Pardela nº 63

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As aves em revista

REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES

DIRETORA:

Joana Domingues | FOTO DE CAPA: © Diogo Oliveira

NÚMERO 63 | OUTONO/INVERNO 2021 | SEMESTRAL | GRATUITA

Birdwatching 5 AVES PARA VER NO INVERNO P.25

Lista Vermelha 1 EM CADA 5 ESPÉCIES AMEAÇADA DE EXTINÇÃO P.13

Educação Ambiental A IMPORTÂNCIA DA AÇÃO LOCAL P.21


Aeroporto. Crime ambiental. Efeitos da COVID19. Dê-nos força para continuar a enfrentar os desafios de 2022. Pague a quota com débito direto*, e nós tratamos do resto. * O débito direto é sempre feito com pré-aviso, podendo desistir a qualquer momento.

www.spea.pt


ÍNDICE 04

Editorial

05

Breves

08

Descobertas

EM CASA

Um gato feliz e alimentado, mantém o passarinho afastado?

14

Novidades do mundo da ciência

10

Conservação

13

Lista Vermelha 1 em cada 5 espécies de aves da Europa está ameaçada de extinção

14

© Cottonbro

Medir a escuridão

AVES URBANAS

Campeãs da versatilidade

Em casa Um gato feliz e alimentado, mantém o passarinho afastado

16

16

Aves urbanas Campeãs da versatilidade

20

Mitologia Nota breve sobre o rouxinol-comum

21

Educação Ambiental

25

Birdwatching 5 aves para ver no inverno

29

Vermicompostagem

© Rita Ferreira

A importância da ação local

BIRDWATCHING

5 aves para ver no inverno

25

Aprender com a Natureza

30

História(s) com aves Sobre penas, chapéus e movimentos conservacionistas

32

Ilhas Barreira A vida aos seus pés

35

Identificação de aves

36

A SPEA responde

37

Juvenis

© Luis Ferreira

Periquitos

ILHAS BARREIRA

A vida aos seus pés

32 n.º 63 pardela | 3


EDITORIAL

Neste aniversário traga um novo amigo para a Natureza Domingos Leitão Diretor Executivo da SPEA

This anniversary, invite a friend for Nature

FICHA TÉCNICA

PARDELA N.º 63 | OUTONO/INVERNO 2021 DIRETORA: Joana Domingues | joana.domingues@spea.pt COMISSÃO EDITORIAL: Joana Domingues, Mónica Costa, Rui Machado, Sonia Neves, Vanessa Oliveira PARTICIPAÇÃO REGULAR: Helder Costa FOTOGRAFIA DE CAPA: Ganso-bravo Anser anseri © Diogo Oliveira ILUSTRAÇÕES: Frederico Arruda e Juan Varela

Poluição luminosa, impacto dos gatos e colisão com vidros de edifícios são problemas causados pela atividade humana que afetam as espécies e os ecossistemas. São responsáveis pela redução das populações de aves e outros animais e pela degradação do meio natural. Mas para cada problema existe uma ou mais soluções e mais importante do que isso, muitas das soluções estão ao nosso alcance e dependem apenas da nossa ação para serem eficazes. Neste número da Pardela falamos de gestos simples, como apagar as luzes (pág. 10), gerir melhor a “liberdade” dos animais de companhia (pág. 14), ou colar silhuetas nas janelas e vidros (pág. 36), ações que podem salvar muitas aves de uma morte inútil. Podemos também realizar ações um pouco mais complexas pela natureza, como ter atenção ao nosso impacto enquanto visitantes (pág. 32), ter um papel ativo na intervenção cívica (pág. 6), e apoiar organizações de cidadãos. A SPEA fez 28 anos em novembro e temos feito muito pelas aves e pela natureza. Mas não teríamos conseguido tanto sem os nossos sócios. Por isso, neste aniversário faça um novo sócio entre os seus familiares e amigos. A Natureza precisa de mais amigos para cuidar dela!

Light pollution, the impact of pet cats and collisions with windows are problems caused by human activity which affect species and ecosystems. They are responsible for declining populations of birds and other animals, and for the degradation of our natural environment. But for every problem there is one or more solutions, and more importantly, many solutions are within our reach; in order to be effective, they require only that we take action. In this issue of Pardela we make the case that simple gestures, such as turning off the lights (page 10), better managing our pets’ ‘freedom’ (page 14), or sticking decals on windows (page 36), can save many birds from a pointless death. There are also slightly more complex actions we can take for nature, like being mindful of our impact as visitors (page 32), taking an active role in civic intervention (page 6), and supporting environmental organizations. SPEA celebrated its 28th anniversary this November, and we have done a lot for birds and nature. But we wouldn’t have achieved so much without our members. This anniversary, invite your family and friends to become members of SPEA. Nature needs more friends to look out for it!

4 | pardela n.º 63

PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda IMPRESSÃO: Grafisol - Rua das Maçarocas - Abrunheira Business Center nº03, Abrunheira 2710-056 Sintra TIRAGEM: 1400 exemplares e digital PERIODICIDADE: Semestral ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. Instituição de Utilidade Pública. CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt

DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Graça Lima Vice-presidente: Paulo Travassos Tesoureiro: Peter Penning Vogais: Alexandre Leitão e Martim Melo A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.

Esta publicação foi impressa em papel reciclado Oikos com certificação FSC, a marca da gestão florestal responsável.

Esta edição contou com o apoio publicitário de: Opticron


BREVES

Corvo recebe Cagarro de Bordalo II

AGENDA EM DESTAQUE EVENTOS E ATIVIDADES 2022 Webinar - Resultado do censo dos periquitos Online | Janeiro (divulgação do dia em breve)

Assembleia Geral Ordinária da SPEA Março (data a anunciar)

À descoberta do fantástico mundo do canto das aves (NÍVEL BÁSICO E NÍVEL INTERMÉDIO)

© Tânia Pipa

Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, Sesimbra | Mediante marcação (T: 93 998 22 92)

A ilha do Corvo tem agora mais um cagarro (ou cagarra), graças ao artista Bordalo II, que aceitou o nosso desafio para agradecer aos corvinos o empenho em proteger esta e outras aves marinhas. Feito a partir de lixo, como é já marca do artivista, esta é a mais recente obra da série Big Trash Animals, e pretende também sensibilizar para o impacte do lixo marinho nas aves. Esta iniciativa da SPEA e da Câma-

ra Municipal do Corvo, cofinanciada pela Direção Regional de Turismo e com o apoio da EDA, decorreu no âmbito do projeto OceanLit, no qual trabalhamos com as populações e utilizadores do mar nos Açores e na Madeira para reduzir o lixo marinho através da mudança de atitudes.

13º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza Sagres (Vila do Bispo) | 1 a 5 outubro

XI Congresso de Ornitologia da SPEA e II Jornadas Ornitológicas da Macaronésia São Miguel (Açores) | 28 outubro a 1 novembro

CENSOS DE AVES 2021/2022 Arenaria (CENSO DE AVES COSTEIRAS) Costa Portuguesa | 1 dezembro a 31 janeiro

Noctua (MONITORIZAÇÃO DE AVES NOTURNAS) Portugal continental | 1 dezembro a 15 junho

SAIBA MAIS EM

www.spea.pt/projetos/oceanlitreduzir-o-lixo-marinho

CANAN (CONTAGENS DE AVES NO NATAL E NO ANO NOVO)

Portugal continental | 15 dezembro a 31 janeiro

Novo guia “Onde observar aves na Região de Lisboa”

Dias RAM (CONTAGENS DE AVES MARINHAS) Vários pontos da costa Portuguesa | 1.º sábado do mês

CAC (CENSO DE AVES COMUNS)

Da praia à montanha, passando pelas quintas e jardins urbanos, a região de Lisboa tem uma miríade de ótimos locais para observar aves. Descubra-os no novo guia Onde Observar Aves na Região de Lisboa, que produzimos em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito da Capital Verde Europeia 2020.

Todo o país | 1 abril a 15 junho

Censo de Milhafres / Mantas Açores e Madeira | Abril (data a definir)

Atlas do Priolo 2022 São Miguel (Açores) | Junho (data a definir)

MAIS ATIVIDADES EM

www.spea.pt/agenda

Brevemente à venda na Loja SPEA. n.º 63 pardela | 5


BREVES

Proibida a venda de armadilhas para aves

Apagar a luz pelas aves marinhas

© Luis Ferreira

Eleições SPEA para o triénio 2022-2025

© Tânia Pipa

A legislação nacional foi revista, passando agora a proibir não só o uso de armadilhas não seletivas como visgo, costelos e laços, mas também a sua comercialização. Anos de trabalho junto dos grupos parlamentares e o apoio dos milhares de cidadãos, que assinaram a nossa petição #ArmadilhasNÃO, permitiram este passo importante para aumentar a eficácia do combate à morte e captura ilegal de aves em Portugal. Contudo, o fabrico e posse destas armadilhas continuam a ser legais, e um projeto-lei que visava proibi-los foi rejeitado pela Assembleia, com votos contra dos deputados do PS, PCP, CDS-PP e Chega. Em outubro e novembro, a noite regressou aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, para proteger as aves marinhas. Do Corvo ao Funchal, vários municípios desligaram a iluminação pública nesta altura crítica, em que os juvenis de aves marinhas saem dos ninhos, e, por serem pouco experientes, são muitas vezes atraídos pelas luzes, ficando encandeados e acabando por colidir com edifícios, linhas elétricas e veículos. Alguns acabam por cair no chão, podendo mes-

mo morrer devido aos ferimentos ou à incapacidade de voar. Paralelamente aos apagões, a SPEA Madeira e a SPEA Açores organizaram brigadas de voluntários para procurar aves encandeadas e devolvê-las ao mar em segurança, nas já conhecidas campanhas Salve uma Ave Marinha e SOS Cagarro. O nosso trabalho para avaliar e minimizar o impacto da poluição luminosa nas aves marinhas continua no projeto EELabs (saiba mais na pág. 10).

Caça à rola-brava suspensa Informam-se os sócios que até ao fim de março de 2022 estão previstas eleições para os órgãos associativos da SPEA. Os interessados devem apresentar as Listas e os respetivos Planos de Ação ao Presidente da Mesa da Assembleia até 1 de janeiro de 2022, por correio postal ou através do e-mail spea@spea.pt. 6 | pardela n.º 63

O Ministério do Ambiente e da Ação Climática proibiu a caça à rola-brava na época venatória 2021-2022, numa tentativa de permitir a recuperação desta espécie cujas populações na Europa sofreram um declínio de 80% nos últimos 40 anos, e que apresenta também em Portugal evidências de forte declí-

nio desde o início da década de 1990. A suspensão da caça à rola surgiu na sequência de vários anos de trabalho conjunto de organizações não governamentais de ambiente como a SPEA, autoridades e organizações do setor da caça, tanto em Portugal como a nível internacional.


BREVES

Proteger o patagarro

© Tânia Pipa

ONU prestes a consagrar direito ao ambiente

Numa decisão histórica, o Conselho de Direitos Humanos da ONU votou a favor de consagrar um novo direito humano: o direito universal a um ambiente saudável. A decisão resulta do sucesso da campanha a que nos juntámos #1Planet1Right, e que teve o apoio de mais de 120 mil pessoas em todo o mundo. A proposta deste novo direito segue agora para consideração da Assembleia Geral da ONU, a fim de

ser incluída na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU pede aos países em todo o mundo para trabalharem em conjunto na implementação deste direito que acaba de ser reconhecido, com a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos a exortar os países membros a tomar medidas que garantam o direito a um meio ambiente saudável.

Nova área marinha protegida no Atlântico Norte

Na Madeira, há um novo projeto para proteger o patagarro (ou pardela-do-atlântico): o LIFE4Best Puffinus. Coordenado pela Câmara Municipal do Funchal e com a SPEA Madeira como parceiro, o projeto decorrerá até agosto de 2022, no Parque Ecológico do Funchal e servirá para reabilitar o habitat desta ave.

Conta-me um Canto Descubra os sons das aves no nosso novo programa Conta-me um Canto, na Rádio Freguesia de Belém e também em podcast.

Uma área do Atlântico Norte que milhões de aves usam todos os anos foi designada como Área Marinha Protegida pela Convenção para a Protecção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste (OSPAR). Este ‘hotspot’ do tamanho de França foi identificado num estudo da BirdLife International, incluindo dados da SPEA (pág. 8). Atribuída a designação, será agora necessário desenvolver um plano detalhado de medidas de conservação para garantir a preservação desta área. n.º 63 pardela | 7


DESCOBERTAS

CIÊNCIA

© Jacob J. Everitt

© Andrei Prodan

© Francisco Félix

Atlântico Norte é crucial para aves marinhas

que integre as várias áreas marinhas protegidas da região.

do Ambiente e do Mar da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que salienta que o impacto global será provavelmente mais elevado, tendo em conta os efeitos negativos na passagem de aves e nas zonas de repouso.

Todos os anos, entre 2,9 e 5 milhões de aves usam um “hotspot” no Atlântico Norte, segundo um estudo em que participou a nossa técnica de conservação, Isabel Fagundes. Publicado na Conservation Letters, o estudo liderado pela BirdLife International demonstra a importância de proteger este hotspot, e resultou na sua classificação como área marinha protegida (ver página 6). Paralelamente, um outro estudo com contributos da nossa técnica de conservação Tânia Pipa demonstrou a importância do Noroeste do Atlântico para as aves marinhas, realçando a importância de aí implementar medidas de conservação dedicadas às aves e com uma visão abrangente

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Davies TE et al. 2 agosto 2021. Conservation Letters. DOI: 10.1111/conl.12824 Wakefield EW et al. Novembro 2021. Progress in Oceanography. DOI: 10.1016/j.pocean.2021.102657

Catry T et al. 2021. Bird Conservation International, 1-14. DOI: 10.1017/S0959270921000125

Cientistas quantificam impacto do Aeroporto do Montijo

Boas notícias para a lagartixa-da-berlenga

Se avançar, o proposto Aeroporto do Montijo levará a uma perda de cerca de 30% do valor de conservação do Estuário do Tejo, só em termos de zonas de alimentação, entre marés, para aves invernantes. É esta a conclusão de um estudo liderado por cientistas do Centro de Estudos

Agora que a ilha da Berlenga está livre de mamíferos invasores, a lagartixa-da-berlenga, que não existe em mais nenhum local do mundo, começa a beneficiar de mais diversidade de alimento disponível e da riqueza de habitats. Resultados de um estudo publicado na Current Zoolo-


DESCOBERTAS

CIÊNCIA

E ainda... Falcão-peregrino tem “eyeliner” preto para proteger os olhos do sol Vrettos M et al. 2021. Biol. Lett. DOI: 10.1098/rsbl.2021.0116

Tentilhão na Madeira poderá ser nova espécie Recuerda M et al. 2021. Molecular Phylogenetics and Evolution. DOI: 10.1016/j.ympev.2021.107291

Crias de ave ainda dentro do ovo reagem ao som dos pais © Josua J. Cotten

© Mark Robinson

Colombelli-Négrel D et al. 2021. Philosophical Transactions of the Royal Society B. DOI: 10.1098/rstb.2020.0247

gy, com a colaboração de técnicos da SPEA. Nunes SF et al. 13 maio 2021. Current Zoology. DOI: 10.1093/cz/zoab038

Sentido esquecido Dois novos estudos sugerem que o olfato talvez não seja um sentido tão pouco relevante para as aves como se pensava. Cientistas na Alemanha provaram que as cegonhas-brancas são atraídas pelo cheiro a relva cortada, enquanto outros nos Estados Unidos da América demonstraram que os colibris (ou beija-flores) usam o olfato para evitar insetos perigosos. Kim AY et al. 2021. Behavioral Ecology and Sociobiology, 75 (9). DOI: 10.1007/s00265-021-03067-4

Sinais de alarme Um dos desafios que as aves insetívoras enfrentam é saber o que é seguro comer, e dois novos estudos trazem pistas sobre como evitam insetos tóxicos. Um mostra que as aves aprendem umas com as outras que alimentos evitar. Outro demonstrou que, para além de aprenderem a reconhecer sinais como as cores garridas de lagartas perigosas, as aves aprendem também a evitar a espécie de planta onde essas lagartas vivem. Hämäläinen L et al. 2021. Nat Communications.

Seres humanos responsáveis pela extinção de centenas de espécies de aves nos últimos 50 mil anos Fromm A et al. 2021. Journal of Biogeography. DOI: 10.1111/jbi.14206

Aves roubam pêlos diretamente do corpo de mamíferos Pollock HS et al. 2021. Ecology. DOI: 10.1002/ecy.3501

DOI: 10.1038/s41467-021-24154-0 Mclellan CF et al. 7 outubro 2021. Current Biology. DOI: 10.1016/j.cub.2021.09.048

Airo EDIÇÃO ESPECIAL World Owl Conference www.airo-spea.com

Para aceder aos artigos, vá a www.doi.org e insira o respetivo código DOI.

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O que é o EELabs?

CONSERVAÇÃO

Medir a escuridão

O EELabs é um projeto da União Europeia, no âmbito do programa Interreg MAC, criado com o objetivo de minimizar a poluição luminosa nos ecossistemas naturais da Macaronésia, maximizando a eficiência energética das novas tecnologias de iluminação, principalmente LED.

Das Canárias aos Açores, astrónomos e conservacionistas uniram esforços para mitigar a poluição luminosa, no projeto EELabs. O coordenador do projeto, Miquel Serra, do Instituto de Astrofísica das Canárias, conta-nos tudo.

Compreender o impacto da luz noturna artificial em espaços naturais protegidos é crucial para definir os riscos e ameaças, e propor soluções possíveis. Para isso, o projeto EELabs vai instalar laboratórios nas áreas naturais para medir a poluição luminosa nesses locais onde ela não deveria ter chegado.

A poluição luminosa é um problema apenas para astrónomos e aves, ou afeta também a vida das pessoas? A poluição luminosa, como qualquer outro tipo de poluição do ar, afeta-nos a todos. É um problema transversal que ameaça não apenas a astronomia, mas também os ecossistemas noturnos. Se já olhou para o céu a partir de sua casa, provavelmente reparou que não vê tantas estrelas quanto do campo ou da montanha, num lugar distante dos grandes centros urbanos. Isso deve-se à poluição luminosa. Esta perda da escuridão natural, devido ao uso crescente de luz noturna artificial, tem um impacto perigoso sobre os ecossistemas naturais.

Fotómetro instalado nos Açores, no âmbito do projeto Samuel Lemes/IAC

Para as aves marinhas da Macaronésia, as consequências são especialmente graves. Muitas das espécies que habitam os arquipélagos têm a peculiaridade de fazerem os seus ninhos em buracos no solo e só visitarem as suas colónias à noite, guiadas pelas estrelas, e procurar alimento no escuro, alimentando-se de presas bioluminescentes. Portanto, precisam de ambientes com pouca luz e são muito sensíveis à poluição luminosa. n.º 63 pardela | 11


Instalação de fotómetro no Corvo. IAC

Mas os humanos também são afetados. A luz constante altera o nosso ritmo circadiano, reduz os nossos níveis de melatonina (a hormona que regula o ciclo sono-vigília) e aumenta a serotonina (que afeta o sono, a atividade sexual, o apetite, as funções cognitivas, etc.). E, sendo nós criaturas diurnas, o descanso noturno é essencial para a nossa saúde.

Este problema é específico das ilhas? Não. Na verdade, 33% da população mundial já não consegue ver a Via Láctea a partir das suas casas. E em lugares como os Estados Unidos, essa percentagem chega a 80%. Em regiões como a Macaronésia, a situação não é tão crítica, mas a ameaça continua. Grandes cidades como o Funchal ou Las Palmas desperdiçam grandes quantidades de luz, o que afeta as áreas protegidas que as circundam. Por isso, é tão importante que as administrações públicas estejam cientes do problema e se empenhem em tornar a iluminação das cidades mais eficiente e amiga do ambiente. 12 | pardela n.º 63

O que são laboratórios de poluição luminosa? Para que servem? Chamamos laboratórios de poluição luminosa às redes de fotómetros do projeto EELabs, que estamos a instalar nas diferentes ilhas da Macaronésia. Fotómetros são pequenos dispositivos independentes de 10 cm x 10 cm, em forma de caixa, que medem a escuridão à noite. Para avaliar como se espalha a luz noturna artificial emitida pelos grandes centros urbanos das ilhas e quanta dessa luz atinge as áreas naturais protegidas, sob a forma de poluição luminosa, os fotómetros são colocados em áreas de muito difícil acesso, separados cerca de 2 km uns dos outros, formando uma rede ou malha. Graças à sua extrema sensibilidade, será possível saber se esses locais protegidos são afetados pela luz noturna artificial, em que medida estão contaminados e quais as fontes que mais os impactam.

para que a iluminação exterior das nossas casas não tenha consequências nocivas para o ambiente e para as pessoas, é necessário ter em conta uma série de requisitos. Em primeiro lugar, toda a luz deve ter um propósito claro e ser direcionada apenas para onde é necessária. Dessa forma, nenhum recurso será desperdiçado enviando luz para a atmosfera. Da mesma forma, também é recomendado que a luz não seja mais brilhante do que o necessário. A iluminação só deve ser usada quando necessário e útil. E, quando possível, recomenda-se o uso de luzes de cores mais quentes. Mas, acima de tudo, é importante envolver as administrações nesta tarefa de proteger os ecossistemas naturais que nos rodeiam. MAIS SOBRE O PROJETO

www.eelabs.eu

O que é que as pessoas podem fazer para ajudar? Reconhecer o problema já é um grande passo, mas, a nível individual,

Entrevista por | Sonia Neves SPEA


LISTA VERMELHA

1 em cada 5 espécies de aves da Europa está ameaçada de extinção A BirdLife International, da qual somos o parceiro português, publicou em outubro a Lista Vermelha das Aves da Europa 2021. Segundo este estudo, uma em cada cinco espécies de aves, no continente, está ameaçada de extinção, com as ameaças a estenderem-se do mar aos campos agrícolas.

M

as nem tudo está perdido: o estudo mostra também o impacto positivo dos trabalhos de conservação de espécies, como a recuperação do priolo (Pyrrhula murina) nos Açores, entre os casos de sucesso apresentados. “Esta Lista Vermelha mostra que é possível salvarmos as aves da Europa, mas que o tempo está a acabar. É urgente agir já, a nível nacional e europeu, implementando políticas agrícolas, de pescas e de gestão de território que salvaguardem os valores naturais antes que seja tarde demais”, diz o nosso Diretor Executivo, Domingos Leitão.

perdiz-comum (Alectoris rufa), a codorniz (Coturnix coturnix), e o picanço-real (Lanius meridionalis), a sobre-exploração dos recursos marinhos (que ameaça a gaivota-de-audouin (Larus audouinii), a pardela-balear (Puffinus mauretanicus) e o calca-mar (Pelagodroma marina), entre outras), a poluição de águas interiores, as práticas florestais insustentáveis e as infraestruturas perigosas. Nalguns casos, o progresso registado nesta nova Lista Vermelha poderá rapidamente dissipar-se num futuro

próximo, devido a decisões políticas. O milherango (Limosa limosa) vê o seu estatuto melhorar de Vulnerável para Quase Ameaçado, devido sobretudo à situação positiva na Islândia, que alberga quase metade da população europeia da espécie. No entanto, grande parte desses milherangos vem passar o inverno ao Estuário do Tejo, pelo que, se o proposto Aeroporto do Montijo for avante, a espécie voltará inevitavelmente a estar ameaçada.

MAIS INFORMAÇÃO

www.spea.pt

As principais causas apontadas neste estudo para o declínio das populações de aves em habitats europeus incluem mudanças em larga-escala no uso dos terrenos, a agricultura intensiva (que ameaça espécies como o picanço-barreteiro (Lanius senator), a

Picanço-barreteiro José Luis Barros

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EM CASA

Um gato feliz e alimentado, mantém o passarinho afastado Se é dono de gatos e tem um jardim onde o seu felino gosta de passar tempo, mas volta e meia é presenteado com um passarinho ou ratinho, temos boas-novas. Um estudo da Universidade de Exeter indica que uma dieta rica em proteína animal e uns minutos de brincadeira por dia poderão ajudar a salvar dezenas de pequenos animais selvagens.

F Os gatos domésticos são responsáveis pela morte de milhões de aves Kathrine Mihailova

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elpudos, sérios ou brincalhões, os gatos são os companheiros ideais de muitas famílias e enfeitiçam muitos pela sua proclamada independência. Mas debaixo dessa pele de bichano, esconde-se um verdadeiro caçador que poderá dizimar dezenas de espécies selvagens anualmente.


Como entraram nas nossas vidas No entanto entraram nas nossas vidas, num processo de quase “auto-domesticação’’, beneficiando da proximidade com os humanos para se alimentarem. E nós fomos tolerando esta proximidade quer pelo seu papel no controlo de roedores quer pela sua natureza ronronante ou mesmo por uma certa dimensão espiritual, até passarmos a ver os gatos como animais de companhia.

na forma como os digerem. De acordo com o estudo, os gatos que foram alimentados com uma dieta com uma elevada percentagem de proteína animal capturaram e trouxeram para casa menos 36% de animais.

Estimular de forma segura Todos nós já observámos gatos a brincar com a “comida”, deixando muitas vezes a pequena vítima de lado após se fartarem da brincadeira.

Pensa-se que o gato doméstico (Felis catus) terá descendido do gato selvagem (Felis silvestris lybica), mas em termos morfológicos, fisiológicos e comportamentais divergiu pouco deste seu antepassado. Assim, parte da sua natureza predatória subsiste até hoje: há instinto caçador nessa pequena bola de pelo ronronante, pelo que não se deixe enganar pelos olhinhos que ele lhe possa lançar.

Um gato gosta de procurar e emboscar as presas, persegui-las, manipulá-las e só por fim matar para as poder comer. Assim, os donos ao brincarem com os seus gatos estão a ajudar a reproduzir estes comportamentos. O comportamento de caçar e a vontade de brincar são despoletados da mesma forma – fome – o que sugere que ambos derivam da mesma motivação.

Lidar com os instintos

No estudo, gatos que tiveram um tempo de brincadeira de 5 a 10 minutos com um brinquedo do tipo cana de pesca, capturaram e trouxeram para casa menos 25% de animais. Importa referir que estes investigadores apenas contabilizaram os animais que os bichanos trouxeram para casa, o que pode não refletir a totalidade de animais efetivamente caçados: outros estudos indicam que os gatos apenas trazem para casa cerca de 20% do total de capturas. Assim, manter o seu gato entretido pode ajudar a diminuir a vontade de caçar, o que vai ser garantidamente benéfico para a pequena fauna selvagem do seu quintal ou jardim!

De acordo com este estudo realizado na Universidade de Exeter, os donos de gatos dispensam as “oferendas” dos seus “mais que tudo” peludos, e para as evitar recorrem a soluções como coleiras com sininhos, pequenas capas coloridas para as coleiras e até bibes. Estes métodos diminuem o seu sucesso durante a caça, por os tornar mais visíveis ou audíveis, mas não inibem nem diminuem essa vontade nos gatos. Além disso, muitos donos temem que tanto estas soluções como a opção de não deixar o seu gato sair possam interferir no bem-estar do seu bichano. Assim, muitas pessoas sentem-se mais confortáveis em utilizar técnicas que não interferiram com o comportamento natural do seu gato. Uma solução parece ser proporcionar uma alimentação mais rica em carne. Por serem estritamente carnívoros, os gatos têm requisitos muito específicos em termos de nutrientes e

Noites em casa Outros dados científicos indicam que mais de 90% das presas dos gatos domésticos são apanhadas durante a noite. Manter o seu gato quente e confortável em casa durante a noite pode ser uma das medidas mais eficazes que pode adotar para ajudar a fauna selvagem.

Se quer diminuir o impacto do seu gato na vida selvagem que o rodeia, e ao mesmo tempo manter o seu bichano feliz e dar-lhe uma vida saudável, brinque com ele com frequência, proporcione-lhe uma alimentação saudável e rica em proteína animal e não o deixe fora de casa durante a noite.

Alguns números das vítimas de gatos

Nos EUA os gatos matam mais de 4 biliões de animais por ano, 500 milhões dos quais são aves

No Reino Unido cerca de 275 milhões de animais, 55 dos quais são aves

Na Austrália 390 milhões, a estimativa passa para 2 biliões de animais mortos todos os anos se incluirmos os gatos assilvestrados (mais do que os animais selvagens que faleceram durante os fogos de 2019/2020!)

Só na cidade do Cabo, na África do Sul, estima-se que 27,5 milhões de animais sejam mortos por gatos domésticos todos os anos. Estas estimativas apenas se referem a gatos com dono, não incluindo todos os gatos assilvestrados e abandonados.

O ESTUDO

Cecchetti M et al. 8 mar 2021. Current Biology 31(5): 1107-1111.e5. DOI: 10.1016/j. cub.2020.12.044

Autora | Mónica Costa SPEA

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AVES URBANAS

Campeãs da versatilidade Há aves que vemos tantas vezes que começamos quase a considerá-las ruído: ignoramo-las, procuramos entre os seus bandos por uma espécie diferente, e ficamos desapontados quando os binóculos nos revelam que “era só um pardal”. Mas, talvez sejam merecedoras de mais da nossa atenção… afinal, o seu sucesso deve-se à sua versatilidade e adaptabilidade, à nossa ajuda (intencional ou não) ao longo dos séculos, e algumas poderão até já não ser tão comuns quanto parecem.

Pombo-doméstico É possível que o pombo (Columba livia) tenha sido a primeira ave alguma vez domesticada pelos humanos: há pombos representados em peças de arte de 4500 a.C. no atual Iraque. Durante milhares de anos, os pombos foram um importante recurso alimentar, mas à medida que as civilizações humanas se transformaram, também o papel dos pombos se alterou. Na cultu-

ra ocidental do século XIX, a criação de pombos era um passatempo popular, com aficionados como Charles Darwin a criar dezenas de variedades, desde variações de cor a exemplares com espampanantes golas ou botas de penas. Embora a moda tenha passado, a criação de pombos não desapareceu. Estas aves são navegadoras exímias: conseguem voar 2000 km de regresso a casa, mesmo depois de serem trans-

portadas em isolamento, sem pistas visuais, olfativas ou magnéticas, enquanto os cientistas rodavam as suas gaiolas para não saberem em que direção iam. Não se sabe exatamente como o fazem, mas esta capacidade de orientação faz dos pombos excelentes mensageiros. Durante a I e II Guerras Mundiais, ambos os lados recorriam a milhares de pombos-correio como a forma mais rápida e eficaz de saber notícias das frentes de batalha, e hoje em dia a criação de pombos-de-corrida continua a mover adeptos por todo o mundo. Pelo caminho, os descendentes de aves domesticadas espalharam-se pelas nossas cidades, tratando os prédios e demais construções urbanas como se fossem as falésias preferidas pelos seus “parentes selvagens” (pombo-das-rochas). Séculos de adaptação às pessoas e aos ambientes urbanos tornaram-nos mestres em encontrar comida, de tal modo que a melhor forma de controlar as populações de pombos-domésticos nas cidades é garantir que os desperdícios alimentares são devidamente selados.

Pombos: navegadores exímios, mestres da adaptação Diogo Oliveira

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Pardal A ligação entre pardais e pessoas é milenar. Segundo os registos fósseis, há cerca de 10 a 20 mil anos já existiam pardais muito semelhantes aos que hoje conhecemos. Estas aves terão começado a aproveitar-se da comida disponível em torno das povoações humanas, desde migalhas e restos das nossas refeições até aos grãos dos cereais que semeamos, o nosso sustento e o dos pardais tornaram-se inseparáveis. Uma associação que as pessoas nem sempre viram com bons olhos. No século XVIII, vários governantes europeus tentaram exterminar os pardais, que eram vistos como pestes que arruinavam as colheitas: nalgumas regiões da Rússia, por exemplo, havia direito a uma redução nos impostos consoante o número de cabeças de pardal apresentadas. Esta aversão teve o seu expoente máximo na China em meados do século XX, com uma perseguição ordenada por Mao Zedong,

com consequências desastrosas (saiba tudo na Pardela n.º 60, pág. 30). Apesar de nem sempre ser amado, o pardal (Passer domesticus) tornou-se de tal forma característico das nossas cidades, que, quando os europeus colonizaram a América do Norte, sentiram a falta deste pequeno pássaro acastanhado. No final do século XIX, Nicholas Pike soltou 16 pardais em Brooklyn: é possível que todos os pardais-comuns da América do Norte sejam descendentes destas aves. O que é certo é que a espécie proliferou de tal forma que é agora considerada invasora no continente, onde, nas zonas rurais, pode ameaçar as aves nativas. Foi também introduzida, por ação humana, noutros países do continente americano, de África e da Oceania, pelo que é hoje possível encontrar pardais em quase todo o mundo. Parte do segredo do sucesso dos pardais está nos seus hábitos gregá-

rios. Viver em grupo não só ajuda a encontrar comida e evitar predadores, mas também tem vantagens especialmente importantes na “selva urbana”: vivendo em bandos, os pardais podem aprender uns com os outros, e até resolver problemas mais rapidamente. Cientistas na Hungria descobriram que um grupo de seis pardais é muito mais rápido do que um par a encontrar a forma de abrir um alimentador complexo. Apesar de parecer que os pardais estão em todo o lado, sobretudo para quem vive na cidade, a verdade é que, em muitos países da Europa, já não há tantos pardais como antes. No Reino Unido, a população de pardal diminuiu 70% entre 1977 e 2016, e em Espanha sofreu um declínio de 21% em apenas 10 anos (entre 2008 e 2018). Em Portugal, com base nos dados do Censo de Aves Comuns, estimamos que nos últimos 12 a 18 anos a população de pardais tenha diminuído 10 a 20%.

O nosso sustento e o dos pardais tornaram-se inseparáveis Diogo Oliveira

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Pato-real Onde houver água e humanos, há patos-reais (Anas platyrhynchos). A capacidade de sobreviver em tudo o que sejam águas relativamente tranquilas, desde lagos a estuários, e de comer desde plantas e sementes a invertebrados, passando por tudo o que os humanos lhe quiserem dar, permitiu a esta espécie espalhar-se pelo hemisfério Norte. A cabeça verde e o bico amarelo do macho de pato-real já se tornaram um símbolo dos patos: até o emoji para pato tem este aspeto na maior parte das plataformas digitais! Em parte, esta associação deve-se ao facto de que o pato-real é o antepassado de grande parte dos patos-domésticos. Embora formem casais durante a época de reprodução, os machos de pato-real acasalam frequentemente não só com o seu par, mas com qualquer fêmea que esteja sozinha, inclusive de outras espécies. Por um lado, esta “promiscuidade” explica alguns dos patos que se veem e parecem um misto de pato-real com outra espécie: são mesmo híbridos. Por outro lado, o facto de os machos desta espécie serem reprodutores tão profícuos permite manter a diversidade (e consequente adaptabilidade) da espécie. No entanto, pode ser extenuante para as fêmeas, sobretudo em locais onde, graças às oferendas humanas, há grandes concentrações de patos-reais. Aliciados pela disponibilidade de alimento, os machos sem par permanecem no local, pois não precisam de dispersar em busca de comida. Quando as fêmeas saem do ninho por breves momentos para se alimentarem, estes machos solteiros copulam com elas à revelia, obrigando-as a um dispêndio de energia extra numa altura em que já estão enfraquecidas pela tarefa hercúlea de pôr mais de metade do seu peso em ovos no prazo de duas semanas. Terminado o frenesim reprodutor, parece que os machos desaparecem. Na verdade, permanecem, mas me-

Onde houver água e humanos, há patos-reais Diogo Oliveira

nos espalhafatosos, tanto em comportamento como em aspeto. Como muitos outros patos, os machos de pato-real mudam as penas de voo todas de uma vez, ficando incapazes de voar durante cerca de uma semana, durante os meses de setembro/outubro. Para passarem mais despercebidos aos predadores neste período vulnerável, antes dessa muda das penas das asas trocam a colorida plumagem nupcial pela chamada plumagem de eclipse: tons acastanhados, mais inconspícuos, que durante umas semanas os tornam difíceis de distinguir das fêmeas.

Gaivotas Com o aumento da disponibilidade de alimento devido às atividades humanas, talvez não seja de estranhar que as gaivotas tenham encontrado nos nossos prédios e cidades uma alternativa aos penhascos e ilhas que tradicionalmente ocupavam.

A facilidade com que as gaivotas se instalam nas cidades é prova da sua versatilidade. Will George

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Em Portugal, os ambientes urbanos têm sido ocupados sobretudo pela gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), para a qual os telhados e terraços dos prédios são como ilhas de escarpas íngremes, muitas vezes rodeadas por um mar de comida. Nesta primavera, desafiámos os portugueses a contar as gaivotas que faziam o ninho nas suas cidades. Juntamente com o Censo Nacional de gaivota-de-patas-amarelas, esses dados permitem-nos afirmar que existem atualmente cerca de 2000 casais desta espécie a viver em ambientes urbanos no nosso país. A facilidade com que as gaivotas se instalam nas cidades é prova da sua versatilidade. Os seus cérebros grandes permitem-lhes adaptar-se facilmente aos desafios dos ambientes urbanos. Estas aves parecem ser extremamente inteligentes: há relatos de que largam conchas em rochas para as partir, para chegarem ao apetitoso interior, e de que “pescam”, usando pedaços de pão como isco para atrair peixes até à superfície da água.

Por outro lado, o olfato apurado que as ajuda a orientar-se durante a migração (saiba mais na Pardela n.º 62, pág. 21) também as ajuda a encontrar novas fontes de comida nos ambientes urbanos. De facto, são tão boas a encontrar comida, que investigadores em Espanha sugeriram que, para detetar depósitos ilegais de lixo, as autoridades poderiam seguir os movimentos das gaivotas. Pais cuidadosos, as gaivotas defendem acerrimamente os seus ninhos, com gritos e ataques a pique que muitas vezes incomodam as pessoas. Mas será que temos direito a reclamar? Afinal, se somos nós que lhes damos comida fácil em terra, talvez o problema (a existir) não sejam elas. Da próxima vez que vir uma destas aves, não passe à frente. Pare para apreciar o engenho que lhes permitiu não só sobreviver mas proliferar ao nosso lado. Autora | Sonia Neves SPEA

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MITOLOGIA

Nota breve sobre o rouxinol-comum São inúmeras as associações aos mitos da Antiguidade dos nomes científicos de aves comuns na Europa, denominações que demonstram como os taxonomistas eram exímios a vasculhar os textos clássicos para encontrar alusões ao que desejavam nomear.

Rouxinol rawpixel.com

U

m dos casos curiosos refere-se ao mito das duas irmãs Filomela e Progne. Progne, casada com Tereu, rei da Trácia, pede que ele vá buscar a sua irmã, Filomela. Na viagem de regresso, Tereu viola Filomela e corta-lhe a língua para que ela, sem voz, nunca o possa incriminar. No entanto, Filomela encontra o meio de narrar à irmã o que aconteceu através dos sinais desenhados numa tapeçaria. Progne vinga-se, servindo ao marido, numa refeição, o filho de ambos. A ira de Tereu é violenta mas os deuses protegem as irmãs, transforman-

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do-as em aves: Filomela no rouxinol e Progne na andorinha. O mito conheceu outras variantes e é provável que na origem grega tenha sido Progne o rouxinol e Filomela a andorinha, mas a versão conhecida na Europa era a de Ovídio nas Metamorfoses. Lineu irá então criar o género Philomela para o rouxinol-oriental, embora acrescentasse luscinia como identificador da espécie, nome amplamente em uso nos textos romanos para o rouxinol. Aliás, Luscinia determinará o género no sistema taxonómico de T. Forster em 1817 o qual se

irá manter até hoje tanto para o rouxinol-oriental (Luscinia luscinia) como para o rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos). Luscinia compõe-se dos termos latinos de luscus (meia-claridade, crepuscular), etimologia que a língua portuguesa conserva no termo lusco-fusco, e cecini (fazedor de música), e há tanta poesia neste nome que pouco nos importa que a ave também cante de dia. Autora | Graça Lima Presidente da SPEA NOTA: Esta autora não segue o acordo ortográfico


EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A importância da ação local Despertar professores e alunos para a natureza à sua volta faz com que toda a comunidade escolar veja o mundo com novos olhos.

Nós estávamos a pensar: isto vai morrer tudo, estamos tramadas.

A

nossa Técnica de Educação Ambiental Carolina Bloise não estava com grandes esperanças no início deste ano letivo. Mas foi agradavelmente surpreendida: “Recebi uma mensagem de um dos professores da escola: ‘Os canteiros estão tão bonitos, Carolina!’, e com fotos. Fiquei tão contente!” Os canteiros que hoje fazem brilhar os olhos da Carolina estavam, há um ano, ao abandono, tratados como caixotes do lixo. Agora são um pequeno oásis de

biodiversidade. Mas mais do que esta transformação do espaço, o que lhe traz o maior sorriso é a transformação a que assistiu (e que potenciou) na comunidade escolar. Com o projeto Aprende, Conhece, Participa, a Carolina e o nosso Departamento de Cidadania e Educação Ambiental levaram um desafio às escolas: desenvolver uma ação local. Trabalhando de perto com os professores, a equipa da SPEA trouxe os temas da natureza e da biodiversidade ao dia a dia dos alunos e da sua região. Embora partisse de uma estrutura definida, o projeto era muito aberto, o que permitiu que cada uma das duas escolas participantes tomasse uma abordagem diferente.

Uma horta ou canteiro pode transformar a comunidade escolar Derek Sutton

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Na Escola Secundária da Portela, as professoras queriam trabalhar o Estuário do Tejo no contexto das áreas protegidas, abordado no currículo de ciências do 8º ano, portanto o foco foi conhecer as aves do estuário e a importância de proteger este ecossistema. “Fizemos uma sessão em sala, e depois a ideia era fazermos uma visita ao estuário para ver as aves no inverno, que foi quando tudo fechou”, recorda Carolina. A pandemia obrigou a uma mudança de planos: quando as aulas presenciais retomaram, Carolina organizou, juntamente com Chiara Flagiello, voluntária na SPEA ao abrigo do Corpo Europeu de Solidariedade, um peddy-paper no espaço da escola, em que os alunos puderam descobrir a riqueza de árvores e insetos, trabalhar a temática do lixo e da reciclagem, e fazer um jogo sobre as aves do estuário. Na escola EB 2/3 D. Martinho Vaz de Castelo Branco, na Póvoa de Santa Iria, o espaço físico da escola foi o foco desde o início: professores e alunos quiseram literalmente trazer a natureza à escola, revitalizando os canteiros do recreio. Com a ajuda da Associação Wakeseed, os alunos do 8.º ano pegaram em pás, baldes e até martelos, e criaram canteiros biodiversos, com muito mais do que as habituais plantas ornamentais. Estes pequenos oásis têm hotéis para insetos, micro-habitats compostos por pedras, troncos e ramos estrategicamente colocados, e até pratos com água onde as aves podem tomar banho e matar a sede.

Transformando o espaço escolar Frederica Teixeira

A variedade de formas de vida que habitam na própria escola foi, ao longo do projeto, uma das revelações para alunos e professores. A variedade de formas de vida que habitam na própria escola foi, ao longo do projeto, uma das revelações para alunos e professores. “Uma professora disse-me ‘Eu em 28 anos nesta

Criando oásis para a biodiversidade Chiara Flagiell

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Hotel de insetos

escola não fazia ideia que havia tantas árvores!’”, diz Carolina, que, em paralelo com as ações dirigidas aos alunos, desenvolveu também ações de formação para professores nas duas escolas, sempre com uma abordagem local. Estas ações de formação começaram com uma sessão na escola. Nela, os professores puderam descobrir a variedade e potencial das árvores e flores que sempre tinham sido apenas um pano de fundo na correria entre aulas. Aprenderam ainda a fazer hortas em permacultura com a nossa professora destacada, Teresa Oliveira, e a construir hotéis para insetos; atividades que podem replicar com os seus alunos no futuro. “Estas descobertas foram mesmo importantes, porque eles vão poder usar. E tinham ideias durante a formação: a professora de Português dizia-me ‘Vou fazer um desafio aos alunos para escreverem sobre o tema E se eu fosse um gafanhoto?’”. Pelo tom de voz da Carolina é fácil perceber de onde veio o entusiasmo dos professores.

Chiara Flagiell

Cada ação de formação incluiu ainda duas saídas de campo na região, uma das quais foi ao Estuário do Tejo para observar aves. “Eles ficaram maravilhados, e é uma coisa que sentem que conseguem reproduzir, levar lá os miúdos e fazer eles”, diz Carolina, realçando a importância de demonstrar a observação de aves em locais como este, em que as aves se veem bem e há relativamente poucas espécies, para que os professores sintam que facilmente conseguirão identificá-las e falar delas aos alunos.

As saídas de campo são sempre muito importantes

Como se nota pela reação da professora de Português, não foram só os professores de ciências a beneficiar deste projeto. Na escola da Póvoa de Sta. Iria, onde a formação foi aberta a todos os que lecionam Educação para a Cidadania, uma das professoras de Educação Visual foi mais longe, e juntou-se ao projeto de reabilitação dos canteiros. Nas suas aulas, os alunos exploraram a fauna do estuário do Tejo e criaram murais que pintaram nos canteiros.

Chiara Flagiell

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levar os alunos, organizaram por iniciativa própria uma visita ao local em junho, aproveitando o aniversário da escola para lá levar todas as turmas de 8º ano. Inspirados pela ação de formação, os próprios professores criaram um peddy-paper em que convidaram a equipa SPEA a integrar atividades. Com a ajuda da voluntária Chiara Flagiello, Carolina criou um posto de observação de aves e um jogo sobre as plantas de sapal. Chegar a este ponto requer uma presença ativa junto dos professores, frisa Carolina. “Tens que lá ir, e falar com as pessoas, e estar lá com elas. É muito, muito importante estarmos em diálogo.” Esse investimento em criar ligações duradouras continua a dar frutos. Desde o Diretor da Escola da Póvoa de Santa Iria até aos professores da Portela, Carolina já recebeu vários pedidos oficiais para continuar a trabalhar com estas escolas. “É isto que se quer, esta continuidade”, diz. Também as aulas de Educação Visual foram diferentes Ana Sofia Ambrósio

Embora o projeto tenha atuado apenas numa parte do recreio, despertou a atenção de toda a comunidade escolar. Embora o projeto tenha atuado apenas numa parte do recreio, despertou a atenção de toda a comunidade escolar. “As senhoras da cantina iam para lá todas contentes, ‘Ah, isto está tão bonito’, os professores da formação vinham ter comigo quando estávamos a fazer os canteiros, dizer que tinham ideias para projetos, o Diretor dizia ‘este trabalho é lindíssimo...” diz Carolina com um misto de surpresa e orgulho. “O que foi giro foi ver a transformação da comunidade escolar toda. Ao início, a professora dizia-me ‘Ah, esse canteiro não, não vale a pena, os miúdos pisam aquilo tudo.’ E eu fui lá, passados uns 24 | pardela n.º 63

tempos, e os miúdos passavam com imenso cuidadinho... E tu pensas: isto muda as coisas.” O efeito transformador do projeto extravasou o orgulho renovado no seu espaço. Inquéritos realizados no início e no fim do projeto para aferir a mudança de atitudes dos alunos revelaram um efeito muito positivo: a percentagem de alunos que demonstravam preocupações cívicas e ambientais subiu de 54% para 82%. Aos professores, o projeto trouxe novas ferramentas e locais acessíveis para abordarem a temática da biodiversidade e da conservação da natureza, mas acima de tudo semeou ideias e nutriu o entusiasmo. Os professores da escola da Portela, ainda empolgados meses depois da sua saída ao Tejo, e desapontados por o confinamento os ter impedido de lá

Ainda assim, apesar de todo o esforço para criar proximidade, e do feedback positivo que ia recebendo, ao encher baldes de terra e ajeitar flores transplantadas, Carolina não conseguia deixar de lado algum receio de quanto tempo os canteiros iriam durar. “Estava um bocado preocupada, porque é preciso muito cuidado, muita manutenção. Eu fui muito chata, sempre que fazíamos alguma coisa nos canteiros mostrava-lhes onde estava a mangueira”, recorda como quem pede desculpa. Claramente, toda a comunidade escolar assimilou a mensagem e, tendo criado um espaço de que se orgulham, têm cuidado dele, como comprovam as fotos que enviaram à Carolina em setembro. “Este projeto demonstrou que a abordagem local faz todo o sentido, que tem impacte tu ires onde as pessoas estão e dizeres ‘este espaço é válido’”, conclui. Autora | Sonia Neves SPEA


BIRDWATCHING

Aves para ver no inverno O tempo frio e cinzento pode dar pouca vontade de sair de casa, mas para as aves que fogem aos rigores do Norte, o inverno português é um bálsamo. Algumas espécies apenas nos visitam nesta estação, enquanto outras se tornam mais fáceis de ver porque aos indivíduos que cá residem juntam-se os migradores. Esta é, na verdade, a melhor altura do ano para observar aves aquáticas em Portugal, mas a lista não se fica por aí. Este inverno, aproveite para descobrir estas 5 espécies.

Autores | Hany Alonso Sonia Neves SPEA

O ganso-bravo é uma das espécies que nos visita no inverno Freepik

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Abibe Vanellus vanellus

Chegam às centenas, vindos do centro e norte da Europa, com um voo que parece o de uma borboleta graças às suas asas arredondadas. O abibe (Vanellus vanellus) é uma das limícolas mais abundantes em Portugal, com o número a aumentar ainda mais quando a Europa é fustigada por invernos mais rigorosos. Esta espécie é omnipresente nas planícies alentejanas e ribatejanas, e pode ser facilmente encontrada nos campos abertos do sul e litoral do país, em pastagens, pousios, terrenos lavrados e montados abertos. Além do seu voo de borboleta, o abibe é muito fácil de identificar pelo seu penacho característico, e pela coloração: branca nas partes inferiores e escura, em tons esverdeados, nas partes superiores.

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Abibe José Luis Barros

Grou Grus grus

O inverno não seria o mesmo nas planícies alentejanas, sem os grous (Grus grus). Esta espécie proporciona um dos espetáculos ornitológicos mais fascinantes da Península Ibérica: quando ao fim da tarde se juntam e dirigem aos seus locais de dormida, voando em bandos a baixa altitude enquanto vocalizam sem parar, é impossível ficar indiferente. Mesmo noutras alturas do dia é frequente os grous voarem em bandos, e mesmo nos bandos maiores é possível observar grupos familiares, que se mantêm mais juntos.

Grou Diogo Oliveira

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Em voo, o grou distingue-se das garças por voar com o pescoço esticado. Pousado, é inconfundível: alto, esbelto e cinzento, com um tufo de penas na cauda. A espécie ocorre no interior alentejano, sobretudo junto à raia: Campo Maior, Moura, Mourão e Barrancos, bem como Castro Verde e Évora são algumas das regiões onde pode observá-la. Frequenta os montados, onde se alimenta de bolotas, tubérculos e invertebrados, mas também campos de restolho e campos recentemente semeados.


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Ganso-bravo Anser anser

Outra espécie cujos bandos assinalam a chegada do inverno é o ganso-bravo (Anser anser). Embora seja pouco comum e ocorra apenas nalgumas partes do país, nos locais onde ocorre o ganso-bravo dificilmente passa despercebido. É uma ave grande e pesada, com um bico laranja e uma coloração geral cinzento-acastanhada, semelhante à dos gansos-domésticos, que de resto dela derivam. Um dos locais de eleição para observar esta espécie é o Estuário do Tejo, onde se podem formar bandos de várias dezenas ou mesmo algumas centenas de indivíduos, que se juntam para se alimentar. Quando estes bandos chegam às áreas de alimentação, toda a paisagem estuarina fica envolta no seu grasnar.

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Ganso-bravo Diogo Oliveira

Cagarraz Podiceps nigricollis

Esta pequena ave aquática pode passar facilmente despercebida, mas é presença habitual em Portugal durante o inverno, embora não seja propriamente comum. Na sua plumagem de inverno, menos exuberante que a nupcial, destacam-se as faces brancas, a contrastar com a restante plumagem negra ou acinzentada, e com o olho vermelho.

Cagarraz

O cagarraz (ou mergulhão-de-pescoço-preto, Podiceps nigricollis) encontra-se facilmente em tanques de salina e aquacultura dos estuários, em lagoas costeiras e em pequenos açudes, sobretudo na orla costeira. O principal reduto desta espécie em Portugal é o Estuário do Sado, podendo também ser visto com regularidade na Lagoa de Óbidos, na Ria de Aveiro e na Ria Formosa. A Lagoa de Albufeira e os tanques de salinas dos estuários do Tejo e do Sado (por exemplo, na Herdade da Mourisca) são bons locais para procurar esta espécie. Nas últimas duas décadas, alguns cagarrazes têm nidificado em Portugal, nomeadamente no Alentejo e na Lagoa dos Salgados, no Algarve.

Voodison

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Pisco-de-peito-azul Luscinia svecica

Uma visita invernal a qualquer uma das principais zonas húmidas da orla costeira do nosso país pode levá-lo a observar o pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica). Os machos desta espécie têm uma coloração inconfundível: o espetacular peito azul que lhe dá o nome, na base do qual tem uma banda preta e outra laranja. Já a plumagem das fêmeas é bem menos colorida, mas continuam a ser facilmente identificadas pela coloração arruivada na base das penas mais exteriores da cauda, assim como pela banda clara acima do olho. Quando pousa na vegetação dos sapais, arrozais ou caniçais, o pisco-de-peito-azul mantém muitas vezes a cauda erguida. Esta espécie frequenta as zonas húmidas de norte a sul do país, e até algumas zonas do interior alentejano, sendo que um dos melhores locais para a observar é o Estuário do Tejo.

Agasalhe-se, pegue nos binóculos, e deixe que estas aves o relembrem que o inverno também traz beleza e novidade.

Pisco-de-peito-azul Yuriy Balagula

Dicas para observar aves no inverno Não precisa de ir ao nascer do sol, nas manhãs frias as aves ficam mais quietas até a temperatura subir um pouco. Aproveite os dias de sol, sobretudo depois de períodos de chuva: as aves estão mais ativas, à procura de alimento.

Esteja atento às poças nos caminhos, as aves usam-nas muitas vezes para beber e para se banhar. Saia no 1.º dia calmo depois de uma tempestade forte, vá a um porto ou zona húmida costeira: encontrará certamente muitas aves que se terão refugiado em terra.

Não se deixe intimidar pelo tempo menos bom, existem várias zonas húmidas com observatórios onde estará mais protegido dos elementos, ou com bons acessos que lhe permitem observar a partir do carro, ou voltar rapidamente para o carro caso o tempo piore.

Outras espécies a procurar no inverno • Marrequinha • Tarambola-dourada • Esmerilhão • Coruja-do-nabal • Torda-mergulheira • Tordo-ruivo • Petinha-dos-prados Tarambola-dourada

Coruja-do-nabal

Sylvain Haye

Gregory Smith

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VERMICOMPOSTAGEM

Aprender com a Natureza Com a ajuda de umas minhocas, os seus resíduos orgânicos podem ajudar a cultivar novos alimentos, mesmo em sua casa. Teresa Oliveira explica-lhe como.

O que precisa É super simples: basta arranjar três caixas de plástico opacas, ou de esferovite (60 cm de comprimento, 30 cm de largura e 25 cm de altura são boas medidas), um punhado de minhocas-da-califórnia e um pouco de terra.

Como fazer

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Empilhe as caixas e corte as tampas que ficam entre as caixas para as minhocas circularem. Lime as arestas e faça furos na lateral para arejar.

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Recolha o composto da caixa do meio, e adicione-o ao solo dos seus vasos ou canteiros, tornando-o mais fértil.

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Recolha regularmente o líquido que fica na caixa de baixo: chama-se chorume e pode usá-lo como biofertilizante, diluindo 1 parte do chorume para 10 de água. Pode colocar uma torneira, para o processo ser mais fácil.

Porque é importante Ao fazer vermicompostagem, está a contribuir para a regeneração da biodiversidade dos solos. Esta é uma forma de praticar a economia circular no seu dia a dia, reduzindo o desperdício alimentar em sua casa e, por conseguinte, no mundo, e aproveitando o composto e o chorume para produzir novos alimentos.

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Na caixa do meio, coloque restos de cartão/papel (sem fita cola nem tinta), a terra, os desperdícios e as minhocas. Não colocar gorduras nem nada ácido (p. ex. cascas de citrinos).

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Vá alimentando as minhocas, adicionando desperdícios orgânicos crus e folhas secas, serradura, restos de cartão ou papel e outros desperdícios como cascas de ovo e borras de café, para equilibrar o processo. Quando elas se escondem, voltar a colocar terra e papel, borrifando com água as camadas de terra.

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Quando o composto tiver aspeto e cheiro a terra (ao fim de 30/40 dias), está pronto! Nessa altura, coloque alimentos na caixa de cima, para as minhocas migrarem. Autora | Teresa Oliveira Teresa Oliveira foi professora em mobilidade estatutária na SPEA, no âmbito do protocolo de colaboração entre os Ministérios da Educação e do Ambiente, entre 2018 e 2021.

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HISTÓRIA(S) COM AVES

Sobre penas, chapéus e movimentos conservacionistas Na transição entre os séculos XIX e XX diversas espécies de aves estavam ameaçadas devido ao comércio de penas. A consciência desse facto acabou por ser determinante para o surgimento dos primeiros movimentos conservacionistas. Frank Chapman foi um notável ornitólogo norte-americano que produziu extensa obra ao longo da sua vida Creative Commons

E

ntre meados do século XIX e inícios do século XX o uso de motivos ornitológicos para adornar o vestuário era coisa comum. Em particular nos Estados Unidos da América e no Reino Unido, mas não só, alguns anos de relativa prosperidade económica tinham proporcionado riqueza às elites e permitido o surgimento de uma classe média que, pela primeira vez, possuía recursos para gastar em bens não essenciais. Como consequência, havia espaço para a extravagância. A moda feminina, sobretudo, refinou-se. Os cabelos, os vestidos e os chapéus das senhoras eram decorados com contornos cada vez mais sofisticados usando maioritariamente penas mas também aves empalhadas e até ninhos. Algumas penas, nomeadamente as de avestruz, eram provenientes de aves criadas em cativeiro mas muitas outras provinham de aves selvagens. As penas de garça, por exemplo, eram muito apreciadas e como a procura era enorme, centenas de milhares de aves eram mortas anualmente, em especial nos

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Estados Unidos da América. O mesmo acontecia com diversas outras espécies. O impacto da “indústria” das penas na diversidade ornitológica começou a fazer-se notar. A actividade não era sustentável e as populações de algumas espécies declinaram ao ponto de ficarem ameaçadas. A constatação deste problema originou preocupação num crescente número de pessoas sensibilizadas para a defesa do meio natural. Entre elas contava-se Frank Chapman, ornitólogo do Museu Americano de História Natural. Em 1886 Chapman entendeu que era importante tentar quantificar de alguma forma o impacto que a moda tinha nas populações de aves. Após alguma reflexão decidiu que o melhor era fazer um censo. Parecia uma ideia lógica. Contudo, a metodologia que escolheu pode considerar-se, no mínimo, sui generis. Em vez de contar aves resolveu examinar chapéus. Assim, efectuou dois passeios pela baixa de Nova Iorque no

decurso dos quais examinou cerca de 700 chapéus de senhora. Em cerca de três quartos deles, identificou penas e exemplares empalhados de 40 espécies de aves selvagens norte-americanas.


Em grande medida graças aos esforços dos conservacionistas as penas deixaram gradualmente de estar na moda. Não existe informação que permita saber se o estudo foi feito de forma discreta ou se o autor teve que enfrentar alguma “contrariedade”. Ao fim e ao cabo, andar a bisbilhotar chapéus de senhora poderia na época acarretar alguns “perigos”. Sabe-se contudo que os resultados obtidos contribuíram para consolidar os emergentes movimentos conservacionistas que viriam a ter expressão, por exemplo, com o nascimento da Audubon Society nos Estados Unidos da América em 1886 e da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) no Reino Unido, em 1889, ambas as organizações tendo a sua génese na luta contra o comércio e uso de penas. Em grande medida graças aos esforços dos conservacionistas as penas deixaram gradualmente de estar na moda. O deflagrar da I Grande Guerra Mundial colocou um ponto final no assunto que hoje não passa de uma curiosidade histórica.

Autor | Helder Costa NOTA: Este autor não segue o acordo ortográfico

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ILHAS BARREIRA

A vida aos seus pés Estendidas como um colar de pérolas em frente a Faro, Olhão e Tavira, as Ilhas Barreira são um destino popular não só para os turistas mas também para aves e outras espécies.

A

s ilhas Deserta, da Culatra, da Armona, de Tavira e de Cabanas e as penínsulas de Ancão e Cacela formam um quadro repleto de tesouros naturais. Moldadas por ventos e marés, estas ilhas formam uma barreira entre o mar e a terra, criando o refúgio natural que é a Ria Formosa. Aqui encontra a vida aos seus pés – e a sobrevivência deste espaço está nas suas mãos.

Percorrendo os passadiços Os passadiços e trilhos marcados são a forma mais confortável e segura de passear pelas ilhas, bem como um bom princípio de boas práticas. Enquanto caminha, se olhar para as dunas irá rapidamente descobrir sinais de vida. Na primavera, as flores de goiveiro-da-praia pontilham as ilhas de tons lilases, a vegetação nativa, de tons acinzentados, faz jus ao nome deste tipo de dunas, dunas cinzentas, e veem-se as borboletas-cauda-de-andorinha a esvoaçar por todo o lado. Os passadiços são também um miradouro privilegiado para encontrar

Borboleta-cauda-de-andorinha Luis Ferreira

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camaleões: faça uma pausa no caminho, e olhe atentamente para as plantas, procurando o movimento quase impercetível que denuncia estes mestres da camuflagem. No interior da Ria, procure a mancha branca dos bandos de colhereiros (Platalea leucorodia): com a ajuda de uns binóculos poderá ver o enorme bico em forma de colher, que lhes dá o nome. Ao percorrer os passadiços e trilhos marcados, está a proteger a Ria Formosa. Se não caminhar sobre as dunas, permite que elas continuem a desempenhar o seu papel natural e a serem a melhor defesa contra a subida do nível do mar.

Visitantes alados

A ilha Deserta é o único local do nosso país onde nidifica a elegante gaivota-de-audouin Luís Ferreira

Estas ilhas têm um encanto especial também para algumas aves. São refúgio para importantes populações de chilreta (ou andorinha-do-mar-anã, Sternula albifrons), vindas de África. Na primavera, poderá ver os machos desta espécie a voar com peixe no bico, em busca de parceira. Depois de acasalarem, põem os ovos no areal. Os borrelhos-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) fazem o mesmo, por isso na primavera e no verão é ainda mais importante permanecer nos passadiços e trilhos assinalados, para não pisar os ninhos! Tanto os ovos como as crias destas espécies estão tão bem camuflados, mesclando-se nos tons da areia! Se tiver um cão consigo, tenha também o cuidado de usar sempre a trela nestes locais. A ilha Deserta é o único local do nosso país onde nidifica a elegante gaivota-de-audouin (Larus audouinii), que se destaca pelo seu bico vermelho. Se as ouvir a defenderem o território, repare como os seus chamamentos são mais roucos do que os das outras gaivotas.

Camaleão

Ao largo, surge por vezes a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), a ave marinha mais ameaçada da Europa.

Daniela

n.º 63 pardela | 33


É fundamental evitar a perturbação humana junto das zonas de nidificação Luís Ferreira

Tesouros do areal Para descobrir como a praia é mais do que sol e mar, espreite o que as ondas depositam no areal. Deixe-se maravilhar com a variedade de conchas e outros vestígios de animais marinhos. Com sorte, poderá encontrar uma pequena “almofada” escura: um ovo de raia ou tubarão! Para que a próxima maré não traga lixo, não se esqueça de trazer o seu consigo.

-cava-terra ou boca-de-cavalete), que escava buracos no lodo.

Proteger este paraíso Para salvaguardar este refúgio para aves e pessoas, no âmbito do projeto LIFE Ilhas Barreira estamos a avaliar

Ilhas Barreira O QUE PROCURAR

No outono e inverno, delicie-se com o vaivém dos pilritos-das-praias (Calidris alba) que correm a alimentar-se entre uma onda e outra, mesmo à beira-mar.

Flores lilases do goiveiro-da-praia Borboleta-cauda-de-andorinha Camaleão Caranguejo-violinista Bandos de colhereiros Chilreta

DESAFIO

Descobrir a Ria Do lado da Ria, a paisagem é completamente diferente, com plantas como a salicórnia, que crescem nas águas salobras. Resguardado do reboliço do mar, este espaço é um verdadeiro berçário e refúgio para cavalos-marinhos e outros peixes. Na maré vazia, procure o caranguejo-violinista (Uca tangeri) (ou boca34 | pardela n.º 63

Comparar o som da gaivota-de-audouin com o das outras gaivotas.

COMO CHEGAR Nos cais de embarque de Faro, Olhão, Tavira, Fuseta e Cabanas pode apanhar ferry-boats para as diferentes ilhas. A Ilha de Tavira é também acessível a pé e de comboio, enquanto a península de Ancão tem acesso rodoviário.

como poderá ser afetado pelas alterações climáticas. Neste projeto, cofinanciado pelo programa LIFE da União Europeia, coordenado pela SPEA e que envolve 5 entidades parceiras, estamos também a proteger a vegetação dunar na ilha Deserta, removendo plantas exóticas, melhorando os passadiços e a informação disponível para os visitantes. Estamos ainda a avaliar o estado das populações de gaivota-de-audouin e de chilreta, e a trabalhar com pescadores para avaliar o impacto das pescas na pardela-balear. Ajude também a proteger este paraíso: caminhe pelos passadiços, mantenha-se afastado dos ninhos, e não deixe o seu lixo para trás. Ao longo do projeto irão ocorrer várias iniciativas para o público, por isso esteja atento à newsletter da SPEA. E quando voltar para casa, adote hábitos sustentáveis e vote por políticas responsáveis.

MAIS INFORMAÇÃO

www.lifeilhasbarreira.pt Autora | Sonia Neves SPEA


IDENTIFICAÇÃO DE AVES

Periquito-rabijunco Periquitos – tons Colar preto exóticos na cidade no macho © Juan Varela

Padrões esverdeados e azulados a voar pelos céus das nossas cidades são pouco comuns, mas nos últimos anos algumas aves exóticas da família dos papagaios e periquitos (psitacídeos), provenientes sobretudo de cativeiro, têm prosperado em parques e jardins dos centros urbanos. Ainda não se sabe qual o real grau de ameaça, mas pensa-se que podem competir por alimento ou locais de nidificação com algumas espécies nativas.

Periquito-rabijunco (ou periquito-de-colar)

Bico com parte superior vermelha

Cauda comprida, com penas do meio azuladas

Periquitão © Juan Varela

Alexandrinus krameri

Originário da África subsaariana e do sul da Ásia Com populações estabelecidas em Lisboa, Porto, Coimbra, Caldas da Rainha e Açores De hábitos gregários e muito sociais

Cabeça azulada e corpulenta Bico com parte superior clara

Periquitão

Anel branco à volta do olho

Psittacara acuticaudatus

Originário da América do Sul Residente em alguns jardins de Lisboa Ocorre em pequenos bandos (até 4 indivíduos)

Caturrita Myiopsitta monachus

Originária da América do Sul, em especial da Argentina e do Paraguai Única população conhecida estabelecida no Porto Constroem ninhos comunais que albergam vários casais

Autores | Mónica Costa e Rui Machado SPEA

Caturrita

Bico amarelado

© Juan Varela

Penas de voo azuis bem visíveis

Peito, faces e testa acinzentados

Pode contribuir com informação sobre estas espécies para o projeto de ciência cidadã IBISurvey (Questionário sobre Interações com Aves Introduzidas) do Laboratório de Ornitologia da Universidade de Évora em www.labor.uevora.pt/en/ibisurvey.

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Autora | Joana Domingues

Usar vários autocolantes contrastantes é uma das soluções mais eficazes de implementar. A cor dos autocolantes importa mais do que o formato: tons de laranja e vermelho são mais eficazes do que azuis, verdes ou amarelos. Para quebrar melhor os reflexos, os autocolantes devem ser colocados do lado de fora do vidro.

Objetivo: criar um padrão

Refletores de luz UV

Para que a ave veja o vidro como uma barreira, é preciso criar um padrão que cubra uniformemente toda a superfície, usando formas de contornos bem definidos e linhas contrastantes. Para uma maior eficácia, os padrões horizontais não devem estar afastados mais do que 5 cm e os verticais, 10 cm.

Desde fitas a autocolantes, tintas e até vidros especiais, existem vários produtos que pode aplicar no exterior das suas janelas, e que refletem a luz ultravioleta (UV). A vantagem destas soluções é que aos nossos olhos o vidro continua transparente, mas para muitas aves, que vêm a luz UV, torna-se um obstáculo claramente visível.

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Autocolantes sh

A colisão de aves com edifícios é uma das suas principais causas de morte não naturais, estimando-se que mate entre 365 a 988 milhões de indivíduos, só nos EUA. Em Portugal não existem dados, mas na SPEA somos frequentemente contactados por pessoas que procuram soluções. Infelizmente não existem medidas 100% eficazes nem universalmente aplicáveis, mas a implementação de alguma das medidas abaixo poderá já ser uma boa ajuda.

Se optar por um padrão de linhas, as verticais têm resultados ligeiramente melhores do que as horizontais. A largura das linhas verticais deverá ser de 5 mm, e das horizontais, 3 mm.

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Como posso evitar que as aves choquem contra as minhas janelas?

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SPEA

A transparência e o reflexo causados pelos vidros das janelas fazem com que as aves os interpretem não como uma barreira, mas sim como uma continuação da paisagem que estes refletem, originando muitas vezes episódios de colisão.

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Outras soluções

• Películas que tornem o vidro opaco • •

para o observador externo e transparente para quem estiver dentro Fechar os estores ou cortinas Instalar grades ou redes

O que fazer em caso de colisão? Caso a ave esteja ferida, ligue para o SOS Ambiente (808 200 520). Se tiver conhecimento de locais onde esta situação aconteça com regularidade, contacte-nos através de spea@spea.pt.


Pássaro-Tempo 1

As nossas mascotes estão com fome e cada uma escolhe uma comida diferente. Descobre o que cada uma delas vai almoçar. Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração)

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2 SOLUÇÕES: A1 - B3 - C2

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Pássaro-Tempo 2

Sabemos que o inverno está a chegar ao fim quando vemos as primeiras andorinhas. Pede ajuda a um adulto e prepara-te para as receber, construindo uma destas caixas-ninho. Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração)

Vais precisar de: 1 Bola de plástico ( -̃ 18 cm)

Marcador

1 tábua adesiva não-tratada Fitacrepe (-̃ 30x20 cm)

(“masking”)

Cola & Veda

Faca

Cola de madeira Berbequim Papel de jornal

Vedante de exteriores

Parafusos

Lama

(“Cola e Veda”)

Fita adesiva

Usa o marcador para dividir a bola em quartos, e corta-a cuidadosamente pelas linhas, com a ajuda de um adulto. Veda Cola &

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Marca e corta a entrada do ninho: um semi-círculo com 6 cm de largura e 2,5 cm de profundidade. Fizeste o molde!

Pede a um adulto para fazer 3 buracos na tábua, que servirão para pendurar o ninho depois de pronto.

7

Cola pedaços de fita adesiva crepe no interior do molde, junto ao rebordo, e usa-as para colar o molde à tábua de modo que fique bem encostado ao topo da mesma.

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Papel

Preenche o molde com papel, para manter a forma e deita uma camada espessa (1 cm) de vedante sobre o exterior do molde e alisa com uma faca.

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Deixa secar à temperatura ambiente, e depois retira o papel, a fita adesiva e o molde.

Pendura o ninho mesmo Usa um pouco de cola de encostado ao topo da parede, madeira para selar a num local onde as telhas se junção entre o interior do estendam o suficiente para o ninho e a tábua. Cobre o proteger da chuva. exterior do ninho com lama molhada, e deixa secar. As andorinhas parecem preferir paredes viradas a Este ou a Norte.


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O equipamento Opticron pode ser testado e adquirido na SPEA, o nosso representante exclusivo em Portugal. Para mais informações, por favor contacte 213 220 430 ou visite-nos online em www.bit.ly/SPEAloja Opticron, Unit 21, Titan Court, Laporte Way, Luton, Beds, LU4 8EF UK Tel: +44 1582 726522 Email: sales@opticron.co.uk Web: www.opticron.co.uk


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