Crescer On-line - abril de 2020

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nº 128 Abil de 2020

Páscoa Santa “Temos em 2020 uma ocasião para celebrar espiritual e intensamente a Páscoa de Jesus e a nossa Páscoa, a Páscoa a que esta situação obriga e impele a sociedade contemporânea”. (D. Carlos Azevedo)


CRISTO RESSUSCITOU Cristo ainda está connosco, porque venceu a morte: Ele que é o autor da vida. « Diziam um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” ( cf. Luc. 24, 13-33 ) Os dois discípulos deixam-se primeiramente repreender, por Jesus, e depois deixam-se instruir: assim, na alma, no lugar do desânimo e da tristeza, nasce uma luz de esperança e o coração arde. Acontece assim sempre que desabafamos com Jesus e, depois, O deixamos falar sem O interromper. O desejo de O ter ao nosso lado, companheiro da nossa viagem, nos caminhos que muitas vezes são intransitáveis, cansativos e se tornam dolorosos, sobretudo quando a noite desce sobre nós e sobre o mundo. É, especialmente, nesse momento que Lhe dizemos para ficar connosco. E Ele fica. Antes, desejava sentar-se para escutar-nos quando nos acontecia retardar o passo e parar. Agora, senta-se à mesa connosco, entre nós, como um de nós. Os nossos olhos arregalam-se quando Ele parte o pão e o distribui por nós. Agora realiza-se um milagre. E nós nos reanimamos, deixamos tudo e todos para ir ao encontro dos homens e levar-lhes feliz anúncio: Cristo ressuscitou! Cristo ainda está connosco! ( in Crescere, 4-2009 )

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Recordando P. Virgínio Rotondi Homem do SIM (Na passagem do 30º aniversário da morte do fundador do Movimento Oásis e do Instituto Secular “Ancilla Domini” 13 de abril 1990 – 13 de abril 2020) A vida de Pe Rotondi cabe na medida de um SIM: total, radical, generoso, livre… Tive o privilégio de o encontrar algumas vezes em Villa Sorriso e em Portugal, de conversar com ele, de ouvir as suas reflexões, de sentir a sua proximidade paterna que rasgava horizontes de responsabilidade e de doação. De entre as múltiplas facetas da vida deste homem e padre, sobressai a sua dimensão de sacerdote e de profeta. Podemos definir, nestas palavras, toda a vida, obra e missão de P. Rotondi. Inquieto de Deus desde a juventude, descobre o seu rumo no confronto com a Palavra e a vida. Ordenado sacerdote, em 13 de Maio de 1942, torna-se anúncio do amor de Deus; da fidelidade aos valores do Evangelho; da exigência da santidade como meta, em Cristo; da responsabilidade de ser Igreja, num mundo em transformação. Padre Rotondi foi um homem de obediência, humilde e serena, à voz de Deus, da Igreja, dos seus superiores; foi um homem de fidelidade a Cristo, ao Espírito, às vozes clamorosas de um mundo sem esperança; foi um homem de alegria verdadeira e partilhada, num entusiasmo contagiante que arrasta para Jesus; foi um homem de compromisso, exigente e sério, na construção da vida alicerçada no serviço por amor. Na vida deste padre, a oração, a escuta da voz de Deus na palavra de cada dia, a centralidade da Eucaristia tornaram-se a força da missão para acolher, ajudar, aproximar, confrontar. Homem de Deus e irmão dos homens torna-se profeta de uma Igreja renovada; denuncia a miséria moral que desmorona a sociedade; aponta caminhos de santidade; abraça a pesada tarefa de encaminhar - jovens, políticos, artistas, trabalhadores - para os trilhos de Deus, da luz, da fé, da fraternidade. No seu amor ao Pai, apresenta Maria, a Serva, como modelo para seguir Jesus, na disponibilidade e no encantamento. Nada mais forte do que o lema que nos deixou, como resumo da sua vida: “SIM, uma palavra que transforma a vida”. P. Eleutério Pais

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Voltar à Fonte Meus Queridos Amigos e Amigas Encontro-vos no Deserto - ESSE Lugar de Esperança, de horizonte sem limites, de Silêncio, de Encontro real com a Vida, com a Verdade. Sinto a Presença de cada um e cada uma de vós. Abraço-vos na Eternidade de quem se Liberta pelos laços fraternos. A vossa Presença no meu Coração é enternecedora e contagiante: de Alegria e de Cuidado, de desejo de podermos ajudar-nos a chegar um copo de água uns aos outros. A vossa presença no meu Coração é um verdadeiro Oásis. O vosso olhar enche de Encanto a minha indigência. Estou-vos infinitamente grata por vós mesmos! Também os tempos que vivemos são de indigência. Todos temos sede. Todos precisamos da Água fresca que só um Poço Infinito nos pode dar. Sei que posso contar com a vossa disponibilidade para tirar a água do Poço e a repartir. Alguém a vai Transformar - e nos espera, e nos une, e nos fortalece - a todos e a cada um e cada uma de nós. Convido-vos para um Encontro, sem tempo, junto à Fonte de Sicar. ALI não há necessidade de distanciamento social, estamos todos protegidos. Prometo-vos a Comunhão Espiritual. Um Doce Abraço Rosa Moreira

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Encruzilhada pascal

Irene Vilar – Esta árvore tem 2000 anos (1971). O Cristo crucificado identifica-se com o madeiro onde deu a vida. Parece ser arrancado da árvore e inclinar-se em dom total sobre a humanidade. A árvore e Cristo fazem um, mas a energia da liberdade não se amarra, não obstante a abundância de correntes. Os abundantes pregos e ferros estão cravados na árvore e não no Cristo, que vence a morte na Páscoa do sofrimento, que se une em paixão a todos os oprimidos e acorrentados pelas situações desumanas. Nesta árvore, com 2000 anos, aconteceu a liberdade plena que a criação deseja. Desejo já projetado na árvore do paraíso, onde porém a serpente se enrola para tentar decair o ser humano. Na cruz está a árvore da vida, sem esconder o drama histórico permanente da vitória sobre a injustiça humana, envolvida pelo egoísmo.

O pó das cinzas da quaresma 2020 deu lugar, como apelo e sinal de conversão, de metanoia ou mudança de mentalidade, ao grito do barro débil da humanidade, patente na pandemia do covid19, que como água derramada se estendeu pela terra inteira. Durante vários anos (2001-2005), na sexta-feira santa, marcava encontro com a escultora Irene Vilar para celebrar o perdão e saborear no silêncio o rasgar dos céus, a máxima proximidade de Deus, derramada no corpo entregue em paixão total. Na sexta-feira santa liturgicamente alargam-se as preces, universaliza-se a intercessão porque os céus abriram-se e quebrou-se a distância entre Deus e a humanidade. Antes de nos apressarmos a perguntar: que fazeis vós, ó Deus, do Vosso Filho amado, assim morto na cruz? Deus interroga-nos, hoje: Povo meu que te fiz eu? Não nos deixa imaginar perguntas, como arte de fugir, por medo de nos comprometermos na resposta. Ontem, Jesus perguntava-nos: Compreendeis o que vos fiz? Nós acabamos por entender quando começamos a realizar no serviço o Fazei-o vós, também. Hoje é o Pai que nos pergunta: Povo meu, que te fiz eu? Como tratamos a humanidade dos que vivem connosco na casa deste tempo, no lugar desta morada terrena? Esperamos que passe esta crise para regressar a uma economia que mata, que destrói os laços da vida familiar, como de modo impressionante se vive no filme “Passámos por cá” de Ken Loach (2019). É fácil venerar a cruz de madeira. É fácil viver sentimentalmente este dia com peninha do Nosso Senhor. Este dia é para encher a vida da sua vida. Olhar para Jesus a provar a amargura da vida, a aprender na obediência a dor experimentada, converte-nos. Contemplar Cristo a beber o cálice com a sabedoria da liberdade, ver a verdade lúcida levada à consumação na vitória sobre a morte, interroga a política e os comportamentos pessoais, o ritmo de trabalho e o espaço de dom aos outros sem pressa. Povo meu, que te fiz eu? Deus quer-nos livres e crucificamos a liberdade nos cravos do egoísmo. Deus quer-nos solidários na dor dos outros e nós falhamos a comunhão com vergastas de isolamento, teimosia, inveja, comodismo. Deus quer-nos felizes e coroamos a alegria de viver com espinhos de preocupações materialistas, trabalho desgastante, gozo desenfreado. Povo meu, que te fiz eu? Não te fiz para sofrer. Porque te arrastas sem erguer a vida como dom livre e feliz? Não me entristece o que fizeste ao meu Filho, porque ele venceu. Entristece-me é ver os meus filhos de todos os tempos não reparar que a força do amor leva qualquer cruz à vitória. Olhar a cruz é aprender de Jesus a obedecer à vida com coragem maior, sem lamentações estéreis, com cabeça erguida, animados de esperança, enfrentando todos os poderes, consolando todos os abatidos, atentos a todas as dores. Nós queremos aprender a reconhecer o grande Deus que temos, que fez tudo e faz tudo para nos abrir a vida à salvação, como se abriu o peito do Salvador para nos dar novo Espírito. + Carlos Moreira Azevedo

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PAI-NOSSO EM TEMPO DE CORONAVÍRUS José António Pagola PAI-NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS Tu és nosso Pai, todos somos teus filhos e filhas. Estás nos céus porque és de todos. Não estás preso a nenhum templo, nem a nenhum lugar sagrado da terra. Não pertences a um povo nem a uma raça privilegiada. Não és propriedade de nenhuma religião. Não és apenas dos bons. Todos podemos invocar-te como Pai. SANTIFICADO SEJA O TEU NOME É o nosso primeiro desejo nestes tempos dolorosos para toda a humanidade. Que o teu nome de Pai seja reconhecido e respeitado. Que ninguém o despreze, prejudicando os teus filhos e filhas. Que não percamos a nossa confiança em Ti. Que sejam desterrados os nomes de todos os deus e ídolos que nos desumanizam. O dinheiro que nos divide e não nos deixa ser irmãos; a violência que alimenta as nossas guerras; o poder que nos leva a desprezar os mais débeis. VENHA O TEU REINO Se reinares entre nós, reinarão na terra a justiça, a igualdade e a paz. Poderemos enfrentar juntos os problemas do planeta. Unidos como irmãos e irmãs, venceremos qualquer pandemia que possa afligir a humanidade. Que não reinem os ricos sobre os pobres; que os poderosos não abusem dos frágeis; que os homens não dominem as mulheres. Que venha o teu reino e reine na terra a fraternidade. FAÇA-SE A TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU Faça-se a tua vontade e não a nossa. O coronavírus está a mostrar-nos que na terra tudo está inacabado e que vivemos tudo a meias. Não queremos aprender que nós, os humanos, somos seres frágeis e vulneráveis, que não podemos alcançar aqui a plenitude que desejamos no mais íntimo de nós. Pai, só podemos confiar na tua Bondade insondável. Que não se faça, pois, o que queremos, movidos pelo egoísmo, o consumismo e o nosso bem-estar. Faça-se o que tu queres, pois sempre procurarás o bem de todos. PERDOA-NOS AS NOSSAS OFENSAS Pai, perdoa a nossas ofensas: a nossa indiferença, a nossa incredulidade, a nossa resistência em acreditar em ti. Ao longo destes anos todos mudámos muito por dentro. Tornámo-nos mais críticos, mas também menos consistentes. Mais indiferentes a tudo o que não seja o nosso bem-estar, mas também mais vulneráveis que nunca perante qualquer crise. Não nos é fácil acreditar, mas vai ser-nos mais difícil não acreditar em nada. Pai, perdoa-nos e desperta a nossa vida interior. ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO Nestes momentos em que vivemos sobressaltados a descobrir a impotência que todos sentimos perante esse limite inevitável da morte, também queremos perdoar-nos mutuamente. Não queremos alimentar rejeições nem ressentimento contra ninguém. Queremos viver esta dura experiência como irmãos e irmãs NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO Somos débeis e limitados. Experimentamo-lo agora, mais que nunca. Estamos sempre expostos a tomar decisões e a cometer erros que podem arruinar a nossa vida e a vida dos outros. Por isso, Pai, não nos deixas cair na tentação de esquecer-te e rejeitar-te. Precisamos de ti mais que nunca. Tu podes abrir caminhos para te encontrares com cada um de nós: crentes ou não crentes; ateus ou agnósticos. Que todos possamos sentir no nosso íntimo a tua força silenciosa mas eficaz. LIVRA-NOS DO MAL Somos responsáveis pelos nossos erros, mas também somos vítimas. O mal e a injustiça não estão apenas em nós. Estão também nas estruturas e nas instituições; nas políticas e nas religiões. Por isso, concluímos a nossa oração com um grito: Pai, arranca-nos do mal. Um dia tornar-se-á realidade essa felicidade plena que todos desejamos. As horas alegres felizes que vivemos na terra e também as experiências amargas e dolorosas; a justiça e a solidariedade que semeamos; e também os erros e maldades que cometemos… Tudo será transformado em felicidade plena. Não haverá mais morte nem dor. Ninguém estará triste e ninguém terá de chorar. Um texto cristão, escrito numa das primeiras comunidades, põe na boca de Deus estas palavras: «A quem tem sede de vida, darei de graça o manancial da vida» (Apocalipse 21, 6). “De graça”, quer dizer não pelos nossos méritos; “a quem tem sede de vida”… E quem não tem sede de vida eterna? Eu creio e confio que o Mistério último da realidade, a quem alguns chamamos “Deus”, outros “Energia”, outros “o Transcendente” outros “Nada”, é um Mistério de Bondade, em que todos encontraremos a Plenitude da nossa existência. Ámen.

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Movimento Oásis em Portugal (1958 – 2018) 60 ANOS - 60 TESTEMUNHOS Oásis – lugar da alegria do encontro

Falar do Oásis é falar de um lugar onde reinam a alegria e o encontro: onde o encontro proporciona a alegria e onde o desejo da alegria conduz ao encontro. Os encontros com jovens, em que participei, foram momentos que sempre me fizeram pensar que o Oásis era um movimento que me transmitia confiança, porque o centro era Jesus. Contudo, foi na celebração do centenário do Pe. Rotondi que obtive a certeza para escolher este movimento para a minha vida. Os testemunhos, o Cd com as músicas do Movimento e a biografia do ‘Homem do Sim’, ajudaram-me a ler os sinais dos tempos: o quanto este movimento é importante para os nossos dias, para os nossos jovens e para mim, um jovem padre. O carisma do ‘serviço por amor’, com base no ‘sim da anunciação e o sim da cruz’, fizeram-me ler, também, a vocação ao sacerdócio, compreendendo a minha vida, também, neste serviço, porque um padre não existe sem amor e, quando na vida de um padre não existe amor, não existe encontro e muito menos existe alegria. O segredo está na palavra-chave do movimento. O ‘sim’ é a chave que abre muitas portas, que impede que se fechem muitos corações e, muitas vezes, me permite sentir e viver a alegria do encontro: a alegria do encontro com os jovens, a alegria do encontro com as famílias, a alegria do encontro com todos os que pertencem a esta maravilhosa família que é o Oásis. Nas paróquias, na minha família, com os meus amigos e com aqueles e aquelas que, por qualquer circunstância, surgem na minha vida, algo acontece de diferente porque o movimento marca a minha vida. Eu posso dizer que viveria normalmente sem o Oásis; mas, não seria a mesma coisa. Aqui encontrei uma família, aqui encontrei um lugar onde posso descansar e retemperar forças, um lugar onde Deus se faz presente e me transforma. Recordo o dia em que falei com o meu bispo, D. António Francisco, sobre a possibilidade de fazer o meu compromisso de animador e guardo como testamento as palavras que me dirigiu: «Acho que deves fazer o compromisso porque o movimento é importante, não só para os jovens, mas também para a tua vida como sacerdote». Neste meu testemunho, quero dizer: ‘Pai eu te agradeço’ por me chamares a dizer, na minha vida, um ‘sim’ de anunciação e um ‘sim’ de cruz; ‘Pai, eu te agradeço’ por teres colocado este movimento no meu caminho que me faz descobrir, com alegria, o ‘serviço por amor’ como sentido da minha vida, como homem, como cristão, como jovem e como padre, ou melhor, como um homem jovem e padre cristão; ‘Pai, eu te agradeço’ por colocares no meu caminho pessoas fantásticas que me fazem descobrir que vale a pena oferecer-me a Ti, pelas mãos de Maria. Padre Cláudio

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Reunião do grupo “Nós por Ti” Era o Primeiro dia da Semana, Domingo de Ramos, e início da Semana Maior da nossa Fé. O “Nós por Ti” tinha marcado para este dia o habitual encontro, no Oásis. Devido às circunstâncias que todos conhecemos, não era possível estarmos juntos. MAS … somos jovens. E os jovens são peritos em arranjar soluções. Escolhemos a plataforma “ZOOM” para fazermos o nosso encontro. Cada um em sua casa, uns mais perto e outros mais longe. Éramos uns 15. Depois de matarmos saudades (daquelas saudades que sentem os irmãos que se gostam de verdade, sabem?), estivemos à volta de mais uma das catequeses que o Papa Francisco escreveu sobre o Batismo. Lemos juntos, partilhámos dúvidas e experiências. Fizemos oração juntos. Porque sempre fez sentido assim, mas agora parece que ainda faz mais. O Nosso Deus, todo voltado para nós, sabe mesmo como nos dar a volta! Jéssica Barros (05/04/2020)

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Carta da Mariella G.s.! Milão, 15 de março de 2020 Caríssimas, Pretendia escrever-vos uma carta por ocasião da Páscoa, mas os tempos que estamos a atravessar levaram-me a fazer de outro modo. Na verdade, desde algumas semanas em Milão – e desde alguns dias em toda a Itália – estamos a viver uma situação estranha, completamente nova para todos nós e para a qual não estávamos preparados. Ouvíamos falar de uma epidemia longínqua, numa terra com a qual a Itália tinha muitos contactos, mas distante de todos. Contudo… Só remotamente posso imaginar os sentimentos e as reacções de cada uma de nós. Inicialmente, ocorrendo para nós milaneses o carnaval ambrosiano, estávamos iludidos de poder ser preservados do pior, mas depois… Depois fomos submersos pelas consequências práticas e concretas e também por algum medo. Agora, respira-se uma estranha sensação de silêncio, poder-se-ia dizer ensurdecedor, uma calma carregada de preocupação, um êxtase quase surreal, interrompido apenas pelo ressoar das sirenes das ambulâncias. Tentarei partilhar convosco algumas reflexões. A primeira diz respeito ao tempo e leva-me às palavras de Qohélet: «Há um tempo para nascer e um tempo para morrer… um tempo para matar e um tempo para curar… um tempo para chorar e um tempo para rir… um tempo para se lamentar e um tempo para dançar… um tempo para abraçar e um tempo para evitar os abraços…» (Ecl 3,2-7). A carta pastoral do nosso arcebispo para este ano afirma com firmeza que cada situação que enfrentamos pode tornar-se uma ocasião para algo novo e diferente. Parece-me que estas semanas são para nós como o tempo de Jesus em Nazaré: um tempo no qual nos é pedido para «crescer em idade, sabedoria e graça». É um tempo em que podemos, sobretudo algumas de nós, recuperar ritmos mais humanos e relações que tantas vezes descuramos. Além disso, há um outro sentimento que senti com força: não estamos sozinhos, mas empenhados em estar “juntos”, para estar “unidos” de um modo diferente, mesmo quando entre nós existem “distâncias”. Depois da crucifixão e morte de Jesus, os discípulos «estavam fechados em casa com medo» (Jo 20,19). É precisamente o medo que os leva a aproximarem-se uns dos outros, a escutarem-se e procurarem apoiar-se mutuamente. Pessoalmente, tocando de perto a nossa grande fragilidade e impotência, sinto-me grata por muitíssimas razões (deixo de lado o elenco porque seria verdadeiramente longo). Finalmente, uma última reflexão sobre aquilo que significa «fazer a vontade de Deus»: não é uma simples resignação passiva, mas um acto de amor que comporta o risco da liberdade. Deus oferece-nos critérios e não receitas. Chama-nos a qualquer coisa mais (il magis).

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Na escola ensina-se que “mais” é inferior a “máximo” e “perfeito”, mas na vida espiritual não é assim: o comparativo indica um crescimento, um dinamismo, enquanto o perfeccionismo nos torna estáticos. Faz a vontade de Deus não quem a executa perfeitamente (e quem o poderia fazer?), mas quem, esforçando-se em cumpri-la, se coloca a caminho em direcção a um encontro sempre mais pessoal com Jesus. Isto comporta incerteza e hesitação, embora seja mais espontâneo procurar a segurança. É necessário confiar no Senhor e soltar as amarras. É tempo de demonstrar a nossa tenacidade e aguentar o cansaço como dizem os desportistas. É tempo de atravessar os desertos, descobrindo um oásis no mais profundo da alma e agradecendo cada manhã o milagre da vida que nos é oferecida. Estou certa que iremos superar as dificuldades e não deixaremos de nos surpreender diante da contínua novidade de Deus, confiando também que podemos contar com a ajuda recíproca. E agora avancemos com coragem, na certeza que depois de cada tempestade, tudo fica mais sereno. Depois da Paixão, depois da morte vem a Ressurreição! Jesus ensinou-nos, precedendo-nos. Da Mariella, de todo o coração e com um intenso e profundo afecto, desejo-vos uma Boa Páscoa.

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PÁSCOA 2020 Senhor Jesus ressuscitado: somos desafiados a viver, na alegria, a Tua Páscoa. Conheces a escuridão que envolve a humanidade; a súplica dos que sofrem, na doença e no medo; a dor dos que perderam os seus entes queridos; a tristeza das famílias enclausuradas; a mágoa dos que lutam para vencer a aflição; o cansaço dos que se dão para salvar vidas; a esperança que nos fortalece, nesta noite de inquietação. O Teu povo, unido a todos os homens e mulheres do mundo, experimenta a cruz da paixão e a dureza do calvário. Queremos, na simplicidade da nossa fé, acolher a força de vida que nasce da Tua Cruz. Sabemos que nos amas e sofres em cada sofredor!... Apesar das limitações que sentimos, ajuda-nos a encontrar os caminhos da alegria; a fonte donde brota a fortaleza da caridade; o fogo do amor que nos abre à partilha; a mesa onde repartimos o pão que nos anima; a água viva que nos traz a paz e a segurança. Reconhecemos, Senhor, a nossa pequenez e o nosso pecado; a nossa pobreza e a nossa fragilidade:

tem piedade de nós e salva-nos!... Nesta Páscoa, Senhor, queremos reinventar os nossos cânticos; repartir os nossos abraços; espalhar os nossos sorrisos; vestirmo-nos de festa para anunciar que estás vivo e presente no meio de nós. Nesta Páscoa, Senhor, ressoem os sinos das nossas Igrejas; estrelejem foguetes nas nossas ruas; abram-se as portas do coração, para acolher a visita que Tu nunca rejeitas. Senhor, de olhos postos em Ti, beijamos a Tua cruz florida, na esperança da Vida que nos ofereces. Amém!

Uma Santa Páscoa, no recolhimento da nossa casa. Que o Senhor a todos abençoe. P. Eleutério

Movimento Oásis Centro de Espiritualidade Rua Mirante de Sonhos, 105 4445-511 Ermesinde - tel. 229712935 http://www.movimentooasis.com Contactos : padrearaujo@sapo.pt / oasis@movimentooasis.com Crescer on-line - Maiol de 2019 - Página nº 1


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