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Leituras

Eva Justiça

Colaboradora da Divisão de Gestão e Apoio ao Associado da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução

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MISERY

de Stephen King

Stephen King é considerado o génio da escrita de terror e suspense. Podemos ter uma visão que justifica essa fama em livros como “Joyland” ou “Pet Sematary”, mas é em “Misery” que vamos encontrar o seu lado verdadeiramente macabro, o lado mais doentio da psique humana e macabro, o lado mais doentio da psique humana e que, em 1987, deu origem ao que hoje sabemos serem os stalkers psicopatas das celebridades.

“Misery” conta a história de Paul Sheldon, um escritor de romances cor de rosa que, apesar de lhe garantirem fortuna e seguidores, não lhe proporcionam satisfação profissional. Assim, decide “matar” a sua personagem principal, Misery, e dedicar-se a um novo género de escrita.

Um acidente de carro empurra-o para os cuidados médicos da sua fã n.º 1: Annie Wilkes. Sem conseguir movimentar as pernas, conforma-se que não terá alternativa senão confiar na sua salvadora. Annie é atenciosa, dedicada e, aparentemente, decidida a que o seu escritor favorito recupere… até ler o seu último livro e o manuscrito da nova história. Não só Paul Sheldon coloca um fim a Misery, como escreve um novo livro repleto de palavrões e personagens rudes. Annie, na sua complexidade psicológica e crueldade, decide, assim, que Paul Sheldon só voltará a andar quando Misery voltar a viver.

Este é um livro que não conseguimos largar, nem ler sem pausar. E é esse sentimento ambíguo que faz dele um dos melhores livros de Stephen King. Foi imortalizado no cinema, em 1990, num filme com o mesmo nome que deu a Kathy Bates o merecido Óscar da academia.

Para ler… e ver.

NÓS, OS ROMANOV

de Grão-Duque Aleksandr Mikhailovich

“Nós, os Romanov” não é um livro fácil de ler. Não é romanceado nem escrito para agradar. É um relato em primeira mão e um testemunho de quem vivenciou, na linha da frente, décadas que foram cruciais ciou, na linha da frente, décadas que foram cruciais na história da Rússia, antes da 1.ª Guerra Mundial.

Militar de renome, Aleksandr Mikhailovich escreveu esta autobiografia em 1931. Apenas 13 anos antes, a 17 de julho de 1918, os últimos czares da Rússia tinham sido brutalmente assassinados na cave da casa Ipatyev, em Ecaterimburgo.

Primo, amigo próximo e, eventualmente, cunhado de Nicolau II (tendo casado com Xénia Alexandrovna, irmã do último czar, em 1894), Aleksandr descreve, de forma minuciosa, a sua infância como Romanov. Passamos de uma infância fortemente controlada por precetores, por vezes cruéis, a uma adolescência e entrada na vida adulta vocacionada para a Marinha e para os estudos militares, que são explicados de forma pouco complicada, tornando a leitura deste livro possível para quem não tenha conhecimentos militares.

Esta obra oferece uma viagem histórica e geográfica pela Rússia, com detalhes e uma visão pessoal sobre os eventos que ocorreram até à grande Revolução de 1917. Não é apenas uma obra literária, mas sim uma herança para todos os amantes de história.

«Não me arrependo de nada. Não estou desanimado. As mãos dos meus netos hão de chegar mais longe do que as minhas e talvez possam alcançar um mundo melhor.»

Grão-Duque Aleksandr Mikhailovich

Foi no início do século XIX que Lisboa viu nascer uma nova forma de música. Tradicionalmente presente nos momentos de convívio e de lazer, o Fado sempre se manifestou de forma espontânea no quotidiano das gentes. Dentro ou fora de portas, cantava-se o que ia na alma: as preocupações, os desejos, a saudade, o destino. A palavra Fado, na sua origem, significa exatamente isso: destino. E o destino do Fado foi, e é, grandioso. Primeiro transformou-se no elemento representativo de Lisboa. Depois, de Portugal. Não satisfeito — não viesse de um país de Descobridores — saltou fronteiras e conquistou novos públicos que, mesmo sem entenderem uma palavra, o aplaudem de pé nas mais prestigiadas salas de espetáculos do mundo inteiro. Porque, como dizia Amália Rodrigues, “o que interessa é sentir o

Fado. (…) O Fado sente-se, não se compreende, nem se explica”. É exatamente para que possamos sentir o Fado que foi criado o museu que lhe presta homenagem. Instalado na antiga Estação Elevatória de Águas de Alfama, este espaço é composto por três andares pensados para proporcionar uma experiência sensorial à medida que os visitantes os vão percorrendo. Desde logo encontramos a exposição permanente, que nos conta a história do Fado desde a sua origem à atualidade. O nosso olhar é imediatamente atraído para dois grandes murais preenchidos por rostos de artistas: no primeiro, cantores, compositores e músicos que notabilizaram, desde a sua origem, o Fado; no segundo, uma nova geração de cantores, compositores e músicos que hoje continuam o legado dos primeiros. Através de um sistema de audioguias, cada pessoa pode ouvir músicas e muitas curiosidades sobre cada um deles, ao seu ritmo, sem constrangimentos de tempo ou de pressão por parte de outros visitantes. Embalados pelas melodias, continuamos a visita e vamos tendo contacto com o diverso espólio do museu, que vai desde a grandiosa obra ‘O Fado’, de José

Malhoa, ao tríptico ‘O Marinheiro’, de Constantino Fernandes, não esquecendo ‘O

Mais Português dos Quadros a Óleo’, de João Vieira. Até uma representação em miniatura da ‘Casa da Mariquinhas’, um dos maiores êxitos de Alfredo Marceneiro, pode ser vista no Museu. Tudo isto convive lado a lado com inúmeros testemunhos do universo fadista: instrumentos musicais, repertórios, jornais especializados, partituras, troféus, trajes, grafonolas, vinis, livros… Há de tudo um pouco,

Instalado na antiga Estação Elevatória de Águas de Alfama, o Museu do Fado é composto por três andares pensados para proporcionar uma experiência sensorial à medida que os visitantes os vão percorrendo. Desde logo encontramos a exposição permanente, que nos conta a história do Fado desde a sua origem à atualidade. O nosso olhar é imediatamente atraído para dois grandes murais preenchidos por rostos de artistas: no primeiro, cantores, compositores e músicos que notabilizaram, desde a sua origem, o Fado; no segundo, uma nova geração de cantores, compositores e músicos que hoje continuam o legado dos primeiros.

Fotografias, jornais, discos, documentos, cartazes, instrumentos musicais, troféus, condecorações… há muito para ver no Museu do Fado.

o que nos mostra que o Fado está presente nos mais variados aspetos da vida. Paralelamente, há postos de consulta interativa que permitem a consulta dos acervos documentais ou de biografias de intérpretes, músicos, autores e compositores, com audição e visionamento de videogramas.

Mas a visita não acaba aqui. O Museu do Fado organiza exposições temporárias, numa média de três por ano, o que convida a voltar com regularidade. Neste momento, podemos usufruir de uma exposição dedicada ao músico, intérprete, colecionador e investigador José Pracana (1946-2016), reconhecido como uma das grandes figuras da história do Fado. Em exibição encontra-se o seu vastíssimo acervo pessoal: fotografias, jornais, discos, documentos, cartazes, instrumentos musicais, troféus e condecorações, sendo possível o visionamento de imagens de arquivo dos programas televisivos que dirigiu. Desta exposição faz também parte uma curiosa recriação do retiro de José Pracana em Ponta Delgada, que permite a aproximação ao ambiente singular das tertúlias fadistas que ali eram promovidas.

Um museu com vida

Se ainda pensa que o Fado está preso ao passado, dificilmente vai manter essa opinião depois de saber que as ofertas do museu não ficam por aqui: há uma escola com cursos de guitarra portuguesa e viola de fado, aulas para aprender a escrever Fado e para aprender técnicas de respiração e de dicção para o cantar, gabinetes de ensaio para profissionais e amadores, um arquivo sonoro digital único em Portugal (que disponibiliza, gratuitamente e através do site do museu, gravações de Fado desde o início da edição discográfica no nosso país) e um auditório com programação regular. Mas há mais: o Museu do Fado conta também com uma editora própria que, desde 2016, apoia novos artistas e lança os seus primeiros discos, dando a conhecer nomes que hoje têm uma brilhante carreira no mundo do Fado, como são exemplo os guitarristas José Manuel Neto, Armindo Fernandes ou Bernardo Couto.

O Museu do Fado organiza, ainda, vários eventos fora de portas, como o ciclo “Há Fado no Cais”, que acontece desde 2012, numa parceria com o Centro Cultural de Belém (CCB), entre outras iniciativas espalhadas pelo país e, mesmo, no estrageiro.

Por isso, já sabe: o Museu do Fado é um local simbólico a visitar em Lisboa. Quer seja porque quer dar os primeiros passos neste mundo, quer seja porque gosta de Fado e quer descobrir mais sobre o estilo musical e, no fundo, sobre a história de Portugal, siga o nosso conselho e parta à descoberta deste espaço. O Museu está de portas abertas para o receber de terça a domingo, entre as 10:00 e as 18:00 (últimas admissões às 17:30).