Ed. 17 Agosto 2015 - O Mirante

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Agosto - 2015


Editorial Garantir a existência do ser humano no planeta Terra e de organizações tão arduamente cuidadas por executivos e suas equipes requer condições especiais. A palavra de ordem é SUSTENTABILIDADE: a forma de superar obstáculos que impeçam ou dificultem a perenidade do que chamamos sociedade moderna.

É preciso conectar diferentes, às vezes divergentes, interesses, atender a crescentes necessidades pelo aumento da população, compreender a complexidade da interação entre culturas antes distantes – aproximadas pelo universo online, real-time. Tudo isso preservando as fontes finitas de recursos naturais essenciais à vida, como a água, e obtendo a cooperação voluntária dos seres pensantes, assegurando que as futuras gerações estão sendo consideradas mesmo antes de nascer. Qual será o limiar entre o discurso enfadonho do politicamente correto e a urgência necessária para enfrentarmos a dura realidade de que o homem do século XXI, em meio a tanta correria, parece não dispor de tempo para cuidar bem de si, do ar que respira, das pessoas que mais gosta? Ou que ao procurar responder rapidamente às exigências do seu papel profissional, descuidou de outros tantos também essenciais? Organizações sustentáveis exigem, antes de tudo, pessoas sustentáveis, que cuidem da própria saúde física, mental e transcendental; que cultivem relações sociais saudáveis – já que ninguém é uma ilha; e que sejam capazes de prover o próprio sustento financeiro. Pensando na sustentabilidade do agronegócio brasileiro, Paulo Portilho nos alerta sobre o quanto a precariedade da nossa infraestrutura pode neutralizar a alta performance dentro das organizações. Sem dúvida nenhuma, a solução está em viabilizar o tripé: geração de resultados sociais, ambientais e econômicos, tratado por Maurício França. E com tantas coisas a serem consideradas precisando – perdoem-me usar o jargão – “fazer cada vez mais com menos”, Thiago Capodeferro aborda as consequências da distração digital no sucesso coletivo e sugere que desconectar, às vezes, é preciso, em busca de pequenas saudáveis mudanças. Comece a sua já!

Confira e inspire-se. omirante@dorseyrocha.com

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Sustentabilidade: e eu com isso?

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ustentabilidade, termo forte que traz muito simbolismo para alguns, para outros reflete apenas um conceito que se traduz na “salvação” do planeta. E há aqueles que simplesmente admitem não saber o que esta palavra quer dizer. Abordaremos, neste artigo, a palavra no âmbito empresarial, que, de forma objetiva, diz respeito à geração de resultados sociais, ambientais e econômicos – conhecida em algumas culturas como Triplo Bottom Line. Mas o que isto quer dizer na prática? No mundo corporativo se refere a um conjunto de ações que visam o desenvolvimento sustentável do negócio por meio de uma relação clara e transparente com seus stakeholders (acionistas, colaboradores, clientes, fornecedores, comunidade do entorno, enrte outros); melhor utilização das matérias primas e menor impacto na natureza; e, crescimento econômico, pois sem isso a empresa não sobrevive e não consegue gerar os resultados sociais e ambientais. Para tanto, a organização deve reconhecer que os ativos econômicos, naturais e sociais são bens da humanidade; procurar plane­ jar e gerir suas operações e ativi­d ades com base na ética, no compro­m isso com a verdade. O que sabemos não ser nada fácil em muitas culturas, seja pela falta de coragem ou pelas crenças contrárias a isto.

“Maneira correta de viver”, neste trecho, me remete à sustentabilidade. Num paralelismo livre, “à maneira correta de se conduzir um negócio”. Correta para que haja perpetuidade do negócio, para “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades” (conceito de sustentabilidade desenvolvido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU em 1983). Falando sobre a ética de Aristóteles em poucas linhas, ele afirmou, no livro “Ética a Nicômaco”, que “o bem é o fim”. Ele explica melhor o que isto representa em outras passagens, tais como “...da medicina, o fim é a saúde; do militarismo, a vitória; da economia, a riqueza; “...claro está que tal fim será o bem, ou antes, o sumo bem.” O sumo bem a que Aristóteles se referiu é “o bem final”, o que realmente interessa, aquele que se deve perseguir, é o bem-estar.

Cito uma fala de Ludwig Wittgenstein*, filósofo austríaco naturalizado britânico (1889 – 1951):

“Eu poderia ter dito que a Ética é a investigação sobre o valioso, ou sobre o que realmente importa, ou ainda, poderia ter dito que a Ética é a investigação sobre o significado da vida, ou daquilo que faz com que a vida mereça ser vivida, ou sobre a maneira correta de viver.”

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Maurício França

Consultor Dorsey Rocha e Professor de Pós-Graduação


Unindo os dois pensamentos “maneira correta de viver” com “o bem final”, alguém pode, munido de plena consciência, desconsiderar a força de ações que visem obter resultados sociais, ambientais e econômicos? Para os céticos, cito Jim Collins, em seu livro “Feitas para Durar”: pessoas visionárias veem o lucro como consequência de sua atuação empresarial, não como fim. Elas são guiadas por valores éticos e uma noção de propósito além de simplesmente ganhar dinheiro. Isto permite a elas formar equipes competentes e conquistar de resultados sustentáveis. Acredito que o desenvolvimento sustentável, a perenidade, só se viabiliza por meio da interação e do trabalho conjunto entre líderes, equipes, empresas, governos e sociedade, alicerçados por um modelo de gestão que preze pela transparência e respeito a todas as partes interessadas. Como partes da sociedade, sustentabilidade diz respeito a todos nós.

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SUSTENTABILIDADE DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

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lguns assuntos são complexos demais para serem esgotados em um artigo, e certamente nosso agronegócio é um desses casos. Isso posto, vamos instigar uma reflexão sem a pretensão de ser definitivo ou de cobrir o assunto como um todo.

O Brasil é um país de memória curta. Depois de 20 ou 30 anos tudo é esquecido. Em 1986 nós importamos carne bovina potencialmente contaminada por radiação de Chernobyl, pois o sistema de produção de carne no Brasil entrou em catarse. Em 1999 o Brasil foi o maior importador de leite do mundo, atingindo mais de 20% do total de leite consumido em nosso país. Hoje somos o maior exportador de carne bovina no mundo, somos autossuficientes em leite e até mesmo o exportamos para alguns países. A disponibilidade per capita de carne de frango no Brasil aumentou 140%, isso mesmo, mais que dobrou, entre meados da década de 90 e hoje, enquanto o preço dessa carne, devidamente deflacionado, caiu para menos da metade. Praticamente o mesmo se vê olhando “carnes” em geral, cuja disponibilidade per capita já ronda os 120 kg por ano, algo impensável 10 ou 15 anos atrás. Há também de se lembrar do Brasil agrícola: para exemplificar em 1941 o Brasil cultivava 641 ha de soja. Não errei na unidade eram mesmo 641 ha, com uma produtividade de 700 kg/ha, produzindo algo como 450 t de soja por ano. Hoje o Brasil cultiva mais de 30 milhões de ha de soja com uma produção total de 85,5 milhões de toneladas, e é o maior exportador mundial dessa oleaginosa, “correndo o risco” de ultrapassar os EUA e tomar a posição de maior produtor do mundo esse ano ou ano que vem. Ademais, para colocar a cereja no bolo, o crescimento no mundo desse século se deu e dará em países que necessitam importar alimentos, como a China. No século passado isso foi diferente, quando o maior crescimento (EUA) veio de países ricos em recursos naturais. Em outras palavras, o crescimento Asiático demanda produtos do mundo, em especial de nosso agronegócio, enquanto o crescimento dos EUA demanda produtos dele mesmo, o que reduzia nossa relevância mundial...

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Bem, esses números e informações nos fazem pensar que tudo são flores, correto? Errado. Nesse mesmo agronegócio florescem as falências e recuperações judiciais no setor sucroalcooleiro, que é tecnicamente falando o mais eficiente do mundo. Repito, um setor importantíssimo do agronegócio que é tecnicamente fantástico está virtualmente falindo. Como pode? Produtos do agronegócio, em sua maioria, sofrem a flexibilidade de preço decorrente da demanda alta, e da grande competitividade mundial. Isso quer dizer que eficiência no sistema é fundamental, tanto da porteira para dentro quanto da porteira para fora. Nosso sistema de logística é de longe o mais caro do mundo. As perdas de grãos em transporte, assim como a diferença de preços entre a ponta produtora e consumidora é elevadíssima. Mas, no fundo, o maior receio que tenho em relação ao futuro do Agronegócio no Brasil é a ação do Estado, ou sua omissão. Foi a ação que desmontou o sistema sucroalcooleiro. É a ação que gera uma loucura tributária no setor e na sociedade. É a omissão que corrói todo dia o potencial de tantos outros segmentos via limitações de logística e de planejamento.

Não tenho dúvidas que o motor do que deu certo no Brasil nos últimos anos foi o Agronegócio, desde o grão até o prato e o tanque de combustível. Não há de se esperar, no entanto, que esse setor siga carregando nossa economia a despeito dos erros e omissões estatais.

Paulo R. L. Portilho Sócio-Diretor da Auster

O agronegócio é a pedra fundamental de nosso país, mas não é capaz de resolver tudo de maneira isolada. As distorções que existem têm de ser sanadas, ao risco de tornarmos outros setores tão inviáveis como se tornou o sucroalcooleiro.

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ocê acorda, toma o seu café da manhã e a caminho do trabalho aproveita para delegar tarefas via WhatsApp, assim tenta ganhar um pouco de tempo. Chegando lá, começa a fazer uma pesquisa, responder e-mails, mas chega uma notificação no Facebook, outra no Skype. Você, então, para o que está fazendo e vai respondê-las, afinal, pode ser um cliente ou algo a ser resolvido nos próximos minutos. Ao voltar à tarefa, é bombardeado por anúncios “daquele” produto que quer comprar: são promoções, descontos que quase lhe obrigam a clicar para não perder a oportunidade de economizar.

Ufa! Você com certeza se identificou com algumas das situações acima, ou já passou por uma delas nesta semana.

As mídias sociais facilitaram bastante a rotina de todos nós – tanto do ponto de vista pessoal como do profissional. No entanto, ao mesmo tempo que é fácil fechar uma compra, delegar uma tarefa para a sua equipe ou responder a uma dúvida importante do cliente utilizando estes canais, também se torna difícil fugir deles, se desligar do mundo e dar o descanso que a mente e o corpo, às vezes, exigem. Sentimo-nos pressionados a responder tudo rápido e a consumir toda a informação que nos chega e acabamos deixando de lado outras coisas importantes: um livro inacabado, um tempo com a família ou um feedback para um colaborador que precisa de ajuda. Sabe aquela coisa de sustentabilidade? Ou seja, cuidar dos recursos financeiros, das relações sociais e do impacto ambiental. Esse conceito vai além da questão ambiental. Este é um viés, mas podemos entendê-lo também como algo que é a condição para um processo, um objetivo ou uma tarefa existir. Sustentabilidade é garantir que um organismo permaneça vivo. Então, surge a pergunta: como ser uma pessoa sustentável em um mundo que somos sobrecarregados por informações, promoções imperdíveis, notificações urgentes? Um mundo que o imediatismo tomou conta a ponto do seu interlocutor saber se você visualizou uma mensagem enviada por ele ou não?

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Desconectar às vezes é preciso

Como podemos tornar nossa empresa, nossa equipe ou mesmo o mundo mais sustentável – em todos os sentidos – se mal conseguimos estabelecer prioridades e nos organizar, cuidar de nós mesmos em meio a tantas possibilidades, informações e sede por respostas e resultados imediatos? Falta tempo para aliar carreira, família e tempo livre – e isso acaba prejudicando todos estes aspectos. Se quisermos contribuir com o mundo e com a sociedade em geral, precisamos começar por nós mesmos. Não podemos fazer a diferença e ter sucesso no coletivo sem antes nos organizarmos, encontrarmos o equilíbrio frente a tanta informação e estarmos em paz e contentes com nossa rotina, tempo, trabalho e vida pessoal.

Pequenas ações podem trazer grandes resultados e mudanças. Que tal começar por elas?

Thiago Capodeferro

Jornalista e Gestor de Marketing Digital da Agência D’lucca | Jota

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Indica

A qualquer preço - BR

Quem indica: Maurício França / Consultor Dorsey Rocha Consulting Por que indicou: Baseado em caso real, aborda as consequências do mau comportamento de executivos nas empresas, afetando pessoas, resultados e o meio ambiente. É interessante observar o caminho árido para quem se opõe a esta realidade, fazendo a coisa certa. As barreiras dos conflitos pessoais e familiares, a briga que é preciso ser “comprada”, e os duros impactos para os que estão no seu entorno, só podem ser transpostos por quem acredita muito nesta batalha. É um exemplo de dedicação em busca da satisfação e realização pessoal. Sinopse: Jan Schlittman (John Travolta) é um advogado que, junto com seus sócios, não procura vencer causas, mas sim entrar em lucrativos acordos financeiros. Mas tudo muda quando ele concorda em representar oito famílias cujas crianças morreram em virtude de duas empresas terem despejado produtos tóxicos na água que abastece Woburn, Massachusetts. O caso se prolonga, fazendo a firma ficar em sérias dificuldades financeiras, tanto que os sócios de Schlittman o abandonam enquanto ele marcha para o suicídio financeiro e profissional.

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PONTO DE

VISTA “O meio ambiente é um reflexo da vida interior dos seus habitantes – sempre adquire as características do que neles existem.” Daisaku Ikeda (1929 - ) Líder budista, escritor, poeta e educador japonês.

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O MIRANTE É UM PROJETO DORSEY ROCHA & ASSOCIADOS

Conselho Editorial: Rodolpho Rocha Marta Castilho Ádrice Fernanda Conecte-se conosco: WWW.DORSEYROCHA.COM


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