ONFIRE 63 | #welovesummer | Jun-Jul 2013

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w w w . o n f i r e s u r f m a g . c o m _ nº63| ano XI| Jun.Jul.2013

bimestral| pvp cont 3€ [ iva 6% inc]



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C R É D I T O S O N F I R E S U R F 6 3 The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Art Nerd Marcelo Vaz Peixoto Fotógrafo Residente Carlos Pinto [www.carlospintophoto.com] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores João Rei . Marcos Anastácio . Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira . w . Zaca Soveral | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #62 | Registo no ERC nº 124147 Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.

Não te vamos contar a história desta capa pois tens, umas páginas à frente, todo um artigo sobre esta divertida e escaldante sessão. O que te vamos contar é que, depois de decidirmos qual a foto para esta que a segunda edição premium da História da ONFIRE (a primeira foi a edição de celebração dos 10 anos, a 60), tivemos o prazer de ter novamente um dos mais conceituado ilustradores português, Mário Belém, a dar um toque de génio à foto da capa (tirada por um dos melhores fotógrafos do mundo do surf, o homem da casa ONFIRE, Carlos Pinto). #welovesummer é, como já percebeste, o mote deste número, e esta sessão fotográfica foi pensada exactamente para celebrar o Verão da forma que sabemos ser única: surf em ondas divertidas e com duas espantosas girls em biquini a assistir a tudo em primeira fila! Qualquer um que estivesse enquadrado nesta realidade faria tudo para surfar para lá dos seus limites. Neste dia, Vasco Ribeiro foi um bocadinho mais longe que os outros, e por isso faz assim a sua segunda capa na OF. Ao mesmo #coverstory tempo, é o primeiro surfista a fazer a capa de uma edição premium da OF!

Mas não só a sessão de surf anterior serviu para celebrarmos os mais hormonais meses do ano. Para que as tuas hormonas rebentem de vez com todos os limites, chegando a valores nunca antes vistos, preparámos-te páginas e páginas seguidas repletas com as fotos mais incríveis. Como sempre com os surfistas nacionais como principais protagonistas, este artigo fotográfico de excelência fará com que voltes a querer desejar arrancar páginas de uma revista para embelezares as paredes do #welovesummer teu quarto com fotos de sonho!

Uma edição de luxo pede, sempre, uma entrevista de luxo, por isso decidimos entrar na cabeça daquele que é provavelmente o surfista europeu mais mediático da actualidade, Nicolau Von Rupp! E acredita que vais ficar impressionado com a forma como os neurónios do surfista da #spotlight Praia Grande funcionam! 10

#summertrip Também aqui não vamos falar muito sobre este artigo pois irás ler todos os pormenores mais à frente. O que vamos fazer é agradecer a duas pessoas muito especiais que ajudaram a dar uma vida única a esta sessão (além, obviamente, dos surfistas e do fotógrafo): as duas girls. Aturar seis dos mais excitados surfistas nacionais e um igualmente excitado staff da ONFIRE não é fácil, mas Mariana Cunha e Pureza Ponte Lima, rapidamente se integraram no meio de toda a loucura deste dia. Com um profissionalismo e uma paciência irrepreensíveis, este artigo não teria aquele toque sensual que tanto procurávamos sem vocês! Thanks girls!!! photos by carlospintophoto.com


*Colecção de Primavera 2013. Seis formas de elasticidade, tratamento premium repelente de ågua, sem costuras internas.


Depois do sucesso que foi a nossa edição especial de 10 anos fomos questionados regularmente para saber se iríamos manter o formato. De facto esse era o formato que gostaríamos de ter sempre, ficando bastante perto do nosso ideal de revista, tendo em conta a limitação de 84 páginas. Só que, como tudo na vida, há que fazer compromissos, neste caso por razões comerciais. Infelizmente uma edição com estas características aumenta bastante os custos e na fase difícil que o país atravessa não há muito a fazer. Mas a vontade de repetir era muita e quando surgiram os apoios nem hesitámos e preparámos esta edição especial de Verão. Com uns meses para “matar” antes da edição sair, começámos logo a pensar em artigos que se enquadrassem neste número especial e muito rapidamente surgiu um plano A, B e C para compor a edição. No entanto, quanto mais perto ficava o deadline, mais a lei de Murphy marcava a sua presença e os artigos foram caindo por água abaixo pelas razões mais estranhas que se possa imaginar. Até que surgiu a inspiração de fazer algo completamente diferente de tudo o que tínhamos feito até aqui. Assim começou a longa mas divertida saga que é descrita ao pormenor a partir da página 70. Apesar de apenas ter durado algumas horas foi, na minha opinião, um dos dias mais hilariantes da história da ONFIRE. Melhor ainda, o resultado foi muito bom, uma iniciativa que se irá repetir mais vezes, espero eu! É a razão pela qual #welovesummer!!! António Nielsen

O “plano D” a caminho das páginas da nossa edição especial #welovesummer. photo by carlospintophoto.com 12


*Personaliza a cor do teu grip com mais de 60 combinações possíveis.


Este é um dos grandes sonhos de qualquer surfista, independentemente de ser Verão ou Inverno! Alexandro Grilo e Vasco Ribeiro preparam-se para a sua primeira surfada de água doce em ondas man made! photo by Pedro Mestre 14

Não há nada “melhor” do que ter um artigo de fundo planeado para uma edição e de repente ficar a saber que é literalmente impossível esse artigo sair! É o “sonho” de qualquer editor, ter oito a dez páginas reservadas para um furo jornalístico no planeamento da edição e, através de um simples telefonema, perceber que essas páginas ficaram sem conteúdo, que o artigo de sonho se tornou um pesadelo e que se terá de dar 10.000 voltas ao cérebro para reorganizar a edição. “O Vasquinho lesionou-se ao fim de quatro ondas!”, foram estas as palavras que saíram de Pedro Mestre, o fotógrafo da viagem em causa, aquelas que não queríamos sequer pensar em ouvir, mas foram mesmo essas as responsáveis pela metamorfose do nosso sonho em pesadelo. Numa edição #welovesummer, nada faria mais sentido do que ter dois portugueses, Vasco Ribeiro e Alexandre Grilo, a surfar numa piscina de ondas, afinal, poucas são as coisas que identificam tanto o Verão como uma piscina! Além disso, esta viagem seria também um furo jornalístico, como referido, por ser a primeira vez que uma reportagem de portugueses numa piscina de ondas aparecia numa revista nacional. E, se pensarmos bem, na teoria esta viagem tinha uma probabilidade gigantesca de correr na perfeição quando comparada com uma surftrip de água salgada. “Um tiro certeiro”, pensámos perante a ideia, afinal flat ou tempestade numa piscina é impossível, mau tempo pouco influenciaria o resultado final, e a probabilidade de Vasco e Grilo não produzirem grandes momentos é zero! Só havia mesmo um senão, uma lesão, e foi mesmo essa que lixou tudo e todos, e que fez um tiro certeiro sair pelo sítio errado, pela culatra! Mas não poderíamos deixar passar esta viagem sem algum tipo de registo. E se o mega artigo com que tanto sonhámos foi por água (doce) abaixo, esta viagem não deixou de ter um bom uso: safar um editor sem ideias para um editorial! Nuno Bandeira



Podes encarar o que aqui vamos dizer como o aperitivo antes da refeição principal (o artigo “Summer Frame”). No fundo, vamos desvendar já um pouco sobre a loucura que aconteceu no dia em que decidimos, literalmente, enquadrar alguns dos melhores surfistas nacionais! “Esqueci-me do fato! Vou só a casa buscá-lo!”, dizia Eduardo Fernandes após chegar ao sítio combinado para arrancarmos para Peniche. Entretanto, Boonman tinha-se esquecido de dizer a Edu que era para levar fatos meia manga, ou, caso tivesse coragem, calções de banho. E foi assim que “Edu” se tornou no único surfista desenquadrado do grupo no que disse respeito a vestimenta de “borracha”! Mas, no meio da procura do enquadramento perfeito houve outros elementos desenquadrados. O maior do dia foi não um quem mas sim um quê: os sapatos de Miguel Blanco (01). Este serviram de chacota o dia inteiro, e arquitectaram-se planos para dar uma “sprayzada” de cada cor em cada um deles quando o Miguel estivesse a surfar (02). Felizmente para o Miguel, infelizmente para todos os outros, o lado humano de Vasco Ribeiro prevaleceu e este ficou-se apenas por pintar a prancha de Blanco (03). Francisco Alves passou o dia como só ele sabe, a brincar com tudo e com todos. Fosse a empurrar o Blanco para dentro de água, a tentar transformar o Tomás Fernandes num croquete de areia ou a avacalhar com o trabalho dos outros - as nossas preciosas molduras (04) - tudo servia para que o Costa Capariquense deixasse todos ainda mais felizes, contentes e aos saltos de cócoras! Pedro Boonman espalhou a sua veia do gangue de Caxias em ambas as molduras que iriam servir para enquadrar os surfistas (05). Se este optou por um grafitti com uma linha mais vanguard (06), já Blanco optou por uma linha mais emocional, o belo do coração (07). Escusado será dizer que depois o staff da OF, juntamente, com Vasco Ribeiro, optou por pintar na integra as molduras, tapando os corações e as pinturas rupestres dos “artistas” do spray! O homem das lentes mais famoso do surf nacional, Carlos Pinto, descobriu neste dia uma nova foram de estar em forma física, correndo desenfreadamente de um lado para o outro para garantir o enquadramento perfeito! Ainda hoje há quem diga que as areias do Pico da Mota têm lá a gigantesca trincheira provocada pelas corridas do nosso fotógrafo. Resumindo, foi um dia em cheio, e se na capa desta edição já viste a melhor foto desta sessão, e se nesta página já bebeste um pouco da forma que encontrámos para celebrar o Verão neste número da ONFIRE dedicado aos meses mais quentes do ano, poderás ver e saber tudo o resto desta grande produção “onfireana” saltando já directamente para a página 70!

OF

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Making of…

Sum mer

Fra

me photos by

carlospintophoto.com

Quando um artigo envolve uma produção, há sempre muito movimento de bastidores que nunca passa para estas páginas. O Making of é uma forma de mostrar e revelar mais um pouco do que esteve por trás do artigo que produzimos para esta edição especial #welovesummer.

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Marés, Lua e um painel solar no teu pulso!

G-SHOCK

Relógio

G-Lide Series

A G-Shock apresenta dois modelos pensados para nós, escravos das fases da lua e marés! O nome da colecção é G-Lide Series, ou, ainda melhor, Surf Series, e tem dois modelos: o GLX-150 (em verde e azul) e o GWX-5600C (em vermelho e branco). Há uma diferença extremamente interessante entre eles, mas antes das diferenças vamos celerar as semelhanças! Ambos têm duas características bem mais interessantes do que as horas: um gráfico de marés e luas. Como sabes, as fases da lua e das marés estão ligadas tal e qual como dois siameses - mas com a peculiaridade que não há fenómeno operatório que as separe - e saber como está a maré e a lua é uma garantia de melhores condições de surf. Chegar a uma praia e ver que as ondas estão uma bela trampa porque a maré já está muito vazia é um pesadelo. Com um G-Shock já não tens razão para andar desinformado das marés mas se ainda assim conseguires chegar na maré errada, então mais vale tirares o G-Shock do pulso e aproveitares para o cortar pois andas mesmo a fugir à vida! Cronómetro com contagem decrescente e crescente, luz, resistência à água (até 200 metros) e ao choque, alarme multi-funções, e outros características, chegou a hora de te dizermos qual a diferença entre os dois modelos, diferença essa que, para nós, definiria a nossa escolha - convém avisar que somos uns nerds por gadgets e é por isso que essa diferença faz a diferença para nós que temos a mania que somos diferentes! Vamos então à diferença: o modelo GWX-5600C tem... um painel solar! Sim, um painel solar, que irá captar a energia solar carregando assim a pilha do teu relógio o que lhe aumentará a autonomia! Brilhante não é? E viva a diferença! www.gshock.com | www.facebook.com/gshockpt

SurfersLab

Give Away

Para comemorar esta edição de Verão, os nossos amigos da loja Surfers Lab oferecem-te este belo pack. Mas para ficares com ele tens de responder a alguns desafios: 1_ Onde está situada esta loja e em média quantas pranchas de surf podes encontrar à venda na Surfers Lab? (Dica: www.onfiresurfmag.com); 2_ Fazer Like nas páginas de Facebook da Surfers Lab(www.facebook.com/SurfersLab) e ONFIRE Surf (www.facebook.com/onfiresurf); 3_ Estar atento ao website www.onfiresurfmag.com onde poderás encontrar um código “Surfers Lab GiveAway” até dia 30 de Julho; 4_ Visitar o Facebook da Surfers Lab com regularidade pois até dia 10 de Agosto vais conseguir encontrar o segundo código “Surfers Lab GiveAway”. Quando conseguires juntar isso tudo basta enviares um email para staff@onfiresurfmag.com. O primeiro a enviar tudo correctamente será o grande vencedor! Boa sorte!!!

Errata

62

edição

da

#wehatetofailbutwearehuman

No Spotlight de Filipe Jervis da edição passada alterámos à última hora uma das imagens do artigo mas deixámos a legenda original. A nova sequência não tinha sido captada nos Mentawai, como indicado, mas sim em S. Torpes. Sorryyyyyy! Já no artigo #welovephotos conseguimos dar duas calinadas (quase) imperdoáveis, rebaptizámos o fotógrafo Jorge Teixeira de Jorge Ferreira (na foto de Alex Botelho) e, logo na página seguinte, continuámos a armar-nos em padres e rebaptizámos o fotógrafo Miguel Soares de Pedro Soares (na foto do Acácio Grandela). Aos dois, as nossas maiores desculpas!

Vencedores ONFIRE61&62

Mais uma edição, mais um vencedor! Neste caso dois porque na edição passada, por lapso, não incluímos o nome do vencedor do Komunity Project GiveAway. Foram muitos os leitores que conseguiram acertar em tudo e enviar as respostas correctas, mas um deles foi mais rápido que todos os outros. O seu nome é César Santos, parabéns! Na edição 62 fomos inundados com emails a concorrer ao SUPERBrand GiveAway. O desafio não era fácil mas isso não impediu os nossos leitores de nos bombardearem com emails. No entanto só um(a) poderia ser o(a) vencedor(a) e o seu nome é Constança Rosa! Parabéns!


*O ecstasy do dia-a-dia sem a fluorescência. **Onde está a tua felicidade? Para saberes mais das lentes “Happy” vai a spyoptic.com/happy


A estrada q ue te leva ao surf texto by Ricardo Vieira

[ricardovieira30@gmail.com] PASSEI O ÚLTIMO NATAL A CHORAR. A chorar como se dizia que os verdadeiros homens não o faziam. Não chorei por falta de ondas nem pelo crowd excessivo, mas porque recebi uma prenda adiantada. Adiantada demais. Roberto Mágico, figura carismática entre os meus amigos do surf, adorava motas. E com elas o seu passatempo favorito era passar descabelado, em cima de um escape barulhento, em frente às esquadras da polícia a fazer “aquele simpático gesto” com o dedo maior da mão direita ao agente postado à porta. VRRRRRRRRRUUUUUMMM!!!!!!!!!!!!!! Sinal de cordialidade inexcedível. Por entre competições de halterocopismo, realizadas no clube de motards a que ele pertencia, e campanhas a favor da retirada dos rails de protecção das auto estradas, onde tantos colegas seus já se tinham despedido da vida, eu não podia imaginar que havia de encontrar aí razões que me levassem às urgências de um hospital, a meio da noite. 24 de dezembro. No quarto branco e limpo, excessivamente limpo, para além do cheiro a éter, só acontecia o pingar aflitivo e translúcido de uma dose de soro que teimava em fixálo à vida. A uma vida que ele parecia já não querer, que deixara de reclamar, não lhe reconhecendo mais o valor de outrora. O insistente “bip” da máquina de monitorização cardíaca – tétrico, compassado e vigoroso – é o pior som que podemos ter por companhia. Especialmente quando apita por alguém que nos é próximo. E oferece-nos um medo crescente. O medo de que, por fim, ele deixe de se fazer ouvir. De que se cale sem aviso e que os “mecânicos de pessoas” não consigam reanimar o engenho. De que não consigam fazê-lo voltar àquela vida assobiada que o fim de uma garantia de fábrica não deve calar.


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Esteja onde estiver, Roberto Mágico certamente continuará a fazer esta estrada de areia para o surf! photo by André Carvalho|Goma

O meu amigo Roberto, surfista por vocação e talento, recebeu uma mota como prenda de Natal. Uma prenda adiantada. Adiantada demais. Nesse mesmo dia, apenas umas horas depois, o apelido deixou de lhe servir. A magia desaparecera para sempre.“If i die before I wake, send me home and make a cake!” era uma das frases que ele costumava distorcer de um conhecido provérbio inglês. Uma quase profética vontade que teve de ser cumprida. O bolo, feito de chocolate pela irmã dele, foi comido na praia à noite por todos os seus calados amigos. A última fatia, a que simbolicamente lhe era destinada, ficou adormecida na areia, pousada em cima de um guardanapo de papel, à espera que uma onda mais forte a levasse. Vazaram-se três garrafas de champanhe barato e felicidades foram desejadas. À TUA, ROBERTO! Hoje, passado quase um ano, e depois de muito me dizerem que a vida tem de continuar, eu ainda não sei o que virá primeiro; se novas lágrimas, outro texto a contragosto ou se a vontade de voltar a fazer surf. Agora com menos um amigo na água para dividir o frio e as ondas de mais um inverno que se aproxima.


Este Ê o novo visual de Ribeira d’Ilhas, e que se vestiu a rigor para a terceira etapa da Liga MOCHE. O que achas? photo by Jorge Matreno


Recentemente tive o privilégio de colaborar com alguns eventos ligados ao surf que incluíram iniciativas de cariz social e que me deixaram uma certeza muito grande – quando realmente importa, fora de água somos (seres que deslizam nas ondas) muito mais solidários uns com os outros do que dentro de água, na partilha dessas mesmas ondas! Não sei se isso se deve à chamada “pressão social”, mas quero acreditar que tem a haver com a essência da actividade que todos conhecemos como “surf”, genericamente. A partilha do bem comum, o auxílio aos mais fracos ou desconhecedores, esteve sempre na raiz desta atitude de solidariedade inerente ao surf, que os anglo-saxónicos se apressaram a individualizar com o tão venerado “espírito competitivo”. A terceira edição do Surf For All, que decorreu nos dias 21 e 22 de Junho, na Costa de Caparica, foi não só o maior evento do mundo de surf adaptado a multi-deficiência, como também uma forma de partilhar o prazer do deslize com os mais desfavorecidos, através, entre outras, das excelentes iniciativas da Surf Art, associação que se tem dedicado à causa e que já antes tinha marcado presença no Moche Cascais Surf à Noite. A mesma Surf Art que voltou a estar presente no SAL – Surf At Lisbon Film Festival, umas semanas depois, em Lisboa, levando também uma parte da cultura do surf a essas mesmas pessoas. No mesmo fim-de-semana do Surf For All, na mesmíssima Costa de Caparica, decorreu o Surfamily, um evento inédito, que juntou as famílias com várias gerações de surfistas num dia memorável, transformando uma “competição” numa verdadeira celebração da partilha entre pais e filhos. Não por acaso, nesse evento foi promovido o projecto Surf For Food, cujo objectivo é, através dos eventos de surf, angariar alimentos para serem doados a pessoas mais necessitadas das regiões onde estes se realizam... neste foram angariados 50kg de comida, mas o Surf For Food já juntou cerca de três toneladas de alimentos, em mais de 30 acções efectuadas por todo o território nacional. Em meados de Agosto, no Surf At Night em Cortegaça – Ovar, o Surf For Food terá uma mega campanha, de uma semana, durante todo o Festival.

Mas o que mais me agradou nestes eventos foi a participação activa e interessada de alguns dos melhores surfistas portugueses que, por serem mais visíveis, são também modelos para toda uma comunidade. Vasco Ribeiro, Francisco Alves, Carina Duarte e Tiago Pires, entre outros, participaram e puderam constatar em primeira mão a alegria da partilha desinteressada... no fundo, do surf! O interesse que estes eventos suscitaram ao “surfista comum” e a cada vez maior procura por iniciativas solidárias, que revelem outros lados do surf (como o Sagres Surf Culture ou o Portuguese Surf Filme Festival, para além dos já citados), levam-me a pensar que, de facto, o surf português está a amadurecer e a tornar-se “transversal” a toda a sociedade. Bom sinal para uma actividade que muitas vezes se revela individual e individualista... talvez porque o deslize numa onda seja um acto de puro prazer... e não haja maior prazer do que aquele que é partilhado! P.S. Também recentemente estive em Ribeira D’Ilhas, na Ericeira, para mais uma etapa do circuito nacional de surf... e pude constatar com os meus próprios olhos o que tinha previsto há mais de um ano! O vale desapareceu e em seu lugar está um descampado. O típico “mamarracho” lá está, construído em altura e largura, como manda a boa “teoria das rotundas”. Fechado, claro, que o concurso público para adjudicação da concessão ainda não pode ser aberto... e assim deixando uma população utente sem serviços de apoio ou sequer uma casa de banho. Mas tudo cheio de madeirinha, para parecer “rústico” e “cool”... rodeado de muito alcatrão, como convém e com um parque de estacionamento bem grande, como se impunha.Tão grande que até um autarca presente teve a sua viatura multada por mau estacionamento, pois de facto não havia mais lugares para estacionar... pois claro, que a GNR foi logo verificar se estava tudo em “conformidade” e “caçou” alguns “prevaricadores”!... Que malandros!... ou seja, a descaracterização é tal que a “requalificação” de Ribeira D’Ilhas afasta agora aqueles que supostamente deseja atrair... ou se lá vão, é apenas a primeira vez... como detesto ter razão por antecipação!...

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E D P C a s c a i s G irls P r o _ O u t u b r o _ C arcavelos texto by ONFIRE

W W C T

| photo by carlospintophotos.com

O Women´s World Championship Tour passa por Portugal pela sexta vez, sendo a sua estreia na Linha do Estoril. Será um dos melhores beach breaks do país, a praia de Carcavelos, que vai receber o EDP Cascais Girls Pro e que possivelmente irá coroar uma campeã mundial! A elite do surf feminino passou por Portugal pela primeira vez em 1997, ano em que se realizaram duas etapas do circuito em águas nacionais. A primeira era o Buondi Sintra Pro e estava marcado para Sintra no fim de Setembro, data em que se iria realizar tanto a prova feminina como o WCT masculino. Apesar de haver alguma ondulação, os bancos de areia na Praia Grande não colaboraram e a prova foi mudada para um (então) “secret spot” das redondezas, a Praia da Aguda. Uma semana mais tarde foi a Figueira da Foz que também recebeu a elite masculina e feminina do surf mundial, para o Expo 98 Figueira Pro. A melhor surfista da altura era Lisa Anderson que venceu tanto em Sintra como na Figueira, derrotando Pauline Menczer e Layne Beachley nas finais. No fim do ano, Lisa acabava no topo pela quarta vez consecutiva, mas seria o seu último título mundial da ASP. Passariam cinco anos até ao WWCT passar novamente em Portugal e seria novamente a Figueira da Foz a receber o circuito feminino, no Figueira Pro 2002. Apesar de ter passado pelas direitas da conhecida Praia do Cabedelo, a prova acabou nas pequenas esquerdas do Molho Norte. A disputa pelo título estava ao rubro, nesta que era a quarta de seis etapas, mas nenhuma das candidatas conseguiu um resultado relevante na Figueira. Seria a havaiana Megan Abubo a vencer e estrear-se no primeiro lugar, enquanto que outra novata no podium, Samantha Cornish, conseguia o segundo lugar. O circuito só regressou a Portugal, para o Rip Curl Search, em 2009 depois de vários anos de ausência. A prova masculina obrigou os competidores a surfar quatro picos diferentes para descobrir o vencedor (Lagide, Pico da Mota, Molhe Leste e Supertubos), já na feminina só foram precisos dois dias de surf no Pico da Mota para encontrar uma vencedora. Mais uma vez uma surfista estreou-se nas vitórias, Coco Ho, que derrotou Chelsea Hedges em boas ondas de um metro. Seria, até à data de lançamento desta edição, a única vitória de Coco Ho, que no ano seguinte encontrou uma geração nova de surfistas de topo. No ano seguinte, já como parte do Rip Curl Pro Portugal, foi Carissa Moore que conseguiu aproveitar melhor as esquerdas do Lagide derrotando Gilmore na final por uma larga vantagem. Seria uma premonição do que se iria passar no ano seguinte, em que Carissa conseguiu o seu primeiro (e único até hoje) título mundial! Mas não foi só em formato de WWCT que o circuito feminino passou pelo nosso país. A organização Rock Sisters trouxe a versão WQS do surf feminino por várias vezes ao nosso país, tendo começado por Ribeira D’Ilhas e eventualmente passado para a Linha. A conhecida costa da Linha do Estoril foi o palco de várias etapas, tendo elas alternado entre as praias de Carcavelos, S. Pedro do Estoril e Guincho. O auge destes campeonatos, no que toca à qualidade de ondas, foi em 2009 quando a Praia da Bafureira quebrou com excelentes ondas de metro e meio e vento off-shore. Nomes como Carissa Moore e Sally Fitzgibbons mostraram o melhor surf feminino que alguma vez se tinha visto no nosso país tendo a australiana Fitzgibbons saído como vencedora. Em 2013, Sally e Carissa são duas das principais candidatas ao título mas terão de dar o seu melhor para derrotar a jovem Tyler Wright. Também Courtney Conlogue e Stephanie Gilmore poderão ter algo para dizer sobre esta disputa caso consigam juntar algumas vitórias antes da etapa portuguesa! É de esperar boas ondas para o EDP Cascais Girls Pro pois é durante o Outono que as ondulações começam a entrar com força na Linha do Estoril, produzindo condições clássicas com regularidade. Carissa Moore durante a etapa de 2009. Será que em 2013 consegue, em Portugal, o seu segundo título mundial? 25




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Guess who… França | photo by carlospintophoto.com




Alex Botelho, Meia-Praia | photo by Jorge Teixeira


Praia do Guincho + Filipe Jervis, L-Point photos by carlospintophoto.com




Algarve‌ + Norte... photo by Jorge Teixeira + photo by Pedro Ferreira


Jo達o Pinheiro, S達o Juli達o + Dunas photo by Pedro Mestre + photo by Andr辿 Carvalho|Goma



S. Torpes | photo by carlospintophoto.com



Francisco Canelas, Algarve| photo by João “Brek” Bracourt




Frederico Morais, Guincho + Beach flowers photos by carlospintophoto.com


Sunset + Vasco Ribeiro, Austrรกlia photo by Jorge Teixeira + photo by carlospintophoto.com




Filipe Jervis, Slob reverse, Guincho + Family at the beach + Sunset photos by carlospintophoto.com + photo by Michael Nee


Francisco Canelas, summer shadow + Francisco Alves, summer shower photos by carlospintophoto.com




Luca Guichard, Ilha de Tavira + Ivo Cação photo by carlospintophoto.com + photo by Pedro Mestre


#welovesummer + João Guedes, Norte photo by carlospintophoto.com + photo by Tó Mané



gshockportugal@gmail.com






O meu objectivo continua a ser o WCT mas, de certa forma, hoje em dia, não podes ser só competidor, ou só free surfer, tens de conseguir fazer tudo! Tens de saber apanhar cacetes de 6 metros e fazer ondas de 9 pontos num evento Prime. Passa pela evolução de um surfista saber fazer os dois. É esse o meu foco, ser o melhor surfista possível, tanto num heat como no free surf. Ultimamente tenho estado a vingar mais no free surf do que na competição mas eu sei que o melhor do meu lado competitivo ainda está para vir. Sem dúvida alguma que a maior parte das pessoas devem pensar que estou mais virado para o free surf, e a realidade é que o free surf e as ondas grandes têm sido uma paixão maior. Eu vibro mais em ondas pesadas do que numa competição, e é onde tenho conseguido as minhas maiores conquistas. Mas acho que um completa o outro, treino para ser um surfista melhor. E treino para ser mais consistente, tanto num free surf como num heat! Estando em forma para uma sessão de free surf também estás em forma para um heat. Sou alemão e sou português, sinto-me os dois. Nasci em Portugal e toda a minha facilidade em ondas pesadas vem das ondas portuguesas. No entanto, tive uma educação alemã, andei no colégio alemão, o meu pai é alemão e falo alemão em casa. Ao longo da minha carreira vai surgindo cada vez mais esta questão mas lá fora todos sabem que sou português, pois deixo as coisas bastante claras. Não sou um “one man show”. É impossível ter sucesso como surfista profissional sendo um “one man show”. Tenho o meu pai como backoffice pois ainda me ajuda muito. Ao mesmo tempo faço questão de lidar directamente com os meus patrocinadores para que saibam que não estão a contratar nenhum burro e sim uma pessoa que sabe pensar. Ainda agora estou a negociar certas alíneas do meu contrato e a discutir pormenores directamente com pessoas como o Bob Hurley ou como o Pat O’Connell, e é positivo que eles percebam que sei o que quero. Na minha “equipa” ainda tenho um treinador para parte física, que é o Duarte Spínola, e faço treinos de competição com o Pyrrait. Outro trabalho que faço é com um senhor chamado Eric Coelho, a nível de trampolins, para aperfeiçoar as rotações nos meus aéreos. Já na parte dos vídeos trabalho com a Black Ink. O meu contrato com a Nike acabava na altura em que a marca saiu do surf. Apesar de estar consciente que tinha feito um bom trabalho em 2012, foi como se tivesse sido encaminhado para terras desconhecidas. A Hurley foi “carregada” com um team de 30 pessoas do nada e eles não tinham noção de quem eu era, nem eu nem surfistas como o Jonathan Gonzalez. Isso tornou as negociações bastante difíceis, tive vários encontros com eles e no início eles não estavam a colaborar assim tanto. O nossos valores não estavam compatíveis, mas depois lancei o vídeo da Irlanda e isso mudou as coisas por completo. Passaram a ter uma noção do meu verdadeiro valor como surfista e chegámos a um consenso. É difícil negociares uma coisa do passado, apesar de ter sido um passado que correu bem, o futuro e o presente é que interessam e o vídeo saiu mesmo no momento certo à hora certa, ajudou a posicionar-me como um surfista europeu de expressão mundial para eles. Tenho perfeita noção de que eles têm tantos surfistas no team que vão ter de cortar. Os próximos anos vão ser decisivos no team Hurley, alguém vai ter de saltar fora! Mas isso é como em qualquer marca. Eles claramente mostraram que era importante eu preencher o espaço vazio do free surf do team internacional.

Nicolau Von Rupp é dono de um repertório completo, destacando-se em todo o tipo de ondas. Big air nas Canárias. photo by Gines Diaz | 61


A fasquia aumentou muito, e para manter a qualidade que mostrou até aqui, Nicolau tem de estar constantemente a apanhar ondas perfeitas, como foi o caso desta viagem a Marrocos. 62 photo by Al Mackinnon

No dia em que a “bomba” estoirou estávamos no Havai na casa da Nike, eu, Julian, Kolohe, Carissa Moore, Nat Young, todos na casa em Off the Wall. O nosso team manager disse que o “big boss” da Nike ia fazer uma reunião e que tínhamos de estar todos presentes. Fiquei logo com um feeling estranho, estávamos a andar para lá e alguém mandou assim um comentário para o ar, na rizada, “ele vem cá para nos mandar todos para a rua”. Mas nunca nos passou pela cabeça que o team ia passar todo para a Hurley. De certa forma a Nike nos últimos anos tinha feito um investimento muito grande e ninguém sabia o que estava para acontecer, soubemos todos ao mesmo tempo. Acabámos de jantar e ele deu-nos a notícia mas meteu as coisas de uma maneira muito positiva. Mesmo assim o Julian levantou-se a meio do jantar, todo chateado. Havia rumores de que o John John ia passar para a Hurley e assim ele ia deixar de ser o número um da marca. Para mim foi muito positiva a perspectiva de mudar para a Hurley, a Nike era muito ligada à competição e o meu trabalho identifica-se mais com o estilo da Hurley. Surfar Pampa, na Irlanda, é assustador. No dia do vídeo estava “sinistro”, vinham sets de quatro metros a varrer tudo. Numa situação normal ia estar cheio de medo mas desta vez estava com uma tranquilidade e confiança dentro de água fora do normal para mim. Sabia precisamente o que tinha que fazer, era para aquele momento que eu andava a treinar há anos na Pedra Branca, Pipe, Peralta... para chegar ali e apanhar as bombas. Apanhá-las por baixo, ir mais deep que os outros surfistas todos. Senti-me preparado, fui de cabeça lá para baixo com uma quad mágica feita pelo Nick, pois sabia que ela ia recuperar. Nessa manhã tinha surfado Mullaghmore, estavam 6 metros, que foi muito mais pesado. Estava muito mais complicado de surfar e de certa forma já me preparou psicologicamente. Tinha puxado os limites e podia ter corrido mal, podia-me ter afogado. Apanhei uns caldos de umas ondas “pequenas” e vim acima a bater mal, sabes aquela sensação horrível debaixo de água de não estares em controlo? Tipo, tirem-me daqui, isto é a pior sensação do mundo, nunca senti nada assim antes. Fui para casa a pensar que até tinha tido muita sorte, fui lá apanhei grandes bombas e as coisas não correram mal como podiam ter corrido. No próximo swell tenho de ir mais preparado, tenho de ter material de tow-in, tenho de ter um fato que me leve acima caso as coisas corram mal. Tenho de me aguentar 5 minutos debaixo de água numa piscina, agora ainda só consigo 2 minutos (risos). Como tinha acabado de surfar aquelas ondas de manhã isso preparou-me psicologicamente. Aquelas ondas de Pampa eram “mel”, quatro metros, a remar que é onde me sinto mais confortável pois antes disso nunca tinha feito tow-in na minha vida. Estavam lá alguns dos melhores big wave riders do mundo como o Danilo Couto, Kohl Christianson, Eric Rebiere e Tom Butler, são gajos com um certo nome nesse tipo de ondas e eu era um underdog. Mas senti que conseguia ir lá apanhar umas bombas que ninguém ia e foi um daqueles momentos em que tudo vai para o teu lado. As melhores ondas vieram ter comigo, mandei uns air drops incríveis e a prancha agarrou, foi mesmo daquelas sessões... Foi a melhor sessão de surf da minha vida. Segui logo para o Havai onde pessoas como Dave Waessel (big wave rider) vieram ter comigo, apertaram-me a mão e deram-me os parabéns.



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Esta viagem Ă Irlanda mudou a carreira de Nicolau Von Rupp, e tubos como este explicam porquĂŞ! photo by Lars Jacobsen



Houve uma altura em que tinha uma certa proximidade com o Kelly Slater porque andava com uma amiga dele. Até que numa das vezes que estive em Bali, depois de trocar algumas mensagens com ela, fui festejar os meus 18 anos com alguns amigos. Apanhei uma grande bezana e às 4 da manhã, quando voltei para casa, decidi ligar-lhe mas atendeu-me o Kelly. Eu não sabia que era ele, achei que era um gajo qualquer. Então comecei a passar-me, “fuck, quem está a falar, estás a dormir com a minha ex? Who the fuck are you? I’m gonna fucking kill you”... entrei numa de má onda a dizer que lhe ia fazer a folha. Ele desligava o telefone e eu ligava-lhe de novo, “where are you? I’m gonna fucking kill you.” E o gajo muita confuso só dizia, “what are you talking about?” Até que desligou o telefone. Acordei no dia a seguir com uma “granda” ressaca, ouvia o telefone a tocar mas nem ligava. Até que comecei a cair em mim e comecei a ligar as peças. Nicolau adora surfar no seu homebreak da Praia Grande mas nas condições certas conseguimos que fizesse a travessia da Serra de Sintra para dar este belíssimo carve no Guincho. photo by carlospintophoto.com 66 |

Depois vi as mensagens dela, eram umas seis da manhã. “Estás maluco? O que foste fazer? Acordaste-o às 4 da manhã, ele tinha de se levantar as 6!” Nesse dia ia ser o heat do Saca contra ele e eu ia fazer de caddy, do Saca obviamente. Estava no canal com os dois a competirem um contra o outro e o Saca ganhou-lhe. Eu saí da água ao mesmo tempo que ele e foi muito caricato, montes de gente a tirar fotografias, eu não sabia se havia de ir logo ter com ele pedir desculpa, estava de ressaca, meio confuso, não estava bem dentro de mim e cheio de vergonha. Ele perdeu por causa de mim, o Saca e o Capristano (cameraman de Tiago Pires) fartaram de se rir. Ao final de tarde ele estava lá com a namorada, pedi-lhe desculpa e tentei explicar o que se tinha passado. Ele foi porreiro, disse-me só para deixar o telefone em casa quando bebesse. Não quero acabar a minha carreira de mãos a abanar. Uma carreira no surf dura no máximo 20 anos por isso tenho de aproveitar muito bem os anos que tenho pela frente. Enquanto surfista profissional tenho muitas despesas e onde conseguir juntar, vou fazê-lo. Eu considero-me uma pessoa poupada, podia ter um bom carro mas tenho um carro velho que dá perfeitamente. Não sou de viajar à grande, se puder ficar em casa de algum amigo fico, se puder cozinhar em casa, cozinho. Apesar de ter dinheiro para me “tratar bem” tento ficar pelo básico. Quando estás fora muitas vezes tens de jantar fora pois nem tens cozinha. Mas coisas simples como pequenos almoços, por exemplo, na Austrália gastas 20 dólares por pequeno almoço. É ridículo, podes fazer perfeitamente em casa. Umas torradas, uns iogurtes, e comes tão bem como fora. Eu identifico-me muito com o Aritz (Aranburu), que é uma pessoa que tem uma granda carreira e com certeza ganha bem mas é muito humilde nisso, conduz um carro normal e é o primeiro a incentivar para comermos em casa. O meu objectivo é ter um apartamento, ter alguma coisa que possa rentabilizar, alugar para se mais tarde a vida não me estiver a correr tão bem como agora. A maior parte do que ganho continuo a investir no surf, já fiz um investimento fora do surf ou outro mas o maior ainda está para vir. Este ano ganhei o MOCHE Capítulo Perfeito e esse dinheiro foi directamente para investimentos, não o gastei. Os meus pais educaram-me a pensar no futuro, e não tanto no momento. Óbvio que tenho que desfrutar estes momentos que tenho para viajar mas tenho de pensar no futuro. Eu tenho objectivos na minha vida pós-surf e acredito que vou ter sucesso. Quero estar relacionado com a marca que me patrocinou mas também quero estar numa posição em que, se eu quiser, ainda posso estudar e tirar um curso.

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# S u m m e r Frame O Inverno pode ser a melhor época para ser surfista no que toca a surfar ondas de qualidade, mas é no Verão que acontece grande parte da diversão. As babes andam de biquíni, os dudes aproveitam o calor para surfar de calções e fatos curtos, a luz do dia estende-se até tarde e a noite está carregada de festas e curtição. Para comemorar a nossa edição de Verão a ONFIRE decidiu fazer algo diferente, dentro da linha da revista mas com um sabor especial a Verão, Yep, #welovesummer!!!


_72 O surfista da Ericeira, Tomás Fernandes, está habituado à água fria. Isso aliado à sua pele de lontra fez com que este fosse o primeiro a entrar, às 9 da manhã, de calções de banho. Na sua primeira onda deu um tubo, e, passados 15 minutos, saiu para vestir o fato mas todo feliz pois nunca tinha entrado de calções em Portugal àquela hora. Umas horas mais tarde, o “lontra” passaria duas horas de calções a abusar do seu power de backside.

O conceito Tudo começou com algumas trocas de mensagens por whatsapp, uma aplicação para smartphone que se tornou no meio de comunicação interna de eleição da ONFIRE, e de uma geração de surfistas. O brainstorming cibernáutico arrancou com uma moldura, uma babe, um surfista e uma capa. Juntar e enquadrar estes elementos seria um enorme desafio, mas ter no staff o melhor fotógrafo de surf do nosso país, Carlos Pinto, ajuda bastante. A ideia foi aprovada de imediato pelo nosso incansável fotógrafo residente, e expandiu-se para o resto do staff. De uma moldura e uma babe passámos para duas de cada, um grupo sólido que incluía muitos dos melhores surfistas de Portugal, e de uma capa passámos para um artigo e capa. Mas antes de passar para a parte seguinte tínhamos de olhar bem para o nosso “amigo” windguru, para a maré, vento e, mais importante de tudo, para o calendário competitivo dos nossos convidados. O deadline Curiosamente o Verão é também a época competitiva mais preenchida, entre etapas do WQS, Liga MOCHE e Pro-Juniores, já para não falar dos compromissos pessoais e profissionais de cada um. O deadline começava a fugir e definimos um dia em que conseguíssemos garantir o maior número de atletas dentro da nossa pequena e selectiva lista. Mas, mesmo esses, excepto Pedro Boonman e Eduardo Fernandes, estariam a competir em França até quase à vespera, e se algo corresse mal no regresso poderia ir tudo por água abaixo. Ao longo dos dias que faltavam não pararam os contactos com treinadores e pais para garantir que ninguém “fugia”, e assim completávamos a lista com Vasco Ribeiro, Francisco Alves, Miguel Blanco e Tomás Fernandes. A sorte estava do nosso lado pois no dia anterior já estavam todos em Portugal, prontos para este pequeno projecto. O incentivo Uma das regras da ONFIRE, e de qualquer revista que se preze, é não prometer capas. A capa da ONFIRE é quase sempre a última coisa a ser decidida na revista depois de se estudar bem todas as hipóteses e layouts, e esquecendo todos os compromissos comerciais. Mas desta vez usámos a possibilidade de fazer capa da edição de Verão como incentivo, quem acertasse o melhor momento dentro da moldura tinha altíssimas hipóteses de fazer capa, estava tudo em aberto, tudo nas suas próprias mãos. Entretanto o sempre imprevisível swell, que inicialmente parecia ser bastante promissor, começava a cair drasticamente, deixando algum receio de não haver ondas suficientes para fazer a sessão. Felizmente poucos dias antes tínhamos estado por Peniche a acompanhar a quarta etapa da Liga MOCHE, realizada no Pico da Mota. Este beach break nos arredores de Peniche não só tinha vários picos com boas ondas como recebia ondulação melhor do que praticamente qualquer outra área na zona da grande Lisboa. Os reports via Instagram começavam a aparecer e o mar mantinha-se com tamanho de sobra para avançar com o (então apelidado de) “Project Summer”. E apesar de termos contactado todos os surfistas na véspera, a logística de os juntar todos naquela praia às 8 da manhã era, no mínimo, assustadora.




Miguel Blanco foi quem esteve praticamente o dia todo com a capa garantida pois voou como ninguém. Este slob foi o que esteve em cima da mesa como uma das hipóteses de capa mas que, como já sabes, acabou por ser abafado pelo aéreo de Vasco Ribeiro. Ainda não foi desta que Blanco fez a sua primeira capa mas algo nos diz que não faltará muito pois a sua performance neste dia foi a mais sólida de todas!

A ansiedade Vasco Ribeiro tinha postado no Facebook qualquer coisa sobre uma mega festa do seu patrocinador em Barcelona, iria fugir no último momento? A tentação parecia ser grande. Francisco Alves ia ficar na Linha com Vasco para seguirem juntos para Peniche, não seria perigoso ter estes dois juntos na noite anterior com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo? Miguel Blanco dizia que nunca falhava uma combinação e que às 6:40 da manhã estaria pronto para arrancar, mas na noite anterior esteve incontactável durante horas. Tomás Fernandes parecia extremamente cansado ao telefone e é conhecido por ter o sono pesado, será que teríamos de acordar a sua rua toda com buzinadelas para o despertar? Já Eduardo Fernandes e Pedro Boonman vinham num dos ONFIRE mobiles por isso não estávamos muito preocupados com as suas presenças (ou ausências). Às 8:20 da manhã já estavam todos no local excepto, curiosamente, Boonman e “Edu”, mas quando chegaram, cerca de 10 minutos depois, traziam duas “peças” essenciais, as nossas belíssimas “models” Mariana Cunha e Pureza Ponte Lima. O spot Naquele momento a praia encontrava-se quase vazia, tirando alguns locais que tinham vindo fazer uma matinal e alguns hippies que tinham pernoitado nas suas carrinhas. Mesmo assim optámos por surfar um pico ligeiramente mais a sul em vez do que quebrava em frente ao estacionamento, de modo a manter esta iniciativa o mais low profile possível. Tirando os membros do staff, nenhum dos participantes neste projecto sabia ao certo o que esperar até que começámos a tirar as molduras, na altura ainda brancas, e os sprays para as pintar. Quando descemos para a praia os hippies respiraram de alívio pois a zona de estacionamento a partir das 8 horas da manhã tinha-se transformado num antro de piadas e barulho, o resultado de juntar este grupo de amigos! Entre histórias dos campeonatos que não podem ser contadas e os sapatinhos brancos do Miguel Blanco, que mais tarde fizeram conjunto com uma camisola emprestada por um membro do staff ONFIRE para fazer o kit completo de “gigolô betinho”, estes meninos não pararam de fazer barulho, e era hora de seguir em frente. Mal sabiam eles que era Blanco quem se iria rir melhor, era o único deste grupo que nunca tinha feito capa na ONFIRE (ou em qualquer outra revista) e foi o primeiro a garantir bom material.

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A concreti z a ç ã o No pico escolhido as ondas estavam com um ar “fun”, com meio metro, sets maiores, e total ausência de vento, o que fez com que não fosse preciso grande incentivo para os meter na água. Apesar de ser “tudo bons rapazes”, este grupo não é conhecido por aceitar “tarefas”, mas quando estes viram os sprays florescentes foram os primeiros a pedir para ajudar a pintar as molduras. Boonman agarrou no amarelo e fez dos seus grafitis mas Vasco Ribeiro foi quem provou ser o maior “grafiteiro” do grupo. Quando acabou o seu trabalho na moldura cor-de-rosa passou para as pranchas dos seus amigos. A primeira vítima foi Boonman que, enquanto ainda dava toques no seu frame, já tinha as suas duas pranchas “grifadas”. Ribeiro não parou aí e no fim do dia apenas as pranchas de Tomás e Eduardo tinham escapado. A maior pintura estava reservada para a sua prancha, que teria direito a um gigante e fluorescente “Hi Girls”. A ac ç ã o Na água Eduardo Fernandes era quem abria as hostilidades com um altíssimo e perfeito aéreo reverse, enquanto Mariana e Pureza se apercebiam no que se tinham metido. O nosso “ultra-leve” frame parecia fácil de manejar mas ao fim da primeira meia hora já era visível o cansaço das duas. Isso não as impediu de aguentarem durante horas, sem qualquer queixa ou reclamação, mostrando grande dedicação ao projecto. Bastaram 10 minutos para que Miguel Blanco provasse que queria a capa mais do que qualquer outro ao acertar um slob, mesmo no enquadramento perfeito. Imediatamente foi passada a mensagem, Blanco na liderança, a capa era dele para lha “roubarem”. Vasco Ribeiro foi o último a entrar mas parecia ter estado a estudar a “concorrência” e sabia o que fazer. Ao fim de muito pouco tempo tinha dado alguns voos e encostava-se ao seu team mate na luta pela capa. No passado chamámos a Eduardo Fernandes “Silent Killer”, um apelido que não podia encaixar melhor na sua personalidade. Ninguém neste grupo conseguiu ser mais low profile, fora de água e mesmo no pico, mas quando deram por ele, “Edu” era também um forte candidato à capa. Enquanto a maior parte optou por surfar as direitas, Fernandes vinha da esquerda que fazia junção com a direita, acertando bem cedo um enorme slob, mesmo em frente ao fotógrafo e babes, perfeitamente enquadrado. Apesar do filme de surf que estávamos a ver na água, ninguém neste grupo se mostrou mais atlético que o nosso super Carlos Pinto. Eram poucas as ondas que proporcionavam a manobra mesmo em frente à moldura, o que o obrigava a deslocar-se para norte e para sul à velocidade dos surfistas, mas na areia, durante horas. Assim ficou provado também que é boa ideia deixá-lo sair do escritório de vez em quando para correr e fazer umas piscinas. Enquanto isso, o “homem dos aéreos”, Pedro Boonman, apostava mais em dar fortes rasgadas, alguns tubos e grandes reentries. Tomás Fernandes mostrava a melhor “pisada” de todos, com uma linha de surf impecável e algumas manobras fortíssimas, incluindo também o seu próprio slob. Já Francisco Alves apostava mais em dar fortes batidas e algumas rasgadas com power. Poucas horas mais tarde já tínhamos as nossas modelos completamente saturadas de segurar a moldura enquanto apanhavam com ondas e sol, e aproveitámos que a maré tinha vazado bastante para fazer um break para almoçar. A fome era muita e apesar de sermos 11 pessoas não foi difícil mobilizar o gang em direcção a uma pastelaria no Ferrel onde Pedro Boonman era tratado como parte da família.

Pedro Boonman fez de tudo, carves, tubos, pauladas e aéreos. Surfou com fato meia manga, com colete e de calções de banho. Não conseguiu o derradeiro prémio mas conseguiu este poderoso double spread com direito a moldura dupla na areia e, não menos importante, com dupla sensualidade de biquíni!

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Em todas as sessões há sempre a manobra do dia, seja de power, high performance ou tubular. A manobra deste dia, no que diz respeito a high performance, foi este incrível slob de Eduardo Fernandes, que, tal como o slob de Blanco, esteve também como potencial capa.


_78 Além da manobra da capa, Vasco Ribeiro ainda garantiu outros grandes momentos dentro de água. Já fora de água, Vasco garantiu que (quase) nenhuma prancha iria acabar o dia sem uma pintura personalizada pelo Picasso da Poça.


_80 Francisco Alves foi um dos surfistas que optou mais pelo power surf do que pelo air show, até porque ainda está em recuperação final de uma lesão. Mas isso em nada foi impedimento para que conseguisse um dos enquadramento mais perfeitos do dia!

Segundo round Muitos hambúrgueres e Coca-Colas mais tarde e estávamos prontos para arrancar mas o “segundo round” não foi fácil de começar. A maré já tinha enchido bastante e os surfistas tinham enchido a barriga de ondas umas horas mais cedo, e agora ainda acusavam o estômago cheio. As ondas continuavam a quebrar, mas não seria por muito tempo, por isso, com alguma pressão, entrou o primeiro deles na água, e de calções. Tomás “Pele de lontra” Fernandes! O resto não demorou a segui-lo pois foi fácil perceber que as ondas ainda estavam muito divertidas. Já com a capa e artigo garantido, foi altura para tentar alguns enquadramentos e brincadeiras diferentes, só para garantir alguma diversidade. Mas havia um surfista que sabia muito bem o que tinha de fazer, curiosamente o que mais resistência tinha dado para entrar na segunda sessão e o que mais tarde entrou, Vasco Ribeiro. Mas este surfista é um mestre da estratégia e parecia estar a analisar a sessão como se fosse um heat que tinha de “virar” no último minuto. E, antes que a maré enche-se demais ou que um bodyboarder local o tentasse expulsar do pico, Vasco apanhou a onda certa e deu o aéreo mais alto do dia. A decisão Acabámos a sessão com algumas dúvidas, estaria enquadrado? Seria melhor que os de Miguel Blanco? E o aéreo de Eduardo Fernandes? Será que “roubava a festa”? E entre os outros surfistas? Será que havia algo pelo meio ainda melhor que estas hipóteses? Algumas horas depois estavam as três imagens acima mencionadas abertas no Photoshop. Todas eram dignas de capa mas qual seria a que reunia o maior número de elementos diferenciadores? O debate demorou quase tanto tempo como a própria sessão mas ao fim de algumas horas tínhamos uma decisão quase unânime. E o vencedor está na capa... A ONFIRE agradece a todos os participantes nesta sessão, em especial aos nossos parceiros do Culto da Imagem - www.cultodaimagem.com -, sem os quais este projecto não teria sido possível de forma nenhuma!

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