Jornal O Ponto (nº 108) - Junho de 2019

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 19  |  Número 108  |  Junho de 2019  |  Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

Créditos: Ibama / Divulgação

LAMA NUNCA MAIS (?)

Política A Assembléia Legislativa de Minas Gerais aprovou recentemente um projeto de Lei que visa melhorar a qualidade na segurança de todas as mineradoras do estado.

Pág. 06 e 07

CréditoS: Pixabay / Divulgação

Créditos: Ana Staut

Créditos: Millu Yoshida

Saúde

Cidades

Especial

Campanha Alerta: cresce o número de casos de dengue em Minas

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Segurança Moda Como diminuir a criminalidade no Minas Trend é cor, textura, entorno da Fumec gastronomia e muito mais! Pág. 08 e 09

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02 • Crônica

Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

O Ponto

Créditos: Setor Reciclagem / Divulgação

Belo Horizonte, junho de 2019

o ponto Coordenação Editorial Prof. Hugo Teixeira · Jornalismo Impresso

In memorian Ricardo Davidovsk 3º periodo Meu celular — um Sony Xperia M4 — faleceu na madrugada do dia primeiro de abril. Parecia mesmo o dia da mentira porque ele esteve comigo há mais de cinco anos e sua partida era algo quase inimaginável. Já esperava pelo pior porque ele andava bem ruim das pernas: só conseguia realizar telefonemas no modo viva voz e há quase um ano desconhecia o que era enviar um áudio para meus contatos no WhatsApp. Além dos desmaios repentinos e o dano no parte frontal por causa de uma queda, um emaranhado de rachaduras na parte superior da tela fazia com que ele se parecesse com uma pequena teia de aranha. Queria do fundo do coração ter estado com ele em seu último suspiro, assim como ele esteve comigo em todos os momentos da minha vida desde que entrou nela. Infelizmente eu dormia profundamente enquanto ele devia estar agonizando na cabeceira ao lado da cama. — Para morrer basta estar vivo, né? — disse papai, enquanto o velório acontecia no centro da mesa de jantar. — E pensar que ele durou muito. Muito mesmo! Eu me lembro que ele nos fazia rir muito nas refeições, né? Os vídeos, as

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imagens, memes e aqueles gifs que eram hilários. O que deve ficar mesmo são os momentos alegres! — Ele descansou! — comentou vovó. — Eu já esperava, de verdade. Quando o vi há três dias, custando a acessar o site Santa Receita, já passei a desacreditar. E de lá para frente não botei mais tanta fé. Eu me conformei. — Ele está em um lugar bem melhor que aqui — disse mamãe, dando de ombros como quem diz “não há o que fazer”. E realmente não tinha. Fim. Game over. — Já estava bem velhinho, é melhor assim. É melhor nos conformarmos. — Nós vamos sair dessa — disse minha namorada. — Já estou conformado! — tomei a palavra. — Só gostaria de dizer algumas palavrinhas antes de passar a palavra para o pastor Edvaldo Marconi, que vai fazer uma oração antes do sepultamento. Inclusive, antes de mais nada, gostaria de agradecer a presença dele. É uma honra recebê-lo aqui em casa, pastor. Bom, vamos lá — respirei bem fundo, fitei o chão e segurei para não deixar a lágrima descer. — Foram tantos momentos juntos que é bem difícil enumerá-los, ou até mesmo mencionar alguns. Eu ficaria horas e horas gastando saliva e ainda esqueceria de alguma coisinha. O que quero fazer é dizer

muito obrigado. Foi uma honra poder passar esse tempo com ele aqui na terra, e ainda mais honroso poder chamá-lo de meu. Eu nunca vou esquecer de você — e aí as lágrimas vieram. Meus familiares me abraçaram fortemente. — Muito obrigado pelo convite. E a honra é minha, embora este seja um momento muito difícil. Um momento que só Deus pode entender e nos confortar e por mais que isso seja o mais puro clichê é também a mais pura verdade. O que trago para vocês hoje é uma palavra rápida e confortável, pois acho mesmo que não tem muito o que dizer. E a palavra a que me refiro vem do livro de Eclesiastes, capítulo três e versículos do um ao quatro. Ok? — O pastor Edvaldo Marconi era calmo, o homem apropriado para cuidar daquele momento. Abriu a Bíblia na página certa e usou a voz calmamente. — “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; Tempo de prantear, e tempo de dançar...” A morte é inevitável, mais cedo ou

mais tarde vamos nos deparar com ela e o que resta aos vivos é relembrar os bons momentos e seguir em frente. Que Jesus conforte coração de vocês! Oremos. Oramos o Pai Nosso. E então o aplaudimos durante alguns minutinhos e depois me preparei para o cortejo. O enterro foi feito na última gaveta do meu guarda-roupa — junto com os restos mortais do Nokia Lumia 532 e do Motorola v8 e o bom e velho Nokia 3310 (parece mais um número de ônibus) — e, quando a gaveta foi devidamente lacrada, teve outra salva de palmas, dessa vez bem mais intensa que a anterior. Fiquei deitado o resto do dia e mal comi uma maçã e mal dei conta de tomar mais que meio copo d’água. Nos dias que se seguiram a coisa toda não mudou muito de figura, o que durou menos que uma semana. E quando comecei a me sentir melhor, fiz a coisa mais sensata do mundo: sentei-me de frente ao computador e entrei na página do Submarino e comprei um Moto G7 Plus com um sorriso de canto a canto. Minha animação deve ter contagiado todos daqui de casa porque eles ficaram muito felizes com a chegada do novo membro da família.Já estão até falando sobre domingo ser um bom dia para o Chá de Capinha Nova.

Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora orientadora Daniel Washington · Lab. Prod. Gráfica Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa · Aluno voluntário Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Telefone: (31) 3228-3014 e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente da Fundação Mineira de Educação e Cultura Prof. Air Rabelo Presidente do Conselho de Curadores Prof. Antonio Carlos Diniz Murta Reitor da Universidade Fumec Prof. Fernando de Melo Nogueira Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Sérgio Arreguy Técnico Lab. Jornalismo Impresso Luis Filipe Pena Borges de Andrade Monitores de Jornalismo Impresso Ana Staut Lizandra Andrade Monitores da Redação Modelo Letícia Gontijo Vasconcelos Déborah Alessandra Lopes Tiragem desta edição: 1.000 exemplares Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Saúde • 03

Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

O Ponto

Belo Horizonte, junho de 2019

Créditos: CDC/ Prof. Frank Hadley Collins/ Divulgacão

Luta contra dengue em todas as regiões de Minas

Governo estadual decreta emergência e número de mortes se amplia Preocupação: o mês de abril terminou com mais de 18 mil casos de suspeitas de dengue em Minas Gerais e o estado decreta emergência

O governo de Minas Gerais decretou estado de emergência em relação aos casos de dengue que vem afetando o Estado desde o final de 2018. A medida busca agilizar os recursos para combater o mosquito e dar suporte às pessoas que foram infectadas. Além do decreto, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) disponibilizou 4,1 milhões para 93 municípios mineiros reforçarem o combate ao Aedes Aegypti. No início de 2019, só a cidade de Felixândia, de 14,28 mil habitantes e localizada na região Central de Minas Gerais, já superava números de pessoas afetadas durante todo o ano de 2018. Somente entre fevereiro e abril, foram mais de mil casos confirmados na cidade. O alto índice de infestação se espalhou para cidades como Curvelo, região Sudeste, e Sete Lagoas, na região metropolitana da capital, e consequentemente chegando também a BH. Em entrevista ao portal Em.com.br, a coordenadora de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Felixlândia, Maria Aparecida Leite Gonçalves, informou

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que não foi constatada nenhuma relação entre a epidemia de dengue e a degradação ambiental causada pela lama de rejeitos no Rio Paraopeba. A onda trazida pelo rompimento da barragem Córrego do Feijão passou a uma distância de 12 quilômetros da área urbana do município. Até agora, o número de municípios mineiros afetados chega a 32 cidades, incluindo Belo Horizonte. O surto de dengue já levou 25 pessoas a óbito, sendo 9 em Betim, região metropolitana, e 8 em Uberlândia, no Triângulo mineiro. Outras 18 pessoas vieram a falecer devido à febre hemorrágica, que é consequente da dengue, mas esses casos seguem em investigação, sendo 3 deles ocorridos na capital. Até agora já foram mais de duzentas mil confirmações de dengue. Segundo a Secretária Municipal de Saúde, são 23.727 casos provavéis de pessoas com a confirmação da doença somente em Belo Horizonte, e outros 209.276 estão sob investigação em todo o estado. Como o surto da dengue está se ampliando a cada dia, as prefeituras mineiras estão fazendo campanhas de conscientização para seus moradores. Elas buscam orientar como não deixar água parada em

ambientes domésticos e sempre verificar se existem locais propícios à reprodução dos mosquitos.

no Hospital Municipal Odilon Behrens e 40 leitos no Hospital Metropolitano Célio de Castro, no Barreiro.

Nota da Prefeitura Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretária Municipal de Saúde, informou que, com o objetivo de agilizar os atendimentos, ampliar o acesso da população e reduzir a espera e a demanda nas UPAs, foram abertos três Centros de Atendimento à Dengue (CAD) nas regionais Barreiro, Nordeste e Venda Nova. As três unidades funcionam todos os dias, das 7h às 18h. Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde de BH, segundo o órgão, montou tendas em seis UPAs: Pampulha, Oeste, Barreiro, Leste, Nordeste e Norte. O atendimento funciona 24h e é realizado por enfermeiros e técnicos de enfermagem e o objetivo é garantir conforto para os pacientes que aguardam assistência após a classificação de risco. Nesses locais, os pacientes com suspeita de dengue iniciam a hidratação oral, evitando complicações futuras. E para reforçar a rede hospitalar com as internações de casos mais graves de pacientes com dengue foram abertos 12 leitos

Conscientização Para sensibilizar a população sobre os cuidados para evitar o mosquito da dengue considerando que mais de 80% dos focos estão dentro de casa – foi realizada uma campanha de grande alcance com a produção e veiculação de diferentes tipos de peças publicitárias. Foram distribuídas quase 300 mil peças gráficas, colocados no ar anúncios em rádios, 30 aníncios de traseiras de ônibus e inserção de postagens nas redes sociais. Anúncios nas TVs

do Move e jornal do ônibus também foram veiculados. A campanha também foi divulgada durante os jogos do Campeonato Mineiro com o apoio dos principais times, Atlético, Cruzeiro e América. Placas de campo, telão, rede de sociais dos times também levaram as mensagens de como evitar a proliferação do Aedes aegypti. Vale lembrar que a população também é um fator importante no combate ao mosquito da dengue. É importante que as pessoas dentro de suas casas não deixem água parada, limpem regularmente as calhas e as lajes, coloquem areia nos pratinhos de plantas e mantenham as caixas d’água cobertas.

Créditos: Mirela Guimarães / Divulgação

RAPHAELA NUNES 2º PERÍODO

A PBH desenvolveu algumas campanhas de prevenção

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04 • Moda

Editor(a): Ana Staut / Diagramador(a): Ana Staut

Belo Horizonte, junho de 2019

Crédito: Ana Staut

Minas Trend é TUDO!

O Ponto

A 24º edição do Minas Trend, “Em Dias de Sol” arrebatou o cenário mineiro. O evento é a maior feira de negócios da America Latina, reunindo os principais nomes e marcas do universo da moda de Minas e do Brasil. Ana Staut 4º período Antecipando tendências e expondo coleções para a primavera-verão 2020, a semana de moda mineira renovou suas tradições e realizou um desfile aberto. Pela primeira vez o público comum assistiu de perto o que antes era proibido - aos bastidores de tecidos e passarelas. Promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e sob a curadoria do renomado estilista Ronaldo Fraga, o evento foi uma explosão de cores vibran-

tes. Entre os desfiles aclamados, a marca Skazi apresentou peças imponentes e modernas. Patricia Motta se baseou em modelagens dos anos 1960, geometrismos e nos 4 elementos da natureza; e Raquel de Queiróz, com suas capas brilhantes, plumas e franjas, uma temática lúdica expondo flores, borboletas e muita transparência. É exatamente nesse contexto, entre passarelas e modelos, criadores e criações minimalistas, que somos reafirmados da grandiosidade artística da moda como expressão pura, intensa. “Moda não é intuitiva, é

50% business”, afirmou Walter Rodrigues, coordenador do núcleo de pesquisa Inspira Mais e icônico estilista brasileiro, “É metade bom gosto, metade bom negócio”. A moda está sempre em transformação e sua face atual necessita da “mentalidade design”, em que o bem-estar deve estar acima do vanguardismo. O consumo consciente está em pauta, o consumidor está mais reticente e menos impulsivo e os produtos devem interagir com tal panorama - devem encantar e transmitir otimismo como rebelião cultural, devem se mostrar como um

Modelagens fluidas e cores fortes marcam os desfiles organismo vivo. As marcas estão se reinventando. Os jovens millennials, que em breve terão o maior poder de compra global, sendo a maior geração do mundo, exigem essa mudança. A moda deve ser transparente e ética.

Além disso, com o impacto das redes sociais, o risco de não ser sustentável e ser exposto é maior, uma mancha no histórico atinge diretamente o mercado da moda - há uma queda no lucro e na credibilidade. O antigo “fast fashion” é

Crédito: Ana Staut

Solarizar, Oxigenar, Diversificar, Viajar e Sensualizar. Crédito: Stéfanie Xavier

Modelo no desfile aberto usando roupas leves e rosadas

Somos reafirmados da grandiosidade artística da moda como expressão pura e intensa. Modelo em passarela com vestido da grife Skazi

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Moda • 05

Editor(a): Ana Staut / Diagramador(a): Ana Staut

O Ponto

Modelo exibindo brilho e acessórios extravagantes durante desfile aberto proposto pelo Minas Trend Ricardo dos Anjos preparando modelos antes dos desfiles

O estilista Victor Dzenk em entrevista para O Ponto

Crédito: Millu Yoshida

Crédito: Millu Yoshida

Crédito: Millu Yoshida

prejudicial ao meio ambiente, apesar de ser mais barato. Soluções criativas são a moda do momento. Um desfile coletivo também se destacou. Moldado pela literatura e inspirado na fantástica obra de Graciliano Ramos “Vidas Secas”, uma história de superação de uma família no contexto do Sertão Nordestino, as marcas Aquas Beachwear, Alana Tenório, Caleidoscópio, Carol Paz, Estúdio Monteferro, Endy Mesquita, Leila Monteiro, Maneka, Manu Mortari e Sandra Cavalcante, sob a coordenação de Davi Leite, trouxeram bordados, patchworks, tramas, nervuras e jacquards em cores preto, branco, vermelho e dourado. Outro fator de destaque foram as modelos que desfilaram para tais marcas. Corpos de tamanhos diferentes, cabelos com suas texturas únicas e tudo fora do padrão. Seria essa a nova marca do Minas Trend? Todas as maquiagens do desfile foram assinadas por Ricardo dos Anjos, que se inspirou em direções distintas para cada grife. Além disso, celebridades como Rogério Flausino, cantor da banda Jota Quest, e Elba Ramalho abriram desfiles com suas apresentações carregadas de emoção e beleza. O salão de negócios, localizado em um imenso espaço no Expominas, contou com marcas tradicionais e ainda inovadoras. O estilista Victor Dzenk, que já vestiu as famosas Camila Pitanga, Preta Gil e Luiza Brunet, e participou de todas as edições do Minas Trend, exibiu uma coleção viva, com cores neon e body cavados, tanto casuais quanto luxuosos. Durante todo o evento, uma feira gastronômica esteve presente. Cervejas artesanais, coquetéis, fish and chipsum prato de peixe com batata chips, feijão tropeiro, burritos e pão de queijo de recheios variados. Através da diversidade de temperos e receitas, a conexão entre referências culinárias e o mundo fashion alcançou seu objetivo - mostrar as interfaces da arte em paladar e moda. Em entrevista ao Ponto, Ronaldo Fraga, diretor criativo do evento, demonstrou sua paixão pela moda e pelo cenário mineiro. Apostou no formato de inclusão dos desfiles abertos, nas marcas apresentadas e na temática explorada. O ano 2019 se mantém pautado para abordar diversidade em suas variadas formas, e, na moda, ela é expressa pelas texturas, cortes, passarelas e modelos. É a materialização da arte em mercado têxtil. Minas Trend é tudo que prometeu: solarizar, oxigenar, diversificar, viajar e sensualizar.

Belo Horizonte, junho de 2019 Crédito: Ana Staut

Jota Quest na abertura do desfile da marca Skazi

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06 • Política

Editor(a): Ana Staut / Diagramador(a): An

Belo Horizonte, junho de 2019

O Ponto

“Mar de lama nunca mais”é aprovado na ALMG depois de três anos em discussão Foram necessários os desastres ambientais e humanos de Mariana e Brumadinho para o projeto de lei ter sua tramitação finalizada, acolhendo sugestões da sociedade civil Créditos: Felipe Werneck / Divulgação: Ibama

O rompimento da barragem de Mariana, ocorrido há três anos, causou o maior desastre ambiental do país

“Infelizmente, vivemos em um país onde acreditamos que é necessário um desastre, ou um crime, ou uma tragédia acontecer para que sejam tomadas atitudes” Deputado João Vitor Créditos: Vinícius Mendonça / Divulgação: Ibama

A barragem que se rompeu rm Brumadinho, tinha como finalidade o depósito de rejeitos de minerio

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Luiz Felipe Fonseca da Costa 3º período Foi preciso que a tragédia de Mariana se repetisse em Brumadinho para que a ALMG finalizasse a tramitação do projeto de controle da atividade de mineração em Minas Gerais. Se as dimensões das tragêdias foram muito diferentes, revoltou a todos a repetição do nome da empresa responsavél por elas foi a mesma: a Vale. O total de vidas ceifadas em janeiro deste ano em Brumadinho alcançou 244 mortos e, ainda, 26 desaparecidas, segundo dados da Defesa Civil estadual. Elas podiam estar hoje, trabalhando, com suas famílias. Em janeiro de 2016, o projeto de lei n° 3676/2016, redigido pela Comissão Extraordinária de Barragens, estava na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais para ser votado pelos deputados. Quando o projeto chegou na Comissão de Minas e Energia, o relator daquela Comissão, o Deputado Estadual João Vitor Xavier, optou por não apenas mudar algumas questões, mas acrescentar vários pontos, que segundo ele, trariam maior segurança para a população do Estado. Para isso foi apresentado um substitutivo ao projeto de lei original, com o acolhimento de muitas propostas apresentadas por mais de 50 Organizações Náo-Governamentais (ONG’s) ambientais, Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esse crime não prejudicou apenas o município de Brumadinho, ou as famílias que perderam seus entes mais próximos. Este foi um crime que prejudicou o Estado de Minas Gerais e milhões de trabalhadores. O impacto social foi enorme: o número de pessoas que tiveram de ser evacuadas de suas casas, por causa do rompimento da barragem, ou que ficaram feridas, ou que estão desempregadas, ultrapassa o número de 20 mil. O impacto ambiental, é alarmante. Foram pelo menos 125 hectares de florestas perdidas, o equivalente a mais de um milhão de metros quadrados. Um dano que será sentido durante muitos anos. A lentidão do processo legislativo foi enorme. Apenas em 2018 o projeto foi votado na Comissão de Minas e Energia. João Vitor Xavier (Cidadania), foi o único a votar a favor do relatório. Tadeuzinho (MDB), Thiago Cota (MDB) e Gil Pereira (PP), votaram contra, fazendo com que o relatório fosse

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Política • 07

amador(a): Ana Staut e Lizandra Andrade

O Ponto

Belo Horizonte, junho de 2019

“Mar Sem Lama é o nome do projeto de lei que visa melhorar a segurança da mineração em Minas Gerais rejeitado, alegando que inviabilizaria a mineração no Estado. Após muitas reuniões, debates, encontros, algumas modificações e muita pressão pública, o projeto de n°3676/2016, se tornou o “Mar de Lama Nunca Mais”, aprovado de forma unânime em 22 de fevereiro de 2019. O Ponto esteve com o Deputado João Vitor Xavier, em seu gabinete na Assembleia Legislativa que concedeu a seguinte entrevista: O Ponto: Há muito tempo que o senhor já alertava sobre as condições das barragens do Estado. Como o senhor entrou no projeto “Mar de Lama Nunca Mais”? Deputado: Durante o período de traCréditos: Reprodução

Deputado João Vitor Xavier

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mitação do projeto, ele também passou pela Comissão de Minas e Energia, que presidia naquele momento. Tínhamos uma manifestação pública do Ministério Público, de ONGs de atuação ambiental, além do Ibama, por meio da Superintendência do Estado, de que o projeto que chegava na Comissão não atendia a todas as demandas de segurança para as barragens. Trabalhamos, então, de forma coletiva, para construir um projeto que atendesse às demandas do Estado. O Ponto: Houve um hiato de 3 anos entre o crime ocorrido em Mariana, para o crime ocorrido em Brumadinho. Para o senhor, qual o motivo dessa longa demora para que medidas como o projeto fossem tomadas? Deputado: Nesse período, a Assembleia perdeu uma grande oportunidade de se aproximar da sociedade civil e aprender com os erros que levaram ao rompimento da barragem de Bento Rodrigues, em Mariana. Seria um grande avanço, uma forma desafiadora de fazer com mais técnica e com maior tecnologia, com respeito a dignidade humana e a natureza. Já existem em Minas Gerais mineradoras que usam o rejeito sólido. A própria Vale tem em algumas de suas minas. Mas há uma influência muito forte das mineradoras. Durante décadas o setor de mineração estruturou o discurso de maneira consistente e organizada, o que acabou sendo aceito pela maioria. Eles queriam operar no modelo que estavam até a aprovação da lei, pois era mais vantajoso financeiramente, a margem de lucro era maior. E este desejo de lucrar foi o que impediu que o substitutivo fosse aprovado em julho de

2018. Preferiam aumentar a margem de lucro a aumentar a margem de segurança, colocando em risco a vida das pessoas e o meio ambiente.” O Ponto: Algumas leis e normas já existiam antes do crime ocorrido em Brumadinho e a Vale descumpriu vários, resultando neste número tão elevado de vítimas fatais. Por que a população pode acreditar que, mesmo com o projeto “Mar de Lama Nunca Mais”, será diferente desta vez? Deputado: “Não dá para voltar ao passado para mudar tudo que deveria ter sido feito e não foi. Acredito que a fiscalização de todos seja esse diferencial. Não podemos aceitar que o que ocorreu em Mariana e Brumadinho volte a acontecer. Temos que cobrar do Estado e da União que a lei seja cumprida. Ainda levaremos alguns anos para termos 100% do que precisamos. Mas demos um passo fundamental com a aprovação e sanção da lei. O Ponto: Após a aprovação do substitutivo, houve proposições de que este projeto deveria ser usado como base para leis federais. Como o senhor recebe este reconhecimento? Deputado: Sinal de que as ideias que apresentamos são justas e corretas, diferente do que alguns defensores do setor tentaram combater durante os últimos meses. Esse é o resultado da união de várias forças. Durante oito meses, convivemos com os promotores que cuidaram do caso de Mariana e absorvemos ao máximo todo o conhecimento que eles tiveram diante da tragédia. Acolhemos todas as suges-

tões apresentadas pelo Ibama. Contamos com o trabalho da equipe técnica da Assembleia. Dialogamos com ONGs que representam os movimentos de atingidos, de moradores do entorno de barragens, movimentos ambientais e sociais. Tivemos ainda a participação direta da sociedade e da comunidade. O meu papel nesse processo foi de mediar todos os setores e apresentar essas ideias. O Ponto: Como o senhor se sente hoje, com a aprovação de forma unânime, do projeto? Deputado: “É uma mistura de sentimentos. O primeiro é um alívio de dever cumprido e também um sentimento de que não há nada para comemorar. Tivemos quase 300 pessoas mortas em Brumadinho, porque há décadas, o Poder Público de Minas não tomou a decisão que tomamos agora com a aprovação da lei. O projeto “Mar de Lama Nunca Mais” é um marco para o setor em nosso Estado.Com a ajuda do povo, vencemos o poderoso lobby das mineradoras. Infelizmente, vivemos em um país onde acreditamos que é necessário um desastre, ou um crime, ou uma tragédia acontecer para que sejam tomadas atitudes. Desta vez, batemos um recorde infeliz. O desaparecimento de Bento Rodrigues do mapa do Estado, com 19 mortes em 2015 não foi suficiente. Que tenhamos mais coragem para cobrar por medidas que tenham como objetivo evitar crimes ambientais e humanos, ou por maior agilidade na punição dos envolvidos, de forma exemplar e justa. Minas Gerais sobreviverá a esta mineração!

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08 • Cidades

Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

Belo Horizonte, junho de 2019

O Ponto

Segurança na Fumec, como melhorar? Alunos e comerciantes relatam suas histórias sobre o medo que enfrentam diariamente no entorno da Universidade

Créditos: Lizandra Andrade

Mesmo sendo um local bem movimentado por estudantes e professores, isso não impede que os criminosos ajam

Localizada no bairro Cruzeiro, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, no alto da avenida Afonso Pena, a Universidade Fumec está na 4° posição no ranking de melhores Universidades privadas do Brasil, segundo o RUF - Ranking Universidade Folha -, divulgado em 2018. Embora esteja em uma região valorizada e de alto índice de urbanização, os alunos da instituição de ensino superior são alvos de criminosos que não se intimidam nem mesmo com a movimentação

“Eles mandaram a gente deitar e disseram que, se nós levantássemos, iriam atirar e tudo mais” Guilherme Maciel

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intensa de pessoas, carros e moradores da região, seja durante o dia ou a noite. “Na minha opinião, nós, estudantes de uma forma geral, somos os mais visados, pois dependemos muito de tecnologia e essas pessoas (criminosos) sabem que, talvez, estamos portando um computador, quase certo que tenhamos um celular, e isso é o alvo deles”. Essa afirmação vem do ex-estudante de Negócios Internacionais, Guilherme Maciel, de 30 anos. “Tudo ia bem, até que, no final do primeiro período do curso, no segundo semestre de 2017, sofri um assalto nas proximidades da Universidade e desde então nunca mais me senti seguro nas redondezas”, completou. O jovem, que até então estudava pela manhã, contou que foi abordado por dois rapazes na chegada na Universidade, por volta das 8h da manhã. Ele, que vinha de ônibus, disse que toda a ação aconteceu na rua Oliveira, mas não estava sozinho. “Quando comecei a subir a rua, vi que tinha mais um rapaz que estava estacionando o seu carro e um pouco à frente tinha outro car-

ro estacionado com os faróis acesos. “Quando estávamos passando ao lado desse carro (dos faróis ligados), dois caras saíram, um apontando a arma para mim e o outro abordando o outro estudante”, relembrou. O ex-estudante ainda conta que a ação foi rápida, mas foi tempo suficiente para eles viverem momentos tensos. “Eles mandaram a gente deitar e disseram que, se nós levantássemos, iriam atirar e tudo mais”, contou. Após esse episódio, os criminosos levaram as mochilas com os cadernos, documentações pessoais, celulares, além do carro do outro estudante. No mesmo dia, as vítimas puderam entrar na Universidade sem identificação para avisar os professores e, em seguida, fizeram um Boletim de Ocorrência. “Não resolveram muita coisa, fiz o B.O e me ajudou mais na parte de tirar os novos documentos e, quando fui solicitar um novo crachá de acesso, o B.O não me isentou de uma nova taxa. Três semanas depois me ligaram dizendo que haviam encontrado minha mochila, toda molhada, em um terreno no Morro do

Papagaio”, disse. Não há câmeras de segurança no entorno da Fumec e a não instalação do equipamento foi uma decisão do próprio Governo do Estado, em 2013, que não considerou importante ter câmeras de vigilância na região. Esse equipamento, de alguma forma, poderia ter ajudado na identificação dos

infratores. “Eu não sei se teria algum efeito se eu tivesse relatado formalmente para a Reitoria. Imagino que não. No último semestre que cursei, percebi que na chegada da noite costumava ter policiamento na porta da Fumec e, de vez enquanto, havia um grupo de policiais na avenida do Contorno. Eu acho que a seguran-

Créditos: Arquivo pessoal

Lizandra Andrade 7º Período

Raquel Gonçalves já foi perseguida até o ponto de ônibus

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Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

O Ponto ça em volta não depende muito da Universidade, porque eu não sei se ela pode solicitar um policiamento e câmeras de segurança”, finalizou. Aulas noturnas e o comércio local Com pouco policiamento, para os alunos e comerciantes que estão no local à noite, a sensação de insegurança é maior. A estudante de Relações Públicas, Raquel Gonçalves, de 22 anos, nos contou que já passou por uma situação difícil, como a de ter sido perseguida da saída da instituição, por volta das 22h, até o ponto de ônibus. “Notei que tinha um rapaz andando atrás de mim, tratei de andar rápido até o ponto. Chegando lá, encontrei com alguns amigos e vi que o rapaz andou para o outro lado. O bom é que tem mais gente no ponto, mas a sensação de insegurança nunca sai, porque eu também não sei nada sobre as pessoas”, contou. Além disso, a estudante também vivenciou situações de medo com suas amigas. “Já aconteceu de eu acompanhar uma amiga até o carro e encontrá-lo todo aberto, sem bolsa e alguns itens pessoais. Graças a Deus nunca aconteceu nada comigo, mas sempre dá medo até porque a Fumec não é bem iluminada e nem protegida”, disse. Os comerciantes também sofrem sérios riscos à noite. A atendente e caixa, Josiane da Silva, que trabalha há 18 anos em um carro de fast food da família, bem em frente à universidade, disse que já viu alunos serem abordados em frente ao seu comércio, mas, infelizmente, não pode fazer nada. “Teve uma moça que outro dia foi assaltada ali na esquina. Levaram o celular dela”. Além disso, ela contou que já teve prejuízos em seu negócio, pois durante uma madrugada seu veículo foi arrombado, mas eles não chegaram a fazer Boletim de Ocorrência. Para promover mais segurança, a estudante Raquel sugere que a Universidade faça reforço na fiscalização local. “Acaba que, infelizmente, não tem muito o que a Fumec pode fazer, mas acho que poderia reportar melhor esses casos para ver se a fiscalização melhora em torno da instituição”, finalizou. Segurança Interna Por entender que a Fumec é uma instituição privada e que não é papel do Estado cuidar de sua segurança, em 2013, o Governo do Estado vetou a colocação de câmeras de segurança do projeto Olho-Vivo nos arredores da Universidade. Segundo o professor Fernando da Cruz Coelho, que é

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Belo Horizonte, junho de 2019 Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão da Segurança Privada a distância da Faculdade de Ciências Empresariais (FACE - Fumec), no que se refere ao segmento da segurança privada, que é aquela que visa preservar a incolumidade física de pessoas e instalações nos ambientes internos de cada organização, “a Fumec possui o Setor de Segurança Patrimonial, para exercer o controle de acesso e proporcionar a proteção de alunos, professores, funcionários e visitantes, bem como de suas instalações, como laboratórios, bibliotecas, equipamentos, salas de aula, etc…”, disse. Então, no que se refere a segurança interna, o professor destaca a sala de controle e monitoramento, por intermédio de câmeras de vídeo instaladas nas portarias de acesso e áreas comuns do campus, corredores e laboratórios das unidades de ensino. Elas podem ser acessadas por qualquer aluno, quando ele for vítima de alguma infração dentro do campus. Além disso, desde 2009, foram instaladas catracas com sistema de identificação individual de entrada e saída de usuário. Isso tem sido de grande auxílio para tranquilidade deste ambiente universitário”, completou. Nos limites de suas funções, coube à Polícia Militar de Minas Gerais aumentar o efetivo na região externa. Para isso, o professor também destacou outros projetos que vêm atuando desde 2009 em parceria com a polícia e a comunidade, são eles a elaboração e difusão de dicas de segurança para toda comunidade acadêmica e local. Além disso, existe o programa Universidade Extra Segura em parceria com o setor de Segurança da FUMEC e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), que divulga os alertas preventivos necessários à toda comunidade acadêmica, por intermédio do aplicativo WhatsApp. Em relação aos casos em que não houve o registro de Boletim de Ocorrência, o professor orienta para que a vítima, imediatamente, faça o registro, pois assim ajuda e facilita tanto nos procedimentos da polícia, quanto na ação da instituição. “Não registrar o boletim de ocorrência em situações dessa natureza é um equívoco. São os boletins de ocorrência que orientam os órgãos de segurança pública a direcionar as suas ações de maneira contundente ou não. Se as pessoas, vítimas de violência, não registrarem, e não passarem dados a respeito do delinquente, esse continuará a praticar o crime no local”, finalizou.

Créditos: Lizandra Andrade

Qualquer aluno pode ter acesso as câmeras de segurança no prédio da FACE

E a segurança externa... Créditos: polícia Militar de Minas Geris / Divulgação

A Fumec tem parceria com a 127º Companhia da Polícia Militar de Minas Gerais O Ponto entrevistou o Tenente Cristiano Beltrão de Matos para entender melhor como é realizada a segurança em volta da Universidade 1) O que a polícia tem feito para promover a segurança em torno da Universidade? Tenente Beltrão: Há o lançamento de policiamento preventivo no bairro Cruzeiro que inclui as imediações da Faculdade FUMEC. Todo o policiamento é lançado a partir de estudos, estatísticas e pesquisas de sensação de segurança. O policiamento é feito de forma motorizada por Motopatrulhas e Viaturas. Além do policiamento preventivo, há diariamente o lançamento de operações policiais que contam com Blitz, pontos de visibilidade. A poucos metros da Faculdade, há a instalação da Base de Segurança Comunitária que serve de apoio á população e tem contribuído sobremaneira para a redução

criminal. Em ações em que há necessidade de apoio, temos a cooperação dos serviços especializados da PM. 2) Como é feita a integração com Universidade FUMEC? E com a comunidade? Tenente Beltrão: Mensalmente são realizadas reuniões comunitárias com diversos seguimentos da comunidade, que visam, dentro da doutrina de Polícia Comunitária, a aproximação da comunidade para elaboração das melhores estratégias de policiamento. Especificamente com a universidade, há um contato estreito com a equipe de segurança da instituição, o que contribui bastante com troca de informações, possibilitando um atendimento mais célere. Há realização de reuniões e palestras direcionadas a medidas de autoproteção tanto para funcionários, quanto para alunos.

3) Quais dicas a PM sugere para os alunos não correrem riscos, seja na chegada ou na saída da Universidade? Tenente Beltrão: É importante sempre observar à sua volta pessoas com atitudes suspeitas. Ao andar pela rua, evitar mexer no celular, que, além de chamar atenção do infrator, tira a atenção do que está acontecendo ao seu redor. Se precisar usar o celular, entre em um estabelecimento. Evitem locais desertos e escuros e procure se deslocar em companhia de mais pessoas. Mantenha uma distância segura de pessoas suspeitas, acima de 50 metros; se preciso mude o trajeto. Ao estacionar veículos na rua, não deixar nenhum pertence à vista e, sempre que avistar algo suspeito, ligue para o 190 e passe o máximo de informações possível, como vestimenta, características físicas, placas, modelo e cor de veículos.

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Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

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O Ponto

Kpopper’s: a alma do pop coreano Conheça os diferentes estilos de fãs do gênero musical asiático Créditos: Blog LG JeonJin

Fãs no show da turnê mundial do grupo BTS ‘Love Yourself ’ em Los Angeles Créditos: Arquivo pessoal

Ana Paula é estuda direito e kpoper desde 2017, mas também escuta outros gêneros

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Rebecca Soares 3º Período “Muita gente acha um absurdo, mas não me importo com a opinião dos outros e respeito, mas exijo respeito também!”, explica Luciene Mello, recepcionista e residente do município de Poços de Caldas, na região Sul de Minas Gerais, quando questionada sobre o que responde quando a indagam sobre a sua capacidade de gostar de K-Pop. Isso porque ela é uma fã dos músicos asiáticos aos 44 anos de idade. Luciene é uma das centenas de milhares de fãs de K-Pop, um grupo de mísica pop sul-coreano, e com o mesmo perfil: mulheres adultas, mães e profissionais do mais diversos campos de atuação. Ao contrário do que muitos pensam, um dos maiores maiores produtos de exportação da Coreia do Sul não atrai somente o interesses de meninas de 12 anos no auge da adolescência, os fãs são atraídos não só pelo som do K-Pop, mas também pela beleza dos artistas do gênero, chamados de “Idols”. Esses kpopers, como são chamados os fãs e as fãs do estilo, podem ser desde uma criança de oito anos ainda no primário, até uma recepcionista de 44 anos de idade como é o caso de Luciene Mello. O quadro de fãs do K-Pop é muito vasto e numeroso. E eles não apreciam somente o K-Pop, são fãs de outros artistas tanto nacionais quanto internacionais. Luiza Reis, 22, que é estudante de direito em Belo Horizonte, começou a gostar de K-Pop em 2014. Entretanto, também escuta rock, como o metal sinfônico da banda holandesa Epica e o heavy metal das bandas Sepultura, Iron Maiden, Megadeth, Metallica, Marilyn Manson, entre outras. E ela não está sozinha, pois a auxiliar de Recursos Humanos Yara de Oliveira, 20, moradora de Lagoa Santa, na região metropolitana de Belo Horizonte, conheceu o K-Pop em 2009, mas ainda escuta rock, reggae e indie. Já a dona de casa Cecília Ferreira, 42, de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, é eclética e além do gênereo musical coreano, ela escuta o rock do Guns N’ roses, o

sertanejo da Marília Mendonça, o samba e pagode do Raça Negra, o axé da Ivete Sangalo, o cantor italiano Pepino di Capri, e a estadunidense Ariana Grande. Cecília Ferreira explica que também conhece música francesa e italiana, o que, segundo ela, lhe proporciona uma certa facilidade para mostrar que a música do o kpop é como outra qualquer. “Eu não sei inglês, mas gosto de música em inglês, porque não gostaria do som coreano? Música não tem fronteira, o que importa é o sentimento que ela te passa”, frisou a carioca. Fã de Bon Jovi há mais de três décadas, Priscila Pereira, 45, uma micropigmentadora da cidade de Búzios, no Rio de Janeiro, explica que estranhou o gênero quando o conheceu por meio da filha adolescente. Todavia, ela relata que o grupo que acompanha, o BTS, chegou em sua vida num momento complicado, quando havia terminado um casamento de 23 anos. “Eu posso te falar que o BTS teve um papel relevante na cura da minha da depressão, claro que somando com outros fatores”, afirmou. Mas o que o K-Pop tem de tão único que consegue alcançar um público tão eclético? A mineira Luciene ressalta que “as letras que eu ouço, na maioria das vezes, são de incentivo, de correr atrás dos sonhos, falam de amor e, ao contrário de muitas músicas nacionais, não “denigrem” as pessoas, as mulheres e os relacionamentos. Falam de respeito e alegria!” Já a confeiteira de 47 anos, Angela Barcelos, residente em Viamão, no interior do Rio Grande Sul, diz que “as canções de grupos como BTS e Stray Kids têm letras que traduzem os sentimentos, seja de alegria, amor e esperança, quanto de crítica social, mesmo não compreendendo o idioma, elas tocam o coração.” Além disso, para traçar um retrato tocante e intenso de como o K-Pop impacta a vida de seus fãs, a estudante de história Daniella Viana, 17, relata que, quando conheceu as músicas do BTS, ela não estava em um período muito bom de sua vida. “Eu estava e estou passando por ansiedade, depressão, crises de pânico, surtos de

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Cultura • 11

Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

O Ponto mos hoje em dia”, diz. Para a jornalista, música é cultura independente de sua língua. “O mundo está tão acostumado em consumir o que é ‘pré-aprovado’ pelos Estados Unidos, que invalida tudo que não venha ou siga um padrão de lá. Não é só sobre o coreano. O K-Pop está mais em pauta ou à vista por causa do boom do gênero, assim como aconteceu com a música latina há alguns anos, mas quantas pessoas conhecemos que ouvem música francesa? Ou angolana, indiana, italiana e tantas outras pelo mundo?”, questionou Bressani. São diversas as maneiras pelas quais o gênero sofre com o preconceito, e quando Luiza Reis é indagada sobre ser diminuída a uma simples tiete superficial porque é mulher e gosta de K-Pop ela comenta que parece que as pessoas precisam que algo tenha aprovação masculina para que tenha credibilidade. “Se o público é majoritariamente feminino, é automaticamente de pior qualidade, infantil quase, e as mulheres que gostam deste conteúdo são as histéricas, desmioladas e que só gostam daquele conteúdo porque os meninos (falando especificamente de grupos só com inCréditos: Arquivo Pessoal

Angela Barcelos exibe suas almofadas do grupo favorito

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tegrantes homens) são bonitos e nem sequer entendem a língua que está sendo falada”, pontua Reis. “Mas felizmente são mulheres conscientes dos seus interesses, que têm a capacidade de fazer juízo de valor e discernir quando algo genuinamente atrai seu in teresse.”, diz Luiza Reis. Já a belo-horizontina Ana Paula Gomes, de 21 anos, destaca que “isso é algo que acontece com qualquer mulher que é fã de algo. E o pior é que isso nem é voltado apenas para as mulheres que são fãs de bandas, cantores, entre outros”. Ana Paula destaca o fato de que uma de suas melhores amigas é muito fã de futebol e tem até um site apenas sobre futebol e várias vezes foi desacreditada por homens que perguntavam coisas como: “ah, o que é impedimento?. “É ridículo. Também sou grande fã de cultura pop e várias vezes eu tive que ouvir homens me falarem que eu não sabia nada, que estava errada. Além disso, às vezes, ainda julgam as meninas que são fãs de kpop e colocam como justificava que eles são viadinhos, o que é absurdamente preconceituoso”, salienta. “Eu sou apenas fã! Não estou fazendo nada de errado! Se os homens podem ficar uma vida todo gastando dinheiro com outros homens que correm atrás de uma bola, por que eu também não posso ser fã de um determinado tipo de música?”, indaga. Mesmo com inúmeros preconceitos que parecem ser intrínsecos na sociedade ocidental, isso não impediu grupos como o BTS conquistar o título de Top Social Artist na Billboard nos Estado Unidos da América do Norte durante três anos seguidos e o primeiro prêmio Top Duo/Grup Award neste ano. Também não impediu grupos como EXO e GOT7, que receberem indicações para concorrer o prêmio de Top Social Artist Award da Billboard. Além disso, o grupo feminino Blackpink, também do gênero k-popper, se apresentou no festival de música norte-americano Coachella. Para muitos pode ser algo trivial uma nominação para um prêmio estadunidense, mas isso significa que o K-Pop pode ocupar o atual mainstream da música ocidental mais cedo do que muitos imaginavam por se tratar de um gênero asiático. Entretanto, ter liberdade de curtir um gênero musical e não ser julgado e ofendido por causa disso deve ser algo natural e não necessita ser uma consequência da aceitação do gênero pelo ocidente. E isso é simplesmente algo a mais, não o fator principal para gostar do gênero.

O que é K-pop? K-Pop é a música popular sul-coreana e a sua abreviação vem da expressão korean pop. Esse gênero musical surgiu na década de 1990 e foi configurado por uma vasta diversidade de elementos audiovisuais e, sutilmente, recebe influências do pop britânico e pop americano. O estilo atual desse ritmo é resultado de mais de três décadas de evolução. Nesse período, muitos erros, acertos e estilos artísticos se desenvolveram e hoje o K-pop promove um dos maiores movimentos artísticos do planeta. Como produto, o gênero conseguiu se transformar em uma indústria multimilionária que vem chamando a atenção de várias pessoas ao redor do mundo. Os adeptos do gênero são chamados de “Kpopers” e costumam dividir o processo de evolução do K-Pop em duas formas, gerações e eras. A primeira, gerações, é dividida em décadas e seu início compreende os anos 1990 a 2000. O segundo período vai de 2001 a 2010 e momento atual vem desde 2011. Acre-

dita-se que a quarta geração vai se iniciar em 2020. Já outros fãs costumam dividir os momentos de evolução do K-pop em eras e acreditam que isso aconteceu a partir do momento em que as influências, como adição de línguas estrangeiras nas músicas, danças e estilos de vídeo clipes se tornaram evidentes nas canções, ou seja ,quando houve uma renovação de conceitos musicais. Para esse momento, são caracterizados cinco eras, também iniciadas na década de 1990. O que prova o impacto desse gênero musical é o faturamento gerado para o país. De acordo com os dados do último levantamento da Fundação Coreana para o Intercâmbio Cultural Internacional, financiada pelo Ministério da Cultura, Esporte e Turismo da Coreia do Sul, somente em 2017 foram cerca de US$ 18 bilhões de dólares, equivalente a R$ 70 bilhões, injetados na economia, e a tendência é de que haja um aumento, não apenas na industria do entretenimento, mas também no setor de turismo.

Créditos: Blog Noroo / Divulgação

bipolaridade e automutilação. E através da música deles, e das mensagens de amor próprio que eles tanto divulgam, eu posso dizer que eles salvaram a minha vida”, afirma. “Eu não posso dizer que eu me amo completamente, mas eles me ensinaram a pelo menos gostar de mim mesma. O amor-próprio é algo que ainda está em construção em mim. Então, pode parecer estranho, mas as músicas deles me dão forças para aguentar mais um dia, para suportar mais uma tristeza, para superar mais uma crise.”, complementa Barcelos. Quando questionada sobre a “barreira” da linguagem a mineira Luiza Reis diz achar que a linguagem é uma barreira que, na atualidade, “principalmente no contexto da música, não faz o menor sentido, com a internet você consegue traduzir tudo”. Compartilhando da mesma ideia, a Jornalista Giulia Bressani, 24, faz uma comparação com os gêneros que vêm de fora. “É um absurdo a gente se fechar para o que não conhece simplesmente com a desculpa de que não entende. Música não é só sobre a letra, se fosse com certeza não teríamos metade dos hits que te-

Belo Horizonte, junho de 2019

O grupo feminino de Kpop Twice surgiu em 2015

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Editor(a): Ana Staut / Diagramador(a): Ana Staut

Belo Horizonte, junho de 2019

O Ponto

DIAGNÓSTICO DOS MINEIROS Após o fim dos estaduais e a conclusão das quatro primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, as duas locomotivas da capital mineira começam a dividir ainda mais as atenções para o restante da temporada.

Daniel Fangundes 2º período A parte alvinegra torcedora do Atlético em Minas Gerais tem dúvidas e inseguranças em relação ao elenco atleticano que vêm desde o início do campeonato regional. Embora tenha vencido as três primeiras rodadas do Brasileiro, em confrontos contra Avaí, Vasco e Ceará, a equipe comandada pelo até então interino Rodrigo Santana não conseguiu manter a liderança do campeonato com a dura derrota sofrida diante do Palmeiras, no Mineirão, pelo placar de 2 a 0. Com o revés, o Galo perdeu a primeira colocação para o próprio Palmeiras, e claramente mostrou que o time precisa de melhorias para disputar a ponta da tabela com outros grandes do Brasil. Agora a equipe

alvinegra volta as atenções para outro campeonato: a Copa do Brasil. Já a equipe da toca da raposa vem protagonizando, até aqui, o momento de maior desconfiança na temporada. O time celeste, embora tenha levantado o título mineiro em abril, deixou escapar o posto de melhor time da Libertadores após perder para o Emelec, no Mineirão, pela última rodada da fase de grupos e não fez boas atuações nos primeiros jogos do Campeonato Brasileiro, principalmente diante de Flamengo e Internacional, onde acabou sendo derrotado em ambas as partidas pelo placar de 3 a 1. A equipe celeste, que vinha sendo cotada como favorita às grandes competições deste ano, apresentou uma queda de rendimento nos últimos confrontos e busca reencontrar o bom futebol para as fases decisivas da Liberta-

Jogadores do Cruzeiro comemorando a vitória do Brasileiro em 2014

O que se espera, tanto os cruzeirenses, quanto os atleticanos, é que os times recuperem a força de seu futebol.

Crédito: Portal dos Distritos / Reprodução

Cruzeiro não foi bem mais uma vez jogando fora de casa no Brasileirão

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Créditos: Douglas Magno

Créditos: Conmebol Libertadores

Atlético Mineiro levantando a taça da Libertadores em 2013

dores e da Copa do Brasil. Alvo de um escândalo financeiro, o Cruzeiro vem sendo investigado pela Polícia Civil por irregularidades em transações ilegais de jogadores com empresários não cadastrados pela CBF, cessão de direitos econômicos de jogadores de base, abaixo da idade permitida, e esquemas de pagamentos irregulares para torcidas organizadas.O presidente do time Wagner Pires de Sá rebateu as acusações. Atlético e Cruzeiro começaram a temporada 18/19 com grandes ambições e expectativas para conquistar grandes troféus. O alvinegro, mesmo com a eliminação precoce na fase de grupos da Copa Libertadores, já apresentou certa evolução em relação ao time que era antes treinado por Levir Culpi, e ainda tem uma chance de erguer um troféu continental neste ano. Com o

Cruzeiro não é muito diferente. A raposa fez grandes apostas para 2019, terminou a fase de grupos da Libertadores como segundo melhor colocado geral e tem retrospecto bem positivo em torneios eliminatórios sob o comando de Mano Menezes, visto as duas últimas edições de Copa do Brasil. Além disso, ainda tem elenco para brigar pelas primeiras posições do Campeonato nacional, a exemplo de seu rival. Apesar de tudo, o desempenho esportivo é sempre um retrato do momento. É assim também com as grandes equipes esportivas do futebol. O que se espera, tanto os cruzeirenses, quanto os atleticanos, os times recuperem a força de seu futebol. E que voltem a erguer grandes troféus, e encantar o Brasil e a América do Sul como em anos recentes e em outros tempos ao longo de sua história. Crédito: Cesar Greco / Reprodução

Galo foi derrotado pelo Palmeiras em pleno Mineirão

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