ONFIRE 67 | #trippin' | Fev-Mar14

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nÂş67 _ ano XI

w w w . o n fi r e s u r f m a g . c o m

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C R É D I T O S O N F I R E S U R F 6 7 The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marcelo Vaz Peixoto | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [www.carlospintophoto.com] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores João Rei . Marcos Anastácio . Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira . Zaca Soveral | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #67 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.

#coverstory

O processo para esta foto foi uma longa viagem! Numa altura em que este spot estava com uns fundos bem interessantes, digamos assim, várias foram as investidas de Pedro Boonman e do fotógrafo Jorge Matreno para captar o momento certo no enquadramento perfeito! Ao fim de três dias de trabalho com ondas boas, saíram vários momentos de surf mas nenhum deles tinha ainda o factor capa! Ao quarto dia de sobe montanha, desce montanha, entra na pitoresca vila de ruas estreitas e mais descidas íngremes, para chegar a uma praia (ainda) bastante escondida das grandes multidões, as ondas pareciam tudo menos as que se tinham visto nas últimas investidas! Se foi da maré ou de uma mudança da direcção de swell não se percebeu e a mote do dia foi, “Bom, já que viemos até aqui vamos pelo menos surfar! Pode ser que amanhã esteja melhor e o shot saia…”. Sem muitas esperanças, surfista e fotógrafo foram fazer o seu trabalho! E como é óbvio tinha mesmo de ser neste dia que o shot perfeito ia sair! Foi assim que Pedro Boonman garantiu a sua segunda capa na ONFIRE! photo by Jorge Matreno

Tiago Pires, Marlon Lipke e Alexandre Grilo decidiram passar uns dias a explorar Cabo Verde para um treino surfístico intenso! Descobriram ondas sem ninguém em água morna e encarregaram-se de dar água a uma terra que tem a secura como paisagem! photo by Pedro Mestre

#surftrip|Cabo Verde #surftrip|My Road

Na companhia de alguns dos melhores europeus, Nicolau Von Rupp meteu-se numa autocaravana e fez Portugal de Norte a Sul à procura de boas ondas. Uma Surftrip com um carácter muito nacional apesar do elenco de luxo europeu! photo by carlospintophoto.com

#surftrip|Down South #surftrip|Marrocos

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spotlight|João Kopke

Tomás Valente é o novo team manager da REEF e como tal organizou uma viagem do team ao Algarve numa altura em que fortes tempestades assombravam o país. A esperança de boas ondas era mínima mas, como muitas vezes acontece, o Algarve não desapontou… photo by André Carvalho|Goma Um dos destinos mais procurados por portugueses e todos os europeus. Frederico Morais, Tomás Fernandes e os gémeos Guichards são presença regular neste destino. Mas este é um país que te poderá fazer sonhar em voltar ou nunca mais querer sequer ouvir o seu nome… Explicamos-te porquê neste Surftrip com um toque de Análise! photo by carlospintophoto.com

Um dos mais promissores surfistas da nova geração, o carcavelino João Kopke, é um dos mais interessantes surfistas nacionais. O seu foco está na sua internacionalização mas, além do dia a dia de um atleta profissional, Kopke é um músico talentoso, um poliglota em formação e um pensador!… photo by Jorge Matreno


*Não é ciência de foguetões, são calções de banho. Tal como a maioria das coisas na vida, calções de banho são complicados. Os Volcom Mod-Tech requerem centenas de horas de design, técnicas de fabrico, testes de produto e aperfeiçoamento complexo antes de irem para o grande público como o melhor em tecnologia de surf. No entanto não é ciência de foguetões!



O que é o dia a dia para muitos, para outros começa tornar-se numa tradição especial. photo by carlospintophoto.com 12 |

Ao longo dos mais de 20 anos que passaram desde que pisei pela primeira vez em cima de uma prancha de surf mantive sempre uma tradição pessoal de aproveitar dias que para muitos são “sagrados” para surfar. Estou a falar de ocasiões como o almoço de Natal, a madrugada de dia 1 de Janeiro, o dia de Páscoa, os dias em que há “derbys” no futebol, “and so on”, em que a quantidade de pessoas na água diminui radicalmente. Nem sempre dá, mas são mais as vezes que isso é possível do que não. Isto porque tenho a “sorte” de ter uma família pequena, com hábitos muito próprios e mais tendência para fazer jantares que almoços. Além disso recebo aquele “desconto” de “ser mesmo assim”, vá-se lá entender o que isso quer dizer. Também ajuda não gostar de ver futebol mas infelizmente é raro os jogos que reúnem 95% da população portuguesa coincidirem com dias de boas ondas. Nesta mais recente Páscoa mantive a minha tradição e troquei almoço por uma surfada na praia do Guincho. Mas, para minha surpresa, estava mais gente na água do que é normal num dia destes. Não se comparava com um domingo normal, mas mesmo assim estavam umas 20 “cabeças” numa área de poucos metros. Entrei à mesma, na esperança que muitos estivessem nos “últimos cartuchos”, prontos para sair a correr e chegar aos almoços ainda a pingar. Mas não, este grupinho manteve-se por algumas horas apesar de, neste caso, ser um “crowd” que deu gosto ver. Isto porque a maior parte dos surfistas na água era miúdos pequenos, acompanhados pelos pais. Sem dúvida que chegámos a uma época em que é vulgar ver duas gerações de surfistas juntos na água, algo que é muito recente em Portugal mas que prova que o desporto não só está para ficar como tem “pernas” para evoluir muito. Afinal esta tradição de surfar nestes dias, que era limitada a um grupo muito pequeno, está a abranger cada vez mais pessoas e acredito que estas famílias vão também fazer destes dias a sua própria tradição. É algo que faço tenções de, dentro de poucos anos, acompanhar fazendo destes dias também uma tradição especial vivida na água! Life is good! _António Nielsen



| 15 Esta edição irá marcar uma nova forma de viajar pela ONFIRE em 2014 e, coincidentemente (ou não…), esta é uma edição especial viagens! Mas, mesmo além das viagens que aqui vais encontrar, temos a certeza que irás viajar sempre que chegares a uma nova página… photo by carlospintophoto.com

A partir deste ano vais viajar pela ONFIRE de uma outra forma... Já foram várias as vezes que falei aqui da nossa fórmula dos números especiais que, editorialmente, contavam com poucos mas potentes artigos a todos os níveis (fotografia, escrita e gráfica). Essa fórmula envolveu também limpar todos os artigos “pequenos”, isto é, de uma página, de forma a fazer o leitor viajar por cada dupla com maior intensidade. Esse números premium foram lançados apenas quando tínhamos a capacidade de fazer um upgrade ao papel mas, para 2014, decidimos que independentemente de conseguirmos fazer esse upgrade, ou não vamos adoptar esta fórmula em toas as edições. As razões são simples! Primeiro, como disse também no passado, desde o dia 1 da ONFIRE que este era o nosso conceito de revista perfeita. Se a edição tinha 100 páginas, então seriam 100 páginas de quadros fotográficos e textos de luxo. E se há 11 anos o mercado não permitiu isso, obrigando-nos a seguir a linha editorial de 99% das revistas, hoje a loucura dos sites e redes sociais (e tudo o que envolvem), são os responsáveis por abrirem a porta da mudança que sempre quisemos fazer. A verdade é que tudo o que acontece no momento é no momento colocado online, seja a nível de competição e notícias, mas, no caso das fotos e artigos de valor editorial acrescido a conversa é outra. Por muito que vejas fotos excelentes na net, não há um fotógrafo no mundo que não reserve aquele melhor momento de surf com aquele enquadramento especial assim como aquele retracto ou paisagem de sonho para as páginas de uma revista. E a ONFIRE tem o privilégio de trabalhar com vários fotógrafos portugueses e internacionais e todos eles não param de nos surpreender com fotos inacreditáveis e que, acreditem ou não, não conseguimos dar vazão a todas. Se na fórmula dos últimos anos essas fotos muitas vezes eram usadas apenas em números ou artigos especiais - pois usá-las para um artigo de 50.000 palavras e que cabia apenas numa página por questões de espaço era matar a foto – a fórmula que agora implementámos a 100%, aliado à época de grafismo minimal que se vive no momento, permite que essas fotos possam estar em praticamente 95% da ONFIRE, e isso cumpre o objectivo que sempre ambicionamos: levar os nossos leitores a viajar mentalmente a cada página que viram, edição após edição! _Nuno Bandeira



Sabemos que o surfista que está atrás de Eduardo “Edu” Fernandes é um bodyboarder mas, seja qual for a forma que cada um escolhe para “andar” nas ondas, é uma falha enorme aquele companheiro de ondas de Edu neste dia ter perdido este explosivo, plástico e abusado momento de surf! Isto sim, é conjugar da forma perfeita o power surf com o surf performance, algo que, como sabes porque leste a última edição da ONFIRE, é o caminho que o surf está, finalmente, a seguir! photo by Jorge Matreno

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_ 18 Todos sabemos que o nortenho João Guedes passa longas temporadas na zona centro do país, surfando com regularidade picos como Supertubos, Praia Grande ou os vários point breaks da Ericeira. E a sua presença na capital dos point breaks de direita serviram para aprimorar vários aspectos do seu surf mas talvez nenhum tenha sido mais aprimorado que o seu backside attack. Quando um surfista, seja ele quem for, coloca tanta água no ar com uma rotação de tail e um técnica de posicionamento em cima da prancha perfeita como a captada neste momento, então esse surfista sabe que a escolha de passar longas temporadas fora de casa está a surtir o efeito desejado! photo by Jorge Matreno



Esta é uma daquelas situações em que o surfista em causa nos facilita a vida de formas que nem imagina! E a primeira forma em como Pedro Coelho nos facilitou a vida está no facto de ter dado este abusado double grab, o que, juntamente com a mestria do fotógrafo, imediatamente nos fez seleccionar esta foto como obrigatória para a Xpression desta edição. A segunda forma é que o seu nome só nos ajuda na óbvia legenda, que, caso ainda não tivéssemos escrito tanto, seria apenas algo como: “Pedro Coelho faz jus ao seu apelido, dando um gigantesco “salto” de roedor num dia perfeito na Costa da Caparica”! Mas esta foto tem ainda um terceiro elemento e que fez as nossas delicias: o facto de ser a primeira vez que o surfista do Guincho aparece nas páginas da Xpression, o que para nós, editores, é sempre de ouro pois ter caras novas nesta exigente (em termos fotográficos) rúbrica é algo obrigatórjo mas na maioria das vezes bem difícil de conseguir! photo by Jorge Matreno 20 _




23 _ Esta foto de Filipe Jervis tem quase uma ligação cósmica, “karmática” ou “ying and yanguiana” com a foto anterior. Porquê? Ver se conseguimos explicar o nosso raciocínio. Se Jervis é um habitué das páginas da ONFIRE, já Coelho, como dissemos atrás, teve nesta edição a sua primeira grande aparição de destaque na OF. Por outro lado, ambas as fotos foram tiradas na Costa da Caparica mas, contrariando as leis da probabilidade, as fotos foram tiradas em dias diferentes o que é em quase tudo “ying and yungiano” quando Jervis e Coelho são dois grandes amigos que surfam juntos quase 99% das vezes. photo by carlospintophoto.com


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ERRATA

Na ONFIRE 65 colocámos uma imagem de Guilherme Ribeiro, na secção check-out, sem o devido crédito. O autor da “chapa” foi Marco Gonçalves. Sorry... O Capítulo Perfeito Powered by Billabong realizou-se a meio do seu período de espera, a dia 15 de Fevereiro. Depois de cerca de 7 horas de condições perfeitas, com ondas a rondar os 3 metros em Carcavelos, Nicolau Von Rupp sagrou-se campeão pelo segundo ano consecutivo. Ruben Gonzalez, Marlon Lipke e António Silva foram os outros finalistas, terminando em 2º, 3º e 4º respectivamente. photo by Jorge Matreno

Algumas horas, do outro lado do mundo, Vasco Ribeiro era eliminado no round de 16 do Hurley Australian Open of Surfing, um WQS de 6 estrelas realizado em Manly Beach. Para chegar a esta fase, Vasco derrotou vários nomes sonantes, sendo derrotado por Bede Durbdige num heat man-on-man, terminando assim em 9º lugar e juntando valiosos pontos ao seu ranking. photo by ONFIRE

Dia 10 de Março, Tiago Pires e Kelly Slater defrontaram-se num heat man-on-man pela quinta vez nas suas carreiras. A bateria era a sétima do round 3 do Quiksilver Pro Gold Coast, primeira etapa do WCT de 2014. Apesar de ter batido Jordy Smith no round anterior, Saca acabou por perder para Slater, arrancando assim na 13º posição do WCT. Slater acabaria por perder nos quartos de final enquanto que Gabriel Medina vencia pela primeira vez na Austrália. photo by Cestari/ASP

Dia 23 de Março, Frederico Morais erguia mais uma vez a taça de vencedor de uma etapa da Liga MOCHE, o Allianz Caparica Pro, etapa inaugural do circuito em 2014. O seu adversário na final desta etapa realizada na Costa da Caparica era Marlon Lipke, que por muito pouco não roubou a vitória com a última onda. Mas a grande revelação da prova foi a performance de Teresa Bonvalot na final feminina que venceu ao impôr uma combinação de duas ondas às suas adversárias. photo by Jorge Matreno

Dia 13 de Abril terminou o Vissla ISA World Junior Surfing Championships, realizado no Equador. Portugal levava uma equipa fortíssima mas não conseguiu melhor do que um 9º lugar no ranking geral. Teresa Bonvalot foi o grande destaque da selecção nacional ao terminar em 6º lugar na categoria de sub16 feminino. A equipa havaiana foi quem venceu esta edição seguida pela França, Austrália e EUA. photo by ISA


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Competitivo! É o que melhor define este surfista local de Espinho e a sua forma de surfar. Desde novo que transporta toda a energia que tem, para todo o tipo de actividade desportiva, das quais não prescinde diariamente (ou bi-diariamente…) O surf não é excepção e depois de uma longa temporada nos Açores, por motivos profissionais, a surfar as águas quentes, cristalinas e sem crowd, voltou com o surf afiado e com um faro apurado para os tubos e mar pesado. Mantendo uma invejável forma física, com ginásio, treinos e participações em Triatlo, não é de estranhar que, se houver ondas o dia todo, a qualquer hora que vão surfar, fervoroso ou calmo, vão encontrar o Ivo lá dentro de certeza. Tendo como pico mais regular o Casino em Espinho, quando a maior parte descansa na maré cheia, esconde-se muitas vezes num dos picos, misto de rocha e areia que se escondem mais a norte, para depois voltar para mais uma sessão em “casa”.

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Mas é nos dias grandes que ele mais se destaca. Entre as pausas para comer e passear os cães pela praia, na altura em que o mar estiver mais pesado e tubular, podem pôr o vosso dinheiro que ele fará de tudo para apanhar o maior set e meter para dentro da maior toca que entrar!

nome Ivo Manuel Correia Carvalho local Espinho - Casino idade 38 apoio Backdoor Espinho texto e photos by P e d r o

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Ivo

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Guilherme Ribeiro a mostrar uma maturidade invulgar para a sua idade.

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Carcavelos

Há 50anos..? [

texto by Ricardo Vieira r i c a r d o v i e i ra 3 0 @ g m a i l . c o m ]

Depois de muitas ondas, muitas horas de surf, muitas praias diferentes, algumas viagens e, nos últimos anos, valentes quilómetros de caravana à procura de novos sítios – um em Espanha não me sai da ideia – cheguei em Fevereiro aos meus 30 anos de surf. Assim, sem dar por ela. Sem dor nem ofício nem campainha a tocar. Cheguei lá como quem chega à padaria de manhã, coisa inevitável, predestinada, obrigatória, que para acontecer basta-lhe tempo. Sem mérito que não seja o da paciência, da insistência, da fé quase religiosa. Partilhei a data com poucos amigos, em especial com um casal que está fora do país, fora dos impostos que nos são impostos. Um casal cujo maior património é um par de cérebros que conseguiu reunir e que depois fez com eles o que a maioria não suspeita ser possível; pô-los a trabalhar, a carburar numa imensa fumarada, a pensar desalmadamente na vida, no que é e no que achavam que devia ser. E chegaram a uma conclusão que me parece cada vez mais óbvia; a vida é

mais vida fora daqui. É mais vida noutras terras, noutros mares e, especialmente, com outros povos. E assim não tardou a juntarem os tarecos todos, a empacotarem pranchas, memórias e almas e a enfiaremse num tubo com asas e muitas horas pela frente rumo à civilização. Fizeram-no duas ou três vezes, cada vez com maior aprumo e conhecimento, até conseguirem finalmente ajustarse como filhos da nova terra. Fomos trocando notícias e sarilhos, fotografias e nostalgias, pareceres

e estados de alma, até eu dividir com eles os meus trinta anos de fanatismo ao serviço do mar. Depois a resposta tardou. Estranhei. Dois dias para me chegar uma carta em formato moderno – chamam-lhe email, parece – sem cheiro a papel de envelope, cola ou tinta de selo com cara de rei. Eram os parabéns por esse feito que com sorte chega a todos, e era uma notícia com três fotos em anexo e o seguinte comentário: “...curiosamente, foi também ontem que descobri a praia gémea de Carcavelos. What about that? A mesma onda rápida e cavada, impossível na maré vazia ainda que de cá de fora aparente a perfeição absoluta, ‘perfeita’ e tubular na maré certa, e mais suave na maré cheia. Fundo de areia, picos múltiplos e até a água está à mesma temperatura. (mando fotos para confirmação) A praia é comprida aparentando ser mais comprida que carca. Aspectos positivos: envolvente muito mais bonita, cheia de árvores e montanhas, picos múltiplos (pelo menos uns 15) e, pasme-se, Sábado à 1h da tarde num dia de 30 graus, tinha 5 pessoas dentro de água. Carcavelos há cinquenta anos? Quem sabe.” Vi as fotografias uma a uma, desfiei-as de cima a baixo e vi-lhes o avesso, à procura de truque. Não dava para acreditar. Coisa tão parecida, tão a mesma, bonita e perfeita. Aumentei as fotografias, fiz-lhe negativos num programa próprio e sobrepus em fotografias de Carcavelos. A semelhança é arrepiante. Fechei o álbum, guardei as gémeas. E comecei a pensar. Na vida que existe lá fora e na não vida que vestimos aqui todos os dias. Decidi. Carcavelos há 50 anos? Espera por mim. _RV

Apesar de ser em 2014, este momento pode retratar muito bem Carcavelos há 50 anos pois foi um raro momento em que o crowd ainda não tinha invadido o line up! photo by Jorge Matreno

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“ A g l o b a l i z a ç ã o j á ch e g o u a qui ? ” texto by Miguel Pedreira

_ Muitas vezes tenho criticado a ASP, acusando-a de alguma falta de atitude, de visão e até de profissionalismo em algumas das áreas que rege. Faço-o porque amo o surf e quero ver o melhor para o seu futuro. A minha envolvência com esta organização e os anos de trabalho dão-me essa confiança. Isso e uma profunda convicção de crítica construtiva – aquela em que se aponta os defeitos, mas também uma outra visão das eventuais soluções ou melhorias do sistema. Quando a ZoSea tomou conta da ASP fiquei apreensivo e teci algumas críticas quanto às mudanças anunciadas mas nunca verdadeiramente reveladas... em boa verdade, só no início deste ano começaram a ser conhecidas essas mudanças. Demasiado perto do início da época forte, do WCT. E como qualquer jornalista sabe, quem retém informação essencial, rapidamente acaba vítima da sua tentativa de controlo, muitas vezes através de crítica, dúvida ou até de contra-informação. Penso ter sido esse o caso recente, que colocou a direcção da ASP “debaixo de fogo”, de todos os quadrantes, pouco depois de até ter começado a revelar algumas novidades bastante interessantes, obrigando-a mesmo a recuar em algumas das “novas medidas” a aplicar. Como acho que justiça deve ser feita (e embora partilhe da opinião de muitos em relação a algumas dessas críticas), nem tudo me parece negativo em relação às mudanças agora reveladas. O webcast – melhorou. O facto de terem criado uma equipa coesa, que irá acompanhar o circuito na íntegra, dá outra consistência às transmissões. Falta-lhe a presença de jornalistas com mais experiência, isentos e que falem outras línguas, para além do inglês. Isso ficou bem visível na entrevista ao vencedor do Quik Pro Gold Coast, o brasileiro Gabriel Medina, ao qual não conseguiram “arrancar” verdadeiramente a emoção da vitória conquistada. Um circuito mundial não deve falar apenas para os utilizadores da língua inglesa, como fica cada vez mais perceptível. O facto da ASP ter anunciado uma transmissão em várias línguas, como quase sempre aconteceu, e de isso só ter acontecido a meio da prova (e apenas para Francês e Português – Brasil), também não caiu muito bem. O broadcast – qual broadcast? A menos de 24 horas do início da primeira etapa do WCT, a ASP decidiu não renovar os direitos de transmissão com o Fuel TV Portugal (que na realidade é distribuído, via Portugal, para toda a Europa, Médio Oriente e África), que transmitia o WCT masculino há mais de 4 anos e com o qual estava a negociar uma nova proposta (choruda) há alguns meses... mais tarde veio a lume um eventual conflito de interesses da empresa distribuidora e negociadora com o próprio produto e com o canal em questão, o que também não abona muito em relação à situação. Independentemente da decisão ser negativa, não se tomam decisões destas a 24 horas de se iniciar o ano competitivo e, sobretudo, sem uma alternativa. O que tem agora a ASP a dizer aos milhares de fãs europeus, médio orientais e africanos que seguiam o WCT através do Fuel TV? Desculpem lá?!... em Portugal, por exemplo, havia uma elevada percentagem da população que seguia o WCT através deste canal, fosse praticante ou não... em termos puramente numéricos, é óbvio que no Brasil há mais pessoas a ver uma transmissão destas (são 200 milhões, contra 10 milhões de portugueses!), mas em termos percentuais da população, Portugal fica a ganhar. Até pode ser que a situação se altere, mas este não deixa de ser um parágrafo negro no primeiro capítulo da “nova ASP” em 2014. O site – graficamente mais apelativo, a verdade é que conta com menos funções e informação. É confuso perceber onde se encontra o quê... o desaparecimento do site específico da ASP Europa é, no mínimo, estranho. O facto de nem sequer existir uma opção para ver o site noutras línguas é igualmente ridículo, uma vez que esta é uma das funções mais antigas na história dos websites. Onde está o BWWT, Circuito Mundial de Ondas Grandes, que a ASP integrou sob a sua alçada?... não há uma única informação no site oficial da entidade que supostamente rege agora este circuito... e onde estão os Power Rankings de Lewis Samuels ali publicados, já agora?!... Foi na primeira etapa do WCT de 2014, vencida pelo fenómeno brasileiro Gabriel Medina, que se começaram a ver parte das mudanças da ASP, algumas das quais foram completamente bombardeadas nas redes sociais nesse momento!... photo by ASP|Kirstin

A comunicação – melhorou substancialmente. Agora parece existir finalmente uma estratégia de comunicação por parte da ASP e os press releases estão mais claros, embora continuem a pecar pela ausência de informação acerca dos últimos heats dos dias de competição, onde por vezes acontece algo de muito relevante. A pressa de lançar um comunicado ao final do dia pode ser inimiga da sua própria relevância. Pena também que o responsável de media da ASP não comunique com os jornalistas... não sei se será fruto daquela tentativa ridícula de impor regras que tornariam qualquer conteúdo produzido por qualquer jornalista credenciado nas provas da ASP propriedade da... ASP?!... regras essas que se viram na obrigação de eliminar, tal foi o protesto, vindo de todo o mundo!


Os circuitos – não sei se substituir a etapa de Bali pelo regresso de Jeffreys Bay é uma mudança assim tão positiva. O ideal, obviamente, era ter as duas. Assim soa a solução de última hora. O regresso de Honolua Bay, no Hawaii, ao WCT feminino é claramente uma mais valia. A simplificação dos termos e rankings também. Circuito de Qualificação e Circuito Mundial, com respectivos rankings, é bem mais fácil de entender do que a situação que tínhamos em 2013. Já no que toca às provas dos circuitos de qualificação e de juniores, parece haver uma certa displicência, com cada vez menos etapas a cada ano que passa e, já em 2014, algumas a serem mesmo canceladas... por este andar, ainda teremos um circuito de qualificação mais curto que o WCT... As regras – alguém consegue explicar porque raio o australiano Owen Wright (primeiro Injury Wildcard para este ano) é o 13º classificado no seeding de prova e o nosso Tiago Pires (segundo Injury Wildcard) é o 34º classificado no seeding?... E porque, de repente, os atletas do WCT são colocados num pedestal, quase inacessíveis aos fãs e jornalistas?... o facto de haver uma ligação fácil aos ídolos de muitos era, até hoje, uma das grandes mais valias deste desporto!... É certo que a ASP já conseguiu um “umbrella sponsor” para os circuitos WCT – a Samsung, bem como importantes apoios, como a Go Pro, mas na realidade de que valores estamos a falar? Nenhuma das marcas anunciou esse apoio... o que deixa novamente dúvidas no ar... serão patrocínios assim tão relevantes para estes dois gigantes? Também é certo que “Roma e Pavia não se fizeram num dia” e deve ser dado o benefício da dúvida à direcção da ASP, de forma a conseguir ter tempo

para aplicar todas as alterações a que se propôs, mas não foi a própria ASP a dizer, no final do ano passado, que 2014 seria um ano completamente diferente? Numa época onde a “globalização” (leia-se “americanização”) do mundo é cada vez mais preocupante, uma direcção americana, de não-surfistas, da vertente competitiva (a que chamamos desporto) de um estilo de vida tão distinto como o surf, pode dar muito a alguns, poucos, mas ao mesmo tempo desvirtuar a sua própria essência... há muita gente válida no meio desses “business men”, que pode e deve colocar em cima da mesa toda a sua experiência na área, de forma a garantir que o surf continua... surf!... É que, apesar de haver maior clareza na direcção que a ASP está a tomar, continuam a existir muitas dúvidas no ar... até quando?... _MP 31 _


Cabo Verde é um semi-escondido paraíso de surf. Apesar de rodeado por água, estas ilhas são muito áridas. Mas quando dois dos mais poderosos surfistas portuguesas, Tiago Pires e Marlon Lipke decidiram, juntamente com o travel man Alexandre Grilo, ir lá fazer uma sessão de treinos, durante cinco dias as secas terras de Cabo Verde foram abençadas com muita chuva... salgada!

photos e texto by Pedro Mestre intro e legendas by ONFIRE




A chegada Esta não foi a mais promissora chegada que se pode ter, afinal tínhamos viajado para São Vicente no intuito de apanhar sol e boas ondas mas, ao chegarmos, deparamo-nos com uma chuva tudo menos amistosa. “Clima tropical”?...Tudo bem, mas tinha que ser logo quando chegámos?! Também o plano para apanhar boas ondas à chegada ficou logo abortado pois o avião teve que ser consertado para levantar voo, o que o atrasou uma hora e fez com que a viagem parecesse demorar duas vezes mais. Chegámos já ao final de tarde, a tempo de eu conhecer o João Cortez, ex-chefe de Júris e velho conhecido do resto do grupo. Há oito anos em São Vicente, era ele que nos ia guiar no resto da viagem, e as histórias que contava sobre as ondas da zona davam a entender que estavamos em boas mãos. Na hora da Cachupa (comida muito apreciada em Cabo Verde) contounos o plano para o dia seguinte: apanhar o barco às 7 da manhã para Santo Antão, andar umas horas de carro e apanhar um point break de direitas, conhecido por Tarrafal, que na sua opinião é a melhor onda de Cabo Verde. Por mim tudo bem: point de direitas+Saca+Marlon+Grilo = trabalho fácil. Fui dormir mais descansado. Dia 1 Às sete e quinze estávamos a chegar ao porto para apanhar o barco. Com algum receio de o termos perdido, o João perguntou em crioulo a um funcionário do porto: “O barco já foi?”, resposta: “Não”. Insiste o nosso amigo guia: “Ainda vai?”, a mesma resposta: ”Não”. Pelo que percebi, ali, mesmo os serviços públicos não têm grandes responsabilidades com horários. Como não havia pessoas para encher o barco daquela hora, tivemos de esperar todos pelo das 10 horas. Chegados a Santo Antão foi fácil perceber que é uma ilha bem menos povoada e com uma paisagem ainda mais natural. O que eu não percebi logo foi que as ondas que íamos apanhar eram do lado oposto da ilha, com o caminho pelas montanhas e em terra batida a separar-nos. Desconhecendo este facto na altura, voluntariei-me para ir na caixa do jipe junto com dois locais, Jason e Lei. Eles bem me avisaram que o caminho era duro e cheio de pó, e era mesmo, ao ponto de que na chegada ao Tarrafal todos quiseram tirar uma foto à minha nova cor. Confortou-me saber que nos lugares da frente a viagem também não foi fácil dada a frequência com que o condutor se distraia. Mas até chegar à onda ainda houve “A” peripécia... Assim que saímos do carro um pastor local veio na nossa direcção de catana em punho dizendo que a estrada era dele e que não a podíamos usar! Resultado, voltámos cerca de 500 metros para trás para depois fazermos o caminho a pé junto ao mar até à onda. Apesar de não estar nos seus dias, deu para perceber que aquela era uma onda a sério. A fome que o grupo tinha de mar, assim como a ausência total de crowd, ajudou a que fosse uma primeira grande sessão!

Alexandre Grilo é uma das melhores companhias do mundo para viajar ou não fosse a sua vida viajar pelo mundo para tratar dos seus vários Lapoint Camps. E não é por isso de admirar que tenha acompanho Pires e Lipke nesta investida a Cabo Verde.

Num dos dias maiores, Tiago Pires aproveitou para soltar todo o seu surf e, consequentemente, muita água no ar, dando uma bela chuveirada numa terra que, apesar de rodeada por mar, anseia por cada gota de água que venha do céu! | 35



Esta foi sem dúvida nenhuma uma viagem protagonizada por dois power surfers, e que são mesmo, com 99% de certeza, os dois surfistas com mais power em Portugal. Por isso não é de admirar que em cada surrfda quando um metia litros de água no ar, o outro, neste caso Marlon Lipke, repetia a façanha mas com um pouco mais de power. Há forma melhor de treinar do que esta? | 37


Nesta primeira noite acabámos por ficar numa pousada meio hippy quase perfeita, quase porque só havia electricidade até às dez da noite, o que até pode ser muito romântico mas não dá jeito nenhum quando tens que descarregar cartões e carregar baterias. Dia 2 O swell desapareceu e tivemos que ir procurar ondas no outro lado da ilha. Desta vez levei uma máscara improvisada para o caminho de terra. O sítio de destino chamava-se Paúl do Mar, e o cenário era incrível! Vários point breaks, na maioria de esquerdas, envolvidos por montanhas gigantes e vilas em estilo favela assustadoramente perto da linha de água. Aqui o mar já estava um pouco maior e o power surf do grupo sobressaiu ainda mais. Na segunda surfada a nossa presença fez-se notar, ao ponto de haver dezenas de pessoas a gritar cada vez que um deles fazia uma manobra. Claro que a descrição, inúmeras vezes repetida, que o João fazia do Saca (“Cristiano Ronaldo do Surf”) também ajudava. Apesar do vento mudar várias vezes ao longo do dia, acabou por ser um excelente dia de surf e assim a decisão de ficar para o dia seguinte foi unânime. Dia 3 Este dia acabou por ser o menos produtivo a nível de surf pois o mar caiu e o vento aumentou consideravelmente. Só mesmo a vontade do Marlon em fazer um enquadramento diferente levou o grupo para a água numa onda que partia junto a uma falésia com um buraco gigante. À saída esperámos uma hora pelo João que tinha ido comprar pão e demorava 5 minutos... Já se sabe que a ilha tem o seu ritmo próprio. Com as previsões a não serem muito animadoras, decidimos então voltar a São Vicente que é mais exposta ao swell . Durante a viagem de barco ainda houve tempo para o Grilo e o Marlon verem o vento levar-lhes os óculos de sol.

38 | Apesar do vento, a quantidade de lajes que existem em Cabo Verde fazem sempre com que se encontre uma onda mais do que surfável. Nas direitas, Tiago Pires meteu todo o seu power a funcionar, numa altura em que estava a reforçar (surfisticamente) o seu joelho.



Dia 4

40 |

O surf está de volta! S. Vicente é daqueles sítios onde não interessa muito o vento, as lajes são tão grandes e consistentes que as ondas rolam de qualquer maneira. Surfada de manhã num point break de direitas com alguns sets bem perto dos dois metros, e outra surfada à tarde numa laje de esquerdas mas com mar já mais pequeno. Em ambas as surfadas as entradas e saídas não foram nada fáceis, é o preço a pagar pela total ausência de crowd. Destaque também para a sorte do Marlon que sempre que ficava na água sozinha aparecia o sol (uma raridade neste dia). Dia 5

Este foi o pior dia da viagem em termos de ondas! Mas tanto Marlon Lipke como Tiago Pires quiseram aproveitaro cenário esta baía para uns enquadramentos diferentes! O português Marlon Lipke foi o primeiro a enquadrar o seu carve trademark na paisagem “urbana” desta vila!

Com o sucesso do dia anterior nada mais óbvio que repetir a receita, outra vez com ondas boas mas difíceis. Aliás, na realidade nem seriam ondas boas não fosse a qualidade técnica e excelente condição física dos três. No final de contas foi uma excelente viagem para todos, e percebia-se a satisfação do grupo principalmente pelas promessas de que voltariam o quanto antes para mais uns dias de treino: Tiago Pires para a elite do surf mundial, Marlon Lipke para os WQS e Alexandre Grilo para manter a sua forma surfística no topo! _PM Agradecimento: Surfaris Cabo Verde | w w w . s u r f a r i s c a b o v e r d e . c o m joaovieiracortez@gmail.com | Face - João Cortez (CV) Telf.: 00238 9865107 | 00238 2222725




Para produzir a sua série de vídeo, My Road, Nicolau Von Rupp procurou algumas das melhores ondas do planeta, e não poderia ter deixado de passar pelo nosso país. Na teoria seria a mais simples das viagens, era só convidar algumas amigos, juntar o fotógrafo residente da ONFIRE e já está! Ou não... photos by carlospintophoto.com texto e legendas by ONFIRE


A fórmula da série My Road é muito simples, entre campeonatos da ASP juntar boas imagens de surf com muito lifestyle pelo meio, tudo “narrado” pelo próprio Nicolau. Tudo começou depois da temporada Australiana e já que estava naquele hemisfério, o lusogermânico aproveitou para ir a Lakey Peak em Bali, Indonésia, com o seu amigo Maxime Huscenot para apanhar umas ondas “Coca-Cola”. Já no local estava outro conhecido surfista europeu, Reubyn Ash, que se juntou ao grupo e acabou por fazer parte desse primeiro episódio. Seguiu-se o México onde Nicolau competiu no Pawa Tube Fest e venceu o seu segundo Special Event em poucos meses. Aritz Aranburu foi o “europeu de serviço” que lhe fez companhia num evento onde alguns dos mais conceituados tube riders do North Shore e arredores estavam presentes. Nas Ilhas Canárias, Nic andou à procura de “slabs” mas só encontrou ondas mais “high performance”. O “Kelly Slater local”, Jonathan Gonzalez, e um Sul-Africano com o estranho nome de Lazi Ruedegger, juntaram-se neste que foi talvez o episódio menos potente da série. A viagem seguinte, ao Chile, foi um enorme desafio. Von Rupp, Alex Botelho, Reubyn Ash e o local Manuel Selman encontraram grandes dificuldades à procura de ondas, fazendo milhares de quilómetros em vão, tendo ficado inclusivamente uma semana sem surfar. Quando chegaram a Arica, a onda que chegou a albergar uma etapa “The Search” do WCT (vencida por Andy Irons), tudo mudou. Apesar de terem enfrentado temperaturas muito baixas, dentro e fora de água, apanharam este “slab” a funcionar no seu melhor, uma espécie de “Pipeline” sul-americano mas com rochas forradas de ouriços em substituição dos reefs havaianos. Depois desta sessão de tubos profundos, tudo correu bem e o grupo dirigiu-se para sul onde passaram o resto da viagem a dar grandes tubos e carves em Point Breaks para a esquerda.

Numa disputa entre grandes talentos, Nicolau Von Rupp investiu primeiro em ter o melhor carve. 44_




Com manobras destas, Maxime Huscenot mostra que não é apenas uma bombinha competitiva.

A “etapa” portuguesa do My Road tinha tudo para ser a mais fácil de produzir uma vez que Nicolau é um “wave magnet” em qualquer lado do mundo, por isso no seu país não haveria muito por onde falhar. Ou haveria? Desta vez a viagem seria feita de auto-caravana e os seus “colegas” seriam repetentes de outras viagens, Reubyn Ash e Maxime Huscenot. Reubyn é provavelmente o melhor surfista da Inglaterra na actualidade e optou por deixar a competição, focando-se apenas no free surf. O seu surf é do mais progressivo que há e no passado Ash ganhou visibilidade mundial quando desenvolveu um aéreo até então inédito. Este seu “Reubyo” tinha algumas semelhanças com o famoso “rodeo”, estando a grande diferença na rotação inicial. Seja uma manobra própria ou uma derivação de outra, o que é certo é que Reubyn representava a parte mais progressiva do grupo, puxando sempre os limites. Maxime Huscenot, francês da Ilha Reunião, é quase o oposto do inglês, sendo uma verdadeira máquina de competição. O seu surf de backside, talhado em Point Breaks como St. Leu, fazem dele um dos europeus com maior potencial de chegar ao WCT. No início da sua carreira, Maxime parecia um “clone” de Jeremy Flores, com semelhantes no seu surf e até físicas. À medida que foi crescendo foi criando uma identidade própria como surfista, tendo inclusivamente conseguido um título mundial júnior da ASP. Apesar de competitivo, Maxime tem no seu repertório um surf muito progressivo e acompanhou o ritmo imposto pelos seus “colegas” sem grande dificuldade. Nicolau Von Rupp pode ser considerada uma mistura dos dois, recolhendo o melhor de ser free surfer, mas ainda com grandes objectivos competitivos. Juntamente com o seu grande amigo da Praia Grande, Pedro Pinto, era certo que cada sessão fosse um autêntico vídeo de surf, ou não...

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Foi de backside que Reubyn Ash acertou algumas das manobras mais abusadas da viagem.

O primeiro destino era a Figueira da Foz, onde Nicolau e companhia esperavam apanhar os conhecidos Point Breaks da zona a funcionar. Mas faltava swell, e mesmo tendo batido os mais consistentes picos da Figueira, não havia nada a fazer. O grupo não desanimou pois estavam a cerca de uma hora de distância da Nazaré, onde se encontra uma das praias mais consistentes da Europa. Era certo que não estaria o tipo de ondas pelas quais a Nazaré é conhecida, mas mesmo com mar pequeno a viagem parecia valer a pena. Na verdade, uma viagem que numa viatura normal demora uma hora, de auto-caravana a tendência é para duplicar o tempo e ao fim de algumas voltas inesperadas o “quarteto” lá chegou ao seu destino. Mas também a Nazaré estava com ondas muito pequenas, e o vento não era muito favorável. 48_




Sem grandes expectativas a auto-caravana continuou a descer a costa, parando noutra consistente praia, na Foz do Arelho. À falta de ondas novamente o grupo começou a ponderar abortar o plano, as ondas teimavam em não aumentar, apesar do Windguru apontar para uma ligeira subida para os próximos dias. As dúvidas eram muitas, seria melhor esperar pelas ondas onde estavam ou seguir viagem? A decisão, apesar de não ter sido por 100% consensual, foi seguir para o Alentejo e procurar umas ondas por S. Torpes e Aivados. À chegada o “quarteto” já estava no limite, eram muitos quilómetros e muito pouco surf. S. Torpes já mexia, mas ainda não era o que se esperava então a autocaravana seguiu para a praia mais consistente da área, os Aivados. A esperança era pouca e os estrangeiros já começavam a duvidar dos conhecimentos de Nicolau. Até que chegaram e finalmente havia ondas com dimensão. Não interessava se não estava clássico, perante o que já tinham passado as ondas eram mais do que suficientes para limpar o suor desta longa viagem com água salgada. No dia seguinte mais uma surpresa agradável, a esquerda do L-Point estava a quebrar, e com boas ondas. Apenas Pinto e Nicolau conheciam esta onda, enquanto que Maxime e Reubyn ficaram espantados pela sua qualidade, escondida algures no Alentejo. Foi aí que se realizou a segunda boa sessão da viagem, começando a “salvar” este “My Road” português. Já de “barriga cheia” e com o swell “on the rise” já não houve medo de fazer mais uns quilómetros e o próximo destino foi a Ericeira. Curiosamente, mais uma vez, foi uma viagem furada. A ondulação não era suficiente para que os point breaks deste que é provavelmente o melhor pedaço de costa da Europa. Mas, ainda com um “olho no prémio”, o caravana seguiu para Peniche. Uma das maiores vantagens de viajar de autocaravana é ter a capacidade de viajar durante a noite e acordar em frente ao pico. Desta vez o spot escolhido foi o conhecido “Pico da Antena”, e quando a noite se transformou em dia o grupo não parecia querer acreditar nas ondas que estavam a ver. Picos definidos a quebrar para os dois lados com ondas de metro e meio. Finalmente a costa portuguesa mostrava o que vale. Durante os próximos três dias a auto-caravana pouco se mexeu. Quando a ondulação caiu, também o vento desceu e o ondas ficaram ainda mais divertidas. De repente a surf trip tinha-se tornado num sucesso e foram esquecidos os quilómetros perdidos e a frustrante procura pelas ondas. Missão cumprida, mais um “my road” de sucesso! _OF

Não é preciso voar alto para ser progressivo, Nicolau Von Rupp dá um toque moderno a uma manobra progressiva. _51



photos e texto by André Carvalho|GOMA intro e legendas by ONFIRE

Será que nos dias de hoje ainda se marcam Surf Trips sem auxílio dos sites de previsão de ondulação? O team REEF nacional não tinha outra opção pois, com seis agendas diferentes para equacionar, o último fim de semana de Novembro era a única data possível. Uns dias antes do arranque, a viagem parecia destinada a falhar pois a ondulação era “curta” e alguns dos convocados estavam a tentar desmarcar. Mas graças ao sangue frio do orquestrador desta iniciativa, Tomás Valente, todos os surfistas arriscaram e fizeram-se à estrada, para três dias de curtição no Algarve!



O grupo era pequeno mas “complexo”. Tomás Valente dava aqui os primeiros passos como team manager da REEF e tinha convocado Francisco Alves, João Moreira, Pedro Monteiro “Pecas” e ainda a mim para fotografar e o Damásio para filmar. Como não podia deixar de ser, três dias antes da partida começaram a surgir alguns contratempos que inevitavelmente punham a viagem em risco e os nervos do Valente à prova. Foi aí que o Xico Alves percebeu que a sua lesão no tornozelo não estava bem curada e que era melhor não arriscar surfar. Por sua vez o Pecas percebeu que o mar ia estar flat e que fazer 600km para apanhar meio metro não era a coisa que mais lhe agradasse. O Tomás ligava-me feito barata tonta sem saber se a viagem ia acontecer ou não. Como nestas alturas o que é preciso é calma, nada como confiar na sorte e usar alguns “truques” para convencer a malta a arrancar. A parte do Xico foi tranquila de resolver, se não surfasse não haveria problema, fazia-se fotos de lifestyle e assim já não havia escapatória possível à viagem. Com o Pecas teve de se usar um método mais emocional... Como bom amigo que é, não seria com certeza ele que ia estar na base do boicote à primeira viagem do Tomás Valente como team manager da marca, certo? Certíssimo!! Tudo a bordo dos carros na quinta-feira à noite prontos para arrancar para um fim de semana, que poderia ser de surf... ou não. Na bagagem uma secreta esperança de um levante entrar no dia seguinte de manhã. Caso não entrasse poderíamos sempre aproveitar o sol algarvio, enquanto em Lisboa o mau tempo teimava em não desaparecer. Quando se pensa em Algarve, pensa-se logo no “The Shelter”, o hostel dos nossos amigos Mouzinhos (André e Miguel) em Lagos, que além de nos albergarem, albergam a maior parte dos surfistas nacionais em busca de ondas perfeitas pela costa sul do país. Chegámos tarde mas tivemos mesmo a confirmação do levante, tanto que o Luca Guichard já lá estava hospedado e de olho no swell do dia seguinte. Ficámos em modo camarata e enquanto uns tentavam adormecer, outros insistiam nas parvoíces típicas de cinco homens a dividirem um quarto, risada garantida, com o Tomás prontamente alcunhado de “Mister”, a meter ordem no quarto quando a lua já ia bem alta.

Nada de novo no surf de Tomás Valente, só os abusos de sempre!

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Mesmo não estando 100% recuperado da sua lesão, Francisco Alves arriscou muito, e foi recompensado com a manobra da viagem!

Surf check matinal e deu para perceber que realmente havia mesmo ondas e bem maiores do que poderíamos ter sonhado. Surfámos num pico muito curtido, com esquerdas e direitas bem pertinho de terra e boas rampas para voar. O Sol não dava descanso e de repente parecia que tínhamos mudado de país. A lesão do Xico Alves, curou-se como que milagrosamente e o momento do dia foi um aéreo 360 perfeito de backside que o Xico deu à nossa frente. Não sei se motivado pelo novo estatuto de free surfer, se pelas viagens que planeia fazer, o Xico está a surfar muito! Com muito estilo, muito power e sempre cheio de pica. Outra surpresa agradável foi o João Moreira, a acertar alguns aéreos 360 de frontside e a tentar muitos de backside. Ponham os olhos neste miúdo, esteja grande ou pequeno, para a esquerda ou direita, arrisco a dizer que da geração dele é o puto que mais está a progredir. Mete cada vez mais manobras aéreas no seu reportório, sem nunca esquecer que a base do surf é feita com rails e tubos. No Tomás, nada de novo, mas tudo mais polido. O Tomás continua a ser aquele surfista que “safa” sempre uma viagem. Aéreos seguros e completos, parvoíce QB e uma alegria constante continuam a fazer dele um dos surfistas mais carismáticos. Quem por lá andava também era o Marlon Lipke e o Miguel Mouzinho, agora colegas de equipa. O Marlon está super focado e com um surf altamente competitivo, entre o arranque e o fim da onda não sobrava nada para destruir, o homem está imparável. O Mouzinho, provavelmente motivado pelo novo patrocínio também não quis deixar os seus créditos por mãos alheias, e às tantas eu já não percebia se estava a documentar uma sessão de free surf se um heat de surf ao mais alto nível. O dia passou-se com um sorriso, já estava tudo com saudades do Verão e realmente basta descer 300km e é possível encontrá-lo, mesmo em pleno Inverno.



João Moreira começa a acertar alguns voos mais arriscados.

Este não era o mar do Pecas mas o tube rider de Carcavelos não deixou de dar os seus carves. 58 |




Miguel Mouzinho ĂŠ um grande embaixador do surf Algarvio, apesar de nĂŁo tratar muito bem as ondas! | 61



| 63 Marlon Lipke não faz parte do team Reef mas mantêm o estatuto de melhor surfista de sempre do Algarve e esta reportagem não estaria completa sem ele.

Sexta à noite e Lagos pode ser uma mistura explosiva, ainda para mais se tivermos em conta que o Melvin Lipke está agora a explorar um bar no centro da Vila, M-E-D-O! Foi mesmo lá que aterrámos, entre shots e alguma dança no Mellow Loco, a manhã seguinte foi de ressaca e cama. Azar nosso, sorte dos Mouzinhos, Luca e Marlon, que facturaram umas boas com offshore na Carrapateira. Nós contentámo-nos com onshore e um metro de ondas com boas junções na Cordoama. A noite de sábado foi mais calma. Com o Kikas a arrasar em Sunset, ninguém saiu do computador e a vibe no “The Shelter” era incrível, parecia que estávamos a assistir a jogo de futebol. No último dia, o mar baixou em ambas as costas, mas ainda deu para apanhar umas na praia da Carriagem. Meio metro com um offshore muito forte, um frio de rachar e um visual incrível salvou-nos o dia. Era hora de regressar e sem arrependimentos de termos arriscado. Mais uma vez o Algarve mostrou-nos que acaba por ser a melhor alternativa aos dias cinzentos e frios que se fazem sentir cá por cima. O crowd começa a fazer-se sentir-se, mas acima de tudo se respeitarmos continuamos a conseguir surfar tranquilamente. Alternativas não faltam numa costa muito recortada, o que é preciso é explorar e não parar no sítio mais óbvio. Ficou a certeza também, que iremos voltar, não uma mas muitas vezes mais. _ AC



Muitas são as razões para ires a Marrocos, e muitas são as razões para te apaixonares por esta terra tão perto de Portugal mas, culturalmente, tão diferente... Mas essas mesmas razões poderão fazer-te querer nunca mais meter os pés em águas de Alá... photos by carlospintophoto.com texto e legendas by ONFIRE



Marrocos é um lugar onde vais experimentar muitas coisas novas... E uma das experiências mais comuns para um surfista é, perante ondas perfeitas, experimentar pranchas novas. Nesta sessão, Tomás Fernandes fez isso mesmo e quer-nos parecer que esta experiência teve resultados muito positivos para Tomás, e que de certeza que chegado a Portugal foi falar com Nick Uricchio, shaper da Semente, para analisar esta prancha.

Decidimos dar uma volta editorial a esta Surftrip a Marrocos que, na realidade, é um apanhado de duas Surftrips. A primeira contou com a presença dos gémeos Guichard e a segunda, a mais recente, foi alvo de uma viagem de treino de Frederico Morais e Tomás Fernandes. Comum a estas duas viagens, além das ondas de excelência, esteve o homem das lentes da casa ONFIRE, Carlos Pinto! Por isso, neste artigo iremos apontar-te aquelas que são as três razões mais fortes para nós que ou te farão apaixonar loucamente por Marrocos ou te farão nunca mais querer viajar às ondas da terra dos camelos! Avisamos-te já que cada um desses três tópicos é por si uma fonte de motivação como, na mesma medida, um motivo para escolheres outro destino. Mas, e talvez um pouco estranhamente, sabemos que todos esses três tópicos, no final do dia, farão com que queiras ainda mais ir a Marrocos, pois a realidade é que o poder da curiosidade e a promessa de point breaks perfeitos com clima ameno nos mais gelados meses do nosso Inverno são mais fortes do que qualquer opinião que te possamos dar. Uma coisa é certa, irás ficar mais (ou menos) preparado quando fores descobrir o que a cultura marroquina irá despertar em ti! Uma viagem de sonho ou infernal? Como em qualquer viagem, mente aberta é algo obrigatório! Para Marrocos, consoante a forma como decidires ir, necessitarás de abrir a mente mais ou um pouco menos, mas sempre mais do que alguma vez imaginaste! Basicamente tens duas formas de chegar ao árido clima marroquino, avião ou carro. Se a primeira é um luxo (mas que como todos os luxos é caro), a segunda opção só será indicada para ti se, ou tiveres um espírito aventureiro ou uma gigantesca paciência e capacidade de passar horas infindáveis sentado no carro e sempre pronto para várias surpresas inesperadas. Analisando esta segunda opção, pois, devido aos custos será a escolhida pela maioria, tens muito que analisar! Se o teu sonho é fazer milhares de quilómetros ao longo de uma costa e ir parando conforme te apetece à procura de ondas, linha de pensamento que implica estar de ante-mão a contar com todas as aventuras que surgem neste tipo de surf trip – e que em Marrocos passarão por operações STOP a exigir dinheiro para que possas seguir mesmo estando tudo a 100% com o teu carro, a título de exemplo –, então esta é uma viagem de sonho para ti. Só tens de ver que vem lá um swell grande, meter-te no carro com dois ou três amigos e partir rumo ao sul e à aventura. | 67


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Se o teu objetivo for ir directo a Taghazout, o centro do surf em Marrocos pois é à volta desta vila que se situam algumas das melhores ondas, é aqui que a tua capacidade de passar horas intermináveis dentro de um carro em estradas manhosas e loucas será colocada à prova. Serão mais de 20 horas enfiado num carro que provavelmente está atolado até ao tecto de malas, pranchas, comida e tudo mais que queiras levar, e o sentimento de que nunca mais chegas ao destino será mais forte do que nunca, acredita em nós! Mas, se tiveres a mente aberta para todas as maravilhas (e peripécias) pelas quais irás passar, então estas 20 horas passarão a voar (apesar de não haver forma de dar a volta ao cansaço extremo e aos glúteos calejados). Seja qual for a tua postura, uma vez enfiado no carro irás chegar ao teu destino mas já aqui irás sentir que estás a viver o sonho ou um “belo” pesadelo. E para os que possam sentir este último sentimento, lembrem-se que ainda falta fazer o mesmo percurso, mas desta vez inversamente. Uma nota final: por muito mente aberta que sejas, prepara-te para uma boa dose de stress na entrada em Marrocos na altura de mostrar os passaportes... Choque de culturas Se foste de carro já descobriste muito do bom e menos bom da cultura marroquina; se foste de avião, estás a lidar com tudo em forma relâmpago assim que sais do aeroporto! A língua é diferente, o povo é diferente, a forma de comer e ver a vida é diferente. E isso, mais uma vez, irá fazer-te apaixonar ou odiar Marrocos. Um bom exemplo, os marroquinos comem com as mãos por uma questão cultural. Consequentemente, para eles não é estranho o dono do café local chegar todas as manhãs com pão fresco literalmente debaixo do braço, sendo que alguns desses pães vieram em contacto directo com o pêlo do sovaco (e lembra-te que de manhã já faz calor em Marrocos). A partir deste momento é quase uma roleta russa: ou te sai um pão do sovaco ou não! Claro que podes optar por comer em sítios mais “ocidentalizados” mas aí não irás viver a verdadeira cultura do local. Seja como for, nunca ouvimos falar de ninguém que tenha morrido por comer pão com alguma fragrância humana! Obviamente que, apesar de verídico, este é um exemplo mas do outro lado tens muitos outros que te farão apaixonar por esta cultura tão diferente. Basta partilhares uma tajine com um marroquino, sendo que poderás comer a tua com talheres, e falar um pouco com ele sobre o seu país, vida e religião. Acredita que será um abrir de olhos gigante que te fará ver as coisas de formas totalmente diferentes. E tens ainda, na cultura que te fará apaixonar de imediato por Marrocos, os momentos mais “clichés”: as cabras em cima das árvores, os mercados marroquinos onde se for preciso estás meia hora a negociar um euro depois de já teres baixado o preço para metade, e os obrigatórios e inesquecíveis passeios de camelo!

Se estiveres disposto a andar mais umas horas de carro, além das mais de 20h de viagem, e a dar continuidade ao teu espírito aventureiro, então podes ir mais para sul e descobrir algumas gemas marroquinas sem crowd e de sonho... Luca Guichard adora aventurar-se e a recompensa desta viagem foi esta!



Ondas perfeitas, clima ameno, andar de camelo, beber estranhos chás, visitar os mundialmente famosos mercados marroquinos, isto são ou não ingredientes perfeitos para marcares já a tua viagem para Marrocos? É por isto mesmo que Frederico Morais não perde uma oportunidade para aprimorar o seu surf em águas de Alá! | 70



72 | Num fim de tarde de sonho, Tomás Fernandes ignorou o cansaço de dias e dias seguidos de surf e surfou até não haver mais luz! As linhas que desenhou neste point break de direitas e a técnica de rail que mostrou foram simplesmente inspiradoras, tal como a terra onde esteve durante uma semana!

Não te esqueças de experimentar os chás locais, e, muito importante, de ter tempo para observar calmamente toda a paisagem que te rodeia, assim como as pessoas que ali vivem o seu dia-a-dia, enquanto bebericas o teu néctar... Surf até à exaustão! Ok, há partida não há como este tópico nos levar a querer não ir a Marrocos! Isto é 99% verdade mas há alguns pontos a ter em conta. Infelizmente, as ondas mais conhecidas de Marrocos, apesar de excelentes, contam com muito crowd uma vez que este país é um refúgio para 90% dos surfistas europeus durante o Inverno. Tens várias hipóteses: uma, a melhor, é não stressares com o crowd. Há muitas opções e a verdade é que Portugal é um país com crowd o que já te dá algum embalo. Por outro lado, podes optar por não ir quando vem aquela ondução perfeita, ou seja, as grandes ondulações que descem a Europa e chegam perfeitas para picos como Anchor Point funcionarem em toda a sua perfeição pois são essas mesmas ondulações que todos (inclui muitos prós) procuram. Por outro lado, ondulações menos potentes produzem muitas outras ondas boas em vários point breaks e beach breaks. Por último tens mais uma grande opção: procurar picos sem crowd e perfeitos no deserto. Esta opção obriga-te a reler o ponto 1 e a pensar se estás preparado para mais aventuras no asfalto (e na terra batida), aliando o factor “mapas não funcionam aqui” ao baralho. Mas a recompensa pode ser gigante e no fundo é essa procura pela próxima onda perfeita sem crowd que nos faz ser viciados em surf! Dois conselhos, quem tem boca vai a Roma e mais vale perder umas horas para encontrar um onda de sonho do que passar dias a surfar ondas boas mas com 50.000 macacos na água...

Seja como for é quase impossível não passares o dia a surfar pois o clima quente e a água com temperaturas muito agradáveis – principalmente tendo em conta que em Portugal estarias de 4/3mm e a tremer que nem varas-verdes – ficarão encarregues de garantir que, após o sol desaparecer no horizonte, estejas completamente exausto de surf e pronto para comer, dormir e recomeçar tudo de novo no dia seguinte! Conclusão Bom, para nós, a conclusão é fácil pois este é o tipo de aventura que nos apaixona. Procurar ondas sem crowd, estar o mais em contacto possível e viver da forma mais real possível a cultura onde estamos incluídos, surfar o dia todo, comer, dormir e voltar a fazer tudo outra vez no dia seguinte, por muito que ao fim de três dias tenhamos todos os músculos do nosso corpo doridos de horas e horas de surf. Mas nem todas as pessoas gostam de sentir choques culturais fortes. Obviamente que essas poderão optar por hóteis mais luxuosos, percursos turísticos e um tipo de viagem mais “pacote de agência de viagem”. Essa opção certamente que também lhes colocará Marrocos no coração mas, para nós, viajar dessa forma é um pouco como não viajar... Resumindo, o nosso conselho é que vás para Marrocos assim que tiveres oportunidade, e que, seja qual for a tua forma de ir e estar em contacto com essa cultura, que tenhas mente aberta para ir mais além pois a verdade é que, vás como fores, terás já de ter de raiz uma mente bem aberta para esse destino! Ou então, o melhor, é nem ires!

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texto by O N F I R E e n o

A sua geração é a mais forte que o surf português já conheceu e o seu surf está entre os melhores. Os títulos têm-se acumulado e o futuro como profissional é promissor. Mas apesar de ser no surf que coloca o seu maior foco, apresentar João Kopke como “apenas” um surfista seria ignorar algo que faz dele um dos mais interessantes top surfers do nosso país. Fica a conhece João Kopke, músico, estudante, poliglota, surfista...


Tinha combinado passar o dia com João Kopke para ficar a conhecer a sua rotina e melhor transmitir quem é. Já conhecia bem o seu surf, principalmente o seu backside “afiado” e a forte base de frente para a onda que sofreu uma grande transformação/evolução nos últimos anos. Também sabia que João é um dos mais interessantes e irrequietos top surfers do país e iria ser diferente acompanhá-lo no seu elemento. Mas esta combinação estava destinada a falhar. Primeiro porque acompanhar a sua rotina significava estar às 7:30 à porta de sua casa em Carcavelos, hora em que por norma arranca para o ginásio. Segundo porque apesar de normalmente ser bastante eléctrico, neste dia estava incaracteristicamente calmo, o que só se podia explicar por estar doente, e o que nos obrigou a adiar a entrevista para depois de uma visita ao seu médico. Foi esta sua “electricidade” que o introduziu ao surf, por iniciativa da sua mãe que sempre procurava maneiras de combater este seu pequeno “surto de hiperactividade”, algo mais visível quando era pequeno. Antes veio a música, uma actividade que faz parte da vida da família Kopke. Os seus pais, descendentes de alemães e italianos que cresceram no Brasil e eventualmente emigraram para Portugal, têm uma invulgar ligação à música e no caso da sua mãe é também uma profissão. Por sua vez João tem na música algumas das suas memórias mais antigas. “sempre tive uma ligação pois vinham cantores a minha casa estudar com a minha mãe o que iam cantar nos concertos. Todos os fins de semana estava a ouvir concertos em casa. Quando tinha 10 anos a minha irmã entrou no conservatório onde ia aprender a tocar violoncelo e eu também queria tocar qualquer coisa. O meu critério foi tocar algo maior, e só há um instrumento maior, o contrabaixo, que tem 2 metros e os dedos até doem de tocar!” Depois havia a ginástica acrobática, outra modalidade muito exigente que preenchia a parte mais desportiva da sua vida. Mas na falta de treinos no Verão, Kopke precisava de algo para gastar a sua energia. Aprender a fazer surf foi a melhor solução que encontraram. João gostou desta nova experiência que muito rapidamente se tornou no novo foco da sua vida. Depois de algumas aulas já estava a precisar de uma prancha própria e a fábrica da Polen, na altura na Costa da Caparica, foi o local escolhido. Álvaro Costa, dono da marca, nunca mais esqueceu o primeiro encontro com o pequeno Kopke e ficou tão impressionado com as suas acrobacias da ginástica acrobática, que incluíram dar um murtal durante este curto encontro, que fez questão de o pôr em contacto com a equipa de treinadores mais credível da época, a Surftechnique. Muito rapidamente Kopke entrou na equipa, juntando-se ao grupo que praticamente domina o surf português na actualidade, Vasco Ribeiro, Zé Ferreira, Miguel Blanco e Maria Abecasis. Uns meses mais tarde o grupo estava a dominar a cena competitiva nacional, e dentro de anos o número de títulos nacionais individuais chegava às dezenas. O seu baptizado competitivo foi um momento que nunca esqueceu. “O meu primeiro campeonato foi na Lagoa de Albufeira e o Vasco Ribeiro e o Miguel Blanco estavam no meu primeiro heat. Eu e o Miguel tínhamos 10 anos, e ele 11 e na altura já era “O VASCO”, aquele surfista que nunca ias derrotar. Dos 11 aos 16 anos nunca lhe ganhei, nem pensava ser possível ganhar, quando ias num heat com ele tinhas de pensar em passar em segundo lugar. Nesse heat ele passou em primeiro com um score de 11 e eu e o Miguel ficamos a discutir o segundo lugar, eu acho que ele ficou com 2.9 e eu 3 pontos. Desde aí só ganhei ao Vasco duas vezes, ambas no Pro-Junior em heats que eram importantes para ele. Acho que as estatísticas estão tipo 35-2, a favor dele claro.”

É na praia de Carcavelos que João Kopke consegue fazer o seu melhor surf. photo by Tiago Costa _ 76



78 _ Ser local de Carcavelos é sinónimo de saber fazer tubos, e cá vai mais um, este na Costa da Caparica. photo by Jorge Matreno A música está presente no corpo e alma de João Kopke. photo by Jorge Matreno

Mas o seu grande adversário era mesmo Miguel Blanco, com quem disputou vários títulos do circuito esperanças taco-a-taco durante vários anos, alternando vitórias e títulos nos 6 anos que se seguiram. Também como parte deste grupo de treino, Kopke integrou na equipa da marca Lightning Bolt, que apoiou a maior parte dos talentos da sua geração durante vários anos. Uma das maiores vantagens deste patrocínio era a oportunidade de viajar em estágio, algo que ajudou muito não só na evolução como mediatização dos mesmos. João já era tão conhecido como a maior parte dos surfistas da sua idade mas foi um DVD feito para divulgação da marca e com distribuição na ONFIRE que o nome Kopke ganhou muita visibilidade. Dividido em duas partes, Austrália e Maldivas, os mais novos marcaram presença no Índico e apesar de todos terem tido direito a “sólidas” secções no vídeo, foi no barco que João marcou a diferença. Isto porque além de surf e treino nesta viagem havia muita diversão e um “concurso de talentos aquático”. Kopke, que na altura já estudava canto, cantou a conhecida ópera “O Sole Mio” algo que aparece na integra no vídeo e foi mais falado do que qualquer outra secção do vídeo. Apesar deste “sucesso”, João

seria o primeiro a sair da equipa Lightning Bolt, aos 14 anos e por iniciativa própria. Mas o trabalho continuava e a sua evolução era visível. Depois de um ano sem patrocínio principal e com ajuda dos seus treinadores, Kopke entrou na prestigiada equipa da Hurley. O seu contrato, na altura por dois anos, permitia-lhe fazer as viagens e treinos que precisava, e ainda nesse ano juntou mais um título do circuito esperanças e entrou no top16 do circuito nacional (na altura Liga MEO Pro Surf). No entanto, uma lesão mal diagnosticada abalou o seu percurso competitivo. Apesar de ter vencido a última etapa do esperanças com o joelho “solto”, demorou algum tempo a perceber que teria de ser operado e a recuperação demoraria pelo menos mais 6 meses. Isso obrigou-o a faltar a grande parte da época competitiva de 2012, mas Kopke não baixou os braços. Dedicou-se de corpo e alma à recuperação e ficou pronto para competir em Junho, dois meses antes da melhor previsão dos médicos.




Começar o ano a meio não foi fácil e em breve toda a sua estrutura iria sofrer alterações. O tempo fora dos treinos e da equipa de que fazia parte desde os 10 anos acabou por afastá-lo do grupo e quando regressou sentiu que algo estava diferente. Mesmo o seu patrocínio parecia estar em causa pois, apesar de ter feito um bom trabalho, o tempo que esteve fora fê-lo perder alguma exposição e ritmo. Mesmo assim a sua renovação com a Hurley parecia bem encaminhada e havia potencial para ser aumentado para o dobro. Ao mesmo tempo, a Nike tinha saído do surf e a Hurley, que tinha sido comprada pelo gigante do calçado uns anos antes, “herdou” a equipa da Nike. De repente a Hurley tinha o maior team de surf do WCT, o que resultou numa grande exposição da marca. Mas o que resultaria a nível global? A Europa iria acompanhar, manter ou diminuir a equipa? Kopke não sabia, mas estava preocupado. Ao mesmo tempo ponderava sair da Surftechnique, uma equipa “provada” e com muito sucesso, que lhe tinha aberto as portas para todos os patrocínios que tinha na altura. Seria um grande risco mudar mas as coisas como estavam também não funcionavam para ele. João decidiu então dar um “salto de fé” e juntar-se a outra equipa de treino, mais recente e com menos vitórias, a Academia Surf For Life. Kopke já conhecia o trabalho de Pedro Marques através do seu amigo Francisco Portas e decidiu arriscar. Apesar de ter sido uma transição que Kopke considera muito positiva, os resultados não foram imediatos e na liga MOCHE, depois da sua excelente estreia em 2011, encontrou algumas dificuldades, resumindo o seu ano a uma série de derrotas por pequenas diferenças. “Na Costa desencontreime do mar, no Porto perdi para o Nicolau (Von Rupp) no fim do heat, no round 1, era eu, o Nicolau e o Marlon no heat. Depois de ver as filmagens achei que o heat devia ter ido para mim, mas quando é próximo, nunca se sabe. Se eu tivesse surfado muito melhor do que ele tinha passado o heat e não tinha havido conversa! Em Ribeira estava a surfar bem e passei dois heats em primeiro mas perdi para o Jervis e o Xaninho, no round antes do man-on-man. Em Peniche fiquei em 5º, e a última etapa também correu mal, na última onda precisava de 6.6 e tive tipo 6.5. Aconteceu assim umas vezes. Eu não acredito em sorte, acho que as pessoas fazem a própria sorte e na Liga MOCHE dei muitas “abébias”. Só em Peniche é que fiz um bom campeonato. Num dos heats tinha o Edgar Nozes, Joaquim Guichard e David Raimundo, e mesmo com uma interferência passei. Se não tivesse tido a interferência não tinha apanhado o Kikas no heat manon-man e podia ter ido mais longe.”

O seu carve de frontside tem melhorado muito nos últimos tempos. photo by Jorge Matreno _ 81


Já no circuito esperanças conseguiu vencer com facilidade a categoria sub18 e também brilhou no ProJunior Europeu onde, a par de Miguel Blanco, Tomás Fernandes, Francisco Alves e Vasco Ribeiro, mostrou surf de qualidade. Resultados piores nas etapas mais valiosas no fim do circuito afastaram-no do top16, um resultado que mais uma vez não lhe fez justiça.

Apesar de não ser conhecido pelo seu surf progressivo, os aéreos fazem parte do seu muito completo repertório.

Quando finalmente soube que a Hurley não iria renovar o seu contrato já estava outra marca encaminhada, a O’Neill. Kopke diz identificar-se muito com a marca, tendo havido no passado um interesse de ambas as partes. Também a nível de pranchas houve mudanças, sendo que ao fim de sete anos voltou a trabalhar com a Polen, a marca com que se tinha envolvido na sua iniciação. A mudança, no equipamento e treinadores parece ter sido muito positiva. No seu surf é visível uma mudança na sua linha de surf anteriormente “robótica”, fazendo de Kopke um surfista mais completo de frontside e com um backside cada vez mais “sharp”.

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Com o surf a ganhar expressão em Portugal, são cada vez mais os surfistas que largam tudo, incluindo os estudos, para investir numa carreira na modalidade. Kopke também mantém o sonho de se dedicar e viver do surf e é o que vai fazer nos próximos anos, apesar de manter outras opções em aberto caso o plano não corra como é suposto. “Os meus pais transmitiram valores e responsabilidades e não foi preciso dizeremme que tenho de ter um plano B. Mesmo que entre no WCT, que é um sonho que tenho, um dia o WCT acaba e um dia o dinheiro acaba. Estou a aprender italiano e para o ano quero estudar alemão, é mais uma língua. Para ter esse plano B, se souber português, inglês e espanhol, francês, italiano, alemão, são seis línguas em que posso trabalhar. Também tenho o conservatório mas quero divertir-me com aquilo, posso ir fazendo, quantos mais anos estiver ali a estudar música, melhor para mim. Eu não queria que a música fosse a minha subsistência, ser músico profissional acaba como ser surfista profissional, perdes um bocado de tudo. É uma experiência que tenho da minha mãe e de mim próprio, quando preciso de estudar para um concerto, vou estudar esta passagem 55 vezes até estar completamente automático. É como fazer um treino físico, às vezes perde-se um bocado. A parte gira do surf não é fazer treinos físicos, mas claro que também tem das suas glórias. Se quisesse mesmo acho que dava para viver da música, mas é muito mal pago também. Além disso tenho a matricula congelada na Universidade Nova e a qualquer momento posso voltar aos estudos. Estou no curso que queria, onde consegui entrar apesar da média alta que era preciso, ciências politicas e relações internacionais. No fundo gostava de tentar ir pela parte da diplomacia, se eu acabar o curso com uma boa nota há montes de opções. Ter a matricula congelada, tira um bocado a pressão. Se o surf correr mal posso ir para casa, posso tocar, não gosto de só fazer surf, se o surf está a correr mal torna-se muito frustrante. Mas o que quero mesmo é poder competir lá fora, é este o rumo, vamos ver o que é que dá.”

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photo by Jorge Matreno




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