à rega, a compostagem e a confecção de regadores automáticos feitos com garrafas pet. No fim do mês de junho de 2018, os voluntários com a participação dos moradores realizaram outro plantio, com dez árvores, sendo oito frutíferas, na Ocupação Beatriz Nascimento, do Trabalhadores Sem-Teto do Estado de Sergipe (MTST), no bairro Japãozinho. O coletivo necessita de vários materiais para desempenhar suas funções, como: enxada, cavadeira e tela de proteção; e componentes de plantio, como: terra, húmus, sementes e mudas. Para conseguir esses itens, os voluntários do MOM se mobilizam para receber doações dos materiais ou para arrecadar fundos. Eles utilizam diversas formas para captar recursos financeiros. O MOM já organizou bazares beneficentes, no qual vendeu roupas, livros, CD’s, bolsas, sapatos, entre outros, que foram doados por colaboradores. Eles também contam com a parceria do Instituto Canto Vivo, que já lhes doou 100 mudas de Ipê. Para conhecer ou colaborar com as atividades do Coletivo Muda o Mundo, acesse as redes sociais do projeto. Recentemente, o coletivo disponibilizou em seu canal no Youtube, intitulado “Projeto Muda o Mundo”, o primeiro vídeo produzido por eles.

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Fotos:

@SouCarluz

De férias?

dois

Conheça destinos turísticos na região de

Xingó

Por Carluz Lima e Ana Lúcia soucarluz@gmail.com | analucias.andrade2015@gmail.com TURISMO MAIS CONTEXTO 49TURISMO 49


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rescendo no setor, o turismo ecológico atrai a atenção de muitas pessoas que buscam um contato mais saudável com os recursos naturais. O menor Estado brasileiro é um paraíso de sol e águas frescas em todo seu território durante a maior parte do ano. Grandes rios como o Vasa Barris e o São Francisco, praias em vários pontos de seu litoral, riachos de águas doces e parques aquáticos ecológicos fazem parte dos principais roteiros para aqueles que buscam diversão e aventura para todos da família. A Revista Mais Contexto viajou até um dos principais roteiros turísticos do Estado, lá no sertão. A região é famosa por ter sido o último lugar que o lendário Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e parte de seu bando estiveram e pelo quinto maior cânion navegável do mundo, o Xingó. Pra quem quer ir até esse roteiro, um dia será o suficiente. Mas se você é como a gente que gosta de apreciar cada pedaço de um lugar, então com certeza você irá amar passar mais tempo na região. Vale lembrar que Canindé de São Francisco e Poço Redondo, ambas em Sergipe, fazem parte do polo turístico do Velho Chico, compondo um complexo

turístico que engloba ainda os municípios alagoanos de Piranhas, Delmiro Gouveia e Olho d’água do Casado. Aqui somos surpreendidos com incríveis paisagens, sabores, sons e artes. Saindo de Aracaju, o acesso mais rápido à região é pela BR-235, seguindo pela SE-175. Caso queira saber mais opções para chegar ao Polo, acesse o qr-code ao lado usando seu celular. Nove e meia da manhã. Estamos à beira da prainha beira-rio de Canindé. Daqui iremos embarcar num Catamarã que nos levará até a trilha do cangaço. A embarcação foi feita pelo próprio condutor Hugo Cavalcanti. Navegando Rio São Francisco abaixo, Hugo vai contando histórias da região. Verdades e lendas se misturam e constroem no imaginário do turista visões de como foi aquele lugar numa época em que ribeirinhos pescavam com facilidade peixes de quase um metro de tamanho. De uma época em que no bando do rei do cangaço, era o xaxado que animava

No espaço ecológico Angicos, o visitante tem diversas opções sustentáveis para se divertir

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as noites à beira de uma fogueira. Passados alguns minutos, chegamos ao nosso primeiro destino: O espaço ecológico e restaurante Angicos, em Canindé. O espaço oferece comidas regionais e um ambiente de taipa onde são vendidos artesanatos feitos por moradores do povoado Entremontes, que fica no município de Piranhas. Outro ambiente simula uma típica casa de outrora. Um rádio AM a pilha, um fogão à lenha, uma cama simples e um baú onde se guardavam os pertences das pessoas. Uma foto no local com certeza cairá bem para uma

Grupo de quadrilha junina faz apresentação em casa de cultura e


Outra possibilidade é fazer uma trilha até o local onde Lampião e parte de seu bando foram mortos, na Grota de Angicos, em Poço Redondo. O local, que em épocas de chuva faz correr um riacho, abriga muitas histórias. Anualmente, no mês de julho, o local reúne uma multidão que participa da chamada Missa do Cangaço, em memória à morte de Virgulino que neste ano de 2018 completou 80 anos. Já é quase noite. O pôr-do-sol vislumbra um cenário cinematográfico. O sol se esconde sobre as montanhas cobertas pela vegetação da caatinga. Caso sua opção seja voltar pra Canindé durante a noite, a sugestão é ir na Casa de Cultura e Arte Dona Givalda Fernandes. O espaço conta com restaurantes que oferecem comidas típicas, manufaturados feitos por artesãos de Canindé e Piranhas, e manifestações culturais de grupos da região, como xaxado, quadrilha dentre outras atrações. Mas se você preferir uma outra opção para noite, o centro histórico de Piranhas é uma boa alternativa. Entre suas ruas estreitas onde mal transitam um automóvel de passeio, casas com pinturas coloridas contam história de um passado onde o ex-imperador Dom Pedro II se hospedou. A gastronomia oferece carne

de carneiro, cachaça, pizza de carne de sol dentre outras iguarias ao som de música ao vivo. E nos fins de semana, a praça transforma-se em palco de apresentações culturais. Estas não são as únicas alternativas disponíveis na região. Para aqueles que querem mais aventura, um novo dia no Polo do Velho Chico será necessário para poder vivê-las. Entre a sede de Canindé e sua prainha corre um riacho durante todo o ano à beira da estrada . O acesso ao local deve ser feito a pé, saindo da cidade, já que não há espaço para estacionar. O local é perfeito para prática esportiva de Slackline, acampamento, ou simplesmente tomar aquele banho refrescante em sua cachoeira. A paisagem local mescla a riqueza da fauna e flora da caatinga contrapondo-se com o São Francisco. Podemos perceber que é possível curtir o que a natureza oferece sem agredi-la, já que os moradores da localidade têm buscado explorar seus recursos de forma sustentável na pesca, artesanato e no resgate histórico da região.

Turistas de Alagoas visitam local onde Lampião foi morto

Artesanato A artesã Leda Galindo trabalha com artesanato na região há mais de 18 anos anos. Atualmente, a artista também expõe suas obras nos centros culturais de Piranhas e de Canindé. Leda trabalha com reciclagem, usando vidro, plástico e metal além de madeira. Para ela, o trabalho é importante pois trabalha o ecossistema e com economia: “A partir do momento em que você recicla uma peça, você está economizando”, diz.

Imagem mostra alguns trabalhos de Leda Galindo

em Canindé

publicação nas redes sociais.

Cachoeira do lajedão é perfeita para lazer e práticas esportivas

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