expoportugalA3_cpimaside_2011

Page 1

BREVE RETRATO DE PORTUGAL Nome oficial - República Portuguesa Fundação do Estado - 1143 Instauração da República – 1910 (5 de Outubro) Símbolos Nacionais - Bandeira Nacional e Hino Nacional Festa Nacional - 10 de Junho - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas Língua - português e mirandês. O português é ainda língua oficial noutros sete países e é falado por mais de 200 milhões de pessoas Sistema constitucional A Constituição de 1976 instituiu um regime de democracia representativa, de natureza semipresidencialista, definindo como órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais. Presidente da República (eleito por sufrágio universal cada cinco anos), Assembleia da República (eleita por sufrágio universal cada quatro anos), Governo (nomeado pelo Presidente da República tendo em conta os resultados eleitorais para a Assembleia da República. O Governo está constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos Secretários e Subsecretários de Estado. É o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da administração pública..). Partidos políticos representados no parlamento - Partido Socialista, Partido Social Democrata, Partido Comunista Português, Partido Popular, Bloco de Esquerda, Partido Ecologista Os Verdes Divisão territorial - duas Regiões Autónomas (Açores e Madeira) e 18 distritos no Continente Capital - Lisboa Área - 92 152 km2 População - 10 637 milhares (2007) População activa - 5 595 milhares (2009) Densidade populacional por km2 - 115 (2007) Moeda - Euro (dividido em 100 cêntimos) Clima (temperaturas médias) Costa e Arquipélagos - Inverno: 12º; Verão: 21ºInterior e zonas montanhosas: Inverno: 5º; Verão: 25º

Organização administrativa A divisão político-administrativa portuguesa integra duas regiões autónomas, Açores e Madeira, as quais foram dotadas de estatuto político-administrativo e de órgãos de governo regional próprio. O território português divide-se em 18 distritos, nos quais se agrupam os concelhos que, por sua vez, se subdividem em freguesias. O número total de concelhos é de 308. Dispõem de órgãos próprios – a assembleia e a câmara As freguesias – 4257 em todo o país – têm também órgãos próprios – a assembleia e a junta . Não obstante estar prevista na Constituição de 1976 a existência de regiões administrativas, a sua implementação foi rejeitada por referendo nacional, em 8 de Novembro de 1998. A divisão regional de referência para a maioria dos portugueses são as províncias (embora tenhan sido extintas com a Constituição de 1976) e mantiveram-se, até recentemente, nos manuais escolares)


LUSOFONÍA O conceito «Lusofonia» usa-se genericamente para designar o conjunto das comunidades de língua portuguesa no mundo. Para além de Portugal, há mais sete países que utilizam o Português como língua oficial: Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Estes países coñécense co nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)

LEGENDA Países ou territórios com o português como língua materna e/ou língua oficial 1 Crioulos da Alta Guiné 2 Crioulos do Golfo da Guiné 3 Crioulos Indo-portugueses 4 Crioulos Malaio-portugueses 5 Crioulos Sino-portugueses 6 Crioulos do Brasil

Fora de Portugal, o português coexiste a par de outras línguas indígenas e/ou de crioulos de base lexical portuguesa (línguas mistas nascidas do contacto do português com as línguas nativas cujo léxico é de base portuguesa)

O português é a sexta língua materna a nível mundial e a terceira europeia oficialmente mais falada no mundo, por mais de 200 milhões de pessoas na actualidade. Pois esta língua que se estendeu por todo o mundo e que nós (os galegos e galegas) conseguimos ler e compreender, nasceu cá no território que hoje é a Galiza. Sugestão: investiga sobre isto.


CRÓNICA MUSICAL DOS ANOS DE RESISTÊNCIA

CANÇÕES DE LUTA E LIBERDADE

Todas as épocas têm uma atmosfera. A de Portugal dos anos 60/70 foi marcada por canções que iam, a pouco e pouco; afastando a poeira de um viver medíocre, imposto pela ditadura, abrindo nele horizontes de luz. É impossível ouvir, hoje, "Verde anos"1 de Carlos Paredes sem sentir esse arrepio que percorreu uma geração que se sentia encurralada, sem saida, e simultaneamente ouvir no dedilhar magistral da guitarra o grito de revolta que se adivinhava. "Despertar", era o título, e nesse ano de 1963 (quando Amílcar Cabral desencadeia a guerrilha na Guiné; dois anos após á guerra colonial ter começado em Angola) o país despertava para um futuro ainda mais difícil.

Adriano Correia de Oliveira cantava 'Quem poderá proibir estas gotas de chuva/ que gota a gota escrevem nas vidraças/ pátria viúva/ a dor que passas?" 2 A canção foi gravada em 1971 mas as palavras são dá 1961. Seu autor: Manuel Alegre, que nos anos da resistência, entre a prisão e o exílio, ia escrevendo muitos dos poemas que, musicados, haviam de alimentar "o ncsso amargo cancioneiro". Como estas palavras de António Gedeão (cantado por Samuel): "Tenho pressa de viver/ que a vida é água a correr" (...) Não há poder que me vença/ mesmo morto hei-de passar" 3. Os verdes anos a empurrar as trevas, agora na "Fala do homem nascido" E de que sofria a pátria viúva? Que dores a atormentavam? A emigração e a guerra, não necessariamente por esta ordem, embora à primeira sé Adriano Correia de Oliveira, xunto com começasse a juntar o exílio forçado, também por causa da guerra: 4 José Afonso, abre novos caminhos na ''Eles que partem/ novos e velhos' , cantava Manuel Freire. E Adriano''desculpava" música popular portuguesa assim a partida de quem deixava 'a terra onde inféliz nasceu": "quando troca o certo pelo incerto/ motivos há-de ter"5. De França, do exílio, cantava-se á nostalgia da pátria: "Paris não rima com meu país"6, escrevia Manuel Alegre. E José Mário Branco; também de Paris, cantava: Não foi por vontade nem por gosto/ que deixei a minha terra”7 . A par da emigração; a guerra fazia outras feridas: "Já lá vai Pedro soldado/ num barco da nossa armada/ e leva o nome bordado/ num saco cheio de nada/ triste vai Pedro soldado”8. Em Africa, esperava-o a dor: "Em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu/ tu não sabes mas eu digo-te: dói muito"9. De novo Alegre, agora na voz de Paulo de Carvalho e, também, de Carlos Mendes: "Meu amigo quebrou-se como se fosse de vidro/ ficaram vinte e cinco pedaços de um homem" 10. E também de Adriano, sobre a ausência dos que a guerra dizimava: "Porque te vi morrer eu canto para ti/ (...) Lisboa e o sol. Lisboa com lágrimas" 11 Fm Portugal, a pressão sobre o regime tinha um reverso: a repressão. Política, policial, social. E também aqui se inscrevia a morte. O assassinato do pintor José Dias Coelho pela Polícia Política de Salazar, a PIDE, levou José Afonso a escrever e a cantar: "Aqui te afirmamos/ dente por dente/ assim/ que um dia/ rirá melhor/ quem rirá por fim''12. Palavras directas e claras, proibidas na rádio mas admitidas em disco. Outras, mais metatóricas, sublinhavam idêntico luto. Como estas, de Sebastião da Gama, cantadas polo então padre Francisco Fanhais: "Cortararam as asas ao rouxinol/ rouxinol sem asas não pode voar"13. Anos antes, Jose Afonso cantava: "foge estrangeiro/ da noite escura/ pega nas armas/ vem batalhar E em 1971 transformou a alegoria num hino: "Cobre-te canalha/ na mortalha/ hoje o rei vai nu// os velhos tiranos/ de há mil anos/ morrem corno tu" 14 Não era um lamento, em já uma promessa de vitória: “Ergue-te ó sol de Verão/ somos nós os teus cantores/ da matinal canção// ouvem-se já os rumores/ ou vem-se já tambores/ ouvem-se já os tambores”15 . Ouviram-se.

Zé Mário Branco

1. Verdes anos, Carlos Paredes 2. Canção tão simples, Adriano Correia de Oliveira 3. Fala do homen nascido, Samuel 4. Eles, Manuel Freire 5. Emigração, Adriano Correia de Oliveira 6. Paris não rima com meu pais, Mário Viegas. 7. Por terras de França, Zé Mário Branco 8. Pedro Soldado, Manuel Freire 9. Nambuangongo, meu amor, Paulo de Carvalho 10. Segunda canção com lágrimas, Carlos Mendes

“Trevas e verdes anos”, Nuno Pacheco, Jornal Público, 2004

11. 12. 13. 14. 15.

Canção com lágrimas, Adriano Correia de Oliveira A morte saiu à rua, José Afonso Cantilena, Francisco Fanhais O cavaleiro e o anjo, José Afonso Coro da Primavera, José Afonso


OS TAMBORES DA LIBERDADE

CANÇÕES DE LUTA E LIBERDADE

De França, para onde emigravam muitos portugueses, chegavam vozes de alerta. As palavras de Sérgio Godinho, cantadas também por José Mário Branco, ambos exilados em Paris no ano de 1971, soavam como uma seta apontada ao coração do regime: "Na ruela de má fama/ faz negócio um charlatão (…) Entre á rua e o país/ vai o passo de um anão/ vai o rei que ninguém quis/ vai o tiro de um canhão/ e o trono é do charlatão” 16. A sátira fazia-se se arma de combate. Como nas palavras do conde de Monsaraz com que Adriano retrata as públicas virtudes do "senhor Morgado”. "Quando passa, sente/ que é temido e amado/ fala a toda a gente/ topa um influente;/ 'Sou um seu criado...'/ eleições à porta/ seja Deus louvado"17. Mas o "rei que ninguém quis" morre. E o "morgado" assusta-se. Sérgio Godinho Numa canção espectral, José Afonso assinala a ausência: "o avô cavernoso/ instituiu a 18 chuva/ ratificou a demora/ persignou-se/ ninguém o chora agora" . Não demoraram as fanfarras. No festival da canção, onde predominavam cançonetas fúteis, insinuam-se outros ventos e, em 1973, a canção vencedora gela as veias dos dignitários do regime. Assinava-a José Carlos Ary dos Santos e cantava-a Fernando Tordo: "Com bandarilhas de esperança/ afugentamos a fera/ estamos na praça da Primavera"19. A denominada "Primavera marcelista", de intuitos renovadores frustrados, não achou graça. Mas a "Tourada" venceu, atirada à cara dos que nela se viam retratados: "E diz o inteligente/ que acabaram as canções." Pelo contrário, as canções multiplicaram-se.. E olhavam outras coisas, descobrindo-lhes forças adormecidas. As mãos, por exemplo (de novo Alegre na voz de Adriano): “Com mãos se faz a paz se fai a guerra/ com mãos tudo se faz e se desfaz" 20. E observavam o seu poder em cadeia: "Vi-te á trabalhar o dia inteiro/ construir a cidade para os outros/ carregar pedras, desperdiçar/ muita força por pouco dinheiro"21, cantava Sérgio Godinho. José Mário Branco desmontava nesta frase o maquinismo: “Para ter um companheiro nesta viagem/ vou meter um pauzinho na engrenagem"22. A viagem era a mesma e ia ganhando passageiros. Isto nas cidades, porque no campo a consciência tardava. "Há quem viva sem dar por nada/ e há quem morra sem tal saber"23, cantava José Afonso à manhã moça que "nunca mais vem". Era a sorte de uma mulher da erva, diferente desta outra, alentejana, que pagou caro a ousadia de enfrentar as espingardas: "Quem viu morrer Catarina/ não perdoa a quem matou"24. Catarina Eufemia, camponesa de Baleizão assassinada pela guarda. Novo epitáfio, nova promessa. Na cidade, a condição feminina ecoava noutras vozes, como as de Gedeão "Calçada de Carriche"25, ou Daniel Filipe ("Poema X”26). E as canções continuavam a soar como tambores da liberdade, instigadoras da mudança. 16. O charlatão, José Mário Branco. 17. O senhor morgado, A. Correia de Oliveira. 18. O avô cavernoso, José Afonso 19. Tourada, Fernando Tordo

Em dez anos, muito tinha mudado. Em 1963, Adriano cantava (o poema era de Alegre): "Há sempre alguém que semeia/ canções no vento que passa"27. Uma década depois, em 1973, muitas sementes davam fruta, José Afonso celebrava em "Venham mais cinco": “Se o velho estica/ eu fico por cá"28. E houve quem quisesse fazer desta canção a senha radiofónica para o movimento dos capitães. Mas ela estava proibida de passar na rádio e, então vingaram outras duas. "E depois do adeus"29, que tinha acabado de ganhar o Festival da Canção, já em Abril de 1974; e "Grandola vila morena”, que uma multidão exaltada entoara em uníssono no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, no I Encontro da Canção Portuguesa de 29 de Março. "Quis saber quem sou/ o que faço aqui"29: estas palavras, na voz de Paulo de Carvalho, transmitidas pelos Emissores Associados de Lisboa, pareciam adequadas ao momento. Depois veio a senha definitiva, pela antena da Rádio Renascença e na voz de José Afonso:

"O povo é quem mais ordena/ dentro de ti ó cidade" 30. Era uma canção, mais uma, mas fez-se história. “Os tambores da liberdade”, Nuno Pacheco, Jornal Público, 2004

20. As mãos, A. Correia de Oliveira. 21. Que força é essa, Sérgio Godinho. 22. Engrenagem, José Mário Branco. 23. Mulher da erva, José Afonso 24. Cantar alentejano, José Afonso

25. Calçada de Carriche, Carlos Mendes, 29. E depois do adeus, Paulo de 26. Poema X, Sérgio Godinho. Carvalho. 27. Trova do vento que passa, A. Correia 30. Grândola vila morena, de Oliveira José Afonso 28. Venham mais cinco, José Afonso


ZECA AFONSO

Marcha a Mozambique como profesor de Instituto en 1964 e alí colabora co Teatro Experimental de Beira, para o que ilustra a peza A excepción e a regra de B. Brecht. Desenvolve unha intensa actividade política xunto cos seus alumnos dos cuarteis do exército colonial e do Centro Asociativo de Lourenzo Marques. El mesmo diría que o seu bautismo político comezou en África: “Estaba a dous pasos do oprimido”. De volta a Portugal instálase en Setúbal. É o ano 1967 e o Zeca é expulsado do ensino público. Isto obrígalle a malvivir e manter a duras penas os catro fillos que ten con clases particulares e co pequeno xornal que consegue grazas a gravar regularmente discos. Ese mesmo ano sae o seu primeiro L.P., Baladas e canções, e publica o primeiro libro de poemas, Cantares (Lisboa). Intensifica a súa actividade política na Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR) e en sectores próximos ao Partido Comunista Portugués. Do ano 1968 é o disco Cantares do Andarilho e do 1969, Contos velhos, rumos novos. En 1970 viaxa a Cuba, publica o segundo dos seus libros, Cantar de novo (Tomar), e grava Traz outro amigo também. Nos anos 1969, 70 e 71 a Casa da Imprensa de Lisboa concédelle o premio ó mellor disco do ano e nos anos 1970, 71, 72 e 73 o de mellor intérprete. Durante o ano 1971 é preso pola PIDE en diversas ocasións e algunhas das súas cancións son prohibidas.

JOSÉ AFONSO (Aveiro, 2-VIII-1929; Azeitão, 23-II-87) Cantor, poeta e compositor antifascista portugués que tivo unha notable influencia na música e canción populares en Galiza a partir dos anos 70. Logo dunha infancia a cabalo entre África (Angola e Mozambique) e a metrópole, instálase na casa dunha tía en Coimbra onde coñece o guitarrista Antonio Portugal. En 1949 comeza a destacar como cantor de fado de Coimbra, modalidade musical exclusiva da zona. Contacta alí con nomes importantes da vida académica e con músicos non profesionais como o guitarrista Flavio Rodrigues (barbeiro) ou Cristina Matos (cantadeira popular). Viaxa en 1952 a Galiza por primeira vez como membro da Tuna de Coimbra, visita que non lle dá oportunidade de contactar coa realidade galega. Inicia unha atribulada carreira de profesor de ensino secundario que o leva por varios puntos do país. En 1958 grava o seu primeiro disco, Baladas de Coimbra, con temas alleos, propios do xénero, e participa en Lagos no movemento creado en torno da candidatura do xeneral Humberto Delgado ás eleccións presidenciais (o xeneral sen medo sería asasinado pola PIDE, policía política do réxime de Salazar, en terras de Badaxoz en febreiro de 1963). O Zeca, como se lle coñecía popularmente, grava Balada de Outono, primeiro disco con temas propios, que pode considerarse como o primeiro fito da revolución musical que se estaba xestando en Portugal. En 1960 o movemento democrático estudiantil de Coimbra axítase e as cancións Os Vampiros de J.A. e Trova do tempo que passa de Adriano Correia de Oliveira convértense en auténticos himnos de liberación.

Grava en París Cantigas do Maio, no que inclúe o tema Grândola, vila morena, con arranxos e dirección musical de José Mário Branco. O disco supón unha revolución formal e representará un punto de referencia para toda a nova música popular portuguesa. Visita Galiza por primeira vez convidado para cantar en 1972. Os días 8, 9 e 10 de maio canta en Ourense, Lugo e Santiago respectivamente. Acompáñao á guitarra e ás voces Benedicto, cantor galego que traballará con el ata o ano 1974. O recital de Santiago, no Burgo das Nacións, sede daquela da Facultade de CC. Económicas, é especialmente importante. Fai a presentación Emilio Pérez Touriño como delegado da Facultade. É a primeira vez que canta nun recital individual diante dun público tan numeroso e tamén a primeira que canta en público a Grândola, vila morena. Queda impresionado da receptividade do público galego e repetirá ao longo dos anos que foi un dos mellores recitais da súa vida. Toma contacto coa literatura galega e séntese especialmente atraído por Curros Enríquez e Celso Emilio Ferreiro. Canta por primeira vez en Asturias no Centro Cultural de Mieres e na Fiesta de la Cultura de Xixón.


É elixido por votación popular para representar a Portugal no VII Festival Internacional da Canção Popular coa canción A morte saiu á rúa adicada ó escultor Días Coelho, asasinado pola PIDE. Grava en Madrid Eu vou ser como a toupeira. Volve a cantar en Galiza en marzo de 1973, traendo como convidados a cantar os tamén portugueses José Jorge Letria, Manuel Freire e Francisco Fanhais. O recital de Lugo non se pode realizar por prohibición gobernativa pero o Zeca non faltará ata que as forzas llo permitan ás citas frecuentes co público galego, facéndose acompañar sempre por novos músicos e cantantes. Repítese, durante o verán, a actuación en Asturias na Fiesta de la Cultura de Xixón. A este ano corresponde o disco Venham mais cinco. O 29 de marzo de 1974 celébrase no Coliseu de Lisboa o Encontro da Canção Portuguesa; a censura só permite que J.A. cante dúas cancións: Milho Verde e Grândola, vila morena. O público pídelle que repita unha e outra vez Grândola. Poucos días antes do Golpe dos Capitães canta en Santiago.

O 25 de abril cólleo en Lisboa. Non dá creto ao que ve ata prensenciar o asalto á sede da propia PIDE. Tampouco é consciente do fenómeno que significa ter sido usada a Grândola como contrasinal do golpe ata que as diversas intentonas involucionistas posteriores fan que o pobo use a canción como arma democrática. A partir dese momento, a actividade do Zeca Afonso multiplícase tanto dentro como fóra do país, axudando ás incipientes cooperativas agrarias, consolidando as liberdades, nun exercicio lúcido e total da entrega solidaria da súa existencia, como home e como artista. Na fin dese ano crucial grava Coro dos Tribunais. Tamén ese ano impulsa, xunto cos compañeiros de canción (entre os que estaban J. Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Júlio Pereira, Fausto e Luís Cilia) o Colectivo de Acção Cultural coa finalidade de loitar colectivamente polas reivindicacións dos traballadores e do movemento democrático popular. En 1975 publícanse outros dous libros, distintos pero co mesmo título, José Afonso; un en Lisboa e outro en Madrid (Ed. Júcar) Ámbolos dous son da autoría de J. Viale Moutinho e conteñen un importante apartado poético. En 1976 publica o disco Com as minhas tamanquinhas e recibe en Alemaña o Premio Internacional de Folclore da Academia Fonográfica Alemana. Sempre á marxe de militancia partidaria, apoia as candidaturas de Otelo Saraiva de Carvalho para a Presidencia da República en 1976 e 1980. O disco de 1977 é Enquanto há força e o do 78, Fura fura. A última actuación do Zeca en Galicia prodúcese no verán de 1979, no Parque de Castrelos de Vigo, acompañado, entre outros, por Júlio Pereira. En 1980 publica o libro de poemas Quadras Populares (Lisboa).

A súa actividade é contínua e intensísima ata que no ano 82 os primeiros síntomas da enfermidade impídenlle tocar a guitarra, unha esclerose lateral amiotrópica que destrúe dun xeito lento e progresivo todo o tecido muscular. Os médicos que visita en Romanía, Inglaterra ou EE.UU. non son quen de atallar a doenza. Sacando forzas do fondo do espírito, Zeca Afonso publica en 1983 o libro Textos e Canções (Lisboa), que contén a totalidade da súa obra e dous discos: Ao vivo no Coliseu (gravado no Coliseo de Lisboa nun espectáculo que representou unha espléndida mostra do respecto e admiración popular, política e musical) e Como se fora seu filho.

Tamén nese ano, o xornalista Viriato Teles publica Zeca Afonso. As voltas de um andarilho, cunha ampla entrevista con JA No ano 1984, e aproveitando tamén a forma dunha longa serie de entrevistas, sae á rúa o libro Livra-te do medo. Estórias e andanças do Zeca Afonso, de José A. Salvador. En 1985 apoia a María Lourdes Pintassilgo como candidata á Presidencia da República e grava o último disco, Galinhas do mato, no que J.A. interpreta só dous temas gravados con anterioridade O 23 de febreiro de 1987 morre en Setúbal deixando un cento de cancións por rematar e un pobo orfo que o acompañou ata o final nunha impresionante manifestación popular.


Repercusión de J.A. en Galiza. O 31 de agosto de 1985 celebrouse no Parque de Castrelos de Vigo unha homenaxe co título de Galiza a José Afonso, organizada pola Federación de Asociacións Culturais e Xuventudes Musicais e patrocinado polo semanario A Nosa Terra, no que participaron numerosos músicos e cantores, galegos, portugueses, africanos e de Timor-Leste. Para aquela ocasión o propio Zeca enviou unha gravación na que dicía: “... Aproveito esta oportunidade para unha vez máis afirmar a minha grande amizade pola terra e o pobo galegos, cos que ao longo dos anos mantiven as mellores relacións, e para manifestar tamén a miña enteira solidariedade coa loita polo recoñecemento efectivo da lingua e cultura galegas como unha das máis ricas da península...” Do 25 de abril ao 23 de maio de 1987 celebráronse moi diversos actos (conferencias, concertos, recitais, publicacións, etc.) en toda Galiza baixo o título xenérico de Enquanto há força, organizados por un grupo de amigos e amigas do Zeca. No mes de decembro de 1994 a exposición José Afonso, andarilho, poeta e cantor estivo presente no Colexio de Fonseca de Santiago. A mostra, coorganizada pola Associação José Afonso, a Fundación 10 de Marzo e a Universidade de Santiago, contou con numerosísimo público que deixou constancia das súas impresións nun libro disposto para tal fin. O 8 de maio de 1997 celebráronse unha serie de actos para conmemorar os 25 anos de Grândola, vila morena, e descubriuse unha placa conmemorativa polo alcalde de Santiago, Xerardo Estévez, no Auditorio de Galicia, no lugar onde estivera o escenario da estrea da emblemática canción. Ademais, a Banda Municipal de Música volveu interpretar o tema, xunto co público asistente ao acto de homenaxe que se celebrou, e a Facultade de CC. Económicas decidiu pórlle o nome de José Afonso á súa Aula Magna. Son innumerables os músicos e cantores galegos que interpretaron ou interpretan directamente temas de Zeca Afonso ou que admiten ter bebido na súa obra como inspiración directa, en primeiro lugar o propio Benedicto, acompañante e amigo, Bibiano, Uxía, Candieira, Luar na Lubre e un longo etcétera Desde o ano 2009 unha praza de Santiago de Compostela, cidade onde cantou por primeira vez o Grândola, leva o seu nome.

Repercusión de Galiza en J.A. Nada mellor que as súas propias palabras para definir o que sentía por este país: “Galicz é para min tamén unha especie de patria espiritual...” “Foi a experiencia máis marabillosa. Algo especial. Tal vez ninguén me entendeu como en Galicia.” Bibl.: VV.AA., José Afonso. Unidade didáctica, Santiago, 1987; VV.AA., José Afonso, andarilho, poeta e cantor, Santiago, 1994; José A. Salvador José Afonso, o rosto da utopía, Lisboa, 1999. (B.G.V.)

Benedicto García Villar A música e a literatura galega tiveron unha gran influencia na obra de José Afonso. No Cantar galego (Achégate a min, Maruxa) o Zeca regalounos a máis fermosas das músicas para as nosas palabras.

"Galiza a José Afonso" (Edicións do Cumio, 2000) é un duplo CD que constitúe, ademais de o seu innegable valor musical, todo un documento sonoro dun momento histórico: o concerto que reuniu en agosto de 1985 a amigos e admiradores do cantautor portugués durante máis de doce horas no Parque de Castrelos, en Vigo. Unha auténtica maratón musical e cultural na que poetas, músicos e escritores homenaxearon a Zeca Afonso, que naquel momento estaba loitando contra a doenza que o consumía. O concerto, que tiña entre os seus obxectivos reunir diñeiro para axudar o Zeca no grave momento que vivía, foi quizais o máis semellante ó Woodstock americano, que houbo nestas terras. Así, saltaron ó escenario: poetas para recitar algúns dos temas e ideas que el defendía, amigos que lle dedicaron unhas palabras, músicos para recrear ó propio Zeca e pechando a homenaxe o grupo de maior resonancia musical da época, Fuxan os Ventos.


INVISIBILIDADE DA LITERATURA PORTUGUESA JOÃO DE mELO (ADAPTAÇÃO)

A Literatura Portuguesa «existe» desde finais do século XII. Desde a lírica trovadoresca e o período galaico-português. Depois vieram os cronistas da historiografia medieval (Fernão Lopes, Rui de Pina, Gomes Eanes de Zurara), que escreveram num magnífico português arcaico e numa linguagem viva, expedita; o período da Poesia Palaciana, que foi em toda a Europa a antecâmara do Humanismo e a transição da Idade Média para o Renascimento. À parte essa passagem pelas escolas, correntes e sensibilidades culturais do Ocidente, pode No mundo nom me sei parelha dizer-se que a Literatura Portuguesa vive de impulsos, de nomes e movimentos que fizeram, século mentre me for como me vai, após século, a singularidade da sua história: ca ja moiro por vós e ai! Fernão Lopes, o dramaturgo Gil Vicente e o aventureiro do Oriente Fernão Mendes Pinto (autor dessa mia senhor branca e vermelha, obra universal que se chama Peregrinação). queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia. Todavia, há um nome cimeiro que se nos impõe pelo sentido absolutamente superior da sua Mao dia me levantei obra: Luís de Camões, «príncipe de poetas», criador máximo não só de uma linguagem, mas de uma que vos entom non vi fea! «língua» literária. Poeta da tradição e do Renascimento europeu, épico e lírico, autor dos mais formosos sonetos da língua portuguesa e da nossa única grande epopeia digna desse nome (Os Paio Soares de Taveirós, Lusíadas), Camões é a figura tutelar de toda a poesia portuguesa. «Cantiga da Garvaia» - (1.ª estrofe) Outros poetas o tiveram (ou têm ainda) como modelo: Bocage, Almeida Garrett, Antero de Quental, Teixeira de Pascoaes, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, Manuel Alegre, Vasco Graça Moura. Eça de Queirós, o maior romancista português, escreveu quase todos os seus livros fora de Portugal. O estilo, a linguagem, o humor, a crítica de costumes, o realismo da sua ficção, opõem-no ao romantismo de Camilo Castelo Branco. Há mesmo quem defenda a existência de duas «escolas» na prosa portuguesa: a de Eça e a de Camilo. Mas isso parece tão problemático como afirmar que também na poesia portuguesa possa haver uma «escola» de Fernando Pessoa, por oposição a outras. Pessoa, toda a gente o sabe, é hoje um padrão de universalidade para todos os poetas portugueses, mas também para os demais europeus. Ninguém como ele inventou um «espírito» para o século xx.

O caso é que há outras vozes poéticas de grande qualidade, antes e depois de Pessoa: Cesário Verde, Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoaes; mais modernamente: Ruy Belo, Alexandre O’Neill, Vitorino Nemésio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eugénio de Andrade, António Ramos Rosa, Herberto Helder, Fiama Hasse Pais Brandão – e cada uma dessas vozes é, só por si, um «mundo» em parte alternativo ao universo pessoano. Tanto na poesia como na prosa, três gerações de escritores (os mais velhos, os de meia-idade e os «novíssimos») asseguram o interesse, a diversidade, o movimento global da nossa actualidade literária . Os escritores portugueses conheceram a ditadura de Salazar e Caetano, estiveram em África numa das três frentes da guerra colonial (sobre ela escreveram, designadamente, Álvaro Guerra, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco, António Lobo Antunes, Lídia Jorge ...), participaram na queda do regime, na revolução e na descolonização, viveram a mudança radical do país «mental» em que tinham sido educados, assistiram ao «fim da História» portuguesa e ao «regresso» a uma Europa remota, longínqua como uma miragem. Podemos abordar a nossa prosa narrativa a partir dos seus imaginários «históricos» e contemporâneos: a literatura da resistência à ditadura, a da guerra colonial, a da transição para a liberdade e a democracia, a da novela histórica (João Aguiar, Fernando Campos, José Saramago, Mário Cláudio, Álvaro Guerra), aquela que versa o mito e a identidade, a do realismo mágico ou etno-fantástico – e por fim o designado «realismo urbano total» ou «pós-modernismo», expressões mais ou menos aplicáveis à geração dos novos prosadores que, escrevendo sobre o quotidiano, já não recorrem à memória histórica nem às dinâmicas sociais atrás referidas como matéria de ficção (casos, entre outros, de Luísa Costa Gomes, Pedro Paixão, Teresa Veiga, Ana Teresa Pereira, José Luis Peixoto...

Assis Pacheco

Temos assistido à crescente internacionalização da Literatura Portuguesa, sobretudo da sua prosa, de que são exemplos, além dos livros de Fernando Pessoa, as obras do nosso primeiro e único prémio Nobel, José Saramago, e também de António Lobo Antunes, Miguel Torga, Lídia Jorge, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Almeida Faria, Mário de Carvalho e vários outros. Traduziram-se mais escritores portugueses nos últimos 25 anos do que ao longo de oito séculos de história literária. Ainda assim, temos motivos para nos inconformarmos com a relativa «invisibilidade» da outra prosa. Não é compreensível que um escritor como Eça de Queirós não seja hoje um «clássico» da Europa, como Flaubert, Zola, Proust ou Joyce o são. O mesmo diria de ficcionistas portugueses cuja obra suporta bem qualquer tipo de confronto com a de outros novelistas peninsulares e europeus. O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro, Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, Sinais de Fogo, de Jorge de Sena, O Milagre Segundo Salomé, de José Rodrigues Miguéis, Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, A Sibila, de Agustina-Bessa Luís, Directa, de Nuno Bragança, Alexandra Alpha, de José Cardoso Pires, Para Sempre e Até ao Fim, de Vergílio Ferreira, Trabalhos e Paixões de Benito Prada, de Fernando Assis Pacheco – são obras-primas do século xx português


JOSÉ SARAMAGO Premio Nobel

A Literatura Portuguesa «existe» desde finais do século XII. Desde a lírica trovadoresca e o período galaico-português. Depois vieram os cronistas da historiografia medieval (Fernão Lopes, Rui de Pina, Gomes Eanes de Zurara), que escreveram num magnífico português arcaico e numa linguagem viva, expedita; o período da Poesia Palaciana, que foi em toda a Europa a antecâmara do Humanismo e a transição da Idade Média para o Renascimento.

José Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. Os seus pais emigraram para Lisboa quando ele ainda não tinha três anos de idade. Toda a sua vida tem decorrido na capital, embora até ao princípio da idade madura tivessem sido numerosas e às vezes prolongadas as suas estadas na aldeia natal. Fez estudos secundários (liceal e técnico) que não pôde continuar por dificuldades económicas. No seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico, tendo depois exercido diversas outras profissões, a saber: desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, editor, tradutor, jornalista.

Este livro, As palavras de Saramago, editado por Fernando Gómez Aguillera, biógrafo espanhol de Saramago, traz uma ampla seleção de declarações do escritor extraídas de jornais, revistas e livros de entrevistas, publicados em Portugal, no Brasil, na Espanha e em diversos outros países, da segunda metade da década de 1970 até março de 2009. Foi publicado recentemente. Proposta: busca alguma declaração de Saramago neste (ou noutros livros do autor) e escreve-a:


JOSÉ SARAMAGO Premio Nobel

A Literatura Portuguesa «existe» desde finais do século XII. Desde a lírica trovadoresca e o período galaico-português. Depois vieram os cronistas da historiografia medieval (Fernão Lopes, Rui de Pina, Gomes Eanes de Zurara), que escreveram num magnífico português arcaico e numa linguagem viva, expedita; o período da Poesia Palaciana, que foi em toda a Europa a antecâmara do Humanismo e a transição da Idade Média para o Renascimento.

Publicou o seu primeiro livro, um romance («Terra do Pecado»), em 1947, tendo estado depois sem publicar até 1966. Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direcção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na Revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do Jornal Diário de Lisboa onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante alguns meses, o suplemento cultural daquele vespertino. Pertenceu à primeira Direcção da Associação Portuguesa de Escritores. Entre Abril e Novembro de 1975 foi director-adjunto do Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente da escrita, inicialmente como tradutor, depois como autor. Em 1980, alcançou notoriedade com o livro «Levantado do Chão», visto hoje como o seu primeiro grande romance. «Memorial do Convento» confirmaria esse sucesso dois anos depois. Em 1991, publica «O Evangelho Segundo Jesus Cristo», livro censurado pelo Governo - o que levou Saramago a exilar-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), onde viveu até a sua morte. Foi ele o primeiro autor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1998. Entre os seus outros livros estão os romances «O Ano da Morte de Ricardo Reis» (1984), «A Jangada de Pedra» (1986), «Ensaio sobre a Cegueira» (1995), «Todos os Nomes» (1997), e «O Homem Duplicado» (2002); a peça teatral «In Nomine Dei» (1993) e os dois volumes de diários recolhidos nos «Cadernos de Lanzarote» (1994-1997). Deixa como último livro publicado «Caim»

Á esquerda, as notas que Saramago tomou para o romance A changada de pedra. Forma parte de um especial do Colôquio de Letras sobre o escritor português que podes ver na exposição que decorre na biblioteca. Proposta: Cola nesta follha uma fotografia das capas dos livros de Saramago. Busca as reaccões à morte do escritor em jornais galegos e portugueses e acrescenta o material a esta exposição

Livros de Saramago


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.