02 G Dr. David Simões Rodrigues

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«Homem algum é uma ilha, na justa medida em que cada indivíduo é a sua própria história com as circunstâncias individuantes», escreveu, na introdução ao seu livro sobre a «Igreja da Misericórdia», o Dr. David Simões Rodrigues, oferta que selou o início de uma amizade, numa tarde aprazível e tranquila em que a despedida aconteceu. Percorrendo a história da Igreja da Misericórdia, acompanha-nos a referida frase introdutória, como ensinamento que ilumina uma verdade, verdade essa que não permite o esquecimento, nem encara o Homem e as coisas isoladamente. E nesse encontro de ideias, desenvolvido com vivacidade e com afabilidade, convivemos, conscientes da nossa pequenez em relação ao Universo e aos seus mistérios, mas também conscientes do desejo que nos move o desconhecido por desvendar, continuando assim o trabalho solidário de múltiplas gerações. Agradecemos à Vida este breve encontro de 2 dias, em Vila da Feira, com o Dr. David Simões Rodrigues, de quem guardámos momentos maravilhosos pelo que propiciaram de reflexão sobre a Cultura, o Saber, a Amizade e Deus, este último, porventura o maior dos mistérios. Um encontro suscitado pelo 10º aniversário da Revista Villa da Feira (17 e 18 de Junho de 2011), em cujo programa participei a convite de um amigo muito querido, Dr. Celestino Portela. Encontro tão breve no tempo, mas tão duradouro espiritualmente e que hoje, em breves palavras, pretendo testemunhar. Ecoa em mim a voz do Dr. David Simões Rodrigues, contando histórias de casas brasonadas, de ruas, por onde íamos passando, sem esquecer a explicação da toponímia, consentindo que o folheássemos como um livro onde procurávamos saciar a nossa curiosidade, sentindo o seu prazer em partilhar connosco os conhecimentos de uma longa vida de estudo e de experiência. E tudo com tanto afecto e com um olhar tão pleno de bondade pelo Mundo e pelo Homem, que não esqueceremos. No seu belo poema «Cruz na porta da tabacaria!», Álvaro de Campos exprime esse mal-estar magoado perante a morte, sentimento que é comum a todo o ser humano porque a morte interrompe o quotidiano e significa ausência: Cruz na porta da Tabacaria!/Quem morreu? O próprio Alves? (…)//Ele era o dono da tabacaria./Um ponto de referência de quem sou/Eu passava ali de noite e de dia/Desde ontem a cidade mudou.


É essa a minha grande tristeza, a de não mais poder falar com o Dr. David Simões Rodrigues. Ele vive em nós, e estará entre nós, mas desde ontem Vila da Feira mudou.

Maria do Carmo Vieira Lisboa, 5 de Fevereiro de 2012


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