Jornal O Ponto (nº 109) - Novembro de 2019

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Ano 19

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Número 109

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Novembro de 2019

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Belo Horizonte / MG

Distribuição gratuita

Créditos: Funed / Reprodução

Funed

Saúde Saiba quais são as vacinas e medicamentos fabricados pela Funed para fortalecer as políticas de Saúde Pública em Minas

Pág. 04 e 05

Créditos: Felipe Arco / Arquivo Pessoal

Créditos: Phillippe Huguen / AFP

Perfil

Futebol Feminino

Cultura Esporte A arte de rua vai além da beleza. Conheça um pouco A melhor representante do futebol feminino da história de Felipe Arco e do profeta Gentileza nacional Marta, inspira várias garotas mineiras Pág. 08

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02 • Opinião

Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

O SÍNODO E O CISMA

A Igreja Católica em erupção João Eduardo 8º Período O Sínodo da Amazônia, reunião entre bispos da Igreja Católica que atuam na região da maior floresta do mundo, está previsto para começar na segunda quinzena do mês de outubro em Roma, e já gera protestos do grupo conservador da instituição. Há alguns dias, em entrevista a um jornal da Itália, o Papa Francisco afirmou “rezar para que um cisma não aconteça”, mas também disse “não ter medo”. A fala ocorre após uma congregação americana tecer duras críticas ao encontro, que pode trazer mudanças à milenar instituição, que conserva preceitos a duras penas e hoje vive uma grave crise moral e de vocações. Os bispos convocados para o sínodo, que será relatado pelo Cardeal brasileiro e ex-Arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, terão de encontrar soluções para graves problemas na evangelização dos povos que habitam a região amazônica.

Um dos temas polêmicos da reunião é a permissão para que homens casados sejam ordenados padres. A ideia é que eles possam atender os ribeirinhos e comunidades isoladas, que muitas vezes só recebem a visita de um padre uma vez a cada ano. Para alguns bispos da linha progressista da Igreja, até mesmo a ordenação de mulheres pode ser estudada. O estudo destas duas possibilidades está deixando o mundo católico tradicional de “cabelo em pé”, e gerado uma verdadeira “guerra santa” em setores eclesiásticos. Outro ponto a ser abordado no Sínodo da Amazônia será o trabalho da Igreja em torno da floresta. Os bispos participantes também deverão estudar alternativas para que as comunidades católicas trabalhem na prevenção do desmatamento e no cuidado com a grande floresta, sob a ótica da encíclica “Laudato Si” (Louvado Seja), escrita pelo Papa Francisco, que trata do cuidado com o planeta Terra, chamada por ele de “casa comum”. Os setores conservadores católicos afirmam que a Igreja

O Ponto está se entregando à chamada “Teologia da Libertação”, movimento de padres, bispos e fieis católicos que teve início em meados dos anos 1960, que prega o ativismo da religião frente as causas sociais e entende a fé como um segmento político/social. Esta corrente teológica foi condenada pelo papa João Paulo II, hoje santo, e levou à excomunhão (expulsão) de vários bispos e padres, entre eles o teólogo brasileiro Leonardo Boff. Com a eleição do argentino Francisco, chegou ao trono de Pedro um jeito diferente de se enxergar a fé e os ensinamentos de Cristo. Palavras simples, recitadas com mais simplicidades por alguém que dedicou sua vida aos pobres, com um apostolado importante na época da ditadura na Argentina. A Igreja Católica já vivenciou cismas ao longo de sua história. Entre eles, o que levou à criação da Igreja Ortodoxa, em meados dos anos 1030. Também foi Lutero, que em suas 95 teses fundou o protestantismo. Este não será o primeiro, e poderá não ser o último. Internamente, a Sé de Roma já sofre um cisma interno, que poderá ser externado após o Sínodo da Amazônia. Acompanhemos.

“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não. Você não vê gente mesmo pobre pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo.” Jair Bolsonaro”

A toga da invisibilidade caiu O Superministro da Justiça Sérgio Moro ficou nu e, mesmo assim, não se envergonhou

Em 9 de junho, a agência de notícias The Intercept Brasil publicou três reportagens sobre os bastidores da operação Lava Jato. Por meio de conversas extraídas do aplicativo de mensagens Telegram, o chefe da força-tarefa em Curitiba, o procurador federal Deltan Dallagnol e o então juiz da 13° Vara da capital paranaense, Sérgio Moro, tiveram troca de mensagens entre eles e outros membros da força-tarefa revelados e publicados. O The Intercept, como assegura a Constituição Federal, não apontou a fonte dos arquivos. De acordo com o conteúdo das mensagens, também publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo e o portal UOL, houve troca de informações sobre vários processos em apuração, ainda não julgados ou com julgamento em andamento, aí incluídos os contra o ex-presidente Lula. Deltan pediu uma mãozinha a Moro, quando uma notícia do Jornal O Globo informou que o diretor da Odebrecht, na época Alexandrino Alencar, seria solto pelo STF. Ele acompanhava o acusado em viagens. Ao saber

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de uma possível fonte envolvida nas documentações da venda de imóveis para um dos filhos do ex-presidente, o juiz repassou o nome ao procurador. O famoso áudio da conversa sobre o ministério na Casa Civil entre Dilma e Lula? O seu vazamento foi discutido por Dallagnol e Moro. As revelações têm conteúdo o suficiente para destituir ambos de seus cargos e envergonhá-los, mas nem um nem outro aconteceu. Por quê? Uma das respostas é a arma vencedora das eleições presidenciais de 2018, a carta da moral. Em campanha, Bolsonaro a usou para justificar a sua homofobia, ao defender apenas uma concepção de família. Invocou-a na proposta de abrangência das regras do porte de armamento. Colocou-a em seu slogan. E foi lavado por ela, com a ajuda de empresários milionários que pagaram por disparos de Fake News no Whatsapp pelo bem do Brasil. A moral e a razão, intrínseca à política, possuem espaço no tabuleiro do poder. O jogo se torna confuso quando uma toma o lugar da outra. E é por isso que três dias após a primeira remessa da Vaza Jato, Moro estava ao lado de Bolso-

o ponto Coordenação Editorial Prof. Hugo Teixeira · Jornalismo Impresso Projeto Gráfico Dunya Azevedo · Professora orientadora Daniel Washington · Lab. Prod. Gráfica Pedro Rocha · Aluno voluntário Roberta Andrade · Aluna voluntária Logotipo Giovanni Batista Corrêa · Aluno voluntário Universidade Fumec Rua Cobre, 200 · Cruzeiro Belo Horizonte · Minas Gerais Telefone: (31) 3228-3014 e-mail: jornaloponto@fumec.br Presidente da Fundação Mineira de Educação e Cultura Prof. Air Rabelo Presidente do Conselho de Curadores Prof. Antonio Carlos Diniz Murta Reitor da Universidade Fumec Prof. Fernando de Melo Nogueira Diretor Geral/FCH Prof. Antônio Marcos Nohmi Diretor de Ensino/FCH Prof. João Batista de Mendonça Filho

Luis Blanco / Reprodução: Governo do Estado de São Paulo

Stéfanie Xavier 6° período

Créditos: Isac Nóbrega - PR / Reprodução

Belo Horizonte, novembro de 2019

Coordenador do Curso de Jornalismo Prof. Sérgio Arreguy Técnico Lab. Jornalismo Impresso Luis Filipe Pena Borges de Andrade Monitores de Jornalismo Impresso Lizandra Andrade Monitores da Redação Modelo Letícia Gontijo Vasconcelos Déborah Alessandra Lopes Fotos de capa Fotógrafo Tiragem desta edição: 1.000 exemplares

Moro com a Medalha da Ordem do Ipiranga. naro no Maracanã assistindo a partida entre Flamengo e CSA. Ele se sentiu à vontade para fazê-lo porque os valores atuais de nossa sociedade ancoram as atitudes dele: os fins justificam os meios. Independentemente de ter passado por cima da Constituição e da ética do direito, Moro ainda tem apoiadores ferrenhos,

que vão às ruas para defendê-lo e chegam a pedir pela extradição de Glenn Greenwald, jornalista norte-americano cocriador do The Intercept. Parecem não querer um Brasil diferente, mas um território em que o que eles pensam seja verdade sem A, B e muito menos C. Parecem odiar Lula, mais que a injustiça.

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

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Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Isabela Cardoso e Lizandra Andrade

O Ponto

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Um lugar de descanso e Lazer

Saiba mais sobre o Parque Amílcar Viana na visão dos frequentadores Izabela Cardoso 8º Período Localizado na região do Bairro Cruzeiro, o Parque Amílcar Vianna é um bom lugar para ler, conversar, comer, e até mesmo admirar a vista da cidade agrada a muitos frequentadores que costumam visitar o lugar. Marcos é advogado e constantemente faz visitas ao local. Para ele, o espaço é um bom lugar de lazer. “Sou frequentador constante do local, tenho o costume de trazer o meu cachorro para brincar, descansar e também minha filha, para brincar nos brinquedos do parque. Para mim é um momento de pausa do trabalho e aproveito para tirar um pouco do estresse com o barulho de pássaros, e tranquilidade. É como uma válvula de escape”, disse. Além disso, o advogado mora perto do Parque, mas, segundo ele, o local ainda é pouco frequentado, mesmo estando ao lado da Universidade Fumec. “Como é muito próximo da minha residência, é um lugar tranquilo, mas no meu parecer, mesmo que o local esteja ao lado da faculdade, ainda não foi descoberto”. O espaço possui um estacionamento e uma diversida-

“mas no meu parecer, mesmo que o local esteja ao lado da faculdade, ainda não foi descoberto” Marcos

Diversidade Créditos: Isabela Cardoso

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Créditos: Isabela Cardoso

de de espécies de árvores que foram trazidas de vários lugares diferentes. Antigamente, em cada uma das árvores haviam plaquinhas indicando o nome de cada uma dessas espécies. Mas que hoje precisam voltar a ser restauradas. “Sou frequentador há mais ou menos quatro anos. É um lugar arborizado, muita sombra , um mirante com uma vista muito bonita, mas observo que ficou meio desleixado”, comentou o advogado. Sobre a segurança, o frequentador avalia uma evolução. “Antes não havia a presença da Guarda Municipal e os tomadores de conta de carro invadiam o espaço e arrebentavam grades. A Praça Milton Campos há muitos anos tinha um histórico de roubo e as pessoas entravam aqui para se esconder”, avaliou. Rodrigo, Mensageiro do Tribunal de Justiça, que também costuma passar parte do dia no parque, fala do ambiente e da beleza local. “Eu considero o parque como um dos melhores que eu já vi. Por ser calmo, com pouco movimento, próximo ao meu trabalho, eu uso o horário do intervalo para descansar e ver minhas séries. Gosto sempre de um lugar com menos movimento e

conheço o parque há um ano observo as pessoas vindo ao parque passeando com seus cachorros”, contou. O Supervisor Jorge, que trabalha há três anos no local como supervisor, diz que “antigamente a área está sob a responsabilidade da Fundaçao de Parques e Jardins, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. No local pode ser vista também a antiga caixa dágua de BH. Seguno o supervisor, ela possui capacidade de dois bi-

lhões de litros de água, que a abastece a região Centro-Sul do bairro Mangabeiras para cima”, contou. Ele também ressalta a paisagem. “Possui um Mirante que dá para ver toda região Centro-Sul da Savassi, Anchieta, e as qualidades das árvores da espécie Alcaria. Tem também um parquinho. É um bom lugar para estudar, divertir, tanto que a turma da Fumec costuma frequentar o parque direto”, comentou.

Já para a bióloga Laiena Ribeiro, o espaço é um local com muitas áreas verdes urbanas que funcionam como ilhas de qualidade ambiental e refúgios de biodiversidade. Segundo ela, “correlacionam-se em proporção positiva direta a variáveis consideradas desejáveis para seu entorno, do ponto de vista abiótico e biótico (tanto mais expressivas, quanto maior a área em questão) seu grau de conservação e a interligação com outras áreas verdes” é muito significativo, diz. No caso de uma área verde pública aberta à visitação, como é o caso do Parque Municipal Professor Amilcar Vianna Martins, somam-se ainda os benefícios humanos inerentes ao usufruto direto de um espaço rico em tais parâmetros. “A contemplação e o silêncio favorecem o descanso dos sentidos ou sua ressignifica-

ção (a vista do mirante literalmente “amplia horizontes”), a atitude de reverência e a vivência de práticas meditativas, em contraponto sinérgico a iniciativas mais tradicionais de movimentos brincantes e esportivos (playground, aparelhos de ginástica, etc)”, comentou a biologa. No espaço também há o Macro Reservatório Serra, sob responsabilidade da Copasa, que é operante desde Curral Del Rey e até os dias atuais está abastecendo, com seus dois milhões de litros de capacidade, bairros da região Centro-Sul do Município de Belo Horizonte. As nascentes provém dos mananciais de Fechos, Mutuca e Cercadinho, passando pela Estação de Tratamento de Água Morro Redondo. Sobre a a edificação que protege o reservatório (dois tanques intercomunicantes, com quatro metros de pro-

fundidade cada), a biologa contempla as cores da casa. “As cores amarela e rose deste edifício reproduzem os tons do por do sol que se admira aos fundos da caixa d’água defronte ao mirante do Parque”. Benefícios dos Pinheiros Segundo a ela “são duas as espécies de pinheiros ocorrentes no Parque: pinheiro norte americano (Pinus elliottii), também conhecido como “pinheiro de Natal”, exótico ao Brasil; e pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia), nativo, típico do sul de nosso país. Do ponto de vista humano, os benefícios são, sobretudo, cênico-paisagísticos, ecológicos (variadas funções ambientais da arborização) e educativos (por exemplo, o aqui evidente, das possíveis analogias e homologias entre espécimes de ambas as espécies, a partir de distintos critérios comparativos)”.

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Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

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A fábrica do SUS

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“Os nossos produtos são enviados ao Ministério da Saúde, que faz a distribuição para as secretarias de saúde.” Luciana Julião Luciana acrescentou que esse polo também é responsável pela fabricação de soros contra envenenamento ou infecções, como antibiotrópico, anticrotálico, antilaquético, antielapídico, antiescorpiônico, antirrábico e antitetânico. Julião explicou para qual caso cada o soro é usado. “O soro antibiotrópico é usado em casos de envenenamento por

Os soros da Funed são disponibilizados nos hospitais públicos de todo o país jararacas ou cascavéis. O antilaquético é usado em casos de envenenamento por surucucu. Já o anticrotálico, em casos de envenenamento por cascavel e o antielapídico é usado em casos de envenenamento por corais. “ O soro antiescorpiônico é usado nos casos de envenenamento por qualquer espécie de escorpião. O soro antirrábico é indicado em casos de ferimentos graves provocados pela mordedura de animal suspeito e o antitetânico é eficaz para a neutralização das toxinas secretadas pelo bacilo Tetânico”, explicou.

Créditos: Marina Maia

A saúde passou a ser um direito do cidadão e dever do estado com a promulgação da constituição Federal de 1988. Para esse importante avanço foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), que garante que a população tenha desde a assistência básica em saúde até as mais complexas operações de maneira integral, universal e gratuita. Integrando o SUS e ajudando a prover o bem-estar da sociedade está a Fundação Ezequiel Dias (FUNED), que é uma instituição pública de pesquisa científica com a missão de fortalecer a saúde popular, atuando na vigilância sanitária, na produção de medicamentos biológicos e farmoquímicos, na produção de soros, dentre outras pesquisas. Localizada no bairro Gameleira, região Oeste da capital, a fundação é divida em três polos finalísticos: Instituto Otávio Magalhães, que é responsável pelas análises epidemiológicas, ambiental, saúde do trabalhador e controle sanitário; pesquisa e desenvolvimento, área em que o instituto contempla pesquisas nas áreas de virologia, tecnologia farmacêutica, biologia molecular e celular, dentre outros. Por fim, o polo Industrial, que é o responsável pela fabricação de medicamentos e vacinas para o SUS.

“Todos os nossos produtos são enviados ao Ministério da Saúde, que faz a distribuição para as secretarias estaduais de saúde, e estas encaminham para os postos de saúde, hospitais e outras unidades de atendimento ao público”, disse Luciana Julião, assessora chefe de Comunicação da instituição. Sobre a diretoria Industrial,

A biblioteca da Funed conta com livros de iniciação científicas, técnicas e dicionários

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AGROTÓXICOS Outra análise importante realizada no instituto é o monitoramento do nível de agrotóxicos em alimentos que chegam na mesa do consumidor. Os agrotóxicos são produtos químicos usados em plantações para preservar a vida útil dos alimentos e evitar possíveis pragas. “O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos desde 2008”, assim afirmou a farmacêutica Mariana de Oliveira, levando em consideração os dados do Ibama, de 2000 a 2014. “Nós consu-

mimos aproximadamente 25% da produção mundial de agrotóxicos, isso quer dizer que a cada quatro litros produzidos no mundo, um litro é só para o Brasil”, completou. O que leva o Brasil a ser um dos maiores consumidores de agrotóxicos é a quantidade em que esses agroquímicos circulam. A farmacêutica diz que os dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) computam os agentes legais e livres de serem comerciali-

Serpentário Créditos: Lizandra Andrade

Lizandra Andrade 8 Período

Créditos: Lizandra Andrade

Instituição de pesquisa e produção de vacinas e medicamentos, a Funed tem a importante missão de fortalecer as políticas de Saúde Pública em Minas e no Brasil

Atualmente, o Serpentário da Funed tem cerca de 200 cobras. A organização recebe e cria serpentes, além de aranhas e escorpiões, principalmente para a extração de venenos para a produção de soro e fornecimento para pesquisas, além de atuar na difusão de conhecimento sobre animais peçonhentos para a população em geral.

O espaço também é aberto para visitação de alunos do ensino funsamental, superior, empresas ou qualquer pessoa, sob orientação. O funcionamento é de terça a sexta, e o horário de visita é divido em dois turnos, sendo das 8h às 11h e das 13h às 15h. A vistita só é possivel com agendamento prévio, pelo telefone (31) 3314-4760.

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Editor(a): Lizandra Andrade / Diagramador(a): Lizandra Andrade

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Mitos e verdades sobre o

uso dos agrotóxicos 1) Lavar alimentos com água retira os agrotóxicos? Mariana: Mito. Retira parcialmente, só os de superfície, esses que são aplicados, geralmente, pós colheita. Então quando se lava, com auxílio da bucha é possível retirar parte desses agentes. 2) Água sanitária ou vinagre remove os agrotóxicos dos alimentos? Mariana: Não tem nenhuma comprovação científica, mas já fizemos alguns experimentos no laboratório e vimos que remove sim a grande maioria, principalmente os de superfície. 3) Produtos com agrotóxicos são maiores que os outros? Mariana: Mito. Não, eles não têm nada a ver. 4) Devo dar preferência para os alimentos da época? Mariana: Sim, porque se eles são da época são mais fáceis de plantar e se são mais fáceis de cultivar requer menor quantidade de agrotóxicos. 5) Quem está mais exposto a ser contaminado por agrotóxico, o consumidor final ou o trabalhador rural? Mariana: Com certeza o trabalhador rural. O nosso risco é muito menor comparado ao deles que estão diretamente lidando com esses agentes. 6) Devo descascar os alimentos antes de consumi-los? Mariana: Depende do alimento. Quando descascamos certos alimentos estamos tirando os agrotóxico, mas também podemos estar deixando de consumir vitaminas que estão na casca.

A Funed é uma instituição centenária que desempenha um papel fundamental para a saúde pública de Minas Gerais e do Brasil. No entanto, apesar de sua importância histórica e também para o desenvolvimento do SUS, a Fundação é pouco conhecida da população em geral, seja porque seus serviços não são prestados diretamente ao público final, seja porque, ao longo do tempo, não foi criada uma estratégica de diálogo com a população capaz de manter a marca Funed viva na mente das pessoas. A solução para esse problema passa pela criação e execução de ações de comunicação que façam com que o nome Funed seja lembrado não apenas nos momentos de crise (como epidemias ou a falta de vacina). Essas ações devem

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levar o nome da Funed para além dos muros da instituição e devem abrir as portas da instituição para que a população possa vir à instituição e conhecê-la. Por isso, foi criado o programa “Portas Abertas”, que abre a instituição para visitação às diversas áreas da Fundação. Uma vez por mês, a instituição abrirá suas portas, em 2 turnos, para que os visitantes façam um percurso pré-estabelecido. Para quem? Alunos de escolas, faculdades e entusiastas de temas como: ciências, biotecnologia, saúde pública e inovação. O que você irá conhecer? Palestras; Circuito Funed (Biblioteca Científica, Laboratório do Ezequiel e Serpentário) e Caminhão do Ciência em Movimento, em 2 horas.

O nome dado à Fundação Ezequiel Dias é em homenagem ao médico Ezequiel Caetano Dias, que foi diretor do Instituto Oswaldo Cruz de Belo Horizonte, e também precursor de pesquisas a respeito de todas as epidemias, como febre amarela, dengue e outras Nascido em 11 de maio de 1880, em Macaé, no Rio de

Janeiro, Ezequiel primeiro se formou no curso de farmácia, como o pai desejara e depois, fez o curso de Medicina. Em Minas, foi acompanhar no interior do estado os trabalhos do pesquisador Carlos Chagas, sobre os aspectos hematológicos da doença, que mais tarde foi batizada de Doença de Chagas. Os primeiros ensaios de controle da doen-

ça foram realizados no município de Bambuí (MG) O médico também se dedicou aos estudos da microbiologia e da medicina experimental. Em 1904 participou de comissão para os estudos do beriberi e, em 1905, seguiu para o Maranhão, como Diretor de Higiene e do Laboratório Bacteriológico, onde suas ações logo foram reconhecidas.

“O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos desde 2008, ou seja nós consumimos aproximadamente 25% da produção mundial de agrotóxicos. Isso quer dizer que a cada quatro litros, um litro é só para o Brasil” Mariana de Oliveira

Créditos: Marina Maia

Sempre de “Portas Abertas” para a comunidade

Quem foi Ezequiel Dias? Créditos: Marina Maia

zados, mas em suas análises é comum encontrar pesticidas ilegais. “Geralmente são contrabandos que entram, principalmente, na fronteira do Paraguai”, disse. Dentro do Brasil existem dois tipos de uso de agrotóxico, o agrícola e a não agrícola. A servidora explicou para qual finalidade cada um serve. “O uso agrícola é o mais comum no mundo inteiro; que são utilizados nas plantações. Já o não agrícola está na área da veterinária, usado em animais, como medicamentos para acabar com carrapatos, e também tem nas cidades com os fumacês”, explicou. De acordo com o levantamento divulgado dia 26 de junho de 2019, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e compilado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FA), que o Brasil ocupa o 44º lugar na utilização de agrotóxicos, em um total de 193 países existentes no mundo. Em relação à classificação toxicológica dos agrotóxicos, em julho a Anvisa republicou os níveis de agressividade desses agentes químicos. De quatro níveis, passaram a ser seis, sendo: extremamente tóxico, altamente toxico, moderadamente tóxico, pouco tóxico, improvável de causar danos agudo e não classificados. “Os dois primeiros são fatais se inseridos, por isso é importante ler sempre atrás dos frascos dos produtos para saber a classe do produto”, alertou a pesquisadora.

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Os alunos de jornalismo da Fumec foram a 4º turma

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06 • Comportamento

Editor(a): Lizandra Andrade / Diagrama

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VisiBil Além de sofrerem com estereótipos relacionados à promiscuidade e infidelidade, os bissexuais são mais propensos a sofrer estupros, distúrbios alimentares Clara Del Amore 5º Período

#FoiBifobiaQuando

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No dia 23 de setembro foi comemorado o Dia da Celebração Bissexual, que foi planejado como uma resposta ao preconceito que bissexuais enfrentam; tanto de héteros, quanto de outras pessoas também inseridas na comunidade LBGTQI. Em 2016, por meio de uma campanha chamada #FoiBifobiaQuando, muitas pessoas compartilharam as suas experiências em suas redes sociais para conscientizar a sociedade sobre o tipo de opressão e discriminação que elas sofrem. Os posts apresentam relatos de frases que perpetuam preconcepções estabelecidas sobre bissexuais até hoje, relacionados à indecisão, infidelidades e até mesmo ameaças de estupro e acusações de serem vetores de doenças. “Frequentemente, é pressuposto que mulheres consideram-se bissexuais para excitar homens, enquanto homens bissexuais são considerados homens gays que não são corajosos o suficiente para saírem do armário”, afirma Meg John Barker, cofundadora da Organização Nacional para Pesquisa e Ativismo Bissexual do Reino Unido (biUK) a uma entrevista realizada para Refinery29, uma companhia de mídias digitais e entretenimento dos Estados Unidos. A estudante de psicologia Bianca Lima*, de 23 anos, encontrou dificuldade em aceitar a sua atração por mulheres e homens, levando anos para conseguir sentir-se confortável com sua orientação sexual. “Quando eu era adolescente e identificava que estava sentindo atração por mulheres, eu pensava ‘nossa, será que sou lésbica?’, mas aí depois eu percebia que também sentia atração por homens. Não passava pela minha cabeça a possibilidade de ser bi”, ela conta. Depois de ingressar em sua faculdade, Bianca foi exposta a muitos questionamentos e fontes de informação sobre questões LBGTQI, começando a entender que havia a possibilidade de ela ser

bissexual, mas ainda assim, não conseguia admitir para si própria. “Eu beijei uma mulher pela primeira vez em 2015 e foi muito difícil para mim, eu ainda sentia que era uma coisa errada, me sentia suja e fiquei muito tempo sem me relacionar com uma mulher por causa dessa dificuldade de aceitar isso”, a estudante lembra. Bianca conta que atualmente aceita a sua bissexualidade de forma melhor, mas ainda considera difícil e ainda tem vergonha de ficar com mulheres na frente de outras pessoas, por medo ser julgada. “Ainda tenho muitas dificuldades porque a gente cresce ouvindo que isso é errado, que é sujo. Aí quando é com você, você se sente dessa forma também e é muito triste, eu sofro muito por causa disso até hoje”, ela reconhece. Ela conta que recebeu apoio de suas amigas, principalmente as da faculdade onde ela estuda, por serem mais desconstruídas. Quando seu irmão se assumiu gay há 3 anos, Bianca contou a ele que era bissexual. “Foi muito difícil falar isso em voz alta, mas foi um momento muito bom porque finalmente consegui contar para alguém da minha família e, como ele também é LGBT, eu me senti mais apoiada. Mas, mesmo assim, eu fico com medo de ser julgada”, Bianca admite. Em relação a seus pais, a estudante afirma que demorou um pouco para se assumir como bissexual para sua mãe; mas, como seu irmão já havia contado para ela que era gay, Bianca considerou a experiência mais tranquila. “Meu pai não sabe até hoje, eu não tenho abertura para falar com ele, não me sinto à vontade e acho que ele não apoiaria, não entenderia e evito falar sobre isso na frente da minha família porque me sinto desconfortável”. Ao contar que é bissexual para um homem hétero com quem estava ficando há alguns meses, Bianca sofreu bifobia. “A reação dele foi bem ruim, ele ficava se sentindo ameaçado e inseguro, não conseguia entender direito e chegou a falar que tinha mais competição, que não possuía o que uma mulher tinha a oferecer”, ela comenta, também

afirmando que ele achava que ela poderia traí-lo se começassem a namorar. A estudante de psicologia conta que costumava se considerar sortuda por ser bissexual. “Pelo menos, eu conseguiria disfarçar para parte da minha família. Como eu também gosto de homem, eu poderia me passar por hétero, mas isso não é um privilégio porque as pessoas bissexuais sofrem tipos de preconceito que gays e lésbicas não sofrem, não que uma situação seja mais fácil que outra. É um sentimento de injustiça e tristeza muito forte, de não poder fazer muita coisa”, ela afirma. Bianca declara que dentro do meio LGBTQI há muita bifobia e que gays e lésbicas, em sua grande parte, não conseguem entender que bissexuais gostam de ambos os sexos, os considerando como indecisos ou que estão passando por uma fase antes de assumirem de forma definitiva a sua sexualidade. “Acho importante falar mesmo que isso mexa muito comigo porque sofro muito bifobia, principalmente de homens gays e a minha orientação sexual é invisibilizada porque eles se referem a mim como sapatão e lésbica, não consideram que eu sou bi. Outros falam que tenho que decidir o que eu quero, que isso é uma fase e que não posso ser indecisa assim para sempre”, a estudante relata. Ela se sente pouca acolhida dentro do ambiente LGBTQI e afirma que ela não é a única que vive esta situação, de atos bifóbicos nestes meios. “É muito traumatizante e você sente triste, sem ninguém que você possa contar porque, se até mesmo dentro do meio LGBT, você sofre bifobia e preconceito, o que te resta? Ele era para ser um apoio, um refúgio, pois, fora deste círculo, a gente sofre bastante, mas, no caso dos bissexuais, não é levado a sério e as pessoas não dão importância”, ela finaliza. Por fazer parte de uma família muito católica, a estudante de Publicidade e Propaganda Marina Duarte*, de 20 anos, não considerou e ainda não considera fácil se aceitar como bissexual. “Não tive apoio dos meus pais e algu-

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de / Diagramador(a): Lizandra Andrade

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ilidade e depressão, segundo estudos divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e pela Universidade George Mason, na Virginia, EUA. mas amigas se afastaram quando souberam. Poucos ficaram ao meu lado dando suporte”, ela diz. Marina comenta que a reação de um menino com quem ela está ficando atualmente foi boa e que ele afirmou apoiá-la em seus gostos. No entanto, a estudante comenta que seu ex-namorado ficou extremamente chateado com ela após ela terminar o relacionamento de 2 anos para ficar com uma menina. Ela conta que se sente incomodada com a maneira na qual os bissexuais são expostos nas mídias, mas, por este tipo de representação estar tão enraizado na sociedade, ela já se acostumou. “Seria bom se a realidade fosse retratada da maneira certa, até porque promiscuidade, indecisão ou infidelidade não são características exclusivas de bissexuais, é algo do ser humano em si”, Marina observa. Dentro do meio LBGTQI, a estudante afirma ter sido julgada raras vezes de ser “em cima do muro”. “Fora do espaço LBGT, já afirmaram que eu sou lésbica, mas que tenho medo de me assumir e por isso me intitulo bi”, ela conta, afirmando também se sentir mais insegura em ser assumidamente bissexual. Marina também expressa que se sente menos acolhida por LBGTQI’s pelo fato de ter menos representatividade e de, muitas vezes, ser motivo de menosprezo. Desde pequena, Larissa Maria Carneiro Peixoto, de 21 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo, conta que sempre achou meninas e meninos atraentes da mesma forma. Ela comenta que recebeu muito apoio de seus amigos, os quais ela considera sua segunda família. “Da minha família, poucos sabem... O primeiro a saber foi o meu pai e ele ignora o assunto até hoje, já brigamos muito por conta disso e ainda sinto que é algo mal resolvido”, ela diz. Larissa também se sente incomodada com os papéis interpretados por bissexuais nos produtos midiáticos, pois acredita que estas representações são pejorativas. “Elas passam a ideia de ironia, que não precisa ser levado a sé-

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“Eu tinha uma ilusão de pensar que era sortuda por ser bissexual porque, pelo menos, eu conseguiria disfarçar para parte da minha família. Como eu também gosto de homem, eu poderia me passar por hétero, mas isso não é um privilégio porque as pessoas bissexuais sofrem tipos de preconceito que gays e lésbicas não sofrem” Bianca Lima, estudante de psicologia. rio, que a qualquer hora um lado vai se sobrepor, como se bissexualidade fosse uma fase, uma indecisão e não uma orientação sexual... A bissexualidade acabou tornando-se um produto pra mídia crescer, já que chama atenção e se encaixa em vários fetiches”, ela analisa. Segundo a estudante, a bifobia partiu de seu próprio pai, que considera a bissexualidade dela como um castigo para ele e que, uma hora ou outra, ela iria se decidir. “Foi o único momento que mais me incomodou, já que me assumi tem pouco tempo justamente por questões familiares...Fora isso, nunca tive problema, na minha faculdade é super tranquilo e na rua também nun-

ca me aconteceu nada até então”, ela afirma. Larissa garante que se sente acolhida no meio LBGTQI, principalmente em eventos dos movimentos. “Eu me sinto mais livre e eu mesma, a galera tem uma felicidade pura que nada se compara”, ela finaliza. O estudante de medicina veterinária Danilo Ferreira*, de 21 anos, compartilha que foi complicado se aceitar como bissexual. “No início, eu fiquei com medo por não ser hétero e demorou um pouco até que eu tivesse certeza da minha sexualidade. Não tive apoio de nenhum familiar, mas tive apoio de todos os meus amigos. Alguns fizeram perguntas invasivas e não me deixaram muito confortável, mas não foi de forma intencional e hoje (depois de algumas conversas) todos me apoiam e me respeitam muito. Sou muito grato a eles”, comenta. Danilo atualmente está em um relacionamento com outro homem bissexual, que descobriu a sua bissexualidade durante o namoro. De acordo com o estudante, desde o início da relação, seu namorado, mesmo não tendo tantos conhecimentos sobre bissexualidade, tentou ao máximo deixá-lo confortável. “Minhas relações anteriores com outros bissexuais foram ótimas. Alguns rapazes gays e moças héteros já me fizeram me sentir bastante desconfortável. Pessoas já perderam o interesse por mim quando souberam que eu era bissexual, principalmente mulheres héteros”, ele diz. Ele conta que quase nunca se sentiu confortável para se assumir bissexual para alguém, evitando ao máximo comentar sobre o assunto com LGBTs que não fazem parte do círculo de amizades dele. “Sempre quando eu falo, eu penso ‘o que será que essa pessoa está pensando de mim agora?’. Já escutei de outros caras que um dia eu ia ter coragem de me assumir. E de outros que acham que homens bissexuais não existem. Também já escutei várias vezes que bifobia não existe”, Danilo afirma. *Nomes alterados para preservar o anonimato dos entrevistados

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“200 mil paçocas e infinitas poesias”

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Outro que buscou espalhar mensagens positivas pela cidade foi José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza. Ele foi um pregador urbano brasileiro, que se tornou conhecido pelos gestos de gentileza no Rio de Janeiro. Em 1960, ocorreu um incêndio no circo Gran Circus Norte-Americano, de Niterói, onde morreram mais de 400 pessoas. A tragédia que abalou o país também transformou a vida de José Datrino que, após o ocorrido, diz ter ouvido “vozes ancestrais” que o mandavam abrir mão do mundo material e se dedicar ao mundo espiritual. José Datrino passou a morar no local do incêndio e plantou um jardim sobre as cinzas do circo. Foi um consolador das famílias das vítimas da tragédia e daquele dia em diante passou a ser conhecido como o Profeta Gentileza. Quatro anos depois, o profeta começou uma nova jornada como andarilho e percorreu toda a cidade com uma túnica branca e longa barba. Era visto em ruas, praças e ônibus fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que encontrava pelo caminho.

Felipe lançou recentemente o seu quarto livro fase da vida” contou o Felipe. A pedágoga Bárbara Oliveira, de 29 anos, gosta de ler as poesias de Arco espalhados pela cidade. Ela contou que essas frases motivacionais lhe ajudam em seu dia-a-dia. “Conheci ele por causa de uma pichação na rua, por causa de um escrito na rua. Aí eu fui e tirei uma foto e aí comecei a seguir ele nas redes sociais. A partir daí, comecei a prestar atenção em todas as lixeiras do centro de BH. Diversas frases dele tem muito a ver com o que eu já passe na vida.”, contou a pedagoga . Lixeiras Além da paixão pela poesia, Felipe Arco grafita há mais de dez anos e fez a junção das duas paixões para espalhar poesias por toda cidade e mensagens escritas à caneta em lixeiras da capital. As lixeiras foram escolhidas devido ao simbolismo, por ser algo que, muitas vezes, é desprezado, sujo e esquecido pela população. O poeta também faz a limpeza das lixeiras degradadas por conta própria. Seus versos estão espalhados por mais de setenta cidades, o que gerou um grande sucesso na internet, sendo que, atualmente, ele tem mais de 200 mil seguidores nas redes sociais e é considerado o “guru” das relações amorosas. A advogada Mariana Diniz, de 32 anos, conheceu o trabalho de Felipe por meio das mensagens espalhadas. Ela conta o quão se sente feliz ao lê-las. “ Conheci o trabalho dele através das lixeiras no centro

de BH. Eu amo frases e os textos dele. Eu acho que ele sempre tem coisas boas a dizer, o que você precisa ler.” Processo No ano de 2017, Felipe Arco foi processado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, acusado de vandalismo. Na ocasião, ele recebeu três multas, todas revertidas em serviços comunitários.

“Se as pessoas não leem os livros, a poesia vai para elas de alguma forma”

Gentileza na música O Profeta Gentileza foi homenageado pela cantora Marisa Monte, como incentivo aos valores pregados pelo profeta. Escaneie o códico e ouça. “Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza A palavra no muro Ficou coberta de tinta Apagaram tudo Pintaram tudo de cinza Só ficou no muro Tristeza e tinta fresca Nós que passamos apressados Pelas ruas da cidade Merecemos ler as letras E as palavras de gentileza”

Os murais Em 1980, o Profeta fez uma grande obra de arte. Escreveu mensagens sobre gentileza, natureza, amor, espiritualidade – contornadas pelo verde e amarelo da nossa bandeira, em 56 pilastras do Viaduto do Caju, no Rio de Janeiro, transforman-

Felipe Arco

Profeta “Gentileza”

do cada pilastra em uma página de um enorme livro urbano. Por pouco as páginas não desapareceram. Em 1997, um ano depois de Gentileza morrer, a companhia de limpeza urbana pintou de cinza os escritos. Ao pintarem, foram muito criticados e, posteriormente, a cidade do Rio de Janeiro ajudou a organizar o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo de restaurar os murais feitos por Gentileza. A restauração foi concluída e esse patrimônio urbano foi preservado.

Créditos: Felipe Arco / Arquivo Pessoal

Vive-se hoje uma rotina corrida que, muita das vezes, não deixa as pessoas prestarem atenção nos pequenos gestos de gentileza. Ela pode ser explícita, como um pedido de licença, desejo de bom dia, ou não explícita, como versos e poesias espalhados por diversas partes da cidade que, se notados, deixa o dia-a-dia melhor. E é com o objetivo de fazer a vida mais leve que Felipe Arco, um jovem poeta de Belo Horizonte, criou sua própria linguagem para espalhar mensagens de gentileza e amor na rotina das pessoas. Apesar de formado em marketing, preferiu se dedicar à arte. Felipe hoje se mantém com a venda dos livros e com trabalhos de pintura e grafite. Começou como vendedor ambulante pelo metrô de Belo Horizonte, em 2013, vendendo suas poesias de vagão em vagão e logo decidiu fazer um livro, ao mesmo tempo em que vendia paçocas em uma passarela, localizada na Lagoinha, na regiáo Central de Belo Horizonte. Sem patrocínio, Felipe precisava vender pelo menos 200 mil paçocas para conseguir alcançar o seu objetivo de publicar um livro. Dois anos depois, alcançou sua meta e lançou seu primeiro livro chamado 200 mil paçocas e infinitas poesias, em 2015, que retrata o tempo que vendeu paçocas na rua. Após o lançamento do livro, Felipe viajou por três meses pelo Brasil. Sobre essa experiência, ele escreveu seu segundo livro chamado 12 Mil KM e infinitas poesias, em que relata a viagem que fez com o lucro das vendas de seu primeiro livro. Há um ano, o jovem grafiteiro lançou seu terceiro livro intitulado A menina do vestido azul, que, segundo ele, é um livro mais romântico, já que é um compilado de cartas e bilhetes que tratam do amor incondicional e fala sobre esperança, perdão e traz reflexões sobre a “geração do desapego”. Recentemente, no dia 21 de setembro, mais um livro foi lançado. Para cada momento da vida, retrata as várias situações cotidianas. Fala um pouco mais sobre ansiedade e depressão. De modo geral, procura de enxergar simplicidade nas coisas e perceber o outro. “São doses diárias de situações que todo mundo passa, que é bem o que a maioria da galera que me acompanha fala, sempre tem um texto meu pra cada

Gentileza gera gentileza

Foto: Reprodução / Facebook

Cynthia Medlen 3º Período

Felipe Arco / Arquivo Pessoal

Conheça a história de Felipe Arco, um apaixonado por arte de rua

Mensagem deixada por um admirador a Felipe Arco

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Estética • 09

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O Ponto

Belo Horizonte, novembro de 2019

Ao natural

O comércio global de cosméticos veganos alcançará 20,8 bilhões de dólares até 2025, segundo dados fornecidos pela companhia de pesquisa de mercado Grand View Research, Inc. O Brasil é o quarto maior mercado de beleza do mundo, depois dos Estados Unidos, Japão e China, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal (ABIHPEC). No entanto, em uma avaliação realizada pela empresa Ecovia Intelligence, a América Latina constitui menos de 5% das receitas globais de cosméticos naturais e orgânicos, apesar de ser considerada uma importante fonte de ingredientes provenientes da natureza. A preocupação com o impacto causado ao meio ambiente e também com o sofrimento infligido a animais durante testes de cosméticos vem aumentando a busca por produtos naturais e veganos, o que alavanca o lançamento de marcas de cosméticos assinadas por celebridades e por empresários. A atriz Millie Bobby Brown juntou-se à lista de famosos que optaram por lançar uma linha de cosméticos veganos e naturais. A marca, batizada de “Florence by Mills” pela intérprete de Eleven, na série Stranger Things, foi certificada pela ONG PETA por ter componentes de origem vegetal e por ser cruelty free (não é testada em animais). Em Belo Horizonte, Cristiane Bellydance, criadora da marca Cléopatra Natural, afirma que passou a produzir cosméticos 100% naturais e veganos para ela própria, pois não encontrava produtos que apresentassem uma composição completamente natural. Após fazer cursos e aperfeiçoar seus conhecimentos, ela passou a produzir em grande quantidade e a marca surgiu após Cristiane participar de uma exposição, na qual teve uma boa aceitação por parte de seus clientes. Todos os produtos são produzidos de forma artesanal na casa de Cristiane e cada um tem um benefício próprio. “Toda marca, mesmo sendo de produtos naturais, é diferente. Geralmente, produtos naturais são rústicos, enquanto os meus têm um diferencial, primeiramente pelo nome, que é uma coisa que eu vejo de glamour; eles são coloridos, têm brilho, fita de cetim, pedrinha de strass na embalagem. Trabalho com produtos que ninguém faz aqui em Belo Hori-

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zonte, que são os shampoos sólidos, feitos com tensoativos derivados do coco, que são biodegradáveis e não agridem o cabelo”, ela diz. O engenheiro químico Oswaldo Baião, responsável pelo lançamento da linha L’ONUY, específica para cabelos, afirma que sempre acreditou no potencial da natureza em saúde, higiene e bem-estar. “Talvez porque minha família sempre gostou e esteve muito ligada à natureza. Minha mãe, por exemplo, sempre soube usar ativos naturais para o controle de oleosidade dos cabelos. Este e outros exemplos sempre me chamaram atenção para a eficácia desses ativos”, ele comenta. Segundo ele, ativos naturais oferecem menos riscos à saúde e, por isso, são capazes de substituir ativos químicos, garantindo resultados muitas vezes superiores. Baião afirma que a ideia inicial do produto surge de uma demanda identificada junto ao cliente, podendo ser a partir de uma dificuldade no cuidado com o cabelo ou o de-

“Minha pele é completamente outra depois dessa mudança e sinto ela muito mais pura e leve. Sinto que esta é realmente a minha pele e não uma versão alterada” Yamar Figueira sejo de transformação de cor, textura, etc. “Muitas vezes as mídias sociais impõem a demanda, seja lançando uma moda, ou um ativo novo que surge no mercado com promessa de que vai fazer a cabeça da mulherada, e hoje, também dos homens. Identificada a demanda, inicia-se o proces-

Créditos: Arquivo Pessoal

Clara Del Amore 5º Período

Cristiane Bellydance é criadora da marca Cléopatra Natural

so de pesquisa de ativos e formulações que melhor atendam à necessidade”, ele diz. O engenheiro declara que os produtos só são liberados para o mercado depois de serem testados exaustivamente e aprovados e, por isso, eles são bem aceitos pelos clientes. “Nossos principais diferenciais são o uso de ativos naturais e a garantia de que os resultados prometidos sejam alcançados”, ele finaliza. A maquiadora Yamar Figueira de Oliveira tornou-se adepta dos produtos naturais há aproximadamente dois anos, após a sua pele passar por mudanças, que ela suspeita terem sido causadas por alguns cosméticos. Por ser muito alérgica e com receio de piorar a situação, ela parou de usar os itens que costumava usar e começou a testar opções mais simples e naturais, para tentar controlar e entender melhor as necessidades de sua pele. “Minha pele é completamente outra depois dessa mudança e sinto ela muito mais pura e leve. Sinto que esta é realmente a minha pele e não

uma versão alterada, entupida de produtos. Além disso, com a composição mais leve, com menos ativos químicos pesados e muitas vezes desconhecidos, sinto ela mais estruturada. Sem reações, como alergias, que vinham da composição, principalmente de parafina e petrolatos”, ela diz. Para Yamar, o tema Skincare (rotina de cuidados faciais) está crescendo progressivamente, assim como o uso de produtos naturais. “Porém sempre haverá uma parcela da população que vai preferir comprar alguma coisa na farmácia, principalmente por conta da desinformação. São poucos os dermatologistas que se interessam pelo tema Skincare natural, porque sabemos que muitos acabam tendo convênio com a indústria farmacêutica no geral. Em contrapartida, as pessoas estão cada dia mais consumindo itens por meio de influencers e já temos várias dedicadas à uma rotina de beleza mais natural. Acho que esse vai ser o caminho para as marcas se consolidarem”, ela opina. Giulia Lopes, estudante universitária, começou a utilizar produtos naturais em meados de 2017 por se sentir atraída pelo fato de que eles, principalmente os específicos para tratamento de pele, não possuíam tantos produtos químicos e por apresentarem mais detalhes sobre seus ingredientes. Assim como Yamar, a estudante também percebe que não teve mais reações alérgicas em sua pele. “Me sinto mais segura no que estou usando e, no caso de tratamento de pele, com o auxílio certo, posso criar e usar produtos da minha única necessidade”, ela diz, também exaltando a durabilidade dos produtos, por não terem muitos conservantes químicos. De acordo com Giulia, apesar de muitas pessoas estarem interessadas pelo assunto, a demanda ainda não é tão grande. “Na área de beleza é muito complicado abranger todo o público com os preços. Creio que, para a classe média/alta, sempre será mais fácil o crescimento, mas como um todo, os cosméticos naturais também têm como uma barreira a forma que as grandes marcas e industrializadas trabalham com o marketing. Tudo é uma questão de capital e propaganda”, ela analisa.

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CRÔNICA

10 Ricardo Davidovsk 6º Periodo

Ademar Ferreira está com saudades do seu amigo, e do tilintar da moeda batendo contra a barra de ferro, avisando-lhe a hora de fechar as portas, o exato momento de partir. Há tempos o banco destinado ao amigo — sua poltrona, o trono — está vazio. A pergunta que não cala na mente de Seu Ademar: “onde se meteu, meu amigo?”, pergunta para o psicólogo, com quem se consulta toda terça e quinta-feira. “Por que não lhe deixam mais brincar?”; “E quem me fará rir em dias nublados, com piadas externas que só nós sabemos a graça?”; “Para quem vou contar as desavenças com a patroa?”; “Para quem vou relatar os avanços da minha filha nos treinos de futebol?”; “E quem, Deus do céu”, se não é a pergunta mais importante, chega bem perto, “vai me compreender nesse imenso mundo em que são 34 sentados e não sei quantos em pé contra mim?”. Todos

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Lamentos de um motorista multitarefa

contra um. E sim, ele está vendo um psicólogo, porque o estresse de tudo caindo ao mesmo tempo em suas costas lhe tira o sono, a fome e a alegria, e também porque sente falta do seu amigo. Numa coisa o médico e o paciente concordam: a volta do amigo resolveria tudo, ou boa parte da coisa toda. O psicólogo deixa Seu Ademar falar, vomitando cada palavra. Há quanto tempo ele não desabafava? Ah, essa questão é bem fácil, desde quando seu amigo partiu. O exercício do motorista já em si complicado, mas quando outras tarefas rasgam a equação torna-se uma bola de neve capaz de destruir a sanidade. Certa vez, e isso fora outro dia mesmo, ele acha que foi ontem, e amanhã deve acontecer de novo, o caos se instalou sobre seu mundinho de quatro rodas. Mundo dele, não! O mundo é de todos, mas só ele parece levar a culpa; o reflexo duma sociedade que só se importa com o próprio umbigo, matando dia após dia a empatia. Sobre isso, conta-se: o ônibus parou em um dos pontos da Av. Afonso Pena. VENDE-SE OURO, o um gritou; FOTO 3X4, o outro devolveu. Algum desavisado meteu a mão na buzina e depois contornou o ônibus, e depois baixou o vidro

do carona e só não chamou Seu Ademar de bonito. Enquanto isso, um homem vestindo trapos e usando um cobertor de lã como capa, bate na janela dele pedindo uns trocados e se recusa ir embora após escutar que não era uma boa hora. No mesmo segundo, uma mulher com a bolsa de couro vermelha lhe dá uma nota de cinco, enquanto a fila de passageiros cresce. Ele dá o troco para moça, que vai em direção à roleta. Nesse meio tempo, Seu Ademar tem de olhar pelos retrovisores se todos já desceram pela porta de trás e se já pode fechá-las e se nenhum desonesto as invadiu para um passeio 0800. Só que há quem embarca sem pagar, o pessoal reclama, mas o que ele devia fazer? Não tem como controlar tudo, mesmo se tivesse mais de dois braços e mais de dois olhos. Ele, diante do olhar do psicólogo, bota a mão no rosto e nega com a cabeça, lamentando a situação: Seu Ademar é um só, diz tratando-se na terceira pessoa, usando talvez a empatia que há muito se esqueceu. Exemplo disso é o sujeito — um fí sem mãe, pra não usar um palavrão cabeludo — lhe dá uma nota de cinquenta reais. Cinquenta conto. O motorista multitarefa

suspira bem forte. Aí se instala o caos: ele saca um bolo de nota de dois e de cinco reais, e por um deslize o bolo se desiquilibra e cai perto dos pedais do automóvel. Um bolinho de dois reais perto do freio, outro de notas de cinco embaixo do acelerador. Exasperado, ele se abaixa para apanhá-las. LIBERA AÍ, MOTORISTA!, alguém grita, exige. A ROLETA!, diz outro. E por aí vai, até que alguns explicam aos outros o que aconteceu. Finalmente, o rosto vermelho que nem pimentão, Seu Ademar entrega o troco ao fí sem mãe, que nem ao menos lhe agradece. Então, ajeitando a camisa, ele libera a catraca, passageiro por passageiro. Quando finalmente o ônibus sai do ponto, a tensão de Seu Ademar não diminui, pois sabe que daqui a pouco terá outro. E o outro logo chega. Não dá para saber qual é o pior, apenas que em todos o caos está lá. O caos é um dos passageiros! O outro, então se mostra pior, porque há um homem de cadeira de rodas querendo embarcar. E lá vai o Seu Ademar dar um jeito nisso, onde é que já se viu o motorista deixar o seu posto para manipular outro tipo de máquina? Ah, seu amigo gostava

O Ponto

de fazer aquilo, e o fazia muito bem, se querem saber. O seu amigo dizia que era divertido ver a escada se desfazer. Só que o amigo não está mais lá. E, enquanto a escada se desfez, o ônibus começou a andar lentamente. Seu Ademar não puxou o freio de mão direito. Seu Ademar é um só. Então, largando tudo, pulou a roleta de volta e foi dar um jeito naquilo. E deu! Ao contar aquilo para o doutor, imaginando mais uma vez a tragédia que podia ter causado, ele chorou de soluçar. E o doutor quis lhe dar férias, um atestado talvez; estresse, Seu Ademar. — Está louco? Eu tenho uma família para criar, não posso ficar parado — falou Seu Ademar, sem pensar duas vezes. — Eu quero é o meu amigo de volta, ele sabe como cobrar. Com ele, o nosso mundo roda melhor!

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Esportes • 11

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O Ponto

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O futuro do futebol feminino brasileiro

40 anos após proibição em lei, mulheres buscam espaço em meio à queda de geração consagrada e desenvolvimento das competições nacionais Cristiano Bueno Ana Carolina 3º Período 2019 foi o ano do futebol feminino. A Copa do Mundo da França bateu recordes de audiência, impactando mais de 108 milhões de pessoas no Brasil – mais que o dobro da edição passada -, além de mostrar a evolução técnica e física das atletas e a qualidade das partidas, melhores que muitos jogos do futebol masculino. Para o Brasil, no entanto, o Mundial não deixou lembranças tão boas. A seleção foi eliminada nas oitavas de final pelas francesas, na prorrogação. A equipe teve vários problemas durante a competição, desde lesões até a falta de preparo da comissão técnica, muito contestada. Além disso, houve uma queda da geração de Marta, Cristiane e Formiga, jogadoras consagradas que tiveram dificuldades em manter a competitividade proposta pelas jovens. Após a eliminação, a Rainha Marta foi aos microfones e desabafou, mandando um recado para as atletas brasileiras. “As meninas têm que querer, treinar, se cuidar mais, estarem prontas para jogar quanto tempo for preciso. É isso que eu peço. Não vai ter uma Marta, uma Cristiane ou uma Formiga para sempre. O futebol feminino depende de vocês.

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Valorizem mais. Chorem no começo para sorrirem no fim”. Afinal, o que esperar do futuro do futebol feminino brasileiro? Para a Coordenadora de Futebol Feminino do Cruzeiro, Bárbara Fonseca, o futuro passa por mudanças estruturais e investimento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e das federações. “O futebol feminino precisa evoluir como um todo. Reformular o calendário, por exemplo, tornando-o maior e mais bom adaptado às nossas necessidades. Isso deixa as competições mais atrativas ao consumidor, o torcedor, além dos canais de TV e a imprensa de modo geral”. Bárbara relata que sem os investimentos das federações, os clubes não teriam condições de arcar com os custos de taxas e deslocamentos. Ela também lamenta a postura da Federação Mineira de Futebol (FMF), que impôs a cobrança das taxas de arbitragem aos clubes na edição do Mineiro Feminino de 2019, algo que é bancado pelas instituições organizadoras. “Quanto à Federação Mineira, é um comportamento diverso, provocando algumas dificuldades aos clubes, que já fazem altos investimentos no departamento. Isso pode gerar um esvaziamento da competição. Já são poucos clubes no Campeonato Mineiro (sete) comparado a estados

como São Paulo (com doze clubes) e Rio de Janeiro (com 29 clubes). O esvaziamento é nosso maior medo, visto que a competição já não tem grande valor de mercado”. Ex-capitã da seleção e hoje comentarista dos Canais ESPN, Juliana Cabral separou o trabalho da CBF dos trabalhos dos clubes e à seleção. “Vivemos um momento importante no país em relação às obrigações de formação de equipes femininas adultas e pela base, investimento da Federação Paulista em torneios de jovens. Mas a CBF faz pouco pela seleção e a base. Cadê

“Não vai ter uma Marta, uma Cristiane ou uma Formiga para sempre. O futebol feminino depende de vocês. Valorizem mais. Chorem no começo para sorrirem no fim” Marta

a seleção sub-20 e sub-17? Ano que vem tem mundial e já perdemos o tempo necessário de preparação e formação”, disse Juliana durante o Mina de Passe, programa exibido após a Copa do Mundo da França. Cristiane, centroavante brasileira durante a Copa do Mundo, também abordou a situação de abandono das seleções de base. “Temos que correr atrás da renovação, mesmo que leve um tempo. O trabalho tem que ser a longo prazo, dando continuidade para as seleções de base que mal jogaram neste ano”. Ela também valorizou a atenção dada pelos brasileiros à equipe durante o Mundial em entrevista concedida no desembarque das jogadoras após o torneio. Somente no mês de setembro, a seleção feminina sub-20 voltou a ser convocada após longo período de inatividade. O grupo iniciou sua preparação para o Sul-Americano da categoria, que será disputado no início do ano que vem. Até o momento, não houve nenhuma reunião da equipe sub-17. Uma das razões para o fracasso da seleção brasileira é a estrutura incipiente do futebol feminino nacional. 2019 foi só o terceiro ano em que a CBF realizou o Campeonato Brasileiro de clubes. A competição contou com 16 clube e a Ferroviária sagrou-se campeã. Foi a primeira vez em que a competição

teve transmissão de um canal de televisão, a Rede Bandeirantes. Antes disso, os jogos passavam na CBF TV, disponível apenas na internet. Este ano também marcou o início de dois novos torneios: o Brasileirão A-2, representando a segunda divisão nacional, e o Brasileirão sub-18, para o desenvolvimento das categorias de base. A principal alteração, no entanto, foi feita de maneira arbitrária. A CBF exigiu que todos os times da primeira divisão masculina criassem equipes femininas, porém, sem a necessidade de profissionalização. Desse modo, muitos clubes buscaram parcerias, como fez o Atlético, integrando o Prointer, clube armador da Barragem Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Evitando grandes investimentos, o clube se adequou às regras impostas, mas fica distante de times pioneiros na área, como Flamengo, Corinthians, Internacional e Santos. Alguns fatos mostram que a evolução é tardia e que não se deve exigir resultados de quem não trabalhou para isso nos últimos vinte anos. O pedido de Marta não pode ser ignorado, mas deve ser enviado aos organizadores do futebol feminino brasileiro e, principalmente, aos clubes, que detêm dinheiro, poder e mídia, mas acabam retendo tudo no futebol masculino.

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