Pardela 60

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As aves em revista

REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES

DIRETORA:

Joana Domingues | FOTO DE CAPA: © Ariesa66 | Pixabay

NÚMERO 60 | PRIMAVERA/VERÃO 2020 | SEMESTRAL | GRATUITA

Férias ENCONTRE NATUREZA ONDE QUER QUE VÁ P.17

Ave do Ano 2020 CODORNIZ: MESTRE DA CAMUFLAGEM P.12

Sagres HOTSPOT DA MIGRAÇÃO P.32


Entre atividades canceladas e escassez de financiamentos, a pandemia da COVID-19 deixou-nos com menos meios. O que não parou: Aeroporto do Montijo Captura ilegal de aves Atentados contra a Natureza

Ajude-nos a combatê-los

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ÍNDICE

10

S. Tomé e Príncipe Ilhas com tanto a descobrir

04

Editorial Esperança na mudança

05

Breves

08

Descobertas Novidades do mundo da ciência

S. Tomé e Príncipe Ilhas com tanto a descobrir

12

Ave do Ano 2020 Codorniz: mestre da camuflagem

14

© HBD Príncipe

10

Entrevista

Em casa

com Inês Catry

Como atrair borboletas para a sua varanda ou jardim

16

26

Petição #1Planet1Right Ambiente saudável é um direito humano

17

Verão Nestas férias, encontre Natureza onde quer que vá

Cinco crimes contra o ambiente e como denunciá-los

26

Entrevista a Inês Catry

21

© Shellie

Crime ambiental

Crime ambiental

© Inês Catry

21

Cinco crimes contra o ambiente e como denunciá-los

Estamos a criar espécies dependentes de conservação?

30

História(s) com aves A grande campanha dos pardais

32

Sagres Hotspot da migração

35

Identificação de aves

36

A SPEA responde

37

Juvenis

© Rui Machado

Picanços – os mascarados

Em casa Como atrair borboletas para a sua varanda ou jardim

14

n.º 60 pardela | 3


EDITORIAL

Esperança na mudança

FICHA TÉCNICA

Graça Lima

DIRETORA: Joana Domingues | joana.domingues@spea.pt

Presidente da Direção Nacional da SPEA

Em 2019, tivemos conhecimento do alarmante decréscimo da população de aves da América do Norte. A estimativa indicava um declínio de 29%, cerca de 3 biliões de aves, no espaço de 50 anos. Este estudo incidiu sobre 76% de todas as espécies encontradas nos EUA e no Canadá, com amostragens de observações desde o ano de 1970 e informações dos registos das estações de radar meteorológico com início em 2007 até 2018, durante o período das migrações da primavera. Em dezembro, o panorama revelado pela SPEA no Relatório Estado das Aves em Portugal 2019 também não era muito animador, apesar de revelar o impacto positivo das ações de conservação. Se, porventura, sentimos hoje profundamente a nossa fragilidade devido à pandemia que globalmente nos afeta a todos, seria também tempo para pensarmos sobre o significado de como o nosso insustentável peso humano afeta a maioria dos seres que connosco partilham a terra. Temos andado distraídos neste suposto período de prosperidade e eis-nos confrontados, no nosso espaço interior, com uma das grandes tragédias da história, que pensávamos fazer unicamente parte do passado. Uma era que teria de acabar para que outra pudesse começar. A SPEA, na sua profunda convicção e empenhada nos valores da conservação das aves que todos amamos, não deixa de celebrar esta primavera que é deles, os absolutos seres da leveza sustentável.

“Hope” is the thing with feathers – That perches in the soul – And sings the tune without the words – And never stops – at all – And sweetest – in the Gale – is heard – And some must be the storm – That could abash the little Bird That kept so many warm – I’ve heard it in the chillest land – And on the strangest Sea – Yet – never- in Extremity, It asked a crumb - of me. (EMILY DICKINSON)

4 | pardela n.º 60

PARDELA N.º 60 | PRIMAVERA/VERÃO 2020

COMISSÃO EDITORIAL: Joana Domingues, Mónica Costa, Rui Machado, Sonia Neves, Vanessa Oliveira PARTICIPAÇÃO REGULAR: Helder Costa FOTOGRAFIA DE CAPA: Codorniz © Ariesa66 | Pixabayz PAGINAÇÃO E GRAFISMO: Frederico Arruda IMPRESSÃO: Printipo – Global Printing Alto da Bela Vista, Est. Paço de Arcos, n.º 77, Pav. 20 2735-308 Cacém TIRAGEM: 1200 exemplares e digital PERIODICIDADE: Semestral ISSN: 0873-1124 DEPÓSITO LEGAL: 189 332/02 REGISTO DE PUBLICAÇÃO PERIÓDICA: n.º 127 000 ESTATUTO EDITORIAL: Disponível em www.spea.pt/pt/publicacoes/pardela Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da SPEA. A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação das mesmas, tendo os autores das fotos utilizadas nesta publicação tomado as precauções necessárias para a minimizar. A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações. PROPRIEDADE / EDITOR / REDAÇÃO: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Pessoa coletiva n.º 503091707. Instituição de Utilidade Pública. CONTACTOS: Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 87, 3.º Andar, 1070-062 Lisboa Tel. +351 213 220 430 | Fax. +351 213 220 439 spea@spea.pt | www.spea.pt

DIREÇÃO NACIONAL Presidente: Graça Lima Vice-presidente: Paulo Travassos Tesoureiro: Peter Penning Vogais: Alexandre Leitão e Martim Melo A SPEA é uma organização não governamental de ambiente, sem fins lucrativos, que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, organização internacional que atua em mais de 100 países. É instituição de utilidade pública e depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar a sua missão.

Esta publicação foi impressa em papel reciclado Oikos com certificação FSC, a marca da gestão florestal responsável.

Esta edição contou com o apoio publicitário de: Sony e Opticron


BREVES

Vote no LIFE Berlengas para Prémio Rede Natura 2000

AGENDA EM DESTAQUE VISITAS DE ESTUDO ORNITOLÓGICAS SPEA 2020 Navarra (Espanha) 7 a 9 de novembro

Estuário do Sado e Lagoa de Santo André 14 a 15 de novembro

EVENTOS E ATIVIDADES 2020 11.º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza Sagres | 2 a 5 de outubro

Visita à Quinta do Marim e ao RIAS © Isabel Fagundes

(Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens)

Olhão | 7 de novembro

O projeto LIFE Berlengas foi selecionado para ser um dos candidatos ao Prémio Rede Natura 2000 deste ano, na categoria de “Conservação”. Para além do prémio atribuído por um júri, que irá selecionar um vencedor por categoria, o projeto está também a votação para “escolha do público” até dia 15 de setembro.

O LIFE Berlengas decorreu entre 2014 e 2019 e teve como principal objetivo devolver a essência da ilha, criando melhores condições às espécies nativas daquele habitat único, sobretudo as aves marinhas e as plantas nativas. O projeto foi cofinanciado pelo Programa LIFE. VOTE EM

bit.ly/VoteBerlengas

NOTA: Devido à pandemia por Covid-19, a nossa agenda poderá sofrer alterações. Para ir acompanhando a situação, consulte www.spea.pt.

Ninho de cagarra online em julho

Nova edição do Guia das Aves Comuns de Portugal

Gostava de identificar o passarinho que lhe apareceu no jardim? Queria oferecer um guia simples sobre observação de aves? Então este é o guia que procura. Simples e fácil de consultar, surge agora mais completo e apelativo. Em breve à venda na nossa loja, e, disponível também no kit de oferta aos novos sócios.

© Miguel Lecoq

Vamos continuar a acompanhar a vida no ninho de um casal de cagarras nas Berlengas, a partir de julho. Fique atento!

ENCOMENDE EM

ACOMPANHE EM

bit.ly/SPEAloja

berlengas.eu n.º 60 pardela | 5


BREVES

Como evitar a captura acidental de aves marinhas?

11.º Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza

© Ivan Gutierrez

O que pode fazer um pescador para evitar que as aves marinhas fiquem presas nas redes, anzóis e linhas de pesca? No website do projeto MedAves Pesca partilhamos boas práticas e soluções como usar um “papagaio afugentador” ou colocar dispositivos sinalizadores nas redes. Pode ainda encontrar alguns dos testemunhos dos pescadores com quem trabalhamos, que demonstram a importância de um trabalho conjunto entre cientistas e pescadores. SAIBA MAIS EM

www.medavespesca.pt

Novo website

A SPEA tem um novo “ninho” online, mais prático e funcional. Estamos ainda a trabalhar para completar alguns conteúdos, mas pode desde já consultar a nossa agenda, notícias, recursos educativos e projetos. VISITE-NOS EM

www.spea.pt 6 | pardela n.º 60

© CM Vila do Bispo

Sagres recebe, de 2 a 5 de outubro mais uma edição do maior evento dedicado à Natureza, em Portugal. Este ano, entre as novidades, destaca-se o programa online, que vai permitir a pessoas de todo o mundo assistirem a palestras e workshops sem terem que se deslocar.

de todos os participantes, seguindo as orientações da Direção-Geral da Saúde. As inscrições no evento, organizado pela Câmara Municipal de Vila do Bispo em parceria com a SPEA e a Associação Almargem, abrem a 28 de julho.

O festival está também a trabalhar no sentido de assegurar a segurança

SAIBA MAIS EM

www.birdwatchingsagres.com

Reduzir a poluição luminosa SPEA Açores e SPEA Madeira são parceiras do novo projeto Energy Efficiency Laboratories (EELabs), que pretende maximizar a eficiência energética das novas tecnologias de iluminação, principalmente os LED, para minimizar o impacto da poluição luminosa nos ecossistemas naturais da Macaronésia. Nos Açores e Madeira, iremos instalar Laboratórios de Poluição Luminosa, que além de medirem a intensidade da

luz artificial, permitirão avaliar também os impactos ecológicos desta fonte de poluição que é especialmente prejudicial para as aves marinhas. O projeto é coordenado pelo Instituto de Astrofísica das Canárias e financiado pelo INTERREG V-A MAC 2014-2020. SAIBA MAIS EM

www.eelabs.eu


BREVES

Contar aves marinhas pelo som

Loja SPEA continua aberta Estamos a melhorar a nossa loja online, mas não estamos fechados! Continua a poder encomendar binóculos, guias de aves, caixas-ninho, peluches ou qualquer outro produto da nossa loja. Basta preencher o formulário online ou contactar-nos. COMPRE ONLINE

bit.ly/SPEAloja

© Carlos Mendes

No ano em que se comemora o Ano Internacional do Som, lançamos o projeto LIFE4BEST Seabirds Macaronesian Sound. Neste projeto, vamos usar os sons produzidos pelas aves marinhas para determinar quantas são e onde estão. O projeto, coordenado pela SPEA e financiado pelo programa LIFE da União Europeia, pretende fazer um ponto de situação das populações de roque-de-castro (conhecido como angelito nos

Açores), painho-de-monteiro (endémico dos Açores), pardela-do-atlântico (conhecida como estapagado, nos Açores e patagarro, na Madeira) e pintainho (ou frulho, nos Açores). A informação recolhida será essencial para definir planos de ação para a conservação destas espécies nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. SAIBA MAIS EM

www.facebook.com/groups/ aves.marinhas.macaronesia.spea

Picanço-barreteiro e outras aves agrícolas em declínio O relatório do Censo de Aves Comuns 2004-2020, que junta o importante trabalho de centenas de observadores de aves, a maioria voluntários, mostra que algumas aves ligadas aos habitats agrícolas continuam em declínio, reforçando a necessidade de implementação de uma política agrícola sustentável. SAIBA MAIS EM

www.spea.pt/censos/censoaves-comuns

Redução da caça à rola-brava: um passo importante

© Ximo Galarza

© Miguel González Novo

Este ano, a caça à rola-brava foi reduzida a 4 manhãs. A redução é uma das medidas estipuladas no memorando de entendimento assinado no ano passado entre organizações de ambiente, incluindo a SPEA, organizações do setor da caça e Governo. É um passo importante para a conservação desta espécie, cuja população tem diminuído de forma alarmante nos últimos anos, contudo importa salientar que as medidas para proteger esta espécie não podem ficar por aqui. Considerando que esta espécie diminuiu 80% desde 2004, pode mesmo ser necessário suspender completamente a caça.

CC BY-NC-SA 2.0

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DESCOBERTAS

CIÊNCIA

© Tânia Pipa

Sexo, estação e alimentação Machos e fêmeas de roque-de-castro (Hydrobates castro) têm hábitos alimentares semelhantes durante a época de reprodução, mas fora dessa época os dois sexos podem alimentar-se de fontes diferentes, possivelmente em resposta às condições ambientais. São estes os resultados de um estudo levado a cabo nos Farilhões (arquipélago das Berlengas) por investigadores do MARE - Universidade de Coimbra com a colaboração de Isabel Fagundes e Nuno Oliveira da SPEA. Carreiro AR et al. 9 jan 2020. Mar Biol 167, 14. DOI: 10.1007/s00227-019-3626-x

Mapear para proteger Um estudo publicado na revista Journal of Applied Ecology, com con-

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© Guille Pozzi

tributos de Joana Andrade, coordenadora do nosso Departamento de Conservação Marinha, produziu mapas que poderão ajudar a identificar áreas importantes para a conservação de aves, baleias e golfinhos no Nordeste do Atlântico. Os mapas, que mostram a distribuição de 12 espécies de aves e de 12 espécies de cetáceos (baleias e golfinhos) em cada mês, vão permitir identificar áreas em que as atividades humanas se sobrepõem a espécies vulneráveis. Waggit JJ et al. 26 out 2019. Journal of Applied Ecology. DOI: 10.1111/13652664.13525

Antepassado das galinhas Foi descoberto na fronteira entre a Bélgica e a Holanda um crânio que terá pertencido a um antepassado

© Phillip Krzeminski

das galinhas, codornizes e patos. O crânio muito bem preservado deste antepassado, a que os investigadores chamaram Asteriornis maastrichtensis numa referência à deusa grega Asteria, que se terá transformado numa codorniz, ajudará a perceber melhor a evolução das aves. Field DJ et al. 18 mar 2020. Nature 579, 397–401. DOI: 10.1038/s41586-020-2096-0

Benefícios acrescidos As áreas protegidas da Rede Natura 2000 não só beneficiam as espécies que visam proteger como também aumentam a abundância de aves e borboletas de outras espécies. Foi esta a conclusão de um estudo publicado na revista Conservation Biology. Pelissier V et al. 7 nov 2019. Conservation Biology. DOI: 10.1111/cobi.13434


DESCOBERTAS

CIÊNCIA

E ainda... eBird é exemplo do sucesso da ciência cidadã

© Ricardo Rocha

Exploração intensiva: uma ameaça multifacetada

© Joana Andrade

Ninhos artificiais são um sucesso

Proteger as florestas mais bem preservadas é a medida mais importante para conservar as aves nativas de São Tomé, segundo um estudo liderado por investigadores do Ce3C - Universidade de Lisboa, com contributos de Hugo Sampaio da SPEA. O estudo indica que a exploração intensiva propicia a expansão de aves não nativas, pondo em risco as espécies nativas da ilha. Em paralelo, um outro estudo liderado por cientistas da Universidade de Stanford, EUA, revelou que a agricultura intensiva torna as comunidades de aves mais vulneráveis às alterações climáticas.

Os ninhos artificiais são uma medida eficaz para a conservação de cagarras (Calonectris borealis), como demonstra um estudo publicado na nossa revista científica Airo. Na ilha da Berlenga, o sucesso reprodutor desta espécie é maior nos ninhos artificiais do que nos naturais, indica o estudo levado a cabo por Nuno Oliveira e colegas da SPEA, que analisaram dados de 30 anos de uso destas estruturas, concluindo que elas poderão também ser implementadas com sucesso no ilhéu Farilhão Grande, possibilitando que a população de cagarra aumente em todo o arquipélago das Berlengas.

Soares FC et al. 24 fev 2020. Animal Conservation. DOI: 10.1111/acv.12568

Oliveira N et al. 2020. Airo, 27, 3-19. www.airo-spea.com

La Sorte FA & Somveille M. 22 out 2019. Ecography. DOI: 10.1111/ecog.04632

Chamamentos dos pinguins seguem as mesmas regras que linguagens humanas Favaro L et al. 5 fev 2020. Biology Letters. DOI: 10.1098/ rsbl.2019.0589

Velcro natural “cola” as penas de voo das aves Matloff LY et al.17 Jan 2020. Science 367 (6475), 293-297. DOI: 10.1126/science.aaz3358

Conservação de habitats é importante para aves aquáticas não-reprodutoras sobreviverem às alterações climáticas Gaget E et al. 22 dez 2019. Conservation Biology. DOI: 10.1111/cobi.13453.

Hendershot JN et al. 18 mar 2020. Nature 579, 393-396. DOI: 10.1038/s41586-0202090-6

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S. TOMÉ E PRÍNCIPE

Ilhas com tanto a descobrir São Tomé e Príncipe é um paraíso tropical com uma biodiversidade ainda bastante intocada. Populadas por espécies únicas, estas ilhas reservam muitas surpresas.

Pescador ao largo da ilha do Príncipe HBD Príncipe

E

m São Tomé e Príncipe existem 28 espécies de aves endémicas (espécies que não existem em mais nenhum lugar do mundo). Apesar de ser o segundo país mais pequeno de África (depois das ilhas Seychelles), está em quarto lugar no número de aves endémicas, no continente. Além da elevada biodiversidade, as ilhas têm outras atrações: desde as paisagens de verde luxuriante às praias de extenso areal branco, das roças à saborosa gastronomia, sem esquecer o cacau e o café, os picos vulcânicos, e finalmente, as pessoas. Uma combinação aliciante!

Da savana à floresta A ilha de São Tomé, com cerca de 850 km2, é um paraíso tropical coberto de florestas húmidas, savanas e 10 | pardela n.º 60

mangais. No Nordeste da ilha, numa área desde o aeroporto até à Lagoa Azul deparamo-nos com um ambiente mais humanizado e de savana, algumas zonas pantanosas e resquícios de mangais. Aqui, onde os tons áridos dominam, é possível encontrar as aves de zonas mais secas e habitats semi abertos, como francolim-de-gola-vermelha (Francolinus afer), codorniz-arlequim (Coturnix delegorguei), pintada (ou galinha-do-mato, Numida meleagris), inseparável-de-cabeça-vermelha (conhecido localmente como periquito, Agapornis pullarius), viúva-d’asa-branca (Euplectes albonotatus), bispo-de-dorso-amarelo (ou padé-campo-amarelo, Euplectes aureus), viuvinha (Vidua macroura) e canário-de-moçambique (ou canário-de-testa-amarela, Serinus mozambicus). É ainda um excelente local para se observar uma subespécie endé-

mica do tecelão-de-mascarilha, localmente denominada de canário (Ploceus velatus). Já pelo Sul, a paisagem explode nas mil tonalidades de verde e nos sons da floresta tropical. A partir de Monte Carmo é possível embrenhar-se pela floresta de baixa altitude, e em pleno Parque Natural de Obô, observar as espécies endémicas, e também as mais ameaçadas como a íbis-de-são-tomé (Bostrychia bocagei, conhecida localmente como galinhola), o anjolô (Serinus concolor) e o picanço-de-são-tomé (Lanius newtonii). Para visitar o Parque Natural, é necessário ir acompanhado por guias locais que são os grandes conhecedores da floresta. Eles permitir-lhe-ão não só caminhar em segurança como encontrar as aves mais espetaculares: pombo-


-de-são-tomé (Columba thomensis), pombo-verde-de-são-tomé (ou cécia, Treron sanctithomae), mocho-de-são-tomé (ou quitoli, Otus hartlaubi), tecelão-gigante (ou camussela, Ploceus grandis), papa-figos-de-são-tomé (Oriolus crassirostris), sui-sui-de-obô (Amaurocichla bocagii)... o difícil será concentrar-se.

Apesar da sua popularidade estar a crescer no mundo do turismo, estas ilhas ainda recebem muito poucos visitantes. As oportunidades de ver as aves especiais da floresta não se esgotam aqui. Na zona central da ilha, a partir do Jardim Botânico de Bom Sucesso, deambulando pelos trilhos de floresta, os caminhos vão continuar a deslumbrá-lo com estas aves únicas e podem ainda levá-lo a visitar uma roça e o museu, em Monte Café, onde poderá apreciar um bom café santomense.

Mais pequena, mas igualmente bela Na Ilha do Príncipe, bem mais pequena, mas com uma floresta igualmente frondosa, a zona sul é um dos locais indicados para se ouvir o

Tecelão-de-mascarilha Brendan Ryan

recém-descoberto mocho-d’orelhas-do-príncipe (Otus sp.), bem como vislumbrar o raro tordo-do-príncipe (Turdus xanthorhynchus). Os ilhéus das Tinhosas, a 12 milhas da Ilha do Príncipe, albergam uma importante colónia com algumas espécies de aves marinhas. Nestes pequenos ilhéus nidificam milhares destas aves como garajau-de-dorso-preto (ou caié-branco, Onychoprion fuscatus), tinhosa-grande (ou palé, Anous stolidus), tinhosa-preta (ou caié-preto, Anous minutos) e alcatraz-pardo (Sula leucogaster).

Apesar da sua popularidade estar a crescer no mundo do turismo, estas ilhas ainda recebem muito poucos visitantes anualmente, e é fácil sentir que se está num sítio pouco explorado. Isto, conjugado com o modo de vida leve-leve dos locais, fará com que se sinta relaxado! Junte-se a nós na visita planeada para 2021 e venha descobrir este paraíso quase pristino. Autora | Mónica Costa SPEA

Paraíso em risco Outrora ocupados para exploração de cacau e café, após os abandonos sucessivos dessas culturas muitos terrenos foram sendo reclamados pela expansão da floresta, o que beneficiou muitos animais que dela dependem, principalmente as aves, que nestas ilhas estão fortemente associadas a este tipo de habitat (mais na pág. 9). Com cerca de um terço de cada ilha ainda coberto por floresta tropical primária, é muito importante a conservação deste habitat, que é considerado um hotspot de biodiversidade, e consta na lista de sítios sob iminente ameaça de extinção da Alliance for Zero Extinction.

Cuco-esmeraldino Peter Steward

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AVE DO ANO 2020

Codorniz: mestre da camuflagem Portugueses e espanhóis elegeram a codorniz-comum (Coturnix coturnix) como Ave do Ano 2020, numa votação que pela primeira vez foi organizada em conjunto pela SPEA e pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/BirdLife). Embora em Portugal ainda seja uma ave comum, a codorniz poderá brevemente deixar de o ser, se não forem implementadas medidas para travar o desaparecimento da diversidade natural dos nossos campos. Sem uma política agrícola sustentável, a codorniz irá certamente seguir o caminho de outras aves de zonas agrícolas: o declínio.

Codorniz Ján Svetlík

12 | pardela n.º 60


A

mais pequena ave da família dos galináceos, a codorniz é mestre da camuflagem. Poderá surpreendê-lo ao levantar voo quase debaixo dos seus pés: um borrão rasteiro que rapidamente desaparece por entre as ervas. Embora raramente se deixe observar, é frequente ouvir-se o seu canto. Se tiver a sorte de ver uma codorniz, poderá identificá-la pela combinação do corpo rechonchudo com as asas compridas e pontiagudas. As suas partes superiores são castanhas, com riscas e barras de bege, enquanto as partes inferiores são de um laranja-amarelado. A codorniz reproduz-se muito fácil e rapidamente: num ano chega a fazer até três posturas de 8 a 13 ovos cada. Apesar de esta ave ser ainda comum, a sua área de distribuição diminuiu 30% na última década em Portugal, como resultado de alterações nas práticas agrícolas. A expansão das monoculturas, o desaparecimento dos pousios, e a eliminação das sebes e margens dos campos deixam cada vez menos habitat disponível para esta e outras aves típicas de zonas agrícolas. Esta ave alimenta-se de sementes, grãos de cereais e pequenos invertebrados, pelo que tem sofrido também com o aumento do uso de herbicidas e inseticidas.

Codorniz Guérin Nicolas

Em Espanha, a espécie está já em declínio evidente: o número de codornizes diminuiu 70% nos últimos 20 anos. Em Portugal, não há mais de 100 mil indivíduos desta espécie. Ao impacto devastador da agricultura intensiva juntam-se a pressão da caça, a contaminação genética (com a introdução da codorniz-japonesa ou de híbridos para fins cinegéticos) e as alterações climáticas. “A política agrícola tem de compensar quem pratica uma agricultura responsável e sustentável, contribuindo para a preservação dos valores naturais. Senão, daqui por uns anos poderá

ser difícil ver codornizes nos nossos campos, não por serem mestres da camuflagem, mas por estarem a desaparecer”, diz Domingos Leitão. A votação para Ave do Ano 2020 decorreu online em Janeiro, promovida pela SPEA e pela SEO/BirdLife. A codorniz-comum foi eleita com 7930 votos, à frente da águia-caçadeira (ou tartaranhão-caçador, Circus pygargus), que teve 6130 votos e do picanço-real (Lanius meridionalis), que recebeu 5156 votos. Autora | Sonia Neves SPEA

Em Espanha, a espécie está já em declínio evidente: o número de codornizes diminuiu 70% nos últimos 20 anos. “A população ibérica de codorniz é a mais importante da Europa Ocidental. Mas se não se fizer nada para valorizar a agricultura extensiva de sequeiro, vai seguir o caminho de outras espécies ameaçadas como o sisão e a águia-caçadeira”, diz Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA.

Codorniz Mike Langman (www.rspb-images.com)

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EM CASA

Como atrair borboletas para a sua varanda ou jardim São coloridas, graciosas e muito bonitas. Quem não gosta de ver uma borboleta a flautear de canteiro em canteiro? Não é necessário fazer muito para atrair estes insetos para o seu jardim, terraço ou varanda: desde que haja flores em abundância, as borboletas estarão lá para se alimentarem. Mas há alguns pequenos truques que poderão ser aplicados para potenciar a visita destes belos animais.

Flores de todas as cores As borboletas são atraídas por cores garridas, pelo que quanto mais colorido for o jardim, melhor será – e quanto maior a mancha florida, maior poder de atração terá para as borboletas. Tente criar um canteiro florido e relativamente grande. O conteúdo de néctar das flores utilizadas é também importante – ervas aromáticas como a alfazema, por exemplo, são particularmente atraentes para as borboletas. Se tiver espaço, as árvores de fruto e os legumes também podem ser importantes fontes de alimento; ou então pode criar um “comedouro” com frutas como banana, melão e melancia (veja como na

pág. 38). Lembre-se é de o limpar diariamente, para não propagar doenças.

Plantas para toda a vida Outro aspeto a ter em conta é tentar ter no seu jardim plantas e habitat para todas as etapas da vida das borboletas. O ideal será ter arbustos, muretes ou outros refúgios onde as espécies que hibernam possam passar o inverno; plantas para elas porem os ovos, e para alimentar as lagartas.

Zona balnear E nem só de flores vivem estes simpáticos bichos; a água também lhes é

muito importante, por isso se puder crie um pequeno charco no seu jardim. As borboletas gostam também de apanhar sol em zonas rochosas ou pedras, pelo que a adição de pequenas lajes pode resultar muito bem.

Abrigo seguro Evite usar insecticidas e herbicidas, pois podem ser letais para as borboletas e as suas lagartas. E criadas as condições, só resta deixar-se deslumbrar pelas suas singelas visitantes! Autor | José Pedro Tavares

Vulture Conservation Foundation (VCF)

Saber mais Tagis (Centro de Conservação de Borboletas de Portugal) www.tagis.pt “As borboletas de Portugal”, de Eva Monteiro Pardela 43

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© Rui Machado



PETIÇÃO #1PLANET1RIGHT

Ambiente saudável é um direito humano

A saúde do nosso planeta é a nossa saúde Jonathan Borba

A

BirdLife International, organização global líder em conservação, da qual a SPEA é a parceira portuguesa, marcou em abril o 50.º aniversário do Dia da Terra, apelando às Nações Unidas para que tomem um passo arrojado e sem precedentes: declarar um ambiente natural saudável como um direito humano fundamental. O apelo foi feito numa carta aberta e numa petição que todos podem assinar. Na carta aberta ao Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guter16 | pardela n.º 60

res, a BirdLife International apelou a que, no âmbito da sua resposta à pandemia do novo coronavírus, a ONU adicionasse um “Artigo 31” à Declaração Universal dos Direitos Humanos, consagrando o direito universal a um ambiente natural saudável, garantido por políticas públicas, governado pela sustentabilidade e pelo conhecimento científico e indígeno tradicional. “A COVID-19 é a maior crise global desde a 2.ª Guerra Mundial. Mas embora a pandemia seja devastadora, também cria uma oportunidade, aliás

uma obrigação, de transformar a sociedade em algo que sirva para proteger o nosso bem-estar e as gerações futuras”, diz Patricia Zurita, Diretora da BirdLife International. “A saúde do nosso planeta é a nossa saúde. Nós, humanos, dependemos da Natureza para a nossa sobrevivência e sanidade.” Assine a petição para que um ambiente saudável se torne no 31.º direito humano. ASSINE EM

bit.ly/SPEAArtigo31


VERÃO

Nestas férias, encontre Natureza onde quer que vá A pandemia de COVID-19 trocou as voltas a muitos planos de viagem, mas não é preciso marcar safaris ou ir até locais remotos para que a Natureza faça parte das suas férias. Na verdade, até um passeio na cidade pode proporcionar encontros com a vida selvagem: basta saber procurar.

Na cidade Os jardins das cidades são o local por excelência para um contacto com a Natureza, mas não são os únicos. Onde quer que haja árvores, pode haver chapim-azul (Cyanistes caeruleus) a fazer-se anunciar com o seu canto característico. Outro som habitual nas cidades é o canto da milheirinha (ou chamariz, Serinus serinus), cujo macho se identifica bem pelo seu tom amarelo. Também as toutinegras (Sylvia sp.) e o chapim-real (Parus major) são bastante comuns, e junto a muros de pedra, pré-

dios ou casas poderá avistar a mancha alaranjada da cauda do rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros). Nesta altura do ano, ao amanhecer e ao fim de tarde ouvem-se os gritos estridentes dos andorinhões-pretos (Apus apus) a entrar e sair dos ninhos sob as telhas. Em muitas cidades, pode ver “condomínios” de andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum) no topo dos prédios. Olhar para cima numa cidade pode revelar habitantes mais inesperados. Prédios altos com cavidades são bons

locais para as aves de rapina repousarem ou até fazerem o ninho. Em Lisboa, por exemplo, na Torre do Tombo e no edifício da Caixa Geral de Depósitos, é frequente verem-se peneireiros-comuns (Falco tinnunculus). Estas pequenas aves de rapina de corpo cor de ferrugem e cabeça cinzento-azulada são também uma presença comum em Beja e Évora, por exemplo. Em Évora, se passear no centro histórico, dentro das muralhas, poderá também encontrar gralhas-de-nuca-cinzenta (Corvus monedula). Este corvídeo vê-se também na Guarda, na zona da Sé. n.º 60 pardela | 17


Outra forma de encontrar Natureza na cidade é olhar para baixo. Em manhãs soalheiras, se vir um movimento rápido junto aos seus pés, é provável que tenha interrompido os banhos de sol de uma lagartixa. Se parar por um momento e olhar o chão em redor, provavelmente vê-la-á a sair de alguma fresta, para se aquecer novamente ao sol. Ao nível do solo estão também muitas vezes os relvados e canteiros, que além de atraírem borboletas, abelhas e outros insetos, podem eles próprios conter surpresas. Nos relvados do Hospital da Universidade de Coimbra, no parque de Monsanto (Lisboa) e em Loulé, por exemplo, brotam orquídeas selvagens.

No campo Em zonas de campos abertos, procure o voo ondulado da poupa (Upupa epops). Se passear num espaço mais seco e pedregoso, procure o andar característico das cotovias (Galerida cristata e Galerida theklae). Já nas plantações de cereais, poderá observar bandos de pintarroxos (Linaria cannabina) e pintassilgos (Carduelis carduelis). Mais acima, pousado num poste ou a pairar no ar, poderá avistar um peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus). Esta espécie vê-se especialmente no sul, em Trás-os-Montes ou no litoral, frequentemente associada a zonas agrícolas. No sul e no interior do país, esteja atento ao chamamento dos abelharucos (Merops apiaster), semelhante ao apito de um árbitro. Se o ouvir, procure um bando a alimentar-se de insetos em voo, ou veja se está algum pousado num fio telefónico. Por outro lado, o canto de um cartaxo-comum (Saxicola rubicola) é sinal para dirigir o olhar para tudo o que possa servir de poleiro: procure-o nas sebes, nos arbustos, e no topo das árvores. Outra ave que se avista frequentemente a cantar no topo das árvores, em fios elétricos e noutros sítios altos é a milheirinha. Num passeio no bosque, mato ou floresta, nem sempre é fácil ver as aves

por entre a vegetação, mas algumas fazem-se ouvir bem. É o caso do inconfundível cuco (Cuculus canorus), e, no interior do país, do papa-figos (Oriolus oriolus). Um pouco por todo o país, poderá ouvir o canto matraqueado de uma toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala), ou avistar o barrete avermelhado do picanço-barreteiro (Lanius senator; veja na pág. 35 como identificá-lo). No interior do país, poderá ter a sorte de avistar uma águia-cobreira (Circaetus gallicus) a voar com uma cobra nas garras. Umas férias no campo podem ainda proporcionar oportunidade de ver mamíferos como coelhos (Oryctolagus cuniculus) e lebres (Lepus europaeus), e, em Trás-os-Montes, corços (Capreolus capreolus) e veados (Cervus elaphus). Se passar as férias junto à água, terá oportunidade de encontrar outros animais. O vistoso guarda-rios (Alcedo atthis) passa como um raio azul a voar sobre a água. Em lagos, açudes e barragens, pode observar o mergulhão-de-poupa (Podiceps cristatus). Na primavera, com sorte, poderá testemunhar a sua exuberante dança nupcial, em que macho e fêmea abanam a cabeça, esticam os pescoços e se erguem espalhafatosamente na água. Também nos açudes, albufeiras e estuários do litoral pode ver maçaricos-das-rochas (Actitis hypoleucos), muitas vezes a alimentar-se nas margens.

Toutinegra-de-cabeça-preta José Manuel Armengod

Guarda-rios Dorothea Oldani

Em açudes mais pequenos avistará certamente a testa vermelha da galinha-d’água (Gallinula chloropus). Se ouvir um som parecido com um porco, é provável que seja um frango-d’água (Rallus aquaticus). Procure minuciosamente entre a vegetação, ou se o som vier de perto de alguma vala procure lá dentro ou nas bermas. Nas zonas do Tejo, Sado e Alentejo, os açudes, lagos e barragens são um bom sítio para observar andorinhas-das-barreiras (Riparia riparia) nas suas manobras aéreas para apanhar insetos sobre a água. Esta pequena andorinha

Mergulhão-de-poupa John Harrison

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cheiro a peixe, nas quais muitas vezes se conseguem ver escamas ou cascas de lagostim.

Gaivota-de-audouin Pinta Fontes

E não se esqueça de reparar nos seres mais pequenos. Na água, pare para observar insetos como os alfaiates (Gerris lacustris), que conseguem caminhar sobre a água, ou admirar as cores vibrantes das libélulas e libelinhas. Em terra, experimente levantar uma rocha ou tronco caído: poderá descobrir todo um novo mundo de escaravelhos, formigas, minhocas e outros invertebrados. Nas zonas áridas do interior, pode até encontrar um escorpião a descansar debaixo da pedra.

Na praia A banda sonora de umas férias na praia é pautada, claro, pelo grito das gaivotas. No verão, nas praias portuguesas encontrará sobretudo gaivotas-de-patas-amarelas (Larus michahellis). Mas no Algarve poderá também avistar a gaivota-de-audouin (Larus audouinii), com o seu bico vermelho e forte. Outra presença típica nas nossas praias é uma ave a pairar sobre a água, olhando para baixo à procura de peixe: a chilreta, ou andorinha-do-mar-anã (Sternula albifrons).

Borrelho-de-coleira-interrompida Frank Vassen

castanha e branca identifica-se pela gravata castanha e pela cauda curta, quase quadrada. Nas serras do Centro e Norte do país, nas bermas de pequenos cursos de água corrente e límpida, pode ainda ter a sorte de avistar um melro-d’água (Cinclus cinclus) pousado numa pedra ou tronco. Perto de água poderá ainda encontrar lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), e, mesmo que não tenha a sorte de ver uma lontra (Lutra lutra), pode saber da sua presença por umas pegadas na margem ou pelas fezes com

Em praias menos movimentadas ou em momentos mais calmos, na maré-baixa verá umas pequenas aves rechonchudas que parecem brincar na orla das ondas: os borrelhos-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus), que se alimentam de pequenos animais enterrados na areia molhada. Seguindo o exemplo destas aves, pegue na pá ou use as mãos para descobrir quem se esconde na areia: facilmente encontrará pequenos caranguejos, bivalves como as conquilhas, e outros invertebrados. Por vezes, dão à costa alforrecas (não lhes mexa, pois as células urticantes continuam ativas mesmo que a alforreca esteja morta), e no areal poderá também encontrar um pequeno pacote preto que parece uma almofada com os cantos esticados: é um ovo de raia ou de tubarão. n.º 60 pardela | 19


Perdiz Pierre Dalous

Abetarda

Charneco

Bruno Maia

Frank Vassen

E há vida selvagem ainda antes de chegar à praia. No Algarve, ao caminhar pelos passadiços - evite caminhar sobre as dunas para não danificar este ecossistema especial - pare um momento a observar os arbustos e a vegetação rasteira. Passe o olhar lentamente de ramo em ramo, e talvez seja recompensado ao descobrir um camaleão (Chamaeleo chamaeleon). No barlavento algarvio, pode ainda encontrar uma planta que não existe em mais nenhum local: a Linaria algarviana, uma pequena erva com uma flor roxa e branca. As falésias e rochedos junto à costa, por seu lado, albergam um outro rol de espécies. Aí fazem ninho andorinhões, rabirruivos, peneireiros e falcões-peregrinos (Falco peregrinus).

Na estrada O contacto com a Natureza pode começar assim que começa a viagem: há várias espécies, sobretudo de aves, que se veem bem a partir da estrada 20 | pardela n.º 60

Nos postes de alta tensão, os “condomínios” de cegonha-branca (Ciconia ciconia) são já um clássico. Também várias espécies de rapina frequentam as bermas das auto-estradas, aproveitando para se alimentar de animais atropelados. A pairar “ao largo” da estrada vêem-se frequentemente os pequenos peneireiros, que conseguem manter-se no ar por períodos impressionantemente prolongados, “peneirando” as asas para se manterem no mesmo sítio. Poderá também ver milhafres-pretos (Milvus migrans), com a sua cauda bifurcada, em forma de rabo de bacalhau. Esta ave é particularmente comum na zona de Coimbra, que alberga a maior colónia urbana da espécie na Europa. Outra presença regular é a águia-d’asa-redonda (Buteo buteo), a fazer jus à alcunha de “águia-dos-postes”, poisando em postes elétricos ou de telefone à procura de alimento. Em estradas secundárias, com menos movimento, poderá avistar picanço-barreteiro nos fios e arames farpados. Com alguma sorte, pode ser

surpreendido por uma perdiz (Alectoris rufa) a atravessar a estrada, ou até a andar por ela, com uma fila de pequenos perdigotos atrás. Sorte maior será avistar a passagem de uma mãe-javali com os seus bacorinhos, ou, mais ao cair do dia, de uma mãe-raposa com os seus raposinhos. Nas imediações das cidades do litoral Centro e Norte, é frequente ver-se a mancha preta-e-branca da pega (Pica pica), enquanto no Alentejo, Algarve e Trás-os-Montes se vê o azul-acinzentado do charneco, ou pega-azul (Cyanopica cooki). No Alentejo, nos campos de cereais ao lado da estrada pode avistar uma abetarda (Otis tarda). Aqui, e no sul do país em geral, se a estrada for ladeada por um barranco de terra, pode albergar ninhos de abelharuco. Qualquer que seja o seu destino nestas férias, a Natureza estará consigo. Parta à descoberta! Autora | Sonia Neves SPEA


CRIME AMBIENTAL

Cinco crimes contra o ambiente e como denunciá-los Os crimes contra o ambiente têm consequências para todos nós: tornam-nos mais vulneráveis às alterações climáticas, põem em causa a saúde pública, e deixam-nos mais pobres, ameaçando espécies e habitats. Por isso, cabe a cada um de nós ser a voz da Natureza, para que possa fazer-se justiça.

S

e suspeitar que está perante um crime contra o ambiente, denuncie-o e, se possível, mantenha-se na zona até que as autoridades cheguem. Registe a data, hora e local exato (se possível através das coordenadas GPS) e, se puder,

documente a situação tirando fotos ou fazendo um vídeo. Mas não mexa em nada nem tente interferir diretamente, para sua segurança (e de animais que porventura estejam presos) e para não inviabilizar eventuais provas incriminatórias.

Saiba o que fazer para ajudar a combater estes crimes

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01

Abate ilegal de animais Em Portugal, é proibido matar animais selvagens. A única exceção são as chamadas espécies cinegéticas, como tordos, perdizes ou coelhos, e mesmo aí há regras: só podem ser caçadas em zonas próprias, sinalizadas para o efeito, e em períodos específicos para cada espécie, definidos por lei. Para a maioria das espécies, este período é de agosto a setembro. Se encontrar um animal morto com vestígios de chumbos ou veneno (não lhe toque!), se se deparar com armadilhas, ou se vir alguém a disparar contra animais fora das regras de caça, denuncie imediatamente.

02 Captura de aves

De acordo com a lei nacional e europeia, não se pode capturar qualquer ave selvagem no nosso país. Se encontrar esparrelas (ou cotovelos), as armadilhas usadas para matar “passarinhos” que depois são comidos ou vendidos como petisco, denuncie de imediato. O mesmo se aplica se encontrar redes, visgo ou outras armadilhas para capturar aves vivas (desde pintassilgos a falcões), para depois pôr em gaiolas, ou se souber de alguém que retire ovos dos ninhos. © LPO

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03 Tráfico ilegal de espécies Se estiver a pensar em comprar um animal exótico, como um papagaio, uma caturra ou uma cobra, certifique-se de que o animal está legal, e cumpre o disposto na Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES) e na legislação europeia. Em caso de dúvida, contacte o ICNF. Se suspeitar estar perante uma situação de venda ilegal de animais, contacte a linha SOS Ambiente.

04 Destruição de habitat A lei portuguesa protege os espaços naturais, tanto dentro como fora dos parques e reservas naturais e outras áreas protegidas. Se testemunhar situações suspeitas de fogo posto, abate de árvores, terraplanagem de dunas, ou outras formas de destruição de espaços naturais, contacte de imediato a linha SOS Ambiente. Se a situação decorrer dentro de uma área protegida, no continente, aconselhamos a que contacte também o ICNF, questionando se foi autorizada (e porquê). Nos Açores, poderá contactar a Direção Regional do Ambiente, e na Madeira o IFCN. n.º 60 pardela | 23


05 Despejo ilegal de resíduos É proibido vazar resíduos não tratados para linhas de água, e existem regulamentos que definem onde e como podem ser colocados entulhos, lixo e outros objetos potencialmente nocivos. Se vir indícios de que um ribeiro, rio ou praia foi alvo de uma descarga poluente, ou testemunhar despejos suspeitos em zonas naturais, contacte de imediato a linha SOS Ambiente.

O que acontece depois da denúncia Na sequência de uma denúncia, cabe às autoridades averiguar a situação e, em caso de ilegalidade, recolher provas e testemunhos e desencadear processos judiciais.

ou que o processo acabe por ser arquivado por alguma razão, cada denúncia dá força à proteção da natureza, ajudando a conhecer a real dimensão do problema e aumentando a pressão sobre as pessoas para não cometerem estes atos.

núncia em segurança, envie-nos toda a informação para podermos denunciar nós: spea@spea.pt. Está nas mãos de cada um de nós defender o que é de todos. Se testemunhar uma situação suspeita, denuncie.

Quando fizer a denúncia, pode pedir para ser informado dos desenvolvimentos do processo, e as autoridades são obrigadas a mantê-lo a par. Mesmo que não seja possível identificar os infratores

Por tudo isto, se encontrar uma situação suspeita, contacte imediatamente as autoridades. Se sentir que não tem condições para fazer a de-

Atividades suspeitas em zonas protegidas

Denúncias

Mais informações

PORTUGAL CONTINENTAL

PORTUGAL CONTINENTAL

ICNF - icnf@icnf.pt

Linha SOS Ambiente - 808 200 520 www.gnr.pt/ambiente.aspx

QUANDO É QUE ESPÉCIES PODEM SER CAÇADAS

MADEIRA

IFCN - 291 145590 ou 291 740060/40 AÇORES

Linha SOS Ambiente - 800 292 800 naminhailha.azores.gov.pt

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MADEIRA

SEPNA/GNR - 291 214 460 AÇORES

Linha SOS Ambiente - 800 292 800

Autora | Sonia Neves SPEA

icnf.pt/caca/calendariovenatorio QUE ESPÉCIES PODEM SER VENDIDAS

www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/ ei/cites


Crime contra a fauna em Portugal LIFE NATURE GUARDIANS

Contra o crime ambiental Para melhorar a eficácia do combate aos crimes contra o ambiente, a SPEA participa no projeto LIFE Nature Guardians. No âmbito deste projeto estamos a trabalhar com todos os envolvidos na luta contra os crimes ambientais, desde as forças policiais aos magistrados, para sensibilizar para a importância destes crimes e para perceber que procedimentos podem ajudar a que os culpados sejam encontrados e punidos. Cofinanciado pelo Programa LIFE da Comissão Europeia, o projeto LIFE Nature Guardians é coordenado pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/ BirdLife), com a SPEA responsável pelas ações em Portugal, que são cofinanciadas pelo Fundo Ambiental.

500

Casos de envenenamento de animais entre 2003 e 2014*

283.000

Aves capturadas ilegalmente em Portugal entre 2011 e 2017**

Entre 1998 e 2017

1.066

Crimes contra a natureza registados

106 Arguidos

50 %

das multas inferiores a 900 euros

65

Condenados

SAIBA MAIS EM

www.natureguardians.spea.pt

* Dados do projeto “LIFE Imperial” coordenado pela Liga para a Proteção da Natureza (LPN) e do Programa Antídoto Portugal

0

Penas de prisão por crimes contra a natureza

** Dados do projeto LIFE Nature Guardians

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ENTREVISTA

Estamos a criar espécies dependentes de conservação? Há 20 anos, Inês Catry trabalhou com a Liga para a Proteção da Natureza num projeto de instalação de ninhos artificiais em Castro Verde que ajudaram a recuperar as populações de francelho (também conhecido por peneireiro-das-torres Falco naumanni) e rolieiro (Coracias garrulus). Mas ao fazê-lo começou um círculo vicioso. Entrevista por Sonia Neves (SPEA)

Estaremos a criar espécies dependentes da ação humana? Inês Catry

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F

alámos com a investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), e nossa sócia, sobre como as espécies se podem tornar dependentes da conservação, os desafios que isso apresenta, e possíveis soluções, a propósito de um artigo que publicou este ano na revista Biological Conservation.

Como é que as espécies ficam dependentes da conservação? O que se passa com estas duas espécies, francelho e rolieiro, é que tiveram um declínio muito acentuado na Europa. Para os francelhos, começaram a fazer-se esforços de conservação no fim dos anos 90, início dos anos 2000, porque em Portugal a espécie decresceu, tal como em quase toda a Europa: teve um declínio muito grande e em face disso surgiram as primeiras ideias de projetos de conservação para a espécie. Tanto os francelhos como os rolieiros são espécies que nidificam em cavidades, ou seja, não constroem os próprios ninhos. Precisam de cavidades feitas por outras aves, ou então cavidades em falésias, em árvores, ou neste caso em casas, que ali na zona de Castro Verde é o que a maior parte dos casais ocupam: cavidades em edifícios abandonados. Então, uma ação fácil de conservação é disponibilizar ninhos artificiais, que estas duas es-

Os ninhos precisam de manutenção regular

Inês Catry com rolieiro Inês Catry

pécies ocupam muito bem. Foi o que fizemos entre 2002 e 2006, no projeto LIFE Peneireiro, da LPN [Liga para a Proteção da Natureza], que tem liderado os esforços de conservação destas espécies na região. E resultou: no censo que fizemos em 2017, e que deu origem a este artigo, verificámos aumentos consideráveis tanto de francelhos como de rolieiros, e constatámos que mais de 65% das duas populações nidificam em ninhos artificiais. Portanto, o que acontece é que conseguimos aumentar bastante a população, para cerca de 600 francelhos e 60 rolieiros na ZPE [Zona de Proteção Especial]. Mas se não existir uma manutenção

desses ninhos, as populações podem voltar aos níveis anteriores. Por isso, é preciso um esforço de conservação constante.

Quanto tempo dura um destes ninhos? Depende muito dos ninhos. Temos caixas de madeira, e dependendo dos tratamentos essas podem durar 5 ou 6 anos, por aí. No outro extremo temos as paredes de nidificação, umas construídas em taipa e outras em cimento e tijolo, e essas é expectável que durem 30 ou 40 anos. Mas mesmo que as paredes se aguentem em pé, não quer dizer que as cavidades estejam disponíveis e em bom estado. Muitas são ocupadas por outras espécies (gralha-de-nuca-cinzenta, mocho-galego, coruja-das-torres, estorninho-comum, pombos), o que gera alguma competição. Dentro dos buracos geralmente há terra, porque as duas espécies não põem os ovos diretamente no cimento, e muitas vezes a terra desaparece, ou são ocupados pelos pombos e as fezes dos pombos enchem completamente os buracos. Outras espécies põem paus dentro dos ninhos… Portanto, se os ninhos não forem limpos, se calhar mesmo que a parede dure 30 ou 40 anos, a sua duração vai ser menor do que isso.

Inês Catry

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Isso cria um desafio em si mesmo, não é? É verdade. Neste caso, não só porque os ninhos naturais ou seminaturais, como quisermos chamar a estas cavidades nos edifícios, vão acabar por desaparecer porque os montes [alentejanos] estão a cair aos bocados; o tempo que as espécies podem usar realmente as cavidades é muito curto. E portanto, o que esperamos é que cada vez mais as aves optem por ocupar ninhos artificiais, porque os naturais ou seminaturais vão acabar por desaparecer. E no futuro, toda a população vai acabar confinada a ninhos artificiais.

E depois é preciso manter esses ninhos artificiais… Exatamente, senão têm o mesmo problema que os edifícios abandonados: vão-se degradando e acabam por desaparecer. E portanto essas espécies ficam altamente condicionadas e dependentes, não só dos ninhos artificiais mas também da sua manutenção ao longo do tempo. E isso em termos de financiamento é complicado…

Portanto, há esta questão financeira. No vosso artigo, referem que a solução pode passar pelo turismo? Sim, neste estudo tentámos estimar qual seria o custo anual para manter os ninhos artificiais atualmente existentes e para substituir os que se vão degradando, e chegámos aos 4 500 euros por ano para manter estes ninhos. É um valor quase irrisório, equivale a menos de 1% do que estimamos ser a receita anual do turismo para a região. Ali em Castro Verde, parece-nos que seria uma boa aposta. Esta zona está a ganhar um lugar no mapa: foi reconhecida como Reserva Natural da Biosfera da UNESCO, há 2 anos. Hoje, muitas pessoas reconhecem Castro Verde como um sítio muito bom para birdwatching, e tem vindo a crescer o

turismo ornitológico na zona. Podia haver uma maneira de os birdwatchers que ali vão poderem contribuir com donativos, ou até terem de pagar algo quando entram na ZPE. Ou podia ser através do alojamento, um pouco como se faz atualmente em muitos lados: nas cidades, os turistas já pagam a taxa municipal turística, podia haver qualquer coisa semelhante, uma taxa que em parte pudesse reverter para a proteção das espécies. Um exemplo desta abordagem é o caso dos pandas na China onde o ecoturismo gera muito mais dinheiro - 10 a 27 vezes mais! - do que o que seria preciso para manter os habitats da espécie nas reservas.

Quando estava a colocar os primeiros ninhos, já pensava nesta questão da dependência? Quer dizer, logo no início, uma pessoa não pensa muito nisso, fica só muito contente: “epá, isto resulta mesmo!” Mas depois, acho que no subconsciente, a questão estava certamente. Neste artigo, liderado por um aluno meu de doutoramento, usamos dados de quando eu fiz o meu doutoramento. Quando o João Gameiro começou a fazer o doutoramento comigo, pensei “passaram 10 anos, é uma boa altura para fazer um ponto de situação”. Mas já andava aqui há muito tempo a marinar esta ideia. Eu acompanhei este processo desde o início, portanto tinha a noção que isto poderia acontecer, e que estava a acontecer.

A anilha vai permitir aprender mais sobre o rolieiro Inês Catry

Sabe de outras espécies que também fiquem dependentes de conservação? Há muitas. Se olharmos, quase todas são dependentes. Estas são muito óbvias com a questão dos ninhos, mas se continuarmos a olhar para Castro Verde, há o exemplo das abetardas, sisões e tartaranhões. Estas espécies estão altamente dependentes de um tipo de agricultura de sequeiro extensivo, que neste momento sobrevive de

Rolieiro em ninho artificial Inês Catry

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subsídios europeus para quem adota medidas agroambientais. Há um estudo que fala um pouco disso em Espanha com os tartaranhões, que ficaram dependentes deste sistema dos subsídios agroambientais. Se deixar de haver esses subsídios, obviamente todo o habitat será alterado, e se o habitat é alterado… as espécies ficam penduradas, ligadas a este fiozinho…

Francelho em ninho artificial Inês Catry

E quando falamos em destruição de habitats, todas as espécies que começam a escassear e depois são mantidas no seu habitat estão muito confinadas e dependentes da conservação desse habitat. Por exemplo, os grandes mamíferos em África, que estão estão confinados a parques naturais. Se deixar de haver dinheiro para haver vigilantes que impeçam a caça ilegal… São tudo espécies que estão dependentes de conservação. Em última instância, quase todas estarão.

Será que a filosofia dos projetos de conservação tem de mudar? Deveriam passar a ser menos reativos, não esperar que a espécie esteja ameaçada para começar a conservar? Prova do sucesso dos ninhos artificiais Inês Catry

Claro… mas é difícil. O financiamento disponível para a conservação é limitado e há cada vez mais espécies que mostram tendências de declínio. A perda de habitat, quase sempre resultado de uma maior pressão humana, afeta inúmeras espécies em todo o mundo. E se não há dinheiro para proteger todas, é preciso fazer opções: quais são as espécies prioritárias, como devemos investir o dinheiro, quais é que são as ações que têm mais probabilidade de sucesso e de fazer com que as espécies não fiquem altamente dependentes destas medidas de conservação; o que é sustentável e ético. Mas são opiniões, há muitas opiniões e às vezes temos discussões sobre isto. Essa discussão dá pano para mangas. n.º 60 pardela | 29


HISTÓRIA(S) COM AVES

A grande campanha dos pardais

Os pardais (ou pardais-de-telhado) não são particularmente comuns na China onde têm uma distribuição bastante limitada. Já o mesmo não acontece com os pardais-monteses que são abundantes e ocorrem em quase todo o país. Um dia, Mao Tsé-Tung decidiu tentar acabar com todos. Foi um erro monumental que custou muito caro ao povo chinês.

C

orria o ano de 1958 quando o regime comunista chinês liderado por Mao Tsé-Tung deu início a um programa que visava a modernização do país a que chamou o “Grande Salto em Frente”. A ideia surgiu como forma de afirmar a posição da China no seio do movimento comunista mundial e, de certa forma, foi uma reacção às declarações do líder soviético Nikita Krustchev que numa conferência em Moscovo comemorativa dos 40 anos da Revolução de Outubro de 1917 se gabou que a União Soviética seria capaz de igualar, e até de ultrapassar, o volume de produção de importantes bens dos Estados Unidos da América num período de 15 anos. Mao Tsé-Tung encarou isso como um desafio e declarou de imediato que a China poderia chegar aos níveis de produção da Grã-Bretanha no espaço de 15 anos.

“Quatro pragas” Entre as diversas medidas que foram tomadas no âmbito do “Grande Salto em Frente”, houve uma que se relacionava com higiene sanitária, e em grande parte com a agricultura, que visava erradicar alguns animais que foram identificados como pragas (sobretudo mosquitos, moscas, ratos e pardais). A iniciativa ficou conhecida como “Campanha das Quatro Pragas” mas, como incidiu particularmente nos pardais, também foi chamada “Grande Campanha dos Pardais” ou “Campanha Mate um Pardal”. 30 | pardela n.º 60

população foi mobilizada. O método principal consistia em espantar as aves de modo a obrigá-las a voar ininterruptamente até caírem de exaustão. Para isso, os esforços tinham que ser sincronizados e toda a gente tinha que obedecer a um horário rigoroso. Nas cidades as pessoas empoleiravam-se nos telhados agitando panos e batendo latas enquanto as ruas eram percorridas por grupos fazendo barulho pelos mais diversos modos. Nos meios rurais alguns camponeses subiam às árvores impedindo as aves de pousar enquanto outros faziam ruidosas batidas pelos campos. Paralelamente, os ninhos eram destruídos e as aves eram abatidas de todas as maneiras possíveis. Campanha das quatro pragas Part of the IISH / Stefan R. Landsberger / Private Collection chineseposters.net

No que diz respeito aos pardais, as contas feitas pelos assessores de Mao eram bastante simplistas. Estimaram que cada pardal comia cerca de 4,5 kg de sementes por ano e assim por cada milhão que fosse eliminado sobraria comida para alimentar 60 000 pessoas. Algumas vozes ainda se ergueram tentando explicar que os pardais não eram tão maus como isso pois, para além de sementes, também comiam vermes e insectos. Uma delas foi a do renomado ornitólogo Tso-Hsin Cheng que mais tarde, aquando da “Revolução Cultural”, haveria de pagar cara a impertinência. Os avisos não serviram de nada. A campanha de erradicação dos pardais arrancou em força em 1958 e toda a

Como é fácil de compreender nem só os pardais foram atingidos pela campanha. Quase todas as espécies de aves foram afectadas e dizimadas indiscriminadamente muitas vezes quase até à extinção.

“A Grande Fome” Infelizmente, durante a campanha dos pardais registaram-se condições meteorológicas adversas em várias ocasiões. Para além disso, nalgumas regiões os campos foram invadidos por pragas de gafanhotos e de outros insectos que puderam prosperar sem o controle feito pelas aves. Os estragos provocados na agricultura foram enormes e a produção caiu a pique. O problema da fome, que já existia, agravou-se bastante.


Grande Campanha dos Pardais Part of the IISH / Stefan R. Landsberger / Private Collection chineseposters.net

Grande Campanha dos Pardais Part of the IISH / Stefan R. Landsberger / Private Collection chineseposters.net

Pardais em armadilhas Part of the IISH / Stefan R. Landsberger / Private Collection

Face ao que estava a suceder, os avisos de Tso-Hsin Cheng acabaram por ser ouvidos. Em Abril de 1960 a campanha dos pardais foi abandonada e estes foram substituídos pelos percevejos na propaganda oficial. Era tarde de mais. O período de escassez alimentar que se viveu na altura e que se prolongou até 1961 ficou conhecido como “A Grande Fome”. Ainda hoje não se sabe ao certo quantas pessoas morreram. As estimativas mais optimistas apontam para 45 milhões. Apesar das suas consequências, não se pode dizer que a “Grande Campanha dos Pardais” tenha sido o único factor responsável pela “Grande Fome”. No fundo, ela foi apenas uma das facetas da autêntica guerra contra a Natureza levada a cabo pelo regime e consubstanciada nas palavras de Mao Tsé-Tung quando lançou o “Grande Salto em Frente”: “há uma nova guerra: devíamos abrir fogo sobre a natureza”. Foi essa forma de pensar que levou à criação de um desequilíbrio ambiental sério e que, conjugada com várias medidas duvidosas tomadas em diversos sectores da economia, culminou na terrível tragédia que aconteceu. Autor | Helder Costa NOTA: Este autor não segue o acordo ortográfico

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SAGRES

Hotspot da migração Q

uando o tempo começa a mudar, em finais de verão, uma vaga de aves percorre a Europa, de norte para sul. De entre as aves terrestres, as que vão para África têm pela frente um obstáculo considerável: o Mediterrâneo. No lado ocidental do continente, o ponto de passagem mais curto – e por isso mais seguro – é o estreito de Gibraltar. Mas por vezes a inexperiência ou um acidente de percurso faz com que as aves se desviem da rota, e venham ter a Sagres, a “planície das aves perdidas”. Eventualmente, retomam o rumo para ir atravessar na zona de Gibraltar, mas entretanto fazem as delícias dos observadores de aves.

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Sagres é um ponto de excelência para disfrutar de um dos espetáculos mais fascinantes do mundo natural: a migração das aves.

Aves de todos os tipos A mudança de estação traz à região um rol incrível de visitantes alados. De águias-calçadas (Aquila pennata) e águias-cobreiras (Circaetus gallicus) a britangos (Neophron percnopterus), grifos (Gyps fulvus) e cegonhas, milhares de aves planadoras pairam em busca de passagem para África, juntando-se a residentes nidificantes como a águia-perdigueira (Aquila fasciata). Outras tantas aves marinhas passam ao largo, em viagens épicas que chegam a ir de pólo a pólo. Árvores, arbustos e ervas são povoados por petinhas, toutinegras, chascos-cinzentos (Oenanthe oenanthe) e dezenas de outros passe-

riformes que passam também pela península na sua viagem para sul. E quando menos se espera, avista-se uma verdadeira raridade, como uma águia-da-pomerânia (Clanga pomarina) ou um papa-moscas-real (Ficedula parva).

No ar À medida que o sol da manhã ganha força, o ar quente começa a subir – e com ele, as aves planadoras, que usam as suas grandes asas para tirar o máximo partido das correntes térmicas. Todos os anos pairam sobre Sagres mais de 4000 aves planadoras, pertencentes a todas as espécies de que há registo em Portugal.


Quando visitar Embora se possam ver aves migradoras na zona de Sagres desde finais de agosto até ao início de novembro, o princípio de outubro é geralmente a melhor altura do ano para avistar um pouco de tudo: no ar, no mar e em terra.

Durante a época de migração, é provável que aviste uma grande rapina de cauda curta e asas largas e compridas que, vistas de baixo, são mais claras mais perto da cabeça e escuras perto da cauda: o grifo. Esta é a ave planadora que aqui surge em maior número, seguida de perto pela águia-calçada, a águia-cobreira e a águia-d’asa-redonda (Buteo buteo). Apesar de não surgir às dezenas como os grifos, uma outra grande silhueta marca também frequentemente presença nos céus de Sagres: um vulto negro, de pescoço esticado – a inconfundível cegonha-preta (Ciconia nigra). Um vulto mais claro, o britango, é também avistado com regularidade, tal como a águia-caçadeira (ou

tartaranhão-caçador, Circus pygargus) e o tartaranhão-cinzento (Circus cyaneus).

(Catharacta skua) e o corvo-marinho (Phalacrocorax carbo) são facilmente avistados a partir deste local.

No mar

No início do outono, a pardela-preta (Ardenna grisea), é também regularmente avistada na sua viagem rumo à região da Terra do Fogo, onde vai reproduzir-se. Também a gaivota-de-audouin (Larus audouinii) e o moleiro-do-ártico (Stercorarius pomarinus) são vistos todos os anos. Acabada a sua época de reprodução, os moleiros-do-ártico rumam a sul para passar o inverno, juntamente com algumas das gaivotas-de-audouin, enquanto outras ficam por Portugal. No caso do moleiro-do-ártico, Sagres é ponto de passagem numa viagem épica, dos mares do Ártico até ao Atlântico Sul.

Todos os anos, milhares de aves marinhas passam ao largo de Sagres, algumas em viagens épicas de pólo a pólo. Para testemunhar parte dessa odisseia basta ir até ao cabo de S. Vicente, mas para ver algumas espécies terá mesmo de fazer-se ao mar. Em outubro, numa hora chegam a passar milhares de alcatrazes (Morus bassanus) pelo cabo. Também a cagarra (Calonectris borealis), a pardela-balear (Puffinus mauretanicus), a gaivota-d’asa-escura (Larus fuscus), o alcaide

Milhares de aves marinhas passam por Sagres todos os anos Gleb Gusachenko

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Rabirruivo-de-testa-branca Hobbyfotowiki

As que não sobrevivem Dos milhares de aves que chegam ao Algarve todos os anos, grande parte não volta a sair. São capturadas para serem vendidas como aves de gaiola, ou comidas como petisco. Se suspeitar ter encontrado indícios desta atividade ilegal, contacte a linha SOS Ambiente (saiba mais na pág. 21).

Papa-moscas-real Imran Shah

Uma viagem de barco ao largo de Sagres permitir-lhe-á ver pardela-de-barrete (Ardenna gravis) e o casquilho (Oceanites oceanicus) (especialmente abundantes em agosto e setembro), ou as pequenas almas-de-mestre (Hydrobates pelagicus) que baloiçam nas ondas enquanto esperam pelo vento certo ou, quando ele sopra, voam rumo aos mares do sul.

Em terra As árvores, sebes e arbustos de Sagres acolhem milhares de visitantes todos os outonos. Aves insetívoras como felosas, petinhas e chascos estão a caminho de África, onde o fim da época das chuvas traz uma explosão de insetos. As espécies que visitam a zona de Sagres em maior número nesta altura do ano são o papa-moscas (Ficedula hypoleuca), a felosa-musical (Phylloscopus trochilus), o chasco-cinzento e a alvéola-amarela (Motacilla flava). É frequente ver-se o taralhão-cinzento (Muscicapa striata), a ir e vir do seu poleiro num ramo, enquanto se alimenta. Em zonas arborizadas, sobressai muitas vezes a coloração que dá o nome ao rabirruivos-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus), enquanto em zonas mais abertas é frequente avistar-se o cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra),

pousado estrategicamente num ponto elevado à procura da próxima refeição.

-musical e do pintassilgo (Carduellis carduellis), e pelo trinado do trigueirão.

Em meados de outubro, chega uma segunda vaga de visitantes alados, desta feita para ficar. Vêm do Norte da Europa, onde o alimento escasseia devido aos rigores do inverno. No nosso clima mais ameno, encontram refúgio e abundância nos meses mais frios. Nalguns casos, a chegada destes visitantes de inverno nota-se não pelo aparecimento de novas espécies, mas pelo número de aves que subitamente se vêm. É o caso dos trigueirões (Emberiza calandra): às aves que vivem em Portugal todo o ano, juntam-se as que vêm do norte. Também os tordos-musicais (ou tordos-comuns ou tordos-pintos, Turdus philomelos) se juntam às residentes tordoveias (Turdus viscivorus).

Ao sabor do vento

O abanar de cauda de uma alvéola-branca (Motacilla alba) é um movimento comum em Sagres nesta altura do ano. Nos jardins e espaços verdes, avistam-se também o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), o tentilhão (Fringilla coelebs) e a toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla), enquanto os prados são invadidos por centenas de petinhas-dos-prados (Anthus pratensis). A banda sonora desta estação é pautada pelo canto do tordo-

Com tanto para ver, pode ser difícil decidir por onde começar. Uma boa estratégia é seguir o vento. Quando o vento sopra de oeste, é boa altura para ir até ao cabo de S. Vicente ver alcatrazes e cagarras. Se o vento virar para leste, torna-se mais difícil ver aves marinhas. Mas não é razão para arrumar os binóculos. O vento sudeste traz passeriformes: estas pequenas aves deixam de conseguir voar para sul, sendo “empurradas” na nossa direção, o que aumenta as hipóteses de ver espécies menos comuns. Chuva, ventos fortes ou uma descida súbita de temperatura diminuem a probabilidade de observar aves na região, mas depois da tempestade vem a bonança: quando o tempo limpa, as aves que ficaram “em fila de espera” põem-se todas a caminho, e as hipóteses de avistar algo interessante multiplicam-se. APROVEITE

Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza, Sagres 2 a 5 de outubro www.birdwatchingsagres.com Autora | Sonia Neves SPEA

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IDENTIFICAÇÃO DE AVES

Picanços – os mascarados Reconhecidos pela mascarilha preta e por se mostrarem facilmente, muitas vezes empoleirados em ramadas altas, cercas ou fios elétricos, os picanços são aves de dimensão média com um bico forte e curvo, adaptados a apanhar uma variedade de presas. Das três espécies de picanço que regularmente ocorrem no nosso país, duas (picanço-barreteiro (Lanius senator) e picanço-real (Lanius meridionalis)) têm sofrido decréscimos nos últimos anos, devido às mudanças dos sistemas agroflorestais, como a intensificação da produção através de extensas monoculturas e uso de agroquímicos. O declínio do picanço-barreteiro tem sido particularmente acentuado. Como identificar cada um destes “mascarados”? Nós ajudamos.

Picanço-de-dorso-ruivo © Juan Varela

Cabeça cinzenta Dorso ruivo Peito ocre

Picanço-barreteiro © Juan Varela

Picanço-de-dorso-ruivo Lanius collurio

Norte do país, Gerês, Barroso e Montesinho Bosques dispersos e zonas abertas de altitude

Barrete ruivo Dorso preto

Migrador, visita-nos na primavera/verão

Asas pretas com barra branca

Picanço-barreteiro Lanius senator

Mais comum no Sul do país e ao longo da fronteira Habitats agroflorestais abertos, montado e bosques Migrador, visita-nos na primavera/verão

Picanço-real

Picanço-real © Juan Varela

Lanius meridionalis

“Mini-rapina” conhecida por empalar as suas presas, para as consumir mais tarde Todo o país, mas menos comum no litoral norte e centro Habitats agroflorestais abertos e montados pouco densos

Cabeça e dorso cinzentos Asas pretas

Peito rosa pálido

Visível todo o ano Autores | Mónica Costa e Rui Machado SPEA

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Ao ter conhecimento da situação, se for possível, tente conversar com o seu vizinho e averiguar se o animal tem uma proveniência legal. Se confirmar que a ave foi retirada à natureza, explique que é proibido ter animais selvagens não legalizados em casa. Muitas vezes as pessoas não sabem que é ilegal manter em cativeiro animais apanhados na natureza e não o fazem por mal. Diga-lhe que deve telefonar para o centro

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de recuperação de fauna silvestre mais próximo, que lhe dará instruções sobre como entregar o animal. No centro de recuperação, os especialistas irão avaliar a situação do animal, de modo a saber qual o destino mais adequado.

Entrou uma coruja-das-torres no meu sótão e não sai (e suja tudo). O que faço agora? A lei diz que é proibido perturbar, destruir ou remover ninhos de aves. No caso das corujas-das-torres (Tyto alba), o período de nidificação pode ir de dezembro a junho, o que significa que deve evitar perturbar o ninho nesta altura, até que as crias voem. Para reduzir a sujidade, pode colocar alguns jornais ou plásticos, para poder remover os dejetos mais facilmente. Se o ninho estiver notoriamente a causar prejuízo ou insalubridade, contacte o ICNF ICNF (ou o IFCN na Madeira) e exponha o assunto. Se o ninho estiver numa chaminé de lareira, não a use enquanto as aves não saírem do ninho. Quando o

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Caso não seja possível falar com o seu vizinho, ou ele não mude de ideias, deve ligar para a Linha SOS Ambiente e denunciar a situação. Pode fazê-lo de forma anónima, e pedir para ser informado dos desenvolvimentos do processo (saiba mais na pág. 21).

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O meu vizinho tem aves selvagens em gaiolas, o que posso fazer?

Por outro lado, também há quem tenha sido escolhido para alojar um novo inquilino e não saiba muito bem como lidar com a situação.

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A Spea responde

Por vezes, somos abordados por pessoas que conhecem quem tenha aves selvagens em gaiolas.

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ninho estiver vazio, pode então limpar o local e tapar as entradas, para evitar que a situação se repita. Mas por favor dê-lhes uma alternativa para o ano seguinte! Por exemplo, pode colocar uma caixa de nidificação exterior, onde as corujas possam procriar à vontade. Lembre-se que as aves noturnas são excelentes aliados para controlar populações de ratos e outros roedores, portanto até tem vantagem em mantê-las por perto. E para usufruir destas visitas, porque não colocar, com cuidado, uma webcam? Se o puder fazer em segurança e sem perturbar as aves, gostávamos muito de ver os melhores momentos! CENTROS DE RECUPERAÇÃO PORTUGAL CONTINENTAL

www.icnf.pt/ondeestamos/linhassos MADEIRA

ifcn.madeira.gov.pt/contactos/rede-sos-vida-selvagem AÇORES

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Pássaro-Tempo 1

Põe uma ave em cada quadrado vazio - mas cuidado, cada espécie não pode estar na mesma linha nem na mesma coluna que aquilo que a põe mais em perigo! Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração)

Pintassilgo

Gaiola

Aguia

Veneno

Chilreta

Pe

Cagarra

Redes

n.º 60 pardela | 37

SOLUÇÕES: 1ª LINHA: Chilreta; Águia | 2ª LINHA: Cagarra; Pintassilgo | 3ª LINHA: Chilreta; Águia | 4ª LINHA: Cagarra; Pintassilgo


Pássaro-Tempo 2

Queres conhecer melhor as tuas vizinhas borboletas? Reutiliza um prato ou uma embalagem de plástico, serve-lhes um manjar de fruta e delicia-te a observá-las! Por Sonia Neves (texto) e Frederico Arruda (ilustração)

2

1

Agarra num prato ou embalagem e faz 4 furos à mesma distância uns dos outros.

Para registares a observação como um verdadeiro naturalista, pinta o desenho com o padrão da tua visitante preferida.

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Passa um cordel com o mesmo tamanho por cada furo e dá um nó. A seguir ata as pontas dos 4 cordéis.

Pendura o teu alimentador com fruta muito madura e espera pelas borboletas.


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A SPEA responde

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História(s) com aves

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Sagres

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Entrevista a Inês Catry

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Editorial

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