ONFIRE 66 | #aperformanceissue | Dez13-Jan14

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nº66 _ ano XI

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bimestral _ pvp cont 3€ [iva 6% inc]



*Sabe o teu sentimento!



Proged SA: infoproged@proged.com

*Serie Aventura. Blusões com funcionalidades técnicas. **Blusão Blizzard. Características técnicas: 3 camadas de tecido, prova de água, repelente à água, costuras seladas.



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Aura, SA 21 213 85 00


#coverstory

C R É D I T O S O N F I R E S U R F 6 6

Tudo começou numa tarde de chuva e vento sudeste forte na Praia Grande no final de 2013. Manuel Cotta, que tem o privilégio de ter o seu bar nesta praia, é provavelmente o surfista que mais tempo passa na famosa praia de Sintra. Quando nessa tarde viu o swell entrar perfeito e materializar-se em longas e inacreditáveis esquerdas tubulares ficou maluco! Essa primeira sessão, que acabou por ser a melhor em termos de condições, foi inesperada e por isso mesmo Cotta dividiu o pico com Nicolau Von Rupp, Jervis, Boonman e alguns bodyboarders amigos.

The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marcelo Vaz Peixoto | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [www.carlospintophoto.com] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores João Rei . Marcos Anastácio . Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira . Zaca Soveral | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #66 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens.

Nessa noite a novidade correu o país e, no dia seguinte, um pesado crowd instalou-se no Canto do Morto. Mas nada impediu que Cotta apanhasse algumas das melhores ondas dessa sessão e fizesse o que mais gosta, tubos inesquecíveis! Na água estava o seu amigo Vasco Lazaro que passou o dia entre a fotografia e o bodyboard. Não sabemos qual dos dois lhe deu mais prazer mas sabemos que quando nos enviou esta foto do Cotta num cilindro perfeito, agradecemos a todos os anjos por nesse momento Vasco estar a fotografar. Com este impressionante tubo, Manuel Cotta faz assim a sua primeira capa na ONFIRE e, se não estamos em erro, a primeira capa da sua vida!

#análise

photo by Vasco Lazaro

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Decidimos, numa breve análise, perceber como o significado de performance mudou ao longo dos tempos no nosso desporto, e como essas mudanças foram influenciando as gerações portuguesas. Passámos pelo power surf, pelo surf aéreo, e, hoje, surf performance tem um outro e novo significado… Francisco Alves | photo by carlospintophoto.com


#spotlight Não há nada como ter o surfista da capa a fazer o Spotlight dessa edição, um prazer que nem sempre conseguimos ter. Mas o Cotta deu-nos esse prazer muito reservado aos editores de revistas de surf. Nesta grande entrevista vais ficar a conhecer o percurso da vida de um dos mais respeitados free surfers nacionais. photo by carlospintophoto.com

#welovephotos Preparámos mais uma selecção de luxo das melhores fotos que recebemos nos últimos tempos só para que te delicies que nem um lord! Como sempre, o destaque são os surfistas portugueses, afinal, e abusando e melhorando o cliché, o que é nacional é excelente! photo by carlospintophoto.com


Qual será a viabilidade de se ser surfista profissional na actualidade em Portugal? Acompanhando novos nomes a surgir ano após anos e “velhos” nomes a lutarem por não desaparecer não posso deixar de achar que o sonho de viver do surf pode ser bastante enganoso. Apesar de ser um pouco mais novo que os surfistas que fizeram parte da primeira geração de surfistas profissionais portugueses, a tal de ouro, surfei e convivi bastante com muitos desses que sem medo se atiraram de cabeça para viver deste desporto, algo inédito até aí. Muitos não tinham um plano B, não eram filhos de pais ricos e nem sequer tinham boas estruturas familiares. Mas eram desenrascados, aprenderam desde novos a virarem-se por si, sem treinadores, pais ou “managers” na equação. Talvez por isso quando foi o dia para entregar a lycra de competição praticamente todos eles fizeram boas transições para trabalhos “verdadeiros”, dentro e fora da indústria. Agora é diferente, há exemplos de sucesso, surfistas como Tiago Pires, e outros que estão a aparecer, que se deram bem na vida e levam vidas confortáveis fruto do seu investimento no surf. É vulgar ouvir o seu nome como exemplo de sucesso mas o que muitos falham em perceber é que até o Saca, que aos 20 anos já tinha um CV impressionante, tinha um plano B.

Estamos a falar de um surfista que mesmo a viajar regularmente terminou o liceu “vulgar” sem grandes dificuldades e que a qualquer momento, se as coisas não tivessem corrido bem, tinha-se atirado para um curso de comunicação ao algo semelhante e terminado “com uma perna atrás das costas”. Hoje em dia vejo muitos surfistas a atiraram-se de pés e cabeça para o surf, o que por um lado admiro. Porque razão não hão de aproveitar os melhores anos das suas vidas a surfar e viajar? E alguns deles, de facto, podem mesmo vingar. Há vários de surfistas neste momento em Portugal que acrescentam grande valor aos seus patrocinadores, seja como competidores ou free surfers. Mas nem todos vão conseguir, alguns vão ficar pelo caminho. Esses vão ver os seus “incentives” reduzidos a partir dos 23, idade limite para quem sonha realmente viver do surf. A partir daí as oportunidades baixam drasticamente, e praticamente só os que conseguiram dar um salto qualitativo e financeiro antes disso, podem continuar a sonhar. Há neste momento uma grande responsabilidade da parte dos patrocinadores, pais, treinadores,“managers”, media, e claro, dos próprios surfistas, de fazer uma gestão realista e honesta destas carreiras. António Nielsen

Muitos dos melhores surfistas de Portugal reunidos numa só imagem. Quantos deles terão oportunidades para viver do surf? photo by carlospintophoto.com | 12




| 15 Basta olhar para esta foto para perceber porque razão as revistas de surf nunca irão acabar! Podem, e devem, transformar-se, tal e qual como aconteceu com a ONFIRE, mas ter um double spread numa revista de surf continua a ser um dos momentos mais excitantes para um surfista e uma das suas maiores armas de marketing! Nicolau von Rupp sabe disso melhor do que ninguém e a prová-lo está o facto de ter feito capa na gigantesca revista de surf americana SURFING Magazine muito recentemente. photo by carlospintophoto.com

Todos sabemos que os últimos anos não foram fáceis para ninguém independentemente da área de trabalho de cada um! No nosso “pequeno” mundo, nunca o Surf esteve tão em alta mas por alguma razão uma boa parte da indústria nacional do surf esteve em crise (aconselho a leitura do artigo do Miguel Pedreira da edição passada que tão bem debate este assunto). Não vou dizer que no mundo das revistas as coisas estão piores que noutros segmentos mas não estão melhores. Um argumento corrente de muitos é o de que o papel tem os dias contados. Estaria milionário se ganhasse um euro por cada vez que ouvi isto nos últimos 10 anos acreditam?... Mas analisemos alguns factos: as maiores revistas de surf do mundo (Surfing, Surfer, Stab, Carve, entre outras) continuam cravejadas de anúncios, muitas delas mais do que nunca (então as americanas nem se fala). É certo que algumas publicações também desapareceram (como a Transwolrd Surf) do mercado mas se há algo que a crise faz é triar, muitas vezes mais por razçoes estratégicas do que por qualidade!... Outro facto! Recentemente, qual foi uma das notícias mais virais do surf nas redes sociais? A sessão de Nicolau Von Rupp na Irlanda no dia do Hércules ou, surpreendam-se, o facto do surfista português ter feito a capa da REVISTA americana SURFING? E qual das duas teve mais significado para Nicolau? Provavelmente as duas! Sim as duas, não uma! Pergunto, será que os que tanto argumentam contra o fim do papel não têm noção nenhuma de que um dos momentos obrigatórios para qualquer surfista que pense em ter uma carreira internacional é fazer capa de revistas de surf (já para não falar de entrevistas, fotos, etc)? Pensam mesmo que sem revistas a foto ‘x’, ‘y’ ou ‘z’ no Facebook e que teve 2000 Likes irá perdurar na cabeça do próprio ou mesmo dos que fizeram Like, ou ainda, se quiserem, nos relatórios de marketing finais das marcas?

E conhecem algum surfista de renome internacional que nunca tenha feito capa de uma das maiores revistas do mundo? NÃO! E conhecem algum surfista internacional de renome que NUNCA tenha feito capa nas revistas do seu país? NÃO! Quanto à ONFIRE... Como sabem, nos dois anos de crise fizemos “drásticas” mudanças que tornarem o produto final ainda mais um objecto de luxo. Lançámos os números especiais (com papel premium e artigos de luxo) e desde o primeiro número desses que lançámos (ONFIRE 60) que desejamos que todos os nossos números sigam essa fórmula. Já os números “normais” destes últimos dois anos, como este que tens nas mãos, “só” te privam mesmo do excelente papel premium, mas a questão aqui é que ainda hoje é difícil para mim perceber como conseguimos elevar o nível da OF em épocas tão difíceis!... Sacrifício, dedicação, amor, trabalho, muito trabalho... E queres saber qual foi o maior indicador de que estávamos no caminho certo? TU! Nunca pensei ou quis usar este espaço para falar de números mas há aqui uma razão muito especial para o fazer: agradecer a todo o fiel público da ONFIRE que continuou a comprar a revista independentemente da crise. Mas quero dar as boas-vindas aos mais recentes adeptos da OF que nos últimos dois anos cresceram ao contrário do que a crise possa ditar. Sim, acreditem ou não (e sei que muitos vão dizer que estou a mentir mas I don’t fuckin’ care), as vendas da OF aumentaram em época de crise, não muito, admito, mas o suficiente para percebermos que as nossas “drásticas” mudanças na revista foram certeiras para contrariar o “famoso” desaparecimento do papel! Nota final: em nada sou contra o mundo virtual, muito antes pelo contrário, mas em tudo defendo que foi e é a complementaridade da qualidade da ONFIRE no papel e no mundo virtual que coloca o nome ONFIRE no patamar onde hoje está! Nuno Bandeira


16 _ Quando se fala de surf high performance há sempre um aspecto muito discutido e que em muito afecta o quanto o aéreo em questão foi excelente ou não, o estilo! A verdade é que muitos mestres dos aéreos têm muitas vezes um estilo estranho, muitas vezes apelidado de estilo gafanhoto, o que pode prejudicar a qualidade da manobra. Por isso, o perfeito é fazer como o Alex Botelho que sempre que dá um aéreo o faz com um estilo irrepreensível e invejável! photo by Al Mackinnon




Quem nunca levou com um pescador aos berros porque nos enrolámos na linha da sua cana de pesca? E quem, depois disso, nunca teve a sensação de que, após esse episódio, a qualquer momento poderia levar com uma chumbada na cabeça do pescador tal a sua fúria? Uma das formas de evitar esta confusão é esta de Marlon Lipke… Basicamente, o português apostou em meter tanto power nas suas manobras que até o pescador (que está ao fundo) sabe que os peixes fugiram todos. Logo, o homem da cana foi obrigado a virar-se para o outro lado das rochas para continuar a pescar em paz e tranquilidade, e Marlon deixou de sentir que era um alvo a abater! 19 _

photo by Greg Martin


photo by carlospintophoto.com _ 20 Este shot de Vasco Ribeiro coloca-nos uma dúvida… Será que ele estava mais focado em acertar a manobra ou em não aterrar em cima do fotógrafo, o homem da casa ONFIRE, Carlos Pinto? Olhando para a sua cara, o surfista da Poça parece não estar a pensar em mais nada além de completar a manobra. E, no fundo, nem precisa pois a confiança que tem na capacidade de Carlos Pinto de “fugir” do surfista no momento “H” é tanta, que Vasco pode focar-se na sua única missão: aterrar este áereo em água açorianas!




23 _ Seria impossível para nós escrever outra legenda qualquer que não esta sobre este tubo de Miguel Blanco nos dias em que a Praia Grande foi um festival de ondas tubulares: “Como é que é possível que um surfista como Blanco esteja sem patrocinador principal?!?” Agora resta-nos esperar que, durante o processo de impressão desta edição, o Blanco não feche contrato para não nos lixar esta legenda… e daí, e pensando melhor, era uma “bala” que levaríamos com todo o gosto! photo by Pedro Mestre


24 _ Durante o decorrer do “Jervis and Vagabonds”, o primeiro concurso de surf online no nosso país e que “apadrinhámos” com o maior entusiasmo, não foram poucas as vezes que em conversa sobre o evento o referíamos, em tom de brincadeira, como “Jervis and Vagabunda”. Se isto não passava de um trocadilho engraçado e que esqueçemos após o término do evento, quando vimos esta esta explosão de backside nos Coxos do Filipe Jervis, o termo Jervis “Vagabunda” regressounos à mente! A razão é mais do que óbvia, Jervis está a destruir esta vaga com um belo toque de bunda! photo by Pedro Mestre



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Terminou a 26 de Outubro a última etapa do MOCHE Series Cascais Trophy, o Cascais Billabong Pro, uma etapa PRIME realizada em Carcavelos. Nenhum surfista português conseguiu passar do segundo round, apesar de se ter visto bom surf na primeira fase. O grande vencedor foi Jadson André, que derrotou na final o norte-americano Connor Coffin. Também foi neste dia que ficou definido o vencedor do Cascais Trophy, Adam Melling, que foi quem pontuou mais no combinado das várias etapas que constituíam esta “Triple Crown”. photo by Masurel/ASP

A 28 de Outubro alguns dos mais conhecidos big wave riders do mundo encontravam-se na Nazaré para surfar uma ondulação gigante que tinha chegado à costa portuguesa no dia anterior. Enquanto que Carlos Burle apanhou uma onda que é considerada como a possível recordista do mundo, na categoria de maior onda, já a sua conterrânea, Maya Gabeira, quase fez a sua última. Ao surfar uma onda gigante, Maya partiu o tornozelo a fazer o drop e pouco depois acabou por perder a consciência quando estava a ser salva pela mota de água. O facto de já estar perto da areia acabou por ser essencial para que a sua vida fosse salva, pois foi reanimada logo de seguida e encaminhada para um hospital. photo by Red Bull Content Pool

31 de Outubro, Vasco Ribeiro era eliminado nos oitavos de final man-on-man do HD World Junior Championships, terminando em 9º lugar. O único português em prova foi um dos grandes destaques dos primeiros dias, tendo sido “dono” da melhor média do primeiro round. Até que foi surpreendido nos últimos minutos do seu confronto com Oney Anwar, ficando assim a escassos pontos de um resultados que seria mais adequado ao seu verdadeiro valor. O vencedor da prova foi Gabriel Medina, que assim sagrou-se campeão mundial júnior. photo by ASP

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25 de Novembro, teve início o MOCHE Winter Waves, um concurso online produzido pela ONFIRE e MOCHE. Esta iniciativa inédita em Portugal tem o apoio do Jornal i, FUEL TV e VANS, e visa premiar os surfistas que apanharem as melhores ondas no Inverno português, oferecendo um prize money de 1.500 euros para cada uma de duas categorias, melhor onda e maior onda. As ondas têm de ser captadas em vídeo entre as datas de 25 de Novembro de 2013 e 25 de Março de 2014 em Portugal Continental e Ilhas, e os surfistas em questão têm obrigatoriamente de ter nacionalidade portuguesa para estarem aptos a vencer e receber o prémio.

A 2 de Dezembro, Frederico Morais fez mais uma vez história ao chegar à final do VANS World Cup of Sunset, uma etapa Prime realizada no Havai. Apesar de ter terminado em quarto, “Kikas” eliminou grandes nomes do surf profissional e conseguiu um prémio que apenas um surfista na Europa (Tiago Pires) tinha conseguido, o de rookie da VANS Triple Crown of Surfing. photo by ASP



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A 14 de Dezembro, Mick Fanning tornou-se no quinto surfista na história do surf profissional a quebrar a barreira dos dois títulos mundiais. Ao derrotar o seu conterrâneo Yadin Nicol nos quartos de final man-on-man do Billabong Pipe Masters, com uma onda impressionante nos últimos segundos, Mick conseguiu pontos suficientes para deixar Kelly Slater fora da disputa pelo título, garantindo assim o seu 3º título mundial. Slater acabou por vencer a etapa enquanto que John John Florence conseguiu a sua segunda Vans Triple Crown of Surfing nesse mesmo dia. photo by Red Bull Content Pool

No dia 15 de Dezembro saiu finalmente a comunicação que todos os surfistas portugueses esperavam, o novo top32 do WCT. Foi nesse momento que se tornou oficial que Tiago Pires tinha recebido um wildcard para participar neste circuito pelo 7º ano consecutivo. Tanto Tiago como Owen Wright receberam estes wildcards da ASP por terem sido os membros do circuito com maior legitimidade de ocupar estas vagas, depois de terem passado a maior parte de 2013 lesionados. photo by Red Bull Content Pool

16 de Dezembro o surfista de Carcavelos Pedro Boonman foi considerado o vencedor de um evento inédito em Portugal, o Jervis and Vagabonds. Este concurso foi disputado entre alguns dos melhores e mais mediáticos surfistas do país, que tinham de submeter ondas em vídeo de modo a derrotar os seus adversários em confrontos cibernáuticos man-on-man. O evento foi uma iniciativa de Filipe Jervis, em associação aos seus patrocinadores e à ONFIRE. photo by ONFIRE

Dia 22 de Dezembro, a ex-campeã nacional Joana Andrade deu que falar tanto em Portugal como fora devido às enormes ondas que apanhou numa sessão na Papôa, um big wave spot algo esquecido em Peniche. Andrade sempre foi conhecida pela sua atitude dentro de àgua mas neste dia superou barreiras do surf feminino português ao apanhar ondas de quatro metros em tow-in e ficou imediatamente apurada para o concurso Billabong XXL. photo by João Rosado/Billabong XXL

Dia 6 de Janeiro, a muito antecipada tempestade Hércules chegou à costa portuguesa e trouxe algumas das maiores ondas dos últimos anos. Infelizmente a força do mar deu origem a um alerta vermelho nas marinas e portos de pesca, fazendo com que as autoridades não autorizassem que mesmo alguns dos mais atirados surfistas de Portugal saíssem dos portos e marinas com as suas motas de água. Assim o surf foi realizado apenas em alguns picos mais abrigados. photo by ONFIRE

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MORANGOSCOMASPARTAME texto by Ricardo Vieira [ ricardovieira30@gmail.com ]

Corta!!! Aos vossos lugares, vamos repetir! Nunca mais saímos daqui... Maquilhadora! Tem um brilho ali no nariz... José, quando você entra olha primeiro à sua volta, olha para a decoração do bar, para as pranchas no tecto, diz a sua fala e só depois é que olha para a Cláudia ao balcão, ok?! Só depois, ok?! Ok, já percebi, entro no bar, olho para as pranchas no tecto e digo “que fixe, este bar é muit”a” bacano, tomara que houvesse um igual na minha praia!” e só depois olho para essa gaja irritante sentada aí ao balcão, que não chega aos dezasseis anos nem com os pés ao chão, mas que se diz actriz profissional,

De certeza que 99% dos surfistas de novela não entrariam num dia destes! O mar será sempre o definidor de quem são os surfistas de Alma dos que não são! photo by carlospintophoto.com

embora bufe a cada engano, armada em grande diva. Digo fixe e bacano na mesma frase porque é assim que estes putos estúpidos aqui e lá em casa agora falam, é isso? Acção!!! Entra o José! Entro eu. Olho para o tecto, debito Que bacano! Este bar é muit”a” fixe, quem me dera ter um igual na minh... CORTA!!!!! José, o bar não é bacano, o bar é fixe, bacano vem depois para rematar, é importante não trocar as palavras ao guião, estes senhores passaram meses na cave a escrever isto, merecem respeito!!! A diva faz o que sabe melhor, bufa. Ok, o bar primeiro é fixe e só depois é que se transforma em bacano. É melhor decorar mesmo, senão daqui a um bocado estão a dizer-me como pôr os pés um à frente do outro para conseguir caminhar na vida. E trabalhos na cave deviam ser limitados só a quem pinta cadáveres ou a arrumar a árvore de natal. Pessoal, dez minutos de intervalo! - grita o realizador. Só dez minutos? Por mim podiam fazer uma ou duas vidas de intervalo, davam-me tempo suficiente para o bacano e o fixe, ver se eu consigo transformar-me no que não sou, num surfista de novela, cheio de tiques e taques, sempre a ajeitar o cabelo em

madeixas perfeitamente alinhadas como os miúdos beto-fadistas e a pensar qual é a disco que está a dar logo à noite. Triste sina a minha, precisar deste dinheiro e conhecer pessoas no meio. Maldita cunha esta, eu que procurava trabalho atrás das câmaras e acabo à frente da lente, a ser queimado pela lupa como uma mosca tonta sem conseguir voar. Tão estranhos estes surfistas de novela, como é que se escrevem estas cenas, quem são os consultores, quem opina, quem conhece, quem é que pratica em mar aberto e depois passa estes redemoinhos todos para o papel?! Estes agueiros sem fim, estes quebra-côcos infernais? Como é que isto existe? Pior, como é que isto subsiste? Talvez por isso apareça tanta gente afectada na praia ultimamente. E eu que sempre pensei que a lua cheia é que era responsável por trazer canas, conchinhas, malucos e bicheza ao areal. Que saudades do tempo em que os espantalhos gritavam aos corvos que os surfistas eram todos uns “drógados”. E pensar que no meu grupo não se fumava sequer tabaco, que a nossa droga de eleição era o surf. O verdadeiro, não aquele vendido em episódios. Pessoal, aos vossos lugares!!! - grita Deus Bacano, vai recomeçar tudo outra vez. Fixe... RV _ 30



texto by Miguel Pedreira

Feliz ou infelizmente, Portugal tem muitos outros spots de ondas grandes (com este...). É, no entanto, verdade que nenhum spot pode rivalizar com a Nazaré mas se a burocracia em volta do famoso “Canhão” não se “descomplica” rapidamente, nunca mais o mundo (que consequentemente traz gigantescas vantagens para um país em crise) voltará a ouvir o estrondo do canhão nazareno. | photo by carlospintophoto.com


Confiança e prestígio são duas qualidades que se vão conquistando aos poucos, muito lentamente, degrau a degrau. E no mundo do Surf isso é ainda mais verdade, como tão bem sabem Frederico Morais e Nicolau Von Rupp, os portugueses que mais recentemente têm colocado o nome de Portugal nas bocas do mundo, com todo o mérito. Os meus parabéns aos dois (e às suas respectivas famílias e entourages profissionais), pela forma “ruidosamente silenciosa”, humilde e claramente bem articulada como conseguiram, nos últimos meses, tocar patamares profissionais apenas alcançados anteriormente porTiago Pires,o grande pioneiro do profissionalismo internacional do nosso Surf, como todos sabemos. E ninguém melhor do que Frederico e Nicolau (e Tiago, antes deles) sabem o trabalho, a dedicação, a atenção aos detalhes, as escolhas por vezes dolorosas que são necessários para lá chegar. Da mesma forma, nos últimos anos, Portugal tem conquistado um enorme prestígio internacional no mundo das ondas grandes graças à Nazaré, aos mentores do North Canyon Show (primeiro apenas com o apoio da Câmara Municipal e depois já com a ZON) e ao havaiano Garrett McNamara, que tem sido um enorme embaixador desta vila e do nosso país além-fronteiras. Recentemente tive amigos a passar uns tempos em Bali, onde os habitantes locais que nada tinham a haver com surf conheciam apenas duas coisas de Portugal: Cristiano Ronaldo e... Nazaré!... o mesmo se passa em muitos outros locais do planeta, o que diz bastante do grau de penetração que as notícias sobre os feitos conquistados na Nazaré têm na sociedade em geral. Aqui ou em qualquer lado do mundo. Talvez por isso Garrett McNamara tenha sido escolhido pelo Estado Português como rosto do Turismo de Portugal na FITUR – Feira Internacional de Turismo, que recentemente decorreu em Madrid, Espanha, onde a oferta turística nacional foi promovida tendo o surf e as nossas ondas como imagem. Um passo em frente e um sinal de abertura, de modernização, de aproveitamento do que temos de melhor e de graça – sol, praia, ondas e boa disposição. E todo este prestígio foi conquistado nos últimos anos, mas de uma forma faseada, aos poucos, graças ao muito trabalho que todos os agentes envolvidos com o surf em Portugal têm feito e à confiança que isso gerou no mercado internacional. Mas se a confiança e o prestígio demoram anos a serem conquistados, basta um instante, um pequeno acidente de percurso, para cair tudo por terra... e é por isso que as recentes notícias sobre a proibição/burocratização do Tow In na Praia do Norte me têm deixado perplexo! Li atentamente tudo o que saiu sobre o assunto, incluindo a entrevista do capitão do Porto da Nazaré à jornalista Patrícia Tadeia... e nada ainda me esclareceu a 100% sobre o assunto, que está a desfazer o trabalho de anos num abrir e fechar de olhos!... Existam ou não leis que têm de ser cumpridas, regimes de excepção que podem ou devem ser adoptados, a verdade é que houve potenciais interessados em apanhar as ondas da Praia do Norte durante um dos maiores swells de que há memória, que viram os seus propósitos gorados por uma burocracia a que não estão habituados e que, diga-se em abono da verdade, é completamente

obsoleta. Num país europeu, de vistas largas, este tipo de situações não pode nem deve acontecer. É que não estamos a falar de curiosos, que de repente decidem “apanhar umas ondas grandes”, mas sim de atletas de alta competição, muitíssimo bem treinados, que definem os limites do que é ou não “surfável”, referências mundiais no que toca ao resgate em mares gigantes e profundos conhecedores das possíveis consequências dos seus actos. Surfistas que seguem todos os swells à volta do mundo e cujo propósito na vida é apanhar as ondas geradas por essas ondulações – quanto maiores, melhor – dispondo para isso de meios (mesmo que limitados ao essencial) para arrancar a qualquer momento em busca das mesmas. Se, quando chegam a um local que escolheram, encontram entraves e desconhecimento local, em vez de o promover através dos seus feitos... nunca mais lá voltam. E foi isso que aconteceu nas ondas geradas pelo famoso Hércules! Resultado? Os mesmos órgãos de comunicação social especializados que divulgaram a Nazaré como destino ideal para grandes swells, acabaram por divulgar também as frustrações e desabafos desses surfistas, o que gerou uma onda de indignação na comunidade mundial de ondas grandes e levantou grandes dúvidas quanto ao seu regresso ou exploração desse potencial. Até porque, nas sessões protagonizadas pelas equipas ZON North Canyon e Red Bull, os requisitos não foram impedimento para a sua realização. Não quer dizer que estes não sejam válidos, mas digamos que ter uma ambulância de prontidão no local, duas motas de água a fazer segurança e uma equipa de vigilância em terra, com comunicação constante para dentro de água, é simplesmente demasiado caro para qualquer dupla de Tow In, mesmo com patrocínios. Em última instância, uma vez que quem mais lucra com esta exposição mediática é a própria vila,quem deveria pagar e ter esses meios à disposição dos seus “surfistas-turistas-especializados” é a própria Câmara Municipal. Ou mesmo o estado português, através dos múltiplos organismos que tutelam a costa nacional!... o que nos leva ao grande problema de Portugal no que às praias diz respeito, tantas vezes levantado por João Capucho, ex-presidente da Associação Nacional de Surfistas: o excesso de tutela, que leva à tal burocracia e consequente desânimo de quem quer bem às praias e às ondas e delas usufruir de uma forma simples, criando mesmo eventos que geram dinamização económica e promovem uma utilização sustentada desses recursos. No swell do Hércules,quem perdeu foi a Nazaré.Quem ficou a ganhar foi a vizinha Peniche, cujo presidente da Câmara, António José Correia, é sobejamente conhecido como promotor da cidade através do surf e “desburocratizou” em vez de complicar... já para não falar de ondas na costa francesa e irlandesa, onde alguns portugueses foram mesmo protagonistas. E, embora motivo de orgulho pela exposição internacional dos nossos surfistas, não será também uma vergonha termos os nossos melhores a irem para outros países europeus para poderem mostrar o seu potencial?!... já chegam os cientistas e a geração mais qualificada de sempre!... Como disse um dos jornalistas que veio à Nazaré, à procura de histórias geradas pelo Hércules, no site The Inertia,“há mais ondas grandes na Europa!” E no resto de Portugal também, acrescento eu! Com a contínua busca de ondas potencialmente perfeitas para Tow In e capazes de aguentar ondulações gigantes, mais eventos e equipas vão procurar esses recursos no nosso país. Se encontrarem demasiados entraves, dão meia volta e nunca mais cá voltam. E isto, num país que pretende promover o seu turismo através do surf, é não só intolerável... chega a ser estúpido! Nem que seja pelo gasto supérfluo de verbas pagas pela erário público em publicidade enganosa... MP _33



O Caminho da Performance photos by carlospintophoto.com (excepto quando assinalado) texto e legendas by ONFIRE

O que significa Surf Performance hoje em dia? Como chegámos a este significado? Neste artigo fazemos uma rápida e geral análise de como o significado de Performace mudou ao longo dos tempos, e de como este influenciou as gerações que foram surgindo e, mais importante que tudo, as próximas gerações!


O significado de Surf Performance tem mudado ao longo dos tempos! Se nos anos 80 performance era sinónimo de power surf (e numa altura em que os surfistas de aéreos eram poucos e visto como marginais, como o californiano Christian Fletcher, entre outros), nos anos 90 o surf aéreo começou a ganhar o seu espaço, de tal forma que até há bem muito pouco tempo performance significava quase unicamente aéreos! Hoje, o significado da palavra Performance parece estar no caminho certo pois a verdadeira performance máxima que qualquer surfista tem que ter só é conseguida através de um equilíbrio perfeito entre o surf aéreo e o power surf. Mas foram precisos 20 anos (ou mais) para finalmente se entender que o surf aéreo e o power surf não podem funcionar um sem um outro, e cada vez mais o conceito de um surfista ser um power surfer ou ser um surfista de aéreos está ultrapassado. Toda esta evolução marcou cada geração da sua forma. Por alguma razão temos surfistas como Mark Ochilupo , Luke Egan ou Taylor Knox que são conhecidos pelo seu poder de destruição de ondas. Em Portugal, surfistas como José Gregório, Paulo do Bairro ou Miguel Fortes basearam o seu surf no rail e na quantidade de água que este deita. Quando a geração “Momentum” apareceu ao mundo pela lente de Taylor Steele – leia-se Kelly Slater, Rob Machado, Kalani Robb ou Shane Dorian (apesar deste último ter no seu sangue o power surf), entre outros, a febre do surf aéreo começou a espalhar-se fortemente pelo mundo inteiro, sendo que este foi muito provavelmente o ponto de viragem e que viria a colocar o power surf num canto escuro da mente das novas gerações durante muitos anos. Assim, à medida que os novos nomes do surf mundial tinham como objectivo voar o mais alto possível a cada surfada, a “guerra” entre o power surf e o surf aéreo crescia, e, a cada ano que passava, o surf acima do lip teimava em dominar a mente de (quase) todos. Em Portugal, durante um EPSA em Ribeira D’Ilhas, o power surfer (e na altura gadelhudo) José Gregório, que já andava a treinar o seu surf aéreo para se manter actualizado com a tendência do momento, deu um aéreo durante a final que para sempre ficou na memória de todos. E foi essa a manobra responsável pela sua vitória. Uns anos mais tarde, Nuno Telmo venceu durante anos e anos as Expression Sessions do circuito nacional graças aos seus voos, surf esse que lhe deu também inúmeras fotos em revistas. Um pouco mais tarde aparecia um Paulo Almeida, da Costa da Caparica, assim como um Marcelino Barros (que foi capa da primeira ONFIRE com... um aéreo) e um António Silva, entre outros, como os surfistas que mais à frente estavam no que era o surf performance do momento. Quase se pode dizer que pelo menos duas gerações se “esqueceram” do surf power e de que a dificuldade em meter o rail na água da forma perfeita é a mesma do que voar acima do lip. A prova fatal do que dizemos? Ainda hoje quantos surfistas conseguem meter o rail na água como Slater, Fanning, Reynolds ou Andy Irons (RIP)?

| 36 Nos anos 80 o significado de surf performance era surf de rail e, consequentemente, power. Quem metesse mais rail e água no ar era quem estava mais na vanguarda. Com o passar dos anos juntou-se um novo ingrediente, elevando o power surf para um novo patamar. Esse ingrediente foi a adição de um “subtil” toque fruto da modernização que o surf sofreu: um derrapar (mas controlado) do tail no final do carve. Joackim Guichard, nos Coxos, mostra que sabe muito bem o significado de surf performance de hoje em dia.




Quando os aéreos saturaram o mundo, apenas um tipo de aéreo convencia independentemente do tipo de grab: o aéreo alto e fluido. Tomás Valente, um dos pioneiros do surf aéreo reverse em Portugal, sabe disso e por isso faz questão de voar alto sempre que pode! photo by Jorge Matreno 39 |

Porque o surf aéreo dominou durante tanto tempo? Uma dedução possível é a de que aprimorar a técnica de rail implica um movimento mas, no caso do surf aéreo, o leque de opções é de tal forma gigante que dominar todas as vertentes deste lado demorou/demora anos e anos. Assim, depois da febre de “simplesmente” voar acima do lip, chegou a altura em que a performance passou a ser o voar e rodar acima do lip. Chegava a (longa) Era do Aéreo Reverse! A net crescia cada vez e proporcionalmente os vídeos de surf e imagens de aéreos reverse deslumbravam a mente de todos. Revistas do mundo inteiro não falhavam uma edição sem ter como foto rainha o aéreo reverse do surfista ‘x’ e/ou ‘y’, e, no nosso “burgo” foi de Caxias/Carcavelos que saiu o surfista que viria a construir um sólido nome no surf nacional graças ao seu domínio instantâneo da manobra desse momento, Tomás Valente. Há medida que Tomás Valente ganhava o seu espaço nos media nacional baseado na sua capacidade de voar e rodar como poucos outros o faziam, um ainda muito jovem Frederico Morais começava a dar os primeiros passos no surf. Quando o nome de Morais começou a surgir fortemente no surf português como o de uma grande promessa, a moda do surf aéreo estava ainda muito longe de atingir o seu auge. Uns anos mais tarde, quando a febre do surf aéreo estava a rebentar os termómetros dos surfistas do mundo inteiro, que o surfista do Guincho seguia um caminho completamente diferente do que se vivia, o do “velho” power surf! Morais passava horas a aprimorar a sua técnica de rail na água, caminho esse que acabou por se revelar fundamental para uma sólida base do seu surf. É mas do que sabido que, por norma, um surfista de aéreos, principalmente se se focar nesse campo muito jovem, terá grande tendência a desenvolver uma linha de surf partida e pouco fluida, aproveitando muitas vezes de uma forma fraca todo o potencial de uma onda. Morais começou “ao contrário” do que a moda ditava na altura mas a realidade é que começava da forma que todos devem começar, pelo surf de rail, pelo surf bottommanobra, pela leitura correcta de cada secção da onda; nunca pela procura de uma única secção para dar o tão ambicionado aéreo reverse do momento. Aliás, nesta altura o surf aéreo estava tão enraizado que, acreditem ou não, muitas foram as vozes a dizer que o puto Morais nunca iria dar aéreos e que o surf ficaria para trás... Nesses anos, Tiago “Saca” Pires qualificava-se para o WCT (de onde não sairia mais, e onde continua hoje), um power surf por natureza que, no auge do surf aéreo, deu a Portugal uma lição de que com muito treino, trabalho, sacrifício e foco, entre muitas outras características, podem levar um surfista a atingir os mais altos objectivos. Pires nunca escondeu que a sua vocação e gosto é o power surf, e que o surf aéreo não é nem nunca foi a sua prioridade de treino. Mas, tal como os power surfers anteriores a ele, todos treinaram para colocar o seu surf “moderno” mais apurado.


Taylor Knox incluía cada vez mais rotações de tail nos seus carves imaculados, assim como soltava o tail a cada paulada que dava para acompanhar a performance do momento. Kieren Perrow, reformado do WCT o ano passado, um mestre em tubos e power surf, foi sem dúvida um dos surfistas que poucos acreditariam que um dia vira a dar aéreos, não a dominá-los simplesmente a saber fazê-los. Apesar de raramente sacar esta cartada, chegou a fazê-lo e a surpreender o mundo em competição... Quem não se lembra do gigante aéreo que deu durante o Oakley Bali Pro o ano passado e que, no meio de nomes como Slater, Florence, Parko ou Fanning, lhe rendeu as atenções do mundo inteiro nesse dia? Mas voltando um pouco atrás e à realidade dos anos 2000! Juntamente com Morais havia toda uma nova geração a surgir e que inclui hoje nomes como Vasco Ribeiro, Zé Ferreira, Francisco Alves, João Kopke, Pedro Boonman, Miguel Blanco, Filipe Jervis, Nicolau Von Rupp, entre outros. Todos eles cresceram na altura em que surf performance significava surf aéreo (reverse nos “primórdios”). E, como dissemos, o surf aéreo cresceu tanto que com o passar dos anos, e com o aparecimento de nomes como Dane Reynolds, John John Florence, Gabriel Medina ou Chippa Wilson, entre muitos outros, o aéreo reverse acabou por se tornar... banal! Se o aéreo reverse já tinha sido responsável por inúmeras aparições de surfistas em revistas e por heats vencidos, de repente a sua queda foi rápida e abrupta. Foram tantos anos a colocar esta manobra como o auge que surfista como Jadson André acabaram por sofrer consequências graves quando esta moda saturou. O mais grave é que o aéreo reverse deste brasileiro em muito pouco tinha a ver com o aéreo reverse que se tinha tornado fútil. O aéreo reverse de Jadson André era, em tudo, diferente: era alto, tinha uma incrível projecção e uma rotação rápida e muitas vezes completa no ar (full rotation). Mas o mundo estava cansado dessa manobra, e os juízes do WCT e WQS eram os que mais acusavam esse cansaço. Ao mesmo tempo, surgiam as várias variantes de aéreos um pouco por todo o reportório dos grandes nomes do momento. Slob, lien, stalefish, mute, rodeo, backflip (de repente chamados de Flynstone Flip), Kerrupt Flip, a lista tornou-se grande e para muitos complicada...


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s e q u ê n c i a O Alley-oop é uma das muitas variantes dos aéreos do momento sendo mais uma das manobras obrigatórias para qualquer surfista que aspire uma carreira internacional. É por isso que Zé Ferreira não perde oportunidade para treinar esta manobra sempre que a secção perfeita lhe aparece pela frente.

s t i l l Nada como veres este aéreo de Francisco Alves para perceberes o que é um Lien Air. Assim, um aéreo é chamado de Lien quando, de frontside, agarras o rail do calcanhar com a mão do teu braço da frente. photo by André Carvalho|Goma


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O aéreo reverse é uma variante de um aéreo mas o aéreo reverse tem várias formas de ser executado. Sem dúvida que a mais difícil é quanto a rotação deste é feita para a base e sem que o rail seja agarrado. Frederico Morais põe os seus joelhos em risco ao voar e rodar directo para a base para completar mais um altamente técnico aéreo reverse.




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Apesar de não ter uma grande expressão, o Pop Shove It (aéreo com troca de base no ar) é uma manobra que impressiona muitos mas que tem aquele factor de estranho pois coloca o surfista em posições pouco naturais. No entanto, não deixa de ser uma manobra de alta dificuldade técnica. Zé Ferreira executa um Pop Shove It e dá uma pose estilosa pose final para o fotógrafo.



Independentemente do tipo de grab ou rotação que os surfistas começavam a fazer, a base da manobra era sempre a mesma, o aéreo, e, por isso mesmo, o significado de surf performance iria continuar a ser ditado pelo aéreo. Mais uma vez o mundo inteiro tinha de evoluir e seguir as incríveis “acrobacias” que Reynolds, Florence, Medina, Josh Kerr, e Slater (o “freak” dos anos 90 que continuava a liderar o surf performance de (mais) essa Era), entre outos, faziam como se “nada” fosse. A verdade é que esta variabilidade, importada do skate, foi fundamental para tornar o surf num desporto mas transversal mas o reverso da medalha é que continuava a esmagar a base obrigatória de qualquer surfista, o surf de rail. Claro que os grandes nomes acima referidos tinham todos essa base mas a mente das novas gerações parecia ver apenas o lado mais mediático do surf, acabando por se formatar mais uma geração inteiro de uma forma incompleta. Após garantir um domínio magistral do surf de rail, Frederico Morais iniciava o seu ataque ao surf aéreo. E, como todos sabemos, Morais não precisou de muito tempo para adicionar ao seu power surf a vertente mais em moda no momento. Rapidamente dominou o aéreo reverse e começou a aprimorar as outras variantes. Outro surfista do Guincho, um pouco mais velho que Morais, foi e é um dos grandes nomes nacionais no que diz respeito ao surf aéreo, Filipe Jervis. Se Tiago Pires tem um talento para o rail, Jervis tem esse talento para os aéreos, e o domínio das várias variantes de aéreos tornaram-se parte do seu arsenal básico de manobras. Mas o significado de performance estava mais uma vez prestes a ser reajustado e Jervis, tal como grande parte do mundo, iria ter de voltar às raízes, o exemplo perfeito internacionalmente? Gabriel Medina!... Uma nota importante a referir é que, no momento em que as variantes dos aéreos entraram em voga, e já falamos de um passado recente, três ou quatro, anos, essas aconteceram de uma forma tal que grande parte do mundo não estava preparado para essa reviravolta. Muitas foram as revistas que colocaram fotos de variantes de aéreo scom nomes errados, muitos foram os artigos escritos para descrever ao pormenor cada tipo de aéreo, muitos foram os comentadores a dar graves gafes ao tentar acertar no nomes dos áeros... Chegava então uma altura em que era preciso (re)educar o público do surf, e nesse estavam incluídos os júris. De Portugal ao WCT, foram várias as vezes que os nomes dos aéreos saiam errados; muitos nomes começaram a fazer árduas criticas ao julgamento pois acusavam os juízes de não terem noção da dificuldade técnica de variantes como o stalefish – aéreo de frontside onde a mão do teu braço de trás agarra o rail do calcanhar, o que “basicamente” implica que o movimento do teu braço contrarie todo o restante movimento do teu corpo, daí ser considerado como um dos mais difíceis aéreos em termos técnicos. Havia, inclusivamente, surfistas que afirmavam nem fazer esses aéreos em competição pois não iriam receber a nota justa pela elevada dificuldade técnica da manobra, um dos mais importantes critérios da ASP. Como dissemos, o mundo precisava de se (re)educar no significado de performance!

47 | Depois da loucura do aéreo reverse, hoje esta manobra já só tem o factor de deslumbramento quando é feita com fluidez, uma rotação rápida e, quer queríamos quer não, com estilo. Eduardo Fernandes juntou estas três características neste absado áereo reverse no Guincho.



49 | Se há nome da nova geração que domina as várias vertentes dos aéreos é Filipe Jervis. Na Costa da Caparica, Jervis exemplifica como se faz um slob: de frontside, agarra, com a mão do braço da frente, o rail para onde apontam os dedos dos pés.

A (re)educação aconteceu tão rapidamente como surgiu o vídeo que fez o backflip renascer, mas baptizado como o Flynnstone Flip (pois foi o havaiano Flynn Novak que lançou a manobra na web), e se fosse possível marcar o ponto mais alto em que surf performance significava surf aéreo talvez tenha sido este. Por alguma razão, e apesar da elevadíssima exigência técnica desta manobra, o backflip não deslumbrou o mundo. A seguir a Novak, Medina e Yago Dora, entre outros nomes, lançavam os seus backflips filmados mas o mundo parecia querer exigir mais do significado de performance... Uma das razões que poderá ter ajudado a chegar a esta saturação de aéreos é talvez um dos mais discutidos no surf, o estilo. A realidade é que o estilo de um surfista é algo que contará sempre, quer queiramos quer não, para o gosto final que temos ao ver uma onda surfada. E a realidade é que há manobras aéreas que ficam simplesmente estranhas. Muitos apontam que esse é o grande defeito do backflip, tal como muitos apontavam que apanhar uma onda e passar toda a onda sem fazer nada para chegar à secção certa e voar era feio e um desperdício. Já o “velho” power surf obrigava (obriga) a surfar no pocket da onda (a zona com mais energia) pois quanto mais aí se surfar, maior será a quantidade de rail que se encaixa na onda e maior será a quantidade de água que sai e, consequentemente, isso obriga a um surf bottom-manobra. Ao mesmo tempo, a saturação do surf aéreo como dominante só abria um caminho possível: performance teria de ser significado de power surf e surf aéreo numa conjugação perfeita do surf bottom-manobra sendo que as manobras deverão conjugar/intercalar o rail na água e o surf no ar. Hoje, e finalmente, todo o surfista, independentemente da sua idade, vibra tanto com um carve de Reynolds como vibra com um aéreo de Medina, e não há um único surfista no mundo que aspire a ter uma carreira internacional no surf que não tenha começado a treinar arduamente o lado do surf que tinha por defeito (como dissemos, Medina é o exemplo perfeito disso mesmo. Conquistou o mundo com o seu incrível talento para voar mas nos últimos dois anos percebeu que se não fosse dono de um surf de rail imaculado dificilmente conseguirá conseguir o seu grande objecitvo, ser campeão do mundo). A esta que é a mais recente definição de performance temos ainda de adicionar um terceiro elemento, aquele factor ‘X’ que NUNCA mudou durante toda a transformação do significado de surf performance, e que qualquer surfista sabe que tem de dominar: o tubo! No nosso país, não há exemplo melhor que o nome de Nicolau Von Rupp, um talento natural para os tubos, mas que, como todos sabemos, tem a vertente do power surf e do surf aéreo mais do que enraizadas no sue core surfístico. É difícil adivinhar qual será o significado do surf performance no futuro pois novas manobras irão certamente aparecer mas uma coisa é, para nós, certa: nunca mais o power surf se dissociará do surf aéreo (e dos tubos)! E a realidade, doa a quem doer, é que NUNCA o significado de Surf Performance esteve tão perfeitamente equilibrado como o que se vive nos dias de hoje!

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Até onde poderá chegar um surfista que começa a praticar o desporto aos 18 anos? Manuel Cotta começou tarde mas fez questão de recuperar o tempo perdido com muita dedicação e atitude. Hoje em dia é reconhecido no nosso país como um bom surfista em ondas tubulares, com direito a uma sólida presença nos media, e apoios à altura. Para chegar onde chegou, Cotta usou a disciplina e mente aberta que ganhou como praticante de judo e, apesar da distância entre as duas modalidades, o “plano” resultou. Fica a conhecer o percurso de Manuel Cotta!


texto by O N F I R E photo by c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m



_ 53 Foi uma manobra semelhante a esta que meteu Manuel Cotta pela primeira vez numa revista de surf. A primeira de muitas. photo by Diogo Soutelo

Ainda nos lembramos de te ver com um nível de surf muito básico apesar de já não seres muito novo. Com que idade começaste? Comecei a fazer surf muito tarde, entre os 18/19 anos de idade. Eu vivi e estudei em Lisboa a minha vida quase toda mas a certa altura vim para cá (Praia Grande) viver com os meus pais. O surf sempre foi uma realidade na minha vida, todos os meus amigos aqui da praia faziam surf. Eu fazia bodyboard no Verão na brincadeira como qualquer miúdo, no Inverno era raro. Acho que com 15 ou 16 anos experimentei o surf e gostei mais. Quando tirei a carta, comecei a vir para cá com mais regularidade e decidi que queria dedicar-me ao surf a sério. Mas só a partir dessa idade tiveste vontade de levar o surf a sério? Houve alguma razão para isso? Sim, eu era atleta de alta competição de judo, treinava num clube que hoje em dia tem dos melhores atletas em Portugal e fiz parte da selecção nacional. Dediquei muito tempo da minha vida a esse desporto, com 16 ou 17 anos chegava a ir correr de manhã antes de ir para as aulas, ia treinar à hora do almoço e a seguir às aulas, e chegava a casa às 11 da noite. Tinha como objectivo obter o estatuto de alta competição para entrar na faculdade sem ter que fazer os exames nacionais e poder escolher a faculdade que quisesse. E essa fase do judo terminou quando e porquê? Com 18 anos tive algumas lesões, fiquei quase seis meses sem competir e perdi o acesso ao estatuto de alta competição. Na altura fiquei um bocado chateado com isso pois tinha dedicado muito tempo numa altura em que vês os teus amigos todos a sair à noite, a irem jogar à bola na hora do almoço e tu tens de ir treinar... competir era algo que me dava muita pica mas tomei a decisão de deixar. Perdi um bocado a vontade, não era motivante para mim continuar a praticar sem grandes objectivos. O surf então surgiu como substituto? Sim, sempre senti a necessidade de praticar desporto, eu praticava tanto que deixar por completo iria ser impossível. Entretanto entrei na faculdade mas admito que nunca estudei a 100%, fazia umas disciplinas mas a realidade é que tinha feito uma escolha, dedicar-me ao surf, e sinceramente, foi muito bem ponderada na minha cabeça. Eu sabia que estava ali a “hipotecar” o meu curso para aprender a fazer surf. Como em tudo para mim só faz sentido se fizer bem. Eu não gostava de combinar uma partida de ténis com um amigo e perder 6-0, 6-0, 6-0. Tem piada jogares ténis se souberes bater umas bolas. No surf, no fundo, é um desporto apaixonantes, uma vez que se sinta o que é andar em cima de uma onda numa prancha de surf é difícil não gostar e eu quis ser minimamente bom naquilo. Como foi o início nessa idade? Era um grande “maçarro”, o (Francisco Rodrigues) Xikilin, o António Silva, Sandrinho (Maximiliano) e o pessoal todo da Praia Grande gozavam imenso comigo, diziam que não tinha jeito para aquilo. Mas às tantas, comecei a dedicar-me mais e a surfar muito com o António e o Edgar (Nozes), e além deles havia o André Pedroso, o João Macedo e o Pecas aqui na praia, que eram exemplos para mim. Andava sempre com eles os dois que, por sua vez, andam sempre à procura do melhor mar. Eles não são muito de ir para picos com ondas manhosas, iam para sítios como os Supertubos, Ericeira e Carcavelos quando está bom, e Praia Grande quando está offshore. Sendo daqui não podia ser um “marrequeiro”. O mar aqui exige-te uma preparação diferente dos outros sítios, é o ponto mais ocidental da Europa, é mais exposto, leva mais directamente com ondulação e isso faz com que as ondas aqui tenham bastante power e características muito intensas.



Quando é que o teu surf começou a acertar? Aos 21 ou talvez 22 anos comecei a dar uns tubos e umas manobras, tinhame dedicado de alma e coração. É muito inconvencional ainda conseguir um bom nível começando nesta idade, mas depende muito da tua abertura. No judo a mentalidade era que tínhamos dois braços e duas pernas como todos os outros, por isso podíamos ser, desde que treinássemos, tão bons como os melhores do mundo. Foi um bocado com base nesse princípio que achei que conseguia evoluir no surf, nunca criei barreiras que me dissessem que não poderia fazer alguma coisa. É preciso ter abertura para pensar que não há limite.

Por estares no meio de tantos surfistas conhecidos tinhas como objectivo conseguir também ter patrocínios e ser conhecido? Os patrocínios e mediatismo nunca foram incentivo para mim. Eu quis evoluir mesmo pelo amor ao surf. No fundo por aquilo que representa o mais core do surf, ir acampar para a costa alentejana com os amigos ou ir dormir à Lagoa de Santo André com o Edgar e acordar às 6 da manhã para surfar. Levantar às cinco da manhã para ir cedinho para Peniche ou Ericeira, isso, para mim, é que é o surf. Adoro acordar às 6 da manhã no Inverno com vento leste, ir com o Nicolau tomar o pequeno-almoço no pão da Vila e irmos surfar a seguir. Sais da água às 11 da manhã e parece que já são três da tarde por tudo o que já fizeste. Isso é o que mais me diz no surf. Para a esquerda ou para a direita, Cotta só quer é andar dentro dos tubos. photos by André Carvalho/GOMA _ 55


56 _ Apesar de andar sempre por outras praias à procura de tubos, Manuel Cotta não perde um bom dia de surf em casa. photo by carlospintophoto.com

Mas eles acabaram por aparecer... Como ando muito com esse tipo de surfistas, que andam sempre à procura das melhores ondas e com os fotógrafos atrás, inevitavelmente eles acabavam por apanhar boas imagens minhas que começaram a sair nas revistas. A primeira vez que apareci numa revista foi na ONFIRE, e isso deume pica pois senti que o meu valor estava a ser reconhecido já que optei por não competir e não me posso comparar com os outros nesse aspecto. Primeiro tive um apoio da Body Glove de fatos e quase que posso dizer que fui patrocinado pelo Edgar e pelo Nicolau pois andava sempre com o material deles. Depois surgiu o interesse da Rip Curl, também porque como tenho o Bar do Fundo na Praia Grande, acharam que se podia fazer uma junção das duas coisas, patrocinam-me a mim e ao bar. No meio de tudo isto, abriste o bar na Praia Grande... Quando fiz 23 anos surgiu a oportunidade de abrir o bar e apostei nisso. Cheguei à conclusão que, se há um curso que tirei nestes 5 anos, foi de praia. Fiz a escolha de viver em função do mar e das praias, havia ali um grande potencial no Bar do Fundo e a pessoa que estava lá queria largar. A coisa realizou-se e fiquei com o bar que ficou bastante popular. Eu estudei em Lisboa em vários sítios, conhecia muita gente e no surf também. Entretanto foste uma das maiores surpresas em 2013 ao qualificares-te para competir no Capítulo Perfeito, à frente de surfistas com um grande historial no meio... É verdade. Houve uma pré selecção, feita por um grupo de “notáveis” ligados à indústria e, fruto de estar sempre à procura das melhores ondas, fui ganhando alguma notoriedade, acabando por ser pré seleccionado. Foime dado um voto de confiança. Depois para conseguir o voto do público fiz uma certa campanha para apelar às pessoas que votassem em mim e consegui entrar. Era um campeonato que tinha tudo a ver comigo, foi o único em que entrei e tenho pena que as ondas não tenham estado tão boas como se esperava, apesar da organização ter feito todos os esforços para que fosse um grande campeonato. Mas tivémos condições que muitos WQSs não têm para os atletas. Ouvimos dizer que a preparação foi feita do Rio de Janeiro? Tinha uma viagem planeada há muito tempo para o Carnaval do Rio de Janeiro, que não é propriamente a melhor preparação, especialmente com os Supertubos com aqueles agueiros e ondas de 2 a 3 metros com condições bastante incertas. Não foi por causa dessa viagem que tive o desempenho que tive. Houve grandes surfistas a passar com notas baixíssimas. Eu precisava de 2.10 para passar e não consegui, parti o shop, dei por mim a remar contra o agueiro. Mas qualifiquei-me novamente para o Capítulo Perfeito de 2014 e acredito que me posso dar melhor este ano. Apesar de teres optado por não competir o teu surf parece enquadrar-se neste tipo de eventos especiais, concordas? Acho que sim, está relacionado com este tipo de ondas e é estimulante entrar para dar luta e saber que poderei almejar conseguir um bom resultado. Não pelo reconhecimento exterior, mas eu próprio gosto de sentir que o que estou a fazer é minimamente bem feito. O que devemos esperar de ti no futuro? A nível profissional estou numa fase em que estou bastante dedicado ao meu negócio do bar. Este ano ou no próximo vamos fazer-lhe um grande upgrade, deixando esta infra-estrutura rudimentar que tem neste momento. A nível pessoal a única coisa que me falta para estar preenchido é ter filhos, qualquer pessoa quer ter uma família, gostava de viver com ela aqui, que os meus filhos vivessem em frente ao mar para poderem fazer surf se quiserem. A qualidade de vida que eu já tenho é uma grande mais valia, poder estar em frente à praia em vez de estar num escritório. _ OF




p h o t o

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c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m


L u c a

G u i c h a r d , Amado. | photo by João “Brek” Bracourt




Tiago Pires, P e d r a B r a n c a photo by carlospintophoto.com


P e d r o B o o n m a n Carca | photo by Jorge Matreno



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Tiago Oliveira o x o s | photo by Vasco Corte-Real




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t รณ n i o S i l v a Praia das Maรงas | photo by Francisco Santos Solidรฃo! | photo by carlospintophoto.com



Jo達oKopke photo by Jorge Matreno + photo by Tiago Costa



Golden vs Black and White! photos by c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m



N i c o l a u Von Rupp Oeste | photos by Pedro Ferreira


T o m รก s Coxos | photo by c a r l o s p i n t o p h o t o . c o m

Fernandes



F r a n c i s c o A l v e s Costa da Caparica | photo by Jorge Matreno



Frederico Morais S u p e r t u b o s | photo by carlospintophoto.com





*Um filme que celebra a primeira empresa americana de boardriding!


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