Terramorena

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Altos Castelos (LP Baladas e canções, 1964) Altos castelos de branco luar Linda menina que vai casar Torres cinzentas que dão para o vento Dentro do meu pensamento Eu lá na serra não sou ninguém Se fores p’rà guerra eu irei também Irei também numa barca bela Cinta vermelha e saia amarela Na praia nova caiu uma estrela Moças trigueiras ide atrás dela Rola rolinha garganta de prata Canta-me uma serenata Eu lá na serra não sou ninguém Se fores p’rà guerra eu irei também Irei também numa barca bela Cinta vermelha e saia amarela Um cavalinho de crina na ponta Leva à garupa uma bruxa tonta Duas meninas a viram passar Mesmo à beirinha do mar Eu lá na serra não sou ninguém Se fores p’rà guerra eu irei também Irei também numa barca bela Cinta vermelha e saia amarela

Os Vampiros (EP Baladas de Coimbra, 1963) No céu cinzento Sob o astro mudo Batendo as asas Pela noite calada Vêm em bandos Com pés veludo Chupar o sangue

Fresco da manada Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada A toda a parte Chegam os vampiros Poisam nos prédios Poisam nas calçadas Trazem no ventre Despojos antigos Mas nada os prende Às vidas acabadas São os mordomos Do universo todo Senhores à força Mandadores sem lei Enchem as tulhas Bebem vinho novo Dançam a ronda No pinhal do rei Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada No chão do medo Tombam os vencidos Ouvem-se os gritos Na noite abafada Jazem nos fossos Vítimas dum credo E não se esgota O sangue da manada

Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem tudo Eles comem tudo E não deixam nada Vejam Bem (LP Cantares do Andarilho, 1968) Vejam bem que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar quando um homem se põe a pensar Quem lá vem dorme à noite ao relento na areia dorme à noite ao relento no mar dorme à noite ao relento no mar E se houver uma praça de gente madura e uma estátua e uma estátua de febre a arder Anda alguém pela noite de breu à procura e não há quem lhe queira valer e não há quem lhe queira valer Vejam bem daquele homem a fraca figura desbravando os caminhos do pão desbravando os caminhos do pão E se houver uma praça de gente madura ninguém vai ninguém vai levantá-lo do chão


Carta a Miguel Djéjé (LP Traz Outro Amigo Também, 1970) Diga amigo Miguel Como está você? Em todo o Xipamanine Já ninguém o vê Vou dar-lhe a minha viola Para tocar outra vez O seu valor um dia Você mostrou Todo o mainato o ouvia E até dançou Miguel só você sabia Tocar como já tocou Vinha maningue gente Para aprender Moda lá da sua terra Bonita a valer O Jaime e o Etekinse Amigos não volt´haver Quando a noite se ouvia Miguel tocar Também havia a marimba Para acompanhar A noite Na Ponta Geia Amigos hei-de recordar O barco foi andando E a Nanga vi Foi a saudade aumentando Longe daí A gente Na minha terra Não canta assim Como eu ouvi É Para Urga (LP Eu Vou Ser Como a Toupeira, 1972)

É para urga Que a gente vai Para urga caminho Caminho para lá Em urga os bandidos Não me hão-de apanhar Eu hei-de vencer Eu hei-de vencer Entre mim e urga O deserto que houver Em urga recebo A maquia e então Vou tirar proveito Do meu ganha-pão O Que Faz Falta (LPCoro dos Tribunais, 1974) Quando a corja topa da janela O que faz falta Quando o pão que comes sabe a merda O que faz falta O que faz falta é avisar a malta O que faz falta O que faz falta é avisar a malta O que faz falta Quando nunca a noite foi dormida O que faz falta Quando a raiva nunca foi vencida O que faz falta O que faz falta é animar a malta O que faz falta O que faz falta é acordar a malta O que faz falta Quando nunca a infância teve infância O que faz falta Quando sabes que vai haver dança O que faz falta

O que faz falta é animar a malta O que faz falta O que faz falta é empurrar a malta O que faz falta Quando um cão te morde a canela O que faz falta Quando a esquina há sempre uma cabeça O que faz falta O que faz falta é animar a malta O que faz falta O que faz falta é empurrar a malta O que faz falta Quando um homem dorme na valeta O que faz falta Quando dizem que isto é tudo treta O que faz falta O que faz falta é agitar a malta O que faz falta O que faz falta é libertar a malta O que faz falta Se o patrão não vai com duas loas O que faz falta Se o fascista conspira na sombra O que faz falta O que faz falta é avisar a malta O que faz falta O que faz falta é dar poder a malta O que faz falta Viva o Poder Popular (SINGLE Viva o Poder Popular, 1974) Não há velório nem morto Nem círios para queimar Quando isto der prò torto Não te ponhas a cavar Quando isto der prò torto Lembra-te cá do colega


Não tenhas medo da morte Que daqui ninguém arreda Se a CAP é filha do facho E o facho é filho da mãe O MAP é filho do Portas Do Barreto e mais alguém Às aranhas anda o rico Transformado em democrata Às aranhas anda o pobre Sem saber quem o maltrata Às aranhas te vi hoje Soldado, na casamata Militares colonialistas Entram já na tua casa Vinho velho vinho novo Tudo a terra pode dar Dêm as pipas ao povo Só ele as sabe guardar Vem cá abaixo ó Aleixo Vem partir o fundo ao tacho Quanto mais lhe vejo o fundo Mais pluralista o acho Os barões da vida boa Vão de manobra em manobra Visitar as capelinhas Vender pomada da cobra A palavra socialismo Como está hoje mudada De colarinho a Texas Sempre muito aperaltada Sempre muito aperaltada Fazendo o V da vitória Para enganar o proleta Hás-de vir comigo a glória O Willy Brandt é macaco O Giscard é macacão O capital parte o coco

Só não ri a emigração De caciques e de bufos Mandei fazer um sacrário Para por no travesseiro Dum cura reaccionário Não sei quem seja de acordo Como vamos terminar Vinho velho vinho novo Viva o Poder Popular. O País vai de Carrinho (LP Como se Fora seu Filho, 1983) O país vai de carrinho Vai de carrinho o país Os falcóes das avenidas São os meninos nazis Blusão de cabedal preto Sapato de bico ou bota Barulho de escape aberto Lá vai o menino-mota Gosta de passeio em grupo No mercedes que o papá Trouxe da Europa connosco Até à Europa de cá Despreza a ralé inteira Como qualquer plutocrata Às vezes sai para a rua De corrente e de matraca Se o Adolfo pudesse Ressuscitar em Abril Dançava a dança macabra Com os meninos nazis Depois mandava-os a todos Com treze anos ou menos Entrar na ordem teutónica Combater os sarracenos Os pretos, os comunistas

Os Índios, os turcomanos Morram todos os hirsutos! Fiquem só os arianos ! Chame-se o Bufallo Bill Chegue aqui o Jaime Neves Para recordar Wiriamu, Mocumbura e Marracuene Que a cruz gamada reclama e novo o Grão-Capitão Só os meninos nazis Podem levar o pendão Mas não se esquecam do tacho Que o papá vos garantiu Ao fazer voto perpétuo De ir prà puta que o pariu Canto Moço (LP Traz Outro Amigo Também, 1970) Somos filhos da madrugada Pelas praias do mar nos vamos À procura de quem nos traga Verde oliva de flor no ramo Navegamos de vaga em vaga Não soubemos de dor nem mágoa Pelas praias do mar nos vamos À procura de manhã clara Lá do cimo de uma montanha Acendemos uma fogueira Para não se apagar a chama Que dá vida na noite inteira Mensageira pomba chamada Mensageira da madrugada Quando a noite vier que venha Lá do cimo de uma montanha Onde o vento cortou amarras Largaremos p’la noite fora Onde há sempre uma boa estrela


Noite e dia ao romper da aurora Vira a proa minha galera Que a vitória já não espera Fresca, brisa, moira encantada Vira a proa da minha barca. Milho Verde (LP Cantigas do Maio, 1971) Milho verde, milho verde Milho verde maçaroca À sombra do milho verde Namorei uma cachopa Milho verde, milho verde Milho verde miudinho À sombra do milho verde Namorei um rapazinho Milho verde, milho verde Milho verde folha larga À sombra do milho verde Namorei uma casada Mondadeiras do meu milho Mondai o meu milho bem Não olhais para o caminho Que a merenda já lá vem O Cabral Fugiu Para Espanha (LP Fura Fura, 1979) Ele que só nos trouxe a maior miséria encontra-se a pagar a sua vilania num exílio vergonhoso em terra de Espanha. Provou-se que o povo tinha razão. E provou-se também que a unidade de todos os cidadãos há-de levar de vencida essa corte corrupta e indigna.

Temos de exigir medidas revolucionárias ao nosso governo. Não podemos permitir que o Duque de Palmela, o nosso ministro, continue nas mesmas águas turvas do Costa Cabral. Se não é capaz de tomar medidas que sirvam o povo, que vá para lá outro. Aprende Rainha aprende Mede bem o teu poder Tu dum lado o povo d´outro Qual dos dois há-de vencer O Cabral fugiu p´ra Espanha Com uma carga de sardinha Com a pressa que levava Nem disse adeus à Rainha Viva a Maria da Fonte Ve com esporas de prata A cavalo na Rainha Com o Saldanha á arreata O Cabral queria ser rei A mulher quer ser rainha Foram-se os Cabrais embora Só ficou a Luisinha O Cabral fugiu para Espanha Já lá vai para a Galiza Com a pressa que levava Nem disse adeus à Luisa Achéga-te A Mim, Maruxa (LP Fura Fura (Letra Popular, Galiza), 1979) Achéga-te a mim, Maruxa chéga-te ben, moreninha quéro-me casar contigo

serás minha mulherinha Adeus, estrela brilante companheirinha da lua moitas caras tenho visto mais como a tua ningumha Adeus lubeirinha triste de espaldas te vou mirando non sei que me queda dentro que me despido chorando Grândola Vila Morena (LP Cantigas do Maio, 1971) Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade

SONS DA LUSOFONIA 15 DE MAIO DE 2015 TERRA MORENA canta ZECA AFONSO


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