Jornal O Ponto (nº 96) - Março de 2015

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 16

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Número 96

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Março de 2015

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Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

A feira que ninguém vê A reportagem de O PONTO narra os problemas que se escondem sob o sorriso dos trabalhadores da Feira de Artesanato da Afonso Pena

Pág. 08 e 09

Comportamento Saudável ou precoce?

Blogueira fitness mirim ganha destaque na mídia e gera debate polêmico Pág. 03

Gastronomia

Foto: Intervenção de Amanda Magalhães sobre foto de domínio público

Food Truck

Uma nova mania que conquista as ruas de Belo Horizonte com cardápio gourmet Pág. 14 e 15

Conheça a nova página de O Ponto: Eu conto no Ponto.

Pág. 16


02  •  Opinião

Editor e diagramador da página: Bruna Oliveira e Marcella Souza

Belo Horizonte, março de 2015

O Ponto

Rodrigo Oliveira Izabella Bontempo Joana Spadinger 3º Período

Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância) foi eleito como o melhor filme de 2015 na 86ª edição do Oscar, uma das cerimônias de prêmios mais importantes do mundo. Com gravações concluídas em menos de quatro semanas, o filme, que teve um orçamento de $18 milhões, já faturou mais de $30 milhões desde sua estreia nos cinemas. O flme é dirigido por Alejandro González Iñárritu, cineasta mexicano, diretor e ganhador de outros prêmios na academia por filmes como “21 Gramas”, “Babel” e “Amores Perros”. Além disso conta com um elenco extremamente competente, composto por Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward Norton, Andrea Riseborough, Amy Ryan, Emma Stone e Naomi Watts. Indicado a nada menos que nove categorias, recebendo o prêmio em quatro delas: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro original e melhor fotografia, a

trama retrata a história de um ator em busca da fama perdida e do seu reconhecimento na área artística. Riggan Thomson, personagem principal do filme estrelado por Michael Keaton, fez muito sucesso em sua carreira interpretando Birdman, um super-herói que se tornou a marca do ator e um ícone cultural na sociedade. Após recusar continuar o papel no quarto filme do super-herói, Riggan, que vive um relacionamento conturbado com a ex-mulher (Amy Ryan) e com a filha (Emma Stone) ex-viciada em drogas, decide embarcar em um novo projeto dirigindo, roteirizando e atuando na adaptação de um texto reconhecido para a Broadway, onde, em meio às tensões de estreia, ele se sente perturbado por uma voz que se contradiz aos seus atos, resultando no drama do filme. A película trata de uma crítica à indústria do entretenimento. Com uma visão bem real e ao mesmo tempo sarcástica sobre o cinema Hollywoodiano e os espetáculos da Broadway. Ao longo do filme, entre planos

sequenciais de imagens longos e contínuos - sem ocorrência de cortes e filmagens com apenas um take - e um cenário composto por corredores, camarins e coxias, o público tem a impressão de ser inserido no cenário e no “por trás das câmeras” de uma grande produção artística. Além disso, os corredores labirínticos do cenário, a filmagem com movimentos frenéticos e os batuques da trilha sonora, parecem ser confundidos com a mente atormentada de Riggan, inserindo o público de forma também psicológica à trama. O filme não envolve somente o lado das celebridades, onde inclui também o lado da mídia, imprensa, críticos e redes sociais, e o lado social, dos fãs, dos seguidores assíduos das artes teatrais e também dos impactos causados na sociedade. Com atuações incríveis, direção segura e recursos que há muito tempo não se via nas telas de cinemas, Birdman fundiu energia e emoção de uma forma irresistível, trazendo à tona a velha questão: a vida imita a arte ou a arte imita a vida?

Uma luz no fim do túnel pós 7 x 1 Gabriel Costa 3º Período Em todo início de ano são realizados os campeonatos regionais e com isso, uma longa discussão perdura ao longo dos anos entre a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que defende a manutenção do campeonato, e alguns dirigentes, que pedem o fim dos estaduais alegando cansaço físico dos jogadores pela curta prétemporada e por atrapalharem os times grandes que disputam competições de maior escalão. É fato que os estaduais tiveram uma importância histórica, ao revelar grandes craques como Sócrates e Careca, que saíram de times do interior, além de ajudar muito a desenvolver o futebol no Brasil. Mas também é indiscutível que a hora deles passou. Os clubes grandes não dão muita importância aos estaduais e preferem dar prioridade a outras competições, como a Libertadores e o próprio Campeonato Brasileiro, que começam depois. Do outro lado, a CBF e as federações estaduais alertam para a importância das competições regionais para o desenvolvimento do futebol no país, já que, para muitos clubes

menores no país, elas são a única oportunidade de competição. É verdade que algumas finais e os grandes clássicos ainda podem empolgar. Mas só pelo simples fato de ser uma final ou ser um grande clássico, porque, nos demais jogos, não se tem atrativo algum. E o problema não é só a falta de qualidade e interesse nos estaduais – é o efeito que eles têm no resto do calendário brasileiro, já tão cheio e desorganizado. Não há tempo para uma prétemporada adequada, sem falar no enorme problema de deixar o Brasil fora de compasso com o resto do mundo. Não existe pausa para as datas FIFA, o que significa que os principais jogadores irão perder partidas pelos seus clubes quando estão servindo a seleção. Um levantamento publicado pelo jornal Correio Braziliense, no ínicio deste ano, mostra a media de público dos quatro principais estaduais do Brasil (Carioca, Paulista, Mineiro e Gaúcho) nos últimos quatro anos e o resultado é apenas uma confirmação do que todos suspeitavam: o número não somente cai ano após ano, como é menor do que campeonatos nacionais de

países sem tradição nenhuma no futebol, como por exemplo, o Vietnamita e o Iraquiano, mais um dado que comprova a falta de atratividade dos estaduais. E como, por enquanto, só foi falado que o estadual é uma forma de prejudicar os grandes, provavelmente você pensou: e os times pequenos, que só têm o estadual como fonte de renda? Como vão fazer para sobreviver? No meio dessa turbulência, foi fundado o Bom Senso F.C, que é um movimento criado em 2013, por jogadores de grandes clubes de futebol do Brasil, que cobra melhores condições no futebol brasileiro. Eles apresentaram um projeto para que fossem criadas divisões estaduais e regionais de acesso abaixo da Série D, o que faria com que os pequenos pudessem jogar o ano inteiro e, consequentemente, uma renda maior. Enfim, soluções não faltam para viabilizar as duas partes, é possível, ter um calendário enxuto que seja similar ao calendário europeu de um modo que não prejudique os times menores. E em relação aos estaduais, ele morreu, mas esqueceram de enterrar.

Foto: http://cinema.sapo.pt/filme/birdman

E o Oscar vai para...

o ponto Coordenação Editorial Profa. Ana Paola Amorim (Jornalismo Impresso) Prof. Aurelio Silva (Redação Modelo) Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora Orientadora Daniel Washington ( Técnico Lab. Prod. Gráfica) Logotipo Giovanni Batista Corrêa Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Tel: 3228-3014 · e-mail: opontofumec@gmail.com Presidente do Conselho Curador Prof. Pedro Arthur Victer Reitor da Universidade Fumec Prof. Dr. Eduardo Martins de Lima Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Ismar Madeira Monitores de Jornalismo Impresso Clara Barbi Monitores da Redação Modelo Bruna Oliveira e Maria Clara Gonçalves Monitores de Produção Gráfica Ingrid Vieira Monitores Voluntários Amanda Magalhães e Marcella Souza Diagramação e edição da capa Amanda Magalhães Tiragem desta edição: 3.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento


Cultura  •  03

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães

O Ponto

Belo Horizonte, março de 2015

Financiamento de sonhos Amanda Magalhães Clara Barbi 3º Periodo

Foto: Amanda Magalhães

Crowdfunding, ou simplesmente financiamento coletivo, é uma forma antiga de contribuição coletiva, mas que ganha mais espaço na era digital. Ela se trata, basicamente, da criação de plataformas onde você pode incentivar ou buscar incentivo para algum projeto. Por exemplo, se alguém escreveu um livro, mas não encontra uma editora que queiria publicá-lo, essa pessoa pode buscar uma dessas plataformas, onde qualquer outro que se interesse pode ajudar financeiramente para a concretização dessa publicação. Vinícius Delvalle, de 21, de Belo Horizonte, é um desses escritores que não encontrou uma editora: “Antes de optar pelo financiamento coletivo, entrei em contato com duas

editoras, uma descartou logo de cara a história e a outra até queria publicá-la, mas desejava trocar o protagonista, de menino, para uma menina”. Sendo assim, após ser apresentado a uma dessas plataformas empresariais, por uma amiga, resolveu publicar seu livro por meio desse tipo de financiamento. Existem dois tipos de plataformas financiadoras. Em uma delas, conhecida como “tudo ou nada”, a pessoa tem uma meta financeira a ser atingida, que, se não atingir, o dinheiro volta para os doadores e nada acontece. Porém, existem àquelas “fica com tudo”, que estabelecem metas a serem alcançadas, que se não forem, o dinheiro vai todo para a pessoa. No crowdfinding as pessoas que ajudam algum projeto recebem recompensas pela ajuda concedida. Quanto mais ela ajuda, maior é a recompensa.

Danilo Aroeira, criador do projeto Samuray Boy

Foto: Arquivo pessoal

Plataformas online ganham espaço no financiamento coletivo de projetos, e chamam atenção para o movimento

Vinícius Delvalle com seu ídolo Diego Ferrero, inspiração de seu livro “O Diário de um fã”

Tudo ou nada No caso de Delvalle, a empresa escolhida é de “tudo ou nada” e ficou responsável por atuar como editora, além de criar a campanha e colocar no ar. O autor, por sua vez, está responsável por divulgar a campanha e conseguir financiadores. Cada colaborador pode escolher, entre quatro valores, a quantia que quer doar, e a partir do valor escolhido recebe uma recompensa ao final da campanha. O valor mínimo é de vinte reais. Quem doa essa quantia recebe a versão eletrônica do livro. Já quem doar quinhentos reais, têm uma logomarca estampada na campanha e no livro com agradecimentos e título de “patrocinador”, recebe versões físicas e eletrônicas do livro e souvenir. Caso a meta proposta pela plataforma não seja atingida, o dinheiro doado volta para o colaborador, como explicado pela política de “tudo ou nada” da empresa. “Eu me preparei para que a campanha fosse bem sucedida e, desde o começo, acreditava nisso”, conta o jovem que, faltando poucos dias para o fim da campanha, arrecadou apenas 5% do valor estimulado pela plataforma. Ele diz que apesar de estar se preparando para o fato de que provavelmente não dê tempo de arrecadar, ele não vai desistir

de publicar seu livro por ser um sonho que sempre teve. “O diário de um fã” conta a história de um garoto e a busca para conhecer o ídolo, baseado na história de Vinícius com seu cantor preferido Diego Ferrero, vocalista da banda Nx Zero.

“Nosso ideal é criar a cultura do leitor ativo que interage, opina e participa da criação literária brasileira.””

- Bookstart

A Bookstart, empresa pela qual Vinícius Delvalle busca o financiamento, diz, em seu site, que a missão deles vai muito além do crowdfunding: “Nosso ideal é criar a cultura do leitor ativo que interage, opina e participa da criação literária brasileira. Todos os dias, criamos novas pontes entre autores talentosos a leitores ávidos por novidades, que tenham interesse em fazer parte do sucesso de seu autor preferido”. Além da Bookstart, o Brasil conta com diversas outras empresas do tipo, que atuam em área diversas como: financiamento de projetos sociais, esportivos, culturais, entre outros.

Danilo Aroeira, 30 anos, por exemplo, escolheu a Catarse para financiar o seu projeto. O objetivo do publicitário era lançar um livro de quadrinhos chamado “Samuray boy - Temporada 1 Aprendiz”, extensão de um projeto já existente na internet que conta, duas vezes por semana, com tirinhas sobre o personagem criado pelo autor. Ele relata que ficou conhecendo esse tipo de publicação por causa da comunidade de artistas independentes com que ele se relaciona na internet e que demorou cerca de dois anos entre conhecer a plataforma e decidir fazer o projeto. Depois de inserido na plataforma, a responsabilidade de Aroeira era de divulgar o projeto e conseguir a verba, já o Catarse se responsabilizava por servir como essa plataforma, que gera uma certa visibilidade para o projeto. “Eu não vejo problemas nesse tipo de publicação, mas vejo dificuldades”, conta Danilo Aroeira. Segundo ele, o projeto ficou muito caro e acompanhado de uma série de fatores não funcionou para a publicação. No entanto, ele não atribuiu à Catarse a responsabilidade do fracasso: “Eu estava há um ano com o projeto da internet parado


04  •  Cultura

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães

O Ponto

Foto: Arquivo Pessoal

Belo Horizonte, março de 2015

Novo formato A forma de colaboração coletiva não é nova, casos como o “Criança Esperança” e o “Teleton” existem desde muitos anos. Esses eventos arrecadam dinheiro de pessoas que se dispõem a doar, e investem em projetos próprios ou filiados. Outro exemplo são as campanhas de arrecadação de dinheiro para tratamento de pessoas que não tem dinheiro para pagar bons hospitais, incentivo e ajuda aos sem teto, etc. A grande novidade do meio é a facilidade de acesso e de doação que as plataformas online apresentam, além do sistema de recompensas. Em poucos cliques a pessoa se torna um colaborador, e recebe, em casa, o retorno daquela ajuda. Fato que faz com que esse tipo de projeto se dissemine cada vez mais.

e fui de cara lançar o livro (...) acabei atropelando as coisas” conta. Aroeira diz que o sistema, em si, de financiamentos por meio de plataformas online, nnao tem problema algum. “‘É uma oportunidade muito boa para as pessoas lançarem seu conteúdo de forma independente, sem depender de editora.” Diferentemente de Aroeira e Delvalle, Mariamma Fonseca, 27 anos, utilizou o financiamento coletivo para a arrecadação de fundos para a realização de um evento. A jovem conta que tiveram cerca de 50 dias para arrecadar R$ 16 mil para a realização de um encontro de garotas do mundo dos quadrinhos. “Nós planejamos bem a divulgação (…), fizemos campanhas massivas nas redes sociais e divulgamos em sites”, conta a jornalista. Porém, ela relata que tiveram grande dificuldade com a organização do envio das recompensas e com a administração da renda. Após a arrecadação dos fundos, o evento ocorreu em outubro do ano passado na Casa dos Quadrinho em Belo Horizonte. A realização foi do site de Mariamma Fonseca, o Lady’s Comics, que existe há quase cinco anos. A jovem conta que pretendem fazer outro evento similar ao primeiro, porém, maior. “A experiência do Catarse foi ótima, mas precisamos de uma verba maior para ter um evento maior”, conta Mariamma Fonseca. Ela diz, também, não se sentir segura em pedir um valor tão alto por financiamento coletivo. Um site chamado “Mapa do Crowdfunding” tentou mapear todos as plataformas de financiamento coletivo existentes no Brasil, no período de fevereiro de 2013 até abril de 2014 . Segundo o site, nessa época existiam cerca de quarenta e cinco empresas que se dedicavam a esse tipo de projeto. Não existe, hoje, uma pesquisa que diga quantas dessas ainda existem, e quantas mais surgiram. Internacional Nos Estados Unidos, esse tipo de projeto já é famoso entre os sonhadores há alguns anos, como é o caso da cantora Jennel Garcia, que ficou famosa após sua passagem pelo programa “The X Factor”. Após mais de dois anos da temporada em que participou, Garcia continuava a procurar uma gravadora interessada em investir em seu talento e não encontrou. Sendo assim, ela optou por uma plataforma de financiamentos, chamada Kickstarter, e conseguiu arrecadar mais de US$ 15 mil para a gravação de seu primeiro album. Os valores iam desde um dólar, até cinco mil dólares, e as recompensas se valorizavam junto à quantia. “Sou eternamente grata a todos que doaram... Eu sou abençoada” disse Garcia em suas redes sociais logo que atingiu o valor que lhe foi proposto.

Foto: Arquivo Pessoal

O “1º encontro Lady`s Comics””foi o primeiro evento financiado via Catarse

Desenhos expostos no “1º Enconto Lady`s Comics”, financiados pelo público

Vida pós financiamento… “Vou optar por outro meio de publicação, seja ela independente ou através de alguma editora. Na realidade, eu já estou me preparando para isso, mas não vou desistir. O jeito é correr atrás e fazer esse sonho se tornar realidade de outra forma,” conta Vinícius Delvalle, se seu financiamento não funcionar. “Meu projeto é continuar com as publicações na internet durante um período para ele ganhar corpo e, depois, com mais tempo, pensar em uma nova forma de financiamento coletivo para o livro, com todas as lições dessa primeira experiência””, relata Danilo Aroeira sobre o futuro de seu projeto após o não funcionamento da publicação via plataforma. “O evento é produção do site Lady’s Comics que existe há quase cinco anos. Esse foi o primeiro evento. Para o segundo, estamos tentando Edital,” conta Mariamma Fonseca, depois de financiar um evento por platarforma de Crowdfunding. “Estou ansiosa para vocês verem meu novo material. Muito ansiosa. (...) Músicas novas estão chegando cada vez mais perto”, diz Jennel Garcia em suas redes, após seu êxito na campanha.


Esporte  •  05

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães

O Ponto

Belo Horizonte, março de 2015

Um time bancado por seus torcedores A história do Doze Futebol Clube que é financiado pela torcida e também gerenciado por ela

O “Doze Futebol Clube” é um time de futebol da cidade de Vitória Espírito Santo, que possui uma característica bem diferente dos demais times de futebol do mundo: ele é gerenciado e financiado pela sua torcida. A história do time começa com a ideia de um torcedor frustradíssimo do Vasco da Gama, quando seu clube amado caiu para a segunda divisão no campeonato brasileiro de 2008. Israel Levi é esse torcedor, carioca, mas que mora em Lagoa Santa, é técnico da Petrobras. Em um destes dias de sofrimento por causa do clube que estava na segunda divisão, perguntou a si mesmo: “O que me faria continuar a torcer para o Vasco da Gama? A resposta foi muito estranha: “eu continuaria a torcer se o clube me permitisse participar de suas decisões estratégicas”. Foram dois anos de estudos sobre Crowdscience (Ciência da multidão), Crowdfunding e Crowdsurcing (Multidão fornecedora de ideias). Ao mesmo tempo, tinha a certeza de que jamais seria ouvido no clube carioca para apresentar seu projeto. Por isso, Levi teve a ideia de colocar em prática o seu próprio clube de futebol que fosse completamente gerenciado e financiado pela sua torcida. Levi procurou Renato de Souza, consultor profissional e professor de estratégia para fazer o processo de consultoria estratégica do clube que inicialmente chamava-se: “Sociedade esportiva de futebol”. O processo foi elaborado por dois anos e saiu do papel com a fundação do time no dia 12 de dezembro de 2014. O primeiro jogo treino do time foi contra um time amador de Vitória onde o Doze venceu por 7 x 0 em 07 de fevereiro de 2015 . O Doze disputará a segunda divisão do campeonato do Espirito Santo neste ano de 2015. Durante a idealização do projeto ,Renato foi convidado para investir e ser dono do clube além de escrever um livro sobre a história do início do Doze FC que será lançado em breve. Em uma breve entrevista ao

Foto: Assesoria

Breno gAlAnTe 3º PerÍodo

Diretoria do Doze Futebol Clube reunida em entrevista coletiva jornal O PONTO,Renato conta um pouco da história dessa experiência pioneira que é a criação do Doze.

O PONTO - Explique como funciona essa nova forma de administrar um time de futebol. Renato de Souza - O crowdmanaging é uma ciência que prova que a decisão de um grupo é quase sempre mais confiável que a decisão do indivíduo mais esperto deste mesmo grupo. Israel chegou nesse número após centenas de testes, estudos e conceitos profundos de crowdscience. No Doze FC a torcida é o personagem principal. Ela decidirá sobre contratos de jogadores, comissão técnica e prestadores de serviços, além de futuros investimentos. Temos a melhor estrutura e pessoal capacitado para garantir a verdadeira votação democrática com ética, transparência e comprometimento com sustentabilidade. O sócio diretor,como chamamos no Doze FC, decidirá inclusive o valor que pagará mensalmente para o clube e sua opinião será respeitada e valorizada sempre. Este é nosso diferencial, e nenhum clube no mundo tem algo parecido.

Quais são os benefícios dessa forma de administração de um clube de futebol? Os benefícios são tantos que

ainda não conseguimos identificar todos. A cada dia que passa e com nossa experiência na gestão do Doze FC descobrimos novos benefícios. Entre eles posso destacar alguns: Primeiro. Temos uma verdadeira plataforma de votação democrática para a participação do torcedor que poderá conferir o seu próprio voto ao término de uma decisão. Outra questão importante. Nunca seremos achincalhados nas ruas, pois a responsabilidade do desenvolvimento do clube é sempre da torcida, na derrota e especialmente na vitória. Há jogadores que preferiram nosso clube, que jogará a série B do campeonato capixaba, em vez de clubes que jogarão a série A. Além de ser uma surpresa para nós, esses jogadores foram motivados apenas pela a inovação do projeto, inclusive nosso técnico Sorato, ex atacante do Vasco, e Carlos Germano, assistente técnico ex goleiro do Vasco e da Seleção Brasileira, optaram por vir para o clube por causa da inovação do projeto e da estrutura que temos no padrão FIFA. Teremos mais assertividade nas tomadas de decisão do que os clubes comuns, pois o Doze FC tem sua filosofia e gestão baseado em ciência e em pura estratégia. O clube só deixará de crescer se a torcida se omitir. Esse fato nunca ocorre nos outros clubes, inclusive nos grandes clubes da Europa onde

o torcedor não participa a não ser da arquibancada. É mais fácil conseguir investidores com esse modelo. Em todos os lugares onde procuramos alianças e parcerias as portas foram abertas e, agora, as empresas já estão nos procurando. Diversos atletas do Brasil querem jogar no Doze FC. Tivemos contatos de imprensa de Portugal, França e Alemanha. Dois de nossos jogadores vieram da Europa.

E quais os objetivos de médio e longo prazo traçado para o Doze? O objetivo é o acesso à série A do campeonato capixaba ainda este ano. E os projetos para médio e longo prazo é, sem dúvidas, expandir o modelo de gestão para as categorias de base, sub 20, sub 17, sub 15, sub 13. Inclusive teremos um time de futebol feminino e outras novidades que estão sendo preparadas. Também queremos compartilhar nosso método de gestão com qualquer clube do Brasil ou do mundo. Estamos à disposição para contar o segredo do funcionamento de nossa idealização e dizer como tudo funciona. Afinal de contas a gestão colaborativa é o grande atributo estratégico do século presente. Nós já estamos fazendo palestras em universidades, inclusive com a presença do ex goleiro da seleção brasileira e nosso assistente técnico e também pales-

trante Carlos Germano.

Por que escolheram o Espírito Santo para fundar o time? Escolhemos o Espírito Santo por ser um estado carente de um modelo de gestão eficaz no futebol e por nos identificarmos com o estado. Alguns dos donos do clube moram em Vitória e eu inclusive estou providenciando minha mudança para o litoral capixaba, buscando melhor qualidade de vida. A sede do time fica em Vitória, nas proximidades da Praia do Canto, e o CT fica no Hotel Fazenda China Park, na região de Domingos Martins.

Como criar uma fidelidade ou melhor, uma torcida para um time que não existia? O projeto foi apresentado anteriormente sob sigilo para uma amostra de aproximadamente 120 pessoas, e todas se maravilharam com o projeto. Entendíamos que quando o torcedor soubesse que no Doze FC ele poderia tomar decisões, ele viria com mais facilidade. Há muitas surpresas inéditas no Brasil sendo preparadas para o torcedor. Em menos de dois meses batemos a meta de 12 mil curtidas no facebook. Este fator nos motivou ainda mais e hoje já temos 150 sócios diretores e nossa meta é fechar o ano de 2015 com 3 mil.


06  •  Comportamento

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães

Belo Horizonte, março de 2015

O Ponto

O queridinho do Brasil Conheça Victor Meyniel, o jovem que conquistou o público adolescente brasileiro em 7 segundos

Victor Meyniel tem 17 anos e começou fazendo vídeos de 7 segundos no Vine, que é um aplicativo de grande sucesso tanto no Brasil quanto no mundo todo. Ele conquistou um público enorme de adolescentes e, agora está rodando parte do Brasil com o primeiro stand up teen. O “Meu querido”, como é chamado seu trabalho, tem levado milhares de adolecentes ao teatro. Em entrevista exclusiva e bem descontraída para o jornal O Ponto ele falou sobre a peça e a repercussão dela e os resultados positivos na sua vida. Confira, abaixo,o bate-papo exclusivo com Victor Meyniel:

zações, vários fãs, criamos um vínculo tão grande e tão forte que, pensando, nisso tivemos a ideia de fazer uma peça, um stand up onde a participação deles ia ser cara a cara comigo.

estados ia ter gente vendo a peça. Fiquei muito feliz e vi que estava funcionando e que daqui pra frente só ia melhorar porque eu trabalho com melhoras, só melhoras (risos).

Está sendo satisfatório o resultado?

Você imaginava tamanha repercussão?

Muito!!! Eu nunca imaginei ir para outras cidades além da minha, que é o Rio de Janeiro, iria trazer tanto público quanto aqui que foi onde comecei. Não pensei que nos outros

Nunca imaginei mesmo! Mentira... Querida eu tenho 800 mil seguidores no vine. Bofe acha mesmo que ninguém iria me ver? (Risos) brincadeira!!! Não imaginava mesmo,

no começo então... Mas eu faço teatro desde os 12 anos então eu meio que comecei a ser ator tem um tempo, não foi agora com 17 anos não, desde pequeno eu tinha essa mania de na sala fazer varias palhaçadas, imitar vários parentes para minha mãe e pro meu irmão, fazia várias apresentações em casa desde pequenininho.

meira vez em que eu sai do Rio, deu 800 pessoas e o lugar assim para lotação era exatamente 800 pessoas. Então lotou, literalmente. E só de entrar, ver a galera gritando aquele tanto de gente, foi insano, até porque, aqui no Rio, teatro que eu apresento é para 300 pessoas e mudou total a concepção da peça.

Qual foi seu maior público, e onde foi?

Em quais lugares você ainda quer levar seu trabalho?

Foi em Porto Alegre, a pri-

Agora vou começar uma turnê pelo Brasil. Então, vou para Espírito Santo, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, até junho todo final de semana irei para algum estado fazer a peça e daí em adiante, vamos indo, vamos na fé... ˜Andá com a fé eu vou que a fé não costuma faiá “

Foto: Arquivo pessoal

Danielle Dias 2º período

De onde surgiu a ideia de fazer um stand up?

Há quanto tempo acontece seu stand up?

Então, a ideia surgiu da minha empresária Valeria Macedo. A minha mãe trabalhou com ela uns anos atrás e viraram amigas, mas perderam o contato. Mas com a repercussão dos vídeos que eu estava fazendo, com as várias visuali-

Acontece a dez mil anos atrás, eu nasci a dez mil anos atrás, (risos), enfim, acontece há mais ou menos uns oito meses. Comecei no meio de 2014 e pretendo ficar até estar com 100 anos e vários gatos (risos). Victor Meyniel hoje roda o país com sua propria peça de stand up, a chamada “Meu querido”

Portal de conteúdo multimídia do curso de Jornalismo da Fumec

Acesse, informe-se e compartilhe! conecta.fumec.br


Cidade  •  07

Editor e diagramador da página: Clara Barbi

O Ponto

Belo Horizonte, março de 2015

Uma segunda habilitação Isabela Abreu Lucas Pires 3º Periodo Muitas vezes, para dirigir, obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) não é suficiente para algumas pessoas. É necessário experiência para ter segurança no trânsito, mas o medo e a insegurança impede as pessoas de pegar no volante. Para ajudar essas pessoas, o mercado se adaptou e surgiram escolas especializadas para habilitados. Segundo levantamento da reportagem, possui pelo menos quatro especializadas. Auto-escolas tradicionais também já estão se adaptando para esses motoristas. Rosana Santiago, 39, Analista de Sistemas, entrou em uma escola para habilitados. “Estou preparada para o trânsito. Achei isso diferente da auto-escola para Habilitados”, diz. Rosana, com cinco de anos de carteira, resolveu dirigir no final de 2014 depois de descobrir, na internet, que existe o serviço no mercado para quem possui dificuldades. A auto-escola especializada possui uma metodologia específica. No primeiro passo, o aluno passa por avaliação prática no carro onde são testadas habilidades no trânsito e, após o teste, são constatadas as dificuldades do motorista. Ao final de cada aula, o aluno preenche um questionário para verificar o grau de dificuldade em alguns exercícios praticados no trânsito. No decorrer do pacote das aulas, essas limitações são trabalhadas por exercícios práticos e frequência no trânsito. Além de fazer aula no trânsito, é oferecido um serviço de

Foto: Isabela Abreu

Para atender motoristas com medo de trânsito, autoescolas criam programas para quem já tem carteira

Carro para motoristas habilitados perderem o medo de dirigir auxílio psicológico. Cristina Gontijo, psicóloga em uma auto-escola especializada, diz que aumenta o grau de dificuldade gradualmente. “Começamos tranquilo e aumentamos o grau de dificuldade depois”, explica. Ela diz que esse método faz com que as pessoas deixem de ter dificuldades e passem a se adaptar no trânsito.

As auto-escolas especializadas acompanham o aluno desde as consultas com psicólogas até o momento de dirigir no trânsito. Esses alunos procuram o serviço para superar problemas por falta de prática ou de fundo emocional. E, segundo Gontijo, a maior parte do público dessas escolas é formada por mulheres, a maioria entre 25 e 60 anos.

Ainda segundo Cristina, para superar o medo é utilizada a técnica chamada de Dissensibilização Sistemática, utilizada na psicologia. A técnica consiste em que o indivíduo supere a ansiedade quando exposto à situações temidas. Depois de terminar o curso, Rosana Santiago se diz encorajada de dirigir sozinha, “A melhor sensação foi quando

peguei o carro sozinha.” Edna Ferreira, 39, é outra aluna que se sente aliviada depois que começou a fazer as aulas e conseguir dirigir em meio ao trânsito da capital mineira. “Graças a Deus que estou vencendo isso. Subi de carro até aqui (Av. Nossa Senhora do Carmo) e foi tranquilo, mas não é tão difícil quanto a gente vê”, comenta.

Entenda como funciona: Como surgiram?

Quanto custa?

Uma das principais redes especializadas em treinar motoristas possui unidades em todo país. A rede surgiu a partir de uma pesquisa em que dizia que 80% das pessoas já habilitadas não conseguiam dirigir por inseguranças, medo, trauma ou falta de prática no trânsito.

O valor de cada encontro no mercado varia de R$45,00 a R$70,00 dependendo do número de aulas.

Quantas pessoas beneficiadas? A rede estima que já é responsável por fazer mais de 40 mil pessoas dirigirem.

Quantas lojas da rede em Belo Horizonte? Já possui duas lojas e possui demais auto-escolas que estão entrando no mercado de motoristas já habilitados.


08  •  Cidade

Editor e diagramador da página: Ma

Belo Horizonte, março de 2015

O Po

Por dentro das barracas Fotos: Maria Clara Gonçalves

Com cerca de 70 mil visitantes por domingo, a Feira de Artesanato de BH guarda histórias que mostram seus problemas, mas também seu lado fascinante

Em dias especiais a feira atrai em média 120 mil pessoas, é considerada um dos maiores eventos de Belo Horizonte Maria Clara Gonçalves Marcella Souza 3º Período O sol ainda não nasceu. Não há policiamentos nas ruas ainda desabitadas. A cidade ainda dorme. No meio do silêncio, ouve-se um murmúrio na Avenida Afonso Pena, entre as ruas Guajajaras e Bahia, onde a Feira Artesanal começa a criar vida. Encontram-se, no local, os montadores de barracas, os expositores que já organizam suas mercadorias, o cheiro do milho verde é atraente e, segundo Valdereza Aparecida, 66, é tudo preparado na hora e com carinho. Se deparar com esse tipo de organização à essa hora é, no mínimo, interessante. Mas, por trás desse lugar fascinante, também há dificuldades e problemas. Ao chegar à feira, às 4h, sentimos na pele uma das principais reclamações dos feirantes: a falta de segurança. Ao chegar com equipamentos caros no local, não encotramos nenhum policial. Diante disso, os expositores são obrigados a lidar com algumas situações de risco. A estilista Henriqueta Alves, 72, que há 40 anos trabalha na feira, conta que foi abordada por um homem que se passou por policial, afirmando que estava ali para ajudar as pessoas que montavam as suas barracas sozinhas. Desconfiada, mas simpática, dona Henriqueta avisou não estar sozinha, com intenção de afastá-lo. Os feirantes afirmam que as únicas pessoas com quem podem contar é com os colegas de trabalho, que, atentos, auxiliam na segurança uns dos outros. “O meu colega viu o que estava acontecendo e ficou observando. Aqui, se dermos um grito de socorro, todo mundo ajuda”, conta a senhora. Com o passar das horas, entre 5h e 6h. Começam a chegar os primeiros policiais, eles ficam nas estremidades da feira.

Embora presentes na avenida, os políciais não circulam pelo espaço destinados aos expositores, produzindo uma sensação de insegurança. A falta de segurança é um problema constante e uma das lutas da Associação dos Expositores da Feira Artesanal. Segundo o advogado da associação, Élson Pereira,42, já foi feito o requerimento para um maior policiamento. “Na Copa do Mundo teve um policiamento bacana, mas, geralmente, esse policiamento não acontece”, afirma o advogado. A quantidade de políciais que ficam na feira não se sabe ao certo. De acordo o presidente da associação, William dos Santos,55, “o período ideal do policiamento seria de 4h às 15h, uma vez que eles chegam 8h e saem as 13h. No caminho da feira, percebe-se a ausência de lugares onde as pessoas possam-se sentar, poucos banheiros, os passeios são mal pavimentados, sem acessibilidade a

deficientes, e há falta de informação sobre as letras dos corredores e os números das barracas. Os impostos pagos pelos expositores cadastrados -que são de R$750,00 para uma barraca de 1,5 de altura e largura e de R$ 1500,00 para quem ocupa o dobro desse espaço,- seriam mal administrados, segundo o presidente da associação William dos Santos. A infraestrutura é precária tanto para os expositores quanto para os visitantes. “Nós usamos o local seis horas por domingo, uma vez por semana, a nossa taxa aqui é maior que em qualquer apartamento de cobertura na zona sul” afirma o presidente. Abaixar a tenda para se proteger do sol, colocar lona para proteger seus clientes e produtos, sair da barraca sem deixar um responsável também cadastrado e colocar um banco para fora da estrutura são uns dos pretextos que a prefeitura decretou para os feirantes pagarem uma multa que

Henriqueta, chega a feira as 4 horas da manhã para organizar a sua barraca


Cidade  •  09

aria Clara Gonçalves; Janderson Silva

Belo Horizonte, março de 2015

onto Fotos: Maria Clara Gonçalves

acontecendo: uma mãe dando de mama pro filho. Mas se o fiscal chegar aqui eu levo multa.” Durante a semana, a equipe do jornal O Ponto tentou entrar em contato com a gerente regional de feirantes permanentes da Região Centro Sul, Andréa Lúcia Bernardes, que não respondeu aos e-mails e nem aos telefonemas. O presidente da associação informou que o cargo de gerente tinha um novo profissional.

Prejuízos

Lucina garante que quem come dos seus salgadinhos, não esquece mais

varia entre R$200,00 a R$1000,00. “A gente já aprendeu que, no domingo, não pode fazer xixi, não pode ter dor de barriga, não pode menstruar, não pode ter nada”, diz Luziana Lelis, 55. Uma cena que chamou a atenção foi, enquanto conversávamos com

o presidente da associação sobre as irregularidades que resultam em multas,vimos um banquinho, fora de sua barraca, sedo utilizado por uma mãe que amamentava o filhos. “Estou fazendo uma coisa ilegal. Aquele banquinho é meu, e olha o que está

Além do mal tempo e do feriado de Carnavel, os feirantes se queixaram da queda do número de frequentados da feira. “Chegavam em média de 60 ônibus de vários lugares, hoje chegam dez, doze e talvez até menos. O pessoal vinha muito de fora para comprar atacado e revender”, diz Rogerio Andrade,67, vendedor de bijuterias que são produzidas pela sua esposa. Dona Madalena Pereira, 54, trabalha no local há 31 anos, confeccionando kits de berço , conta que antigamente chegava as 4h da manhã e que às 6h quase já não tinha produtos. Hoje ela vende mais no varejo. Mas tal fato não abala os expositores, que acreditam que a situação pode melhorar.

Colecionadores de Histórias “Uma vez, uma moça chegou aqui na barraca e disse para a Juliana (filha de Maria de Lourdes) que queria me comprar. Achei que ela estava brincando. Depois, ela contou que eu parecia muito a mãe dela, que havia falecido há poucos dias e entrou na barraca me abraçou. Foi emocionante. Choramos ela, eu e a moça que estava com ela”. História como essa de Maria de Lourdes,81, se acumulam entre os feirantes, que mesmo depois de uma média de nove horas de trabalho continuam com um sorriso no rosto, recebendo muito bem a todos que passam pelas barracas. “Aqui somos um pouquinho de tudo, psicólogo, médicos, ouvintes”, diz dona Maria. A palavra que mais define as relações na feira é amizade. A convivência aos domingos tornou os expositores mais que amigos, mas uma família, eles contam. Apesar de alguns se encontrarem só uma vez por semana, percebe-se como o laço entre eles é forte. “Nos conhecemos aqui na feira, mas nos tornamos uma família. O meu marido fez uma cirurgia no início do ano, a Aparecida, que expõe cerâmica, nos visitou com o marido e foi uma tarde maravilhosa. Graças a Deus é tranquilo, um sempre procura cooperar com o outro, é uma família”, diz Maria da Glória Gonçalves,63, que trabalha com artesanato em cerâmica e gesso. Podemos dizer que também acumulamos boas histórias sobre a feira, que se tornou um espaço fundamental e de grande impor-

tância para a maioria daqueles vendedores que afirmam que a feira é uma parte da vida deles.“ Meu marido não gosta daqui não. Vivia reclamando. Agora ele não reclama mais. Já disse pra ele:`Ocê´acalma porque enquanto eu der conta eu venho para essa feira”, conta dona Maria. A feira pode ser considerada um dos maiores eventos do município que, sem divulgação, reúne uma média de setenta mil pessoas. “Ela traz mais pessoas que um clássico de futebol do Atlético e Cruzeiro, que, com certeza, se fosse repetido todos os domingos, durante 40 a 50 anos, da primeira vez reuniria 70 mil pessoas, da segunda 50 mil, e chegaria em um ponto que teria apenas 2 pessoas. Estamos na feira a 40, 50 anos e com um público constante, a feira é isso a diversidade: de coisas, de pessoas, de produtos”, afirma o presidente da associação. Com o relógio marcando 13h e com a chuva se aproximando, decidimos que era hora de partir. Essas nove horas de Feira de Artesanato nos mostrou o quão incrível é aquele lugar, mesmo com todos os seus problemas. A felicidade, a cumplicidade e amizade são valores de referência para os feirantes. Foi muito gratificante para nós o acolhimento e a solidariedade que os trabalhadores tiveram com a equipe de reportagem, todo mundo parando um pouco o que estava fazendo para ceder cinco minutos de prosa, que abriram a nossa visão e a nossa percepção sobre o que realmente é a “feira hippie”.

Números da feira De acordo com William dos Santos, 55, Presidente da Associação a Feira Artesanal, gera em torno de 11 mil empregos diretos e indiretos, há comércio de matéria prima, de bar, restaurantes e até hotelaria. Um diretor do Banco do Brasil, juntamente com Instituto Isabela Hendrix, após uma série de análise, concluiu que a feira seria a maior empresa do Estado de Minas Gerais se todos os envolvidos tivessem carteira assinada.

A Associação A Associação dos Expositores da Feira Artesanal surgiu em 2011 para que, junto com a prefeitura, fossem desenvolvidos projetos para melhorias na Feira Artesanal. Hoje, a associação conta com 1.280 integrantes que lutam contra a licitação, pela segurança e contra o aumento de impostos. Em agosto de 2013, a associação implantou um novo projeto de leiaute na feira, agrupando as barracas de quatro em quatro para tornar os corredores mais acessíveis, organizados e garantir mais segurança aos frequentadores. Apoiado pela maioria dos feirantes, o presidente da associação, William dos Santos, afirma: “nossa luta é constante por uma feira melhor, para que todos tenham dignidade no seu trabalho, para que venham aqui mostrar seu talento, sua arte e trabalhar da melhor forma possível.”


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Foto: Acervo Pessoal

Belo Horizonte, março de 2015

Blogueira fitness, Anna Clara, de nove, anos tem como grande inspiração, sua mãe, Mileny Mansur; elas vão para a academia juntas

Saudável ou precoce? Postagens de blogueira mirim sobre sua rotina de exercícios causa polêmica nas redes sociais Camilla Coelho Samara Reis 3º Período Anna Clara Lagares Mansur, nove anos, tinha tudo para ser uma blogueira mirim como qualquer outra, se não fosse por um motivo: Anna compartilhava em suas redes sociais sua rotina de academia, sendo assim reconhecida como a primeira blogueira fitness infantil. Pela sua idade, a garota causou polêmica e virou alvo de matérias jornalísticas inclusive para programas como o da apresentadora Fátima Bernardes. Partindo dessa estranheza causada pelo hábito da menina, a equipe do jornal O Ponto

conseguiu contato com os pais de Anna Clara que falaram abertamente sobre o assunto. Perguntamos a Mileny Mansur, mãe da blogueira, o que motivou a garota a entrar na onda fitness e ela disse que Anna sempre praticou exercícios físicos, desde natação ao balé. Dessa forma, o ambiente de academia sempre foi familiar para ela. Durante as aulas de natação, Anna Clara assistia aos treinos de sua mãe que eram realizados pelo pai Weslley Mansur, que é personal trainer. A mãe da menina conta que Anna pedia insistentemente ao pai para que iniciasse seus treinos, demonstrando também desinteresse e pouco rendimento nas

aulas de natação. “O professor pediu que a tirasse da aula, pois ela não demonstrava mais interesse pela modalidade”, afirma Mileny. Anna e os pais fizeram um acordo e estabeleceram regras para que a garota iniciasse os treinos, uma delas era de manter um bom rendimento escolar: “No início, achamos que seria por poucos dias, mas Anna Clara amou e continuou firme nos treinos”, comentou a mãe. Os pais afirmam que os exercícios executados pela garota são movimentos funcionais adaptados para a idade dela. Ela usa o peso do próprio corpo e não faz uso dos aparelhos disponíveis na academia, conta sua mãe.

Ela frequenta a academia duas vezes por semana, por uma hora em média, mas sempre na presença do pai, que presta acompanhamento profissional à filha. Mileny conta também que existem outras crianças que frequentam a mesma academia, embora elas façam apenas o aeróbico na sala de musculação, como, por exemplo, esteira e bicicleta. Para a realização dos exercícios feitos por Anna, é preciso um acompanhamento profissional para que tudo seja executado da maneira correta, por isso, para os pais de Anna, não existe nenhum tipo de problema em praticar exercícios mesmo com a idade apresentada pela filha, já que ela faz exercícios

como qualquer outra atividade física e, o principal, com acompanhamento ao mesmo tempo profissional e paterno. Procuramos academias na cidade de Belo Horizonte em busca de outras crianças como Anna Clara. Ao conversarmos com o dono da academia Special Training e professor de educação física, Fábio Vinícius Lima Araújo, ele afirma que em sua academia a demanda maior é a partir dos 13 anos, mas para a área de luta. Perguntamos se haveria alguma criança com a idade de Anna Clara a participarndo dessas atividades, ele respondeu: “não é que não seja recomendado, é difícil criar uma turma só com crianças e não dá


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Belo Horizonte, março de 2015

Fotos: acervo pessoal

Anna Clara Mansur demonstra como executa seus exercicios funcionais para uma sessão de fotos

Pai e filha vão para a academia juntos

Selfie da família depois do programa da Globo, Encontro com a Fátima Bernardes

Anna Clara utilizando o peso do próprio corpo para executar seus exercícios

“‘Musinha Fitness” apresenta outras alternativas de exercitar o corpo sem usar os aparelhos da academia

para misturar crianças e adultos”. Já a musculação, apesar de apresentar público mais novo bem escasso, é possível perceber jovens entre 15 e 18 anos. Fábio ainda afirma que crianças da idade de Anna Clara ficam concentradas em escolas que fornecem atividades específicas para essa idade. Dificilmente é possível encontrar crianças nesses ambientes de academia misturadas ao ambiente frequentado por um adulto. A personal Lenúria Pimenta, que também é professora de educação física e trabalha da academia de Fábio, afirma que não vê problema algum em crianças praticarem os exercícios feitos por Anna Clara, mas explica: “eu pegaria uma criança de 9 anos para fazer uma aula individual, mas acontece que nem todo pai bancaria, aí é que está a contraindicação. Não é que a criança não possa fazer, ela pode e em qualquer idade, mas tudo tem de ser adaptado, com um personal disponível exclusivamente para a criança e dificilmente os pais pagariam”. Para Lenúria, com exercícios adaptados e específicos para a idade, essa atividade não atrapalharia o desenvolvimento e nem a formação óssea. “Vemos atividades como ginástica olímpica em que exige até muito mais que uma musculação, é muito mais perigosa e está cheio de crianças”, observa. Sobre o uso dos aparelhos, Lenúria afirma que as crianças podem utilizar, desde que sejam exercícios adaptados. Ela conta já ter feito exercícios funcionais adaptados, iguais aos que Anna Clara pratica, para uma menina especial de três anos de idade com síndrome de down para melhorar força e equilíbrio. “Ajuda no desenvolvimento e ela voltará a treinar, graças às mudanças positivas proporcionadas pelos exercícios”, afirma a personal. Fábio acredita que essas atividades não são ideais para crianças por elas serem dispersas e dificilmente se interessariam por atividades como musculação que exigem um nível de concentração maior do que atividades em grupo como futebol, vôlei e natação. Por isso, o professor afirma que essas atividades são mais recomendadas e insiste: “Questão da criança não poder fazer musculação porque vai atrapalhar não existe.” A partir da fala de Fábio, Lenúria nos conta sobre sua filha de

três anos e fala que não a colocaria na academia agora, mas não porque ela não possa fazer. “Minha filha vem aqui, ela pula, ela corre, ela sobe e tudo isso é funcional. Mas nessa idade são recomendadas atividades em grupo para ajudar na socialização, aumentar a competitividade, aprender a trabalhar em grupo, saber dividir, coisas que ela não vai aprender praticando musculação”, informa. Lenúria conta que sua tese de doutorado coincidentemente fala sobre atividades físicas para crianças. Sua teoria é que as crianças estão procurando a academia cada vez mais cedo por ficarem presas em casa grande parte do dia. “A violência complicou muito as coisas, as crianças não brincam mais na rua e ficam sem alternativas para gastar energia, principalmente as crianças que sofrem algum tipo de bullying e, por isso, optam por atividades individuais”, comenta. O estudante de educação física e professor de natação da Academia Reverence, em Nova Lima, Luís Estefano Bruno, afirma que nunca viu crianças com a mesma faixa etária de Anna Clara praticando algum exercício que não fossem os tradicionais, como o que ele mesmo leciona. Após a conversa com especialistas que são responsáveis pelas crianças dentro das academias, conversamos também com o pediatra José Martinho que nos conta não ter tido conhecimento do caso de Anna Clara, mas afirma: “Não vejo problema algum em crianças frequentarem academia, desde que seja após avaliação médica e as atividades acompanhadas e orientadas por um profissional sério e competente para se evitar o abuso nos exercícios como lesões articulares e ligamentares. O exercício em si, bem orientado, só faz bem à saúde”. Já a pediatra Tiemi Camey se mostra contra essa prática, além de ressaltar sua posição oposta à da personal Lenúria Pimenta. “Não indico academia para os meus pacientes em idade de crescimento, pois força muito as articulações, a musculatura, sem falar no perigo da má postura, que pode levar a sequelas ósseas”, explica. Tiemi ainda afirma que o esporte mais indicado para crianças seria a natação, por ser um esporte completo que trabalha muito a musculatura sem comprometer as articulações.


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O AMOR NOS TEMPOS DO TINDER Conheça a história de casais que se deram bem através do aplicativo. Quem sabe a sua não pode ser a próxima?

Créditos: ARquivo Pessoal

Foi-se o tempo em que era preciso ficar na frente do computador, em casa, sozinho, para procurar paquera na internet. Graças à tecnologia móvel, isso já é coisa de outras décadas. Hoje, a possibilidade de achar uma paquera vai aonde você quiser. E ficou muito mais fácil e recíproca. Mergulhados no mundo da tecnologia, jovens e adultos recorrem cada vez mais a aplicativos que facilitam na hora paquera. O Tinder virou o queridinho de quem quer descobrir gente nova. O app já ultrapassa mais de 10 milhões de downloads, segundo a loja virtual onde pode ser adiquirido. O aplicativo é simples. Uma série de fotos de pretendentes geograficamente próximos a você começam a ser apresentadas. Se você gostar de alguém, toque no desenho de um coração. Se a pessoa também tiver te achado interessante, dá “match” (palavra que significa combinação). A partir daí, o aplicativo

abre uma janela de bate-papo. Foi exatamente o que aconteceu com Victória e Rafael. O casal está junto há 10 meses e garante que o aplicativo funciona. “Nunca pensei que encontraria um namorado através de uma rede social como o Tinder. Mas acabou rolando. A gente teve papo. E isso nem sempre acontece. A cantada dele foi ruim, mas eu relelvei. Nunca fui tão feliz”, conta entusiasmada, a estudante de fisioterapia, de 20 anos. Assim como há encontros, há também reencontros. Janderson Silva, estudante de Jornalismo, reencontrou seu atual namorado, após dois anos, através do aplicativo. “Ficamos uma vez e não deu certo. Ele mudou de cidade e nunca mais nos vimos. Um dia, usando o aplicativo, encontrei o perfil dele e cliquei no coração. Após alguns minutos, deu match. Conversamos, marcamos de ir ao cinema e estamos juntos até hoje. Faz um ano”, relata o estudante. E quem não ouviu falar sobre o casal que ficou famoso na internet depois de tatuar no pulso o símbolo do aplicativo? Luana

Janderson e Jonatan, juntos há quase 1 ano, após reecontro

Imagem de como funciona o aplicativo Janhke e Rodrigo Zannota, que também se conheceram através do Tinder, resolveram homenagear e simbolizar a relação marcando na pele a sua história. Luana conta que a ideia da tatuagem foi do namorado, Rodrigo. “Rodrigo quem sugeriu a tatuagem. Eu topei na hora. Achei que seria uma forma de eternizar o nosso amor. Muitos acharam bizarro, mas isso não importa para nós”, declara. Luana e Rodrigo estão juntos há um ano e fazem planos para o futuro. Estão de casamento marcado para outubro. “Sofri preconceito no começo por ter me relacionado com alguém que conheci pela internet, mas tive mais sorte do que você pode imaginar. Entrei no app para realização de um trabalho acadêmico sobre a valori-

zação da imagem pessoal, com um pensamento formado de que lá é tudo questão de ser bonito ou ser feio, e saí com o amor da minha vida”, relembra. Mas há quem discorde da eficiência deste tipo de paquera. A estudante de psicologia Bruna Tainara, acredita que o Tinder é apenas uma forma de obter prazer imediato. “Para mim esse aplicativo descreve bem o sujeito pós-moderno, um sujeito acomodado em busca somente do prazer imediato. Não gosto da proposta do aplicativo. Ele nada mais é que um facilitador para quem busca um sexo casual. Há formas mais saudáveis de se relacionar”, comenta. Mas, pelo visto, Bruna é minoria. O aplicativo já ultrapassa mais de 10 milhões de downlo-

ads, segundo a loja onde o app pode ser baixado. Histórias como a dos casais Victória e Rafael, Luana e Rodrigo, Janderson e Jonathan provam que relacionamentos, mesmo que não tenham se iniciado do modo convencional, podem dar certo. “Somos de uma geração que já nasceu com a internet. Conhecer pessoas através de um aplicativo ou rede social já é comum. Não há porque ter preconceitos”, afirma Victória. “Contrariando o que muitos vão dizer, para mim, o Tinder é um meio super seguro para conhecer pessoas. Acho um app totalmente válido, inclusive indiquei para amigas. E uma delas hoje já está quase namorando alguém que conheceu por lá”, conta Luana.

Foto: Arquivo pessoal

Marcella Teles Ruan Nataniel 3º período

Tatuagem feita por Luana Janhke e Rodrigo Zannota, homenageando o aplicativo.


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Esportes • 13

O Ponto

Belo Horizonte, março de 2015

Longevidade, a chave para o sucesso O tempo de trabalho dos técnicos tem promovido títulos e glórias, além de um futebol de encher os olhos RAFAEL DINIZ 3º PERÍODO

quistou duas copas intercon- mundo ganhando doze campetinentais, duas copas Liberta- onatos ingleses, cinco copas da dores, dois Brasileiros, quatro Inglaterra, quatro copas da Liga torneios Rio-São Paulo e os oito Inglesa, duas Champions Leacampeonatos paulistas. Tem gue e dois mundiais. A longevidade dos técnicos também Harry Welfare, que treinou o Vasco por 10 anos (1927 a no comando do clube, na maioria das vezes, trazem títulos e 1937). Essa história de manutenção glórias, além de o time jogar um de técnicos no futebol trans- futebol bonito. cende oceanos e acontece também no velho continente, tanto quando o assunto é seleção ou clube. O treinador que mais esteve a frente de um clube ou seleção na Europa foi Guy Roux, que treinou o Auxerre por 44 anos (1961 a 2005) e por lá conquistou um campeonato Francês, um campeonato Francês da segunda divisão, quatro copas da França, além dos seis títulos da copa Gambardella. O segundo treinador foi Sepp Herberger, que treinou a seleção alemã por 28 anos (1936 a 1964) e, nesse período, conquistou uma Copa do Mundo. O terceiro treinador e Técnico Alexi Stival mais atual dentre os (Cuca) ficou três é Alex Ferguson, dois anos no que treinou o ManchesAtlético ter United por 26 anos (1986 a 2013) e o fez um dos maiores clubes do Atlético

manter esse grupo, pois quando algumas peças importantes vão embora, mesmo tendo um bom tempo no comando da equipe, a formação ou melhor reestruturação de um novo elenco é complicado e requer tempo”, comenta. Nesses últimos dois anos, Minas está comandando o cenário futebolístico e um dos motivos de Atlético e Cruzeiro estarem no topo é a manutenção de seus técnicos. Cuca esteve no Atlético nos anos de 2011 a 2013 e conquistou a Copa Libertadores da América, título inédito para o clube, além de ser vicecampeão Brasileiro em 2012 e fazer o clube alvinegro jogar um futebol de encher os olhos e arrancar belos comentários dos jornalistas. Já do lado celeste o treinador Marcelo Oliveira foi contratado no início de 2013 e, apesar de montar um time sem muitas estrelas, fez o time do Cruzeiro jogar o melhor e o mais bonito futebol do Brasil, e ganhar por duas vezes seguidas o título de campeão Brasileiro. Os técnicos brasileiros com mais tempo treinando uma equipe são Amadeu Teixeira, que treinou o América de Natal por 53 anos (de 1955 a 2008), e Lula, que treinou o Santos por 12 anos (de 1954 a 1966) e con-

Foto: Flickr do

No Brasil e em outros países pelo mundo, um técnico de futebol, apesar de fazer um bom trabalho, corre o risco de ser demitido, principalmente se ele não conquistar títulos. Em raros casos, o técnico é mantido e, com ele, sua filosofia de trabalho. Assim, com mais tempo e mais conhecimento sobre determinado clube, na maioria das vezes consegue alcançar o sucesso. Atualmente, analisando o resultado final do último campeonato Brasileiro, percebe-se que os times que terminaram na ponta da tabela são aqueles que, por coincidência ou não, estão com seus técnicos há mais tempo. São também os únicos times em 2014 a não trocaram de técnicos em todo campeonato Brasileiro. O Cruzeiro, atual bicampeão Brasileiro, está desde o início de 2013 com Marcelo Oliveira no comando técnico. O São Paulo, vice-campeão, está com seu treinador Muricy Ramalho também desde 2013, além de passagens marcantes no passado do clube. O Internacional tinha seu time comandado por Abel Braga que, apesar de ser contratado somente em 2014, já tinha uma

passagem histórica pelo clube em 2006 e 2007, onde ganhou a Libertadores e o Mundial. O Corinthians trazia também um de seus velhos conhecidos Mano Menezes, que treinou de 2008 a 2010 o time alvinegro e, por ter esse vasto tempo de trabalho, conhecia bem a equipe paulista. Perguntado sobre a longevidade de um treinador em um clube, o jornalista Adroaldo Leal disse: “um técnico que consegue ter uma longevidade no cargo tem muitos mais chances que os demais de dar certo na obtenção de títulos, afinal ele terá vasto conhecimento sobre o elenco e de como as coisas funcionam internamente dentro do clube.” Mas ele lembra que no Brasil, para boa parte dos torcedores, uma vitória é muito mais importante do que algumas conquistas. O ideal, diz o jornalista, é que houvesse um período maior na permanência do treinador, para que ele tivesse o sucesso esperado. Para isso ele também precisa contar com uma gama de fatores que colaborarem com esse sucesso, como, por exemplo, a montagem de um elenco que ‘dê liga’. Outro fator, diz Leal, é garantir a continuidade desses jogadores no clube. “Quando se consegue isso, o mais difícil é

Confira a revista do curso de Jornalismo da Universidade Fumec!

http://goo.gl/CjKNo9


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Sucesso americano invadiu o público brasileiro Espalhados por todo país, os restaurantes sobre rodas inovam a gastronomia de rua mineira Camila Madeira Ruy Viana 3º Período

Kelly Ferreira anunciaram o lançamento do primeiro aplicativo de localização de Food Trucks o “Truck nas ruas”, que apresenta os trucks e ajuda o cliente a encontrar o mais próximo nas cidades de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Brasília. Além disso, disponibiliza informações sobre eventos os quais os trucks comparecerão, a agenda do fim de semana, e os pontos fixos que alguns deles têm. Belo Horizonte ainda não está incluída no aplicativo, mas por aqui os trucks já têm clientela fixa e garantida. Eles já atendem os belo-horizontinos, que receberam muito bem a nova tendência da gastronomia de rua. Depois de uma curta resistência, a reportagem O Ponto entrevistou alguns proprietários de Food Trucks que, geralmente, se encontram todas as quartas-

feiras na Praça Manoel de Souza Barros, no bairro Castelo. Débora Contijo, 29 anos, formada em administração e seu marido Luciano da Silva, 37 anos, formado em gestão de projetos, são proprietários do Crepioca. A ideia inicial era abrir um restaurante, mas como o custo seria bem mais elevado, eles estudaram outra possibilidade e inauguraram no dia três de julho de 2014 o food truck de crepe e tapioca, iguaria escolhida pelo Luciano, que é baiano. Foram gerentes de uma loja de construção e acabamentos e tinham conhecimento sobre gestão de custo, de estoque, além de cursos, consultorias e planos de negócios que fizeram no Sebrae. Débora conta que uma das vantagens que eles têm é a de poder fazer seus horários de trabalho. Sobre a receptividade

Foto: Camila Madeira

Em tradução livre para o português, o termo Food Truck quer dizer “caminhão de comida”, espaço móvel inovador que transporta e vende comida e tem se mostrado uma sensação no mercado gastronômico. Alguns servem resfeições rápidas, como o carro de sorvete, outros comercializam pratos mais elaborados como tacos, comida chinesa, além do tradicional hambúrguer e assemelham-se a um restaurante sobre rodas. No entanto, sua popularização se deu quando os caminhões passaram a comercializar comida gourmet. Esses trailers podem atender festas populares, eventos, faculdades entre tantos outros lugares onde há demanda por refeições e lanches.

Nos EUA, os Food Trucks foram descobertos em 1866 por um texano chamado Charles Goodnight, que trouxe à tona a ideia de vender comida na beira da estrada para manter os viajantes dentro do tempo de viagem estipulado, naquela época, sem ter que sair da rota determinada. Atualmente, ainda fazem o maior sucesso por lá e a ideia foi trazida para o Brasil por empreendedores que investiram no negócio que veio para ficar. Os carros trazem opções de bebidas e comidas variadas, doces e salgadas que agradam a todos, desde cervejas artesanais até paletas mexicanas. Cada truck, como são carinhosamente chamados, tem um cardápio específico e a maioria trabalha nas cidades sem ponto fixo. Com os trucks em alta, duas publicitárias, Carla Somose e

O truck Crepioca, que trouxe a originalidade do nordeste para o paladar dos mineiros de uma maneira sofisticada e com muito sabor

das pessoas, ela diz que a fila do Crepioca vai até o meio da praça e afirma que a tapioca tem sido procurada por ser uma opção saudável recomendada pelos nutricionistas porque não contém glúten. Já a massa do crepe “é uma massa diferenciada” pois o Luciano fez um curso com um professor francês. Ela conta também que não é fácil investir. “Tem carros em que foram investidos R$ 200 mil e outros R$ 40 mil, então, cada um tem um prazo de retorno. Programamos obter nosso retorno em 18 meses, mas a gente espera que dê em doze”, conclui. “Te dei um bolo” é o nome do food truck do Leonardo Schettini, 45 anos, formado em gestão de telecomunicações. Leonardo já vendia, na empresa em que trabalhava, os bolos que ele mesmo fazia e, quando saiu desse emprego


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Belo Horizonte, março de 2015

Foto: Camila Madeira

O Ponto

“Te Dei um Bolo”, agregou lucro e satisfação dentro de um empreendimento lucrativo e que lhe ajuda a fugir da rotina apesar de longas horas de trabalho passou a vender no seu próprio carro. “Pensei em abrir uma loja e vi que o custo seria muito alto, você já começa devendo muita coisa, e ai fui pesquisando e achei a ideia do food truck muito interessante”, fala Schettini. Ele trabalha com o food truck há cinco meses e, atualmente, não possui outro emprego. Já trabalhou como gerente de empreiteira, mas trabalhava na parte técnica e afirma que é uma experiência nova. “Estou gostando muito, não é um trabalho rotineiro, mas se trabalha de forma dura e por longas horas. Eu vi uma entrevista do Rolando Massinha, que é pioneiro dos food trucks no Brasil, em que o

repórter pergunta pra ele o que precisa ter para poder abrir um food truck e ele respondeu: “Tem que ser louco”. E, realmente, você tem que ser louco, você trabalha muito, mas é muito gratificante porque é seu”, comenta. Quanto à regulamentação dos food trucks ele diz que ainda está sendo criada, que os proprietários de trucks possuem licença de ambulante para trabalhar. Além disso, todos devem se submeter à regulamentação da vigilância sanitária, possuir equipamentos de segurança solicitados pelo Inmetro, e fazer curso de manipulação de alimentos, o que faz com que os clientes

confiem no seu trabalho. “Em cinco meses você não acha nenhum empreendimento que se sustente, e Schettini diz que com três meses o “Te dei um bolo” já se sustentava. Ainda não está dando o lucro esperado, mas só de se sustentar já é um começo muito bom”, diz Leonardo, satisfeito com seu empreendimento. Matias Gomes, 36 anos, relata que quando se tem um capital é mais fácil iniciar um negócio: “eu mesmo passei um pouco de aperto, mas depois de uns oito meses eu vi melhoria”. Há mais de um ano e dois meses trabalha somente com seu food truck Happy Lanches, mas ele tive que buscar tecno-

logia na capital paulista. “Eu montei a minha ideia, tentei transformar a Kombi no truck em BH e não consegui. Então eu fui pra São Paulo, só lá eu consegui”, diz ele. Matias comercializa em seu truck hambúrguer gourmet, devido à experiência culinária que obteve trabalhando com esse tipo de hambúrguer quando morou fora do país. A carne do hambúrguer gourmet não é industrializada, é feita e consumida no mesmo dia. Para conseguir a autorização de ambulante, Matias conta que é preciso pagar uma taxa, e que o carro deve ser avaliado pelo Inmetro, pela vigilância sanitária e pela BHTrans.

Feito isso, obtém-se a autorização na prefeitura. “No inicio eu tive várias pessoas me incentivando a fazer o hambúrguer industrial, mas insisti no meu. O industrial é mais fácil, é só comprar e revender. Mas todos que experimentam o meu hambúrguer voltam e falam que adoraram, e isso me dá mais alegria pra trabalhar”, relata Matias, que diz ter vivido essa experiência no carnaval deste ano. Os trucks vêm revolucionando o mercado mineiro e começam a conquistar a economia belo-horizontina, trazendo novas perspectivas, tendências e amplas experiências no cotidiano dos iniciantes na culinária gourmet.


16 • Eu conto no Ponto

Editor e diagramador da página: Amanda Magalhães e Cristiana Corrieri

Belo Horizonte, março de 2015

O Ponto

Eu conto no Ponto... Atração perigosa

Coluna das lamentações

DEPOIMENTO A CRISTIANA CORRIERI

Aos 13 anos conheci um rapaz por quem me apaixonei, porém achávamos que éramos muito jovens para namorar. Sendo assim esperamos até os 15 anos para termos um relacionamento. O namoro era aprovado pelos meus pais e pelos pais dele. Fui convidada para um jantar em sua casa, até que então ele e o irmão começaram uma briga física e eu tentei apartar. Em um ato de ira, ele, meu namorado, me empurrou e eu caí da escada. Passado esse susto, continuei o namoro achando que aquilo era normal, afinal, eu era apenas uma criança. Mal sabia eu que durante uma visita a minha prima no Espírito Santo, ele faria uma festa e me trairia. Sabendo disso, eu pedi um tempo do relacionamento e enquanto isso acabei me relacionando com outro. Foi aí que o pesadelo começou: seus primos e o tio passaram a me perseguir, ameaçar não só pessoalmente mas também em redes sociais em geral. Foi tão intenso, que chegou ao ponto de eu ter de pedir uma medida cautelar preventiva contra ele. Hoje em dia, penso que era uma criança, mas deveria ter acabado o relacionamento assim que começaram os primeiros problemas. Vivo uma vida normal, mas sempre levarei as lições e o medo daquela época.

Foto: Reprodução/ Instagram

“Anônima”, aluna de jornalismo

Corta cantada DANIELLE DIAS

“Estava em uma balada em São Paulo conversando com a minha amiga, quando um rapaz se aproximou e perguntou de onde eu era, minha idade e “tais como”. Respondi que era de Minas Gerais e tinha 18 anos, foi quando ele fez sua última pergunta: “você tem algum rolo?” e eu respondi: “Tenho. Mas só de papel higiênico”.” #danisincera #cortacantadanoponto

“Tenho pânico da minha sogra” DEPOIMENTO A CRISTIANA CORRIERI

Há alguns anos engravidei e tive uma filha, mas não deu certo o relacionamento com o pai então decidimos criá-la separadamente. Tenho um namorado há certo tempo, nos damos bem, mas a mãe dele acaba com minha confiança no relacionamento. Quando começamos a namorar achei estranho ela ainda seguir as antigas namoradas do filho no instagram e ainda postar comentários elogiando-as e dizendo o quando sentia a falta delas. Com o passar do tempo, percebi que na verdade, tudo não passava de preconceito: preconceito porque eu tinha uma filha com outro

O aluno de Engenharia Civil Lucas Batista reclama que a sinuca do seu DA está soltando parafusos e em péssimas condições. Ele lamenta que o DA de outros cursos é mais moderno e oferece mais atrativos para os alunos, como vídeogames. Resposta da redação: O vice-presidente da Atlética de Engenharia e de Arquitetura, Adonai Froede, informou-nos que o mau uso da sinuca pelos alunos é o que a deixa debilitada. A manutenção da sinuca não é barata e eles preferem aplicar o dinheiro em feiras e outros movimentos construtivos da educação. Ao questionar a modernidade do local, ele disse que já existiu vídeo game para a diversão dos alunos, mas acabou sendo roubado e nunca mais foi substituído por medo de outro furto. A aluna Amanda Magalhães, lamenta que o WI-FI disponibilizado para os alunos não tem um bom alcance, não é rápido o suficiente e não atinge todos os alunos. Resposta da redação: A representante da informática Andressa, explicou que geralmente os alunos não sabem se conectar ao WI-FI, visto que existem panfletos espalhados pela faculdade explicando a conexão. Os alunos em geral lamentam a estrutura física do pátio. Por ser um local muito agradável de passar os intervalos, todos querem ficar por ali, mas quando chove aparecem goteiras por toda a cobertura e assim molha os bancos e mesas, impedindo os alunos de sentarem confortavelmente. Resposta da redação: O posicionamento da Fumec, segundo Marcus Papa (Assessor de comunicação institucional), é que no período de chuvas esse tipo de obra é inviável, porém a Fumec já está ciente da reclamação e tomará providências futuras, que já estão previstas no orçamento.

homem. Talvez seja porque eu seja nova, talvez seja porque ela é velha demais, não importa a razão, sempre fui cordial, educada e até já dei presentes para ela. Ou seja, já tentei fazer a velha gostar de mim de todas as formas possíveis, mas simplesmente não tem jeito. A nova maneira de mostrar para mim e para o filho dela que ela realmente me odeia é tampar o meu rosto em fotos no quarto dele. Quando ele revela nossas fotos e as põe no porta-retratos ela esconde meu rosto de algum jeito: seja arredando um enfeite pra cá, ou colocando um imã na minha frente. Chega até ser engraçado, mas é isso: tenho pânico da minha sogra. “Anônima”, aluna de Publicidade e Propaganda.


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